UMA DAS FRASES DO DUBLÊ DE FILÓSOFO CHICO XAVIER, COM ILUSTRAÇÃO DIVINIZADA.
A zona-de-conforto dos seguidores de Chico Xavier ou mesmo de simpatizantes "independentes" com seu "espiritismo" de porta de Igreja Católica, revela um culto e uma adoração ao anti-médium mineiro que escapou até mesmo do controle da FEB.
Em outras palavras, Francisco Cândido Xavier tornou-se um mito acima de tudo, totalitário, já não um semi-deus, mas um vice-deus visto como o segundo governante de todo o universo. Com dimensões de um Frankestein, o mito de Chico Xavier nunca chegou a se voltar contra a FEB, mas tornou-se tão monstruoso quanto o famoso personagem de um romance de terror.
Hoje Chico Xavier é associado a todo esforço de colocá-lo acima da lógica, do questionamento, das pesquisas científicas, da investigação apuradora, vivendo praticamente numa ilha de mistificação, surrealismo e idolatria cega à qual se desaconselha qualquer intervenção.
Chico Xavier torna-se, desse modo, uma das figuras mais surreais existentes no Brasil, um personagem que talvez Franz Kafka pudesse ter escrito, se tivesse vivido um pouco mais que seus 41 anos.
Como um caixeiro de Pedro Leopoldo que estabelecia conversas mentais com um falecido padre jesuíta que ele conheceu nos livros de História do Brasil se transformou em uma divindade que só está abaixo de Deus, segundo seus seguidores, no governo do universo, é algo que só oportunismos e tendenciosismos permitiram ocorrer.
De acordo com seus fanáticos seguidores, ou mesmo com seus contestadores menos firmes, Chico Xavier é o único que atingiu a perfeição humana mesmo cometendo muitos erros. O único que, manipulado pelos interesses mesquinhos de dirigentes "espíritas", poderia ser considerado líder, num rol de contrastes que alimentaram a mistificação e mitificação em favor do anti-médium.
O Chico Xavier de uma mediunidade limitada - a cada vez mais comprovada com provas de plágios em suas "psicografias" e pelo caráter duvidoso de cartas de "falecidos" que só apresentam a caligrafia do "médium" - passava a ser dotado de qualidades que ele nem de longe teve jamais, principalmente quando não desenvolveu seus dons limitados com estudos sérios.
O incipiente médium que falava com padre do além, mesmo sem ter maiores habilidades, foi promovido a "médium versátil" (pelo menos no ramo da escrita) e, como se não bastasse, a habilidades maiores que fizeram seu mito crescer de maneira descontrolada.
Promovido a conselheiro sentimental, Chico virou, em seguida, um dublê de filósofo, num país sem grandes nomes da Filosofia. Depois, virou psicólogo e, daí, educador, profeta e cientista. E, assim do nada, foi também promovido a ativista, mesmo quando pregava o mais explícito anti-ativismo, preferindo que as pessoas orassem em silêncio em vez de fazer mobilização social.
E, de repente, Chico Xavier, às custas de um empate judicial no processo movido por herdeiros de Humberto de Campos contra ele, em 1944, fez o anti-médium de Pedro Leopoldo se tornar como o lutador de UFC, Anderson Silva, nos últimos dias: vencedor de batalhas às custas de muito doping.
Depois do tal empate jurídico, um zero a zero que favoreceu Chico e fez viúva e filhos de Humberto de Campos serem tidos injustamente como "gananciosos", o anti-médium passou em cima das denúncias do sobrinho Amauri Pena, estranhamente depreciado e cuja morte foi prematura demais para alguém que só se embriagava.
Chico não obteve, exatamente, vitórias reais, a cada escândalo que o envolvia. Acusações de fraudes a partir de obras como Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho só deram vantagem ao anti-médium mais pela incompreensão de juristas e escritores da época do que de qualquer hipótese que sugerisse alguma veracidade.
Após o empate do processo de 1944 e da estranha tragédia do sobrinho, Chico ainda passou por cima dos escândalos das fraudes de materialização, favorecido pela desculpa, inconvincente mas fortemente defendida por seus seguidores, de que "cúmplice não é culpado". Otília Diogo teve que amargar sozinha sua decadência.
No auge da crise do roustanguismo da FEB, Chico Xavier, antes um roustanguista entusiasmado e, mais tarde, um seguidor enrustido e envergonhado do autor de Os Quatro Evangelhos, fingiu ser favorável a Allan Kardec só para agradar amigos espíritas, como José Herculano Pires. Esperto, Chico soube abandonar o barco roustanguista quando este estava afundando.
Chico Xavier faleceu durante as comemorações da fraudulenta Copa do Mundo da Japão e da Coreia de 2002, que resultou numa estranhíssima vitória de uma Seleção Brasileira de Futebol que se revelava insegura nas eliminatórias em 2001 e teve um desempenho desastroso demais para merecer o "penta".
Jornalistas esportivos e não-esportivos mais conceituados, vários anos e três copas mais tarde, revelaram que a "conquista do penta" não passou de uma armação de Ricardo Teixeira, da CBF, e de João Havelange, da FIFA, de obter vantagens políticas, aumentar privilégios pessoais e capitalizar politicamente com a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014, que gerou um grave prejuízo financeiro para o país e não garantiu o tão alardeado "hexa".
Depois do falecimento, Chico Xavier continuou sendo trabalhado como mito da FEB, que sempre o viu como seu popstar, como um "Michael Jackson do movimento espírita". E Chico foi promovido a "maior personalidade do país" por um SBT capaz de contratar uma Rachel Sheherazade que aplaudia tortura de menores infratores por grupo de "justiceiros".
Atualmente, Chico Xavier tenta ser empurrado para a ciência, num último esforço para transformar o anti-médium num ente absolutista e totalitário, ou seja, com amplos poderes atribuídos e com maior área de ação, subordinando o conhecimento científico à supremacia neo-católica do antigo caixeiro de Pedro Leopoldo.
A tendenciosa interpretação de um sonho qualquer, que todo cidadão sonha enquanto dorme, que Chico Xavier teve em 1969, pouco após a ida de astronautas norte-americanos à Lua, em "profecia" através de relatos que viraram, como sabemos, livro (Não Será em 2012) e documentário (Data-Limite Segundo Chico Xavier), é uma amostra forte dessa manobra.
Chico agora foi promovido a "profeta" e "cientista", já que seu sonho de 1969 foi interpretado como uma suposta previsão de que o Brasil se tornaria "nação mais poderosa do mundo", diante de ações terroristas e catástrofes naturais que supostamente destruiriam o "velho mundo" (EUA, Europa, Oriente Medio, Ásia e Oceania).
Sem que alguém pudesse explicar como, o Brasil abriria caminho para uma geração de artistas, intelectuais, cientistas e ativistas sociais que promoveriam o progresso do país, já que ele ainda está mergulhado num processo voraz de degradação sócio-cultural e há uma rejeição forte de setores da opinião pública ao pensamento científico, questionador e mobilizador.
Além da "data-limite", Chico Xavier ainda é alvo de monografias que tentam supostamente provar veracidade científica a cartas supostamente psicografadas, focalizando o caso do falecido jovem Jair Presente, que apresentou irregularidades na comparação de mensagens, e na atribuição de suposto pioneirismo científico do livro Missionários da Luz, de 1945, sem que os pesquisadores pesquisassem rigorosamente documentos científicos da época.
Tenta-se colocar Chico Xavier acima de qualquer questionamento lógico, como se a própria ciência fosse obrigada a aceitá-lo, em teses duvidosas e falsas provas obtidas por critérios e processos confusos ou sem qualquer rigor científico. Trata-se de um esforço para subordinar a ciência ao mito de Chico, como se seguisse às "recomendações" do anti-médium para "não questionarmos".
Chico Xavier nunca foi um vencedor. Ele foi favorecido pelas circunstâncias e pelo instinto marqueteiro da FEB. O anti-médium que queria que todos nós sofrêssemos calados nem de longe foi ativista e ideologicamente ele nunca foi progressista. Ele também nunca foi filósofo, psicólogo, cientista, profeta nem outra qualidade extraordinária.
No entanto, Chico Xavier aproveitou e, agora postumamente, foi ajudado por seus antigos parceiros a alimentar, de maneira oportunista, sua imagem mitológica que seu mito escapou até ao controle da FEB, quando seus fiéis atribuíram a capacidade de uma estátua a derramar lágrimas, quando a água escorrida era de uma lavagem que a estátua periodicamente recebia para sua manutenção.
Até quando haverá alguém com muita visibilidade e prestígio suficientes para comprovar os equívocos de Chico Xavier não se sabe quando ocorrerá. Por enquanto, quem pode se esforça em apresentar provas dos inúmeros equívocos, ignorados pelos seguidores e simpatizantes de Chico, que preferem vê-lo como um vice-deus, "dono da verdade" e "senhor do universo".
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Chico Xavier: mais de 70 anos de estragos ao Brasil
O LIVRO QUE NARRA O EMPATE QUE FAVORECEU CHICO XAVIER.
Muitos consideram Francisco Cândido Xavier um vencedor. Acham que ele é - mesmo depois de morto - capaz de derrubar até a ciência, se transformando no "dono da verdade" que está acima do bem e do mal, do lógico e do sobrenatural.
O fanatismo dos seguidores de Chico Xavier alimenta esse mito, que cresceu depois de mais de 70 anos de "jogo de cintura" por parte da Federação "Espírita" Brasileira, que sempre arrumou um jeito para blindar seu popstar, usando a astúcia para salvar sempre a reputação de seu propagandista.
Na verdade, se Chico Xavier fosse um atleta olímpico, ele teria vencido às custas de doping. Sua primeira vitória nem foi uma vitória assim, mas um empate que apenas rendeu pontos a Xavier, num daqueles mecanismos que as pessoas conhecem através do futebol.
No julgamento sobre o processo movido pelos familiares de Humberto de Campos, através do advogado Milton Barbosa - que identificou irregularidades na obra atribuída ao espírito do escritor maranhense - , a Justiça da época, o ano de 1944, não entendeu a questão do processo e decidiu por um desfecho neutro.
Segundo o juiz, não havia leis nem regras que protegessem os direitos autorais relacionados a obras atribuídas à atividade de espíritos do além, os direitos autorais só correspondem ao que espíritos que já estão falecidos haviam produzido em vida, ou seja, o legado deixado por eles aqui na Terra. O que se atribui à produção deles no além não competia à apreciação da Justiça.
Foi um evidente zero a zero, no qual os familiares de Humberto de Campos não saíram vencedores da causa, já que o processo deles foi considerado improcedente, mas também não representou uma vitória de Chico Xavier e da FEB, porque eles também não receberam legitimação de uma prática que juízes e juristas, escritores e intelectuais, simplesmente desconheceram.
Na época, a FEB tentou puxar a brasa para sua sardinha e tentou creditar como "comprobatórios" os depoimentos céticos de nomes como Agripino Grieco, Monteiro Lobato, Raimundo de Magalhães Júnior e Apparício Torelly, o Barão de Itararé.
Nenhum deles quis dizer, em seus depoimentos, que o trabalho de Chico Xavier era realmente mediúnico. Eles, cada um à sua maneira, demonstraram apenas um ceticismo leigo, não se acharam em condições de dizer se o que Chico fazia era fraude ou era mediunidade mesmo.
O fato deles declararam não poderem considerar as atividades de Chico Xavier como fraudulentas, não significava que eles legitimassem tais trabalhos. Eles não legitimaram mesmo. A FEB ignorou a diferença explícita que existe entre dizer "não desconfio nem confio" e dizer "eu confio".
Chico Xavier nem era um "bom atleta". Se fosse "lutador de UFC", já que um assunto noticiado há poucos dias foi a acusação de uso de doping contra Anderson Silva, Chico Xavier teria também usado doping, até com muito gosto.
ESCÂNDALOS VERGONHOSOS
O que Chico Xavier causou de escândalos foi algo de muito vergonhoso. Lembrando que Allan Kardec era um pedagogo, se Chico fosse aluno de sua escola os diretores teriam chamado os pais de "Chiquinho" para lhes advertirem do desempenho no mínimo desastroso do aluno, reprovado sem qualquer chance de recuperação e pouco aplicado às lições de aula e ao dever de casa.
Isso é muito sério e muito grave. Os seguidores de Chico Xavier brincam com fogo, fazendo pilhéria, achando que Chico (mesmo depois de morto) derruba tudo, até o raciocínio lógico e os exames científicos, acreditando que os cientistas só têm valor quando se ajoelham à imagem do "bom velhinho".
Chico se envolveu, só entre os anos 1940 e 1970, em vários escândalos, suficientes para que ele fosse jogado no lodo das personalidades lamentáveis, caído do mais absoluto esquecimento popular, e os erros que Chico cometeu eram gravíssimos, e muito maiores do que simplesmente o de entender mal a obra de Allan Kardec.
Acusações severas de pastiche, vindas de outros jornalistas, como Osório Borba, acusações que nem de longe podem ser vistas como rancorosas ou invejosas, porque se baseiam em comparações consistentes entre o que os autores falecidos produziram em vida e o que se atribui a eles sob a suposta psicografia de Chico Xavier.
Como é que se pode atribuir como "manifestação de inveja", "perseguição a um homem de bem", "julgamento injusto da ciência material dos homens", "negação dos belos exemplos de fé e caridade", questionamentos imparciais, da mais pura investigação lógica, da análise cautelosa de conteúdo, feita sem tomar partido contra ou a favor de quem seja, apenas buscando a coerência dos fatos?
E as fraudes de materialização que Chico Xavier apoiou com gosto, fazendo atestados, conversando com os fraudadores nos bastidores, dando sua cumplicidade irresponsável, sobretudo no caso de Otília Diogo, desmascarada numa reportagem da revista O Cruzeiro?
E as psicografias que nem de longe apresentam qualquer vestígio da caligrafia dos falecidos, pois tudo é escrito com a caligrafia do próprio Chico Xavier, criando mensagens de sua própria mente, todas iguais umas às outras, enganando famílias e se promovendo às custas da emotividade das mesmas, como no exemplo "clássico" de Arnaldo Rocha, viúvo de Meimei?
E aí vieram os partidários de Chico Xavier, em mais uma reação por vezes chorosa, por outras raivosa, dizendo que ser cúmplice não é ser culpado. Mais uma vez a luta contra a lógica dos argumentos. Ser cúmplice é participar da culpa de um ato, sem ser responsável por sua decisão, mas participando de sua execução de forma direta ou indireta, em claro sinal de apoio.
Roustanguista enrustido, Xavier teve as circunstâncias a seu favor, em certos casos como colaborador dos mandos e desmandos da FEB, por outros cúmplice e artífice entusiasmado de uma série de fraudes e equívocos que deveriam fazer de Chico Xavier uma personalidade definitivamente reprovada e rejeitada da Doutrina Espírita de Allan Kardec.
Rejeitar Chico Xavier como figura do Espiritismo não é manifestar ódio nem perseguição, nem mesmo inveja ou incompreensão. É manifestar a honestidade dos fatos, da coerência, do argumento lógico, da nossa capacidade de raciocinar quando o absurdo e o surreal tentam se colocar acima da realidade, mesmo usando o pretexto da fé.
Rejeita-se Chico Xavier com a serenidade da alma, enquanto, do lado dos seus seguidores, qualquer questionamento desperta nos "amorosos" chiquistas reações que chegam ao ponto da fúria e do rancor daqueles que se julgam "incapazes" de tais sentimentos.
Essa é a verdade. Chico Xavier causou grandes estragos ao país. Era, no fundo, um figurão ultraconservador, um "AI-5 do bem" que só pensava na evolução da humanidade se todos rezassem calados e ficassem felizes até no pior dos sofrimentos.
Sádico, Chico Xavier queria que fôssemos masoquistas no "sensualismo" pernicioso de suas sedutoras "palavras doces". aquelas que muitas pessoas ainda publicam nas mídias sociais, felizes da vida, sem saber que tais frases açucaradas escondem o veneno traiçoeiro que estraga muitas vidas. O "espiritismo" brasileiro é, na prática, uma "fábrica de sofredores".
