segunda-feira, 30 de maio de 2016
A complacência com o escândalo
O Brasil está sendo bombardeado por denúncias de escândalos envolvendo o governo interino do presidente Michel Temer e as diversas forças políticas, sociais e midiáticas que o apoiam. Gravações divulgadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, divulgaram vários desses incidentes.
Em resumo, os incidentes mostram que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff nunca passou de um ato negociado por políticos suspeitos de participação do esquema de corrupção e que viam na medida do impedimento político da chefe do Executivo federal e sua substituição pelo vice, já convertido no traidor da antiga titular, uma forma de barrar o avanço da Operação Lava-Jato.
Os escândalos mostram que houve uma articulação entre a grande imprensa, os movimentos juvenis e políticos da oposição conservadora ao PT que investiram dinheiro para a campanha do impeachment. Consta-se que o dinheiro que acusam faltar no Brasil por causa da crise é a grana que eles roubaram para si, sobretudo nos últimos três anos.
Rede Globo, Folha de São Paulo, PSDB, PMDB e Movimento Brasil Livre foram algumas das pessoas jurídicas citadas nas gravações entre os negociadores da expulsão de Dilma Rousseff visando proteger os corruptos mais perigosos. Aécio Neves, Eduardo Cunha, Otávio Frias Filho, Gabriel Chalita, José Serra e o próprio Michel Temer foram as pessoas físicas citadas.
Tudo escândalo atrás de escândalo. O PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha e o PSDB de José Serra e Aécio Neves financiando panfletos e pagando caravanas e passeatas anti-Dilma. Temer negociando cobertura jornalística na Rede Globo. Políticos indiciados pela Lava-Jato negociando formas de forçar a queda de Dilma Rousseff.
Vários envolvidos em corrupção foram designados ministros do governo Michel Temer para obterem foro privilegiado e serem poupados de investigações. Dilma Rousseff foi expulsa em função de votações de deputados e senadores envolvidos em crimes que vão de extração irregular de madeira das árvores até assassinato.
E O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO?
A porção de escândalos é uma consequência da complacência das pessoas que, em nome do status quo, aceita que seus ídolos cometam escândalos gravíssimos e vergonhosos. sem perceber a gravidade desses atos.
A aceitação de um governo que, em menos de duas semanas, revela uma sucessão de grandes gafes e escândalos e cuja trajetória causa espanto nos jornalistas estrangeiros, que não praticam o panfletarismo irresponsável que se observa em veículos como a Rede Globo e a revista Veja, mostra o clima viciado que reina na sociedade brasileira.
O tratamento desigual que se dá a pessoas diferentes que fazem a mesma coisa, como um jovem pobre que furta uma bolsa, tratado com mais crueldade pela polícia do que um político que desvia para sua conta particular o dinheiro público que seria para uma escola, motiva essa complacência.
Quando o status quo protege encrenqueiros, que estão associados a estereótipos de valor tecnocrático, político, midiático, empresarial e religioso, as pessoas aceitam que determinados indivíduos cometam gafes preocupantes, crimes perversos, a mais pérfida corrupção e outros delitos graves.
Desde que tais delitos graves não afetem a imagem "admirável" que tais pessoas inspiram a esses setores complacentes da sociedade, até a impunidade é socialmente aceita, com Michel Temer seguindo "normalmente" o seu mandato num país em que um Guilherme de Pádua que matou uma atriz atrai seguidores em sua conta no Instagram.
No "espiritismo", a memória curta escondeu as irregularidades gravíssimas e os escândalos preocupantes que poderiam ter derrubado Francisco Cândido Xavier, mas não impediram os processos de transformá-lo no semi-deus que seus fanáticos seguidores querem que ele continue sendo.
Os fatos mostram que Chico Xavier cometeu vergonhosos plágios e pastiches literários, pregou um igrejismo retrógrado sob o verniz de "doutrina espírita" e fazia juízos de valor que contradiziam seus apelos para que "ninguém julgasse quem quer que fosse".
Chico Xavier foi um corrupto (praticar plágios e pastiches literários e atribuir autoria de mortos é um ato desonesto e, portanto, uma corrupção) que as conveniências políticas, empresariais e religiosas, com uma ajudinha da mídia (TV Tupi e Rede Globo), fizeram transformá-lo, tendenciosamente, num "simbolo máximo de amor e de bondade".
Até mesmo a "caridade" de Chico Xavier é muito, muito duvidosa. Primeiro, porque seus projetos assistenciais eram paliativos e nunca ajudaram de maneira ampla, profunda e definitiva as pessoas. Eram aquela "bondade" feita dentro dos clichês moralistas e paternalistas da religião, que "ajudam", mas de maneira limitada sem afetar o sistema de privilégios vigente.
Segundo, porque Chico teve também posturas ideológicas muitíssimo estranhas. Defendeu explicitamente a ditadura militar, já em sua cruel fase, num programa de televisão. Acusou vítimas do incêndio em um circo de Niterói de terem sido, em outras vidas, romanos sanguinários. Ficou irritado quando amigos de Jair Presente reclamavam de irregularidades nas supostas mensagens espirituais e definiu o ceticismo destes jovens de "bobagem da grossa".
Depois vem palestrante "espírita" em seu blogue falar em livros novos sobre Chico Xavier com as capas desses volumes aparecendo diante do céu azul, como se as obras tivessem sido escritas sob encomenda do "Alto". Puramente ridícula essa propaganda a respeito de Chico Xavier, em que se investem no aparato das "palavras de amor", "estórias lindas" e coisa parecida.
Retomando o tema dos escândalos, Chico Xavier passou por escândalos graves, muitos deles de sua direta responsabilidade, por se atrever a fazer pastiches literários sob o pretexto de serem "psicografias". É culpa de Chico Xavier, sim, de criar confusões e causar tanta indignação e revolta de pessoas que só queriam coerência e transparência e foram levianamente xingadas de "cruéis" só porque o fraudador era um ídolo religioso.
Chico Xavier ludibriou os brasileiros já leigos em literatura e, incapazes de ver diferença entre Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, se revelaram menos capazes de perceber a diferença entre um fluente Humberto de Campos registrado em vida e um suposto "espírito Humberto de Campos" de escrita pesada, cansativa e deprimente.
Chico Xavier dividiu famílias quando divulgava mensagens atribuídas aos parentes mortos que claramente não tinham a ver com o estilo de escrita dos falecidos. Fazia pais brigarem com mães, primos com irmãos, filhos com pais, sogros com genros ou noras, porque uns se comoveram com o tom "amoroso" das mensagens e não conseguiam ver a irregularidade das mesmas, entorpecidos pela sedução das "palavras de amor".
Chico Xavier aprontou muito e de forma feia e irresponsável. E saiu impune dessa, sendo o exemplo máximo da impunidade social que volta e meia transforma estelionatários e assassinos de grande status sócio-econômico em "pessoas legais". Chico fez fraudes, pastiches e outras coisas retrógradas e tornou-se endeusado na posteridade. Divaldo Franco também fez das suas e segue o mesmo caminho para a divinização póstuma no futuro.
Daí que essas pessoas acabam merecendo o governo irregular de Michel Temer, que traz um projeto retrógrado para o Brasil e conta com uma equipe cheia de corruptos e incompetentes. Até parece que Michel Temer se inspirou em Chico Xavier para fazer o seu governo.
Ou talvez Aécio Neves e Eduardo Cunha (um forneceu a Temer as propostas eleitorais do PSDB de 2014 e outro, as "pautas-bombas" que propôs na Câmara dos Deputados) é que possam ter se inspirado no "bondoso médium" para criar esses programas de governo que praticamente farão o Brasil se atolar na Teologia do Sofrimento, ideologia tão defendida (mas de forma não-assumida) pelo "médium" mineiro.
Daí o preço dos brasileiros em usar o status quo político, econômico, empresarial, tecnocrático e, sobretudo, religioso, para acobertar escândalos e legitimar pessoas que não merecem legitimidade alguma. O progresso social fica para depois. Primeiro, os prejuízos, depois, nunca se sabe.
sábado, 28 de maio de 2016
A esperteza de Chico Xavier diante dos herdeiros de Humberto de Campos
Ficamos pasmos em ver o quanto determinados oportunistas conseguem obter a imunidade absoluta no Brasil, uma ilusão de impunidade plena e absoluta que se vale sobretudo pela complacência de multidões e o silêncio das leis.
É certo que Francisco Cândido Xavier tomou um violento choque ao retornar ao mundo espiritual, decepcionado com a recepção, ou melhor, com a falta de recepção que teve no além-túmulo, o que mostra o quanto as fantasias religiosas alimentam vaidades piores do que as de muitos aristocratas, que não obstante têm mais consciência de seus erros que muitos figurões sagrados do "espiritismo" brasileiro.
Mas, enquanto esteve na Terra, Chico Xavier se beneficiou de sua esperteza, ao lado da engenhosidade de seu mentor terreno, o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e, mais tarde, da cumplicidade das Organizações Globo, que deixaram a hostilidade ao "médium" de lado e passaram a vê-lo como um instrumento de manipulação religiosa.
As pessoas não conseguem perceber que são manipuladas pela Rede Globo. Se Chico Xavier é um mito considerado "intocável" por muitas pessoas, deve-se agradecer à Rede Globo. Não há como exaltar Chico Xavier e não exaltar a Rede Globo. Por conseguinte, não dá para exaltar Divaldo Franco se mantém uma postura adversa à Rede Globo.
Foi a Globo, por exemplo, que forneceu os paradigmas de "bondade" e "caridade" que conhecemos. A Globo tem a arte de mexer no inconsciente coletivo e influir até no inconsciente de parte dos seus detratores. A gíria "balada" é um exemplo. O fanatismo pelo futebol carioca e a adoção do clube espanhol Barcelona pelos torcedores brasileiros são outros exemplos.
As pessoas se comportam como se saíssem de uma sessão de hipnose. Saem sem ter a menor impressão de que foram hipnotizadas. E Chico Xavier foi um dos maiores ilusionistas do Brasil. Ele teria sido um fã de circos, do processo de hipnose, da leitura fria e do ilusionismo mágico.
A maior mágica que o ilusionista Chico Xavier fez foi seduzir as pessoas. Numa reportagem do jornal O Globo de 1935, quando ele era apenas um paranormal e a empresa de Roberto Marinho não tinha a posterior hostilidade ao "médium", este já demonstrava um semblante assustador, olhando de frente, com um semblante bastante pesado.
O esperto mineiro já demonstrava seus dons hipnóticos. Chico Xavier comia quieto na hora de atrair apoio da sociedade, e sua gradual esperteza, "turbinada" com os truques de marketing de Wantuil, e, mais tarde, com a necessidade da Rede Globo criar um ídolo religioso para amansar o povo que estava fulo da vida com a ditadura militar, o fez ser visto como um quase Deus pelos brasileiros.
Um exemplo da esperteza de Chico Xavier tem como vítimas os herdeiros de Humberto de Campos. Chico não havia gostado dos comentários do autor maranhense sobre Parnaso de Além-Túmulo, uma resenha dividida em duas partes no qual o "reconhecimento" de Humberto da suposta veracidade psicográfica soa uma leve ironia.
Em vez de Humberto glorificar Chico Xavier pelo seu feito, o autor de O Brasil Anedótico reclamou da concorrência que seriam as obras atribuídas aos autores do além-túmulo em relação à obra produzida pelos vivos. A resenha de duas partes foi publicada em 1932.
Dois anos depois, o próprio Humberto ficou seriamente doente. Parecia envelhecido, mas tinha só 48 anos de idade. Faleceu em 1934 e foi aí que Chico Xavier começou a pensar num meio de reagir àquela resenha que ele não gostou.
Chico então inventou um sonho, cuja narrativa é completamente tola de tão simplória. Foi em 1935, em conversa com um amigo. Chico narrou um suposto sonho no qual o "médium" via uma multidão e, dela, saiu o escritor, que teria perguntado ao mineiro: "Você é o menino do Parnaso? Prazer! Sou Humberto de Campos".
É ilustrativo que Chico Xavier usava sonhos para tentar convencer as pessoas de supostas missões em sua vida. Em 1986, ele teria dito a Geraldo Lemos Neto um sonho de 1969 sobre uma suposta reunião de espíritos governantes (?!) do Sistema Solar, incluindo Jesus Cristo, preocupados com a ameaça de uma Terceira Guerra Mundial. Este sonho deu origem à suposta profecia da "data-limite".
Chico Xavier resolveu desenvolver um Humberto de Campos diferente do original. Com a ajuda de Antônio Wantuil e outros colaboradores da equipe editorial da FEB, eles escreveram as obras que levavam o nome do autor maranhense com um estilo bastante diferente do deixado em vida.
Se o Humberto de Campos que esteve entre nós tinha uma prosa fluente, culta mas acessível, com narrativa dinâmica e quase cinematográfica e um texto quase sempre descontraído, o suposto espírito tinha uma prosa muito pesada, pretensamente erudita e empolada, mas com sérios vícios de linguagem (há muitos cacófatos, por exemplo, como "que cada" e "chama Maria"), uma narrativa cansativa e um texto deprimente e melancólico.
Mesmo que o espírito Humberto tivesse se entristecido muito com a morte prematura, ele nunca escreveria do jeito que se atribui nos livros lançados por Chico Xavier. Está muito claro que Humberto não escreveu esses textos, que em muitos momentos revelam não só o estilo pessoal do "médium" (mesclado com os estilos prováveis de seus parceiros, como Wantuil), mas também defendia posturas pessoais de Chico, como a Teologia do Sofrimento.
Até hoje ninguém oficialmente veio declarar que Chico Xavier era o defensor da Teologia do Sofrimento, tal qual se faz, no exterior, sobre Madre Teresa de Calcutá. É até curioso isso, porque Chico e Madre Teresa, tão comparados um com o outro em coisas boas, não recebem essa comparação quando se trata de aspectos sombrios como este.
A disparidade de estilo tornou-se evidente. Tão evidente que veio então um processo movido pelos herdeiros de Humberto, a viúva, Dona Catarina Vergolina e os filhos, Henrique e Humberto. A irmã dos dois rapazes, Maria de Lourdes, apenas apoiou o processo, mas não se envolveu nele.
O processo colocou Chico Xavier e a FEB no banco dos réus, e foi um dos episódios que, recentemente, causam a choradeira dos "espíritas", sempre afeitos a promover o coitadismo em torno do "médium", transformado num falso Cristo a se promover às custas da oposição alheia, criando um sentimento perigoso chamado "triunfalismo", uma espécie de arrogância na qual uma pessoa se sente vitoriosa pelas derrotas que sofreu.
E aí, vemos o que deu no meio jurídico. O aspecto do direito autoral de uma obra psicográfica era um tema desconhecido dos juristas brasileiros em 1944. Neste sentido, o caso Humberto de Campos, muito noticiado na época, abriu precedente para futuras análises. Mas se a Justiça de hoje é muito falha, tomada por gente parcial como Sérgio Moro e delinquentes como Gilmar Mendes, imagine então sete décadas atrás!
ARMADILHA DAS "MENSAGENS DE AMOR"
O caso deu num empate. Até Humberto de Campos Filho admitiu isso. Mas, como se observa em certos campeonatos esportivos, em que um empate faz de um time em vantagem um vencedor, Chico Xavier saiu em vantagem. A esperteza dele, espírito traiçoeiro que em seus 92 anos de vida trabalhou sua vaidade como ídolo religioso absoluto, viu no caso de 1944 um impulso para seus interesses pessoais.
Imagine alguém que era um mero caipira, funcionário público, católico conservador com dons paranormais, figura sem a menor importância e que, naturalmente, só seria lembrada hoje como um verbete do Guia dos Curiosos ou de alguma enciclopédia de fatos pitorescos, que passou a ser visto como um quase Deus, tornando-se oficialmente uma unanimidade nacional.
Tudo isso foi ideologicamente construído. Como um enredo de novela da TV. É assustador que os brasileiros costumam raciocinar a realidade como se fosse um episódio de novela, e lágrimas são derramadas à toa com a piegas e inconsistente ideia de um "médium" supostamente perseguido, dramaticamente atacado por críticos e analistas vistos como "vilões cruéis".
