sábado, 19 de setembro de 2015
Teologia do Sofrimento equipara seus defensores a Pôncio Pilatos
A Teologia do Sofrimento, que faz apologia do flagelo e dos infortúnios humanos como forma de atingir a evolução e as "graças divinas", é uma ideologia bem mais cruel do que se pode imaginar, embora ela seja associada comumente à ideia de humildade, resignação e devoção.
O grande problema está na sua essência e na forma como essa teoria roga para a vida das pessoas que não fazem parte dos banquetes dos poderosos e dos privilegiados. Afinal, essa teoria tão associada sobretudo ao Catolicismo e ao "movimento espírita" brasileiro, ela está de acordo com os ensinamentos de Jesus de Nazaré?
Definitivamente, não. A Teologia do Sofrimento, defendida por figuras como Madre Teresa de Calcutá e, Francisco Cândido Xavier e, de forma mais sutil, por Divaldo Franco, e encontra ecos até na Cientologia, está muito mais próxima da tirania do prefeito da Judeia, Pôncio Pilatos, do que de Jesus.
Sim, o lado perverso dessa ideologia é que a apologia do sofrimento, que se baseia na recomendação aos sofredores para não reclamarem dos infortúnios e aceitarem ocorrer tudo de errado e grave em suas vidas, sem sequer gemer de dor, em troca de "bênçãos futuras" e "graças divinas".
É uma espécie de Taylorismo da religião, pois, como já descrevemos, o Taylorismo foi uma teoria da Administração que reivindicava ao trabalhador um ritmo de trabalho mais opressivo e angustiante em troca de prêmios como promoção profissional e maiores salários, desde que aguentasse, em primeira instância, uma carga horária excessiva sem muitas garantias sociais.
Na religião, a Teologia do Sofrimento faz a mesma coisa. É a tese do "quanto pior, melhor", em que cabe à pessoa sofrer, sofrer e sofrer, de preferência sem reclamar de dor e orando em silêncio para não perturbar o sossego dos opressores, que terão "a sua vez, sim", mas daqui a 100 ou 200 anos.
Pilatos, que pode até ter "lavado as suas mãos" mas, segundo historiadores, nunca fez o famoso julgamento contra Jesus, se limitando apenas a ordenar a condenação na cruz, muito provavelmente um ato bem mais rápido do que muitos acreditam, é, na prática, patrono da Teoria do Sofrimento, embora nunca se admita a associação dessa teoria ao político romano.
Isso porque a Teologia do Sofrimento se baseia no próprio sofrimento de Jesus, na condenação contra ele sancionada - acusado de semear uma suposta revolta popular na medida em que o ativista judeu esclarecia os cidadãos quando se hospedava na casa de cada um deles - , e se fundamenta na submissão medieval ao sofrimento como meio de obter "benefícios futuros" pela servidão da fé.
A analogia ao sofrimento de Jesus faz com que os ideólogos essa "humilde teoria" não estivessem ao lado do ativista. Querer que as pessoas sofram para atingir graças e benefícios futuros não é estar ao lado de Jesus, mas de Pilatos. Até Chico Xavier torce no time de Pilatos quando defende a ideia de que devemos "sofrer amando, sem queixumes".
Isso parece cruel, mas é realista. Afinal, ninguém que se identifique, de fato, com o exemplo de Jesus, quer que a humanidade sofra com a mesma intensidade que ele, transformando sua vida num ritual de desgraças sucessivas.
Pelo contrário. O próprio Jesus não queria que a humanidade sofresse. Daí a contradição dos que defendem a Teologia do Sofrimento, que se dizem solidários a Jesus. Mas eles, presos a crenças medievais, só valorizam o Jesus prisioneiro da cruz, sisudo e taciturno, e acreditam na vida como um processo punitivo, uma penitência interminável.
Já sua ideia de que as pessoas devem sofrer com resignação é bem de acordo com a tirania de Pilatos, e com a visão medieval de criminalizar a vontade e a consciência humana, usando como desculpa o "pecado original" (a pessoa é "culpada" apenas porque nasceu) e promete ao sofredor benefícios que não se sabe quando nem como se obterão, se é que não passam de pura falácia.
Daí que cai a máscara de tantos "cristãos" que dizem que a essência da vida é cumprir o sofrimento pelo pretexto de "faltas passadas", apegar-se à devoção mórbida da fé, que leva muitos à debiloide histeria religiosa, e, defendendo tais posturas, assumem pontos de vista medievais trazidos pela aristocracia romana que usurpou o Cristianismo primitivo. A Teologia do Sofrimento é anti-Jesus.
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