terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Alemanha: um dos piores exemplos de nação que quis dominar o mundo
Não se pode brincar com esse papo de que tal nação irá comandar a comunidade das nações. O caso da Alemanha, de traumatizante memória, constituiu num dos mais trágicos e dramáticos exemplos de como um país atua como um pretenso "centro do mundo".
Tudo começou quando um desordeiro chamado Adolf Hitler, militar de baixa patente e, curiosamente, de formação católica, criava badernas para se autopromover e chamar a atenção da opinião pública. Havia sido um pintor frustrado antes de virar o baderneiro que virou tirano.
Em seguida, ele criou um partido, o Partido Nazista, cuja nomenclatura "socialista" é equivocado pretexto para o clamor anti-esquerdista dos exaltados e mal informados direitistas brasileiros atribuírem o socialismo a um sub-produto de Hitler.
Agindo em franca contradição, esses direitistas, partidários do deputado Jair Bolsonaro - depositário de ideais fascistas no Brasil - querem atribuir o nazismo ao PT e a outros símbolos esquerdistas, sem olhar para seus próprios lados e defendendo um capitalismo arcaico de ideais fascistas não muito diferentes do sanguinário líder austríaco.
Quando Hitler se ascendeu politicamente, aproveitando a brecha de um primeiro-ministro que, ao falecer, liberou o caminho para o chefe nazista, Chico Xavier havia lançado a primeira edição de Parnaso de Além-Túmulo. Por oposição ao tirano austríaco radicado na Alemanha (e que chegou a submeter a Áustria ao Estado alemão), Chico passou a sonhar com o Brasil num tipo mais "flexível" de supremacia política.
Hitler seduziu os alemães se aproveitando dos efeitos da Crise de 1929, que atingiu a Bolsa de Valores de Nova York depois de uma intensa farra de especulações financeiras que prometia fazer os cidadãos dos EUA, mesmo os mais pobres, virarem milionários. Nessa época, a compra de ações era tão popular quanto fazer apostas nas loterias, mas os resultados poderiam ser imediatos.
Com o colapso dessa prática, a crise teve efeitos devastadores na economia mundial e abriu caminho para movimentos políticos autoritários que prometiam "salvar" seus países. Daí a promessa de Hitler garantir empregos para os alemães e fortalecer a economia de seu país, através da industrialização, que em boa parte se dedicava a produzir material bélico.
Em princípio, a promessa de Hitler funcionou, e a História registra, para desespero dos histéricos anti-petistas brasileiros, que o tirano nazista, em primeira instância, havia sido elogiado pelos chefes capitalistas dos EUA e do Reino Unido, que o viam, pasmem, como um político "moderado", já que Hitler era violentamente hostil ao comunismo em ascensão na União Soviética.
Mesmo um político do porte de Winston Churchill havia se simpatizado com Hitler, que era apreciado pelos capitalistas conforme registram dados da imprensa norte-americana, naquele começo da década de 1930. Benito Mussolini, o ditador italiano que inaugurou o sentido da palavra "fascismo", também era simpatizado pelos capitalistas.
Para seu projeto de "nação poderosa", o chamado "Império do III Reich", destinado a durar milhares de anos, segundo a vontade de Hitler, ele criou um "inimigo" a ser exterminado e ao qual era atribuída toda uma série de qualidades negativas e, sobretudo, inverídicas: o povo judeu.
Generalizando estigmas negativos que eram relacionados a indivíduos de origem judia, Hitler ordenou que se criassem campos de concentração que viraram cenários de horror, chocantes até hoje, pela forma com que se eliminavam e amontoavam corpos de prisioneiros judeus e opositores ao regime nazista.
Hitler defendia a chamada "raça ariana", a raça "pura" segundo seus pontos de vista pessoais. Ele também se enfureceu quando, durante as Olimpíadas de Berlim, um atleta norte-americano, o negro Jesse Owens, havia vencido uma competição.