Muitos consideram Francisco Cândido Xavier um vencedor. Acham que ele é - mesmo depois de morto - capaz de derrubar até a ciência, se transformando no "dono da verdade" que está acima do bem e do mal, do lógico e do sobrenatural.
O fanatismo dos seguidores de Chico Xavier alimenta esse mito, que cresceu depois de mais de 70 anos de "jogo de cintura" por parte da Federação "Espírita" Brasileira, que sempre arrumou um jeito para blindar seu popstar, usando a astúcia para salvar sempre a reputação de seu propagandista.
Na verdade, se Chico Xavier fosse um atleta olímpico, ele teria vencido às custas de doping. Sua primeira vitória nem foi uma vitória assim, mas um empate que apenas rendeu pontos a Xavier, num daqueles mecanismos que as pessoas conhecem através do futebol.
No julgamento sobre o processo movido pelos familiares de Humberto de Campos, através do advogado Milton Barbosa - que identificou irregularidades na obra atribuída ao espírito do escritor maranhense - , a Justiça da época, o ano de 1944, não entendeu a questão do processo e decidiu por um desfecho neutro.
Segundo o juiz, não havia leis nem regras que protegessem os direitos autorais relacionados a obras atribuídas à atividade de espíritos do além, os direitos autorais só correspondem ao que espíritos que já estão falecidos haviam produzido em vida, ou seja, o legado deixado por eles aqui na Terra. O que se atribui à produção deles no além não competia à apreciação da Justiça.
Foi um evidente zero a zero, no qual os familiares de Humberto de Campos não saíram vencedores da causa, já que o processo deles foi considerado improcedente, mas também não representou uma vitória de Chico Xavier e da FEB, porque eles também não receberam legitimação de uma prática que juízes e juristas, escritores e intelectuais, simplesmente desconheceram.
Na época, a FEB tentou puxar a brasa para sua sardinha e tentou creditar como "comprobatórios" os depoimentos céticos de nomes como Agripino Grieco, Monteiro Lobato, Raimundo de Magalhães Júnior e Apparício Torelly, o Barão de Itararé.
Nenhum deles quis dizer, em seus depoimentos, que o trabalho de Chico Xavier era realmente mediúnico. Eles, cada um à sua maneira, demonstraram apenas um ceticismo leigo, não se acharam em condições de dizer se o que Chico fazia era fraude ou era mediunidade mesmo.
O fato deles declararam não poderem considerar as atividades de Chico Xavier como fraudulentas, não significava que eles legitimassem tais trabalhos. Eles não legitimaram mesmo. A FEB ignorou a diferença explícita que existe entre dizer "não desconfio nem confio" e dizer "eu confio".
Chico Xavier nem era um "bom atleta". Se fosse "lutador de UFC", já que um assunto noticiado há poucos dias foi a acusação de uso de doping contra Anderson Silva, Chico Xavier teria também usado doping, até com muito gosto.
ESCÂNDALOS VERGONHOSOS
O que Chico Xavier causou de escândalos foi algo de muito vergonhoso. Lembrando que Allan Kardec era um pedagogo, se Chico fosse aluno de sua escola os diretores teriam chamado os pais de "Chiquinho" para lhes advertirem do desempenho no mínimo desastroso do aluno, reprovado sem qualquer chance de recuperação e pouco aplicado às lições de aula e ao dever de casa.
Isso é muito sério e muito grave. Os seguidores de Chico Xavier brincam com fogo, fazendo pilhéria, achando que Chico (mesmo depois de morto) derruba tudo, até o raciocínio lógico e os exames científicos, acreditando que os cientistas só têm valor quando se ajoelham à imagem do "bom velhinho".
Chico se envolveu, só entre os anos 1940 e 1970, em vários escândalos, suficientes para que ele fosse jogado no lodo das personalidades lamentáveis, caído do mais absoluto esquecimento popular, e os erros que Chico cometeu eram gravíssimos, e muito maiores do que simplesmente o de entender mal a obra de Allan Kardec.
Acusações severas de pastiche, vindas de outros jornalistas, como Osório Borba, acusações que nem de longe podem ser vistas como rancorosas ou invejosas, porque se baseiam em comparações consistentes entre o que os autores falecidos produziram em vida e o que se atribui a eles sob a suposta psicografia de Chico Xavier.
Como é que se pode atribuir como "manifestação de inveja", "perseguição a um homem de bem", "julgamento injusto da ciência material dos homens", "negação dos belos exemplos de fé e caridade", questionamentos imparciais, da mais pura investigação lógica, da análise cautelosa de conteúdo, feita sem tomar partido contra ou a favor de quem seja, apenas buscando a coerência dos fatos?
E as fraudes de materialização que Chico Xavier apoiou com gosto, fazendo atestados, conversando com os fraudadores nos bastidores, dando sua cumplicidade irresponsável, sobretudo no caso de Otília Diogo, desmascarada numa reportagem da revista O Cruzeiro?
E as psicografias que nem de longe apresentam qualquer vestígio da caligrafia dos falecidos, pois tudo é escrito com a caligrafia do próprio Chico Xavier, criando mensagens de sua própria mente, todas iguais umas às outras, enganando famílias e se promovendo às custas da emotividade das mesmas, como no exemplo "clássico" de Arnaldo Rocha, viúvo de Meimei?
E aí vieram os partidários de Chico Xavier, em mais uma reação por vezes chorosa, por outras raivosa, dizendo que ser cúmplice não é ser culpado. Mais uma vez a luta contra a lógica dos argumentos. Ser cúmplice é participar da culpa de um ato, sem ser responsável por sua decisão, mas participando de sua execução de forma direta ou indireta, em claro sinal de apoio.
Roustanguista enrustido, Xavier teve as circunstâncias a seu favor, em certos casos como colaborador dos mandos e desmandos da FEB, por outros cúmplice e artífice entusiasmado de uma série de fraudes e equívocos que deveriam fazer de Chico Xavier uma personalidade definitivamente reprovada e rejeitada da Doutrina Espírita de Allan Kardec.
Rejeitar Chico Xavier como figura do Espiritismo não é manifestar ódio nem perseguição, nem mesmo inveja ou incompreensão. É manifestar a honestidade dos fatos, da coerência, do argumento lógico, da nossa capacidade de raciocinar quando o absurdo e o surreal tentam se colocar acima da realidade, mesmo usando o pretexto da fé.
Rejeita-se Chico Xavier com a serenidade da alma, enquanto, do lado dos seus seguidores, qualquer questionamento desperta nos "amorosos" chiquistas reações que chegam ao ponto da fúria e do rancor daqueles que se julgam "incapazes" de tais sentimentos.
Essa é a verdade. Chico Xavier causou grandes estragos ao país. Era, no fundo, um figurão ultraconservador, um "AI-5 do bem" que só pensava na evolução da humanidade se todos rezassem calados e ficassem felizes até no pior dos sofrimentos.
Sádico, Chico Xavier queria que fôssemos masoquistas no "sensualismo" pernicioso de suas sedutoras "palavras doces". aquelas que muitas pessoas ainda publicam nas mídias sociais, felizes da vida, sem saber que tais frases açucaradas escondem o veneno traiçoeiro que estraga muitas vidas. O "espiritismo" brasileiro é, na prática, uma "fábrica de sofredores".
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Alemanha: um dos piores exemplos de nação que quis dominar o mundo
Não se pode brincar com esse papo de que tal nação irá comandar a comunidade das nações. O caso da Alemanha, de traumatizante memória, constituiu num dos mais trágicos e dramáticos exemplos de como um país atua como um pretenso "centro do mundo".
Tudo começou quando um desordeiro chamado Adolf Hitler, militar de baixa patente e, curiosamente, de formação católica, criava badernas para se autopromover e chamar a atenção da opinião pública. Havia sido um pintor frustrado antes de virar o baderneiro que virou tirano.
Em seguida, ele criou um partido, o Partido Nazista, cuja nomenclatura "socialista" é equivocado pretexto para o clamor anti-esquerdista dos exaltados e mal informados direitistas brasileiros atribuírem o socialismo a um sub-produto de Hitler.
Agindo em franca contradição, esses direitistas, partidários do deputado Jair Bolsonaro - depositário de ideais fascistas no Brasil - querem atribuir o nazismo ao PT e a outros símbolos esquerdistas, sem olhar para seus próprios lados e defendendo um capitalismo arcaico de ideais fascistas não muito diferentes do sanguinário líder austríaco.
Quando Hitler se ascendeu politicamente, aproveitando a brecha de um primeiro-ministro que, ao falecer, liberou o caminho para o chefe nazista, Chico Xavier havia lançado a primeira edição de Parnaso de Além-Túmulo. Por oposição ao tirano austríaco radicado na Alemanha (e que chegou a submeter a Áustria ao Estado alemão), Chico passou a sonhar com o Brasil num tipo mais "flexível" de supremacia política.
Hitler seduziu os alemães se aproveitando dos efeitos da Crise de 1929, que atingiu a Bolsa de Valores de Nova York depois de uma intensa farra de especulações financeiras que prometia fazer os cidadãos dos EUA, mesmo os mais pobres, virarem milionários. Nessa época, a compra de ações era tão popular quanto fazer apostas nas loterias, mas os resultados poderiam ser imediatos.
Com o colapso dessa prática, a crise teve efeitos devastadores na economia mundial e abriu caminho para movimentos políticos autoritários que prometiam "salvar" seus países. Daí a promessa de Hitler garantir empregos para os alemães e fortalecer a economia de seu país, através da industrialização, que em boa parte se dedicava a produzir material bélico.
Em princípio, a promessa de Hitler funcionou, e a História registra, para desespero dos histéricos anti-petistas brasileiros, que o tirano nazista, em primeira instância, havia sido elogiado pelos chefes capitalistas dos EUA e do Reino Unido, que o viam, pasmem, como um político "moderado", já que Hitler era violentamente hostil ao comunismo em ascensão na União Soviética.
Mesmo um político do porte de Winston Churchill havia se simpatizado com Hitler, que era apreciado pelos capitalistas conforme registram dados da imprensa norte-americana, naquele começo da década de 1930. Benito Mussolini, o ditador italiano que inaugurou o sentido da palavra "fascismo", também era simpatizado pelos capitalistas.
Para seu projeto de "nação poderosa", o chamado "Império do III Reich", destinado a durar milhares de anos, segundo a vontade de Hitler, ele criou um "inimigo" a ser exterminado e ao qual era atribuída toda uma série de qualidades negativas e, sobretudo, inverídicas: o povo judeu.
Generalizando estigmas negativos que eram relacionados a indivíduos de origem judia, Hitler ordenou que se criassem campos de concentração que viraram cenários de horror, chocantes até hoje, pela forma com que se eliminavam e amontoavam corpos de prisioneiros judeus e opositores ao regime nazista.
Hitler defendia a chamada "raça ariana", a raça "pura" segundo seus pontos de vista pessoais. Ele também se enfureceu quando, durante as Olimpíadas de Berlim, um atleta norte-americano, o negro Jesse Owens, havia vencido uma competição.
O nazismo só passou a ser combatido pelo mundo capitalista quando seu projeto expansionista avançou além dos limites do mundo ocidental, já no início da Segunda Guerra Mundial e invadindo áreas que incluíram até mesmo a França, num episódio que nos põe a pensar.
Afinal, a França, país que havia vivido uma fase de ouro no século XIX, a nação das novidades filosóficas e científicas, a pátria de Allan Kardec e seus métodos científicos para a Educação e para a Doutrina Espírita, e que havia vivido a Bélle-Èpoque e era conhecida pelo patriotismo próprio, chamado de "chauvinismo", chegou a se reduzir a um território da Alemanha nazista.
Os países capitalistas tiveram, então, uma aliança provisória com a União Soviética comunista, para formarem o bloco que combateu, no referido confronto bélico, o "eixo", formado pela aliança entre a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão. Num confronto historicamente sangrento, a aliança fascista foi derrotada, tendo Mussolini sido assassinado e Hitler se suicidado.
DIFERENÇAS COM O BRASIL
O nazismo, que chegou a ter simpatizantes no Brasil e atualmente conta até com pequenos grupos de adeptos, envolvidos sobretudo em assassinatos de homossexuais, era muito pouco sutil no seu projeto hegemônico de tornar a Alemanha uma nação "poderosa".
Embora haja pontos em comum com o projeto do "Coração do Mundo", como a inspiração em ideias medievais, o nazismo era abertamente cruel, a ponto das melhores personalidades da Alemanha, quando puderam fugir, só conseguiram expressar suas atividades intelectuais no exílio, como o cientista Albert Einstein e os professores da Escola de Frankfurt, como Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.
A experiência do nazismo foi tão traumatizante que o próprio povo alemão, depois que a nação foi arrasada na Segunda Guerra Mundial e, após a Guerra Fria, ainda se dividiu no lado capitalista (Alemanha Ocidental) e comunista (Alemanha Oriental), passaram a pregar o altruísmo, repudiando os antigos preconceitos nazistas.
A Alemanha, assistida pelo plano econômico do general norte-americano George Marshall, o Plano Marshall, conseguiu se recuperar a ponto de se tornar não a nação mais poderosa do mundo, mas uma das mais ricas do planeta. Infelizmente, a herança nazista se refletiu no regime do apartheid da África do Sul, desenvolvido sob a ajuda de colaboradores de Hitler.
O projeto hegemônico do Brasil nem de longe passa pelos preconceitos nazistas. Seu projeto de "nação poderosa" se baseia na ideia da teocracia romana, inspirada também nas lições imperialistas dos Estados Unidos, e o ensaio disso tudo está no mini-imperialismo que o Brasil já exerce sobre alguns países africanos e no Haiti, país da América Central.
O Brasil é marcado pela tolerância étnica que a Alemanha nazista rejeitava. Mas o risco do projeto do "Coração do Mundo" pode trazer uma supremacia em que a diversidade aglutinada pelo poderio brasileiro, sem que o país superasse sua mediocrização sócio-cultural e política hoje vigentes, resultará numa "religião única" e num modelo hegemônico de sociedade, com suas próprias injustiças e arbítrios. Neste tipo de sociedade, os brasileiros fariam o papel de "raça pura" na sua forma de imperialismo.
Em todo caso, o exemplo da Alemanha mostra o quanto é perigoso o projeto de um país centralizando as decisões mundiais. E, sejam as promessas de emprego ou de fraternidade, projetos de nações hegemônicas não são bons. Nações são construções materiais, e o Brasil nem de longe é o país predestinado do universo.
O Brasil é só uma extensão territorial traçada por homens. Não é e nem vai ser a Pátria do Evangelho, pois isso é coisa de igreja, nada a ver com a realidade. Não será o Coração do Mundo, se já não se mostra capaz de ser seu Cérebro. Mesmo que nossa nação possa progredir e eliminar suas injustiças, será ilusório atribuir ao nosso país um status poderoso sobre as nações do planeta.
Não é por sermos brasileiros que iremos defender nossa supremacia, pois no fundo isto é uma brincadeira muito perigosa.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
"Velho mundo" e o catastrofismo de Chico Xavier
TEMPESTADE XAVER (!) INUNDOU REGIÕES DO REINO UNIDO, ESCANDINÁVIA E ALEMANHA, EM 2013.
Analisando o que Data-Limite Segundo Chico Xavier interpreta do famoso sonho descrito por Francisco Cândido Xavier, uma das supostas previsões corresponde à decadência e mesmo a dsstruição do "velho mundo", que corresponde aos EUA, Europa, Oriente Médio e resto da Ásia.
Regiões consideradas socialmente mais avançadas - e isso inclui aspectos políticos, econômicos, culturais, sociológicos etc - desapareceriam da Terra, destruídas por catástrofes naturais ou pela ação descontrolada de grupos terroristas.
Isso inclui desde a Escandinávia (Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia), inundada pelas águas derretidas do Pólo Norte, até os grandes surtos terroristas a atingir zonas urbanas como as que ocorreram em Nova York, Londres, Madri e, recentemente, Paris, passando pelo isolamento e possível destruição do Estado da Califórnia, dos EUA, desprendido do continente americano.
