terça-feira, 31 de janeiro de 2017
A preocupante fúria dos "valentões" da mídia e da Internet
Já teve página satírica do "Escreva Lola Escreva" chamado "Lola Escreva Lola". Tem blogue de "comentários críticos" feito por busólogo psicótico querendo brigar com todo mundo.Tem página "jornalística" chamada "O Implicante". Canal de youtuber chamado "Mamãe Falei". Exércitos de reaças nas comunidades específicas do Facebook. Mentiras que criminalizam Lula nos vídeos do YouTube que se multiplicam feito cupins em madeira ruim.
O reacionarismo na Internet, a onda de ódio que se espalha nas redes sociais mas possui também ecos na grande imprensa. Veículos como a Globo News e as revistas Veja e Isto É também possuem jornalistas com essa mentalidade irresponsável. Se há um Reinaldo Azevedo e um Diogo Mainardi rosnando na mídia, o sociopata da busologia encontra estímulo para fazer sua paginazinha de "comentários críticos" para montar aos poucos sua coleção de desafetos.
Isso é terrível. O Brasil tem um cenário cultural tenebroso e chegou a um quadro político catastrófico. O país se tornou mais vulnerável a retrocessos, e mesmo depois da redemocratização em 1985 o Brasil nunca conseguiu recuperar plenamente os progressos sócio-culturais e econômicos sonhados duas décadas antes. O que ocorreu, até maio de 2016, foram tentativas, algumas até bem sucedidas, mas depois ceifadas pelo golpe político que assaltou o poder.
O que chama a atenção é que boa parte desses brutamontes digitais é religiosa. Em alguns casos, é uma "galera irada" que vive entre o porre de cerveja e a leitura da Bíblia. Entre o moralismo extremo e punitivo e a libertinagem irresponsável e impune, eles agem como uma grande ameaça, praticamente chegando ao poder com seus preconceitos sociais e seus abusos desmoralizantes.
O Brasil vive uma crise de valores e muitos desses agressores, na verdade, fazem "patrulha ideológica" para proteger valores ou reputações que estão ameaçados. Geralmente estão associados a valores, personalidades, abordagens ou atitudes que eram considerados dominantes antes da expansão da liberdade de expressão na Internet.
Da pintura padronizada em frotas de ônibus à venda do pré-sal do petróleo aos estrangeiros, passando por "mulheres-frutas", cantores estrangeiros dos anos 1970, jovens atores de novelas da Globo, times de futebol ou figuras como o reacionário Jair Bolsonaro, a "patrulha" ainda segue com uma agenda cheia de preconceitos sociais que antes imaginávamos superados ou intimidados.
As pessoas hoje não escondem que defendem a redução de salários, a venda de nossas riquezas para o exterior, o fim da escola pública, a escravização do trabalhador, a depreciação de negros, índios e pessoas LGBT, e se expressam abertamente não só na Internet, como em vários eventos públicos, ainda que em bastidores. Vide pessoas como o diretor teatral Cláudio Botelho, o empresário das lojas Riachuelo, Flávio Rocha, e o publicitário Nizan Guanaes.
O Brasil está doentio e não é por falta de religião. Pelo contrário, é a overdose de religião, combinada a uma contraditória coexistência de libertinagem e autoritarismo, O "espiritismo" brasileiro não deixa também de fazer sua parte, sobretudo quando seus palestrantes pedem para os sofredores aceitarem o sofrimento e perdoarem os abusos dos algozes, como se esses atos de complacência às injustiças sociais significassem alguma possibilidade de evolução humana. Só que não.
domingo, 29 de janeiro de 2017
Brasil é "balneário" para espíritos atrasados?
O Brasil é atrasado em todos os sentidos. Na complacência com os crimes de gente rica e na forma um tanto paternalista e espetacularizada de "caridade", observa-se um país viciado em muitos retrocessos. Os retrocessos são tantos que, no âmbito econômico, já assustam até os tecnocratas do conservador Fundo Monetário Internacional, boquiabertos com o radicalismo ultraconservador do presidente Michel Temer e sua "equipe de notáveis".
Nosso país está tão atolado em visões reacionárias ou retrógradas - que veem as necessidades humanas sob a ótica "pragmática" (limitada a motivos utilitaristas, como a mera sobrevivência, pouco importando desejos diferenciados de qualidade de vida e valorização do prazer) e os méritos mediante a noção material de relações de hierarquia - que o mundo fica estarrecido diante do Brasil que parece ter se perdido em algum período da Idade Média.
Preconceitos sociais liberados e trazidos por gente de elite, antes considerada "gabaritada". Veículos de mídia perdidos entre a libertinagem sexual quase troglodita e o moralismo punitivista severo. Aliás, a mídia que temos - Globo, Abril, Folha, Estadão, Jovem Pan etc, sem esquecer regionais como a gaúcha RBS e a baiana Metrópole - é simplesmente tão atrasada que até os sucessos musicais mais contemporâneos soltam um forte cheiro de mofo.
Tudo está velho no Brasil e a maioria das pessoas presa na zona de conforto de convicções, temores e neuroses que não fazem mais sentido. Paradigmas de valores morais, religiosidade, justiça social, punições humanas, méritos de toda espécie, parecem terem regredido para tempos de barbárie ou de profundo conservadorismo sócio-político na humanidade, deixando o Brasil numa preocupante situação de decadência social, que atinge até boa parte dos "esclarecidos".
Só para sentir o estranho moralismo em que vivemos, uma parcela da sociedade chega a ter medo de ver feminicidas ricos morrerem de repente ou então seitas religiosas entrarem em falência - os "espíritas", então, devem estar tremendo diante da crise de sua doutrina que só se agrava - , e a ignorância generalizada cria uma moral um tanto cambaleante que criminaliza ou inocenta conforme as conveniências.
O Brasil é um "balnerário" para espíritos atrasados? O que vemos são ecos diversos de sociedades ou grupos retrógrados: o Brasil foi tomado de patrícios do Império Romano, de medievais, de nazi-fascistas, de seguidores do apartheid, de macartistas, de absolutistas franceses. Até parece que, desde 1500, nosso país se tornou o depósito de lixo da humanidade.
É certo que o Brasil teve essa "missão" a partir da ideia concebida pelas autoridades portuguesas de mandar para longe do território lusitano prostitutas, ladrões, assassinos, desordeiros e loucos, que passaram a viver no território brasileiro e, provavelmente, a atravessar os séculos reencanando de maneira viciada, sempre de acordo com seus caprichos pessoais, ao mesmo tempo obscurantistas e extravagantes.
O Brasil é o sexto país mais ignorante do planeta, ocupando o primeiro lugar entre os sul-americanos. A estupidez viciada se reflete nas redes sociais, em que o ultraconservadorismo social é notado até em pessoas ditas "rebeldes", aparentemente modernas, mas cujas ideias que defendem deixariam um fidalgo medieval cair da cadeira de tão chocado.
Já tivemos tempos ultraconservadores que, todavia, obedeciam a uma lógica social e a uma certa coerência de contexto. Se abusos havia, eles obedeciam a um estágio de evolução institucional, que ainda estava atrasado. Se havia elitismos, eles pelo menos se manifestavam de maneira mais sutil ou controlada.
Hoje todos parecem ter surtado de vez. Práticas de clientelismo político que só seriam normais na República Velha estão sendo retomadas de forma escancarada pelo governo Michel Temer. O descaso político ficou institucionalizado, com os cortes de investimentos em Saúde e Educação, antes frutos da omissão política, virando leis de emenda constitucional. As empresas já estão livremente demitindo pessoas e querendo reduzir salários, sob a desculpa de se adaptar aos "novos (?!) tempos".
O machismo, não bastasse o medo de ver seus membros mais violentos "vestirem o paletó de madeira" (por mais que eles fumem ou usem drogas), tem também o dado surreal de contrapôr as mulheres-objetos com as "rainhas do lar", atribuindo às primeiras um falso feminismo, muito mal justificado pela "liberdade do corpo" e muito mal expresso por uma aparente solteirice das musas siliconadas.
O próprio "espiritismo" acompanha o "espírito do tempo" (olhe o trocadilho) e faz apelos para os sofredores aceitarem o sofrimento, não reclamarem e encararem tudo com fé e esperança. Expressando maior identificação com a Teologia do Sofrimento católica, o "movimento espírita", com tais apelos, demonstra subliminarmente seu apoio ao retrógrado governo Temer.
O Brasil está caótico, institucionalmente inseguro, socialmente viciado. O país vive uma catástrofe social sem precedentes, e as pessoas não percebem, como aqueles doentes da Síndrome de Riley-Day que são incapazes de sentir qualquer dor. Parecem até felizes, rindo dos problemas da vida. Não é à toa que, levando isso às últimas consequências, o Estado do Rio de Janeiro é agora conhecido como "Riley-Day Janeiro".
Isso é um alerta terrível. E já que fazem quatro anos de tragédia com a Boate Kiss, fruto da imprudência e intransigência de vários envolvidos - empresários, autoridades e banda musical, que soltou rojões que causaram o terrível incêndio - , quantas Boates Kiss vão acontecer, quantos voos da Chapecoense ocorrerão, para mostrar às pessoas que nem tudo é sonho e fantasia e que o Brasil está no caos e na desordem social?
Politicamente, o governo Temer é uma sucessão interminável de confusões, ameaças, retrocessos, recuos e tudo de ruim. É uma tragicomédia em que o lado trágico ainda é mais forte. E não é só a tragédia de Teori Zavascki, que, como ministro do STF e relator da Operação Lava Jato, deixou a seus envolvidos uma complicada lacuna, mas a tragédia da "normalidade" de seu governo, com ministros-problema como Eliseu Padilha, José Serra, Alexandre de Moraes e outros.
A grande mídia está cada vez mais retrógrada, com uma cultura musical plenamente abominável - em que os bregas mais antigos, como "pagodeiros" e "sertanejos" dos anos 90, agora são jogados para cantar clássicos da MPB, num oportunismo canastrão e pedante - cujo "maior acontecimento" é o Big Brother Brasil, já na 17ª edição.
Tudo isso revela ecos de todo tipo, desde a religiosidade medieval que faz muitos deslumbrados endeusarem Chico Xavier com uma emotividade piegas, até o erotismo compulsivo de uma Mulher Melão ou Solange Gomes que servem para as masturbações de machistas juvenis sexualmente descontrolados.
Até parece que o Brasil virou um "hotel" para espíritos retrógrados que perderam a sua razão de ser em outras áreas do planeta, e que agora tentam fazer o feitiço do tempo forçando o país a regredir mais ainda, a andar para trás desafiando as transformações dos tempos e criando um autismo isolacionista no qual uma considerável parcela de brasileiros ainda esnoba o resto do mundo, confundindo o atraso em que vive o Brasil com "originalidade". Coisa de quem pensa retrógrado.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Religião, apelo à emoção e estrelato
MICHAEL JACKSON, SÍMBOLO DA MITIFICAÇÃO HUMANA NA MÚSICA POP.
As pessoas ainda precisam aprender a respeito de sua emotividade e das noções idealizadas de "bondade", voltadas mais a uma estória de fadas do que de um processo concreto de ajuda ao próximo. Precisam ver que, por exemplo, não é só a cultura pop que pega emprestada da religião o ato de adorar os ídolos, mas o caminho inverso.
Não é preciso aqui detalhar paralelos de Michael Jackson com astros da religiosidade como Madre Teresa de Calcutá e Francisco Cândido Xavier. Eles também são construídos como astros pop, mas uma série de ilusões garantidas pelo mito da religiosidade omitem esse processo e fazem com que tudo pareça espontâneo e natural.
No "espiritismo" brasileiro, então, nem se fala. Além da ilusão de religiosidade que garante, aos olhos da Terra, o Paraíso a determinadas figuras "sagradas" - que no retorno ao mundo espiritual levam um choque ao saber que tal "oportunidade", tida como certa, não se deu - , há ainda outra ilusão resultante do hábito do brasileiro de dissimular as coisas: a ilusão de uma "racionalidade" e "objetividade" que não existem.
Isso garante uma dupla ilusão. A ilusão da religiosidade, que garante aos deslumbrados da Terra a "garantia" de que seus ídolos irão para um "mundo perfeito", após o fim da vida. E a ilusão da racionalidade, que dá um verniz de "objetividade" e "lógica" nas paixões da fé religiosa que o "espiritismo" copia da Igreja Católica.
SUPERFICIALISMO
A revista Seleções, edição brasileira da conservadora revista estadunidense Reader's Digest, em sua edição de janeiro de 2017 publicou um artigo de Sanghamirta Chakraborty, intitulado "Toque de Mãe", sobre uma visita feita a Madre Teresa de Calcutá à residência dela, na cidade indiana do seu famoso codinome, em 1989. A visita teria sido feita por ela para acompanhar uma amiga que precisava entrevistá-la para uma reportagem.
O artigo não traz novidades e apenas reforça a mitificação em torno de Madre Teresa. É algum daqueles relatos que, se envolvessem, em vez de ídolos religiosos, astros da cultura pop, como atores e cantores, seriam apenas reportagens ou artigos comuns, a ocupar as biografias dos idolatrados. Mas como se tratam de ídolos religiosos, cada relato desses é visto como atestado de pretensa superioridade espiritual destas personalidades.
Um trecho do artigo segue aquela visão deslumbrada de justificar as coisas com nada. É o deslumbramento religioso que faz as pessoas afirmarem alguma grande virtude sem trazer informações objetivas nem precisas, dando declarações que não vão além do "achismo" e, lembrando o caso do promotor brasileiro Deltan Dallagnol, da "força-tarefa" da Operação Lava Jato, é feito "sem provas, mas com muita convicção". Vejamos:
"(...) Sempre morei nesta cidade em que Madre Teresa adotou como sua, na qual construiu uma instituição que salvou milhões, lhes deu uma vida decente ou dignidade da morte. Éste é o lugar de onde ela inspirou milhões de pessoas a serem voluntárias e fazerem doações à sua causa. Eis aqui uma mocinha americana que viajou milhares de quilômetros para vê-la, E eu, eu estou aqui o tempo todo.
É claro que Madre Teresa também já teve seu quinhão de críticas, geralmente de quem vê um 'plano' por trás da ajuda aos pobres. Mas não foi por isso que não tentei. Li sobre seu trabalho e vi na televisão. Mas nunca me passou pela cabeça vir visitá-la".
A narração da visita apenas parecia uma conversa amistosa que se encerrou com as tais "bênçãos". E um relato semelhante se observa através das respostas de internautas a um risível artigo de "Filosofia Imortal" sobre uma improcedente "confirmação" de "previsões" de Chico Xavier em 1969, sobre visitas de extra-terrestres em bases estadunidenses ocorridas antes, em 1964 e 1967:
"Eu tive a honra de conhecer pessoalmente o Chico Xavier, um homem simples, sábio e caridoso, talvez o mais caridoso que já conheci em todas as historias de pessoas em nossa era, faturou milhões com sua obra e doou cada centavo. Tenho visto simpatias, previsões e muitos outros relatos falsos que são atribuídos ao Chico,contrariando exatamente um dos pilares da doutrina que é a desmistificação e a fé com raciocínio. Muitos falam de Chico sem nenhum embasamento da realidade do que ele foi e representa para nossa evolução de caráter, fraternidade e humildade. Não é atoa que ele se considerava apenas um cisco no processo de evolução necessária para chegar a Jesus. Quer entender Chico? Então esqueça os fenômenos e apegue-se a caridade!".