Pouco importa se a lógica e a coerência estão do lado de críticos literários sérios e competentes, que com muita razão e conhecimento de causa questionam a veracidade de supostas psicografias atribuídas a autores literários. A infantilidade dos adeptos de Chico Xavier insiste em ver nessas críticas atos de perversidade e perseguição a um "homem de bem".
Aí vemos posturas desiguais em relação ao Primeiro Mundo, curiosamente "condenado" pela suposta profecia da "data-limite". O Primeiro Mundo condenaria sem hesitação pretensas psicografias desse tipo, que abertamente contrariam os estilos originais dos autores alegados. Não havia desculpa de "bondade", "mensagens de amor" ou coisa parecida que salvasse a credibilidade dessas obras.
Aqui é que prevalece uma postura condescendente. Aqui é que a ideia de lógica e coerência é atacada pelo juízo de valor dos deslumbrados da fé religiosa. A armadilha das "mensagens de amor", por mais que sustentem graves mentiras e fraudes, faz prevalecer o místico e o fantasioso sobre o real e o lógico, pouco importando se o açúcar das palavras tempere o veneno das mistificações traiçoeiras.
A MÃE DE HUMBERTO ESTAVA "NO PAPO"
E aí o que se viu, no caso de Chico Xavier? Ele já tinha "no papo" a mãe do autor maranhense, Ana de Campos Veras, que, tomada de sentimentalismo, foi seduzida pela aura de "bondade" e "afeição" pela esperteza do "médium".
Sem verificar os aspectos das supostas psicografias, até porque nem sempre familiares se tornam especialistas dos entes queridos falecidos, Ana ainda mandou uma foto do filho acrescida da seguinte mensagem: "Ao prezado sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia como prova de amizade e gratidão".
Depois, em 1957, Chico Xavier armou uma estratégia ao saber, previamente, que Humberto de Campos Filho iria visitá-lo. Humberto, por curiosidade, já estava frequentando "centros espíritas" e, como figura de televisão, tinha amigos que aderiram ao "espiritismo" brasileiro.
Chico já estava colaborando com um "centro espírita" em Uberaba, a Comunhão Espírita Cristã, bem antes de se instalar definitivamente na cidade onde ele visitava muito há um bom tempo. Era parceiro de um jovem "médium" de lá, Waldo Vieira, desde que este era ainda muito jovem.
Há indícios de que Waldo, fã de revistas de ficção científica, tenha dado sugestões para Chico rechear Nosso Lar de feições "futuristas", até para diferir do evidente plágio do livro do inglês George Vale Owen, A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), livro aliás já publicado no Brasil pela FEB. André Luiz teria ganho traços mais definidos pela imaginação do menino-prodígio Waldo.
E aí houve todo um teatro. Humberto de Campos Filho, o sujeito que ligeira mas firmemente dizia que as obras "psicográficas" nunca teriam escrito pelo pai, foi chamado pelo "médium" que comandava a doutrinária.
Aí os dois se abraçaram chorando (sempre as lágrimas!) e Chico foi logo apresentar as atividades "filantrópicas" - a tal "revolução da sopinha", com cozinheiras preparando a "sopa dos pobres" num galpão aberto nas laterais - e, depois, apresentar um velhinho humilde que estava triste e, após receber um sussurro de Chico Xavier, passou a sorrir. Humberto Filho caiu na mesma armadilha que sua avó.
Muito simplório. E mostra o quanto Chico Xavier era esperto. Essa ocorrência de sedução de Humberto de Campos Filho, atraindo a confiança dele, ocorreu um ano antes do sobrinho de Chico denunciar as fraudes do tio e foi vítima de uma estranha campanha que resultou em tragédia.
Só no Brasil que, recentemente, condena Lula e Dilma Rousseff sem comprovação de crime e transforma os dois nas poucas pessoas que podem ser caluniadas, pode-se deixar passar em branco o caso de Amauri Xavier, vítima de calúnia e difamação de parte de quem justamente diz reprovar todo tipo de ato neste sentido.
Foi Amauri anunciar que iria denunciar todas as irregularidades do tio e outros figurões "espíritas". que depois inventaram coisas absurdas sobre ele, além de humilhações pesadas trazidas por escritores "espíritas" tomados de um aparentemente inconcebível surto de ódio e de rancor.
Amauri era acusado até de ser falsificador de dinheiro, só faltando acusá-lo de ter atirado a bomba atômica em Hiroshima e Nagazaki. E, com um vício limitado ao consumo de álcool - não havia indícios que ele consumisse entorpecentes ou remédios fortes de prescrição médica - , Amauri teria falecido aos 27 anos, idade estranha para um mero vício alcoólico, já que os alcoolistas tendem a morrer geralmente na virada dos 30 para os 40 anos. Teria sido Amauri envenenado por alguém?
Chico Xavier acabou aceitando a perda do sobrinho. Mas, neste caso, ele acabou consentindo com os algozes do rapaz. Uma grande crueldade entre muitas, nunca devidamente assumidas, do "iluminado médium". Mas também o esperto paranormal de Pedro Leopoldo, forçado a arrumar as malas para Uberaba, onde viveu o resto de seus dias, já tinha um país sob seu controle.
E a mãe e o filho de Humberto de Campos já foram conquistados "no papo". E assim Humberto de Campos foi o primeiro escritor cuja apropriação indébita de seu nome e prestígio foi não só consentida mas estimulada e aceita até hoje. Com todas as comprovações de que Humberto nunca teria escrito tais obras "espirituais".
quinta-feira, 26 de maio de 2016
O governo de Michel Temer e a histeria das zonas de conforto
Não é segredo algum que o Brasil é um país bastante conservador. A histeria de uma boa parcela da sociedade em querer a saída, "na marra" e sem um motivo preciso e consistente, da presidenta Dilma Rousseff do poder, revela esse reacionarismo que se esconde até em pessoas que parecem modernas, como se observa nas mídias sociais na Internet.
A revolta das zonas de conforto das pessoas com algum privilégio, por menor que seja, permitiu que o insosso Michel Temer tomasse posse como presidente interino, embora com fome, mas sem qualquer apetite, de concluir o mandato em 2018 como efetivo.
Temer mostrou um ministério e um projeto político comparáveis ao dos tempos da "distenção" do governo do general Ernesto Geisel, já que foi um retrocesso em relação aos vários avanços ocorridos desde que o também general João Baptista Figueiredo preparava o caminho para a redemocratização.
Usando como pretexto a recuperação econômica, o governo Michel Temer cometeu diversos retrocessos sociais. Diante da repercussão negativa de muitas medidas, ele tenta reparar alguns males extremos, como dotar a equipe ministerial só de homens, mas dando às mulheres a solução paliativa dos cargos do segundo escalão. Mas não é a mesma coisa.
Nas mídias sociais, nota-se a histeria anti-petista que vê marxismo em tudo, vindo de direitistas que nunca leram os livros de Karl Marx. As pessoas são tomadas da mania de julgar o mundo de acordo com suas convicções pessoais, com argumentos "racionais", como se o cérebro estivesse sempre a serviço do umbigo.
E isso não é um hábito exclusivo da direita, embora lhe fosse o mais típico. A ideia de ver o "funk" como "progressista" é um vício de setores da esquerda. Direita e esquerda também erram, no plano religioso, ao ver a ideia de "bondade" como um subproduto da fé religiosa.
Hoje as zonas de conforto estão em risco, como um edifício que apresenta rachaduras, anunciando um desabamento futuro. As pessoas procuram acreditar no "balança mas não cai" dos seus valores retrógrados que nunca desaparecem, das convicções pessoais equivocadas que nunca se desqualificam e sempre encontram meios de apresentar justificativas "racionais" aqui e ali.
Relações hierárquicas, medidas paliativas, privilégios sociais acomodados, tudo isso está em risco e, em parte, está protegido pelo conservadorismo político do impopular Temer. Há um desespero das pessoas em se apegarem a uma rotina "perfeitamente imperfeita" vigente nos últimos 40 anos, mesmo com o perecimento avançado de muitos paradigmas.
Só que a crise tende a aumentar, o que se comprova com os protestos que Michel Temer está sofrendo do povo brasileiro e a repercussão negativa que seu governo tem no exterior. O pânico de muitos brasileiros, os que pensam o mundo com seus umbigos, em ver o exterior contestando o que suas zonas de conforto definem como sagrado, é evidente.
E isso é assustador, porque a paranoia está transformando a imprensa antes especializada em alguma coisa num antro de reacionários cometendo gafes e transmitindo desinformação. Está transformando os internautas em pessoas convictas de sua burrice, que tentam proteger com argumentos falsamente inteligentes.
Essa crise se acentuará, o que, em 2019, irá derrubar de vez a tese do "coração do mundo" dita por Francisco Cândido Xavier, ele mesmo uma expressão das zonas de conforto de seus seguidores. Ele, Chico Xavier, o símbolo desse apego passadista a uma "república velha" parcialmente democrática, mas sempre garantidora de privilégios de poder e da prevalência de paradigmas retrógrados que só atendem a interesses imediatistas de uns poucos.
terça-feira, 24 de maio de 2016
O caso Ana Hickman e o caos da vida amorosa no Brasil
No último fim de semana, um jovem fanático pela apresentadora Ana Hickman, da Rede Record, invadiu um hotel em Belo Horizonte, onde ela estava para divulgar um dos produtos que levam o seu nome e quase provocou uma tragédia, tendo que sofrer a dele, lembrando a frase de Allan Kardec: "melhor que caia um do que caiam várias pessoas".
O jovem, Rodrigo de Pádua, de 30 anos, sentia paixão doentia pela apresentadora, que é casada com seu agente, o empresário Alexandre Correa, e tem um filho do mesmo nome do marido. Rodrigo ignorava essa condição e escrevia frases ensandecidas que se queixavam da "paixão não-correspondida".
Ele havia chegado ao hotel na tarde do último dia 21 e, entrou no quarto da apresentadora, que estava com o cunhado, Gustavo Correa, e a concunhada e assessora, Giovana Oliveira, esposa de Gustavo. Ele teria rendido Gustavo primeiro, obrigando-o a dirigir-se ao quarto, e depois obrigou ele, Ana e Giovana a ficarem de costas.
Rodrigo então deu dois tiros que acertaram Giovana, que saiu ferida sem gravidade. Gustavo sentiu que poderia reagir e avançou sobre Rodrigo, Houve luta corporal e, na tentativa de desarmar Rodrigo, Gustavo o baleou, causando sua morte. Depois disso, Gustavo desceu até a recepção do hotel para entregar a arma.
O Brasil vive uma situação dramática no que se diz à carência amorosa e aos modelos ideológicos de machismo e emancipação feminina. Neste caso, o mal não está no casamento de Ana Hickman, que expressa com o marido uma relação de cumplicidade que se amplia na cooperação familiar, já que o cunhado Gustavo é da equipe que cuida da carreira dela, mas em outros aspectos bastante delicados vindos de uma sociedade ainda dominada por valores machistas.
Rodrigo personifica aquela teimosia doentia de homens que querem que mulheres se sujeitem a seus desejos e vontades. Seria um feminicida em potencial, já que estava indignado com a "indiferença" de Ana (ora, ela nem sabia que ele existia; ele teria sido um anônimo fã, como muitos), e eventualmente um feminicida que atingiria a esposa de outro, como Guilherme de Pádua, que assassinou a colega Daniella Perez em 1992, esposa de outro ator, Raul Gazolla.
SOCIEDADE MACHISTA
É um dado surreal homens que se acham no direito de vida e morte de suas mulheres, mas ignoram a própria tragédia. Um país com medo de encarar óbitos de feminicidas e cuja imprensa conservadora também tem receio de noticiar tais óbitos. Imagine o ex-promotor de Atibaia, Igor Ferreira, que mandou matar a esposa grávida, morrer de infarto em casa. E Doca Street morrendo no hospital, provavelmente derrotado pelo câncer. Mas suas vítimas morreram com menos idade que eles.
É um machismo que mata e se recusa a morrer, que pela fúria recorre ao revólver, à faca e outras armas, mas tem um medo enorme de encarar tumores malignos, ataques cardíacos ou acidentes de trânsito, causas potenciais dos feminicidas. Um machismo que, ideologicamente, tenta resistir simbolicamente nas restrições que tenta introduzir sutilmente na emancipação feminina.
Isso pega mais pesado nas mulheres solteiras, entregues a um processo de imbecilização cultural que inclui um gosto musical mais rasteiro, uma religiosidade exagerada e um apego a um entretenimento vazio de conteúdo e importância, sendo capachos do que a mídia dita para elas curtirem e apreciarem.
É certo que existe a regra da mulher inteligente e de personalidade distinta que precisa se vincular à imagem de um marido ou namorado, pouco importando se é uma relação de amor ou conveniência, uma liberdade de escolha ou um trampolim social. Simbolicamente, no contexto brasileiro, isso acaba sendo visto como um "filtro" para dificultar a frequência de mulheres emancipadas e solteiras como se observa em países como França e Bélgica.
A "MULHER IDEAL" E A "NÃO-IDEAL"
O grande problema não é exatamente a mulher se casar, mas a distribuição desigual de casadas e solteiras. A imagem da solteira é idiotizada pela grande mídia: ou é a fanática por noitadas, como as ex-integrantes do Big Brother Brasil, ou é a que aceita ser "coisificada" e ter seu corpo transformado numa mercadoria de consumo, como se nota em Solange Gomes, ex-musa da Banheira do Gugu Liberato, e a funqueira Renata Frisson, a Mulher Melão.
Mas há também, fora do âmbito recreativo, a imagem estereotipada as solteiras "recatadas", geralmente sem apelo sexual, que a grande mídia também trabalha sob o pretexto do "popular": moças infantilizadas que ouvem geralmente "pagode romântico", axé-music e "sertanejo", são de classe média baixa e, "encalhadas", seu único envolvimento com os homens é através da relação com os afilhados, que se equipara à amizade entre duas crianças.
A grande mídia não trabalha apenas a imagem da mulher ideal, como a das apresentadoras, atrizes, jornalistas de TV e modelos de passarela, dotadas de algum diferencial de personalidade, associadas ao charme e à beleza naturalmente deslumbrante, consideradas "mulheres ideais". Ela também trabalha o oposto, ao promover a degradação de outras mulheres que não têm o aprimoramento cultural das "ideais".
As mulheres "não-ideais" são geralmente submissas à mídia, não têm muito o que dizer por conta própria, e são empurradas a uma solteirice compulsória, combinada a uma baixa-auto estima forjada pela manipulação midiática, que as impele a apreciar os piores referenciais culturais ou estabelecer uma personalidade submissa às convenções sociais ou mesmo aos ditames machistas.
Não se vê uma mulher solteira, no Brasil, que se destaca por um gosto musical mais refinado. Rock alternativo? Só se virar cover de uma banda de "forró eletrônico". MPB mais sofisticada? Só se aparecer na trilha sonora de novela da Rede Globo.
Isso faz com que as mulheres consideradas "ideais" tenham um perfil cada vez mais raro. A mulher que apresenta um programa de TV de viagens que toca uma banda de rock melodioso que quase ninguém conhece não existe aos montes.
Em contrapartida, há genéricos de Solange Gomes em pelo menos uma dezena de subcelebridades que fazem o tipo da "morena fogosa" de personalidade um tanto atrapalhada e cuja única "tarefa" é mostrar o corpo como uma mercadoria em liquidação.
Mesmo quando há atrizes consideradas "solteiríssimas", o referencial delas é lamentável: o pastiche de música caipira de Chitãozinho & Xororó, o comercialismo pedante de Ivete Sangalo, o "funk carioca", o "pagode romântico", ou "qualquer som da moda".
Essas solteiras refletem um tipo de mulher que só vai ouvir Flávio Venturini, Maria Bethânia, Djavan e Elis Regina se a Rede Globo deixar. Medem o gosto por livros pelos listões de best sellers, nem que seja para consumir apenas auto-ajuda, títulos religiosos ou "livros para colorir". O gosto literário chega a ser bem mais rasteiro do que as misses que afirmavam só ler O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exùpery.
CONFUSÃO E DESIGUALDADE
A péssima aculturação das mulheres solteiras comuns, que se tornam até arrogantes nos seus referenciais culturais rasteiros - nas mídias sociais, há quem defenda essa "cultura" rasteira com muita convicção e fanatismo - , se comportando o contrário da "mulher ideal", menos pela obrigação de ter uma boa aparência, boa voz e bom vestuário do que pela imposição da mídia de serem "as piores possíveis".