Superestimando casos pontuais que ocorrem por conta do desequilíbrio ambiental - como se, por outro lado, os terremotos e tornados que já acontecem no Brasil fossem história da Carochinha - , a "profecia" de Chico Xavier parece querer se promover com a decadência do "velho mundo".
Montar o quebra-cabeças ideológico por trás dessa "profecia", que alega que o Brasil irá se ascender às custas dos escombros do "velho mundo", é uma tarefa delicada cujas constatações tornam-se desagradáveis aos sonhadores adeptos de Chico Xavier.
Afinal, o que se espera de um sonho que descreve uma nação materialmente constituída, delimitada por critérios puramente terrestres, como "predestinada" a ser "a mais poderosa do planeta", dentro de argumentos religiosos partidos de um anti-médium que preferia o silêncio da prece do que a luta por melhores condições de vida?
Levando em conta o religiosismo extremo e calcado no Catolicismo medieval adaptado aos novos tempos, por parte de Chico Xavier, o que se observa é que o Brasil será promovido a uma nova teocracia, exercendo sua supremacia política, mais uma vez, através da destruição de um mundo intelectualmente mais avançado.
Descontados alguns aspectos negativos como a discriminação social dada às mulheres e a escravidão, a Antiguidade clássica apresentava avanços de cunho científico, intelectual, cultural e filosófico, em que boa parte de seu acervo se perdeu, por guerras, incêndios e outros descuidos, deixando muitas lacunas para a humanidade de hoje.
E isso foi agravado quando o Império Romano, que até certo ponto permitia a herança cultural da Grécia Antiga, chegando a haver equivalentes culturais aos ícones gregos - como se nota nos "deuses" da Mitologia e também nos padrões da Arquitetura e da Filosofia, entre outros - , se converteu em teocracia a partir do exemplo do imperador Constantino.
O Império Romano, poucos séculos depois, sucumbiu, mas restou o Catolicismo medieval fundado por Constantino e que representou grave retrocesso à humanidade, em pontos inferiores ao que havia de atrasado na Antiguidade clássica.
Isto que dizer que o que havia de retrógrado na Grécia Antiga permaneceu, e o que havia de avançado pereceu e com o que restou dela só foi devidamente valorizado tardiamente, numa trabalhosa e incompleta recuperação do caminho percorrido pela humanidade da Terra.
O catastrofismo festivo de Chico Xavier, que anuncia que o Brasil liderará o mundo com seu "lindo exemplo de solidariedade" enquanto o "velho mundo" se arruína, sugere, num otimismo messiânico, que a nata dos artistas, celebridades, intelectuais, cientistas e ativistas passará a morar no Brasil que verá pessoas do mesmo nível florescerem no país tropical bonito por natureza.
Como isso irá acontecer, não se sabe. Talvez nossos maiores cientistas possam obter a visibilidade e o dinheiro que precisam para ter, pelo menos, 1/4 do prestígio e do cartaz das nulidades do Big Brother Brasil e das candidatas do Miss Bumbum, fazendo malabarismos circenses em semáforos de ruas, sempre vigilantes para não serem assaltados por viciados em crack.
E os nossos maiores artistas, com sua melhor música e suas expressões mais elevadas? Talvez eles pudessem baixar a cabeça e aguentarem um dueto com Ivete Sangalo, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, todos berrando de tanta canastrice, para assim os grandes músicos que se submetem a tais fardos serem ao menos citados em jornais semi-popularescos do porte do jornal O Dia.
Do jeito que o Brasil está pouco se lixando com a atividade genuinamente intelectual, como é que vamos valorizar nossos melhores cientistas, nossos melhores pensadores? E, com a cultura em queda vertiginosa, como é que vamos perceber um cenário de brilhantes expressões? E como iremos mudar o mundo se o "nosso profeta maior" quer que fiquemos orando em silêncio?
São questões que os partidários de Chico Xavier não querem saber. Eles não estão com a razão, porque raciocinar, para eles, é criar incômodos, preferindo eles ficarem com a cegueira da fé e apenas eventualmente brincando de ciência com teses confusas, absurdas, vagas e contraditórias.
Analisando o que Data-Limite Segundo Chico Xavier interpreta do famoso sonho descrito por Francisco Cândido Xavier, uma das supostas previsões corresponde à decadência e mesmo a dsstruição do "velho mundo", que corresponde aos EUA, Europa, Oriente Médio e resto da Ásia.
Regiões consideradas socialmente mais avançadas - e isso inclui aspectos políticos, econômicos, culturais, sociológicos etc - desapareceriam da Terra, destruídas por catástrofes naturais ou pela ação descontrolada de grupos terroristas.
Isso inclui desde a Escandinávia (Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia), inundada pelas águas derretidas do Pólo Norte, até os grandes surtos terroristas a atingir zonas urbanas como as que ocorreram em Nova York, Londres, Madri e, recentemente, Paris, passando pelo isolamento e possível destruição do Estado da Califórnia, dos EUA, desprendido do continente americano.
Superestimando casos pontuais que ocorrem por conta do desequilíbrio ambiental - como se, por outro lado, os terremotos e tornados que já acontecem no Brasil fossem história da Carochinha - , a "profecia" de Chico Xavier parece querer se promover com a decadência do "velho mundo".
Montar o quebra-cabeças ideológico por trás dessa "profecia", que alega que o Brasil irá se ascender às custas dos escombros do "velho mundo", é uma tarefa delicada cujas constatações tornam-se desagradáveis aos sonhadores adeptos de Chico Xavier.
Afinal, o que se espera de um sonho que descreve uma nação materialmente constituída, delimitada por critérios puramente terrestres, como "predestinada" a ser "a mais poderosa do planeta", dentro de argumentos religiosos partidos de um anti-médium que preferia o silêncio da prece do que a luta por melhores condições de vida?
Levando em conta o religiosismo extremo e calcado no Catolicismo medieval adaptado aos novos tempos, por parte de Chico Xavier, o que se observa é que o Brasil será promovido a uma nova teocracia, exercendo sua supremacia política, mais uma vez, através da destruição de um mundo intelectualmente mais avançado.
Descontados alguns aspectos negativos como a discriminação social dada às mulheres e a escravidão, a Antiguidade clássica apresentava avanços de cunho científico, intelectual, cultural e filosófico, em que boa parte de seu acervo se perdeu, por guerras, incêndios e outros descuidos, deixando muitas lacunas para a humanidade de hoje.
E isso foi agravado quando o Império Romano, que até certo ponto permitia a herança cultural da Grécia Antiga, chegando a haver equivalentes culturais aos ícones gregos - como se nota nos "deuses" da Mitologia e também nos padrões da Arquitetura e da Filosofia, entre outros - , se converteu em teocracia a partir do exemplo do imperador Constantino.
O Império Romano, poucos séculos depois, sucumbiu, mas restou o Catolicismo medieval fundado por Constantino e que representou grave retrocesso à humanidade, em pontos inferiores ao que havia de atrasado na Antiguidade clássica.
Isto que dizer que o que havia de retrógrado na Grécia Antiga permaneceu, e o que havia de avançado pereceu e com o que restou dela só foi devidamente valorizado tardiamente, numa trabalhosa e incompleta recuperação do caminho percorrido pela humanidade da Terra.
O catastrofismo festivo de Chico Xavier, que anuncia que o Brasil liderará o mundo com seu "lindo exemplo de solidariedade" enquanto o "velho mundo" se arruína, sugere, num otimismo messiânico, que a nata dos artistas, celebridades, intelectuais, cientistas e ativistas passará a morar no Brasil que verá pessoas do mesmo nível florescerem no país tropical bonito por natureza.
Como isso irá acontecer, não se sabe. Talvez nossos maiores cientistas possam obter a visibilidade e o dinheiro que precisam para ter, pelo menos, 1/4 do prestígio e do cartaz das nulidades do Big Brother Brasil e das candidatas do Miss Bumbum, fazendo malabarismos circenses em semáforos de ruas, sempre vigilantes para não serem assaltados por viciados em crack.
E os nossos maiores artistas, com sua melhor música e suas expressões mais elevadas? Talvez eles pudessem baixar a cabeça e aguentarem um dueto com Ivete Sangalo, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, todos berrando de tanta canastrice, para assim os grandes músicos que se submetem a tais fardos serem ao menos citados em jornais semi-popularescos do porte do jornal O Dia.
Do jeito que o Brasil está pouco se lixando com a atividade genuinamente intelectual, como é que vamos valorizar nossos melhores cientistas, nossos melhores pensadores? E, com a cultura em queda vertiginosa, como é que vamos perceber um cenário de brilhantes expressões? E como iremos mudar o mundo se o "nosso profeta maior" quer que fiquemos orando em silêncio?
São questões que os partidários de Chico Xavier não querem saber. Eles não estão com a razão, porque raciocinar, para eles, é criar incômodos, preferindo eles ficarem com a cegueira da fé e apenas eventualmente brincando de ciência com teses confusas, absurdas, vagas e contraditórias.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Mansão do Caminho tem desempenho inexpressivo para o que sugere sua missão
ENTRADA DA MANSÃO DO CAMINHO, EM SALVADOR.
Hoje será veiculada uma reportagem no Fantástico, da Rede Globo de Televisão, mostrando a Mansão do Caminho, do anti-médium baiano Divaldo Franco, na qual o repórter Marcelo Canellas destaca a aparente missão filantrópica da instituição localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador.
A reportagem é mais um recurso da Federação "Espírita" Brasileira de recuperar a supremacia do seu "espiritismo", dando continuidade a diversas apelações que envolveram desde parcerias com Maurício de Souza até coletâneas "requentadas" de obras de Chico Xavier, além de um livro "inédito" de "psicografias".
Agora que Divaldo Franco está se aposentando das atividades "mediúnicas" - com a alegação de que sua mentora Joana de Angelis (que NÃO foi Joana Angélica, por constatar que eram personalidades bem diferentes), iria regressar à vida terrena - , a grande mídia colabora para fazer de Divaldo um semi-deus como se fez com Francisco Cândido Xavier.
A reportagem de Marcelo Canellas adiantou, em mensagem nas mídias sociais, que a Mansão do Caminho atendeu, em mais de 60 anos de existência - a instituição foi fundada em 1952, portanto tem 63 anos - , 160 mil pessoas. Parece um número grande e heroico, mas fazendo os seguintes cálculos, verá que o número representa pouco, muito pouco.
A título de comparação, se dividirmos a quantidade de pessoas que saíram da pobreza com os anos de existência da instituição (160.000:63), o número será de aproximadamente 2.540, valor médio de beneficiados por ano.
Levando em conta que a população de Salvador, oficialmente, é de 2,902,927 habitantes, sem falar dos milhares de imigrantes do interior da Bahia, não creditados pelo Censo, o que dá um número estimado em três milhões, se fizermos a prova dos nove colocando 3.000.000 como 100%, o número 2.540 corresponderia a 0,08%.
Portanto, esta é a porcentagem atendida por ano, em relação à população geral de Salvador: 0,08%. Ou seja, o Fantástico quer fazer festa porque menos de 1% de pobres foi beneficiado por Divaldo Franco, um número ínfimo, se levarmos em conta que ele é considerado "cidadão do mundo".
CERCA DE ARAME FARPADO NA MURALHA QUE CERCA A MANSÃO DO CAMINHO.
PROJETO EDUCACIONAL NÃO VAI MUITO ADIANTE
Outro aspecto a considerar é que o "revolucionário projeto" de "combate à pobreza" da Mansão do Caminho se resume a projetos de Educação básica e cursos profissionalizantes, aliados a um proselitismo religioso que é o preço dado à aparente gratuidade dessas medidas.
Considera-se proselitismo religioso não o ato de forçar a pessoa a seguir uma religião de maneira institucional, mas de transmitir ideias, crenças e dogmas que são próprias do sistema religioso que detém tal projeto educativo.
A Mansão do Caminho não iria ensinar algo que vá contra o sistema religiosista do "espiritismo" brasileiro. Ou algum ingênuo acharia que lá haveria, além de cursos universitários para crianças, toda uma valorização do conhecimento científico e analítico dado de bandeja a pobres adolescentes semi-alfabetizados?
O projeto educacional apenas prepara as pessoas a sobreviver em condições básicas de vida. Não faz muita coisa, apenas faz as pessoas ficarem boas, mas num perfil mais insosso, sem qualquer diferencial. O que faz diminuir o mérito, porque nada tem de genial nem diferenciado e qualquer instituição faz isso sem que a sociedade se transforme de maneira substancial.
O problema é que, dependendo do contexto, muitas pessoas confundem básico com avançado, mínimo com máximo, e medem o valor de qualquer coisa não pelo que elas são de positivo, mas pelo que elas deixam de ser de radicalmente negativo, o que faz qualquer coisa medíocre parecer "genial".
Afinal, como é que um projeto educacional sem grandes diferenciais, que mistura o básico do básico - que não é ruim, mas insuficiente para ser considerado transformador - e só faz os cidadãos sobreviverem razoavelmente na condição de mais uns na multidão, sem acrescentar muita coisa, vai ser considerado de "grande importância para a humanidade inteira"?
Se o projeto da Mansão do Caminho beneficia 0,08% da população de Salvador, imagine se comparar com a população do Brasil, da América Latina, do mundo inteiro e do universo? O "gigantesco benefício" do "respeitado" Divaldo Franco simplesmente equivaleria a zero.
Outros projetos educacionais, como os do próprio Allan Kardec e, no Brasil, os de Anísio Teixeira (com eventuais parcerias com o radialista Edgar Roquette-Pinto), Darcy Ribeiro e Paulo Freire, tinham propósitos e metas bem mais audaciosos do que o da Mansão do Caminho que não vai além dos clichês da paliativa filantropia religiosa.
Portanto, para os paradigmas de um país tido como destinado a ser o "coração do mundo" e "farol da humanidade planetária e, quiçá, universal (?!?!)", a Mansão do Caminho é apenas um projeto de menor expressão, tão inexpressivo que, para os parâmetros do "poderoso Brasil" dos sonhos de Divaldo e, antes, de Chico Xavier, seus benefícios são bem abaixo de 1%.
Não se faz um cidadão do mundo, um projeto revolucionário nem uma nação poderosa com iniciativas que só trazem benefícios a 0,08%.
Hoje será veiculada uma reportagem no Fantástico, da Rede Globo de Televisão, mostrando a Mansão do Caminho, do anti-médium baiano Divaldo Franco, na qual o repórter Marcelo Canellas destaca a aparente missão filantrópica da instituição localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador.
A reportagem é mais um recurso da Federação "Espírita" Brasileira de recuperar a supremacia do seu "espiritismo", dando continuidade a diversas apelações que envolveram desde parcerias com Maurício de Souza até coletâneas "requentadas" de obras de Chico Xavier, além de um livro "inédito" de "psicografias".
Agora que Divaldo Franco está se aposentando das atividades "mediúnicas" - com a alegação de que sua mentora Joana de Angelis (que NÃO foi Joana Angélica, por constatar que eram personalidades bem diferentes), iria regressar à vida terrena - , a grande mídia colabora para fazer de Divaldo um semi-deus como se fez com Francisco Cândido Xavier.
A reportagem de Marcelo Canellas adiantou, em mensagem nas mídias sociais, que a Mansão do Caminho atendeu, em mais de 60 anos de existência - a instituição foi fundada em 1952, portanto tem 63 anos - , 160 mil pessoas. Parece um número grande e heroico, mas fazendo os seguintes cálculos, verá que o número representa pouco, muito pouco.
A título de comparação, se dividirmos a quantidade de pessoas que saíram da pobreza com os anos de existência da instituição (160.000:63), o número será de aproximadamente 2.540, valor médio de beneficiados por ano.
Levando em conta que a população de Salvador, oficialmente, é de 2,902,927 habitantes, sem falar dos milhares de imigrantes do interior da Bahia, não creditados pelo Censo, o que dá um número estimado em três milhões, se fizermos a prova dos nove colocando 3.000.000 como 100%, o número 2.540 corresponderia a 0,08%.
