quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Chico Xavier NUNCA previu descoberta da NASA


Além da malandragem "espírita" de supor "pioneirismo científico" de 63 anos ao fictício André Luiz, há também a malandragem de atribuir ao pseudo-Humberto de Campos da literatura "espírita" o "pioneirismo" de 75 anos da existência de água em Marte.

A interpretação parte do livro Novas Mensagens, que Francisco Cândido Xavier lançou depois do patético Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, livro "revelador" sobre a História do Brasil que misturava a abordagem ufanista dos piores livros didáticos com pregação religiosista da Federação "Espírita" Brasileira. Foi em 1939, um ano depois da citada patriotada literária.

A tese de "pioneirismo" foi trazida, em diversos artigos, pelo jornalista e dirigente "espírita" carioca Gerson Simões Monteiro, presidente da Rádio Rio de Janeiro AM e colunista do jornal popularesco Extra. A ideia repercutiu positivamente nos meios "espíritas" de todo o Brasil. Na época, 2004, ele supôs um "pioneirismo" de 65 anos.

A delirante narrativa do livro mostra o caricato Humberto de Campos, o "espírito anedótico" que destoa do autor maranhense que esteve aqui em solo pátrio, viajando, vejam só, até Marte e, naquele ano, "descobriu" antes da NASA (National Aeronautics and Space Administration) que havia formas avançadas de vida e presença de água.

Animados, os "espíritas" apressadamente comemoraram e anunciaram um suposto pioneirismo de sete décadas e meia, na sua tentativa de inserir Chico Xavier no clube de cientistas, através da suposta atuação de Humberto de Campos, o igrejista cujo estilo destoa completamente do escritor que viveu entre nós e integrou a Academia Brasileira de Letras.

Segundo eles, a NASA só descobriria presença de água em Marte no ano de 2004, e em 2007 descobriria gelo, através do robô Opportunity, enviado ao planeta. Soltando fogos, confetes e serpentinas, os "espíritas" então festejaram um suposto pioneirismo não só de 65 anos, mas de 68 (hoje cerca de 75 ou 78), certos de que Chico Xavier seria reconhecido como "cientista".

Acreditam eles que a descoberta da NASA, através de seu robô, era inédita e não se falava um pio sobre a presença de água nem de vida em Marte. Grande falácia. A possibilidade de haver água e vida em Marte era uma crença muito antiga, e as modernas pesquisas neste sentido surgiram no século XIX a partir do matemático e astrônomo estadunidense Percival Lowell (1855-1916).

Lowell foi um dos primeiros a lançar a hipótese de que haviam canais (onde haveriam vestígios de água) e vida inteligente na Terra. Antes dele ainda havia outro, William Whewell (1794-1866), filósofo, padre anglicano e historiador da ciência inglês que popularizou o termo scientist (cientista), havia especulado em 1854 que havia mares, terra e vida em Marte.

Apesar dessas especulações, foi Lowell que começou a lançar a questão em debate para valer, através dos livros Mars (1895), Mars and its Canals (1906) e Mars as the Abode of Life (1908). Portanto, o que os festivos "espíritas" desconhecem é que não houve pioneirismo em Chico Xavier em 75 ou 78 anos, antes houvesse um atraso de compreensão em 31, 43 ou 45 anos.

Nos recusamos a colocar o coitado do Humberto de Campos nesta porque o autor, um rapaz de 22 anos quando Percival Lowell lançou o terceiro dos citados livros, nunca entraria na cilada armada por Chico Xavier. Com toda a certeza, o "Humberto de Campos" associado a Chico Xavier é falso, a Justiça de 1944 é que não conhecia o termo "falsidade ideológica" hoje mencionado em leis.

Portanto, a descrição, no livro Novas Mensagens, de que havia vida inteligente, água e formas adiantadas de sociedade em nenhum momento representa qualquer pioneirismo, porque mesmo a suposição de civilizações adiantadas era descrita em obras de ficção científica diversas, pelo menos a partir de Jules Verne (1828-1905).

Mais uma vez, os "espíritas" cometeram um grave equívoco, supondo um pioneirismo que não existiu e que, na verdade, corresponde a um humilhante atraso, um retardamento de cerca de quatro décadas em relação à tese da existência de vida e de água em Marte, assuntos que eram longamente discutidos pela comunidade científica, sendo a partir do século XIX de maneira mais sistemática.

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