Isso é tão certo que a chamada "ditadura da beleza" é a que mais pesa nas mulheres "não-ideais". Elas é que são induzidas a buscar a "estética ideal" mais do que as mulheres "ideais", mais espontâneas em suas qualidades.
Daí o fato de subcelebridades, funqueiras, axézeiras, mulheres-frutas, "miss bumbum", ring girls do UFC e similares terem apetite redobrado em plásticas faciais, uso de botox, apliques no cabelo e outros processos cosméticos e cirúrgicos que, em tese, são feitos para o aperfeiçoamento estético para competir com as mulheres "ideais".
Muitas mulheres comuns vão na onda. No meio do caminho, várias morrem fazendo tratamentos cirúrgicos ou cosméticos em clínicas de valor duvidoso, geralmente sem especialização nem higiene. Mas o aperfeiçoamento estético não reflete no aprimoramento cultural.
Também nem as causas modernas conseguem reverter a situação. Tantas dessas musas apelam para o apoio à causa LGBT, tentam adotar uma "atitude corajosa" em relação ao sexo, capricham na adesão às novidades tecnológicas, mas se atrapalham, sobretudo quando tentam forjar feminismo, confundindo-o com misandria (horror a homens).
Há uma grande confusão e isso reflete o pior legado do machismo às mulheres do contexto "mais popular": a precária educação escolar que atinge também a classe média e a péssima educação midiática que impõe os piores referenciais culturais, transformando seu público em capachos dos interesses midiáticos e do mercado. E a mulher solteira, no Brasil, é apenas uma das vítimas dessa verdadeira rede de intrigas do rádio, da TV e da imprensa escrita e digital.
domingo, 22 de maio de 2016
Quem está nadando em dinheiro no Brasil?
As pessoas acreditam no que a grande mídia diz e imaginam que está faltando dinheiro no Brasil. Mas, na verdade, não está. Houve uma sabotagem política e atribuiu-se à corrupção e ao desvio de dinheiro a uma minoria de políticos que nem temos certeza se foram todos eles que roubaram esse dinheiro.
Os bodes expiatórios foram tirados do poder, apenas por integrarem um partido político que as elites odeiam. As redes de TV e rádio, os grandes jornais e revistas, são representantes de um pensamento elitista e o povo acreditou em todas as calúnias e mentiras que foram lançadas.
Agora, todos estão pagando o pato. Sem saber que a crise econômica é muito menor do que a crise de valores que atinge o país. Essa, sim, é a crise que acontece, quando vemos uma "cultura" marcada por subcelebridades, canastrões musicais, mulheres siliconadas, livros para colorir e outras barbaridades.
Vivemos crise de valores em que o machismo impõe limites à emancipação da mulher, aconselhando-a a optar entre ser uma mercadoria sexual solteira ou uma pessoa inteligente vivendo sob a sombra de um marido. Ou um pensamento privatista que acredita tolamente que os serviços públicos no Brasil só serão eficazes de vendidos para um consórcio privado com capital estrangeiro.
Criou-se uma campanha nefasta e deu no que deu. Um governo impopular, antidemocrático, ignorante das necessidades populares, comandado por um inexpressivo político, Michel Temer, membro de um partido insosso ideologicamente, o PMDB, que no Rio de Janeiro provocou retrocessos calamitosos causando a decadência que o Estado está sofrendo, uma catástrofe que só a "boa sociedade" não consegue ver.
A crise econômica, na verdade, foi apenas um efeito de uma crise muito maior. De um apego a velhos paradigmas, apego a valores tecnocráticos, religiosos, paternalistas e moralistas, temerosos de ver totens caindo como dominó, sejam esses totens Chico Xavier, Jaime Lerner, Roberto Campos, o "funk carioca", o FMI, os investidores estrangeiros ou os quatro times cariocas (Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco).
O que ocorreu é que tem gente com dinheiro demais. Até pouco tempo atrás, a economia estava razoável e em ascensão. De repente, o dinheiro sumiu feito mágica. A verdade é que, desde 2013, as elites confiscaram o dinheiro, usando a desculpa dos eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) e, tomando o dinheiro do povo, inventou que estava havendo crise econômica.
Esse dinheiro está no PT? É bem provável que o PT seja o que menos confiscou esse dinheiro. Os empreiteiros, os políticos de partidos como PMDB e PSDB e outros similares, os grandes donos da mídia, os famosos, celebridades ou subcelebridades, os ídolos popularescos, os empresários do entretenimento, os especuladores financeiros e os "simpáticos" investidores estrangeiros, estes sim estão com todo o dinheiro nas mãos.
É aberrante que um homem de bem e com talento diferenciado tenha que procurar um emprego rudimentar e mal remunerado, enquanto assassinos em liberdade condicional que são ricos podem continuar sendo empresários, apenas não mais respondendo como presidentes de companhias, mas atuando tranquilamente em seus conselhos administrativos, dando sugestões e tudo.
Há gente nadando demais em dinheiro. Há apresentadores de TV ganhando um salário mensal de mais de R$ 70.000. Há subcelebridades milionárias. Há mulheres siliconadas ganhando uma fortuna imensa por cada única foto que publicam nas mídias sociais. Há DJs de "funk" se enriquecendo como magnatas de Primeiro Mundo usando o discurso de "som de pobre" e "cultura das periferias", explorando a boa-fé do povo que não vê seu pouco dinheiro ficar inteiro durante um mês.
E os líderes religiosos? Eles, inclusive os "espíritas", se enriquecem vendendo livros, participando de workshops caríssimos, explorando a boa-fé das pessoas, transformando a ideia de prosperidade e esperança numa mercadoria ilusória, numa fantasia para o consumo submisso de muitos brasileiros, forçados a acreditar em muitas mentiras sob o pretexto de salvar suas vidas!
As pessoas ficam horrorizadas quando se lembram de Dilma Rousseff viajando para o exterior para estabelecer contatos políticos e comerciais importantes para o convívio do Brasil com outras nações do mundo e o desenvolvimento econômico do nosso país.
Mas ninguém fica horrorizado quando Chico Xavier deu os direitos autorais à Federação "Espírita" Brasileira, enriquecendo o poder de seus dirigentes, centralizando o domínio de Antônio Wantuil de Freitas e asseclas. O pessoal imaginou que os direitos autorais iriam para o "pão dos pobres". Quanta ingenuidade!
Da mesma forma, ninguém fica preocupado quando Divaldo Franco usa o dinheiro da caridade para viajar, no bem bom, para o exterior, espalhando suas mentiras igrejeiras para os estrangeiros, semeando lorotas em outros lugares e apostando num mito absurdo como o das "crianças-índigo", tão decadente em seu país de origem, os EUA, que causou até divórcio no casal que inventou essa farsa esotérica!
Esse é o Brasil que acaba pagando pelos seus absurdos. Criou uma Marcha Deus e Liberdade, em 1964, patrocinada pelo corrupto governador paulista Adhemar de Barros e apoiada até por Chico Xavier e a FEB, por causa do horror às intenções de João Goulart em melhorar o país.
O Método Paulo Freire, projeto de educação para adultos que estimula a consciência crítica, a ação do povo em reivindicar e lutar por seus direitos e que ampliaria a visão de mundo das classes populares, é "criminalizada" porque contraria os interesses dominantes vigentes no país.
Já métodos de educação mais inócuos, como o da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, são vistos como "profundamente transformadores", quando transformação profunda é o que nunca se faz por lá, sendo apenas um mediano projeto pedagógico que, no recheio, vem com proselitismo religioso, "estimulando" as pessoas a acreditarem nas ideias mistificadoras trazidas por Divaldo e Chico Xavier.
Diante desse quadro conservador, que já impulsionou a instauração de uma ditadura militar que causou falência no Brasil, temos agora o governo Temer aumentando ainda mais a crise. Pois a crise que tanto falaram do governo Dilma Rousseff só vai ocorrer mesmo no mandato do sisudo e "maduro" marido da jovem Marcela Temer.
A grande mídia mostra casos de biólogos, jornalistas, técnicos de Informática, cabeleireiros, farmacèuticos que trocaram seus empregos pela faxina, pelo trabalho em brechós, pelo trabalho em pastelarias e outras funções menores. Isso a gente sabe, essas ocorrências já são noticiadas desde os tempos do general Ernesto Geisel, há 40 anos!
O que se deve saber é quem é que está ficando rico demais. São os famosos da TV, os ídolos da breguice musical, as subcelebridades de reality shows, fora o que a gente conhece: parlamentares corruptos (vários deles beneficiados e glorificados com a saída de Dilma), magnatas sonegadores de impostos, executivos da grande mídia, dirigentes esportivos, ricos traficantes de drogas, aristocratas em geral e líderes religiosos.
Pior: o Brasil continua elegendo corruptos magnatas, com a mesma tranquilidade que permite que feminicidas ricos saiam da cadeia e consigam conquistar novas namoradas e bons empregos, porque o caráter moral é algo que pouco importa, nesse país sem valores.
Pois nossa crise não é econômica, é uma crise de valores, de princípios, da vontade humana. Daí a complacência que se volta para corruptos demagogos, assassinos ricos e religiosos mentirosos. A falta de dinheiro é tão somente um pequeno detalhe desse caos assustador.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
"Espiritismo" ignora que sofrimento demais dá prejuízo
Uma discussão familiar tensa, de pais preocupados com o desemprego de filhos adultos, que com todo o sacrifício que fazem, com jogo de cintura, metendo a cara, tendo esperança e muito esforço, perseverança até não restar mais gota de suor, não conseguem trabalho de jeito algum.
Os filhos têm dificuldades acima do suportável, e se esforçam mais e mais por nada. Se esforçam mais e mais de maneira inútil. As portas se fecham e nenhuma janela se abre, ou, quando abre, o primeiro vento a fecha. As oportunidades, quando surgem, lhes escapam das mãos, mesmo com o mais hercúleo esforço. A situação é dramaticamente surreal.
Parece conto de Franz Kafka mas é o Brasil. Um Brasil que se revela injusto, desigual, em que as elites querem proteger suas zonas de conforto e ficam presas a velhos paradigmas. Ficam felizes com a momentânea ilusão de que o governo Michel Temer irá manter esses paradigmas antigos, vários em verdade obsoletos, adiando as mudanças inevitáveis para o país.
Mas este é também o país da Teologia do Sofrimento. Uma corrente católica, medieval, mas que foi popularizada no Brasil no período colonial mas reforçada, sobretudo, pelas "palavras amorosas" de Francisco Cândido Xavier.
Isso mesmo. Foi Chico Xavier que defendeu, até mais do que muito católico, a Teologia do Sofrimento. A ideia de sofrer sem queixumes e sem mostrar sofrimento aos outros, de aguentar a barra até quando ela faz extinguir as forças, a paciência, o bom humor e a esperança. A ideia de aguentar demais as piores coisas achando que na "verdadeira vida" tudo vai melhorar.
Esta é a ideia mais perversa que se pode pregar para uma pessoa. Uma crueldade de querer que a pessoa simplesmente seja sufocada em infortúnios e barreiras intransponíveis, e ainda reprovar qualquer reclamação desta, quando ela não consegue superar suas dificuldades.
"Mude seus pensamentos", "sorria", "perdoe os algozes", "pule os obstáculos", é o que a doutrina dita de "amor e luz", a "religião da bondade" que se autoproclama o "espiritismo", diz, de maneira sádica e moralista. Porque o "espiritismo" acha que as barreiras são sempre pequenas e que os sofredores, quando reclamam, sempre estão com "frescuras".
ALMAS "ESMAGADAS"
Há uma canção, do grupo britânico The Smiths, com letra escrita e cantada pelo famoso Morrissey, intitulada "Please Please Please Let Me Get What I Want", pequena música de menos de dois minutos gravada em 1984. Nela, há um trecho que diz, sabiamente, "Bom tempo para mudança / Veja, a vida que eu tive / Poderia transformar um homem bom em mau".
Criminalizar o desejo humano, a vontade humana, é um procedimento do moralismo religioso. Com o "espiritismo", isso não é diferente. Enquanto os "espíritas" pedem para os sofredores perdoarem os algozes nos seus abusos, não perdoam os sofredores em suas desgraças.
Com todo o apelo de "fraternidade", "evitar maus pensamentos", "se alegrar na vida" e tudo o mais, o "espiritismo" que cobra demais dos infortunados, como se exigisse de um peixe que ele escale uma árvore, tenta, de maneira hipócrita, ainda apelar para as pessoas não pensarem em suicídio.
Diante do sofrimento exagerado, que deixa de ser um aprendizado para ser um processo de "esmagamento" da alma, de "asfixia" existencial da pessoa, o "espiritismo" ignora que sofrimento demais é como um remédio tomado acima da dose, no qual os efeitos curativos deixam de ocorrer, e o que ocorrem são os efeitos colaterais, altamente danosos e, não raro, fatais.
Diante do sofrimento exagerado, a pessoa passa a se tornar preguiçosa, rancorosa, isolacionista, deprimida, casmurra, violenta, cabisbaixa, e pensa em matar alguém ou se matar. O excesso de sofrimento e a imposição exagerada das dificuldades da vida deixam a pessoa acuada, e, evidentemente, pelo instinto do ser vivo, o sufoco exagerado traz uma reação bastante drástica.
Famílias brigam, pessoas ficam agressivas, outras ficam caladas de tão deprimidas, em luto permanente por si mesmas, outros indivíduos se matam, outros cometem homicídios, outros se tornam assaltantes e traficantes de drogas, outros se entregam ao álcool e às drogas, outros praticam corrupção para se aproveitar de um trabalho no qual não tiveram vocação natural para assumir.
O sofrimento exagerado, num contexto em que quem tem demais não quer ceder para quem não tem sequer o necessário, faz com que distorções sociais sérias aconteçam e, com isso, o quadro de violência, corrupção e suicídios que trava o progresso social do país.
Os "espíritas", com seu sutil sadismo, acham que nenhum sofrimento é demais, que a pessoa pode carregar uma bigorna de dez toneladas e, se não consegue, é porque é frouxa e cheia de frescuras. "Aquele peixe é que está de onda, não quer subir em árvore, acha que não tem meios para isso. Que tolice!", diz o alegre "espírita", tomado de sua vaidade travestida de "humildade" e "boas energias".
Os tratamentos espirituais chegam a ser mais perigosos do que passar debaixo de escada ou quebrar o espelho, segundo o folclore popular. Trazem muito azar. Em vez de resolver os problemas, trazem outros muito piores. E não adianta acusar o sofredor de falta de esforço e de boas energias.
As pessoas sofredoras, que reclamam demais da vida, que pedem oportunidades e solução de problemas, não são as pessoas preguiçosas, ranzinzas e desistentes que o moralismo "espírita" tanto fala. Muito pelo contrário.
As pessoas que estão nesta situação de desgraças extremas são as mais bem humoradas, de bem com a vida, dispostas para o esforço possível para vencer qualquer dificuldade, gente que aparentemente "reclama de tudo" para chamar a atenção das pessoas sobre as "sujeiras acumuladas" da vida cotidiana.
As pessoas que parecem "felizes" é que escondem suas neuroses. Dentro do "espiritismo", vemos pessoas com más energias, ranzinzas, egoístas, que cobram demais dos outros - não dinheiro, mas sacrifícios - , mas pedem tolerância para si. Não gostam de ver outras pessoas reclamando, porque isso lembra que tem que resolver este ou aquele problema.
Que egoísmo não pode esconder a pessoa que pede para os outros serem felizes do nada? Que egoísmo perverso, traiçoeiro, está por trás daquele que diz para os outros sofrerem sem queixumes? Que desprezo ao sofrimento alheio pode ser socialmente aceito através de um repertório de palavras moralistas, um exército de frases a reprimir o protesto alheio, enfeitadas com dóceis ideias?
Daí o sofrimento das pessoas que buscam soluções que nunca aparecem e que nem sempre são culpadas pelos obstáculos que surgem nos caminhos. A culpa maior é desse sistema de privilégios, aparências, moralismos e outros vícios que sempre fazem com que quem tem demais se mantenha nos seus abusos e quem não tem o necessário que se vire para obter alguma coisa.