Portanto, esta é a porcentagem atendida por ano, em relação à população geral de Salvador: 0,08%. Ou seja, o Fantástico quer fazer festa porque menos de 1% de pobres foi beneficiado por Divaldo Franco, um número ínfimo, se levarmos em conta que ele é considerado "cidadão do mundo".
CERCA DE ARAME FARPADO NA MURALHA QUE CERCA A MANSÃO DO CAMINHO.
PROJETO EDUCACIONAL NÃO VAI MUITO ADIANTE
Outro aspecto a considerar é que o "revolucionário projeto" de "combate à pobreza" da Mansão do Caminho se resume a projetos de Educação básica e cursos profissionalizantes, aliados a um proselitismo religioso que é o preço dado à aparente gratuidade dessas medidas.
Considera-se proselitismo religioso não o ato de forçar a pessoa a seguir uma religião de maneira institucional, mas de transmitir ideias, crenças e dogmas que são próprias do sistema religioso que detém tal projeto educativo.
A Mansão do Caminho não iria ensinar algo que vá contra o sistema religiosista do "espiritismo" brasileiro. Ou algum ingênuo acharia que lá haveria, além de cursos universitários para crianças, toda uma valorização do conhecimento científico e analítico dado de bandeja a pobres adolescentes semi-alfabetizados?
O projeto educacional apenas prepara as pessoas a sobreviver em condições básicas de vida. Não faz muita coisa, apenas faz as pessoas ficarem boas, mas num perfil mais insosso, sem qualquer diferencial. O que faz diminuir o mérito, porque nada tem de genial nem diferenciado e qualquer instituição faz isso sem que a sociedade se transforme de maneira substancial.
O problema é que, dependendo do contexto, muitas pessoas confundem básico com avançado, mínimo com máximo, e medem o valor de qualquer coisa não pelo que elas são de positivo, mas pelo que elas deixam de ser de radicalmente negativo, o que faz qualquer coisa medíocre parecer "genial".
Afinal, como é que um projeto educacional sem grandes diferenciais, que mistura o básico do básico - que não é ruim, mas insuficiente para ser considerado transformador - e só faz os cidadãos sobreviverem razoavelmente na condição de mais uns na multidão, sem acrescentar muita coisa, vai ser considerado de "grande importância para a humanidade inteira"?
Se o projeto da Mansão do Caminho beneficia 0,08% da população de Salvador, imagine se comparar com a população do Brasil, da América Latina, do mundo inteiro e do universo? O "gigantesco benefício" do "respeitado" Divaldo Franco simplesmente equivaleria a zero.
Outros projetos educacionais, como os do próprio Allan Kardec e, no Brasil, os de Anísio Teixeira (com eventuais parcerias com o radialista Edgar Roquette-Pinto), Darcy Ribeiro e Paulo Freire, tinham propósitos e metas bem mais audaciosos do que o da Mansão do Caminho que não vai além dos clichês da paliativa filantropia religiosa.
Portanto, para os paradigmas de um país tido como destinado a ser o "coração do mundo" e "farol da humanidade planetária e, quiçá, universal (?!?!)", a Mansão do Caminho é apenas um projeto de menor expressão, tão inexpressivo que, para os parâmetros do "poderoso Brasil" dos sonhos de Divaldo e, antes, de Chico Xavier, seus benefícios são bem abaixo de 1%.
Não se faz um cidadão do mundo, um projeto revolucionário nem uma nação poderosa com iniciativas que só trazem benefícios a 0,08%.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Estados Unidos dá a lição amarga do mito do "Coração do Mundo"
Dá pena ver os fanáticos seguidores de Francisco Cândido Xavier se horrorizarem quando alguém denuncia que o projeto do "Brasil Coração do Mundo" é um novo imperialismo e uma nova teocracia, nos moldes do Império Romano medieval.
Preferem eles que fiquem com suas fantasias e acreditem que uma fada madrinha "espírita" virá no escurecer das trevas brasileiras para transformar o Brasil cambaleante, problemático e caótico num país próspero que irá comandar a comunidade das nações do mundo inteiro.
É uma utopia perigosa, da qual advertimos seriamente, porque o mito do "povo escolhido" e da "nação predestinada" pode representar mais uma supremacia que promoverá privilégios de um lado, mas também causará perdas sangrentas no outro.
Mesmo assim, os incautos que alegremente colocam frases de Chico Xavier nas mídias sociais preferem a fantasia. Tentam até argumentar que a suposta ascensão do Brasil "não acontecerá da noite para o dia" e que será um "trabalho árduo de décadas", de preferência cumprindo a promessa que Divaldo Franco acredita ser o ano que o Brasil virará um paraíso: 2052.
O que essas pessoas não sabem é que a História já registrou casos de nações "predestinadas" que, ao atingir um grau de supremacia na comunidade das nações, elas nem de longe representaram a prometida perspectiva de nação iluminada, pátria da solidariedade e da prosperidade, e sim poderosos impérios que se estabelecem e se estabilizam à custa do derramamento de sangue alheio.
O EXEMPLO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Os adeptos de Chico Xavier têm em mãos um exemplo bastante claro e fácil de entender do que é uma nação que desejou ser "a mais poderosa do planeta". Os Estados Unidos da América foram construídos com um ideal não muito diferente do que sonha o "bondoso velhinho" das frases açucaradas.
Os EUA também vinham com um ideal unificador. Daí o nome: Estados Unidos da América. A união de seus 50 Estados - mais tarde duas unidades longe de sua zona territorial, o Alasca, situado ao Norte, quase colado na Rússia, e o Havaí, situado na Oceania, mas hoje "território americano" - se deu sob um discurso conciliador e aglutinador, em primeira instância.
Em segunda instância, os EUA, vendo que outros movimentos políticos ameaçaram sua ascensão, como o nazi-fascismo, derrotado durante a Segunda Guerra Mundial, e o comunismo, contra o qual atuou durante a Guerra Fria, quis ao mesmo tempo promover uma aliança do "mundo moderno" e de toda a América Latina e o Canadá.
O ideal "panamericano", no qual evocam virtudes de Américo Vespúcio, Cristóvão Colombo, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e Abraham Lincoln, além da inicial defesa dos direitos humanos e da extensão dos avanços políticos trazidos pela Revolução Francesa, também falava em unir os demais países americanos, incluindo o nosso Brasil.
Só que isso se converteu, tempos depois, numa supremacia política à qual os países ocidentais só teriam razão de existir se seguissem, mesmo indiretamente, a influência política dos Estados Unidos, criando um sistema de dominação e exploração que resultou em mercados hegemônicos e socialmente excludentes.
E o que vemos com o poderio norte-americano? Um sistema sórdido de espionagem promovido pela CIA, campanhas bélicas em diversas partes do mundo, violações cruéis dos direitos humanos e a promoção de severas injustiças e desigualdades sociais não só no resto do mundo, como no próprio território dos EUA.
Constam nos registros confidenciais divulgados posteriormente pela imprensa norte-americana que os EUA, com o objetivo de eliminar os movimentos sociais e das classes trabalhadoras na Guatemala, na década de 1980, financiou o crime organizado e o terrorismo para assassinar sindicalistas, ativistas, padres, camponeses, jornalistas e outros comprometidos com as causas sociais.
O racismo, a falta de uma política justa de imigração, a indiferença das autoridades estadunidenses às populações rurais e suburbanas, principalmente de áreas longínquas, e as inúmeras repressões aos movimentos sociais realizados dentro do seu território revelam a amarga lição que os EUA traz, de graça, para os seguidores de Chico Xavier.
São lições fáceis de entender, transmitidas por noticiários diversos, e que mostram o que pode fazer uma nação transformada na "nação mais poderosa do mundo", mesmo quando os mais belos discursos tentam desmentir.
Tivemos até mesmo uma ditadura militar financiada pelo governo dos Estados Unidos da América e pelas empresas nela instaladas, além de outras instaladas em países do G-7 (como Inglaterra, Itália, Alemanha e Japão), e os EUA já tinham pronta até mesmo uma operação de guerra contra o Brasil, a Operação Brother Sam, caso João Goulart resistisse a sair do poder em 1964.
E é a mesma ditadura militar que Chico Xavier acreditava ser uma etapa de "construção do reino de amor" para a humanidade futura. Então tá. Talvez os EUA ajudem o Brasil a se tornar o tão sonhado "coração do mundo" do "bom velhinho", não é mesmo? Talvez, por essa tese, vivamos no conto-de-fadas que fará o Brasil virar o paraíso dentro da Terra daqui a uns cinco anos.
Só que a realidade mostra o contrário e a vida é muito complexa. O caso dos Estados Unidos, que também se serviu de discursos humanistas, depois largados ou simplesmente ignorados desde o começo, mostra o que é realmente uma "nação poderosa". Podem-se colocar mil flores e rosas de mais bela cor, mas chegará o momento em que seus espinhos irão ferir, daí o perigo.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Enviamos carta para a USP sobre o caso Missionários da Luz
Diante do grave equívoco dos pesquisadores do trabalho Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence, os autores e acadêmicos Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Jr., Decio Iandoli Jr., Juliane P. B. Gonçalves, e Alessandra L. G. Lucchetti, aqui conhecido, resolvi escrever um e-mail para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O problema é sério, porque o trabalho supôs uma "prova" de que o suposto espírito de André Luiz, através do livro Missionários da Luz, divulgado por Francisco Cândido Xavier, teria "antecipado conhecimentos científicos complexos" em até seis décadas, não tem a menor coerência.
Servindo-se de bibliografia publicada a partir de 1977, fora o referido livro de "André Luiz", único título dos anos 1940 (data de 1945) registrado entre o material pesquisado, os autores não consultaram as fontes originais, portanto não têm autoridade de presumir a tese de pioneirismo ao fictício "André Luiz".
Escrevi este e-mail, reproduzido abaixo, que foi enviado ontem, para leitura dos seus acadêmicos. Esta mensagem é trazida para publicação aqui para que as pessoas percebam o tom do e-mail enviado, numa tentativa de alertar a comunidade acadêmica da irregularidade que desqualifica o resultado do trabalho sobre Missionários da Luz, monografia publicada em 2013.
==========
Prezados diretores da Faculdade de Medicina,
Quero fazer denúncias sérias sobre alguns pontos graves que desqualificam pesquisas acadêmicas que supostamente comprovam cientificamente atividades referentes à suposta mediunidade de Francisco Cândido Xavier. Embora eu não fosse um especialista em Medicina, pude realizar pesquisas que, dentro dos meus limites de conhecimento, afirmam os equívocos correspondentes ao estudo divulgado no artigo Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence, publicado no periódico Neuroendocrinology Letters, em edição de 2013.
O artigo - disponível em http://www.amebrasil.org.br/2011/sites/default/files/34_8_Lucchetti_745-755%20published.pdf - comete uma grave falha quando atribui ao suposto autor espiritual "André Luiz" (que minhas pesquisas constataram ser um autor fictício, sem relação com médicos que diversas teses atribuem como última encarnação do suposto espírito) um pioneirismo de 13 a 63 anos na divulgação de conhecimentos tidos como "bastante complexos" no livro Missionários da Luz, em 1945.
De acordo com os autores, esses conhecimentos, referentes à glândula pineal, teriam (supostamente) antecipado conceitos que "só seriam conhecidos" pela comunidade científica a partir de 1958, com uma "confirmação plena" apenas nos últimos sete anos. Eles alegam que a bibliografia dos anos 1940 era "extremamente escassa e altamente conflituosa" e que "André Luiz" teria exposto "suas ideias" através de Chico Xavier, "médium" sem qualquer tipo de formação no ramo da Medicina.
Há falhas sérias na hipótese de pioneirismo, uma vez que os dados da bibliografia enumerada pelos autores - entre eles, o médico Jorge Cecílio Daher Jr., da Associação Médica Espírita - só incluem obras produzidas a partir de 1977 que, embora citassem documentos científicos sobre a glândula pineal publicados nos anos 1940, não podem, por suas próprias razões, exprimir o conteúdo integral das obras originais.
Quem trabalha com monografias sabe muito bem da diferença entre o conteúdo original de uma obra original pesquisada e seu aproveitamento parcial de uma obra posterior. Ninguém irá reproduzir o trabalho inteiro da fonte, mas aproveitar parcialmente seu conteúdo, numa interpretação nem sempre fiel à obra original. Até porque se trata de uma interpretação de textos de diversas fontes, é natural que apenas aspectos parciais das obras originais sejam descritos, numa abordagem nova e diferente do que foi antes trabalhado.
Isso significa que os autores do trabalho falharam gravemente, quando interpretaram que a bibliografia sobre glândula pineal era escassamente discutida antes de 1958, fazendo supor que os conhecimentos atribuídos a "André Luiz" eram inéditos e pioneiros, como se aspectos relacionados, por exemplo, à produção de hormônio (mais tarde denominados por Aaron Lerner como melatonina), nunca tivessem sido discutidos na época de Missionários da Luz.
Mesmo conceitos e teses científicos descobertos em uma dada época são largamente discutidos e cogitados bem antes de sua descoberta ou comprovação. Na verdade, "descobertas" são confirmações de algo que já foi testado ou debatido bem antes, e soa risível que os autores da referida pesquisa citem como "altamente conflituosas" as obras dos anos 1940. Não é da natureza do debate científico que obras sejam conflituosas?
A falta de uma consulta rigorosa e vigorosa de livros publicados até a época de Missionários da Luz, desde o famoso Manual da Anatomia Humana, livro de 1920 dos autores Alfredo Monteiro e Benjamin Batista, famosa obra brasileira sobre o tema, até Handbuch der mikroskopischen Anatomie des Menschen, de Wolfgang Bargmann, principal estudioso de glândula pineal muito apreciado naquela época, desqualifica seguramente a tese de pioneirismo atribuída a "André Luiz".
Isso porque a falta de consulta das fontes originais de 1940, o que faz os autores da tese sobre Missionários da Luz desconhecerem do exato conhecimento das obras dessa época, limitou-os a conhecer, por segunda mão, os trabalhos da época em vagas e genéricas citações em fontes posteriores, que nem sempre trouxeram alguma noção do que havia se discutido até 1945.
É muito grave essa falha, e isso faz com que os autores deixem de ter exercido o necessário rigor científico de analisar os conteúdos das fontes originais, daí que, diante desse argumento, não é preciso ser um bacharel em Medicina (minha especialidade é Jornalismo) para apontar a falha de método de pesquisa dos autores do trabalho sobre Missionários da Luz.
Todavia, se eu pudesse ter sido um especialista em Medicina, e sobretudo nos assuntos sobre anatomia, glândula pineal, melatonina, e um estudioso sobretudo dos autores que publicaram trabalhos entre 1940 e 1945, apontaria, com toda a certeza, falhas ainda piores que seguramente desqualificariam a validade da tese apresentada pela equipe que realizou a monografia sobre Missionários da Luz.
Se eu tivesse nas condições de um pós-graduado em Medicina, nas condições acima descritas, teria mais condições de apresentar provas científicas que não só contestassem o pioneirismo de "André Luiz", como apontasse no referido livro de 1945 não uma antecipação de anos ou décadas, mas uma defasagem de, pelo menos, dois anos ou mais.
Não vou apresentar meu nome verdadeiro, uma vez que, discutindo os equívocos cometidos pelo "movimento espírita", estou sujeito a sofrer ameaças por seus adeptos, já que existem casos de pessoas que sofreram ameaças ou até mesmo cyberbulling por causa de seus questionamentos, desde jornalistas de O Cruzeiro que investigaram o famoso caso da ilusionista Otília Diogo até casos recentes como o do analista espírita Jorge Murta, falecido há pouco tempo.
As ideias aqui expostas foram publicadas na Internet sob o seguinte link: http://data-limite-2019.blogspot.com.br/2015/02/explicando-melhor-o-erro-dos-academicos.html
Sem mais a escrever
"Senhor dos Anéis"
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Explicando melhor o erro dos acadêmicos da UFJF sobre "André Luiz"
O erro do trabalho dos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em colaboração com a Universidade de São Paulo, Universidade Anhanguera e Associação Médica Espírita, de atribuir o pioneirismo científico ao fictício André Luiz, requer maiores explicações.