O deslumbrado chiquista fala que tenta dar um verniz "realista" ao relato do contato pessoal com o anti-médium mineiro, criando falsas argumentações, pois trata Chico, comprovado deturpador da Doutrina Espírita, como se fosse "espírita autêntico" e, confuso, o internauta se apega a mitos, se recusando a questionar ou analisar fenômeno.
Esse é um tipo de sujeito que põe o mito acima do ser humano. Mas tenta fazer rodeios para que sua visão seja a mais "realista" e "consistente". Diferente dos católicos comuns, que ao menos assumem estarem tomados de emoção, os "espíritas" tentam parecer "racionais", "objetivos" e "coerentes". Fazem todo um engodo de argumentos "objetivos" para tudo terminar numa reles emotividade religiosa.
Imaginamos se esse contato pessoal com ídolos religiosos também não mostra as mesmas ilusões que o contato com um astro da música pop ou do cinema de Hollywood. Nestes casos, há um distanciamento entre a imagem idealizada da celebridade e a sua vida pessoal, e, embora as fantasias dos fãs sejam grandes, há uma consciência, por menor que seja, desse distanciamento, já que o admirador não faz parte da vida pessoal da celebridade, sendo quase sempre um estranho.
No contado com ídolos religiosos, porém, o devoto religioso tem a ilusão de que "furou o cerco" do mito e "penetrou na profundidade da realidade". O devoto acredita que, conhecendo pessoalmente o ídolo religioso, "penetra na sua intimidade" e se torna "beneficiado" pelo que entende como a "realidade do bem", ignorando que ele entrou em contato não com uma "figura humana", mas como um mito, com todo o seu distanciamento que não pode ser subestimado.
Temos que analisar os escaninhos da emotividade religiosa, dos apelos à emoção e das pós-verdades. E também a forma como se vê a "bondade" e a "caridade", quando se exalta, até com certo exagero, atividades que apenas ajudam muito pouco, dando ao "benfeitor" um cartaz e uma glorificação que estão aquém aos resultados de sua pálida filantropia.
A roupagem "realista" do "espiritismo" brasileiro mais parece um segundo verniz para o da devoção religiosa. Se esta já não estabelece diferença entre mito e realidade, aquela, concordando com a primeira, vai mais além, não estabelecendo diferença entre emoção e razão.
O deslumbramento dos católicos já é um problema que o apelo à emoção, ou o Argumentum Ad Passiones, se torna uma falácia bem sucedida. Entre os "espíritas" é um problema mais grave ainda, pois se protege sob a máscara da "fé raciocinada", desculpa para que mitos sejam sustentados por argumentos falsamente objetivos. É esse deslumbramento, que se apoia no pretexto da "bondade", que protege os deturpadores que corromperam o trabalhoso legado de Allan Kardec.
As pessoas ainda precisam aprender a respeito de sua emotividade e das noções idealizadas de "bondade", voltadas mais a uma estória de fadas do que de um processo concreto de ajuda ao próximo. Precisam ver que, por exemplo, não é só a cultura pop que pega emprestada da religião o ato de adorar os ídolos, mas o caminho inverso.
Não é preciso aqui detalhar paralelos de Michael Jackson com astros da religiosidade como Madre Teresa de Calcutá e Francisco Cândido Xavier. Eles também são construídos como astros pop, mas uma série de ilusões garantidas pelo mito da religiosidade omitem esse processo e fazem com que tudo pareça espontâneo e natural.
No "espiritismo" brasileiro, então, nem se fala. Além da ilusão de religiosidade que garante, aos olhos da Terra, o Paraíso a determinadas figuras "sagradas" - que no retorno ao mundo espiritual levam um choque ao saber que tal "oportunidade", tida como certa, não se deu - , há ainda outra ilusão resultante do hábito do brasileiro de dissimular as coisas: a ilusão de uma "racionalidade" e "objetividade" que não existem.
Isso garante uma dupla ilusão. A ilusão da religiosidade, que garante aos deslumbrados da Terra a "garantia" de que seus ídolos irão para um "mundo perfeito", após o fim da vida. E a ilusão da racionalidade, que dá um verniz de "objetividade" e "lógica" nas paixões da fé religiosa que o "espiritismo" copia da Igreja Católica.
SUPERFICIALISMO
A revista Seleções, edição brasileira da conservadora revista estadunidense Reader's Digest, em sua edição de janeiro de 2017 publicou um artigo de Sanghamirta Chakraborty, intitulado "Toque de Mãe", sobre uma visita feita a Madre Teresa de Calcutá à residência dela, na cidade indiana do seu famoso codinome, em 1989. A visita teria sido feita por ela para acompanhar uma amiga que precisava entrevistá-la para uma reportagem.
O artigo não traz novidades e apenas reforça a mitificação em torno de Madre Teresa. É algum daqueles relatos que, se envolvessem, em vez de ídolos religiosos, astros da cultura pop, como atores e cantores, seriam apenas reportagens ou artigos comuns, a ocupar as biografias dos idolatrados. Mas como se tratam de ídolos religiosos, cada relato desses é visto como atestado de pretensa superioridade espiritual destas personalidades.
Um trecho do artigo segue aquela visão deslumbrada de justificar as coisas com nada. É o deslumbramento religioso que faz as pessoas afirmarem alguma grande virtude sem trazer informações objetivas nem precisas, dando declarações que não vão além do "achismo" e, lembrando o caso do promotor brasileiro Deltan Dallagnol, da "força-tarefa" da Operação Lava Jato, é feito "sem provas, mas com muita convicção". Vejamos:
"(...) Sempre morei nesta cidade em que Madre Teresa adotou como sua, na qual construiu uma instituição que salvou milhões, lhes deu uma vida decente ou dignidade da morte. Éste é o lugar de onde ela inspirou milhões de pessoas a serem voluntárias e fazerem doações à sua causa. Eis aqui uma mocinha americana que viajou milhares de quilômetros para vê-la, E eu, eu estou aqui o tempo todo.
É claro que Madre Teresa também já teve seu quinhão de críticas, geralmente de quem vê um 'plano' por trás da ajuda aos pobres. Mas não foi por isso que não tentei. Li sobre seu trabalho e vi na televisão. Mas nunca me passou pela cabeça vir visitá-la".
A narração da visita apenas parecia uma conversa amistosa que se encerrou com as tais "bênçãos". E um relato semelhante se observa através das respostas de internautas a um risível artigo de "Filosofia Imortal" sobre uma improcedente "confirmação" de "previsões" de Chico Xavier em 1969, sobre visitas de extra-terrestres em bases estadunidenses ocorridas antes, em 1964 e 1967:
"Eu tive a honra de conhecer pessoalmente o Chico Xavier, um homem simples, sábio e caridoso, talvez o mais caridoso que já conheci em todas as historias de pessoas em nossa era, faturou milhões com sua obra e doou cada centavo. Tenho visto simpatias, previsões e muitos outros relatos falsos que são atribuídos ao Chico,contrariando exatamente um dos pilares da doutrina que é a desmistificação e a fé com raciocínio. Muitos falam de Chico sem nenhum embasamento da realidade do que ele foi e representa para nossa evolução de caráter, fraternidade e humildade. Não é atoa que ele se considerava apenas um cisco no processo de evolução necessária para chegar a Jesus. Quer entender Chico? Então esqueça os fenômenos e apegue-se a caridade!".
O deslumbrado chiquista fala que tenta dar um verniz "realista" ao relato do contato pessoal com o anti-médium mineiro, criando falsas argumentações, pois trata Chico, comprovado deturpador da Doutrina Espírita, como se fosse "espírita autêntico" e, confuso, o internauta se apega a mitos, se recusando a questionar ou analisar fenômeno.
Esse é um tipo de sujeito que põe o mito acima do ser humano. Mas tenta fazer rodeios para que sua visão seja a mais "realista" e "consistente". Diferente dos católicos comuns, que ao menos assumem estarem tomados de emoção, os "espíritas" tentam parecer "racionais", "objetivos" e "coerentes". Fazem todo um engodo de argumentos "objetivos" para tudo terminar numa reles emotividade religiosa.
Imaginamos se esse contato pessoal com ídolos religiosos também não mostra as mesmas ilusões que o contato com um astro da música pop ou do cinema de Hollywood. Nestes casos, há um distanciamento entre a imagem idealizada da celebridade e a sua vida pessoal, e, embora as fantasias dos fãs sejam grandes, há uma consciência, por menor que seja, desse distanciamento, já que o admirador não faz parte da vida pessoal da celebridade, sendo quase sempre um estranho.
No contado com ídolos religiosos, porém, o devoto religioso tem a ilusão de que "furou o cerco" do mito e "penetrou na profundidade da realidade". O devoto acredita que, conhecendo pessoalmente o ídolo religioso, "penetra na sua intimidade" e se torna "beneficiado" pelo que entende como a "realidade do bem", ignorando que ele entrou em contato não com uma "figura humana", mas como um mito, com todo o seu distanciamento que não pode ser subestimado.
Temos que analisar os escaninhos da emotividade religiosa, dos apelos à emoção e das pós-verdades. E também a forma como se vê a "bondade" e a "caridade", quando se exalta, até com certo exagero, atividades que apenas ajudam muito pouco, dando ao "benfeitor" um cartaz e uma glorificação que estão aquém aos resultados de sua pálida filantropia.
A roupagem "realista" do "espiritismo" brasileiro mais parece um segundo verniz para o da devoção religiosa. Se esta já não estabelece diferença entre mito e realidade, aquela, concordando com a primeira, vai mais além, não estabelecendo diferença entre emoção e razão.
O deslumbramento dos católicos já é um problema que o apelo à emoção, ou o Argumentum Ad Passiones, se torna uma falácia bem sucedida. Entre os "espíritas" é um problema mais grave ainda, pois se protege sob a máscara da "fé raciocinada", desculpa para que mitos sejam sustentados por argumentos falsamente objetivos. É esse deslumbramento, que se apoia no pretexto da "bondade", que protege os deturpadores que corromperam o trabalhoso legado de Allan Kardec.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Brasil persiste no culto às mulheres-objeto
O Brasil continua sendo uma sociedade terrivelmente machista. E, como também é marcado pela hipocrisia de uma boa parcela reacionária da nossa sociedade, é um machismo nunca assumido no discurso, mas praticado de forma escancarada e até agressiva.
De um lado temos homens capazes de cometer atos como a chacina na festa de Ano Novo em Campinas, por ódio da ex-mulher e dos familiares dela, sobretudo mulheres. De outro, temos o recreio machista das mulheres siliconadas que só ficam mostrando fotos "sensuais" que, de tão obsessivas, nem inspiram mais sensualidade.
Há mulheres-frutas, ex-integrantes da Banheira do Gugu, entre outras, que aceitam o papel de brinquedos sexuais. Solange Gomes, ex-Banheira, fica o tempo todo "sensualizando" na Internet mas reclama de assédio machista numa escola de samba que não a quis mais como rainha de Carnaval (não confundir com rainha da bateria). A funkeira Renata Frisson, a Mulher Melão, é uma verdadeira "mulher-coisa" e ainda se acha "feminista".
A hipersexualização ocorre porque existe um público machista, que vê a mulher como um brinquedo para suas fantasias sexuais desenfreadas, criando uma ilusão em que tudo é fácil e permitido, o que faz irem às ruas e acharem que toda mulher é Solange Gomes e Mulher Melão para sair aí dando cantadas baratas ou agarrando seus corpos.
O Brasil entrou num surto reacionário nos últimos tempos, mas tudo isso estava latente desde os anos 90, quando intelectuais eram treinados para defender a degradação da cultura popular e a grande mídia despejava sensacionalismo grotesco e a espetacularização da violência e da estupidez humana. Poucos se lembram que a bregalização cultural (que nos últimos anos se valeu do discurso hipócrita de "vítima de preconceito") e a imprensa policialesca criaram condições para o país doentio de hoje.
Se existem mulheres que só vivem de mostrar o corpo, é porque existe um público cruelmente machista nas redes sociais. Evidentemente, ninguém vai abrir o jogo, ninguém vai se assumir machista, ninguém vai se assumir reacionário, todos usam os melhores discursos, e para todo o efeito, os machistas são "pessoas liberais e da paz" e as mulheres-objeto "feministas com o livre direito de mostrar o corpo".
São hipócritas as alegações de "direito à sensualidade" e "liberdade do corpo" porque as mulheres que assim pensam usam isso como desculpa para ficarem se ostentando o tempo todo. Elas esquecem que sua "liberdade do corpo" está a serviço da tara machista e dos impulsos sexuais dos seus aparentes admiradores. E elas não medem escrúpulos em fazer esse papel machista, apesar do rótulo "feminista" muito mal sustentado pela aparente solteirice amorosa.
Há uma grande diferença entre mulheres de uma personalidade mais decente, que de vez em quando aparecem em posições sensuais, e outras que encaram a sensualidade como um fim em si mesmo. Para complicar as coisas, as mulheres que "só se sensualizam" usam o exemplo das mulheres decentes para se achar no "direito à sensualidade".
Só que uma mulher decente, entre uma foto sensual e outra, aparece em outros momentos usando roupas comportadas e mostrando outras atividades. Podem conversar sobre política, atuar, cantar, dançar e escrever livros, e divulgar ideias consistentes. Já a mulher-objeto só se "sensualiza", usando roupas apelativas até quando vão a eventos fora do contexto sensual, como lançamento de livros e velórios.
O Brasil vive um machismo que trata de forma restrita e desigual a emancipação feminina. Há um cruel condicionamento da independência da mulher, que obriga aquelas que buscam aprimorar conhecimentos, ter uma vida comedida e aprimorar o caráter, a se vincularem obrigatoriamente a um marido "importante", seja ele um empresário ou um profissional liberal, ou alguém com o mesmo poder de influência.
A mulher que pode ser solteira, de acordo com essa ideologia maligna, é aquela que cumpre os ideais machistas sem a "moderação" do homem. Seguem "por conta própria" os valores machistas, sejam as moças que só ficam em casa vendo TV e ouvindo música brega, sejam as "turbinadas" que ficam "sensualizando" o tempo todo, até quando o contexto não permite.
Isso é bastante cruel e precisa ser discutido e debatido na sociedade. O que se observa, através da grande mídia, é esse machismo que tenta filtrar a emancipação da mulher de todas as formas, seja confinando as mulheres inteligentes e comedidas à vida marital, seja liberando as mulheres-objetos para o recreio afoito dos internautas que, mais tarde, sairão por aí nas ruas estuprando garotas, achando que "tudo é possível" e que toda mulher é "fruta" ou vem de certas "banheiras".
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
A mensagem anti-kardeciana do "poeta alegre"
Certas práticas ou produtos do "movimento espírita" são risíveis de tão simplórios, resultantes de atitudes referentes à visão deturpada da Doutrina Espírita, frequentemente dissimuladas pelo bom-mocismo das "casas espíritas" e seus palestrantes mais festejados.
No "Artigos Espíritas", página portuguesa mas que representa a mesma deturpação brasileira da Doutrina Espírita, foi publicado um poema de um suposto espírito, chamado "poeta alegre", cujos poemas são tão toscos que há muitas dúvidas de que realmente se trata de um espírito. Os poemas publicados em seu nome mais parecem poeminhas de rima fácil, desses que se faz em exercícios de aula de Português no ensino fundamental.