Isso demonstra o fracasso do "espiritismo" brasileiro, que não consegue entender as angústias humanas com isenção, preferindo a fácil, mas desumana, atitude de pedir "fraternidade" e "mudança de pensamento" às pessoas que sofrem demais e que não querem paciência, querem, sim, a solução para seus problemas mais complicados.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
O primeiro trote de Chico Xavier com Humberto de Campos
HUMBERTO DE CAMPOS, EM 1909. O ESCRITOR FOI A MAIOR VÍTIMA DO OPORTUNISMO IGREJEIRO DE CHICO XAVIER.
Nem sempre o mel das palavras representa sinceridade e valor transformador. Nem sempre a aparência da bondade de fachada revela a verdadeira generosidade e solidariedade. Em muitos casos, a roupagem religiosa da "bondade" e da "fraternidade" escondem armadilhas perniciosas e traiçoeiras, como os buracos cobertos da mais admirável e verdejante relva.
Francisco Cândido Xavier era um estranho caipira, católico ortodoxo em ideias e rituais, mas tinha apenas o detalhe heterodoxo da paranormalidade, único ponto que fez com que o "médium" fosse excomungado pelos católicos. No entanto, em valores ideológicos, Chico Xavier era tão retrógrado quanto, por exemplo, Gustavo Corção, só ganhava deste a arte de manipular as ideias com dóceis palavras.
A maior obsessão de Chico Xavier foi com Humberto de Campos. Consta-se que foi uma revanche contra comentários irônicos do escritor maranhense, que não gostava de ver a "literatura do além" concorrendo com a literatura dos vivos.
Daí que o anti-médium mineiro resolveu usurpar o escritor, se passando pelo espírito dele em supostas psicografias, que sabemos serem bem mais prolixas, igrejeiras e melancólicas do que o estilo que o escritor nos deixou em vida.
Isso criou sérios problemas, mas num Brasil de leitura precária e com hábitos aberrantes (recentemente as pessoas passaram a "ler" livros para colorir), em que as pessoas não conseguem ver diferença entre Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis, muitos deixam passar as diferenças aberrantes entre a obra de Humberto deixada em vida e o suposto legado espiritual.
A "brincadeira" de Chico Xavier começou com um relato de um suposto sonho, que não se sabe se realmente houve, no qual um suposto Humberto se destacava de uma multidão para falar com o "médium" e, perguntando "Você é o menino do Parnaso?", teria se apresentado e cumprimentado o outro.
Era a desculpa que Chico usou para usurpar o nome de Humberto, dando início a uma farsa que, sabemos, gerou um processo judicial que deu em nada. Afinal, nem todos os juristas conseguem entender a complexidade das coisas. E isso vale até hoje, diante de um Sérgio Moro parcial que só incrimina quem for ligado ao Partido dos Trabalhadores e aliados, pouco importando as leis.
Reproduzimos aqui a primeira mensagem que Chico Xavier e seus colaboradores - deve ter havido revisão de Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, e editores associados - publicaram usando o nome de Humberto de Campos, intitulada "Aos Meus Filhos", divulgada em Pedro Leopoldo, no dia 09 de abril de 1935.
Antes de ler o texto, o leitor deve se atentar para algumas informações:
1) Num dos parágrafos ("Convidado pelo Senhor..."), Chico Xavier inseria valores da Teologia do Sofrimento, corrente católica que trata a desgraça humana como "meio de purificação da alma", na mensagem atribuída a Humberto. "Minha primeira dor foi a minha primeira luz" e "Minhas dores são a minha prosperidade" comprovam bem isso.
2) O texto é muito prolixo para a prosa de Humberto, e mesmo o tom paternal, feito para tentar envolver emocionalmente os filhos - a carta não se destina à viúva, Catarina - , não pode ser visto como autenticador da mensagem, pois ele não apresenta a fluência quase cinematográfica da prosa original de Humberto.
3) O tom da mensagem é bastante melancólico, como todas as obras "espirituais" de Humberto de Campos. Isso pode supor, em tese, que Humberto teria se entristecido ao morrer cedo (48 anos), mas isso não vem ao caso, porque simplesmente o estilo de mensagem "espiritual" destoa severamente do estilo pessoal do escritor maranhense, pois a "psicografia" revela uma outra linguagem, bem mais deprimente, pedante e desesperadamente igrejista (há até o apelo para se rezar o Pai Nosso!).
==========
Aos meus filhos
Meus filhos, venho falar a vocês como alguém que abandonasse a noite de Tirésias, no carro fulgurante de Apolo, subindo aos cumes dourados e perfumados do Hélicon. Tudo é harmonia e beleza na companhia dos numes e dos gênios, mas o pensamento de um cego, em reabrindo os olhos das rutilâncias da luz, é para os que ficaram, lá longe, dentro da noite onde apenas a esperança é uma estrela de luz doce e triste.
Não venho da minha casa subterrânea de São João Batista, como os mortos que os larápios, às vezes, fazem regressar aos tormentos da Terra, por mal de seus pecados. Na derradeira morada do meu corpo ficaram os meus olhos enfermos e as minhas disposições orgânicas. Cá estou como se houvesse sorvido um néctar de juventude no banquete dos deuses.
Entretanto, meus filhos, levanta-se entre nós um rochedo de mistério e de silêncio.
Eu sou eu. Fui o pai de vocês e vocês foram meus filhos. Agora somos irmãos. Nada há de mais belo do que a lei de solidariedade fraterna, delineada pelo Criador na sua glória inacessível. A morte não suprimiu a minha afetividade e ainda possuo o coração de homem para o qual vocês são as melhores criaturas desse mundo.
Dizem que Orfeu, quando tangia as cordas de sua lira, sensibilizava as feras que se agrupavam enternecidas para escutá-lo. As árvores vinham de longe, transportadas na sua harmonia. Os rios sustavam o curso nas suas correntes impetuosas, quedando-se para ouvi-lo. Havia deslumbramento nas paisagens musicalizadas. A morte, meus filhos, cantou para mim, tocando o seu alaúde. Todas as minhas convicções deixaram os seus lugares primitivos para sentir a grandeza do seu canto.
Não posso transmitir esse mistério maravilhoso através dos métodos imperfeitos de que disponho. E, se pudesse, existe agora entre nós o fantasma da dúvida.
Convidado pelo Senhor, eu também estive no banquete da vida. Não nos palácios da popularidade ou da juventude efêmera, mas no átrio pobre e triste do sofrimento onde se conservam temporariamente os mendigos da sua casa. Minha primeira dor foi a minha primeira luz. E quando os infortúnios formaram uma teia imensa de amarguras para o meu destino, senti-me na posse do celeiro de claridades da sabedoria. Minhas dores eram a minha prosperidade. Porém qual o cortesão de Dionísio, vi a dúvida como espada afiadíssima balouçando-se sobre a minha cabeça. Aí na Terra entre a crença e a descrença está sempre ela, a espada de Dâmocles. Isso é uma fatalidade.
Venho até vocês cheio de amorosa ternura e se não me posso individualizar, apresentando-me como o pai carinhoso, não podem vocês garantir a impossibilidade da minha sobrevivência. A dúvida entre nós é como a noite. O amor, entretanto, luariza estas sombras. Um morto, como eu, não pode esperar a certeza ou a negação dos vivos que receberem a sua mensagem para a qual há de prevalecer o argumento dubitativo. E nem pode exigir outra coisa quem no mundo não procederia de outra forma.
Sinto hoje, mais que nunca, a necessidade de me impessoalizar, de ser novamente o filho ignorado de dona Anica, a boa e santa velhinha, que continua sendo para mim a mais santa das mães. Tenho necessidade de me esquecer de mim mesmo. Todavia, antes que se cumpra este meu desejo, volto para falar a vocês paternalmente como no tempo em que destruía o fosfato do cérebro a fim de adquirir combustível para o estômago.
- Meus filhos!... Meus filhos!... Estou vivendo... Não me veem?... Mas, olhem, olhem o meu coração como está batendo ainda por vocês.
Aqui, meus filhos, não me perguntaram se eu havia descido gloriosamente as escadas do Petit Trianon; não fui inquirido a respeito dos meus triunfos literários e não me solicitaram informes sobre o meu fardão acadêmico. Em compensação, fui arguido acerca das causas dos humildes e dos infortunados pelas quais me bati.
Viviam pois com prudência na superfície desse mundo de futilidades e glórias vãs.
Num dos mais delicados poemas de Wilde, as Órcades lamentam a morte de Narciso junto de sua fonte predileta, transformada numa taça de lágrimas.
- Não nos admira - suspiram elas - que tanto tenhas chorado!... Era tao lindo!...
- Era belo Narciso? - perguntou o Iago.
- Quem melhor do que tu poderia sabê-lo, se nos desprezava a todas para estender-se nas relvas da tua margem, baixando os olhos para contemplar, no diamante da tua onda, a sua formosura?
A fonte respondeu:
- Eu adorava Narciso porque, quando me procurava com os olhos, eu via, no espelho das suas pupilas, o reflexo da minha própria beleza.
Em sua generalidade, meus filhos, os homens, quando não são Narciso, enamorados de sua própria formosura, são a fonte de Narciso.
Não venho exortar a vocês como sacerdote; conheço de sobra as fraquezas humanas. Vivam porém a vida do trabalho e da saúde, longe da vaidade corruptora. E, na religião da consciência retilínea, não se esqueçam de rezar. Eu, que era um homem tão perverso e tão triste, estou aprendendo de novo a minha prece, como fazia na infância, ao pé de minha mãe, na Parnaíba.
- Venham, meus filhos!... Ajoelhemos de mãos postas. Não veem que cheguei de tão longe?! Fui mais feliz que o Rico e o Lázaro da parábola, que não puderam voltar;;; Ajoelhemos no templo do Espírito, inclinem vocês a fronte sobre o meu coração. Cabem todos nos meus braços? Cabem, sim...
Vamos rezar com o pensamento em Deus, com a alma no infinito. Pai Nosso... que estais no céu... santificado seja o vosso nome...
Humberto de Campos (sic)
Pedro Leopoldo, 09 de abril de 1935
Nem sempre o mel das palavras representa sinceridade e valor transformador. Nem sempre a aparência da bondade de fachada revela a verdadeira generosidade e solidariedade. Em muitos casos, a roupagem religiosa da "bondade" e da "fraternidade" escondem armadilhas perniciosas e traiçoeiras, como os buracos cobertos da mais admirável e verdejante relva.
Francisco Cândido Xavier era um estranho caipira, católico ortodoxo em ideias e rituais, mas tinha apenas o detalhe heterodoxo da paranormalidade, único ponto que fez com que o "médium" fosse excomungado pelos católicos. No entanto, em valores ideológicos, Chico Xavier era tão retrógrado quanto, por exemplo, Gustavo Corção, só ganhava deste a arte de manipular as ideias com dóceis palavras.
A maior obsessão de Chico Xavier foi com Humberto de Campos. Consta-se que foi uma revanche contra comentários irônicos do escritor maranhense, que não gostava de ver a "literatura do além" concorrendo com a literatura dos vivos.
Daí que o anti-médium mineiro resolveu usurpar o escritor, se passando pelo espírito dele em supostas psicografias, que sabemos serem bem mais prolixas, igrejeiras e melancólicas do que o estilo que o escritor nos deixou em vida.
Isso criou sérios problemas, mas num Brasil de leitura precária e com hábitos aberrantes (recentemente as pessoas passaram a "ler" livros para colorir), em que as pessoas não conseguem ver diferença entre Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis, muitos deixam passar as diferenças aberrantes entre a obra de Humberto deixada em vida e o suposto legado espiritual.
A "brincadeira" de Chico Xavier começou com um relato de um suposto sonho, que não se sabe se realmente houve, no qual um suposto Humberto se destacava de uma multidão para falar com o "médium" e, perguntando "Você é o menino do Parnaso?", teria se apresentado e cumprimentado o outro.
Era a desculpa que Chico usou para usurpar o nome de Humberto, dando início a uma farsa que, sabemos, gerou um processo judicial que deu em nada. Afinal, nem todos os juristas conseguem entender a complexidade das coisas. E isso vale até hoje, diante de um Sérgio Moro parcial que só incrimina quem for ligado ao Partido dos Trabalhadores e aliados, pouco importando as leis.
Reproduzimos aqui a primeira mensagem que Chico Xavier e seus colaboradores - deve ter havido revisão de Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, e editores associados - publicaram usando o nome de Humberto de Campos, intitulada "Aos Meus Filhos", divulgada em Pedro Leopoldo, no dia 09 de abril de 1935.
Antes de ler o texto, o leitor deve se atentar para algumas informações:
1) Num dos parágrafos ("Convidado pelo Senhor..."), Chico Xavier inseria valores da Teologia do Sofrimento, corrente católica que trata a desgraça humana como "meio de purificação da alma", na mensagem atribuída a Humberto. "Minha primeira dor foi a minha primeira luz" e "Minhas dores são a minha prosperidade" comprovam bem isso.
2) O texto é muito prolixo para a prosa de Humberto, e mesmo o tom paternal, feito para tentar envolver emocionalmente os filhos - a carta não se destina à viúva, Catarina - , não pode ser visto como autenticador da mensagem, pois ele não apresenta a fluência quase cinematográfica da prosa original de Humberto.
3) O tom da mensagem é bastante melancólico, como todas as obras "espirituais" de Humberto de Campos. Isso pode supor, em tese, que Humberto teria se entristecido ao morrer cedo (48 anos), mas isso não vem ao caso, porque simplesmente o estilo de mensagem "espiritual" destoa severamente do estilo pessoal do escritor maranhense, pois a "psicografia" revela uma outra linguagem, bem mais deprimente, pedante e desesperadamente igrejista (há até o apelo para se rezar o Pai Nosso!).
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Aos meus filhos
Meus filhos, venho falar a vocês como alguém que abandonasse a noite de Tirésias, no carro fulgurante de Apolo, subindo aos cumes dourados e perfumados do Hélicon. Tudo é harmonia e beleza na companhia dos numes e dos gênios, mas o pensamento de um cego, em reabrindo os olhos das rutilâncias da luz, é para os que ficaram, lá longe, dentro da noite onde apenas a esperança é uma estrela de luz doce e triste.
Não venho da minha casa subterrânea de São João Batista, como os mortos que os larápios, às vezes, fazem regressar aos tormentos da Terra, por mal de seus pecados. Na derradeira morada do meu corpo ficaram os meus olhos enfermos e as minhas disposições orgânicas. Cá estou como se houvesse sorvido um néctar de juventude no banquete dos deuses.
Entretanto, meus filhos, levanta-se entre nós um rochedo de mistério e de silêncio.
Eu sou eu. Fui o pai de vocês e vocês foram meus filhos. Agora somos irmãos. Nada há de mais belo do que a lei de solidariedade fraterna, delineada pelo Criador na sua glória inacessível. A morte não suprimiu a minha afetividade e ainda possuo o coração de homem para o qual vocês são as melhores criaturas desse mundo.
Dizem que Orfeu, quando tangia as cordas de sua lira, sensibilizava as feras que se agrupavam enternecidas para escutá-lo. As árvores vinham de longe, transportadas na sua harmonia. Os rios sustavam o curso nas suas correntes impetuosas, quedando-se para ouvi-lo. Havia deslumbramento nas paisagens musicalizadas. A morte, meus filhos, cantou para mim, tocando o seu alaúde. Todas as minhas convicções deixaram os seus lugares primitivos para sentir a grandeza do seu canto.
Não posso transmitir esse mistério maravilhoso através dos métodos imperfeitos de que disponho. E, se pudesse, existe agora entre nós o fantasma da dúvida.
Convidado pelo Senhor, eu também estive no banquete da vida. Não nos palácios da popularidade ou da juventude efêmera, mas no átrio pobre e triste do sofrimento onde se conservam temporariamente os mendigos da sua casa. Minha primeira dor foi a minha primeira luz. E quando os infortúnios formaram uma teia imensa de amarguras para o meu destino, senti-me na posse do celeiro de claridades da sabedoria. Minhas dores eram a minha prosperidade. Porém qual o cortesão de Dionísio, vi a dúvida como espada afiadíssima balouçando-se sobre a minha cabeça. Aí na Terra entre a crença e a descrença está sempre ela, a espada de Dâmocles. Isso é uma fatalidade.