O nazismo só passou a ser combatido pelo mundo capitalista quando seu projeto expansionista avançou além dos limites do mundo ocidental, já no início da Segunda Guerra Mundial e invadindo áreas que incluíram até mesmo a França, num episódio que nos põe a pensar.
Afinal, a França, país que havia vivido uma fase de ouro no século XIX, a nação das novidades filosóficas e científicas, a pátria de Allan Kardec e seus métodos científicos para a Educação e para a Doutrina Espírita, e que havia vivido a Bélle-Èpoque e era conhecida pelo patriotismo próprio, chamado de "chauvinismo", chegou a se reduzir a um território da Alemanha nazista.
Os países capitalistas tiveram, então, uma aliança provisória com a União Soviética comunista, para formarem o bloco que combateu, no referido confronto bélico, o "eixo", formado pela aliança entre a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão. Num confronto historicamente sangrento, a aliança fascista foi derrotada, tendo Mussolini sido assassinado e Hitler se suicidado.
DIFERENÇAS COM O BRASIL
O nazismo, que chegou a ter simpatizantes no Brasil e atualmente conta até com pequenos grupos de adeptos, envolvidos sobretudo em assassinatos de homossexuais, era muito pouco sutil no seu projeto hegemônico de tornar a Alemanha uma nação "poderosa".
Embora haja pontos em comum com o projeto do "Coração do Mundo", como a inspiração em ideias medievais, o nazismo era abertamente cruel, a ponto das melhores personalidades da Alemanha, quando puderam fugir, só conseguiram expressar suas atividades intelectuais no exílio, como o cientista Albert Einstein e os professores da Escola de Frankfurt, como Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.
A experiência do nazismo foi tão traumatizante que o próprio povo alemão, depois que a nação foi arrasada na Segunda Guerra Mundial e, após a Guerra Fria, ainda se dividiu no lado capitalista (Alemanha Ocidental) e comunista (Alemanha Oriental), passaram a pregar o altruísmo, repudiando os antigos preconceitos nazistas.
A Alemanha, assistida pelo plano econômico do general norte-americano George Marshall, o Plano Marshall, conseguiu se recuperar a ponto de se tornar não a nação mais poderosa do mundo, mas uma das mais ricas do planeta. Infelizmente, a herança nazista se refletiu no regime do apartheid da África do Sul, desenvolvido sob a ajuda de colaboradores de Hitler.
O projeto hegemônico do Brasil nem de longe passa pelos preconceitos nazistas. Seu projeto de "nação poderosa" se baseia na ideia da teocracia romana, inspirada também nas lições imperialistas dos Estados Unidos, e o ensaio disso tudo está no mini-imperialismo que o Brasil já exerce sobre alguns países africanos e no Haiti, país da América Central.
O Brasil é marcado pela tolerância étnica que a Alemanha nazista rejeitava. Mas o risco do projeto do "Coração do Mundo" pode trazer uma supremacia em que a diversidade aglutinada pelo poderio brasileiro, sem que o país superasse sua mediocrização sócio-cultural e política hoje vigentes, resultará numa "religião única" e num modelo hegemônico de sociedade, com suas próprias injustiças e arbítrios. Neste tipo de sociedade, os brasileiros fariam o papel de "raça pura" na sua forma de imperialismo.
Em todo caso, o exemplo da Alemanha mostra o quanto é perigoso o projeto de um país centralizando as decisões mundiais. E, sejam as promessas de emprego ou de fraternidade, projetos de nações hegemônicas não são bons. Nações são construções materiais, e o Brasil nem de longe é o país predestinado do universo.
O Brasil é só uma extensão territorial traçada por homens. Não é e nem vai ser a Pátria do Evangelho, pois isso é coisa de igreja, nada a ver com a realidade. Não será o Coração do Mundo, se já não se mostra capaz de ser seu Cérebro. Mesmo que nossa nação possa progredir e eliminar suas injustiças, será ilusório atribuir ao nosso país um status poderoso sobre as nações do planeta.
Não é por sermos brasileiros que iremos defender nossa supremacia, pois no fundo isto é uma brincadeira muito perigosa.
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