Os autores, Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Jr., Decio Iandoli Jr., Juliane P. B. Gonçalves, e Alessandra L. G. Lucchetti, realizaram seu trabalho de pesquisa, publicado no periódico de uma instituição de menor expressão no meio científico, Neuroendocrinology Letters, intitulado Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence e lançado em 2013.
O trabalho tem como foco o livro Missionários da Luz, de 1945, que o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier botou na conta do fictício "André Luiz", do qual os autores da monografia alegam possuir conhecimentos que só seriam divulgados na comunidade científica a partir de 1958 e, em vários aspectos, apenas depois de 2005.
Um trecho do referido livro - o trabalho cita outros livros de "André Luiz", mas concentra o foco na obra de 1945 - é atribuído aos autores como "antecipação" do isolamento da melatonina, hormônio expelido pela glândula pineal, que só ocorreu em 1958 pelo cientista norte-americano Aaron Lerner. Diz o trecho, extraído no capítulo dois, A Epífise:
"As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega «hormônios psíquicos» ou «unidades-força» que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam a influenciação absoluta e determinada."
O argumento dado pelos autores não procede. Não há uma menção de isolamento da melatonina, que só recebeu esse nome pela iniciativa de Aaron Lerner, mas que já era um hormônio estudado por amostras extraídas de bois e vacas, já desde 1917.
Apesar das amostras estudadas terem sido extraídas de animais bovinos, já era de conhecimento na comunidade científica que tais hormônios também eram produzidos no cérebro dos seres humanos, sendo a glândula pineal um tema longamente estudado, com seus conceitos modernos transmitidos a partir de René Descartes (1596-1650).
Os autores alegam que os estudos da glândula pineal, até a época do livro de "André Luiz" - um dos volumes da coleção A Vida no Mundo Espiritual da FEB - , eram associadas especificamente à loucura ou à esquizofrenia, supostamente sem atribuir à glândula pineal e seu hormônio, depois conhecido como melatonina, a função de controle dos impulsos nervosos e, por conseguinte, das emoções.
Há uma grande e grave falha dos autores, que é a ausência de fontes originais anteriores ao livro de 1945, já que a bibliografia aponta para títulos em sua maioria contemporâneos, em sua maioria esmagadora lançados entre 2010 e 2013, data da publicação do ensaio, sendo os títulos mais antigos datados de 1977 e 1979.
Não há um contato direto com as obras originais produzidas entre os anos 1910 e 1940 sobre glândula pineal, nem sequer com o cientista Wolfgang Bargmann, cuja obra de 1943, Handbuch der mikroskopischen Anatomie des Menschen (título que quer dizer Manual da Anatomia Microscópica do Ser Humano), não tem tradução conhecida no Brasil.
Consta-se que, no Brasil de 1943-1945, era conhecido nos meios acadêmicos especializados em anatomia humana, um antigo livro de 1920 dos anatomistas Alfredo Monteiro e Benjamin Batista, Manual de Anatomia Humana, mas falta saber se este livro contou com uma edição revista e atualizada nos anos 1940 ou algum outro livro na época.
O que é certo é que os autores do trabalho não tiveram acesso a livros científicos originais, produzidos até mais ou menos 1943 e 1944, se supormos a "coleta de informações" para o livro Missionários da Luz, daí eles terem um conhecimento superficial e vago do que havia sido produzido de informações sobre a glândula pineal na época do livro de 1945.
60 ANOS DE PIONEIRISMO? NÃO SERIAM DOIS OU MAIS ANOS DE DEFASAGEM?
Os autores do trabalho sobre "André Luiz" não têm, portanto, autoridade para garantir se os conhecimentos "complexos" descritos em Missionários da Luz eram realmente pioneiros ou inéditos, se não tiveram contato com as obras produzidas antes de 1945, que ofereceriam respostas para o suposto pioneirismo do fictício autor "espiritual".
O que eles entendem como pioneirismo de 13 a 63 anos dos "conhecimentos de André Luiz", em relação a dados científicos conhecidos, provavelmente é, na verdade, uma defasagem de dois ou mais anos, porque os dados podem ser, aparentemente, oficialmente publicados em fontes posteriores, mas isso não significa que eles não tenham sido discutidos nem apreciados.
Questões como a liberação de hormônios pela glândula pineal ou funções atribuídas a esse órgão referentes ao controle dos impulsos emocionais são assuntos já descritos bem antes de 1945, descritos em passagens que não constam nas referências pesquisadas pelos autores.
Estas referências citam trabalhos dos anos 1940 de forma superficial, como é de praxe. Elas não iriam descrever rigorosamente todo o conteúdo das antigas obras, o que criou uma "pegadinha" nos autores do trabalho da UFJF de que os "conhecimentos de André Luiz" não foram analisados pela comunidade científica da época de Missionários da Luz.
Tais conhecimentos "complexos" foram discutidos na época, e muito, e muitos conceitos atribuídos ao "pioneirismo" do fictício "espírito", na verdade, eram conhecidos, sim, na bibliografia "extremamente escassa e altamente conflituosa" sobre o assunto. E até que ponto essa bibliografia era escassa e apresentava conflitos?
Isso os autores foram bastante superficiais. Primeiro, a bibliografia pode não ter sido exatamente escassa, já que, pesquisando aqui ou ali, havia muitos trabalhos sobre anatomia humana e, em particular, sobre glândula pineal, produzidos até 1945. Segundo, é da natureza do debate científico que as informações tenham sido "altamente conflituosas". Faz parte do processo.
Muito provavelmente, algum livro da época foi consultado pelos editores da FEB ou levado à luz por consultores científicos, e das teses "conflituosas" uma delas foi abraçada por "André Luiz" para seu panfletarismo religioso travestido de ciência.
O fato de um assunto só ganhar "confirmação" anos depois não significa que ele não tenha sido discutido antes. Uma descoberta científica, muitas vezes, confirma hipóteses que são trabalhadas até mesmo duas ou três décadas antes. E é isso que provavelmente pode ter ocorrido com a glândula pineal.
Mesmo sem conclusões rigorosamente definitivas, as justificativas que apresentamos já são suficientes para desqualificar a tese de "pioneirismo" de "André Luiz". O que ocorreu, em Missionários da Luz, não foi um pioneirismo de até seis décadas, mas uma defasagem de, pelo menos, dois anos.
Não foi desta vez que Chico Xavier pôde ser aceito pela comunidade científica. Sentimos muito.
Consta-se que, no Brasil de 1943-1945, era conhecido nos meios acadêmicos especializados em anatomia humana, um antigo livro de 1920 dos anatomistas Alfredo Monteiro e Benjamin Batista, Manual de Anatomia Humana, mas falta saber se este livro contou com uma edição revista e atualizada nos anos 1940 ou algum outro livro na época.
O que é certo é que os autores do trabalho não tiveram acesso a livros científicos originais, produzidos até mais ou menos 1943 e 1944, se supormos a "coleta de informações" para o livro Missionários da Luz, daí eles terem um conhecimento superficial e vago do que havia sido produzido de informações sobre a glândula pineal na época do livro de 1945.
60 ANOS DE PIONEIRISMO? NÃO SERIAM DOIS OU MAIS ANOS DE DEFASAGEM?
Os autores do trabalho sobre "André Luiz" não têm, portanto, autoridade para garantir se os conhecimentos "complexos" descritos em Missionários da Luz eram realmente pioneiros ou inéditos, se não tiveram contato com as obras produzidas antes de 1945, que ofereceriam respostas para o suposto pioneirismo do fictício autor "espiritual".
O que eles entendem como pioneirismo de 13 a 63 anos dos "conhecimentos de André Luiz", em relação a dados científicos conhecidos, provavelmente é, na verdade, uma defasagem de dois ou mais anos, porque os dados podem ser, aparentemente, oficialmente publicados em fontes posteriores, mas isso não significa que eles não tenham sido discutidos nem apreciados.
Questões como a liberação de hormônios pela glândula pineal ou funções atribuídas a esse órgão referentes ao controle dos impulsos emocionais são assuntos já descritos bem antes de 1945, descritos em passagens que não constam nas referências pesquisadas pelos autores.
Estas referências citam trabalhos dos anos 1940 de forma superficial, como é de praxe. Elas não iriam descrever rigorosamente todo o conteúdo das antigas obras, o que criou uma "pegadinha" nos autores do trabalho da UFJF de que os "conhecimentos de André Luiz" não foram analisados pela comunidade científica da época de Missionários da Luz.
Tais conhecimentos "complexos" foram discutidos na época, e muito, e muitos conceitos atribuídos ao "pioneirismo" do fictício "espírito", na verdade, eram conhecidos, sim, na bibliografia "extremamente escassa e altamente conflituosa" sobre o assunto. E até que ponto essa bibliografia era escassa e apresentava conflitos?
Isso os autores foram bastante superficiais. Primeiro, a bibliografia pode não ter sido exatamente escassa, já que, pesquisando aqui ou ali, havia muitos trabalhos sobre anatomia humana e, em particular, sobre glândula pineal, produzidos até 1945. Segundo, é da natureza do debate científico que as informações tenham sido "altamente conflituosas". Faz parte do processo.
Muito provavelmente, algum livro da época foi consultado pelos editores da FEB ou levado à luz por consultores científicos, e das teses "conflituosas" uma delas foi abraçada por "André Luiz" para seu panfletarismo religioso travestido de ciência.
O fato de um assunto só ganhar "confirmação" anos depois não significa que ele não tenha sido discutido antes. Uma descoberta científica, muitas vezes, confirma hipóteses que são trabalhadas até mesmo duas ou três décadas antes. E é isso que provavelmente pode ter ocorrido com a glândula pineal.
Mesmo sem conclusões rigorosamente definitivas, as justificativas que apresentamos já são suficientes para desqualificar a tese de "pioneirismo" de "André Luiz". O que ocorreu, em Missionários da Luz, não foi um pioneirismo de até seis décadas, mas uma defasagem de, pelo menos, dois anos.
Não foi desta vez que Chico Xavier pôde ser aceito pela comunidade científica. Sentimos muito.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Chico Xavier e o sonho "carnavalesco" da "Cidade da Luxúria"
Sempre os sonhos. Francisco Cândido Xavier é o único que, quando sonha, sofre "desdobramento astral" e tudo aquilo que ele sonha é "profecia" e "alerta para a humanidade". Somo se ele fosse tomado de superpoderes, como ente sobrenatural que acabou sendo considerado pelos seguidores.
As pessoas vão reclamar. Mas elas mesmas consideram Chico Xavier "sobrenatural", sem admitir que ele seja. Isso porque, para elas, Chico Xavier é o único que erra muito e erra feio e "sempre está certo", é "espírito puro" com suas imperfeições graves e o único capaz de desafiar os argumentos da lógica e do bom senso, contraria Allan Kardec e é considerado como "fiel" a este.
Fazer o quê? Chico Xavier, o homem das contradições, o vice-Deus de todo o universo, na visão de seus defensores, que se dizem altamente espiritualizados mas movem suas paixões materialistas no endeusamento de um estereótipo do "bom caipira" depois convertido no "velhinho humilde". Apesar de toda alegação espiritualista, são paixões apegadas ao mais puro materialismo.
Pois o Chico Xavier dotado de superpoderes havia comunicado ao amigo Newton Boechat um sonho - o tal "desdobramento espiritual" - que teve em 1950 quando ele foi "levado" pelo mentor Emmanuel para conhecer uma "Cidade da Luxúria" cujo cenário pode aludir hoje ao Carnaval de Salvador, com sua viscosa e enjoativa axé-music. Ou então um Rio Parada Funk. Diz Newton Boechat:
"Em um dos constantes desdobramentos astrais ocorridos com nosso querido médium, durante o sono, Emmanuel conduziu o duplo-astral de Chico Xavier a uma imensa cidade espiritual, situada na região do Umbral. Esta lhe pareceu extremamente inferior e bastante próxima da crosta planetária. Era uma cidade estranha não só pelo aspecto desarmônico e antiestético, como pelas manifestações de luxúria, degradação de costumes e sensualidade de seus habitantes, exibidas em todos os logradouros públicos, ruas, praças, etc. Emmanuel informou ao Chico que aquela vasta comunidade espiritual era governada por entidades mentalmente vigorosas porém negativas em termos de ética e sentimentos humanos. Eram estes maiores que davam as ordens e faziam-se obedecer, exercendo sobre aquelas entidades um poder do tipo das sugestões hipnóticas, ao qual tais Espíritos estariam submetidos, ainda mesmo depois de reencarnados. Pelas ruas da referida cidade estranha, desfilavam, de maneira semelhante a cordões carnavalescos, multidões compostas de entidades que se esmeravam em exibições de natureza pornográfica, erótica e debochada. Os maiorais eram conduzidos em andores ou tronos colocados sobre carros alegóricos, cujos formatos imitavam os órgãos sexuais masculinos e femininos. Uma euforia generalizada parecia dominar aquelas criaturas, ou mais aproximadamente, assistia-se a uma “festa de despedida” de uma multidão revelando a certeza da aproximação de um fim inexorável, que extinguiria a situação cômoda até então usufruída por todos. De fato, aqueles Espíritos, sem exceção, haviam recebido um aviso de que estava determinado, de maneira irrevogável pelos “Planos da Espiritualidade Superior”, o seu próximo reingresso à vida carnal na Terra. A esse decreto inapelável não iriam escapar nem os próprios maiorais".
Narrativa de cunho materialista. Uma cidade tomada de luxúria e que é localizada no centro da Terra. Líderes moralmente inferiores mandando nas demais pessoas. Pessoas desfilando com exibições de natureza pornográfica e debochada. Suposto fim inexorável pelo anúncio de retorno ao mundo carnal, mediante "decreto inapelável dos planos da espiritualidade superior".
Pode até ser que a turma da "Cidade da Luxúria", se de fato existiu - devemos prestar atenção que é um sonho, que pode ser de Chico Xavier ou de um mendigo, é apenas um sonho de quem dorme - , ganhou seu equivalente nas pessoas que se reúnem no Carnaval de Salvador, ou em eventos como a Festa de Barretos ou o Rio Parada Funk, ou qualquer evento que os grandes chefões da mídia definem como "balada".
SABE NADA, INOCENTE - O É O Tchan tem seus sucessos livremente expostos para o público infantil do "Coração do Mundo", tendo sido tocado até em evento filantrópico "espírita".
No entanto, não houve "decreto inapelável" nem "Planos da Espiritualidade Superior" que determinaram a ida dessas pessoas, inclusive os chamados "maiores" (os chefões de toda a baderna onírica sonhada por Xavier), mas uma baixa sintonia espiritual brasileira, trazida sobretudo pela ditadura militar e seus apoiadores, que "trouxeram" a patota toda para o Brasil de hoje.
CONDENAÇÃO OU APOLOGIA?
O que se observa no suposto sonho "carnavalesco" de Chico Xavier é o sentido ambíguo da festa lembrar o Carnaval de Salvador ou um Rio Parada Funk, talvez o misto dos dois. Mas, à primeira vista, isso traz uma grande dúvida sobre se o sonho era para atribuir o fim de uma manifestação luxuriosa, ou o começo de sua implantação no "Coração do Mundo" brasileiro.
Soa muito ambíguo que o sonho sugira o fim dessa fase toda, quando sabemos que o "espiritismo" brasileiro sempre estimulou ou consentiu que muitas condições sociais para tais deslizes de ordem moral e sócio-cultural aconteçam. O "espiritismo" apoiou de maneira direta ou indireta, mesmo com seu moralismo rigoroso.
Só que não vemos o tal "fim inexorável", muito pelo contrário. O que vemos é a expansão dos piores valores, decisões, procedimentos e pontos de vista, num crescente e diversificado retrocesso social, sob vários ramos da atividade humana, a quatro anos da tal "data-limite" que celebrava a antiga fantasia de Chico Xavier de ver seu "País das Maravilhas" virar a nação mais poderosa do mundo.
Aliás, se alguém observar, no caso do "funk" (manifestação extrema dos piores instintos humanos no Brasil), o que elites de antropólogos, ativistas, jornalistas e famosos falam sobre o gênero, eles usam dos mesmos "bons argumentos" que Chico Xavier usa para prever o "reino de amor" que sua suposta profecia da "data-limite" alega prever para o Brasil do futuro.