Até aí, nada demais. O que chama a atenção, num poema recente, intitulado "Ciência e Paciência", supostamente psicografado por um tal de JC no "Centro de Cultura Espírita" na cidade portuguesa de Caldas da Rainha, é uma preocupação inútil com as relações entre ciência e impaciência. Segue o poema e, depois, mais comentários deste texto.
==========
Ciência e Paciência - Atribuído a poeta alegre
O Homem busca
Na Terra,
Muita ciência,
Mas não tem paciência.
O Homem vive
Na fartura ou indigência
Mas de pouco vale
Sem ter paciência
O Homem procura
Viver com decência
Mas isso é pouco
Se não tem paciência
O Homem pode
Ter muita valência
Mas a mais difícil
É ter paciência
A paciência
É a prova final
Dos estudos em curso
Na escola carnal
Procura, pois,
Estimular a paciência
E perante a adversidade
Treina essa “ciência”
Ciência sem paciência
É como espiritualidade sem fé
Não condiz uma com a outra
Não te mantém de pé….
==========
Embora o "autor espiritual" reconheça ser possível "ciência com paciência", é ridícula a preocupação dele com a "impaciência humana" na busca do Saber. É um texto anti-kardeciano, que traz uma mensagem desnecessária, atribuindo à Ciência os ranços de impaciência e intolerância que em verdade são muito raros e excepcionais.
O poema do "poeta alegre" demonstra que sutilmente entra em colisão com os ensinamentos de Allan Kardec, como se observa no "espiritismo" deturpado que tanto bajula o nome do pedagogo francês quanto despreza suas lições mais caras, ou apenas as aproveita de forma distorcida e de acordo com os interesses arrivistas dos "mensageiros espíritas".
Desde a Antiguidade, a paciência era companheira das atividades científicas. Embora haja casos de indignação diante de problemas e conceitos diversos, e polêmicas tensas diante de muitas teses, o trabalho científico e intelectual quase sempre buscou atuar de forma paciente, sobretudo quando o pensador pesquisa conceitos e ideias das quais sente algum incômodo, por discordá-las firmemente.
Esquece o "poeta alegre" de que a paciência é trabalhadora constante da Ciência, que as obras científicas são compostas de longos livros e fartas bibliografias, além de palestras e artigos longamente planejados, tudo resultante de análises em que ideias são postas à prova diante de argumentos dificilmente elaborados e um raciocínio minucioso e cuidadoso.
O próprio Allan Kardec era muito paciente e cuidadoso nos seus trabalhos. Era muito cético e por isso sempre perguntava para poder entender de forma concisa e correta determinado fenômeno. E sua paciência se deu também às oposições que eram feitas contra suas descobertas, além do fato de que, ainda muito doente, Kardec se dedicava pacientemente aos seus derradeiros trabalhos.
A paciência de Kardec se dava em longas viagens, pagas pelo dinheiro dele, sem qualquer patrocínio alheio. E se dava também nos artigos da Revista Espírita, nos quais procurava responder a argumentos contrários ou mesmo a ataques, com paciência cirúrgica e um esforço enorme em elaborar respostas lógicas e consistentes.
Outro aspecto anti-kardeciano do poema do "poeta alegre", devido à sua implicância com a "impaciência da Ciência", é que Allan Kardec havia dito que, se houvesse alguma coisa errada no Espiritismo que fosse provada pela Ciência, que se preferisse ficar com esta última. E que se houvesse argumentos lógicos que contradizessem as descobertas de Kardec, ele mesmo se disporia a reavaliar os conceitos e mudá-los.
E A IMPACIÊNCIA DA FÉ?
O que o "poeta alegre" se esquece é que a fé religiosa é que tem mais focos de impaciência do que o raciocínio científico. O cientista, quando busca o Saber, é mais paciente, analisa argumentos contrários, busca conceitos mais consistentes e dotados de sentido.
Já o religioso, não. Quando busca o Saber, é de maneira confusa, portanto, impaciente, misturando argumentos pedantes com devaneios de ordem mística, atendendo apenas a seus caprichos sonhadores, aos seus preconceitos e interesses pessoais.
Os "espíritas" se demonstram impacientes em tudo. Querem ser intelectualizados com seu igrejismo, e quando apelam para evocar a Filosofia, o fazem da pior maneira: criam um engodo esotérico, com pedantes abordagens de temas filosóficos abstratos, misturam com misticismo religioso e o resultado é uma colcha-de-retalhos nada filosófica e, portanto, mais próxima de crenças igrejeiras do que de qualquer promoção de Conhecimento.
Os próprios "espíritas" se revelam impacientes, na sua incapacidade de argumentar. Preferem que seus pontos de vista prevaleçam por "estarem acima da lógica e do bom senso". Nada mais anti-Kardec do que isso: estar acima da lógica e do bom senso por causa de "conceitos" que "escapam da razão humana", como as irregularidades em muitas supostas psicografias, que destoam dos aspectos pessoais dos autores mortos alegados.
Mas outra impaciência é ficar com a "palavra final". Como os palestrantes "espíritas" fazem um espetáculo de "palavras bonitas" e "lindas ações" - como a chamada "caridade paliativa", ou "assistencialismo", "bondade" feita mais para causar impressão do que promover ajuda e progresso social - , eles se acham com a posse da palavra final, a julgar pelo próprio ídolo Chico Xavier, ele mesmo considerado pelos seus seguidores o proprietário maior da verdade do Universo.
Diante disso, o "poeta alegre" escorregou de vez. Ele deu um recado desnecessário, porque os cientistas são os que mais lidam com a paciência na busca do Saber. Os "espíritas", sim, é que andam impacientes com sua chance de ingresso no "reino dos puros", e tentam a todo custo caprichar no balé de palavras e no espetáculo assistencialista, para que seu bom-mocismo pudesse lhes garantir a "divinização" ao sabor das paixões terrenas da fé religiosa.
sábado, 21 de janeiro de 2017
Prestígio social e a banalização do erro
ROMERO JUCÁ, MICHEL TEMER, GEDDEL VIEIRA LIMA E RENAN CALHEIROS - Eles cometem erros graves e o pessoal tranquilinho em casa?
A banalização do erro humano cria uma moral seletiva. Pessoas que cometem erros pequenos mas são desprovidas de prestígio social são seriamente criticadas, enquanto outras, que cometem erros gravíssimos e até crimes de arrancar os cabelos, são poupadas e vistas apenas como pessoas que cometem pequenas molecagens.
O Brasil começa a viver uma crise de status quo, porque é justamente nas pessoas dotadas de alguma superioridade, como na idade, no dinheiro, na fama, no diploma e no poder exercido de alguma forma é que se observam os erros mais graves e preocupantes, o que deixa os deslumbrados ainda acomodados na sua indiferença, vivendo na doce ilusão de que os "tarimbados", quando erram, apenas "erram como todo mundo".
O "errar como todo mundo", sob a desculpa de dizer "quem nunca erra?" ou "somos gente como a gente" faz com que haja essa complacência. O governo de Michel Temer, por exemplo, é uma terrível e assustadora catástrofe política e as pessoas não parecem preocupadas com isso. Até pouco tempo atrás, era o mesmo pessoal que se enfurecia só de ver a cara de Dilma Rousseff na TV.
Imagine você sendo passageiro de um navio que navega em águas revoltas num momento de tempestade e o timoneiro e a tripulação, além de cometerem delitos - digamos que eles cheguem até a furtar objetos das bagagens dos passageiros - , se desentendem seriamente a ponto de haverem casos de agressões físicas entre os conflituosos.
Imagine se o timoneiro deixa de guiar o navio por causa dessa confusão toda, que cria um caos nos bastidores e a embarcação ainda está rumando em direção a um rochedo. Você, passageiro do navio, permaneceria tranquilo numa situação dessas, acrescentando que o céu apresenta trovoadas, o ar se movimenta em vendaval e no mar se formam ondas gigantes?
A situação é como essa metáfora e o governo Michel Temer, que só pode ser considerado "governo" por uma simples formalidade, pois mais parece desgoverno, é recheado de tantos e graves deslizes e escândalos que só mesmo o surrealismo para explicar a serenidade das pessoas e a ingenuidade (ou cinismo?) de uns em rir desses escândalos, como se a tragédia fosse uma comédia?
São erros cometidos pelo próprio Temer e seus associados: Romero Jucá, Henrique Meirelles, Alexandre de Moraes, José Serra, Geddel Vieira Lima, Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Aécio Neves, ou mesmo Gilmar Mendes, Carmem Lúcia e os irmãos donos das Organizações Globo (José Roberto, João Roberto e Roberto Irineu Marinho). A plutocracia política, econômica, jurídica e midiática revela erros muito graves que o status social quer que sejam vistos como "coisa menor".
Com o nível de responsabilidades que têm os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário - é bom deixar claro que até o "super-herói" Sérgio Moro tem irregularidades graves em sua trajetória - , é assustador que haja tantos e tantos escândalos, porque o Brasil é deixado à deriva num momento em crises sociais profundas, algo que mais parece véspera de catástrofe.
No Rio de Janeiro, então, a serenidade de pessoas indiferentes a isso faz com que famílias entrem num restaurante mesmo quando um caminhão de lixo fedorento, cujo ar fétido flui em contato com a comida a quilo, contaminando os alimentos, e todos vão felizes fazer sua refeição sem saber que o contato do lixo com a comida pode produzir, após a ingestão, uma intoxicação alimentar.
A felicidade dos cariocas, não só eles mas principalmente eles, é um retrato surreal do país que mergulha em gravíssimas crises, que hoje culminam com as rebeliões nos presídios que não só envolvem a chamada "nata do banditismo" nacional, mas também envolvem supostos fornecedores de entorpecentes consumidos por gente rica nas festas.
É uma situação de calamidade pública, de provocar insônias e não sonos tranquilos, de inspirar apreensão e não tranquilidade, e que não permite relativismos do tipo "todo mundo erra". Isso é até uma hipocrisia, porque as elites são tão distintas em qualidades positivas, mas quando erram têm que ser niveladas ao cidadão comum, mesmo sendo erros graves de gente rica ao lado de erros pequenos de gente pobre ou de classe média.
E O "MOVIMENTO ESPÍRITA"?
A complacência ao erro também é muito comum no "espiritismo" brasileiro. A deturpação que teve em Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco seus maiores propagandistas é uma gravidade sem tamanho que empastelou, de forma deplorável e irresponsável, o legado de Allan Kardec.
Não se trata de algo acidental ou feito sem propósito, apoiado por boa-fé ou cometido pela falta de tempo. Chico Xavier e Divaldo Franco deturparam com muito gosto e propósito o legado kardeciano, mas seus fanáticos seguidores insistem que isso foi apenas efeito de "falta de tempo para estudar" os postulados espíritas, tese muito bonita e bem articulada, mas sem veracidade nem consistência.
A "falta de tempo para estudar" não procede como motivo da deturpação "acidental" porque tanto Chico quanto Divaldo produziram vários livros cujo conteúdo contraria severamente os postulados originais da Doutrina Espírita, e não se produz farto material por causa de um "pequeno erro de atenção" ou "falta de aprendizado".
Se fosse assim, qualquer calouro de faculdade já teria pronta sua tese de mestrado, com monografia pronta na base do achismo e enfeitada com linguagem empolada. O que os dois "médiuns" fizeram é de extrema gravidade e feita de puro propósito. Eles deturparam porque quiseram e gostaram, essa é a verdade mais crua, embora difícil de ser aceita por muitos.
Chico Xavier já tinha "dez anos de espiritismo", como se atribuía oficialmente, quando elaborou o livro Nosso Lar em 1943. O livro mostra uma "colônia espiritual", coisa que Allan Kardec em nenhum momento julgou plausível em suas obras, devido à inexistência de estudos que apontassem sequer um único indício de tais lugares no mundo espiritual. A vida espiritual apenas tinha existência aceita por argumentos lógicos, mas carecia de estudos para ver como ela era.
O "movimento espírita" criou práticas que mais parecem arremedos do que se fazia na Igreja Católica, como "água fluidificada" (nome que soa redundante), em lugar da "água benta" e o "auxílio fraterno", espécie de "confessionário". Nos "centros espíritas" brasileiros, a reunião de estudo tão citada pelo pedagogo de Lyon foi substituída por uma missa em que a única ruptura ocorreu no ritual do senta-e-levanta dos ritos, além do aparato pomposo de batinas, órgão etc.
Não há um aspecto do cientificismo de Allan Kardec que tenha sido adotado. Em primeira instância, porque a FEB teve como propósito original dar preferência a Jean-Baptiste Roustaing, que criou as raízes do "espiritismo" que conhecemos. Só depois, com a fase dúbia, nos anos 1970, é que se fez um "roustanguismo sem Roustaing", supostamente fiel aos postulados originais de Kardec.
E o que acontece? Acontece que os erros dos "espíritas" também são encarados como coisinhas pequenas. O fato deles admitirem que "erram o tempo inteiro", declaração que esconde uma falsa modéstia e um medo de sofrer os efeitos de suas irregularidades, revela o quanto o prestígio religioso serve não só para alimentar vaidades pessoais, mas também de proteger contra os efeitos naturais de suas decisões e práticas desacertadas.
Não há uma tradução de um livro sequer de Franz Anton Mesmer, o estudioso de Magnetismo que inspirou o professor Rivail a estudar os fenômenos espíritas e adotar o codinome Allan Kardec, e por isso os passes, não bastasse o caráter "passebo" (trocadilho com "placebo", relacionado a supostos remédios de efeitos inócuos), se reduzem apenas a um espetáculo de sacudir de mãos no ar ou tocando no corpo de alguém.
São erros cometidos de propósito, que por isso mesmo não podem ser minimizados nem relativizados. E os erros de Chico Xavier foram de uma gravidade imensa, que derrubam, como uma onda do mar atingindo um castelo de areia, sua reputação de "iluminado" e "espírito puro". Ele causou muita confusão e isso não é culpa dos que o questionaram, porque, no caso dos pastiches literários, os fatos mostram que os críticos literários que contestavam o "médium" estavam certos.
Não há como servir de "carteirada religiosa" para minimizar os erros gravíssimos vistos no "movimento espírita". Não há como atribuir, quando uma pessoa sofre desgraças em excesso, a culpabilidade da vítima, porque isso acaba revelando um juízo de valor severo, injusto e, portanto, muito cruel dos "espíritas", algo que se torna digno de processo por danos morais.
Os erros de Chico, Divaldo e seus semelhantes são de muita gravidade. Eles envolvem tanto o desprezo conceitual aos postulados espíritas originais quanto à indisposição de obter o rigor necessário das práticas mediúnicas, que no Brasil se reduziram a um faz-de-conta usado como propaganda religiosa.
São erros graves, porque os "espíritas" assumiram responsabilidades que pressupunham a consciência de virtuais erros, o que mostra que os "espíritas", principalmente os "médiuns" tão festejados e adorados, assumiram o risco diante dos deslizes que cometeram ao longo dos anos.
Achar que, só porque "todos erram", os "espíritas" devem ser eximidos de responsabilidade e, portanto, de sofrer os efeitos drásticos de seus atos, é ainda mais deplorável, porque isso revela o orgulho e o medo de ver sua reputação ser reduzida a nada diante da revelação de tão graves erros. É como se tivessem medo de caírem do alto da escada que constroem para o Céu.
