segunda-feira, 21 de setembro de 2015
A perda de tempo dos acadêmicos com Chico Xavier
É assustadora a blindagem que existe em torno de Francisco Cândido Xavier, cujo charlatanismo é comprovado através de pastiches literários e da apropriação perniciosa de ilustres falecidos como Humberto de Campos, além da pouco conhecida poetisa Auta de Souza e da semi-anônima professora Irma de Castro Rocha, a Meimei.
Essa blindagem persiste e se intensifica desde que Chico Xavier tornou-se mito, em 1944, através de um atrapalhado desfecho judicial, sobre o processo movido por herdeiros de Humberto de Campos, falecido dez anos antes, que cobravam dos juízes verificar se Chico e a Federação "Espírita" Brasileira usurparam o falecido escritor ou ele realmente "apareceu" para ditar livros.
Desde então, Chico Xavier, já bastante estranhado pelo confuso livro Parnaso de Além-Túmulo, uma obra poética que se supunha um "trabalho acabado da espiritualidade superior", mas que recebeu cinco remendos em 23 anos (explicar um "trabalho perfeito" ser consertado tantas vezes e em tantos anos é muito complicado), passou a ser defendido com mãos de ferro pelos fanáticos seguidores.
Para piorar, atribuições bastante surreais a Chico Xavier, associando ele a qualidades que ele nunca teve nem era capaz de ter - como psicólogo, cientista político, sociólogo, filósofo, ativista social e militante progressista - , são difundidas impunemente, e ele se torna o maior caso de impunidade que se existe na História do Brasil.
Como um Lula às avessas - é notório que o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, é condenado e desmoralizado até pelo que ele fez de positivo, sendo ele a maior vítima do chamado "assassinato de reputações" - , Chico Xavier é inocentado até quando se comprovou que ele apoiou abertamente as fraudes escandalosas da farsante ilusionista Otília Diogo.
Para completar o surrealismo, existem linhas acadêmicas, instaladas na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), esta no Núcleo de Pesquisa em Saúde e Espiritualidade da Faculdade de Medicina, ambas com o respaldo da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil), que tentam legitimar o ilegitimável, em relação a Chico Xavier.
Metodologias confusas e linhas de pesquisa bastante complicadas tentam encher as análises das supostas psicografias de Chico Xavier com divagações psico-biológicas sem muito nexo, Em vez de investir em aspectos simples, como a semelhança de estilo entre diferentes cartas e livros "espirituais" trazidos por Xavier, "viaja-se" com surreais análises científicas desnecessárias.
Para "confirmar" o "pioneirismo científico" do fictício André Luiz, os acadêmicos supuseram, lamentosamente, que a bibliografia sobre glândula pineal nos anos 1940 era "escassa e conflituosa" (como se o conflito não fizesse parte de um debate científico), tomando como base apenas a bibliografia consultada de 1977 até pouco tempo atrás.
Isso quer dizer que a tão "dedicada" comunidade acadêmica voltada à "mediunidade" de Chico Xavier, para presumir que "André Luiz" previu descobertas científicas em 13 ou até 63 anos, não se valeu de bibliografia originalmente publicada na época, pois o único livro da década de 1940 que aparece foi Missionários da Luz, a própria obra atribuída ao suposto médico.
Há muita pose de seriedade em acadêmicos como Jorge Cecílio Daher Jr. e Alexander Moreira-Almeida, alguns dos astros dessa turma "científica". Eles capricham no discurso acadêmico e na pose de letrados, que acoberta sua precária, confusa e atrapalhada metodologia de análise dos trabalhos de Francisco Cândido Xavier.
O problema é que isso constitui uma grande perda de tempo, pois métodos muito simples apenas desqualificam a atividade supostamente mediúnica do mineiro, bastando uma maior atenção na leitura dessas cartas e livros e compará-los com o que os supostos espíritos eram em vida.
Só o caso Humberto de Campos teria extinguido o mito de Chico Xavier. Sem muito esforço. A hesitante petição dos herdeiros do autor maranhense, que foram melindrosos demais ao cobrar da Justiça algo que ela não estava preparada para fazer, na época (1944), que é verificar se havia ou não veracidade nas obras "espirituais", e o confuso desfecho judicial, ocorreram devido ao contexto daqueles tempos.
Não havia, pelo menos sob reconhecimento jurídico oficial, o termo "falsidade ideológica", que seria o motivo hoje da ação judicial prevista contra Chico Xavier e a FEB. Se em 1944 adotássemos a visão jurídica de hoje, Chico Xavier seria derrubado e condenado como um charlatão, porque o caso dele foi usar o nome de Humberto de Campos para promover uma parcela de livros.
Isso é tão certo que basta uma simples comparação entre os livros que Humberto produziu em vida e os que se atribui ao seu espírito, através de Chico Xavier. A aberrante diferença de estilos é notória. A boa escrita ao mesmo tempo culta, coloquial, leve e descontraída de Humberto dava lugar a uma escrita pesada, pedante, depressiva e forçadamente religiosa.
Em vida, Humberto, que era ateu, era intelectual membro da Academia Brasileira de Letras, conhecedor da cultura de seu país, sobretudo Maranhão e Rio de Janeiro (então Distrito Federal, onde ele viveu) e estrangeira. Já o suposto "espírito" Humberto de Campos escrevia como se fosse um sacerdote católico, brasileiro membro do Vaticano e conhecedor apenas de textos bíblicos.
Constatar isso não precisa de formação acadêmica, bastando somente um hábito de leitura. E imaginar que, se deixasse nas mãos de Alexander Moreira-Almeida, com sua pose de autoridade de pretenso pesquisador científico, ele teria se perdido em desnecessárias divagações linguísticas e de cunho psicológico e historiográfico dos textos do suposto espírito de Humberto.
Por isso os acadêmicos perdem muito tempo analisando Chico Xavier, inserindo abordagens extremamente complicadas que em nada contribuem para analisar a validade ou não de seus textos, quando uma simples análise de um leitor especializado, por mais modesto que ele seja, conseguem identificar as contradições e equívocos da pretensa psicografia do anti-médium mineiro.
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