Venho até vocês cheio de amorosa ternura e se não me posso individualizar, apresentando-me como o pai carinhoso, não podem vocês garantir a impossibilidade da minha sobrevivência. A dúvida entre nós é como a noite. O amor, entretanto, luariza estas sombras. Um morto, como eu, não pode esperar a certeza ou a negação dos vivos que receberem a sua mensagem para a qual há de prevalecer o argumento dubitativo. E nem pode exigir outra coisa quem no mundo não procederia de outra forma.
Sinto hoje, mais que nunca, a necessidade de me impessoalizar, de ser novamente o filho ignorado de dona Anica, a boa e santa velhinha, que continua sendo para mim a mais santa das mães. Tenho necessidade de me esquecer de mim mesmo. Todavia, antes que se cumpra este meu desejo, volto para falar a vocês paternalmente como no tempo em que destruía o fosfato do cérebro a fim de adquirir combustível para o estômago.
- Meus filhos!... Meus filhos!... Estou vivendo... Não me veem?... Mas, olhem, olhem o meu coração como está batendo ainda por vocês.
Aqui, meus filhos, não me perguntaram se eu havia descido gloriosamente as escadas do Petit Trianon; não fui inquirido a respeito dos meus triunfos literários e não me solicitaram informes sobre o meu fardão acadêmico. Em compensação, fui arguido acerca das causas dos humildes e dos infortunados pelas quais me bati.
Viviam pois com prudência na superfície desse mundo de futilidades e glórias vãs.
Num dos mais delicados poemas de Wilde, as Órcades lamentam a morte de Narciso junto de sua fonte predileta, transformada numa taça de lágrimas.
- Não nos admira - suspiram elas - que tanto tenhas chorado!... Era tao lindo!...
- Era belo Narciso? - perguntou o Iago.
- Quem melhor do que tu poderia sabê-lo, se nos desprezava a todas para estender-se nas relvas da tua margem, baixando os olhos para contemplar, no diamante da tua onda, a sua formosura?
A fonte respondeu:
- Eu adorava Narciso porque, quando me procurava com os olhos, eu via, no espelho das suas pupilas, o reflexo da minha própria beleza.
Em sua generalidade, meus filhos, os homens, quando não são Narciso, enamorados de sua própria formosura, são a fonte de Narciso.
Não venho exortar a vocês como sacerdote; conheço de sobra as fraquezas humanas. Vivam porém a vida do trabalho e da saúde, longe da vaidade corruptora. E, na religião da consciência retilínea, não se esqueçam de rezar. Eu, que era um homem tão perverso e tão triste, estou aprendendo de novo a minha prece, como fazia na infância, ao pé de minha mãe, na Parnaíba.
- Venham, meus filhos!... Ajoelhemos de mãos postas. Não veem que cheguei de tão longe?! Fui mais feliz que o Rico e o Lázaro da parábola, que não puderam voltar;;; Ajoelhemos no templo do Espírito, inclinem vocês a fronte sobre o meu coração. Cabem todos nos meus braços? Cabem, sim...
Vamos rezar com o pensamento em Deus, com a alma no infinito. Pai Nosso... que estais no céu... santificado seja o vosso nome...
Humberto de Campos (sic)
Pedro Leopoldo, 09 de abril de 1935
terça-feira, 17 de maio de 2016
Humberto de Campos Filho foi religiosamente seduzido por Chico Xavier?
HUMBERTO DE CAMPOS FILHO (E), AO LADO DE HEBE CAMARGO E JOSÉ TAVARES DE MIRANDA, NOS BASTIDORES DA TV PAULISTA, EM 1956.
O jornalista, escritor e radialista Humberto de Campos Filho integrou o grupo familiar dos herdeiros do escritor maranhense, nos processos movidos contra Francisco Cândido Xavier e a Federação "Espírita" Brasileira, em 1944, devido ao uso do nome de Humberto de Campos nas supostas psicografias lançadas pelo "médium" mineiro.
Era a viúva do escritor, Dona Catarina Vergolina dos Campos, ou Dona Paquita, e os filhos Henrique de Campos, o mais velho, e Humberto Filho, representados judicialmente pelo advogado Milton Barbosa. A outra filha do escritor, Maria de Lourdes Campos, preferiu apoiar de longe, não se envolvendo no processo.
Embora o enunciado do processo fosse "melindroso" - limitava-se a ação a pedir para que especialistas designados pela Justiça analisassem as obras "psicográficas" para que, no caso de veracidade, os direitos autorais seriam passados para os herdeiros, e, no caso contrário, FEB e Chico Xavier seriam multados a título de indenização - , nota-se que a intenção sinalizava para contestar a autenticidade da suposta obra espiritual.
Na reportagem da Revista da Semana de 08 de julho de 1944, Humberto de Campos Filho parecia bastante cético em relação à obra "psicográfica". como mostra um trecho que reproduzimos da referida reportagem:
(...) Quando lhe (Humberto de Campos Filho) indagamos o que pensa dos famosos livros póstumos editados sob a responsabilidade do médium referido, fez suas as palavras que o irmão (Henrique de Campos) nos havia dito:
- Querem fazer o espírito trabalhar mais do que o corpo. - Gracejo ou evasiva, quem sabe?
- Mas, encarando a questão seriamente - insistimos - acha concebível que aqueles livros tenham sido escritos pelo seu pai?
- Claro que não - é a resposta categórica. Tanto assim que evitamos tocar no assunto e nunca demos a nossa permissão para a publicação desses livros atribuídos a meu pai. Frequentemente apareciam delegações espíritas ou padres católicos e até representantes de outras religiões, todos querendo convertê-lo. Ele a todos recebia e ouvia com a devida consideração, mas era só. Nunca foi espírita.
Humberto adiantou-nos então que a família realmente evita o assunto. Porém, faz notar que tudo que sai publicado nesse gênero é totalmente sem a sua aprovação ou consentimento. Diz mesmo que nunca se dignaram esses editores, ao menos, comunicar a publicação de um novo livro, os quais se elevam ao número de cinco ou seis. Portanto, a família de Humberto de Campos está totalmente alheia a essa "onda" de espiritismo - classificação textual de Humberto Filho.
A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS
- Os direitos autorais de todas as obras de meu pai são exclusivamente da família - adianta-nos o filho do escritor. Humberto de Campos tem publicados 39 volumes, que pertencem aos herdeiros. De toda a sua obra unicamente um livro de histórias infantis - "Histórias Maravilhosas" - foi vendido por ele à Empresa O Malho. Todos os livros de meu pai foram reeditados por José Olympio. Depois, a W. M. Jackson assinou contrato conosco, destinadas a serem vendidas as coleções. Os direitos, portanto, são da nossa família exclusivamente. E o serão ainda por cinquenta anos. Meu pai faleceu há dez anos e a lei diz que a propriedade literária é garantida por sessenta anos. Só em 1994 deixará de ser nossa.
==========
Já no livro Irmão X, Meu Pai, Humberto de Campos Filho adota uma postura diferente. Do ceticismo inicial passou-se para uma complacência com o mito de Chico Xavier e a sua completa dúvida sobre a obra atribuída a Humberto de Campos passou-se a uma condescendência que o autor não consegue explicar no livro, mas que cabe inferirmos algumas pistas.
Primeiro, pelo fato de Humberto Filho não dar detalhes sobre a autenticidade ou não das supostas psicografias, e, segundo, pelo fato de ter sido um ateu (como o pai foi) que depois passou a frequentar os "centros espíritas".
Segue um trecho do referido livro que o filho homônimo de Humberto de Campos escreveu, relatando o encontro dele com Chico Xavier na Comunhão "Espírita" Cristã, em Uberaba, no qual se observavam tanto os clichês da "caridade" religiosa e um clima de fascinação, um perigoso tipo de obsessão alertado por Allan Kardec, marcado por um misto de submissão e deslumbramento:
1957
Um grupo de amigos do Centro que então frequentava aprovou a ideia de que já era tempo de conhecermos Chico Xavier pessoalmente. Da ideia passamos aos fatos. Éramos uns seis turistas, apertados em um Aero Willys, a caminho de Uberaba. Desses passageiros, dois, Lauro Mendonça e Vamiré Soares, já passaram para o lado de lá.
Chegamos a tempo de conseguir entrar na sala superlotada, onde, pouco depois, começaria a sessão, com a presença de Chico. Lá pelas tantas, vozes partidas da mesa, por ele presidida, pediam que Humberto de Campos Filho se aproximasse para falar com o médium. É fácil imaginar minha emoção. Sei que meus olhos estavam inundados pelas lágrimas quando nos abraçamos, comovidamente. De início, foi o Chico que falou, dizendo coisas tocantes e carinosas. À certa altura, era outro alguém... Talvez meu pai?... E o que ouvi teve o efeito de um impulso que me fez disparar uma sucessão de soluços, que pareciam que jamais iriam parar.
No dia seguinte, um sábado, ainda com a impressão de que meu espírito havia tomado um banho de luz, fomos participar da distribuição de mantimentos.
Sem mais nem menos, tive a nítida impressão de que estava em alguma cidade da Galileia, nos primórdios do cristianismo.
Em um enorme galpão, sem paredes laterais, senhoras e moças, alegres e sorridentes, preparavam a sopa que, mais tarde, seria distribuída entre os pobres. Pilhas de cenouras, montes de batatas iam sendo descascadas e levadas para os caldeirões que, a um canto, fumegavam cheirosamente.
Ao cair da tarde, nos incorporamos à caravana, liderada pelo Chico, que ia distribuir sacolas com mantimentos pelos casebres da periferia. Ao lado do Waldo Vieira, caminhamos naquele pôr-do-sol, com a certeza de que uma legião de espíritos luminosos também caminhavam conosco. Lá pelas tantas, Chico entrou numa palhoça, de um só cômodo. Ficamos à porta, com espaço bastante para ver Chico sentar-se na beirada de uma cama estreita e miserável. Nela estendido, um pobre velho, pouco mais que um monte de ossos, sob uma cabeça coberta por uma grande barba e cabelos desgrenhados. O coitado fez menão de erguer-se mas Chico, colocando a mão no seu peito, não deixou. De onde estávamos não era possível ouvir o que ele dizia. Mas o que disse fez o pobre homem se transformar em um enorme sorriso, cheio de gratidão e alegria. E, ao mesmo tempo, sentimos uma onda de perfume, de jasmins colhidos naquele instante, invadir completamente aquela tapera...
==========
No capítulo do livro Nosso Amigo Chico Xavier, de Luciano da Costa e Silva, há uma atribuição de "livrar a culpa" de Humberto de Campos Filho do processo movido contra Chico Xavier e a FEB. Sabe-se que, depois, ele argumentou que o processo não era "uma campanha contra o espiritismo" nem se voltava "contra Chico Xavier, mas contra a FEB". O trecho dava a entender de que era uma iniciativa movida pela estranheza da viúva do escritor:
D. Catharina Vergolina de Campos realmente não gostava de ver o nome do marido propagar-se de tal forma e procurava encontrar falhas nos escritos, descobrindo sempre novas coisas que depunham contra a veracidade do fato. Na verdade, nunca acreditou que as mensagens fossem de seu falecido esposo.
Chama a atenção a postura invertida adotada em 1977 (ano do livro de Luciano) em relação a 1944, quando o mesmo Humberto de Campos Filho, sem expressar detalhadamente suas posições, se limita a aceitar as supostas psicografia de seu pai, do qual teria recebido supostas cartas trazidas por Chico Xavier:
Quanto à psicografia, não se estende muito, dizendo simplesmente que acredita serem as mensagens do espírito de seu pai, por intermédio de Chico Xavier, autênticas.
Em seguida, é narrado o encontro de Chico Xavier com Humberto de Campos Filho, mais de uma década após Ana de Campos Veras, mãe do autor maranhense, ter agradecido o "médium" pelas obras atribuídas ao filho. Vamos ao trecho de Luciano da Costa e Silva:
Esteve (Humberto de Campos Filho) uma única vez com o médium, por volta de 1957, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba. Naquela sexta-feira após a sessão, embora incógnito, Chico chamou-o pelo nome. Ambos emocionados, abraçaram-se e derramaram lágrimas. Trocaram várias palavras. Humberto diz ser perceptível o fato de que, em alguns momentos, é ele quem fala, em outros, as entidades. O difícil é perceber a passagem de um estado a outro.
Resumiu esse encontro como: "foi uma experiência muito bonita..."
Terminamos este artigo com sua opinião pessoal sobre o médium Chico Xavier, que achamos sintética, simples e tremendamente feliz:
"Chico é um paranormal acima de qualquer nível conhecido, totalmente bem intencionado. Um ser excepcional! Não um indivíduo, um ser excepcional!"
CONCLUSÃO
A fascinação, o tipo de obsessão que se manifesta pelo aparato da emotividade e da comoção, da submissão a algum indivíduo leviano, encarnado ou não e à submissão a este e seus artifícios, tomou Humberto de Campos Filho, que deixou a antiga postura crítica a um deslumbramento em torno de Chico Xavier.
Humberto foi religiosamente seduzido, com as mesmas armadilhas que os contestadores do "movimento espírita" encontram em dado momento: o aparato de "bondade" e "caridade", ações feitas sob uma perspectiva religiosa, a causar deslumbramento nas pessoas e a dar um freio em investigações mais apuradas de irregularidades.
A fascinação, através desses artifícios de "mensagens de amor" e "caridade", torna-se um processo obsessivo muitíssimo perigoso, o que torna Chico Xavier um dos espíritos mais traiçoeiros que passaram no Brasil, um grande ilusionista e hipnotizador de almas, de longe o pior deturpador da Doutrina Espírita do mundo inteiro, e o maior inimigo interno que o legado kardeciano encontrou em sua trajetória.
O jornalista, escritor e radialista Humberto de Campos Filho integrou o grupo familiar dos herdeiros do escritor maranhense, nos processos movidos contra Francisco Cândido Xavier e a Federação "Espírita" Brasileira, em 1944, devido ao uso do nome de Humberto de Campos nas supostas psicografias lançadas pelo "médium" mineiro.
Era a viúva do escritor, Dona Catarina Vergolina dos Campos, ou Dona Paquita, e os filhos Henrique de Campos, o mais velho, e Humberto Filho, representados judicialmente pelo advogado Milton Barbosa. A outra filha do escritor, Maria de Lourdes Campos, preferiu apoiar de longe, não se envolvendo no processo.
Embora o enunciado do processo fosse "melindroso" - limitava-se a ação a pedir para que especialistas designados pela Justiça analisassem as obras "psicográficas" para que, no caso de veracidade, os direitos autorais seriam passados para os herdeiros, e, no caso contrário, FEB e Chico Xavier seriam multados a título de indenização - , nota-se que a intenção sinalizava para contestar a autenticidade da suposta obra espiritual.
Na reportagem da Revista da Semana de 08 de julho de 1944, Humberto de Campos Filho parecia bastante cético em relação à obra "psicográfica". como mostra um trecho que reproduzimos da referida reportagem:
(...) Quando lhe (Humberto de Campos Filho) indagamos o que pensa dos famosos livros póstumos editados sob a responsabilidade do médium referido, fez suas as palavras que o irmão (Henrique de Campos) nos havia dito:
- Querem fazer o espírito trabalhar mais do que o corpo. - Gracejo ou evasiva, quem sabe?
- Mas, encarando a questão seriamente - insistimos - acha concebível que aqueles livros tenham sido escritos pelo seu pai?
- Claro que não - é a resposta categórica. Tanto assim que evitamos tocar no assunto e nunca demos a nossa permissão para a publicação desses livros atribuídos a meu pai. Frequentemente apareciam delegações espíritas ou padres católicos e até representantes de outras religiões, todos querendo convertê-lo. Ele a todos recebia e ouvia com a devida consideração, mas era só. Nunca foi espírita.
Humberto adiantou-nos então que a família realmente evita o assunto. Porém, faz notar que tudo que sai publicado nesse gênero é totalmente sem a sua aprovação ou consentimento. Diz mesmo que nunca se dignaram esses editores, ao menos, comunicar a publicação de um novo livro, os quais se elevam ao número de cinco ou seis. Portanto, a família de Humberto de Campos está totalmente alheia a essa "onda" de espiritismo - classificação textual de Humberto Filho.