Já se viu famílias, algumas delas "espíritas", que faziam desfiles escolares, de cunho filantrópico, que tocavam sucessos do É O Tchan diante de criancinhas desavisadas por pais que, alegremente, despejavam esse ícone do "melhor da música baiana" nos ouvidos ingênuos da criançada.
Que "Coração do Mundo" é esse? Será que Emmanuel estava feliz da vida ao saber que a "Cidade da Luxúria" que se situava no centro da Terra - como se os espíritos embrutecidos, tomados de interesses materialistas no além-túmulo, aguentassem viver num forno aquecido, num equivalente "espírita" do Inferno católico - iria ser extinta e seu povo se espalhar para todo o Brasil?
E o que vai resolver o problema dos excessos cometidos? Oração em silêncio? Servir aos nossos algozes, que se divertem com tais excessos? Condescendência e confiança passiva no "tempo"? Engolir sapos? Ou então o jeito é aderir a essa farra toda e depois ler um daqueles terríveis livros de Emmanuel que trazem ainda mais azar para nossas vidas?
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
A relação de Chico Xavier com a doutrina de Allan Kardec
Oficialmente, o anti-médium Francisco Cândido Xavier é considerado o maior mestre do chamado "espiritismo kardecista", o que muitos de seus seguidores entendem que Chico era o maior especialista na doutrina de Allan Kardec no Brasil.
Houve quem alegasse que Chico Xavier estudou e leu bastante os livros de Allan Kardec, que os chamados "espíritas" brasileiros definem como "pentateuco", se utilizando de um jargão dos sacerdotes católicos.
Segundo eles, o "pentateuco" seriam os cinco livros de Allan Kardec que os seguidores menos inclinados e os leigos se limitam a ler, quando o fazem: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e O Inferno e A Gênese.
A tese do "pentateuco", por estranho que pareça para uns, é bastante discutível e o termo não é aceito pelos espíritas autênticos. A seleção também discrimina o trabalho que Kardec fez na Revista Espírita, nos quais explica detalhadamente muitos dos pontos de vista trazidos nos cinco livros, e apresenta outros que enriqueceram a análise dos fenômenos espíritas.
Outra obra discriminada é outro livro básico, O Que É o Espiritismo?, que tem o objetivo inverso mas complementar da Revista Espírita - que aprofunda a análise kardeciana e explica pontos polêmicos - , já que foi um livro que simplificava as análises descritas nos cinco livros básicos, sendo a mais básica das obras básicas, feito para iniciantes e leigos.
CHICO XAVIER NUNCA LEU KARDEC
É uma grande fantasia acreditar que Chico Xavier estudou profundamente os livros de Allan Kardec, já que ele se identificava melhor com o religiosismo do neo-catolicismo prometido por Jean-Baptiste Roustaing em seus volumes de Os Quatro Evangelhos (três, na edição francesa, e quatro, na edição brasileira da FEB, traduzida por Guillon Ribeiro, o mesmo que "suavizou" Kardec).
É só verificar os livros de Xavier, que na sua essência cometem sérias contradições com as obras kardecianas, criando sérios problemas com a abordagem da Doutrina Espírita, não apenas com seu religiosismo extremo, mas também por procedimentos contrários à lógica espírita.
Embora a imagem oficial que se tem de Chico Xavier é de alguém com uma relação ambígua com a obra de Allan Kardec, supostamente como a de um homem que ao mesmo tempo seguiu o kardecismo e o interpretou mal, a verdade é que a relação de Chico com a obra kardeciana foi praticamente nula.
O que aconteceu é que, diante dos tendenciosismos da Federação "Espírita" Brasileira, Chico Xavier foi induzido eventualmente a defender a obra de Allan Kardec, dando uma falsa impressão de que apreciava os livros do professor lionês.
Diante das polêmicas causadas pelas deturpações da Doutrina Espírita, Chico Xavier evocava Allan Kardec apenas para agradar amigos e não decepcionar, sobretudo, os espíritas autênticos como José Herculano Pires, amigo de Chico mas que não compartilhava nem apoiava muitos de seus erros. Amigos, amigos, negócios à parte.
domingo, 15 de fevereiro de 2015
A "alta cultura" do Brasil que quer ser o "Coração do Mundo"
A FUNQUEIRA ANITTA REBOLANDO PARA CRIANÇAS - Cadê a educação das "crianças-índigo"?
Uma das promessas feitas pela "maravilhosa profecia" de Francisco Cândido Xavier é que o Brasil viverá uma grande revolução no âmbito da cultura, em que grandes artistas virão com sua melhor música, a espalhar o melhor do nosso patrimônio cultural não só para os brasileiros, mas também para o mundo inteiro.
Vendo a situação como está hoje, a quatro anos da "data-limite", só rindo para não chorar, porque estamos em um momento extremamente o contrário do que Chico Xavier garantiu, através do relato de seu sonho, que iria acontecer em breve no nosso país.
Vivemos uma situação de degradação cultural que parece não acabar. Mesmo quando há, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, um desgaste muito grande de ídolos da axé-music, do "forró eletrônico" e do "sertanejo", o país parece ainda agravar sua situação, já que temos um quadro pior do que se imagina.
Vivemos uma relação entre os poderes das corporações midiáticas e da indústria do entretenimento, aliados à degradação educacional, que faz com que nossos jovens ou mesmo adultos, nossos pobres ou mesmo os mais abastados, a menosprezarem o nosso patrimônio cultural.
As pessoas não se interessam por literatura e, quando interessam, leem livros de auto-ajuda ou best sellers tipo aventuras fantasiosas ou diários sobre frivolidades. E, se observarmos que a chamada literatura "espírita" é extremamente ruim - Chico Xavier e Divaldo Franco estão dentro - , a coisa chega ao ponto da calamidade pública.
Grandes artistas, grandes intelectuais e grandes cientistas do país existem, mas eles não têm visibilidade, são desprezados e até hostilizados nas mídias sociais e não têm verbas para furar o bloqueio do prestígio e da popularidade fácil.
Pior, quando pessoas de grande valor morrem, podendo ser Sylvia Telles, Leila Diniz, Renato Russo, Glauber Rocha, Milton Santos ou José Wilker, o Brasil entra em prejuízo, porque eles podem até serem admirados de uma forma ou de outra, mas não deixaram uma sólida geração de seguidores.
Em contrapartida, há uma multidão de sub-celebridades que querem permanecer em evidência por qualquer bobagem, pessoas sem talento que tentam manter a fama se autopromovendo até mesmo por seus defeitos e escândalos, os mais diversos e constrangedores.
Até perguntamos se a expressão cultural "protegida" pelas "boas vibrações" do "coração do mundo" seguem a perspectiva "carnavalesca", da inversão de valores, e que a "alta cultura" que prevalece é justamente o rol de baixarias, futilidades e leviandades que se observa sob o rótulo de "cultura popular" no Brasil.
Furar o cerco de empresários do entretenimento e do poder midiático associado, e enfrentar uma juventude furiosa que vê na breguice e na imbecilização cultural em geral como estímulo para suas catarses pessoais é uma tarefa árdua e sujeita até mesmo a represálias, que poderiam chegar ao ponto de receber vírus na Internet ou ser assassinado por jovens riquinhos fãs de "funk".
CHITÃOZINHO & XOXORÓ - A canastrice da dupla é o máximo que encontramos de "sofisticado" e "erudito" na cultura musical dominante no país.
Quando se permite alguma expressão da cultura de verdade, a própria mídia e o mercado trabalham como se fosse algo velho, ultrapassado, liberado para uma degustação pelo avesso, como é o caso de nossa belíssima literatura, com grandes escritores reduzidos a meros autores de frases ou curtos parágrafos com lições "pragmáticas" para a vida humana.
Isso sem falar da Música Popular Brasileira que hoje se perde em homenagens intermináveis, como se estivesse em processo de despedida para se extinguir de vez. E, o que é pior, nosso rico patrimônio cultural, mesmo aquele feito nas senzalas e ocas, hoje está condenado a mofar nos museus ou, quando muito, a ser apreciado por elites cada vez menores de especialistas.
A coisa está tão deplorável que o máximo de "sofisticação" e "erudição" que temos em notícia na grande mídia está na breguice sonora de uma dupla como Chitãozinho e Xororó, incapaz de lançar um sucesso expressivo de sua lavra, e usando suas vozes estridentes para cantar sob orquestra ou, agora, fazer covers do repertório do respeitado Antônio Carlos Jobim.
A nossa literatura também não é confiável, já que mesmo a blogosfera é algo que precisa selecionar como quem cata arroz para separar seus melhores grãos de grãos ruins ou de outros ingredientes como alpistes, pedras e outros, para não dizer os grãos que servem de casulo para pequenos insetos.
Muitos dos textos mais parecem um relato de banalidades sem importância, ou então de meros dicionários de gírias e costumes da moda, sem algo que acrescentasse à nossa vida, muito longe do que fazia Machado de Assis, Raul Pompéia e outros mestres do passado.
"CRIANÇA-ÍNDIGO"? - Funqueiro MC Pedrinho é a "grande sensação" do momento, interpretando baixarias pornográficas com apenas 12 anos.
E se incomoda a pseudo-sofisticação musical de Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano e tantos outros, eis que a noção de "novidade" está associada a uma criança de 12 anos que, tornando-se intérprete de "funk", despeja no microfone baixarias de cunho pornográfico e palavrões.
MC Pedrinho é esse menino, cujo exemplo frustra as expectativas de haver uma "criança-índigo" da forma como acreditam os "espíritas" brasileiros, um líder esclarecido e muito inteligente a lançar valores edificantes e grandiosos para a humanidade.
Mas num país em que uma funqueira marcada por baixarias grotescas como Valesca Popozuda quer agora se passar por "refinada", como se fosse fácil uma discípula de Carla Perez (de quem é sósia) e Tati Quebra-Barraco se tornar uma "Audrey Hepburn dos trópicos", há quem diga, como muitos intelectuais ditos "renomados", que MC Pedrinho é apenas um "novo Gregório de Matos" a causar polêmica com seu sucesso.
Enquanto isso, a "boa poesia" musical está em canções que exaltam a bebedeira, o sexo impulsivo e grosseiro, num mercado em que existem mulheres que vivem só de mostrar o corpo, mercado cujos princípios a serem defendidos são os piores possíveis para nossa sociedade, sendo empurrados até para o público de formação universitária.
Vivemos um vazio de valores e um mercado e uma mídia viciados. e o Brasil não parece sair disso, por causa de todo um lobby que envolve acadêmicos, executivos de mídia, empresários de agência de famosos (que empregam sub-celebridades), jornalistas e ativistas sociais, que se comprometem a defender a imbecilização cultural por interesses que lhes são estratégicos.
Afinal, diante de uma multidão ao mesmo tempo submissa e idiotizada, as elites faturam mais, o mercado se movimenta, é mais dinheiro para um grupo privilegiado de pessoas, enquanto o povo é desestimulado a questionar o que lhe é imposto como "sucesso" ou como "modelo de personalidade" a ser seguido, num contexto em que até as gírias são impostas pelo poder midiático.
E o nosso "profeta" Chico Xavier com isso? Ele tem boa parte na culpa, porque pedia para nós orarmos em silêncio diante dos absurdos e adversidades da vida, e que soframos o pior sob o silêncio da prece.
Aí ele prometia que o "juízo do tempo" iria cuidar de nossos algozes. Mas aí eles permanecem no poder, aumentam privilégios e sobrevivem até a avalanches de escândalos e encrencas, demorando uns 100 ou 200 anos (uma ou duas encarnações) para sofrerem as consequências de seus atos.
Eles mantém o poder até para promover a degradação cultural e torná-la autossustentável às custas de muito marketing e uma intensa blindagem de intelectuais e celebridades. E depois vão os "espíritas" dizerem que nossa melhor cultura está em alta e que o país está pronto para comandar o mundo.
Uma das promessas feitas pela "maravilhosa profecia" de Francisco Cândido Xavier é que o Brasil viverá uma grande revolução no âmbito da cultura, em que grandes artistas virão com sua melhor música, a espalhar o melhor do nosso patrimônio cultural não só para os brasileiros, mas também para o mundo inteiro.
Vendo a situação como está hoje, a quatro anos da "data-limite", só rindo para não chorar, porque estamos em um momento extremamente o contrário do que Chico Xavier garantiu, através do relato de seu sonho, que iria acontecer em breve no nosso país.
Vivemos uma situação de degradação cultural que parece não acabar. Mesmo quando há, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, um desgaste muito grande de ídolos da axé-music, do "forró eletrônico" e do "sertanejo", o país parece ainda agravar sua situação, já que temos um quadro pior do que se imagina.
Vivemos uma relação entre os poderes das corporações midiáticas e da indústria do entretenimento, aliados à degradação educacional, que faz com que nossos jovens ou mesmo adultos, nossos pobres ou mesmo os mais abastados, a menosprezarem o nosso patrimônio cultural.
As pessoas não se interessam por literatura e, quando interessam, leem livros de auto-ajuda ou best sellers tipo aventuras fantasiosas ou diários sobre frivolidades. E, se observarmos que a chamada literatura "espírita" é extremamente ruim - Chico Xavier e Divaldo Franco estão dentro - , a coisa chega ao ponto da calamidade pública.
Grandes artistas, grandes intelectuais e grandes cientistas do país existem, mas eles não têm visibilidade, são desprezados e até hostilizados nas mídias sociais e não têm verbas para furar o bloqueio do prestígio e da popularidade fácil.
Pior, quando pessoas de grande valor morrem, podendo ser Sylvia Telles, Leila Diniz, Renato Russo, Glauber Rocha, Milton Santos ou José Wilker, o Brasil entra em prejuízo, porque eles podem até serem admirados de uma forma ou de outra, mas não deixaram uma sólida geração de seguidores.
Em contrapartida, há uma multidão de sub-celebridades que querem permanecer em evidência por qualquer bobagem, pessoas sem talento que tentam manter a fama se autopromovendo até mesmo por seus defeitos e escândalos, os mais diversos e constrangedores.
Até perguntamos se a expressão cultural "protegida" pelas "boas vibrações" do "coração do mundo" seguem a perspectiva "carnavalesca", da inversão de valores, e que a "alta cultura" que prevalece é justamente o rol de baixarias, futilidades e leviandades que se observa sob o rótulo de "cultura popular" no Brasil.
Furar o cerco de empresários do entretenimento e do poder midiático associado, e enfrentar uma juventude furiosa que vê na breguice e na imbecilização cultural em geral como estímulo para suas catarses pessoais é uma tarefa árdua e sujeita até mesmo a represálias, que poderiam chegar ao ponto de receber vírus na Internet ou ser assassinado por jovens riquinhos fãs de "funk".
CHITÃOZINHO & XOXORÓ - A canastrice da dupla é o máximo que encontramos de "sofisticado" e "erudito" na cultura musical dominante no país.
Quando se permite alguma expressão da cultura de verdade, a própria mídia e o mercado trabalham como se fosse algo velho, ultrapassado, liberado para uma degustação pelo avesso, como é o caso de nossa belíssima literatura, com grandes escritores reduzidos a meros autores de frases ou curtos parágrafos com lições "pragmáticas" para a vida humana.
Isso sem falar da Música Popular Brasileira que hoje se perde em homenagens intermináveis, como se estivesse em processo de despedida para se extinguir de vez. E, o que é pior, nosso rico patrimônio cultural, mesmo aquele feito nas senzalas e ocas, hoje está condenado a mofar nos museus ou, quando muito, a ser apreciado por elites cada vez menores de especialistas.
A coisa está tão deplorável que o máximo de "sofisticação" e "erudição" que temos em notícia na grande mídia está na breguice sonora de uma dupla como Chitãozinho e Xororó, incapaz de lançar um sucesso expressivo de sua lavra, e usando suas vozes estridentes para cantar sob orquestra ou, agora, fazer covers do repertório do respeitado Antônio Carlos Jobim.
