sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A pretensa "divindade" de Chico Xavier

UMA DAS FRASES DO DUBLÊ DE FILÓSOFO CHICO XAVIER, COM ILUSTRAÇÃO DIVINIZADA.

A zona-de-conforto dos seguidores de Chico Xavier ou mesmo de simpatizantes "independentes" com seu "espiritismo" de porta de Igreja Católica, revela um culto e uma adoração ao anti-médium mineiro que escapou até mesmo do controle da FEB.

Em outras palavras, Francisco Cândido Xavier tornou-se um mito acima de tudo, totalitário, já não um semi-deus, mas um vice-deus visto como o segundo governante de todo o universo. Com dimensões de um Frankestein, o mito de Chico Xavier nunca chegou a se voltar contra a FEB, mas tornou-se tão monstruoso quanto o famoso personagem de um romance de terror.

Hoje Chico Xavier é associado a todo esforço de colocá-lo acima da lógica, do questionamento, das pesquisas científicas, da investigação apuradora, vivendo praticamente numa ilha de mistificação, surrealismo e idolatria cega à qual se desaconselha qualquer intervenção.

Chico Xavier torna-se, desse modo, uma das figuras mais surreais existentes no Brasil, um personagem que talvez Franz Kafka pudesse ter escrito, se tivesse vivido um pouco mais que seus 41 anos.

Como um caixeiro de Pedro Leopoldo que estabelecia conversas mentais com um falecido padre jesuíta que ele conheceu nos livros de História do Brasil se transformou em uma divindade que só está abaixo de Deus, segundo seus seguidores, no governo do universo, é algo que só oportunismos e tendenciosismos permitiram ocorrer.

De acordo com seus fanáticos seguidores, ou mesmo com seus contestadores menos firmes, Chico Xavier é o único que atingiu a perfeição humana mesmo cometendo muitos erros. O único que, manipulado pelos interesses mesquinhos de dirigentes "espíritas", poderia ser considerado líder, num rol de contrastes que alimentaram a mistificação e mitificação em favor do anti-médium.

O Chico Xavier de uma mediunidade limitada - a cada vez mais comprovada com provas de plágios em suas "psicografias" e pelo caráter duvidoso de cartas de "falecidos" que só apresentam a caligrafia do "médium" - passava a ser dotado de qualidades que ele nem de longe teve jamais, principalmente quando não desenvolveu seus dons limitados com estudos sérios.

O incipiente médium que falava com padre do além, mesmo sem ter maiores habilidades, foi promovido a "médium versátil" (pelo menos no ramo da escrita) e, como se não bastasse, a habilidades maiores que fizeram seu mito crescer de maneira descontrolada.

Promovido a conselheiro sentimental, Chico virou, em seguida, um dublê de filósofo, num país sem grandes nomes da Filosofia. Depois, virou psicólogo e, daí, educador, profeta e cientista. E, assim do nada, foi também promovido a ativista, mesmo quando pregava o mais explícito anti-ativismo, preferindo que as pessoas orassem em silêncio em vez de fazer mobilização social.

E, de repente, Chico Xavier, às custas de um empate judicial no processo movido por herdeiros de Humberto de Campos contra ele, em 1944, fez o anti-médium de Pedro Leopoldo se tornar como o lutador de UFC, Anderson Silva, nos últimos dias: vencedor de batalhas às custas de muito doping.

Depois do tal empate jurídico, um zero a zero que favoreceu Chico e fez viúva e filhos de Humberto de Campos serem tidos injustamente como "gananciosos", o anti-médium passou em cima das denúncias do sobrinho Amauri Pena, estranhamente depreciado e cuja morte foi prematura demais para alguém que só se embriagava.

Chico não obteve, exatamente, vitórias reais, a cada escândalo que o envolvia. Acusações de fraudes a partir de obras como Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho só deram vantagem ao anti-médium mais pela incompreensão de juristas e escritores da época do que de qualquer hipótese que sugerisse alguma veracidade.

Após o empate do processo de 1944 e da estranha tragédia do sobrinho, Chico ainda passou por cima dos escândalos das fraudes de materialização, favorecido pela desculpa, inconvincente mas fortemente defendida por seus seguidores, de que "cúmplice não é culpado". Otília Diogo teve que amargar sozinha sua decadência.

No auge da crise do roustanguismo da FEB, Chico Xavier, antes um roustanguista entusiasmado e, mais tarde, um seguidor enrustido e envergonhado do autor de Os Quatro Evangelhos, fingiu ser favorável a Allan Kardec só para agradar amigos espíritas, como José Herculano Pires. Esperto, Chico soube abandonar o barco roustanguista quando este estava afundando.