A banalização do erro humano cria uma moral seletiva. Pessoas que cometem erros pequenos mas são desprovidas de prestígio social são seriamente criticadas, enquanto outras, que cometem erros gravíssimos e até crimes de arrancar os cabelos, são poupadas e vistas apenas como pessoas que cometem pequenas molecagens.
O Brasil começa a viver uma crise de status quo, porque é justamente nas pessoas dotadas de alguma superioridade, como na idade, no dinheiro, na fama, no diploma e no poder exercido de alguma forma é que se observam os erros mais graves e preocupantes, o que deixa os deslumbrados ainda acomodados na sua indiferença, vivendo na doce ilusão de que os "tarimbados", quando erram, apenas "erram como todo mundo".
O "errar como todo mundo", sob a desculpa de dizer "quem nunca erra?" ou "somos gente como a gente" faz com que haja essa complacência. O governo de Michel Temer, por exemplo, é uma terrível e assustadora catástrofe política e as pessoas não parecem preocupadas com isso. Até pouco tempo atrás, era o mesmo pessoal que se enfurecia só de ver a cara de Dilma Rousseff na TV.
Imagine você sendo passageiro de um navio que navega em águas revoltas num momento de tempestade e o timoneiro e a tripulação, além de cometerem delitos - digamos que eles cheguem até a furtar objetos das bagagens dos passageiros - , se desentendem seriamente a ponto de haverem casos de agressões físicas entre os conflituosos.
Imagine se o timoneiro deixa de guiar o navio por causa dessa confusão toda, que cria um caos nos bastidores e a embarcação ainda está rumando em direção a um rochedo. Você, passageiro do navio, permaneceria tranquilo numa situação dessas, acrescentando que o céu apresenta trovoadas, o ar se movimenta em vendaval e no mar se formam ondas gigantes?
A situação é como essa metáfora e o governo Michel Temer, que só pode ser considerado "governo" por uma simples formalidade, pois mais parece desgoverno, é recheado de tantos e graves deslizes e escândalos que só mesmo o surrealismo para explicar a serenidade das pessoas e a ingenuidade (ou cinismo?) de uns em rir desses escândalos, como se a tragédia fosse uma comédia?
São erros cometidos pelo próprio Temer e seus associados: Romero Jucá, Henrique Meirelles, Alexandre de Moraes, José Serra, Geddel Vieira Lima, Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Aécio Neves, ou mesmo Gilmar Mendes, Carmem Lúcia e os irmãos donos das Organizações Globo (José Roberto, João Roberto e Roberto Irineu Marinho). A plutocracia política, econômica, jurídica e midiática revela erros muito graves que o status social quer que sejam vistos como "coisa menor".
Com o nível de responsabilidades que têm os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário - é bom deixar claro que até o "super-herói" Sérgio Moro tem irregularidades graves em sua trajetória - , é assustador que haja tantos e tantos escândalos, porque o Brasil é deixado à deriva num momento em crises sociais profundas, algo que mais parece véspera de catástrofe.
No Rio de Janeiro, então, a serenidade de pessoas indiferentes a isso faz com que famílias entrem num restaurante mesmo quando um caminhão de lixo fedorento, cujo ar fétido flui em contato com a comida a quilo, contaminando os alimentos, e todos vão felizes fazer sua refeição sem saber que o contato do lixo com a comida pode produzir, após a ingestão, uma intoxicação alimentar.
A felicidade dos cariocas, não só eles mas principalmente eles, é um retrato surreal do país que mergulha em gravíssimas crises, que hoje culminam com as rebeliões nos presídios que não só envolvem a chamada "nata do banditismo" nacional, mas também envolvem supostos fornecedores de entorpecentes consumidos por gente rica nas festas.
É uma situação de calamidade pública, de provocar insônias e não sonos tranquilos, de inspirar apreensão e não tranquilidade, e que não permite relativismos do tipo "todo mundo erra". Isso é até uma hipocrisia, porque as elites são tão distintas em qualidades positivas, mas quando erram têm que ser niveladas ao cidadão comum, mesmo sendo erros graves de gente rica ao lado de erros pequenos de gente pobre ou de classe média.
E O "MOVIMENTO ESPÍRITA"?
A complacência ao erro também é muito comum no "espiritismo" brasileiro. A deturpação que teve em Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco seus maiores propagandistas é uma gravidade sem tamanho que empastelou, de forma deplorável e irresponsável, o legado de Allan Kardec.
Não se trata de algo acidental ou feito sem propósito, apoiado por boa-fé ou cometido pela falta de tempo. Chico Xavier e Divaldo Franco deturparam com muito gosto e propósito o legado kardeciano, mas seus fanáticos seguidores insistem que isso foi apenas efeito de "falta de tempo para estudar" os postulados espíritas, tese muito bonita e bem articulada, mas sem veracidade nem consistência.
A "falta de tempo para estudar" não procede como motivo da deturpação "acidental" porque tanto Chico quanto Divaldo produziram vários livros cujo conteúdo contraria severamente os postulados originais da Doutrina Espírita, e não se produz farto material por causa de um "pequeno erro de atenção" ou "falta de aprendizado".
Se fosse assim, qualquer calouro de faculdade já teria pronta sua tese de mestrado, com monografia pronta na base do achismo e enfeitada com linguagem empolada. O que os dois "médiuns" fizeram é de extrema gravidade e feita de puro propósito. Eles deturparam porque quiseram e gostaram, essa é a verdade mais crua, embora difícil de ser aceita por muitos.
Chico Xavier já tinha "dez anos de espiritismo", como se atribuía oficialmente, quando elaborou o livro Nosso Lar em 1943. O livro mostra uma "colônia espiritual", coisa que Allan Kardec em nenhum momento julgou plausível em suas obras, devido à inexistência de estudos que apontassem sequer um único indício de tais lugares no mundo espiritual. A vida espiritual apenas tinha existência aceita por argumentos lógicos, mas carecia de estudos para ver como ela era.
O "movimento espírita" criou práticas que mais parecem arremedos do que se fazia na Igreja Católica, como "água fluidificada" (nome que soa redundante), em lugar da "água benta" e o "auxílio fraterno", espécie de "confessionário". Nos "centros espíritas" brasileiros, a reunião de estudo tão citada pelo pedagogo de Lyon foi substituída por uma missa em que a única ruptura ocorreu no ritual do senta-e-levanta dos ritos, além do aparato pomposo de batinas, órgão etc.
Não há um aspecto do cientificismo de Allan Kardec que tenha sido adotado. Em primeira instância, porque a FEB teve como propósito original dar preferência a Jean-Baptiste Roustaing, que criou as raízes do "espiritismo" que conhecemos. Só depois, com a fase dúbia, nos anos 1970, é que se fez um "roustanguismo sem Roustaing", supostamente fiel aos postulados originais de Kardec.
E o que acontece? Acontece que os erros dos "espíritas" também são encarados como coisinhas pequenas. O fato deles admitirem que "erram o tempo inteiro", declaração que esconde uma falsa modéstia e um medo de sofrer os efeitos de suas irregularidades, revela o quanto o prestígio religioso serve não só para alimentar vaidades pessoais, mas também de proteger contra os efeitos naturais de suas decisões e práticas desacertadas.
Não há uma tradução de um livro sequer de Franz Anton Mesmer, o estudioso de Magnetismo que inspirou o professor Rivail a estudar os fenômenos espíritas e adotar o codinome Allan Kardec, e por isso os passes, não bastasse o caráter "passebo" (trocadilho com "placebo", relacionado a supostos remédios de efeitos inócuos), se reduzem apenas a um espetáculo de sacudir de mãos no ar ou tocando no corpo de alguém.
São erros cometidos de propósito, que por isso mesmo não podem ser minimizados nem relativizados. E os erros de Chico Xavier foram de uma gravidade imensa, que derrubam, como uma onda do mar atingindo um castelo de areia, sua reputação de "iluminado" e "espírito puro". Ele causou muita confusão e isso não é culpa dos que o questionaram, porque, no caso dos pastiches literários, os fatos mostram que os críticos literários que contestavam o "médium" estavam certos.
Não há como servir de "carteirada religiosa" para minimizar os erros gravíssimos vistos no "movimento espírita". Não há como atribuir, quando uma pessoa sofre desgraças em excesso, a culpabilidade da vítima, porque isso acaba revelando um juízo de valor severo, injusto e, portanto, muito cruel dos "espíritas", algo que se torna digno de processo por danos morais.
Os erros de Chico, Divaldo e seus semelhantes são de muita gravidade. Eles envolvem tanto o desprezo conceitual aos postulados espíritas originais quanto à indisposição de obter o rigor necessário das práticas mediúnicas, que no Brasil se reduziram a um faz-de-conta usado como propaganda religiosa.
São erros graves, porque os "espíritas" assumiram responsabilidades que pressupunham a consciência de virtuais erros, o que mostra que os "espíritas", principalmente os "médiuns" tão festejados e adorados, assumiram o risco diante dos deslizes que cometeram ao longo dos anos.
Achar que, só porque "todos erram", os "espíritas" devem ser eximidos de responsabilidade e, portanto, de sofrer os efeitos drásticos de seus atos, é ainda mais deplorável, porque isso revela o orgulho e o medo de ver sua reputação ser reduzida a nada diante da revelação de tão graves erros. É como se tivessem medo de caírem do alto da escada que constroem para o Céu.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Valentões da Internet e os ídolos com pés-de-barro
As pessoas só conseguem entender o cyberbullying depois do estrago feito. É impressionante, no entanto, a adesão de pessoas de bem, como antes havia em ataques de bullying nas escolas, às agressões do valentão contra sua vítima.
Sim, porque, quando começam as campanhas de linchamento moral, pessoas de bem, iludidas com o "jeito divertido" dos valentões, fazem coro para suas humilhações graves. Acreditando se tratar tão comente de uma "brincadeira saudável", muitas pessoas direitas acabam dando cartaz para o valentão, rindo com ele e pegando carona nas suas piadinhas violentas.
Atos de bullying ou cyberbullying são geralmente cometidos por pequenos grupos de encrenqueiros. Mas eles se inserem muitas vezes em contextos nos quais eles têm algum prestígio social e são protegidos por pessoas influentes. Houve denúncias, na Internet, em que até a busologia do Rio de Janeiro teve casos de cyberbullying, com direito a blogue de ofensas e à exploração ofensiva do estado civil de alguns deles, humilhados apenas por estarem solteiros.
Na sociedade brasileira, o apoio aos valentões, que começa na escola, é uma radiografia de como as pessoas encaram aqueles que são dotados de algum status quo: dinheiro, força, prestígio social, suposto senso de humor mais atraente (irreverência), etc. É a partir desses atributos de suposta superioridade social que as pessoas consentiram na ascensão ao poder do desastroso governo de Michel Temer e sua equipe de corruptos.
As pessoas acabam levando gato por lebre. Na escola, é aquele bonitão ou fortão que parece ter um senso de humor hilário e muito divertido, mas que promove sessões públicas de humilhação, não raro com certas doses de violência, ainda que psicológica. Nas Internet, há a produção de blogues ofensivos em que o valentão reproduz, para fins depreciativos, qualquer conteúdo relacionado e privativo de sua vítima.
A partir daí, a sociedade brasileira cria uma linhagem a qual é capaz de endeusar pessoas dotadas de algum status que podem prejudicar multidões ou cometer erros graves. Em nome da permanência dos ídolos de diploma, fama, dinheiro e poder, usa-se o eufemismo de definir prejuízos como "sacrifícios necessários" e erros graves, desses de arrancar os cabelos, como "defeitos leves e sem importância".
Muitos de nós se apegam, de maneira muito arriscada, a esse status quo. Multiplicam-se os erros graves e as confusões preocupantes do governo Temer, deixando o Brasil numa posição altamente vulnerável e bastante perigosa (leia-se "perigosa" no sentido de catástrofe), e as pessoas felizes, sorrindo e rindo em suas vidas, achando que nada de grave vai acontecer.
Mal comparando, é como se o Titanic estivesse caminhando para uma colisão fatal com um iceberg e as pessoas ainda naquele clima de festa e euforia, contando piadas, rindo, olhando o céu azul tão bonito, imprudentes numa felicidade ao mesmo tempo masoquista e imprudente.
As pessoas se apegam a ídolos religiosos, como se não bastasse todo tipo de apego que mantém os mesmos plutocratas de baixa confiabilidade no pedestal, de Luciano Huck a Jaime Lerner, passando por Sérgio Moro. No "espiritismo", isso é muito grave, porque os deturpadores do legado kardeciano conseguem com muita facilidade contornar críticas e crises, mesmo cometendo erros vergonhosos que deveriam trazer constrangimento e não complacência.
Imagine um Império Romano em que o povo pobre ou oprimido, inclusive o escravo, sempre venha com algum argumento para justificar o poder e o prestígio de seus tiranos. Imagine na Idade Média, as argumentações feitas para consentir com o poder dos sacerdotes, mesmo quando eles promovem banhos de sangue contra os hereges.
O pior apego dos brasileiros nasce da adoração ao valentão "divertido" que promove rituais de humilhação em praça pública. As pessoas estão cada vez mais traídas por sua ingenuidade e precisam rever urgentemente seus valores e seus ídolos, tendo o compromisso de retirar dos pedestais seus ídolos com pés-de-barro. mesmo que seja sob o preço caro de abrir mão de emoções tão belas e agradáveis.
Paciência. Quando nos decepcionamos com alguém, antes alvo da adoração mais apaixonada, entramos em choque conosco mesmos. Quantos reagiam de maneira ríspida quando alguém revelava que o objeto da paixão daqueles era, na verdade, uma pessoa de qualidades e atitudes tão sombrias? Quantos preferiam ser traídas pelo traidor, tão apegadas à paixão que sentem por este?
Do âmbito rasteiro dos valentões da Internet ao âmbito sofisticado dos ídolos religiosos, principalmente os "médiuns espíritas" dotados de culto à personalidade - sim, estamos falando de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco - , há um apego muito doentio aos ídolos que compõem o imaginário de adoração e respeitabilidade que garante um Brasil viciado em velhos paradigmas, velhas fórmulas, velhos preceitos e padrões de "sucesso" e "êxito" que perderam valor.
A resistência ferrenha diante de tantas desilusões, teimosia que é confundida com perseverança, fé que esconde a credulidade mais servil e suicida, faz com que os ídolos de pés-de-barros, dotados de muito dinheiro, diploma, fama, poder político, midiático, empresarial, tecnocrático e jurídico e até religioso tentem a todo custo passar por cima de escândalos e incidentes a lhes prejudicarem.
E isso mostra o quanto as fantasias e teimosias são muito menos doentias na infância, quando os "heróis" da criançada podem se revelar fictícios ou inúteis, que as crianças, depois de algum tempo, aceitam e resignam com o fim de suas ilusões.
Na vida adulta, porém, as teimosias se tornam tão ferrenhas que, de um lado, produzem valentões, de outro, plutocratas que chegam a pôr a justiça social em sério risco para fazer prevalecer seus interesses e crenças. No primeiro caso, sobretudo, até porque o bullying e o cyberbullying são práticas feitas por aqueles que demonstram ser os "cães-de-guarda" de um sistema de valores retrógrados e reacionários, que atacam quem representa alguma ameaça a esse sistema.