A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS
- Os direitos autorais de todas as obras de meu pai são exclusivamente da família - adianta-nos o filho do escritor. Humberto de Campos tem publicados 39 volumes, que pertencem aos herdeiros. De toda a sua obra unicamente um livro de histórias infantis - "Histórias Maravilhosas" - foi vendido por ele à Empresa O Malho. Todos os livros de meu pai foram reeditados por José Olympio. Depois, a W. M. Jackson assinou contrato conosco, destinadas a serem vendidas as coleções. Os direitos, portanto, são da nossa família exclusivamente. E o serão ainda por cinquenta anos. Meu pai faleceu há dez anos e a lei diz que a propriedade literária é garantida por sessenta anos. Só em 1994 deixará de ser nossa.
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Já no livro Irmão X, Meu Pai, Humberto de Campos Filho adota uma postura diferente. Do ceticismo inicial passou-se para uma complacência com o mito de Chico Xavier e a sua completa dúvida sobre a obra atribuída a Humberto de Campos passou-se a uma condescendência que o autor não consegue explicar no livro, mas que cabe inferirmos algumas pistas.
Primeiro, pelo fato de Humberto Filho não dar detalhes sobre a autenticidade ou não das supostas psicografias, e, segundo, pelo fato de ter sido um ateu (como o pai foi) que depois passou a frequentar os "centros espíritas".
Segue um trecho do referido livro que o filho homônimo de Humberto de Campos escreveu, relatando o encontro dele com Chico Xavier na Comunhão "Espírita" Cristã, em Uberaba, no qual se observavam tanto os clichês da "caridade" religiosa e um clima de fascinação, um perigoso tipo de obsessão alertado por Allan Kardec, marcado por um misto de submissão e deslumbramento:
1957
Um grupo de amigos do Centro que então frequentava aprovou a ideia de que já era tempo de conhecermos Chico Xavier pessoalmente. Da ideia passamos aos fatos. Éramos uns seis turistas, apertados em um Aero Willys, a caminho de Uberaba. Desses passageiros, dois, Lauro Mendonça e Vamiré Soares, já passaram para o lado de lá.
Chegamos a tempo de conseguir entrar na sala superlotada, onde, pouco depois, começaria a sessão, com a presença de Chico. Lá pelas tantas, vozes partidas da mesa, por ele presidida, pediam que Humberto de Campos Filho se aproximasse para falar com o médium. É fácil imaginar minha emoção. Sei que meus olhos estavam inundados pelas lágrimas quando nos abraçamos, comovidamente. De início, foi o Chico que falou, dizendo coisas tocantes e carinosas. À certa altura, era outro alguém... Talvez meu pai?... E o que ouvi teve o efeito de um impulso que me fez disparar uma sucessão de soluços, que pareciam que jamais iriam parar.
No dia seguinte, um sábado, ainda com a impressão de que meu espírito havia tomado um banho de luz, fomos participar da distribuição de mantimentos.
Sem mais nem menos, tive a nítida impressão de que estava em alguma cidade da Galileia, nos primórdios do cristianismo.
Em um enorme galpão, sem paredes laterais, senhoras e moças, alegres e sorridentes, preparavam a sopa que, mais tarde, seria distribuída entre os pobres. Pilhas de cenouras, montes de batatas iam sendo descascadas e levadas para os caldeirões que, a um canto, fumegavam cheirosamente.
Ao cair da tarde, nos incorporamos à caravana, liderada pelo Chico, que ia distribuir sacolas com mantimentos pelos casebres da periferia. Ao lado do Waldo Vieira, caminhamos naquele pôr-do-sol, com a certeza de que uma legião de espíritos luminosos também caminhavam conosco. Lá pelas tantas, Chico entrou numa palhoça, de um só cômodo. Ficamos à porta, com espaço bastante para ver Chico sentar-se na beirada de uma cama estreita e miserável. Nela estendido, um pobre velho, pouco mais que um monte de ossos, sob uma cabeça coberta por uma grande barba e cabelos desgrenhados. O coitado fez menão de erguer-se mas Chico, colocando a mão no seu peito, não deixou. De onde estávamos não era possível ouvir o que ele dizia. Mas o que disse fez o pobre homem se transformar em um enorme sorriso, cheio de gratidão e alegria. E, ao mesmo tempo, sentimos uma onda de perfume, de jasmins colhidos naquele instante, invadir completamente aquela tapera...
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No capítulo do livro Nosso Amigo Chico Xavier, de Luciano da Costa e Silva, há uma atribuição de "livrar a culpa" de Humberto de Campos Filho do processo movido contra Chico Xavier e a FEB. Sabe-se que, depois, ele argumentou que o processo não era "uma campanha contra o espiritismo" nem se voltava "contra Chico Xavier, mas contra a FEB". O trecho dava a entender de que era uma iniciativa movida pela estranheza da viúva do escritor:
D. Catharina Vergolina de Campos realmente não gostava de ver o nome do marido propagar-se de tal forma e procurava encontrar falhas nos escritos, descobrindo sempre novas coisas que depunham contra a veracidade do fato. Na verdade, nunca acreditou que as mensagens fossem de seu falecido esposo.
Chama a atenção a postura invertida adotada em 1977 (ano do livro de Luciano) em relação a 1944, quando o mesmo Humberto de Campos Filho, sem expressar detalhadamente suas posições, se limita a aceitar as supostas psicografia de seu pai, do qual teria recebido supostas cartas trazidas por Chico Xavier:
Quanto à psicografia, não se estende muito, dizendo simplesmente que acredita serem as mensagens do espírito de seu pai, por intermédio de Chico Xavier, autênticas.
Em seguida, é narrado o encontro de Chico Xavier com Humberto de Campos Filho, mais de uma década após Ana de Campos Veras, mãe do autor maranhense, ter agradecido o "médium" pelas obras atribuídas ao filho. Vamos ao trecho de Luciano da Costa e Silva:
Esteve (Humberto de Campos Filho) uma única vez com o médium, por volta de 1957, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba. Naquela sexta-feira após a sessão, embora incógnito, Chico chamou-o pelo nome. Ambos emocionados, abraçaram-se e derramaram lágrimas. Trocaram várias palavras. Humberto diz ser perceptível o fato de que, em alguns momentos, é ele quem fala, em outros, as entidades. O difícil é perceber a passagem de um estado a outro.
Resumiu esse encontro como: "foi uma experiência muito bonita..."
Terminamos este artigo com sua opinião pessoal sobre o médium Chico Xavier, que achamos sintética, simples e tremendamente feliz:
"Chico é um paranormal acima de qualquer nível conhecido, totalmente bem intencionado. Um ser excepcional! Não um indivíduo, um ser excepcional!"
CONCLUSÃO
A fascinação, o tipo de obsessão que se manifesta pelo aparato da emotividade e da comoção, da submissão a algum indivíduo leviano, encarnado ou não e à submissão a este e seus artifícios, tomou Humberto de Campos Filho, que deixou a antiga postura crítica a um deslumbramento em torno de Chico Xavier.
Humberto foi religiosamente seduzido, com as mesmas armadilhas que os contestadores do "movimento espírita" encontram em dado momento: o aparato de "bondade" e "caridade", ações feitas sob uma perspectiva religiosa, a causar deslumbramento nas pessoas e a dar um freio em investigações mais apuradas de irregularidades.
A fascinação, através desses artifícios de "mensagens de amor" e "caridade", torna-se um processo obsessivo muitíssimo perigoso, o que torna Chico Xavier um dos espíritos mais traiçoeiros que passaram no Brasil, um grande ilusionista e hipnotizador de almas, de longe o pior deturpador da Doutrina Espírita do mundo inteiro, e o maior inimigo interno que o legado kardeciano encontrou em sua trajetória.
segunda-feira, 16 de maio de 2016
Rede Globo manipula as mentes e influi até no "espiritismo"
A influência da Globo se verificou na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff, até de maneira escancarada. Só o episódio da tentativa do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, anular o processo de expulsão da presidenta, fez a Globo reagir de maneira hipnotizante.
Jornalistas com semblante tenso e uns com expressões de prantos narravam a anulação do processo de impeachment, fazendo o expectador se envolver emocionalmente na revolta por ver a governante repudiada pela Globo ter tido chances de permanecer no poder.
O clima rancoroso contra Dilma Rousseff, Luís Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT) em geral é uma campanha midiática comandada pela Globo - embora os textos rancorosos sejam primeiro expressos pela revista Veja, do Grupo Abril - para confundir uma saudável oposição política (ninguém é obrigado a ser petista nem esquerdista) com intolerância e ódio.
Esse é só um exemplo de como uma grande corporação midiática é capaz de manipular as mentes das pessoas, com o agravante de que ela atinge setores sociais que aparentemente se declaram opositores da empresa dos irmãos Marinho.
Recentemente, a Globo fez o "milagre" de transformar um time espanhol em "time carioca", já que o Barcelona, por ter como um dos craques o festejado Neymar, criando um "hábito" de fazer os brasileiros torcerem pelo "Barça" tal como se torce pelo Flamengo, Fluminense, Botafogo ou Vasco.
A Globo influi no gosto musical ruim das pessoas, associado a derivados da música brega, a música comercial lançada nos anos 1960 e hoje hegemônica no mercado. Influi até mesmo no vocabulário popular, difundindo gírias como "balada" e "galera" e substituindo a palavra "freguês" pela "cliente".
Se esse aspecto de manipulação do vocabulário popular - que lembra o processo da "novilíngua" narrado por George Orwell em 1984 - não é reconhecido pela sociedade, a forma de perceber o mundo pelos filtros da Globo pelo menos é tem reconhecimento por parte dela.
A ficção enrustida que é o Jornal Nacional, em que há um roteiro de "notícias bombásticas" combinando com outras "mais leves", diante dos gestos calculados dos apresentadores e do texto escrito para envolver e manipular o telespectador, exprime de maneira clara esse tom controlador, já que o JN dificilmente convence como um noticiário com um mínimo de transparência.
Quatro apresentadores são decisivos para manipular o inconsciente coletivo: William Bonner, Luciano Huck, Fausto Silva e Galvão Bueno. Da gíria "balada" - símbolo do empobrecimento da linguagem brasileira, uma gíria criada pela alta sociedade paulista e que, sem pé nem cabeça, define de um jantar entre amigos a uma apresentação de um DJ - ao fanatismo pela Seleção Brasileira de Futebol, os telespectadores e até parte dos detratores sofrem a hipnótica influência "global".
O vestuário dos personagens da novela das 21 horas em exibição, os ídolos musicais que aparecem no Domingão do Faustão ou no Caldeirão do Huck, as "tribos" culturais que aparecem em Malhação ou no Fantástico, o político que tem que ser o mais odiado pelo povo, e até mesmo a visão de "caridade" e os ídolos religiosos a serem vistos como "unanimidades", tudo tem o dedo da Globo.
CHICO E DIVALDO
Sim, estamos falando do "movimento espírita" que, sob o ponto de vista da Globo, é um instrumento de manipulação das mentes humanas pela fé religiosa bem mais eficaz do que o Catolicismo. Sabe-se que a Rede Globo defende a Igreja Católica.
O "espiritismo" tem como vantagem em relação ao Catolicismo o fato de ser mais informal. As ideias, os dogmas, os mitos e as práticas são quase totalmente os mesmos, a roupagem religiosa do "espiritismo" é puramente católica, diferindo do fato de dispensar batinas, folhagem a ouro, celibatos e outras formalidades católicas.
Travestido de "ciência" ou "filosofia", o "espiritismo" pode atender aos interesses da Rede Globo em evitar a mobilidade social, submetendo as pessoas aos mesmos elementos da fé católica, mas de maneira bem mais sutil e sem perceber que é um padre que está dizendo isso ou aquilo.
Ídolos como Chico Xavier e Divaldo Franco, tidos como "ecumênicos", são instrumentos eficazes nesse processo de manipulação do inconsciente coletivo, e da engenhosidade psicológica da Rede Globo de influenciar até quem não sente simpatia pela emissora.
Da mesma forma que aparentes detratores de Luciano Huck e Fausto Silva falam "balada" ou "galera" e detratores de Galvão Bueno seguem seu fanatismo pelo futebol, sobretudo no Rio de Janeiro, há quem idolatre Chico e Divaldo sem que uma única sombra da manipulação "global" seja notada.
Pior: até ateus e esquerdistas se tornam complacentes com os dois ídolos religiosos, manipulados por paradigmas de "bondade" e "caridade" que correspondem aos valores dominantes transmitidos pela Rede Globo e outras mídias associadas, mesmo não vinculadas empresarialmente às Organizações Globo.
Isso porque são valores "positivos" que não incomodam as elites e exploram paradigmas de mansidão e benevolência que é do interesse da mídia manipuladora fazer prevalecer na sociedade. Uma "caridade" tida como "transformadora" apenas por uma questão de tendenciosismo ideológico, já que seus efeitos são inócuos, sem resultados profundos e não incomodam o sistema de privilégios abusivos existentes.
Vide a manipulação da Globo quanto ao paradigma de "caridade", que aborda de forma pejorativa projetos realmente eficientes como o Método Paulo Freire, que ensina a pessoa a ver o mundo de maneira questionadora, e superestima projetos como o da Mansão do Caminho, de Divaldo, que ensina a ler e escrever mas prefere formar cidadãos mais submissos e dotados da mais conservadora fé religiosa.
O "espiritismo", dessa forma, torna-se um instrumento mais habilidoso para a Rede Globo do que a Igreja Católica, porque introduz a mesma fé religiosa do Catolicismo de modo mais sutil e dissimulada, travestida de "ciência" e "filosofia" e sem que se observe essa manipulação ideológica, sobretudo os concorrentes da Rede Record, desprevenidos do verniz "laico" dessa manobra religiosa.
domingo, 15 de maio de 2016
A terrível ilusão da superioridade religiosa dos "espíritas"
PESSOAS RICAS TÊM ILUSÕES, MAS NADA SE COMPARA AOS "BONDOSOS ESPÍRITAS".
Qual a pior ilusão? A de uma pessoa que quer um (a) namorado (a) por questão de afinidade, que quer o emprego X para trabalhar seus talentos pessoais, que não aceita uma vida qualquer nota, embora abra mão do luxo e do supérfluo?
Nada disso. Essas são apenas reivindicações de uma pessoa que quer qualidade de vida. A vida material já é limitada em cerca de 80 anos, e a vida "qualquer nota", o desperdício de uma encarnação por causa das barreiras intransponíveis e das insólitas e mesquinhas soluções para resolver os problemas da vida.
Aceite o algoz, namore alguém que não ama nem sente interesse algum, nem mesmo afinidade. Sacrifique acima de suas condições. Sofra o pior possível e, mesmo assim, sorria e, de preferência, conte piadas. Abafe suas dores intensas tentando fingir a maior alegria. Se sobrecarregue e, mesmo assim, evite descansos e evite sequer parar para pensar sobre como fazer algo melhor.
A religião "espírita", que professa, de maneira nunca assumida, a Teologia do Sofrimento, tem esse sadismo. Só pelo fato de que, no além-túmulo, vamos deixar todos os bens materiais, não significa que a encarnação é algo qualquer nota e tenha que se viver de qualquer forma ou adiar grandes projetos para a próxima encarnação.
Pelo contrário. O próprio limite temporal faz da encarnação uma preciosidade. Desperdiçá-la acreditando que na próxima encarnação tudo será igual é um grande equívoco, mas os "espíritas" nem estão aí para isso.
Para eles, tanto faz como tanto fez. Você aguenta as desgraças, e só lhe resta ser um boneco das circunstâncias, um capacho do destino e, quando você tem vontade de gritar de dor ou quando o único silêncio possível é o da melancolia e da depressão, você é obrigado a sorrir e contar uma piada para todo mundo sorrir, menos você, que dá um sorriso falso que é mais uma contração muscular.
A moralidade "espírita" nem liga para as raízes do sofrimento. Impõe ao outro a "mudança de pensamentos" e a aceitação dos "desígnios do alto". É muito fácil dizer ao sofredor para ele nunca sofrer, porque deixa as demais pessoas aflitas. Difícil é entender o que o sofredor está realmente sofrendo.
É a ilusão "espírita", que, diante do seu processo de deturpação doutrinária, defendendo ideias contrárias ao pensamento original de Allan Kardec, e diante de um moralismo herdado da Teologia do Sofrimento católica, não responde aos problemas morais dos indivíduos.