A nossa literatura também não é confiável, já que mesmo a blogosfera é algo que precisa selecionar como quem cata arroz para separar seus melhores grãos de grãos ruins ou de outros ingredientes como alpistes, pedras e outros, para não dizer os grãos que servem de casulo para pequenos insetos.
Muitos dos textos mais parecem um relato de banalidades sem importância, ou então de meros dicionários de gírias e costumes da moda, sem algo que acrescentasse à nossa vida, muito longe do que fazia Machado de Assis, Raul Pompéia e outros mestres do passado.
"CRIANÇA-ÍNDIGO"? - Funqueiro MC Pedrinho é a "grande sensação" do momento, interpretando baixarias pornográficas com apenas 12 anos.
E se incomoda a pseudo-sofisticação musical de Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano e tantos outros, eis que a noção de "novidade" está associada a uma criança de 12 anos que, tornando-se intérprete de "funk", despeja no microfone baixarias de cunho pornográfico e palavrões.
MC Pedrinho é esse menino, cujo exemplo frustra as expectativas de haver uma "criança-índigo" da forma como acreditam os "espíritas" brasileiros, um líder esclarecido e muito inteligente a lançar valores edificantes e grandiosos para a humanidade.
Mas num país em que uma funqueira marcada por baixarias grotescas como Valesca Popozuda quer agora se passar por "refinada", como se fosse fácil uma discípula de Carla Perez (de quem é sósia) e Tati Quebra-Barraco se tornar uma "Audrey Hepburn dos trópicos", há quem diga, como muitos intelectuais ditos "renomados", que MC Pedrinho é apenas um "novo Gregório de Matos" a causar polêmica com seu sucesso.
Enquanto isso, a "boa poesia" musical está em canções que exaltam a bebedeira, o sexo impulsivo e grosseiro, num mercado em que existem mulheres que vivem só de mostrar o corpo, mercado cujos princípios a serem defendidos são os piores possíveis para nossa sociedade, sendo empurrados até para o público de formação universitária.
Vivemos um vazio de valores e um mercado e uma mídia viciados. e o Brasil não parece sair disso, por causa de todo um lobby que envolve acadêmicos, executivos de mídia, empresários de agência de famosos (que empregam sub-celebridades), jornalistas e ativistas sociais, que se comprometem a defender a imbecilização cultural por interesses que lhes são estratégicos.
Afinal, diante de uma multidão ao mesmo tempo submissa e idiotizada, as elites faturam mais, o mercado se movimenta, é mais dinheiro para um grupo privilegiado de pessoas, enquanto o povo é desestimulado a questionar o que lhe é imposto como "sucesso" ou como "modelo de personalidade" a ser seguido, num contexto em que até as gírias são impostas pelo poder midiático.
E o nosso "profeta" Chico Xavier com isso? Ele tem boa parte na culpa, porque pedia para nós orarmos em silêncio diante dos absurdos e adversidades da vida, e que soframos o pior sob o silêncio da prece.
Aí ele prometia que o "juízo do tempo" iria cuidar de nossos algozes. Mas aí eles permanecem no poder, aumentam privilégios e sobrevivem até a avalanches de escândalos e encrencas, demorando uns 100 ou 200 anos (uma ou duas encarnações) para sofrerem as consequências de seus atos.
Eles mantém o poder até para promover a degradação cultural e torná-la autossustentável às custas de muito marketing e uma intensa blindagem de intelectuais e celebridades. E depois vão os "espíritas" dizerem que nossa melhor cultura está em alta e que o país está pronto para comandar o mundo.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Pesquisadores erram ao "comprovar" supostos dados científicos de "André Luiz"
Há dois anos, o "movimento espírita" havia comemorado a inclusão, sem revisão, de um artigo em inglês de acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que teve como foco principal um dos livros escritos sob a grife "André Luiz", Missionários da Luz, de 1945.
O livro, espécie de "continuação" de Nosso Lar (1943), havia, segundo os autores Jorge Cecílio Daher Jr., Alessandra e Giancarlo Luccheti e outros, antecipado conhecimentos científicos que só seriam descobertos seis décadas depois.
A tese referente a Missionários da Luz foi publicada em 2011 numa publicação científica de segundo escalão, a Neuroendocrinology Letters, cujo portal aparentemente parou em 2013, sem apresentar qualquer atualização de conteúdo.
Embora eles analisassem ligeiramente várias obras do chamado "ciclo André Luiz", eles voltam sua atenção para o livro de 1945 e para dois capítulos, em que são descritos conceitos relacionados à gândula pineal, uma pequena glândula localizada no cérebro e que regula atividades como o sono e o desempenho sexual.
Os pesquisadores alegam que os conhecimentos descritos eram praticamente ignorados pela comunidade científica da época e que eram poucas as publicações referentes ao tema nos meios científicos e médicos.
De acordo com sua tese, o tema só começou a ser analisado "pra valer" na década de 1950, e o "pioneirismo" do suposto espírito de André Luiz é reforçado pelo fato de que Chico Xavier, que supostamente psicografou o livro, era de baixa escolaridade e não era especializado em assuntos de tal envergadura.
INCOERÊNCIAS
A tese, embora representasse, para o pessoal da Federação "Espírita" Brasileira, a consagração de Francisco Cândido Xavier nos meios científicos, apresenta uma série de incoerências. Não vamos mostrar aquelas de cunho estritamente científico, por não ser este blogue especializado em assuntos científicos, mas aquelas correspondentes ao histórico de pesquisas sobre glândula pineal.
Os autores da tese, ligados à mesma Universidade Federal de Juiz de Fora que tenta "confirmar" a suposta mediunidade de Xavier em relação às cartas de Jair Presente - apresentamos contradições aberrantes em duas cartas pesquisadas e ainda mandamos mensagem para a UFJF sobre tais equívocos - , erram quanto ao suposto ineditismo dos livros de André Luiz.
Embora eles admitam que o assunto da glândula pineal seja longamente analisado pela comunidade científica, eles erram ao defender que o assunto havia sido "pouco estudado" nos anos 1940 e que os "conhecimentos" trazidos por Missionários da Luz só seriam reconhecidos seis décadas depois.
Antes de mais nada, o assunto era analisado desde a Antiguidade grega, por volta do século 31 a. C., a partir de pesquisas dos pensadores Herófilo e Erasístrato, e os estudos se avançaram nos últimos tempos através dos estudos do filósofo e cientista francês René Descartes (1596-1650).
Descartes, um dos pensadores apreciados por Allan Kardec, era defensor da ideia de que a dúvida era o caminho mais seguro para procurar a verdade, criando assim uma linha de raciocínio que fez o pedagogo de Lyon criar as bases intelectuais da Doutrina Espírita, bases desprezadas pelos "espíritas" brasileiros.
No século XX, havia, sim, um amplo estudo sobre glândula pineal, envolvendo pesquisadores que vão desde o czeco Frantisek Karel Studnicka, nas primeiras décadas, até pesquisadores da década de 1940 como Gladstone, Wekeley e Bargmann.
Se, na interpretação dos pesquisadores da UFJF, as publicações referentes à glândula pineal eram "escassas", alegando terem sido menos que cem, isso não quer dizer que as ideias aparentemente trazidas por "André Luiz" tenham sido inéditas ou pioneiras.
Diante de tantas acusações de plágio dadas a Chico Xavier, de que seus livros teriam a colaboração de editores da FEB e de que um jovem chamado Waldo Vieira teria criado muitos traços pessoais do suposto médico espiritual, é possível inferir que algum desses livros dos anos 1940 teria servido de fonte para as "inéditas teses" de Missionários da Luz.
Quando ideias complexas passam tardiamente a ter conhecimento público, indo um pouco além da comunidade de especialistas, isso não quer dizer que elas tenham sido ignoradas ou pouco discutidas. Pelo contrário, elas levam tempo para chegarem ao público, diante de um intenso debate que sofrem entre mais de uma corrente de abordagem científica.
Pesquisas científicas levam tempo, seja para comprovar teses sobre o funcionamento do organismo, seja para criar remédios para curar doenças graves, seja para outro fim. Teses arrojadas já são transmitidas e descobertas em dada época, mas levam muito tempo para chegar ao público.
Por isso, a equipe que pesquisou o livro Missionários da Luz, alegando que "André Luiz" antecipou em seis décadas muitos conhecimentos científicos, simplesmente cometeu um sério erro, praticamente uma grande tolice.
Nossa constatação se deu porque esses conhecimentos já eram discutidos na época, pela comunidade científica, e apenas eram de conhecimento mais específico de seus cientistas, e provavelmente algum livro deles foi usado como fonte para as informações descritas em Missionários da Luz.
Mais uma vez, o "movimento espírita" perdeu na tentativa de fazer Chico Xavier ser aceito pela ciência. Acreditando que ganhou a causa, através de uma duvidosa tese acadêmica, os "espíritas" mais uma vez esbarraram em contradições que desqualificam os livros "psicografados", verdadeiros panfletos religiosos que se apresentam como pretensa ciência.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
O problema não é o discurso "positivo", mas o "outro lado"
CRUZADAS MEDIEVAIS - Forças bélicas e sanguinárias agindo "por amor ao Cristo".
Conhecendo a dócil narrativa da "data-limite" através de um sonho de Chico Xavier em 1969, as pessoas se transbordam de exagerado otimismo, achando que o Brasil, ao se tornar a "nação mais poderosa do planeta" diante de um "velho mundo" em ruínas, será o ingresso certo para o paraíso na Terra.
Conforme descrevemos, essas pessoas se sentiram ofendidas quando um vídeo anunciou que a mensagem oculta de Data-Limite Segundo Chico Xavier prevê uma futura teocracia nos moldes do que o Império Romano exerceu na Idade Média, uma supremacia ao mesmo tempo política e religiosa na chamada "comunidade das nações".
Elas se ofendem porque preferem acreditar que o "espiritismo" brasileiro simbolizado por Chico Xavier rompeu totalmente com o Catolicismo medieval e que está dotado de um "perfeito equilíbrio" entre ciência e religião de uma maneira sem precedentes na História da humanidade. Visão atraente, mas completamente fora da realidade.
Por debaixo dos panos, o "espiritismo" brasileiro manteve a essência do Catolicismo medieval, apenas eliminando o que havia de coercitivo. Apenas os "anéis" foram trocados, mas os dedos "espíritas" no Brasil são exatamente os mesmos dedos esboçados pelo Catolicismo fundado pelo imperador romano Constantino, há muitos séculos atrás.
Daí a preocupação grave do que existe por trás da "carinhosa profecia" do "sempre sábio" Francisco Cândido Xavier e suas "meigas palavras de amor". O grande problema não é o discurso positivo da "nação feliz" que se esboçará no futuro do planeta. O problema está no "outro lado", no que deve ser eliminado para abrir caminho para o "país dos sonhos".
EXEMPLOS TRÁGICOS
Já ouvimos essa conversa de nações que prometiam ser "modelo" para a humanidade e que viraram tiranias sanguinárias. E tudo isso partiu da ideia de que, para se construir um "novo reino", obstáculos teriam que ser eliminados.
Observamos as reportagens e parte do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, e constatamos que o que seus partidários mal conseguem disfarçar é que ações terroristas e catástrofes tendem, na avaliação deles, destruir o chamado "velho mundo" (Europa, EUA, Oriente Médio e restante da Ásia, além de parte da Oceania).
Isso é uma espécie de "holocausto" botado na conta da "Mãe Natureza" ou dos "reajustes espirituais" trazidos pelos "irmãozinhos sofredores" (eufemismo para espíritos de moral bastante grosseira ainda em ação na Terra), que derrubariam áreas que, mesmo bastante problemáticas, atingiram um certo grau de experiência evolutiva social, ainda que vivessem sérios prejuízos.
São áreas que variam da desilusão em relação aos descaminhos da sociedade capitalista ao desenvolvimento de propostas de sustentabilidade e qualidade de vida. Áreas com experiência social mais antiga seriam exterminadas, embora supostamente deixassem seu "legado" na nação brasileira através dos "refugiados".
A quatro anos da "data-limite", o que o Brasil recebeu de refugiados foram de cidadãos vindos do Haiti ou de países africanos em guerra que se amontoam em filas de emprego, já concorrendo com os próprios brasileiros que não conseguem arrumar trabalho.
O que derruba qualquer otimismo em relação ao sonho de Chico Xavier é a observação cautelosa de que exemplos de "nações predestinadas" representaram projetos totalitários que tantas dores e infortúnios causaram àqueles que não correspondiam ao projeto político e, por vezes, social e religioso, dos países em processo de dominação.
O próprio Império Romano, na Idade Média, fundou o Catolicismo que, em nome do "amor em Cristo", promoveu muitos genocídios e condenações injustas, usando as piores medidas punitivas, como as queimadas humanas, o enforcamento e o fuzilamento, como maneira de expulsar pessoas "incômodas" à "causa maior" simbolizada pela nação mais poderosa.
Depois, veio o imperialismo dos Estados Unidos da América, que exterminou povos "primitivos" e, em seguida, estabeleceu uma ascensão política, econômica e militar que causa até hoje sérios estragos, e que na década de 1980 chegou mesmo a financiar o banditismo e as ações terroristas que dizimaram ativistas de diversos movimentos e organizações sociais em países como a Guatemala, fora as ditaduras financiadas pela CIA e empresas estadunidenses.
Mas, pouco antes da consagração dos EUA, a Alemanha nazista se autoproclamava um projeto de "nação poderosa" que tinha seus valores "positivos", como a "superioridade" da "raça ariana" e do "povo alemão", com suas alegações de "desenvolvimento máximo de ordem intelectual e econômica".
E no que isso resultou? No efeito histórico de lembrança extremamente triste e chocante, com os campos de concentração acumulando cadáveres de gente inocente, por causa da origem judia que se tornou o "outro lado" que o nazismo considerava como "obstáculo a ser eliminado".
É esse o perigo do Brasil como "nação mais poderosa do planeta". O "espiritismo" brasileiro, capaz de "sumir" com Amauri Xavier, o próprio sobrinho do "renomado profeta" Chico Xavier, só porque denunciou irregularidades do tio e ameaçava denunciar a corrupção de lideranças "espíritas", poderá mostrar surpresas desagradáveis no futuro.
Daí que o problema não está na afirmação do país como "coração do mundo e pátria do Evangelho", mas no que irá definir como os "obstáculos" para serem derrubados. A desculpa de unificação de toda a diversidade cultural, intelectual e religiosa não é desculpa, porque todo movimento centralizador tem essa promessa.
O problema é quando as demais correntes de crenças, pensamentos e atividades culturais que se manifestam fora da "missão do Evangelho" do "espiritismo" brasileiro se constituírem num "obstáculo" à sua "hegemonia do amor". A partir dessa situação, se verá que, se de um lado há um "povo escolhido" para comandar o mundo, de outro haverá um "povo" a ser exterminado.
Daí o perigo que muitos não conseguem perceber, e que a História confirmou com exemplos dos mais cruéis.
Conhecendo a dócil narrativa da "data-limite" através de um sonho de Chico Xavier em 1969, as pessoas se transbordam de exagerado otimismo, achando que o Brasil, ao se tornar a "nação mais poderosa do planeta" diante de um "velho mundo" em ruínas, será o ingresso certo para o paraíso na Terra.
Conforme descrevemos, essas pessoas se sentiram ofendidas quando um vídeo anunciou que a mensagem oculta de Data-Limite Segundo Chico Xavier prevê uma futura teocracia nos moldes do que o Império Romano exerceu na Idade Média, uma supremacia ao mesmo tempo política e religiosa na chamada "comunidade das nações".
Elas se ofendem porque preferem acreditar que o "espiritismo" brasileiro simbolizado por Chico Xavier rompeu totalmente com o Catolicismo medieval e que está dotado de um "perfeito equilíbrio" entre ciência e religião de uma maneira sem precedentes na História da humanidade. Visão atraente, mas completamente fora da realidade.
Por debaixo dos panos, o "espiritismo" brasileiro manteve a essência do Catolicismo medieval, apenas eliminando o que havia de coercitivo. Apenas os "anéis" foram trocados, mas os dedos "espíritas" no Brasil são exatamente os mesmos dedos esboçados pelo Catolicismo fundado pelo imperador romano Constantino, há muitos séculos atrás.