A menor contestação aos supostos méritos de Chico Xavier e Divaldo Franco - que já se mostram exemplos de preocupante aberração pelo fato de serem supostos médiuns dotados do mais explícito culto à personalidade - já mexe com os nervos de seus seguidores, que passam a se esquecer das "boas energias" que dizem ter para se converterem em verdadeiros valentões ou portadores de outras paranoias.
É hora das pessoas deixarem de lado seus ídolos com pés-de-barro, não ter complacência alguma sequer com palavras bonitas ilustradas por cenários de flores ou de céus azuis de brancas nuvens. As pessoas que assim pensam estão sendo colocadas no ridículo, por mais que usem as mais engenhosas justificativas para defender suas ilusões, nem que seja para dizer que é a "única alegria" que têm. "Alegria" que, cedo ou tarde, se revelará numa dolorosa tristeza, ou talvez um trauma.
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
O "anjo Miguel" só jogou o Brasil nas trevas
A "psicografia coxinha" de Robson Pinheiro, através dos reacionários livros O Partido - Projeto Criminoso de Poder e A Quadrilha - Foro de São Paulo, que prometem estabelecer um elo entre os planos espirituais e abordagens mesquinhas de veículos midiáticos sociopatas como Veja e o jornalismo das Organizações Globo, a ninguém convenceu com seus "presságios".
A ideia de definir as passeatas de 13 de março de 2016 como "libertação" e "intuídas pela espiritualidade superior" foi por água abaixo, com organizações denominadas "Revoltados On Line", exibição de suásticas e apelos para morte de petistas, manifestantes exibindo nádegas como sarcasmo, faixas pedindo intervenção militar ou exibindo suásticas nazistas.
O "anjo Miguel" do livro O Partido, uma alusão sutil não a um espírito do além, mas a um senhor que ultrapassou metade da vida física e que assumiu a Presidência da República, Michel Temer - cujos primeiros nomes de batismo são Michel Miguel, na verdade duas variações do mesmo nome - , não conseguiu realizar a sua missão de "pacificação" e "progresso humanitário" que se supunham certas de acontecer.
Os livros de Robson Pinheiro, que apenas levam ao extremo o conservadorismo já presente em todo o "movimento espírita", mostravam um "Miguel" que supostamente se esforçava em trazer a luz para o povo brasileiro. A realidade mostrou que o "Miguel" que assumiu o comando do país em maio de 2016 só jogou o país nas trevas.
Pelo contrário. Diante da explosão da crise penitenciária, que expôs o desgaste de todo um modelo político e de toda uma estrutura ultraconservadora da sociedade brasileira, o governo Michel Temer foi o primeiro, na república brasileira, que nem chegou a esboçar, no sentimento do povo brasileiro, qualquer esperança de resolver a grave crise da sociedade brasileira.
Seriam precisos livros diversos para enumerar todos os desastres do governo Michel Temer e de setores aristocráticos associados: como as elites jurídicas de Curitiba, das quais se destacam o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dalagnol, os ministros "tucanizados" do Supremo Tribunal Federal (como Gilmar Mendes e Carmen Lúcia), partidos como PSDB, PMDB e PSC (este do extremista Jair Bolsonaro) e a grande mídia (Folha, Abril, Estadão e Globo).
O mais preocupante é a concentração das fortunas dos irmãos Marinho, donos da Rede Globo de Televisão. Donos de uma riqueza estratosférica, os magnatas se beneficiam pelo poder descomunal que exercem, quando a grande mídia ainda tem o descaramento de dizer que "recuperou a alta popularidade", com audiências individuais disfarçadas pela ostensiva transmissão em estabelecimentos coletivos, o mais recente truque de jabaculê em voga no país.
Todos esses e mais outros agentes do ultraconservadorismo político estão envolvidos em decisões nocivas à população, escândalos de corrupção, medidas atrapalhadas e até recuos de decisões, além de saídas de ministros por causa de denúncias graves - o próximo, dizem, será o da Justiça, Alexandre de Moraes, considerado truculento e falastrão - , que eliminam todo mito de que se trata de uma elite "responsável" só por ser, em tese, vinculada a atribuições "técnicas" ou de "moderação política".
Medidas como a PEC dos Gastos Públicos e as reformas da previdência e trabalhista, juntas, limitam gastos para Educação e Saúde, forçam os empregados a trabalhar mais e ganhar menos e adiam a aposentadoria para o fim da vida. Os "espíritas" devem adorar, porque a aposentadoria talvez chegue quando o beneficiado já está há um bom tempo na "pátria espiritual".
A crise penitenciária também revela uma das distorções do moralismo midiático. Os programas policialescos de televisão, verdadeiras "fábricas de criminosos", na medida em que espetacularizam a violência, são responsáveis pela superlotação de presídios, além da burocracia que coloca presos provisórios e acusados de cometer pequenos crimes em celas comandadas por bandidos de alta periculosidade.
As chacinas ocorridas em vários presídios do país, que servem como "filé" para os noticiários policialescos com apresentadores posando de "justiceiros", são um retrato de uma sociedade moralista e punitivista, capaz de manter presos acusados de crimes leves, em tese por prisão provisória, e soltar pessoas ricas condenadas por crimes graves, em tese condenadas à "prisão em regime semi-aberto" que mais parece uma absolvição dos crimes cometidos.
Mas outros aspectos mancham o Brasil de Temer, como a venda "aos poucos" das riquezas minerais brasileiras para empresas estrangeiras, fazendo o nosso país nunca fugir da triste tradição de entregar riquezas para os gringos, desde os tempos do pau-brasil, que por sinal inspirou o nome de tão sofrida nação.
A ganância privatista tão conhecida e temperada pela cegueira dos "investigadores" da Operação Lava Jato, que causaram um prejuízo de R$ 55 bilhões, paralizando obras de infraestrutura, urbanização e outros setores estratégicos, provocando desemprego em massa, tudo porque seus "magistrados" condenam empresas quando deveriam condenar apenas empresários acusados de corrupção.
Enquanto isso, a economia brasileira se desnacionaliza, se fragiliza e a população corre o risco até de ir antes da hora para o mundo espiritual, com muita coisa ainda a fazer, porque os hospitais públicos passarão oficialmente a ter investimentos limitados, algo que já acontecia na surdina do descaso político, mas hoje é lei resultante de emenda constitucional aprovada pelo Legislativo.
Com tudo isso e tantos desastres do governo Temer, o Brasil perdeu qualquer condição de ter algum destaque no mundo, pois voltará a ser uma pátria subordinada aos interesses dos EUA, por sinal a serem governados por um Donald Trump ainda mais pão-duro com os países pobres ou emergentes.
Também não precisa o Brasil ser Coração do Mundo. Até porque, pelo jeito, o "espiritismo" sempre apoiou governos conservadores e vários periódicos espíritas apoiaram as passeatas anti-PT, com seus apelos reacionários e vingativos.
Se Chico Xavier não mediu escrúpulos para falar, diante de milhões de espectadores, que apoiava a ditadura militar, então faz parte: o "espiritismo" brasileiro, a dois anos da "data-limite", só desejava mesmo é um país ultraconservador e igrejista, não estando aí para o verdadeiro progresso humanista e igualitário.
domingo, 15 de janeiro de 2017
O reacionarismo estúpido da grande mídia hegemônica
MÍDIA HEGEMÔNICA USA O ROQUEIRO INGLÊS MICK JAGGER PARA DEFENDER QUE TRABALHADORES BRASILEIROS SE APOSENTEM MAIS TARDE.
Talvez a reforma da Previdência Social tenha de dar errado mesmo, quando a mídia solidária ao governo Michel Temer - aquelas corporações de Comunicação que atingem o grande público mas vivem de interesses elitistas e privados - comete uma gafe, e não qualquer gafe.
A escolha de Mick Jagger, roqueiro inglês que comanda os Rolling Stones, como capa da revista Exame, do Grupo Abril, pode gerar um sabor bem amargo para os plutocratas que defendem que os trabalhadores continuem ativos até morrer: 65 anos de idade (igualmente para homens e mulheres) e 49 de contribuição previdenciária.
Mick Jagger é considerado "pé frio" para o futebol e para medidas consideradas reacionárias. Ele é um dos remanescentes de um cenário da música internacional em que a rebeldia era mais do que um gesto, era uma forma da juventude mostrar que é capaz de pensar, lançar ideias, movimentos sociais e produzir cultura. Os Rolling Stones são contemporâneos dos Beatles e Who, entre tantos outros que criaram a "invasão britânica" que sacudiu a música jovem no mundo inteiro.
Isso é irônico quando vemos que a rebeldia do rock, no Brasil, se reduziu a uma formalidade de gestos, roupas e vocabulários de uma parcela de jovens abertamente reacionária. Desde que os espaços de divulgação da cultura rock se reduziram, a partir dos anos 90, a modelos reacionários como os da hoje extinta Rádio Cidade (RJ) e da ainda ativa 89 FM (SP), na verdade clones da Jovem Pan que tocam "sucessos do rock", ser roqueiro deixou de ser sinônimo de contestação e ativismo.
E isso acompanha setores da sociedade cada vez mais reacionários, expressando seus preconceitos sociais abertamente, pouco se importando se o povo pobre terá que ganhar menos e até os idosos terão que trabalhar até o fim da vida, e isso com a grande mídia manipulando as mentes, distorcendo os fatos e criando falácias de toda ordem para forçar o apoio do povo aos retrocessos sociais que prejudicam o próprio povo.
Afinal, é muito diferente ver senhores de 70 anos fazendo rock, praticamente seu hobby - os Rolling Stones, recentemente, lançaram um disco de blues que demoraram a fazer, tão dedicados pela qualidade de seu trabalho - e idosos brasileiros dando duro no batente, em atividades nem sempre agradáveis e muito desgastantes, e que, em vez do respaldo animado da plateia, há a reação irritada de patrões que exigem produtividade rápida.
A grande mídia já fez muita falácia para forçar o povo a aceitar a chamada PEC dos Gastos Públicos, que congelará por vinte anos as verbas destinadas a Educação, Saúde e outros setores. A ideia é forçar um sufocamento dos orçamentos públicos, forçando as instituições a recorrerem à iniciativa privada, que nem está aí para o interesse público, preferindo seus lucros em primeiro lugar.
O Brasil vive um momento bastante delicado, em que pessoas de repente perderam o medo de assumir preconceitos sociais racistas, machistas, misóginos, homofóbicos, elitistas e tantos outros. É uma situação surreal, porque não se imaginava que uma boa parcela dos brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, fosse assumir tão abertamente seu reacionarismo.
É asusstador, por exemplo, ver que o neonazismo no Brasil conta com pelo menos 150 mil seguidores. Que internautas podem xingar negros livremente nas redes sociais. Que cyberbullies podem atrair apoio para suas campanhas de ataques e humilhação de inocentes, sobretudo criando blogues de ofensas. E isso como se não bastassem homens tirando a vida de mulheres sob o pretexto de defender a "honra masculina" e "valores como a Família e o Casamento".
É claro que esse reacionarismo não é de hoje e ele é um "vulcão ativo" desde os tempos do general Ernesto Geisel e sua "democracia ideal" segundo os pontos de vista das elites dominantes. Através do governo deste general da ditadura militar, falecido há cerca de duas décadas, a sociedade defende um modelo de "democracia controlada", na qual só se amplia o direito de expressão para uma classe média solidária aos mais ricos e poderosos, enquanto o povo pobre continua reprimido e oprimido.
A sociedade dominante parece nunca ter engolido o fim de 1974. Para ela, 1974 ainda não acabou e tentam voltar a esse ano até de maneira bem mais radical do que era na época, e isso conta com o apoio de veículos de mídia cujos donos vivem em fortunas exorbitantes.
Ver que, enquanto os cidadãos médios ficam reclamando das fortunas dos deputados, senadores e servidores públicos, mas ficam coniventes com as fortunas exorbitantes, de arrancar os cabelos de qualquer um, dos donos da Rede Globo de Televisão, é um dado ainda mais preocupante.
Os irmãos Marinho (João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu) são donos de fortunas faraônicas, acumulando dinheiro de tudo quanto é canto: verbas públicas (inclusive Lei Rouanet e intensificadas pelas "mesadas" do presidente Michel Temer), sonegação de impostos, anunciantes e contas bancárias em paraísos fiscais (que cobram poucas taxas e trazem rendimentos amplos e rápidos). E há quem diga que os Marinho também tiram para si umas boas fatias do Criança Esperança!
Fortunas semelhantes também envolvem as famílias Frias, da Folha de São Paulo, Mesquita, de O Estado de São Paulo, e Civita, do Grupo Abril, que editam Exame e Veja. Empresários detentores de fortunas exorbitantes mas que se dizem, com muita hipocrisia, "amigos da sociedade e do cidadão comum".
Ninguém reclama disso. Os irmãos Marinho se enriquecem de maneira astronômica, controlando as mentes das pessoas - o Jornal Nacional, de tão mentiroso, parece uma obra de ficção, sendo, segundo muitos, a nova "novela das oito" da TV brasileira (a outra virou "novela das nove") - e as pessoas se resignam, mesmo quando o valor das fortunas dos três irmãos empresários ultrapassam os valores de políticos e funcionários públicos, valores grandes mas "modestos" diante das fortunas dos Marinho.
A Rede Globo também está associada à promoção direta dos ídolos do "espiritismo". Reciclou o mito de Francisco Cândido Xavier com base no que um jornalista católico da BBC fez com Madre Teresa de Calcutá. As Organizações Globo puseram fim à antiga animosidade contra Chico Xavier e não só o acolheu definitivamente, a ponto de co-produzir filmes relacionados a ele, como também se responsabilizou para sustentar os mitos "filantrópicos" de Divaldo Franco e João de Deus.
O poder midiático desenha uma sociedade preconceituosa, estereotipada, elitista, moralista etc. Canais concorrentes da Globo, como Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV! - e, em tempos antigos, a TV Tupi - , desenhavam uma imagem deturpada e caricatural das classes populares, eliminando delas sua identidade cultural e impondo a elas valores confusos, decadentes e sensacionalistas.
O que a grande mídia hegemônica fez com o Brasil é de uma catástrofe fulminante. A grande mídia desenvolveu preconceitos sociais que hoje são vistos como "progressistas", defendendo interesses conservadores dos mais diversos tipos, mesmo quando eles apontam para supostas subversões comportamentais (como a hiperssexualização de siliconadas como Solange Gomes e Mulher Melão).
A grande mídia atua com um reacionarismo estúpido, manipulando o consciente e o inconsciente coletivo, de forma a tornar distantes os progressos sociais sonhados no começo da década de 1960. Até a rebeldia do rock e o erotismo "provocador" das mulheres é conduzido mais para sustentar valores reacionários do que para promover valores de emancipação e libertação social.
Este é um cenário que deveria ser contestado abertamente e sem complacências. Um bom ponto de partida é contestar as concentrações de renda de banqueiros, barões da grande mídia, políticos do PSDB e similares, não com a resignação hipócrita de admitir que "todos roubam", mas com uma indignação que normalmente se dirige contra o PT, devido à hipnose midiática.
Ver que os irmãos Marinho acumulam as maiores fortunas do país deveria ser algo altamente revoltante. Isso deveria render muitos protestos, a começar pelo próprio abandono do povo aos veículos das Organizações Globo, um boicote que serviria de lição para os três empresários que acham que podem enriquecer de forma abusiva às custas do trabalho do povo.