Chico Xavier faleceu durante as comemorações da fraudulenta Copa do Mundo da Japão e da Coreia de 2002, que resultou numa estranhíssima vitória de uma Seleção Brasileira de Futebol que se revelava insegura nas eliminatórias em 2001 e teve um desempenho desastroso demais para merecer o "penta".

Jornalistas esportivos e não-esportivos mais conceituados, vários anos e três copas mais tarde, revelaram que a "conquista do penta" não passou de uma armação de Ricardo Teixeira, da CBF, e de João Havelange, da FIFA, de obter vantagens políticas, aumentar privilégios pessoais e capitalizar politicamente com a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014, que gerou um grave prejuízo financeiro para o país e não garantiu o tão alardeado "hexa".

Depois do falecimento, Chico Xavier continuou sendo trabalhado como mito da FEB, que sempre o viu como seu popstar, como um "Michael Jackson do movimento espírita". E Chico foi promovido a "maior personalidade do país" por um SBT capaz de contratar uma Rachel Sheherazade que aplaudia tortura de menores infratores por grupo de "justiceiros".

Atualmente, Chico Xavier tenta ser empurrado para a ciência, num último esforço para transformar o anti-médium num ente absolutista e totalitário, ou seja, com amplos poderes atribuídos e com maior área de ação, subordinando o conhecimento científico à supremacia neo-católica do antigo caixeiro de Pedro Leopoldo.

A tendenciosa interpretação de um sonho qualquer, que todo cidadão sonha enquanto dorme, que Chico Xavier teve em 1969, pouco após a ida de astronautas norte-americanos à Lua, em "profecia" através de relatos que viraram, como sabemos, livro (Não Será em 2012) e documentário (Data-Limite Segundo Chico Xavier), é uma amostra forte dessa manobra.

Chico agora foi promovido a "profeta" e "cientista", já que seu sonho de 1969 foi interpretado como uma suposta previsão de que o Brasil se tornaria "nação mais poderosa do mundo", diante de ações terroristas e catástrofes naturais que supostamente destruiriam o "velho mundo" (EUA, Europa, Oriente Medio, Ásia e Oceania).

Sem que alguém pudesse explicar como, o Brasil abriria caminho para uma geração de artistas, intelectuais, cientistas e ativistas sociais que promoveriam o progresso do país, já que ele ainda está mergulhado num processo voraz de degradação sócio-cultural e há uma rejeição forte de setores da opinião pública ao pensamento científico, questionador e mobilizador.

Além da "data-limite", Chico Xavier ainda é alvo de monografias que tentam supostamente provar veracidade científica a cartas supostamente psicografadas, focalizando o caso do falecido jovem Jair Presente, que apresentou irregularidades na comparação de mensagens, e na atribuição de suposto pioneirismo científico do livro Missionários da Luz, de 1945, sem que os pesquisadores pesquisassem rigorosamente documentos científicos da época.

Tenta-se colocar Chico Xavier acima de qualquer questionamento lógico, como se a própria ciência fosse obrigada a aceitá-lo, em teses duvidosas e falsas provas obtidas por critérios e processos confusos ou sem qualquer rigor científico. Trata-se de um esforço para subordinar a ciência ao mito de Chico, como se seguisse às "recomendações" do anti-médium para "não questionarmos".

Chico Xavier nunca foi um vencedor. Ele foi favorecido pelas circunstâncias e pelo instinto marqueteiro da FEB. O anti-médium que queria que todos nós sofrêssemos calados nem de longe foi ativista e ideologicamente ele nunca foi progressista. Ele também nunca foi filósofo, psicólogo, cientista, profeta nem outra qualidade extraordinária.

No entanto, Chico Xavier aproveitou e, agora postumamente, foi ajudado por seus antigos parceiros a alimentar, de maneira oportunista, sua imagem mitológica que seu mito escapou até ao controle da FEB, quando seus fiéis atribuíram a capacidade de uma estátua a derramar lágrimas, quando a água escorrida era de uma lavagem que a estátua periodicamente recebia para sua manutenção.

Até quando haverá alguém com muita visibilidade e prestígio suficientes para comprovar os equívocos de Chico Xavier não se sabe quando ocorrerá. Por enquanto, quem pode se esforça em apresentar provas dos inúmeros equívocos, ignorados pelos seguidores e simpatizantes de Chico, que preferem vê-lo como um vice-deus, "dono da verdade" e "senhor do universo".

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