Entender a vida espiritual como verdadeira é correto, mas desvalorizar a vida material e impedir que a pessoa trabalhe na melhor maneira suas habilidades pessoais, impondo-lhe barreiras pesadas, achando que a vida é só deixar de ter raiva e aceitar qualquer coisa, é um grande desrespeito que se faz ao indivíduo.
E isso também traz uma ilusão pior dos "espíritas", que se gabam de não compartilharem das orgias materiais das aristocracias, embora os astros do "movimento espírita" sempre manifestem regojizo quando vão aos eventos elitistas ganharem prêmios e acumularem tesouros na Terra. Logo eles, tão "espiritualistas". Logo gente como Divaldo Franco, por exemplo!
A indiferença com o sofrimento alheio, a ilusão de que a vida material é só uma relação brutal entre o homem e a matéria, como se o ser humano fosse um troglodita ao qual só lhe resta ser bonzinho e alegre com os outros, mostra um dos aspectos da ilusão da superioridade religiosa dos "espíritas".
Sem realizar um único estudo e sem se respaldar de qualquer dado científico sobre vida espiritual, até porque a Ciência não trouxe até agora qualquer hipótese sequer cogitável (não se fala em provável), os "espíritas" tentam tomar como certo um "paraíso espiritual" que tem concepções materialistas, como se fosse possível compensar a encarnação frustrada pelos prêmios da "vida futura".
Misturando vários clichês religiosos, quase todos da Igreja Católica, o "espiritismo" que jura "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec, mas despreza severamente suas ideias e avisos, os "espíritas" acreditam serem detentores de uma superioridade moral que lhes garante o ingresso seguro nos planos superiores da espiritualidade.
Chegam a esnobar as "exigências" de quem sofre tantas barreiras, achando que estas são sacrifícios "necessários" para a evolução. Com seu moralismo, os "espíritas" confundem desgraças com desafios e exigem do sofredor coisas impossíveis, como quem exige de um peixe para que ele dê um salto olímpico para o alto de uma árvore.
Acham que pedir qualidade de vida é "nadar em dinheiro". Acham que pedir um cônjuge de acordo com a afinidade é "sensualismo". Acham que pedir um emprego de acordo com as vocações é "extravagância". E acham que pedir o fim de sacrifícios pesados demais é "covardia".
Moralismo muito cruel, que faz os "espíritas" estarem mais próximos da plutocracia do Império Romano do que de Jesus de Nazaré. Não por acaso, os tão "iluminados" ídolos "espíritas", como Divaldo Franco e Chico Xavier, reproduzem a "superioridade" dos sacerdotes presunçosos tão rejeitados pelo próprio Jesus.
Jesus havia dito que é mais fácil um camelo entrar na cabeça de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Pois é até mais fácil um rico entrar no reino dos céus do que um "espírita", até pelas ilusões que este contrai, muito piores do que de qualquer aristocrata.
Muitas vezes, basta um rico que comete crimes e luxúrias graves morrer para ele tomar conta de sua situação. Ele está preparado. Sabe que vai largar tudo e, no mundo espiritual, será reduzido a um nada. A morte, em muitos casos, permite ao rico da Terra uma avaliação autocrítica e uma desilusão que, nos contextos atuais, os ricos estão prevenidos da ocorrência.
Pior é o "espírita", tão iludido pela "superioridade espiritual" presumida na Terra, e pelo teatro de "bondades" e pela "dieta açucarada" de "palavras de amor" e "belas declarações" recebidas ou dadas aqui e ali.
Acha o "espírita" que, no além-túmulo, irá receber condecorações e saudações iguais às que recebe na Terra, com corais de anjos, amigos e parentes lhe acolhendo e tudo o mais. Mas mesmo a falsa modéstia de uns, quando dizem que "não haverá isso" e "terão muito o que fazer e por isso voltarão à Terra", também esconde um sabor de vaidade com a doutrina brasileira.
O "espiritismo" se acha acima da lógica, da realidade, do realismo. Se acha acima da coerência. Trata a ideia de "bondade" como se fosse um subproduto da fé religiosa em geral. E se acha triunfalista como se fosse capaz de passar por cima de contestações e investigações diversas, como alguém que pudesse sair vivo de uma violenta avalanche.
Passada a vida na Terra, a "superioridade espírita" se desfaz como pó. E, do contrário do rico, já prevenido da extinção de suas condições sócio-econômicas no além-túmulo, o "espírita" amargará violentas desilusões, por defender uma doutrina deturpadora do pensamento kardeciano, marcada pelo moralismo retrógrado e pela desonestidade intelectual. Despreparado, o "espírita" tente a sofrer muito mais do que imagina. O habitante do "umbral" é justamente ele.
Qual a pior ilusão? A de uma pessoa que quer um (a) namorado (a) por questão de afinidade, que quer o emprego X para trabalhar seus talentos pessoais, que não aceita uma vida qualquer nota, embora abra mão do luxo e do supérfluo?
Nada disso. Essas são apenas reivindicações de uma pessoa que quer qualidade de vida. A vida material já é limitada em cerca de 80 anos, e a vida "qualquer nota", o desperdício de uma encarnação por causa das barreiras intransponíveis e das insólitas e mesquinhas soluções para resolver os problemas da vida.
Aceite o algoz, namore alguém que não ama nem sente interesse algum, nem mesmo afinidade. Sacrifique acima de suas condições. Sofra o pior possível e, mesmo assim, sorria e, de preferência, conte piadas. Abafe suas dores intensas tentando fingir a maior alegria. Se sobrecarregue e, mesmo assim, evite descansos e evite sequer parar para pensar sobre como fazer algo melhor.
A religião "espírita", que professa, de maneira nunca assumida, a Teologia do Sofrimento, tem esse sadismo. Só pelo fato de que, no além-túmulo, vamos deixar todos os bens materiais, não significa que a encarnação é algo qualquer nota e tenha que se viver de qualquer forma ou adiar grandes projetos para a próxima encarnação.
Pelo contrário. O próprio limite temporal faz da encarnação uma preciosidade. Desperdiçá-la acreditando que na próxima encarnação tudo será igual é um grande equívoco, mas os "espíritas" nem estão aí para isso.
Para eles, tanto faz como tanto fez. Você aguenta as desgraças, e só lhe resta ser um boneco das circunstâncias, um capacho do destino e, quando você tem vontade de gritar de dor ou quando o único silêncio possível é o da melancolia e da depressão, você é obrigado a sorrir e contar uma piada para todo mundo sorrir, menos você, que dá um sorriso falso que é mais uma contração muscular.
A moralidade "espírita" nem liga para as raízes do sofrimento. Impõe ao outro a "mudança de pensamentos" e a aceitação dos "desígnios do alto". É muito fácil dizer ao sofredor para ele nunca sofrer, porque deixa as demais pessoas aflitas. Difícil é entender o que o sofredor está realmente sofrendo.
É a ilusão "espírita", que, diante do seu processo de deturpação doutrinária, defendendo ideias contrárias ao pensamento original de Allan Kardec, e diante de um moralismo herdado da Teologia do Sofrimento católica, não responde aos problemas morais dos indivíduos.
Entender a vida espiritual como verdadeira é correto, mas desvalorizar a vida material e impedir que a pessoa trabalhe na melhor maneira suas habilidades pessoais, impondo-lhe barreiras pesadas, achando que a vida é só deixar de ter raiva e aceitar qualquer coisa, é um grande desrespeito que se faz ao indivíduo.
E isso também traz uma ilusão pior dos "espíritas", que se gabam de não compartilharem das orgias materiais das aristocracias, embora os astros do "movimento espírita" sempre manifestem regojizo quando vão aos eventos elitistas ganharem prêmios e acumularem tesouros na Terra. Logo eles, tão "espiritualistas". Logo gente como Divaldo Franco, por exemplo!
A indiferença com o sofrimento alheio, a ilusão de que a vida material é só uma relação brutal entre o homem e a matéria, como se o ser humano fosse um troglodita ao qual só lhe resta ser bonzinho e alegre com os outros, mostra um dos aspectos da ilusão da superioridade religiosa dos "espíritas".
Sem realizar um único estudo e sem se respaldar de qualquer dado científico sobre vida espiritual, até porque a Ciência não trouxe até agora qualquer hipótese sequer cogitável (não se fala em provável), os "espíritas" tentam tomar como certo um "paraíso espiritual" que tem concepções materialistas, como se fosse possível compensar a encarnação frustrada pelos prêmios da "vida futura".
Misturando vários clichês religiosos, quase todos da Igreja Católica, o "espiritismo" que jura "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec, mas despreza severamente suas ideias e avisos, os "espíritas" acreditam serem detentores de uma superioridade moral que lhes garante o ingresso seguro nos planos superiores da espiritualidade.
Chegam a esnobar as "exigências" de quem sofre tantas barreiras, achando que estas são sacrifícios "necessários" para a evolução. Com seu moralismo, os "espíritas" confundem desgraças com desafios e exigem do sofredor coisas impossíveis, como quem exige de um peixe para que ele dê um salto olímpico para o alto de uma árvore.
Acham que pedir qualidade de vida é "nadar em dinheiro". Acham que pedir um cônjuge de acordo com a afinidade é "sensualismo". Acham que pedir um emprego de acordo com as vocações é "extravagância". E acham que pedir o fim de sacrifícios pesados demais é "covardia".
Moralismo muito cruel, que faz os "espíritas" estarem mais próximos da plutocracia do Império Romano do que de Jesus de Nazaré. Não por acaso, os tão "iluminados" ídolos "espíritas", como Divaldo Franco e Chico Xavier, reproduzem a "superioridade" dos sacerdotes presunçosos tão rejeitados pelo próprio Jesus.
Jesus havia dito que é mais fácil um camelo entrar na cabeça de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Pois é até mais fácil um rico entrar no reino dos céus do que um "espírita", até pelas ilusões que este contrai, muito piores do que de qualquer aristocrata.
Muitas vezes, basta um rico que comete crimes e luxúrias graves morrer para ele tomar conta de sua situação. Ele está preparado. Sabe que vai largar tudo e, no mundo espiritual, será reduzido a um nada. A morte, em muitos casos, permite ao rico da Terra uma avaliação autocrítica e uma desilusão que, nos contextos atuais, os ricos estão prevenidos da ocorrência.
Pior é o "espírita", tão iludido pela "superioridade espiritual" presumida na Terra, e pelo teatro de "bondades" e pela "dieta açucarada" de "palavras de amor" e "belas declarações" recebidas ou dadas aqui e ali.
Acha o "espírita" que, no além-túmulo, irá receber condecorações e saudações iguais às que recebe na Terra, com corais de anjos, amigos e parentes lhe acolhendo e tudo o mais. Mas mesmo a falsa modéstia de uns, quando dizem que "não haverá isso" e "terão muito o que fazer e por isso voltarão à Terra", também esconde um sabor de vaidade com a doutrina brasileira.
O "espiritismo" se acha acima da lógica, da realidade, do realismo. Se acha acima da coerência. Trata a ideia de "bondade" como se fosse um subproduto da fé religiosa em geral. E se acha triunfalista como se fosse capaz de passar por cima de contestações e investigações diversas, como alguém que pudesse sair vivo de uma violenta avalanche.
Passada a vida na Terra, a "superioridade espírita" se desfaz como pó. E, do contrário do rico, já prevenido da extinção de suas condições sócio-econômicas no além-túmulo, o "espírita" amargará violentas desilusões, por defender uma doutrina deturpadora do pensamento kardeciano, marcada pelo moralismo retrógrado e pela desonestidade intelectual. Despreparado, o "espírita" tente a sofrer muito mais do que imagina. O habitante do "umbral" é justamente ele.
sábado, 14 de maio de 2016
O "espiritismo" e a "bondade" vista como subproduto da religião
DURANTE A CRISE DE 1929, POBRES FORMAM FILA PARA PEGAR SOPA GRATUITA EM CHICAGO, EUA.
Os brasileiros ainda veem a ideia de "bondade" como um subproduto do moralismo religioso. Só assim para ver a complacência que eles têm em relação aos deturpadores da Doutrina Espírita, que erram feio ao tentarem representar o legado de Allan Kardec mas são beneficiados pela imunidade pela imagem de "bonzinhos".
Ver que a ideia de "fazer o bem", com todos os aspectos assépticos e insossos do moralismo religioso, e todas as fantasias de "benevolência" que encantam muita gente, está vinculada à mística religiosa, pode parecer uma coisa admirável, mas é algo muito, muito traiçoeiro.
A bondade deixa de ser vista como algo espontâneo ou como uma qualidade laica. Ela deixa de estar acima de ideologias e correntes, porque ela se rebaixa diante do status religioso. E ver que até ateus adotam esse critério é muito preocupante.
É isso que faz com que Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, os piores deturpadores da Doutrina Espírita e as personificações dos "inimigos internos" alertados nos tempos de Kardec, sejam aceitos de maneira submissa por serem "exemplos de amor e bondade".
Antes que alguém diga que associar a imagem de Divaldo Franco e Chico Xavier a de inimigos internos da Doutrina Espírita sejam fruto de calúnia, intolerância ou perseguição contra o bem, é importante deixar claro que essa constatação tem como base os próprios avisos dados por Allan Kardec e espíritos como Erasto.
Muitos aspectos que tais avisos descreveram como mistificação e enganação se encaixam perfeitamente no que Chico e Divaldo fizeram e este último ainda faz. Parece cruel, mas é a realidade. Os dois já podem ser considerados cruéis, traiçoeiros e perniciosos só pela deturpação que eles fizeram do pensamento kardeciano.
SITUAÇÕES
Isso se observa pelo que eles fazem, transmitindo ideias fantasiosas e absurdas, como iludir as pessoas sobre uma "cidade espiritual" que a Ciência não considera sequer como cogitável, ou a ideia discriminatória das "crianças-índigo" que nunca passou de uma farsa armada por um casal para ganhar dinheiro com esoterismo (e depois se divorciar depois de tanto estrelismo).
Isso pode atingir as pessoas? Sim, pode. O que Chico Xavier fez com as "cartas dos mortos" foi muito perverso e explorador das famílias. Elas foram expostas à ostentação e ao sensacionalismo, prolongando o luto, sendo enganadas sobre a suposta vida espiritual dos entes queridos, e foram usados para a promoção pessoal de um suposto médium tomado de estrelismo.
Imagine uma situação em que uma quadrilha de sequestradores mata um refém e depois telefona para a pessoa, com uma integrante do bando imitando a voz da vítima, digamos, um menino, e com seu falsete alegue que "está bem" e que "aguarda a chegada da família para abraçá-lo".
Compare com a de um suposto médium que, escrevendo da sua mente e com sua caligrafia, uma mensagem supostamente espiritual, imitando o tom pueril de um menino falecido, declarando que "está bem" e que, no futuro, "aguardará o regresso da família para a verdadeira vida".
Seduzidos pela ideia religiosa de "bondade", com seus jargões como "amor", "caridade" e "fraternidade", as pessoas se deixam levar por mistificadores com vozes dóceis, falando de "coisas boas". Pode parecer chocante, mas essas "lindas imagens" de Chico e Divaldo não é mais do que uma armadilha já alertada por Allan Kardec em sua obra.
PALIATIVOS NÃO SÃO REVOLUCIONÁRIOS
A "bondade espírita" é erroneamente vista como "revolucionária", pelo caráter manipulador que a ideia de "caridade" faz às pessoas, associando virtude com fé religiosa, como se a bondade fosse um subproduto do misticismo religioso.
O fato de mostrar instituições "filantrópicas" funcionando, como uma estratégia de marketing, não é necessariamente mostrar resultados "revolucionários". A gafe que representa o título de "maior filantropo do Brasil" para Divaldo Franco, quando o projeto da Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais para o país inteiro, é algo a considerar.
Divaldo Franco perde até para o Bolsa Família, projeto do governo do Partido dos Trabalhadores, nas gestões de Lula e Dilma Rousseff, que, embora altamente criticável e também paliativo, ajuda muito mais do que a Mansão do Caminho. Em 63 anos, a Mansão só ajudou cerca de 160 mil pessoas. Em 13 anos, o Bolsa Família ajudou 13,8 milhões de famílias, um mínimo estimado de 56 milhões de pessoas.