Talvez a reforma da Previdência Social tenha de dar errado mesmo, quando a mídia solidária ao governo Michel Temer - aquelas corporações de Comunicação que atingem o grande público mas vivem de interesses elitistas e privados - comete uma gafe, e não qualquer gafe.
A escolha de Mick Jagger, roqueiro inglês que comanda os Rolling Stones, como capa da revista Exame, do Grupo Abril, pode gerar um sabor bem amargo para os plutocratas que defendem que os trabalhadores continuem ativos até morrer: 65 anos de idade (igualmente para homens e mulheres) e 49 de contribuição previdenciária.
Mick Jagger é considerado "pé frio" para o futebol e para medidas consideradas reacionárias. Ele é um dos remanescentes de um cenário da música internacional em que a rebeldia era mais do que um gesto, era uma forma da juventude mostrar que é capaz de pensar, lançar ideias, movimentos sociais e produzir cultura. Os Rolling Stones são contemporâneos dos Beatles e Who, entre tantos outros que criaram a "invasão britânica" que sacudiu a música jovem no mundo inteiro.
Isso é irônico quando vemos que a rebeldia do rock, no Brasil, se reduziu a uma formalidade de gestos, roupas e vocabulários de uma parcela de jovens abertamente reacionária. Desde que os espaços de divulgação da cultura rock se reduziram, a partir dos anos 90, a modelos reacionários como os da hoje extinta Rádio Cidade (RJ) e da ainda ativa 89 FM (SP), na verdade clones da Jovem Pan que tocam "sucessos do rock", ser roqueiro deixou de ser sinônimo de contestação e ativismo.
E isso acompanha setores da sociedade cada vez mais reacionários, expressando seus preconceitos sociais abertamente, pouco se importando se o povo pobre terá que ganhar menos e até os idosos terão que trabalhar até o fim da vida, e isso com a grande mídia manipulando as mentes, distorcendo os fatos e criando falácias de toda ordem para forçar o apoio do povo aos retrocessos sociais que prejudicam o próprio povo.
Afinal, é muito diferente ver senhores de 70 anos fazendo rock, praticamente seu hobby - os Rolling Stones, recentemente, lançaram um disco de blues que demoraram a fazer, tão dedicados pela qualidade de seu trabalho - e idosos brasileiros dando duro no batente, em atividades nem sempre agradáveis e muito desgastantes, e que, em vez do respaldo animado da plateia, há a reação irritada de patrões que exigem produtividade rápida.
A grande mídia já fez muita falácia para forçar o povo a aceitar a chamada PEC dos Gastos Públicos, que congelará por vinte anos as verbas destinadas a Educação, Saúde e outros setores. A ideia é forçar um sufocamento dos orçamentos públicos, forçando as instituições a recorrerem à iniciativa privada, que nem está aí para o interesse público, preferindo seus lucros em primeiro lugar.
O Brasil vive um momento bastante delicado, em que pessoas de repente perderam o medo de assumir preconceitos sociais racistas, machistas, misóginos, homofóbicos, elitistas e tantos outros. É uma situação surreal, porque não se imaginava que uma boa parcela dos brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, fosse assumir tão abertamente seu reacionarismo.
É asusstador, por exemplo, ver que o neonazismo no Brasil conta com pelo menos 150 mil seguidores. Que internautas podem xingar negros livremente nas redes sociais. Que cyberbullies podem atrair apoio para suas campanhas de ataques e humilhação de inocentes, sobretudo criando blogues de ofensas. E isso como se não bastassem homens tirando a vida de mulheres sob o pretexto de defender a "honra masculina" e "valores como a Família e o Casamento".
É claro que esse reacionarismo não é de hoje e ele é um "vulcão ativo" desde os tempos do general Ernesto Geisel e sua "democracia ideal" segundo os pontos de vista das elites dominantes. Através do governo deste general da ditadura militar, falecido há cerca de duas décadas, a sociedade defende um modelo de "democracia controlada", na qual só se amplia o direito de expressão para uma classe média solidária aos mais ricos e poderosos, enquanto o povo pobre continua reprimido e oprimido.
A sociedade dominante parece nunca ter engolido o fim de 1974. Para ela, 1974 ainda não acabou e tentam voltar a esse ano até de maneira bem mais radical do que era na época, e isso conta com o apoio de veículos de mídia cujos donos vivem em fortunas exorbitantes.
Ver que, enquanto os cidadãos médios ficam reclamando das fortunas dos deputados, senadores e servidores públicos, mas ficam coniventes com as fortunas exorbitantes, de arrancar os cabelos de qualquer um, dos donos da Rede Globo de Televisão, é um dado ainda mais preocupante.
Os irmãos Marinho (João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu) são donos de fortunas faraônicas, acumulando dinheiro de tudo quanto é canto: verbas públicas (inclusive Lei Rouanet e intensificadas pelas "mesadas" do presidente Michel Temer), sonegação de impostos, anunciantes e contas bancárias em paraísos fiscais (que cobram poucas taxas e trazem rendimentos amplos e rápidos). E há quem diga que os Marinho também tiram para si umas boas fatias do Criança Esperança!
Fortunas semelhantes também envolvem as famílias Frias, da Folha de São Paulo, Mesquita, de O Estado de São Paulo, e Civita, do Grupo Abril, que editam Exame e Veja. Empresários detentores de fortunas exorbitantes mas que se dizem, com muita hipocrisia, "amigos da sociedade e do cidadão comum".
Ninguém reclama disso. Os irmãos Marinho se enriquecem de maneira astronômica, controlando as mentes das pessoas - o Jornal Nacional, de tão mentiroso, parece uma obra de ficção, sendo, segundo muitos, a nova "novela das oito" da TV brasileira (a outra virou "novela das nove") - e as pessoas se resignam, mesmo quando o valor das fortunas dos três irmãos empresários ultrapassam os valores de políticos e funcionários públicos, valores grandes mas "modestos" diante das fortunas dos Marinho.
A Rede Globo também está associada à promoção direta dos ídolos do "espiritismo". Reciclou o mito de Francisco Cândido Xavier com base no que um jornalista católico da BBC fez com Madre Teresa de Calcutá. As Organizações Globo puseram fim à antiga animosidade contra Chico Xavier e não só o acolheu definitivamente, a ponto de co-produzir filmes relacionados a ele, como também se responsabilizou para sustentar os mitos "filantrópicos" de Divaldo Franco e João de Deus.
O poder midiático desenha uma sociedade preconceituosa, estereotipada, elitista, moralista etc. Canais concorrentes da Globo, como Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV! - e, em tempos antigos, a TV Tupi - , desenhavam uma imagem deturpada e caricatural das classes populares, eliminando delas sua identidade cultural e impondo a elas valores confusos, decadentes e sensacionalistas.
O que a grande mídia hegemônica fez com o Brasil é de uma catástrofe fulminante. A grande mídia desenvolveu preconceitos sociais que hoje são vistos como "progressistas", defendendo interesses conservadores dos mais diversos tipos, mesmo quando eles apontam para supostas subversões comportamentais (como a hiperssexualização de siliconadas como Solange Gomes e Mulher Melão).
A grande mídia atua com um reacionarismo estúpido, manipulando o consciente e o inconsciente coletivo, de forma a tornar distantes os progressos sociais sonhados no começo da década de 1960. Até a rebeldia do rock e o erotismo "provocador" das mulheres é conduzido mais para sustentar valores reacionários do que para promover valores de emancipação e libertação social.
Este é um cenário que deveria ser contestado abertamente e sem complacências. Um bom ponto de partida é contestar as concentrações de renda de banqueiros, barões da grande mídia, políticos do PSDB e similares, não com a resignação hipócrita de admitir que "todos roubam", mas com uma indignação que normalmente se dirige contra o PT, devido à hipnose midiática.
Ver que os irmãos Marinho acumulam as maiores fortunas do país deveria ser algo altamente revoltante. Isso deveria render muitos protestos, a começar pelo próprio abandono do povo aos veículos das Organizações Globo, um boicote que serviria de lição para os três empresários que acham que podem enriquecer de forma abusiva às custas do trabalho do povo.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Criticar o "espiritismo" não é intolerância contra religião, mas contra a mentira
Muitas pessoas se apavoram quando surgem na Internet uma série de críticas à deturpação do "movimento espírita" brasileiro. Imaginam elas que as críticas são "muito radicais" e refletem uma postura de "intolerância religiosa" a um movimento que, embora "entenda mal" as ideias de Allan Kardec, prevalece pelas "ações de bondade e amor ao próximo".
Esses argumentos partem de críticos menos vigilantes. Pessoas que acham que, basta ler melhor os livros de Allan Kardec que os problemas da deturpação estão resolvidos. Aí fica fácil. Basta um deturpador como o suposto médium baiano Divaldo Franco prometer "estudar melhor Kardec" que a Doutrina Espírita original está salva.
Não, não é assim que acontece. A denúncia de veiculação de conceitos alheios ao pensamento kardeciano, como se observa nos livros de Francisco Cândido Xavier, é apenas um aspecto mais fácil de identificar a deturpação espírita, um ponto de partida para questionamentos ainda mais aprofundados.
Não se trata de radicalismo o aprofundamento de questionamentos, porque o Brasil acumulou problemas demais e os retrocessos foram tão grandes que praticamente deixamos as elites sucumbirem a um saudosismo doentio e recuperarem um cenário político mais típico da ditadura militar, que é o governo do presidente Michel Temer.
Vivemos uma esquizofrenia social na qual o "espiritismo" é um dos exemplos mais típicos. Se muitos acreditam que o governo Temer está "no caminho do futuro", mesmo quando seu projeto político remete a retrocessos sociais anteriores à Revolução de 1930, o "espiritismo" é tido como "moderno" e "futurista" quando seus postulados, afastados do legado kardeciano, remetem a paradigmas do Catolicismo medieval português, introduzidos no Brasil pelos jesuítas.
Criticar o "espiritismo" não é intolerância religiosa, nem fruto de ódio ou vingança. A intolerância é quanto à série de práticas mentirosas e fraudulentas e à desonestidade doutrinária observadas, com muita pesquisa e espírito de isenção, nas atividades do "movimento espírita".
Comparações de obras "mediúnicas" atribuídas a espíritos de mortos mas que apresentam irregularidades, não raro gravíssimas, quanto à natureza pessoal dos mesmos, é algo que não pode ser escondido sob o tapete. Apenas ler as traduções de José Herculano Pires das obras de Kardec é insuficiente, se deixamos passar a "mentiunidade" que foi praticada até por "tarimbados" como Chico Xavier e Divaldo Franco.
Temos a fase dúbia, vigente desde a década de 1970, quando o "movimento espírita", deixando de lado o alto clero da FEB (abertamente roustanguista) e enfatizando os interesses das federações regionais, fingiu querer recuperar as bases originais de Kardec e difundiu um igrejismo ainda mais radical, piegas e moralista, praticamente empastelando com o legado do professo lionês.
Toda essa desonestidade doutrinária dos "espíritas" igrejeiros que fingem sentir "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" com as ideias de Kardec, passou a ser dissimulada com apelos à emoção (em latim: Argumentum Ad Passiones), falácia que, no "movimento espírita", consistiu em um belo desfile de palavras bonitas em livros e palestras e num moralismo adocicado trazido pelos ditos "romances espíritas", que soam como arremedos de velhas novelas de televisão.
A deturpação da Doutrina Espírita foi muito mais adiante depois do fim da era Wantuil de Freitas. E isso é compreensível quando um roustanguista autêntico, Luciano dos Anjos, mais tarde passou a denunciar o próprio roustanguismo, vendo a ascensão de Chico Xavier e Divaldo Franco às custas de bajulações viscosas a Allan Kardec.
A mentira se torna mais grave quando assume o verniz da "verdade". E o "espiritismo" brasileiro pós-Wantuil se tornou um organizado repertório de belas palavras e imagens, além de propagar uma concepção de "bondade" e "caridade" feito mais para impressionar as massas do que ajudar os necessitados, uma "filantropia" que expõe o benfeitor acima do beneficiado.
Essa hierarquização ideológica, que mede a "caridade" pelo prestígio do benfeitor e não pela necessidade do beneficiado, só faz agravar o já preocupante "culto à personalidade" que faz os "médiuns" brasileiros virarem aberrações sensacionalistas, movidas pelos arremedos de "filantropia" e "ativismo social" e pelo pedantismo de bancarem os dublês de "filósofos" e "cientistas".
A fase dúbia criou muito mais problemas, porque fez muita gente pensar que o Espiritismo original, de Kardec, passou a ser finalmente reconhecido. Grande ilusão. O "roustanguismo sem Roustaing" e o "kardecismo com Chico Xavier" desnortearam ainda mais o legado do pedagogo francês, e despejou ainda mais os preconceitos religiosos que mancharam com catolicização barata e mofada a Doutrina Espírita, já nos primórdios da FEB.
Aprofundar as críticas e os questionamentos não é intolerância religiosa. É, sim, seguir o espírito de Erasto, quando falava que se deveria criticar duramente a deturpação na Doutrina Espírita, encarando os "inimigos internos" de frente e não aceitar estes sob o pretexto da "bondade" e da "ajuda a muita (sic) gente". O próprio Erasto disse para se manter rigor nas críticas, como forma de manter a integridade doutrinária de Kardec, quase nunca inteiramente respeitada no Brasil.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Vida adulta não é garantia de sabedoria e revela imaturidades infantis
Os adultos são considerados mais responsáveis e dotados de experiência, sabedoria e prudência, correto? Errado. Nem sempre isso é assim e hoje os fatos mostram que a vida adulta, mesmo a meia-idade e a fase idosa, estão cada vez mais vulneráveis a teimosias e imprudências que antes estavam associadas à infância e à adolescência.
O governo do presidente Michel Temer, no Brasil, é um exemplo claro disso. Sua "equipe de notáveis", incluindo o próprio presidente, é dotada em sua grande maioria por homens com mais de 55 anos de idade, pessoas que o "senso comum" define como "amadurecidas". O próprio Temer personifica paradigmas de maturidade, elegância, disciplina e rigor paternal.
No entanto, é esse governo que comete uma série de atos, ao mesmo tempo confusos e contraditórios, incluindo vários recuos, como se o Governo Federal tivesse sido tomado por delinquentes baderneiros em torno dos 15 anos de idade. Atos desastrosos como o corte de gastos públicos - quando o ideal para combater a recessão é limitar a dívida aos bancos, o chamado "juro da dívida pública", e não as verbas para Educação e Saúde - , indicam essa imaturidade.
A cada vez mais se observam notícias de casais se divorciando de maneira turbulenta, ricos cometendo assassinato, políticos cometendo corrupção e gafes, pessoas dando declarações equivocadas e tendo que se explicar depois, pessoas recebendo broncas de outrem, outras cometendo decisões das mais vergonhosas, outras cometendo vandalismo e acidentes de trânsito.
Quem imagina que tais atitudes são privilégio da juventude ou que ocorrem com menos intensidade entre idosos, ficará assustado ao saber que elas se tornam cada vez mais constantes e em nível preocupante entre pessoas de aparência grisalha e protegidas por algum tipo de reputação conquistada pelo acúmulo cronológico de experiências profissionais, sociais e acadêmicas.
Isso derruba de vez o mito que um simples embranquecer de cabelos ou formar de rugas fosse garantia de obtenção de sabedoria e bom senso. O mito do "mestre da geração" se torna cada vez mais distante diante de gerações de idosos ou "coroas", nascidos sobretudo dos anos 1940 até os 1960, está cada vez mais distante, na medida em que a meia-idade e a velhice apresentam cada vez mais vestígios de imaturidade e insensatez.