Daí a preocupação grave do que existe por trás da "carinhosa profecia" do "sempre sábio" Francisco Cândido Xavier e suas "meigas palavras de amor". O grande problema não é o discurso positivo da "nação feliz" que se esboçará no futuro do planeta. O problema está no "outro lado", no que deve ser eliminado para abrir caminho para o "país dos sonhos".
EXEMPLOS TRÁGICOS
Já ouvimos essa conversa de nações que prometiam ser "modelo" para a humanidade e que viraram tiranias sanguinárias. E tudo isso partiu da ideia de que, para se construir um "novo reino", obstáculos teriam que ser eliminados.
Observamos as reportagens e parte do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, e constatamos que o que seus partidários mal conseguem disfarçar é que ações terroristas e catástrofes tendem, na avaliação deles, destruir o chamado "velho mundo" (Europa, EUA, Oriente Médio e restante da Ásia, além de parte da Oceania).
Isso é uma espécie de "holocausto" botado na conta da "Mãe Natureza" ou dos "reajustes espirituais" trazidos pelos "irmãozinhos sofredores" (eufemismo para espíritos de moral bastante grosseira ainda em ação na Terra), que derrubariam áreas que, mesmo bastante problemáticas, atingiram um certo grau de experiência evolutiva social, ainda que vivessem sérios prejuízos.
São áreas que variam da desilusão em relação aos descaminhos da sociedade capitalista ao desenvolvimento de propostas de sustentabilidade e qualidade de vida. Áreas com experiência social mais antiga seriam exterminadas, embora supostamente deixassem seu "legado" na nação brasileira através dos "refugiados".
A quatro anos da "data-limite", o que o Brasil recebeu de refugiados foram de cidadãos vindos do Haiti ou de países africanos em guerra que se amontoam em filas de emprego, já concorrendo com os próprios brasileiros que não conseguem arrumar trabalho.
O que derruba qualquer otimismo em relação ao sonho de Chico Xavier é a observação cautelosa de que exemplos de "nações predestinadas" representaram projetos totalitários que tantas dores e infortúnios causaram àqueles que não correspondiam ao projeto político e, por vezes, social e religioso, dos países em processo de dominação.
O próprio Império Romano, na Idade Média, fundou o Catolicismo que, em nome do "amor em Cristo", promoveu muitos genocídios e condenações injustas, usando as piores medidas punitivas, como as queimadas humanas, o enforcamento e o fuzilamento, como maneira de expulsar pessoas "incômodas" à "causa maior" simbolizada pela nação mais poderosa.
Depois, veio o imperialismo dos Estados Unidos da América, que exterminou povos "primitivos" e, em seguida, estabeleceu uma ascensão política, econômica e militar que causa até hoje sérios estragos, e que na década de 1980 chegou mesmo a financiar o banditismo e as ações terroristas que dizimaram ativistas de diversos movimentos e organizações sociais em países como a Guatemala, fora as ditaduras financiadas pela CIA e empresas estadunidenses.
Mas, pouco antes da consagração dos EUA, a Alemanha nazista se autoproclamava um projeto de "nação poderosa" que tinha seus valores "positivos", como a "superioridade" da "raça ariana" e do "povo alemão", com suas alegações de "desenvolvimento máximo de ordem intelectual e econômica".
E no que isso resultou? No efeito histórico de lembrança extremamente triste e chocante, com os campos de concentração acumulando cadáveres de gente inocente, por causa da origem judia que se tornou o "outro lado" que o nazismo considerava como "obstáculo a ser eliminado".
É esse o perigo do Brasil como "nação mais poderosa do planeta". O "espiritismo" brasileiro, capaz de "sumir" com Amauri Xavier, o próprio sobrinho do "renomado profeta" Chico Xavier, só porque denunciou irregularidades do tio e ameaçava denunciar a corrupção de lideranças "espíritas", poderá mostrar surpresas desagradáveis no futuro.
Daí que o problema não está na afirmação do país como "coração do mundo e pátria do Evangelho", mas no que irá definir como os "obstáculos" para serem derrubados. A desculpa de unificação de toda a diversidade cultural, intelectual e religiosa não é desculpa, porque todo movimento centralizador tem essa promessa.
O problema é quando as demais correntes de crenças, pensamentos e atividades culturais que se manifestam fora da "missão do Evangelho" do "espiritismo" brasileiro se constituírem num "obstáculo" à sua "hegemonia do amor". A partir dessa situação, se verá que, se de um lado há um "povo escolhido" para comandar o mundo, de outro haverá um "povo" a ser exterminado.
Daí o perigo que muitos não conseguem perceber, e que a História confirmou com exemplos dos mais cruéis.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Crianças-índigo: uma forma de discriminação?
ILUSTRAÇÃO MÍSTICA SOBRE A IDEIA DE CRIANÇA-ÍNDIGO
Há, no chamado "movimento espírita" brasileiro, uma corrente mais próxima do misticismo esotérico (do qual um dos expoentes seria uma misteriosa figura chamada Ramatis), que defende a tese de que estariam se consolidando uma geração de pessoas "evoluídas" que iriam liderar a evolução da humanidade na Terra.
Essa corrente, da qual se respalda o anti-médium baiano Divaldo Franco, busca superestimar um mito que, nos EUA, foi criado por um ex-casal dotado de imaginação mística e lançado para vender livros às custas de pretenso profetismo.
Esse mito é o das "crianças-índigo". O antigo casal, hoje separado, é o radialista e técnico em áudio Lee Carroll e a cantora Jan Tober. Carroll disse que recebeu, em 1989, uma mensagem de uma entidade extra-terrestre chamada Kryon, tida como "de máxima evolução", que teria anunciado a chegada de "mensageiros" que promoveriam a evolução humana na Terra.
A ideia gerou vários livros, que viraram sucesso de vendas, e as ideias foram apreciadas e sistematizadas por Nancy Ann Tappe, parapsicóloga, também norte-americana. Ela estabeleceu os conceitos do que se entende como "criança-índigo" e "criança-cristal".
A "criança-índigo" seria um estágio de "semi-evolução", em relação à "criança-cristal", considerada de "evolução máxima". Mas ambos seriam atribuídos à "inteligência sofisticada" e uma personalidade "diferenciada", sendo a índigo mais "rebelde" e a cristal mais "espiritualista".
Os dois tipos seriam associados a pessoas hiperativas, que seriam capazes de exercer as mais diversas atividades, com profunda inclinação intelectual ou artística e de uma evolução moral peculiar, Sua inteligência se manifestaria desde a infância e, cronologicamente, teriam nascido a partir de 1970.
A tese é rejeitada por especialistas em pediatria e psicologia infantil, por não apresentar embasamento científico e pela compreensão de caráter eminentemente místico. Além disso, não existe uma clareza sobre vários aspectos das pessoas "índigo" ou "cristais", um termo tão atraente quanto o termo "alfa" atribuído às mulheres dotadas de sofisticada inteligência e sensibilidade.
PRECONCEITO CONTRA INTELIGENTES?
No Brasil, a tese é associada às pregações verborrágicas de Divaldo Franco, famoso pelo tom professoral com que realiza suas palestras, fazendo à sua maneira a missão do anti-médium (que rejeita a função intermediária do médium para ser o centro das atenções como dublê de pensador filosófico).
Diz ele que índigos e cristais já teriam nascido e estariam em ação no Brasil. Como um dos entrevistados do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, Divaldo anuncia em suas palestras que a evolução da humanidade já "ocorre" desde 2012 e que o estágio de "regeneração" ocorreria em 2052, depois das "transformações" posteriores a 2019.
Mas não é isso que acontece na realidade. Que há um maior debate público nas mídias sociais, em que pese, por outro lado, focos de intensa imbecilização cultural, isso é verdade. Mas não há um sinal de "índigos" ou "cristais" agindo constantemente na sociedade brasileira, aos montes.
Além disso, os aspectos nebulosos dos "índigos" e "cristais" nos fazem perguntar quem realmente são uns e outros. Seriam os funqueiros? Ou os padres aeróbicos? Seria Luciano Huck? Seria Valesca Popozuda? Seriam os intelectuais pró-bregalização? Seria o Neymar? Seria o Flávio Bolsonaro, filho do "sábio" Jair Bolsonaro, provável líder do tal "coração do mundo"?
Se os "índigo" fazem trolagem na Internet ou arrastões nas praias, eles "aproveitaram mal" sua inteligência e seu alto nível moral? Ou então foram desvirtuados pelos "irmãozinhos sofredores"? E que moral elevada eles trazem? A da "voz do silêncio"? Que cultura que eles pregam, a da mediocridade "bem amestrada"?
O Brasil sofre uma violenta crise e os espíritos mais evoluídos que existem no país não possuem qualquer tipo de visibilidade. Quando criam blogues, até atraem seguidores, mas é um a cada duas semanas e, no meio do caminho, algum seguidor deixa de seguir, por achar determinado texto "muito escandaloso" ou "desagradável".
Por outro lado, ficamos imaginando se essa ideia de "crianças-índigo" ou "crianças-cristal", em que pese a evocação "positiva" de Divaldo Franco, não seria uma forma de preconceito ou discriminação contra pessoas dotadas de muita inteligência e evolução moral, diante do "mundo cão" em que vivemos?
Não bastassem as interpretações confusas de diversas pessoas que, dependendo do ponto de vista, podem definir como "crianças-índigo" até mesmo torcidas organizadas que brigam e se matam nos estádios, o termo, assim como o derivado "cristal", seria uma forma de "isolar" pessoas dotadas de um perfil mais diferenciado e evoluído.
Da mesma forma, existem os termos "alfa" para definir mulheres "diferenciadas" para isolá-las da visão machista do papel duplo da mulher moderna: a moça intelectualizada e independente que precisa ter um marido "mais importante" ou a mulher submissa ou vulgar condenada ao celibato.
Seria, na verdade, uma visão "discriminatória", que estabeleceria tanto cobranças quanto restrições para as pessoas classificadas como "índigos" ou "cristais", na medida que "somente" elas podem ser inteligentes e moralmente evoluídas, sendo um rótulo que expressa mais um caráter "excepcional" do que o anúncio de um tipo avançado de comportamento humano.
Isso pode mais atrapalhar do que ajudar, e travar ainda mais a evolução planetária, isolando pessoas evoluídas e bastante inteligentes em rótulos que poderão ser vistos como "anormais", enquanto ser "normal" passa a ser associado à mediocridade, à mesquinhez e à frivolidade.
Há, no chamado "movimento espírita" brasileiro, uma corrente mais próxima do misticismo esotérico (do qual um dos expoentes seria uma misteriosa figura chamada Ramatis), que defende a tese de que estariam se consolidando uma geração de pessoas "evoluídas" que iriam liderar a evolução da humanidade na Terra.
Essa corrente, da qual se respalda o anti-médium baiano Divaldo Franco, busca superestimar um mito que, nos EUA, foi criado por um ex-casal dotado de imaginação mística e lançado para vender livros às custas de pretenso profetismo.
Esse mito é o das "crianças-índigo". O antigo casal, hoje separado, é o radialista e técnico em áudio Lee Carroll e a cantora Jan Tober. Carroll disse que recebeu, em 1989, uma mensagem de uma entidade extra-terrestre chamada Kryon, tida como "de máxima evolução", que teria anunciado a chegada de "mensageiros" que promoveriam a evolução humana na Terra.
A ideia gerou vários livros, que viraram sucesso de vendas, e as ideias foram apreciadas e sistematizadas por Nancy Ann Tappe, parapsicóloga, também norte-americana. Ela estabeleceu os conceitos do que se entende como "criança-índigo" e "criança-cristal".
A "criança-índigo" seria um estágio de "semi-evolução", em relação à "criança-cristal", considerada de "evolução máxima". Mas ambos seriam atribuídos à "inteligência sofisticada" e uma personalidade "diferenciada", sendo a índigo mais "rebelde" e a cristal mais "espiritualista".
Os dois tipos seriam associados a pessoas hiperativas, que seriam capazes de exercer as mais diversas atividades, com profunda inclinação intelectual ou artística e de uma evolução moral peculiar, Sua inteligência se manifestaria desde a infância e, cronologicamente, teriam nascido a partir de 1970.
A tese é rejeitada por especialistas em pediatria e psicologia infantil, por não apresentar embasamento científico e pela compreensão de caráter eminentemente místico. Além disso, não existe uma clareza sobre vários aspectos das pessoas "índigo" ou "cristais", um termo tão atraente quanto o termo "alfa" atribuído às mulheres dotadas de sofisticada inteligência e sensibilidade.
PRECONCEITO CONTRA INTELIGENTES?
No Brasil, a tese é associada às pregações verborrágicas de Divaldo Franco, famoso pelo tom professoral com que realiza suas palestras, fazendo à sua maneira a missão do anti-médium (que rejeita a função intermediária do médium para ser o centro das atenções como dublê de pensador filosófico).
Diz ele que índigos e cristais já teriam nascido e estariam em ação no Brasil. Como um dos entrevistados do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, Divaldo anuncia em suas palestras que a evolução da humanidade já "ocorre" desde 2012 e que o estágio de "regeneração" ocorreria em 2052, depois das "transformações" posteriores a 2019.
Mas não é isso que acontece na realidade. Que há um maior debate público nas mídias sociais, em que pese, por outro lado, focos de intensa imbecilização cultural, isso é verdade. Mas não há um sinal de "índigos" ou "cristais" agindo constantemente na sociedade brasileira, aos montes.
Além disso, os aspectos nebulosos dos "índigos" e "cristais" nos fazem perguntar quem realmente são uns e outros. Seriam os funqueiros? Ou os padres aeróbicos? Seria Luciano Huck? Seria Valesca Popozuda? Seriam os intelectuais pró-bregalização? Seria o Neymar? Seria o Flávio Bolsonaro, filho do "sábio" Jair Bolsonaro, provável líder do tal "coração do mundo"?
Se os "índigo" fazem trolagem na Internet ou arrastões nas praias, eles "aproveitaram mal" sua inteligência e seu alto nível moral? Ou então foram desvirtuados pelos "irmãozinhos sofredores"? E que moral elevada eles trazem? A da "voz do silêncio"? Que cultura que eles pregam, a da mediocridade "bem amestrada"?
O Brasil sofre uma violenta crise e os espíritos mais evoluídos que existem no país não possuem qualquer tipo de visibilidade. Quando criam blogues, até atraem seguidores, mas é um a cada duas semanas e, no meio do caminho, algum seguidor deixa de seguir, por achar determinado texto "muito escandaloso" ou "desagradável".
Por outro lado, ficamos imaginando se essa ideia de "crianças-índigo" ou "crianças-cristal", em que pese a evocação "positiva" de Divaldo Franco, não seria uma forma de preconceito ou discriminação contra pessoas dotadas de muita inteligência e evolução moral, diante do "mundo cão" em que vivemos?
Não bastassem as interpretações confusas de diversas pessoas que, dependendo do ponto de vista, podem definir como "crianças-índigo" até mesmo torcidas organizadas que brigam e se matam nos estádios, o termo, assim como o derivado "cristal", seria uma forma de "isolar" pessoas dotadas de um perfil mais diferenciado e evoluído.
Da mesma forma, existem os termos "alfa" para definir mulheres "diferenciadas" para isolá-las da visão machista do papel duplo da mulher moderna: a moça intelectualizada e independente que precisa ter um marido "mais importante" ou a mulher submissa ou vulgar condenada ao celibato.
Seria, na verdade, uma visão "discriminatória", que estabeleceria tanto cobranças quanto restrições para as pessoas classificadas como "índigos" ou "cristais", na medida que "somente" elas podem ser inteligentes e moralmente evoluídas, sendo um rótulo que expressa mais um caráter "excepcional" do que o anúncio de um tipo avançado de comportamento humano.
Isso pode mais atrapalhar do que ajudar, e travar ainda mais a evolução planetária, isolando pessoas evoluídas e bastante inteligentes em rótulos que poderão ser vistos como "anormais", enquanto ser "normal" passa a ser associado à mediocridade, à mesquinhez e à frivolidade.