A "revolução da sopinha" é um mito trabalhado pelos "espíritas" para dizer que a caridade paliativa "transforma" a sociedade, junto a projetos educacionais inócuos, que apenas tornam a vida da pessoa "menos ruim", mas longe de ter uma qualidade de vida significativa.
A distribuição de sopa gratuita, que os "espíritas" consideram tão "revolucionário" e "profundamente transformador", é na verdade uma opção emergencial que países em grave crise e em conflitos oferecem para as pessoas. É algo para tornar a vida "menos ruim", mas "menos ruim" não é sinônimo de "bem melhor".
A ideia de preferir o "menos ruim" dos resultados inócuos da caridade religiosa, que ajudam de forma relativa as pessoas sem mexer no sistema de privilégios vigente, do que o "bem melhor" que traz qualidade de vida e redistribuição justa de renda, é uma forma de entender a ideia de bondade apenas como uma qualidade subordinada ao âmbito da religião.
Com isso, o Brasil não melhora porque a bondade é apenas uma qualidade menor. Ela não é uma qualidade acima de correntes ideológicas ou movimentos religiosos, mas antes uma qualidade que se rebaixa à supremacia religiosa, limitando-se a ser um subproduto da fé e do misticismo. E isso não é bom.
Os brasileiros ainda veem a ideia de "bondade" como um subproduto do moralismo religioso. Só assim para ver a complacência que eles têm em relação aos deturpadores da Doutrina Espírita, que erram feio ao tentarem representar o legado de Allan Kardec mas são beneficiados pela imunidade pela imagem de "bonzinhos".
Ver que a ideia de "fazer o bem", com todos os aspectos assépticos e insossos do moralismo religioso, e todas as fantasias de "benevolência" que encantam muita gente, está vinculada à mística religiosa, pode parecer uma coisa admirável, mas é algo muito, muito traiçoeiro.
A bondade deixa de ser vista como algo espontâneo ou como uma qualidade laica. Ela deixa de estar acima de ideologias e correntes, porque ela se rebaixa diante do status religioso. E ver que até ateus adotam esse critério é muito preocupante.
É isso que faz com que Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, os piores deturpadores da Doutrina Espírita e as personificações dos "inimigos internos" alertados nos tempos de Kardec, sejam aceitos de maneira submissa por serem "exemplos de amor e bondade".
Antes que alguém diga que associar a imagem de Divaldo Franco e Chico Xavier a de inimigos internos da Doutrina Espírita sejam fruto de calúnia, intolerância ou perseguição contra o bem, é importante deixar claro que essa constatação tem como base os próprios avisos dados por Allan Kardec e espíritos como Erasto.
Muitos aspectos que tais avisos descreveram como mistificação e enganação se encaixam perfeitamente no que Chico e Divaldo fizeram e este último ainda faz. Parece cruel, mas é a realidade. Os dois já podem ser considerados cruéis, traiçoeiros e perniciosos só pela deturpação que eles fizeram do pensamento kardeciano.
SITUAÇÕES
Isso se observa pelo que eles fazem, transmitindo ideias fantasiosas e absurdas, como iludir as pessoas sobre uma "cidade espiritual" que a Ciência não considera sequer como cogitável, ou a ideia discriminatória das "crianças-índigo" que nunca passou de uma farsa armada por um casal para ganhar dinheiro com esoterismo (e depois se divorciar depois de tanto estrelismo).
Isso pode atingir as pessoas? Sim, pode. O que Chico Xavier fez com as "cartas dos mortos" foi muito perverso e explorador das famílias. Elas foram expostas à ostentação e ao sensacionalismo, prolongando o luto, sendo enganadas sobre a suposta vida espiritual dos entes queridos, e foram usados para a promoção pessoal de um suposto médium tomado de estrelismo.
Imagine uma situação em que uma quadrilha de sequestradores mata um refém e depois telefona para a pessoa, com uma integrante do bando imitando a voz da vítima, digamos, um menino, e com seu falsete alegue que "está bem" e que "aguarda a chegada da família para abraçá-lo".
Compare com a de um suposto médium que, escrevendo da sua mente e com sua caligrafia, uma mensagem supostamente espiritual, imitando o tom pueril de um menino falecido, declarando que "está bem" e que, no futuro, "aguardará o regresso da família para a verdadeira vida".
Seduzidos pela ideia religiosa de "bondade", com seus jargões como "amor", "caridade" e "fraternidade", as pessoas se deixam levar por mistificadores com vozes dóceis, falando de "coisas boas". Pode parecer chocante, mas essas "lindas imagens" de Chico e Divaldo não é mais do que uma armadilha já alertada por Allan Kardec em sua obra.
PALIATIVOS NÃO SÃO REVOLUCIONÁRIOS
A "bondade espírita" é erroneamente vista como "revolucionária", pelo caráter manipulador que a ideia de "caridade" faz às pessoas, associando virtude com fé religiosa, como se a bondade fosse um subproduto do misticismo religioso.
O fato de mostrar instituições "filantrópicas" funcionando, como uma estratégia de marketing, não é necessariamente mostrar resultados "revolucionários". A gafe que representa o título de "maior filantropo do Brasil" para Divaldo Franco, quando o projeto da Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais para o país inteiro, é algo a considerar.
Divaldo Franco perde até para o Bolsa Família, projeto do governo do Partido dos Trabalhadores, nas gestões de Lula e Dilma Rousseff, que, embora altamente criticável e também paliativo, ajuda muito mais do que a Mansão do Caminho. Em 63 anos, a Mansão só ajudou cerca de 160 mil pessoas. Em 13 anos, o Bolsa Família ajudou 13,8 milhões de famílias, um mínimo estimado de 56 milhões de pessoas.
A "revolução da sopinha" é um mito trabalhado pelos "espíritas" para dizer que a caridade paliativa "transforma" a sociedade, junto a projetos educacionais inócuos, que apenas tornam a vida da pessoa "menos ruim", mas longe de ter uma qualidade de vida significativa.
A distribuição de sopa gratuita, que os "espíritas" consideram tão "revolucionário" e "profundamente transformador", é na verdade uma opção emergencial que países em grave crise e em conflitos oferecem para as pessoas. É algo para tornar a vida "menos ruim", mas "menos ruim" não é sinônimo de "bem melhor".
A ideia de preferir o "menos ruim" dos resultados inócuos da caridade religiosa, que ajudam de forma relativa as pessoas sem mexer no sistema de privilégios vigente, do que o "bem melhor" que traz qualidade de vida e redistribuição justa de renda, é uma forma de entender a ideia de bondade apenas como uma qualidade subordinada ao âmbito da religião.
Com isso, o Brasil não melhora porque a bondade é apenas uma qualidade menor. Ela não é uma qualidade acima de correntes ideológicas ou movimentos religiosos, mas antes uma qualidade que se rebaixa à supremacia religiosa, limitando-se a ser um subproduto da fé e do misticismo. E isso não é bom.
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Eduardo Cunha e o afastamento apenas de gente "incômoda demais"
Há uma semana, o deputado federal Eduardo Cunha teve seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, além de ter perdido, por essa iniciativa, o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, perdendo a chance de ser o suplente de Michel Temer na presidência da República, durante as viagens deste.
O Brasil sempre tem "inocentes" ou "encrenqueiros" úteis para determinadas ocasiões, em que há necessidade de impor ideias ou medidas impopulares ou injustas, criando encrenqueiros de ocasião para criar baderna e, uma vez conquistada a causa retrógrada, eles são tirados do poder e até punidos de certa forma, depois que o estrago foi feito.
Eduardo Cunha, símbolo da decadência do Estado do Rio de Janeiro da decadência cultural do "funk", dos ônibus com pintura padronizada, das "rádios rock" incompetentes e de um povo que ri dos próprios problemas e já nem sente o fedor de fezes de cachorros nas calçadas ou de caminhões de lixo parando até diante de restaurantes, é um exemplo dessa tendência.
Ele foi eleito como símbolo de uma suposta moralidade reivindicada pelos cariocas, nesse cenário de decadência generalizada que atinge o Estado e sua capital. Cunha lançou ou apoiou propostas retrógradas que foram feitas em função de preconceitos moralistas religiosos ou pela ganância dos detentores do poder econômico, propostas conhecidas como "pautas-bombas".
Cunha tornou-se o "encrenqueiro útil", na medida em que se assumiu opositor da presidenta Dilma Rousseff, até comandar, em 17 de abril, a votação pela abertura do processo de impeachment. Assim que cumpriu o ritual, comandando uma votação na qual políticos corruptos deram seu voto ao "sim" (abertura do processo de impeachment), Cunha foi afastado da presidência da Câmara Federal.
É um fenômeno típico no Brasil. Escolhe-se pessoas reacionárias e desordeiras para defender uma causa reacionária e, assim que ela cumpre o papel, é dispensada quando a causa é conquistada e tida como "irreversível". E isso se dá por dois aspectos.
Primeiro, o encrenqueiro da hora agiu apenas em função de afastar os contestadores e qualquer mobilização contra a causa retrógrada em jogo. Era como um "cão-de-guarda" usado para afastar os manifestantes. Estando estes longe, ou então detidos ou mortos, o "cão-de-guarda" pode ser depois sacrificado.
Segundo, o encrenqueiro pode ser, contraditoriamente, a raiz de um futuro problema. Ele não pode ter autonomia plena, já que ele pode, depois, ameaçar os interesses do grupo que o utilizou em dada ocasião, em defesa da causa desejada, por causa de sua arrogância e prepotência que pode fazê-lo ir "longe demais".
Um exemplo dessa segunda hipótese está na política dos EUA, que primeiro apoiaram ou treinaram tiranos e terroristas como Adolf Hitler, Sadam Husseim e Osama Bin Laden. Todos eles foram protegidos do capitalismo dos EUA, conforme registram dados da imprensa das referidas épocas.
No entanto, quando eles passaram a agir por conta própria e desenvolver sua prepotência e projeto pessoal de domínio, os EUA agiram para combatê-los. Os facínoras "úteis" passaram a ser inimigos, e com isso eles foram perseguidos até serem acuados e mortos (Hitler teria se suicidado).
ROUSTAING
No "movimento espírita", o "encrenqueiro útil" foi Jean-Baptiste Roustaing. O primeiro deturpador da Doutrina Espírita havia lançado o duvidoso Os Quatro Evangelhos, livro de três volumes publicado em 1866 na França. A edição da FEB, no Brasil, conta com quatro volumes, devido ao acréscimo de notas e textos do tradutor Guillon Ribeiro.
A preferência por Roustaing era tanta que houve falsas psicografias e falsas psicofonias do espírito de Allan Kardec apelando para a "revelação da revelação" (subtítulo da obra roustanguista), divulgando mensagens que não condizem ao estilo claro e objetivo do pedagogo francês.
O conflito entre os "místicos" e "científicos" nos primórdios do Espiritismo fez com que, no Brasil, a opção mística prevalecesse, devido aos interesses de seus partidários de não fazer afronta com a Igreja Católica, havendo até artifícios para agradar os católicos, com a adaptação de muitos de seus ritos.
Assim, a "água benta" católica, por exemplo, virou "água fluidificada". O "confessionário" virou "auxílio fraterno". "Santos" viraram "espíritos benfeitores" ou "espíritos de luz", enquanto "centros espíritas" se estruturavam como verdadeiras igrejas. A reboque disso tudo, jargões católicos como "seara", "viajor", "caminheiro" e outros eram introduzidos no vocabulário "espírita".
Durante muito tempo, Roustaing era endeusado pelo "movimento espírita". Adolfo Bezerra de Menezes, em seu tempo, preferiu Roustaing a Kardec, contrariando a fama de "Kardec brasileiro" atribuída ao médico cearense. Os Quatro Evangelhos se tornaram item obrigatório de leitura segundo o Estatuto da FEB, que até hoje publica e vende seus volumes.
O roustanguismo durou muito tempo como tendência prevalecente no "movimento espírita". Figuras conhecidas como Yvonne Pereira, Luciano dos Anjos, Guillon Ribeiro ou mesmo Francisco Cândido Xavier, fizeram parte dessa fase. Sim, isso mesmo, Chico Xavier sempre foi roustanguista, embora um tanto envergonhado.
O roustanguismo de Chico Xavier era tão explícito que ele adaptou de forma surpreendente ao contexto brasileiro as lições da obra de Roustaing. Até a Teologia do Sofrimento (que faz apologia do sofrimento como "caminho para a purificação da alma") é influenciada pelo roustanguismo. Até a controversa ideia do "Jesus fluídico" (que acredita que Jesus nunca encarnou) Chico Xavier manifestou um certo interesse.
Xavier apenas descartou os "criptógamos carnudos", ideia muito desagradável (consiste em humanos reencarnarem como insetos, plantas ou mesmo vermes e micróbios), pelos animais domésticos do além. descritos no livro Nosso Lar, de 1943, inspirado em A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), do inglês George Vale Owen (provável roustanguista), lançado na FEB no calor do entusiasmo pelo autor de Os Quatro Evangelhos.
RAZÃO POLÍTICA
A crise do roustanguismo se deu por uma razão política. A FEB, com o Pacto Áureo em 1949, criou um seminário no qual só valeram as decisões centralizadas pelo presidente Antônio Wantuil de Freitas ("mentor" terreno de Chico Xavier e primeiro criador de seu mito), que não consultou as federações regionais.
Evidentemente, as causas de Chico Xavier, mineiro, e de Divaldo Franco, baiano, foram depois prejudicadas. Para piorar, um dos braços direitos de Wantuil, Luciano dos Anjos, denunciou que os primeiros trabalhos "psicográficos" de Divaldo Franco plagiavam os de Chico Xavier, que já eram em si pastiches e plágios. Chico e Divaldo quase ficaram brigados. A postura fez com que parte dos "místicos" se voltasse contra a postura centralizadora da FEB.
Dessa forma, o nome de Roustaing, vinculado à cúpula da FEB, passou a ser visto como um "palavrão". O nome de Allan Kardec passou a ser utilizado por interesses políticos, mais como um "partido dos regionalistas".
Até supostas mensagens espirituais de Adolfo Bezerra de Menezes alegando "arrependimento" com o roustanguismo foram divulgadas. O "dr. Bezerra" aparecia falando em "kardequizar", dando a deixa de que a opção por Allan Kardec não era gratuita, pois o termo usado é uma corruptela com "catequizar", o que mantém o propósito igrejeiro dos "místicos" que romperam com a cúpula da FEB.
Roustaing passou a ser um "problema" e foi então oficialmente descartado. Só o "alto clero" da FEB o aprecia, à revelia do público "espírita" que desconhece esse autor. E os dirigentes "espíritas" em geral viram que não precisavam mais de Os Quatro Evangelhos: a essência de seus volumes já havia sido devidamente adaptada à realidade brasileira por Chico Xavier e Divaldo Franco.
A deturpação da Doutrina Espírita, desta forma, sobreviveu sem o autor que causava controvérsia afirmando que humanos poderiam reencarnar até como baratas ou protozoários ou, quem sabe, o vírus da Zyka. Sem esse incômodo, permite-se hoje que se deturpe o pensamento de Allan Kardec em ideias igrejistas, mas finja-se ter "total fidelidade e respeito" ao legado do pedagogo de Lyon.
Daí vemos o surgimento da fase "dúbia" do "movimento espírita", ainda resistente a todo custo, com suas falsas juras de amor a Kardec e com sua falsa rejeição ao igrejismo (entendido como "vaticanização espírita", termo usado para desqualificar o "alto clero" da FEB), enquanto, na prática, adota uma postura abertamente igrejista e catolicizada.
A ideia de decartar uma pessoa "incômoda demais" se reflete no desprezo a Roustaing. Além dele, os "espíritas" criticam também os "peixes pequenos", que levam sozinhos a culpa das irregularidades "espíritas" (tanto na apreciação das ideias kardecianas quanto na suposta prática de mediunidade) que até Chico e Divaldo tanto praticaram, mas das quais saem "completamente inocentados", apesar das muitas provas.
Dessa forma, atribui-se o "mau espiritismo" apenas a "centros espíritas" pequenos, instituições de menor porte, iniciativas de "fundo de quintal", sem o respaldo da FEB nem de federações regionais (sobretudo estas). Os deturpadores de menor status levam a culpa, mas os deturpadores de grande porte (os "peixes grandes") continuam aí, bajulando Kardec e professando o igrejismo.