MITO DO "VELHO SÁBIO"
A ideia do "velho sábio", garantida pelo acúmulo de experiências temporais, criou um mito que, no Brasil, foi reforçado por gerações de escritores, diplomatas, juristas e estadistas nascidos nas duas primeiras décadas do século XX, e que pareciam, depois dos 60 anos de idade, expressar exemplos de razoável segurança pessoal e um espírito de prudência, sensatez e sabedoria, por mais que cometessem erros aqui e ali, e mesmo assim erros sem muita gravidade.
Isso criou uma visão glamourizada da velhice que, no sistema moralista e ultraconservador vigente no Brasil, acoberta a realidade de que pessoas distintas, que se encaixariam na figura do "idoso com sabedoria", são na verdade um número bem mais seleto e que os pobres mortais são imaturos e inconsequentes até depois das rugas crescerem e após os cabelos ficarem totalmente brancos.
Mas, mesmo nas melhores hipóteses, o que se observa é que a meia-idade e a velhice se tornam revelações de desejos reprimidos na juventude, decisões equivocadas, anseios frustrados e problemas mal resolvidos. É surpreendente, por exemplo, que casamentos que pareciam promissores, estáveis e sólidos na casa dos 30 anos, se encerrem aos 55 de maneira bastante turbulenta e tensa.
Em muitas famílias, há o perfil dos pais que vivem no seu mundinho doméstico, no qual repousam dogmas morais que parecem atemporais. A mãe que trata o quarto dos filhos como sua casa de bonecas, o pai que espera do filho um "super-herói", valorizando mais o sacrifício do que a conquista de uma meta, na luta do descendente para "vencer na vida".
O acúmulo material de anos de vida e a suposição de que esse acúmulo traz aos idosos uma segurança de vida com menor risco de erros revela uma ilusão na qual o aparato de "vida adulta", voltado à "racionalidade" e "objetividade", escondem vícios e apegos a práticas e abordagens infantis.
A mãe busca intervir nos filhos como se fossem bonecas de brinquedo da velha infância. O pai, escondido na "vida racional" das leituras de jornais e em quatro horas assistindo a noticiários de TV, o que lhe faz um rudimentar arremedo de intelectual, mal consegue perceber que possui também teimosias infantis e idealizações maiores da vida.
No caso das dificuldades que os filhos enfrentam para "vencer na vida", encarando concursos públicos com programa de estudo pesado e questões de prova surrealmente difíceis - onde gabaritos têm margem de erro em pelo menos cinco questões - ou entrevistas de emprego nas quais os patrões não exigem talento, mas "boa aparência" e "talento humorístico" (sim, é isso mesmo que você lê), os pais pensam que os filhos "podem tudo" e exigem sacrifícios descomunais.
É muito fácil exigir dos mais jovens um sacrifício descomunal por pouco e nada. E, se algo não dá certo, é culpa da vítima. O filho perdeu o emprego porque ficou "esfregando as mãos" diante de uma pergunta tola. Ou teria que estudar demais para o concurso público, porque das 60 questões de prova, 12 das 56 que acertou foram rejeitadas pelo "robô" que faz leitura ótica dos cartões de resposta.
As famílias cujos pais e mães se preocupam mais com casa arrumada, com regras de etiqueta e exigem dos filhos mais sacrifícios, mais jogo de cintura e mais sorrisos diante de um bombardeio dificuldades e frustrações revelam o quanto não é necessariamente do lado de quem tem pouca idade é que estão os equívocos e os exageros de quem idealiza ou exige demais das coisas.
A ilusão do status quo, então, agrava a situação, quando vemos, no cenário político atual, pessoas dotadas de formação acadêmica, prestígio econômico, jurídico e empresarial, que são tidas como "responsáveis", "experientes" e "prudentes", cometendo imprudências e outros deslizes de arrancar os cabelos até de quem já é careca.
Vemos empresários que precisam aprender a se vestir na hora de lazer - nem toda situação requer um traje de colarinho e sapatos de couro - , assim como homens de 60 anos que têm que adotar posturas mais joviais. É um processo duro a perda das ilusões de uma velhice "sábia" e "experiente", o que faz irritar muitos sessentões que ainda tratam os mais jovens de forma sutilmente jocosa, fazendo piadas irônicas sobre o que a juventude anda fazendo no dia a dia.
No âmbito da religião, incluindo o "espiritismo", o que se vê é o deslumbramento das pessoas com estórias que glamourizam o sofrimento humano, que lembram o conto da Gata Borralheira que virou Cinderela, com apenas suas devidas variações dramáticas.
O mito de Francisco Cândido Xavier tornou-se absoluto por essa exploração de fraquezas emocionais humanas que chegam à velhice muito mal resolvidas. Através dos livros e de atividades "filantrópicas" de Chico Xavier, as pessoas o endeusaram pela ilusão de uma "bondade" espetacularizada que lembra o saudosismos infantil das fábulas e dos contos de fadas.
A quebra dessas ilusões cria um clima de impasse, sobretudo no Brasil. Temos hoje uma geração de idosos em sua grande maioria acéfala, incapaz de trazer um norte definido para o país. As pessoas que chegam aos 60 anos hoje estão associadas a uma juventude vivida nos tempos da ditadura militar, onde o instinto de sobrevivência falava mais alto do que qualquer idealismo.
Daí ser compreensível que teremos idosos sem sabedoria, precisando mais aprender a vida hoje do que ensinar aquilo que eles viveram mal. O contexto social e político que defendeu a repressão ao desejo, ao pragmatismo da vida e outras limitações produziu "coroas" e velhos que, se não totalmente irresponsáveis, estão longe de representar algum modelo de experiência e sabedoria.
O Brasil está tomado de insegurança porque os paradigmas de experiência, prestígio e maturidade andam em crise, extremamente velhos e obsoletos. A insegurança é generalizada e convém as pessoas terem consciência dessa insegurança e da imaturidade dos "amadurecidos", porque os contextos sociais, culturais e políticos do passado produziram "coroas" e velhos medíocres, incapazes de trazer lições concretas e aprofundadas da vida.
Cabe repensar tudo isso e verificar se os "mais experientes" também não possuem suas neuroses, seus desejos reprimidos, suas incompreensões, suas inseguranças e suas inquietações. E ver como o país lidará com sua situação quando se assumir com firmeza que a imaturidade também ocorre na meia-idade e na velhice.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
Surtos fascistas e preconceitos sociais no Sul e Sudeste preocupam o Brasil
Algo preocupante ocorre no Brasil e contradiz - ou melhor, "corrobora", se abrirmos mão de abordagens oficiais - a "profecia" de Francisco Cândido Xavier sobre os rumos sociais e políticos em ocorrência no país. É a ascensão do fascismo e a liberação dos preconceitos sociais que mostram que nossas elites estão cada vez mais psicopatas.
Quando falamos "corrobora", é porque o "projeto" do "Brasil Coração do Mundo" revela uma perspectiva totalitária, e, partindo de um Chico Xavier que havia defendido a ditadura militar, na sua pior fase, para milhares de telespectadores - e, recentemente, para milhões e milhões de internautas no mundo inteiro - revela o lado obscurantista do "espiritismo" brasileiro.
Para quem não sabe, a "profecia" da Data-Limite, embora tenha uma roupagem "futurista" e "filosófico-cientista" por parte de seus divulgadores, Geraldo Lemos Neto e Juliano Pozati, revela um projeto roustanguista que claramente remete ao projeto da "religião-síntese", a "religião espírita" (Catolicismo medieval redivivo) de Os Quatro Evangelhos de Jean Baptiste Roustaing.
A reboque disso tudo, há a perspectiva sombria de que uma "religião unificadora", repetindo o exemplo do Catolicismo na Idade Média, se transforme num sistema político-religioso totalitário, que tantas atrocidades e tantos genocídios fizeram contra a humanidade. E nada disso estava escrito no roteiro, porque todo movimento totalitário sempre se apresenta pelo seu aspecto positivo, omitindo o problema maior, que são os "obstáculos" a serem combatidos.
O "espiritismo" cada vez mais mostra sua vocação ultraconservadora. Publicações "espíritas" definem os protestos anti-Dilma que ocorreram em 2015 e 2016 como "libertadores" e "símbolos da regeneração da humanidade", chegando ao ponto de atribuir a tais manifestações uma suposta intuição de "espíritos benfeitores" ou "de considerável elevação moral".
Só que essas manifestações, se sabe, demonstram não uma "regeneração", mas uma "degeneração". Sinais da mais baixa evolução espiritual se observam facilmente, a partir de nomes como "Revoltados On Line" - logo os "espíritas", que dizem contra a revolta, apoiam tais manifestações - , do endeusamento de facínoras como Jair Bolsonaro, da exibição de suásticas nazistas e de cartazes vingativos pedindo intervenção militar ou pregando a morte aos petistas.
Ver que o "espiritismo" brasileiro está apoiando os movimentos fascistas é o cúmulo de sua trajetória de deturpações tão vis e tão deploráveis, desde que Chico Xavier ofendeu as humildes vítimas do incêndio num circo em Niterói e esculhambou os humildes operários e camponeses no Pinga Fogo da TV Tupi, mesmo programa no qual defendeu abertamente a ditadura militar, naquela época muito mais cruel e repressiva.
Ver que tínhamos que orar por gente como o coronel Brilhante Ustra, que estava construindo um "reino de amor" assassinando acusados de subversão, num contexto em que gente honesta era presa e levada à tortura e morte até quando denunciada levianamente por um desafeto, bastando uma pequena desavença para o dedo-duro de ocasião entregar o outro para os "anjos da morte", é assustador.
Numa época de pós-verdade (mentiras veiculadas como "verdades indiscutíveis"), pós-ética (desonestidades socialmente aceitáveis) e pós-lógica (teses ou opiniões sem pé nem cabeça que viram "certezas absolutas" e "fatos comprovados"), é assustador a ascensão do fascismo e a liberação dos preconceitos sociais não só nas redes sociais, mas também vindos de gente famosa e gabaritada.
Pessoas como o empresário Flávio Rocha (da rede de lojas Riachuelo), o publicitário baiano de "alma paulista-carioca" Nizan Guanaes, o diretor teatral Cláudio Botelho e os roqueiros Lobão e Roger Rocha Moreira (Ultraje a Rigor) passaram a defender abertamente preconceitos sociais contra pobres e mulheres. Por outro lado, internautas despejam ofensas racistas desconhecendo que isso é crime, ou acreditando que a lei não irá prendê-los por prática de "brincadeiras inocentes".
Há casos de pessoas espancando políticos de esquerda, xingando músicos progressistas, agredindo mulheres nas ruas. Recentemente, dois homens que perseguiram um travesti espancaram até a morte um vendedor que o defendia, numa estação de Metrô em São Paulo. Mais tarde, um homem matou 12 pessoas numa festa de Ano Novo em Campinas. Recentemente, um motoqueiro agrediu uma jornalista do portal Vermelho, em São Paulo.
Isso são só alguns dos inúmeros episódios. Enquanto isso, no cenário político, há quem queira censurar a Internet e calar as vozes contrárias ao cenário político obscurantista e confuso de Michel Temer, que quer porque quer manter seu projeto e até pessoas nefastas como o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, mesmo com a grave crise penitenciária.
Esta crise, já anunciada pela rebelião de presos em Pedrinhas, na cidade de São Luís, no Maranhão. eclodiu com a chacina de um presídio em Manaus, Amazonas, e outro em Boa Vista, Roraima, revelando organizações criminosas que tiveram raiz na ditadura militar, quando presos políticos e bandidos perigosos conviviam juntos na mesma cela, o que fazia os bandidos aprenderem macetes de organização política.
O Brasil está numa situação extremamente vulnerável e não será um débil otimismo religioso que irá resolver essa tragédia. O discurso religioso dos "espíritas" indica a ideia de que a "melhor forma" de resolver o problema é esquecê-lo, o que se revela um equívoco. "Esquecemos" demais de deixamos a situação piorar cada vez mais.
Os movimentos fascistas e os surtos elitistas revelam a reação furiosa de setores sociais retrógrados, antes detentores dos mais plenos privilégios sociais. Muitas dessas pessoas, antes símbolos de prestígio social impecável, se mostram desequilibradas e dotadas de níveis aberrantes de estupidez, ao adotarem posturas e atitudes antes inimagináveis em gente desse nível.
São pessoas que se enlouqueceram quando viram os pobres obtendo ascensão social antes nunca cogitável. Despejam comentários brutais e cometem agressões de pura intolerância social, paranoicos por perderem os privilégios que obtiveram de gerações e gerações de elitistas.
É lamentável que o "espiritismo", cada vez mais moldado na Teologia do Sofrimento, esteja conivente com tudo isso. Mesmo quando seus apelos se apoiam em mensagens sorridentes e "amigas" sobre "solidariedade" e "perdão", os "espíritas" se tornam um tanto deslocados, se agem por boa-fé diante da situação dramática do país. Se agem por má-fé, cometem uma mentira mistificadora irresponsável.
A onda de "convulsões sociais" está tomando o Brasil, diante do enlouquecimento das elites com medo de perder privilégios e vantagens que há muito detinham. E mostra o quanto o Brasil possui estruturas sócio-culturais e morais arcaicas, que sempre obrigavam o país a assimilar novidades que eram filtradas pelos valores conservadores que deveriam ser obsoletos, mas são assimilados na deturpação das novas tendências.
O próprio "espiritismo" brasileiro faz parte dessa mania, e o que vemos é o duro trabalho de Allan Kardec ser desmoralizado no Brasil, quando o "movimento espírita" prefere usar a Doutrina Espírita como fachada para suas deturpações de raiz roustanguista e voltadas para a restauração dos valores do Catolicismo medieval que a própria Igreja Católica hoje descartou. Como muita coisa neste país, o "espiritismo" brasileiro é uma embalagem nova de um conteúdo podre de tão velho.
"Espiritismo" estabelece limites para a caridade
A CARIDADE DOS "ESPÍRITAS" APENAS MINIMIZA CASOS EXTREMOS DE MISÉRIA E FOME, SEM NO ENTANTO AJUDAR PROFUNDAMENTE NA VIDA DE ALGUÉM.
O "espiritismo" se considera a "religião da bondade". Um movimento religioso conservador e com práticas irregulares, para as quais se usa o pretexto da "caridade" para permiti-las e manter as contradições graves que fazem os "espíritas" estarem em desvantagem com católicos e evangélicos que, pelo menos, não cometem desonestidade doutrinária.
Os "espíritas" bajulam Allan Kardec, pedagogo de formação iluminista, mas praticam um igrejismo medieval herdado do Catolicismo do Brasil colonial, por sua vez introduzido por jesuítas portugueses de práticas medievais muito rigorosas e cruéis. Essa constatação é confirmada pela prática que o "movimento espírita" faz como a evocação de espíritos de jesuítas e católicos diversos.
Diante dessa desonestidade doutrinária que faz os "espíritas" estarem mais próximos do imperador romano Constantino, fundador da Igreja Católica na Idade Média, do que de Kardec, o "movimento espírita" só pode se apoiar num perfil e numa conduta conservadores, comprovada pelos artigos, palestras e publicações associadas a essa doutrina.
E isso influi no estabelecimento de restrições para a caridade, o que indica a surpreendente afinidade que o projeto educativo da Mansão do Caminho, do festejado Divaldo Franco - considerado "maior filatropo do Brasil" sem beneficiar mais do que 0,01% da população brasileira - , com a retrógrada Escola Sem Partido proposta pelo governo do presidente Michel Temer.
Sim, a caridade "espírita" tem limites, embora seus palestrantes façam todo tipo de esforço para dizer o contrário. Afinal, diante da apologia ao sofrimento humano e à condenação da individualidade, vista como um suposto capricho materialista de cada pessoa, o "espiritismo" já estabelece um padrão de "caridade" a ser aceito, praticado e estimulado. Vejamos:
1) AJUDAR OS NECESSITADOS DE FORMA PATERNALISTA E PALIATIVA - O "espiritismo" apela para determinar papéis para o teatro da filantropia: pobres e miseráveis pateticamente resignados e submissos, ricos paternalistas que apenas "ajudam um pouco". A ideia é ajudar apenas de forma a evitar efeitos extremos das desigualdades sociais, fazendo com que estas fossem mantidas dentro de níveis socialmente aceitáveis.
2) ACEITAR A EXPLORAÇÃO DE ALGOZES - A "caridade" estranhamente festejada pelos "espíritas" é aquela em que a pessoa de menor status está sujeita à exploração abusiva e tirânica de algozes de algum status superior. Ser escravo da tirania alheia e alvo de humilhações parece divertir os "espíritas" que, no seu juízo de valor, acham que submeter-se aos abusos de alguém é "caridade" e uma "excelente prova para a evolução espiritual".
3) CONVIVER COM ARRIVISTAS - Ajudar os pobres? Só dentro de duas condições: seja o pobre extremo, em condições frágeis, só para evitar os efeitos extremos das desigualdades sociais, (efeitos que trariam dívidas sociais sérias para as elites), seja o pobre arrivista que se entrega a valores e métodos retrógrados de ascensão social. Como o pobre rapaz de vida modesta e digna que é forçado pelas circunstâncias a aceitar as chamadas "periguetes" a pretexto de ensinar "valores nobres" a elas, normalmente surdas da valores que fogem do recreio orgiástico a que elas estão acostumadas.
Os "espíritas" apelam para aceitar infortúnios e desgraças e até a agradecer a quem deixa os sofredores em desgraças. A cada vez mais os "espíritas" se mostram identificados com a Teologia do Sofrimento católica e o quanto isso é comprovado em textos, palestras e publicações, da forma mais explícita possível, embora nunca assumida no discurso.
Isso mostra que o "espiritismo" nunca foi uma religião progressista, e que ele está muitíssimo distante de Allan Kardec, por mais que tente bajulá-lo. Mas as traduções igrejistas de Guillon Ribeiro e Salvador Gentile ajudam na brincadeira, oferecendo um Kardec "catolicizado" que serve para os roustanguistas enrustidos brincarem de serem "kardecianos". E tudo isso criando uma roupagem de "bondade" que, mesmo assim, só se manifesta de maneira restritivae condicional.
O "espiritismo" se considera a "religião da bondade". Um movimento religioso conservador e com práticas irregulares, para as quais se usa o pretexto da "caridade" para permiti-las e manter as contradições graves que fazem os "espíritas" estarem em desvantagem com católicos e evangélicos que, pelo menos, não cometem desonestidade doutrinária.
Os "espíritas" bajulam Allan Kardec, pedagogo de formação iluminista, mas praticam um igrejismo medieval herdado do Catolicismo do Brasil colonial, por sua vez introduzido por jesuítas portugueses de práticas medievais muito rigorosas e cruéis. Essa constatação é confirmada pela prática que o "movimento espírita" faz como a evocação de espíritos de jesuítas e católicos diversos.
Diante dessa desonestidade doutrinária que faz os "espíritas" estarem mais próximos do imperador romano Constantino, fundador da Igreja Católica na Idade Média, do que de Kardec, o "movimento espírita" só pode se apoiar num perfil e numa conduta conservadores, comprovada pelos artigos, palestras e publicações associadas a essa doutrina.
E isso influi no estabelecimento de restrições para a caridade, o que indica a surpreendente afinidade que o projeto educativo da Mansão do Caminho, do festejado Divaldo Franco - considerado "maior filatropo do Brasil" sem beneficiar mais do que 0,01% da população brasileira - , com a retrógrada Escola Sem Partido proposta pelo governo do presidente Michel Temer.
Sim, a caridade "espírita" tem limites, embora seus palestrantes façam todo tipo de esforço para dizer o contrário. Afinal, diante da apologia ao sofrimento humano e à condenação da individualidade, vista como um suposto capricho materialista de cada pessoa, o "espiritismo" já estabelece um padrão de "caridade" a ser aceito, praticado e estimulado. Vejamos:
1) AJUDAR OS NECESSITADOS DE FORMA PATERNALISTA E PALIATIVA - O "espiritismo" apela para determinar papéis para o teatro da filantropia: pobres e miseráveis pateticamente resignados e submissos, ricos paternalistas que apenas "ajudam um pouco". A ideia é ajudar apenas de forma a evitar efeitos extremos das desigualdades sociais, fazendo com que estas fossem mantidas dentro de níveis socialmente aceitáveis.
2) ACEITAR A EXPLORAÇÃO DE ALGOZES - A "caridade" estranhamente festejada pelos "espíritas" é aquela em que a pessoa de menor status está sujeita à exploração abusiva e tirânica de algozes de algum status superior. Ser escravo da tirania alheia e alvo de humilhações parece divertir os "espíritas" que, no seu juízo de valor, acham que submeter-se aos abusos de alguém é "caridade" e uma "excelente prova para a evolução espiritual".
3) CONVIVER COM ARRIVISTAS - Ajudar os pobres? Só dentro de duas condições: seja o pobre extremo, em condições frágeis, só para evitar os efeitos extremos das desigualdades sociais, (efeitos que trariam dívidas sociais sérias para as elites), seja o pobre arrivista que se entrega a valores e métodos retrógrados de ascensão social. Como o pobre rapaz de vida modesta e digna que é forçado pelas circunstâncias a aceitar as chamadas "periguetes" a pretexto de ensinar "valores nobres" a elas, normalmente surdas da valores que fogem do recreio orgiástico a que elas estão acostumadas.
Os "espíritas" apelam para aceitar infortúnios e desgraças e até a agradecer a quem deixa os sofredores em desgraças. A cada vez mais os "espíritas" se mostram identificados com a Teologia do Sofrimento católica e o quanto isso é comprovado em textos, palestras e publicações, da forma mais explícita possível, embora nunca assumida no discurso.
Isso mostra que o "espiritismo" nunca foi uma religião progressista, e que ele está muitíssimo distante de Allan Kardec, por mais que tente bajulá-lo. Mas as traduções igrejistas de Guillon Ribeiro e Salvador Gentile ajudam na brincadeira, oferecendo um Kardec "catolicizado" que serve para os roustanguistas enrustidos brincarem de serem "kardecianos". E tudo isso criando uma roupagem de "bondade" que, mesmo assim, só se manifesta de maneira restritivae condicional.
sábado, 7 de janeiro de 2017
Periódico "espírita" diz que escândalos financeiros chegam ao fim. Fala sério!
AÉCIO NEVES, JOSÉ SERRA E FERNANDO HENRIQUE CARDOSO FAZEM A FESTA.
O jornal "Correio Espírita" deste mês publicou, entre as matérias de capa, um dado aparentemente otimista de que os escândalos financeiros que abalaram o país estão chegando ao fim. A impressão é de que a vida econômica dos brasileiros estará entrando num período de prosperidade e transparência.
No entanto, não é bem assim que acontece. O que ocorre é justamente o contrário. Depois da aprovação da PEC dos Gastos Públicos, que agora virou emenda constitucional, os investimentos públicos estarão cada vez mais limitados, só podendo crescer dentro dos índices da inflação do ano anterior, o que indica também uma defasagem.
Com isso, os investimentos para Saúde, Educação, Previdência Social, Infraestrutura e outros setores estarão prejudicados. Não se poderá investir em melhorias nem aperfeiçoamentos no setor público, nem na melhoria da qualidade de vida da população.
Pode parecer que o limite dos gastos públicos represente, aos olhos dos incautos - que se limitam a se informar pelos nada confiáveis noticiários de televisão, jornais impressos diários e revistas da grande imprensa hegemônica que circulam nos fins de semana - , simbolize disciplina e austeridade por parte dos governantes.
No entanto, há um grande equívoco por trás disso, porque o corte de gastos é desnecessário, porque tais setores não representavam muita despesa para as autoridades e elas mesmas já não investiam a quantia necessária para os mesmos.
Em compensação, o verdadeiro fator da recessão econômica, os juros da dívida pública - destinados a alimentar as finanças exorbitantes de banqueiros, rentistas e especuladores financeiros, entre outros manipuladores de capital - , continua em alta e a tendência é aumentar suas taxas e usar o corte de gastos públicos para desviar o que deveria ser investido na sociedade para as fortunas astronômicas das elites financeiras.
A farra financeira também beneficiará os políticos conservadores que cercam o governo de Michel Temer, composto de políticos enquadrados em vergonhosos escândalos de corrupção. O PSDB, partido da base aliada, também será beneficiado e o que se verá é a repetição da chamada "farra da privataria", quando políticos tucanos desviarão o dinheiro público, obtido sobretudo em privatizações e outras manobras econômicas, para as contas pessoais e familiares nos chamados "paraísos fiscais".
O "Correio Espírita" parece ter ido no sentido de Miguel Reale Jr., jurista que foi um dos organizadores do pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Reale Jr. disse que "não há corrupção" no governo Michel Temer e o escândalo do edifício de luxo de Geddel Vieira Lima era "prevaricação", quando se sabe que a pressão que Geddel havia feito no Ministério da Cultura para aprovação do edifício se encaixa perfeitamente no caso de corrupção.
O que se observa, portanto, é que os escândalos financeiros irão aumentar drasticamente, e não o contrário. Privatizações, doações financeiras às grandes corporações de Comunicação - o dinheiro que Temer corta para a Educação ajuda nas doações astronômicas de dinheiro publico para a Rede Globo e seus donos marajás e sonegadores de impostos - e generosas "gorjetas" aos rentistas revelaram escândalos futuros de fazer um careca arrancar os cabelos que não tem.
A plutocracia irá revelar, daqui a uns anos, novos e vergonhosos escândalos financeiros, coisas que assustarão a população, que acreditava que seus integrantes iriam repartir o "bolo" com a população, depois da saída do PT do poder. Concentração de renda gera escândalo financeiro, é bom lembrar.
Enquanto os hospitais e escolas públicos continuarão com falta de materiais, de profissionais e de recursos para melhoria de seus serviços, os grandes banqueiros multiplicarão suas já estratosféricas fortunas, fazendo turismo na Europa como quem caminha na esquina de casa. E temos que acreditar que as migalhas que a "repatriação de recursos" do "combate à corrupção" irá compensar as perdas financeiras que teremos até com mais uma desnacionalização da economia.
Diante disso, só poderemos esperar mais e mais escândalos financeiros. E mais e mais vergonhosos do que se pode imaginar numa perspectiva pessimista. Se bem que isso não é pessimismo, é realismo, diante da constatação de um cenário político marcado pela confusão e pela irresponsabilidade do governo do presidente Michel Temer.
O jornal "Correio Espírita" deste mês publicou, entre as matérias de capa, um dado aparentemente otimista de que os escândalos financeiros que abalaram o país estão chegando ao fim. A impressão é de que a vida econômica dos brasileiros estará entrando num período de prosperidade e transparência.
No entanto, não é bem assim que acontece. O que ocorre é justamente o contrário. Depois da aprovação da PEC dos Gastos Públicos, que agora virou emenda constitucional, os investimentos públicos estarão cada vez mais limitados, só podendo crescer dentro dos índices da inflação do ano anterior, o que indica também uma defasagem.
Com isso, os investimentos para Saúde, Educação, Previdência Social, Infraestrutura e outros setores estarão prejudicados. Não se poderá investir em melhorias nem aperfeiçoamentos no setor público, nem na melhoria da qualidade de vida da população.
Pode parecer que o limite dos gastos públicos represente, aos olhos dos incautos - que se limitam a se informar pelos nada confiáveis noticiários de televisão, jornais impressos diários e revistas da grande imprensa hegemônica que circulam nos fins de semana - , simbolize disciplina e austeridade por parte dos governantes.
No entanto, há um grande equívoco por trás disso, porque o corte de gastos é desnecessário, porque tais setores não representavam muita despesa para as autoridades e elas mesmas já não investiam a quantia necessária para os mesmos.
Em compensação, o verdadeiro fator da recessão econômica, os juros da dívida pública - destinados a alimentar as finanças exorbitantes de banqueiros, rentistas e especuladores financeiros, entre outros manipuladores de capital - , continua em alta e a tendência é aumentar suas taxas e usar o corte de gastos públicos para desviar o que deveria ser investido na sociedade para as fortunas astronômicas das elites financeiras.
A farra financeira também beneficiará os políticos conservadores que cercam o governo de Michel Temer, composto de políticos enquadrados em vergonhosos escândalos de corrupção. O PSDB, partido da base aliada, também será beneficiado e o que se verá é a repetição da chamada "farra da privataria", quando políticos tucanos desviarão o dinheiro público, obtido sobretudo em privatizações e outras manobras econômicas, para as contas pessoais e familiares nos chamados "paraísos fiscais".
O "Correio Espírita" parece ter ido no sentido de Miguel Reale Jr., jurista que foi um dos organizadores do pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Reale Jr. disse que "não há corrupção" no governo Michel Temer e o escândalo do edifício de luxo de Geddel Vieira Lima era "prevaricação", quando se sabe que a pressão que Geddel havia feito no Ministério da Cultura para aprovação do edifício se encaixa perfeitamente no caso de corrupção.
O que se observa, portanto, é que os escândalos financeiros irão aumentar drasticamente, e não o contrário. Privatizações, doações financeiras às grandes corporações de Comunicação - o dinheiro que Temer corta para a Educação ajuda nas doações astronômicas de dinheiro publico para a Rede Globo e seus donos marajás e sonegadores de impostos - e generosas "gorjetas" aos rentistas revelaram escândalos futuros de fazer um careca arrancar os cabelos que não tem.
A plutocracia irá revelar, daqui a uns anos, novos e vergonhosos escândalos financeiros, coisas que assustarão a população, que acreditava que seus integrantes iriam repartir o "bolo" com a população, depois da saída do PT do poder. Concentração de renda gera escândalo financeiro, é bom lembrar.
Enquanto os hospitais e escolas públicos continuarão com falta de materiais, de profissionais e de recursos para melhoria de seus serviços, os grandes banqueiros multiplicarão suas já estratosféricas fortunas, fazendo turismo na Europa como quem caminha na esquina de casa. E temos que acreditar que as migalhas que a "repatriação de recursos" do "combate à corrupção" irá compensar as perdas financeiras que teremos até com mais uma desnacionalização da economia.
Diante disso, só poderemos esperar mais e mais escândalos financeiros. E mais e mais vergonhosos do que se pode imaginar numa perspectiva pessimista. Se bem que isso não é pessimismo, é realismo, diante da constatação de um cenário político marcado pela confusão e pela irresponsabilidade do governo do presidente Michel Temer.