quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Vida adulta não é garantia de sabedoria e revela imaturidades infantis
Os adultos são considerados mais responsáveis e dotados de experiência, sabedoria e prudência, correto? Errado. Nem sempre isso é assim e hoje os fatos mostram que a vida adulta, mesmo a meia-idade e a fase idosa, estão cada vez mais vulneráveis a teimosias e imprudências que antes estavam associadas à infância e à adolescência.
O governo do presidente Michel Temer, no Brasil, é um exemplo claro disso. Sua "equipe de notáveis", incluindo o próprio presidente, é dotada em sua grande maioria por homens com mais de 55 anos de idade, pessoas que o "senso comum" define como "amadurecidas". O próprio Temer personifica paradigmas de maturidade, elegância, disciplina e rigor paternal.
No entanto, é esse governo que comete uma série de atos, ao mesmo tempo confusos e contraditórios, incluindo vários recuos, como se o Governo Federal tivesse sido tomado por delinquentes baderneiros em torno dos 15 anos de idade. Atos desastrosos como o corte de gastos públicos - quando o ideal para combater a recessão é limitar a dívida aos bancos, o chamado "juro da dívida pública", e não as verbas para Educação e Saúde - , indicam essa imaturidade.
A cada vez mais se observam notícias de casais se divorciando de maneira turbulenta, ricos cometendo assassinato, políticos cometendo corrupção e gafes, pessoas dando declarações equivocadas e tendo que se explicar depois, pessoas recebendo broncas de outrem, outras cometendo decisões das mais vergonhosas, outras cometendo vandalismo e acidentes de trânsito.
Quem imagina que tais atitudes são privilégio da juventude ou que ocorrem com menos intensidade entre idosos, ficará assustado ao saber que elas se tornam cada vez mais constantes e em nível preocupante entre pessoas de aparência grisalha e protegidas por algum tipo de reputação conquistada pelo acúmulo cronológico de experiências profissionais, sociais e acadêmicas.
Isso derruba de vez o mito que um simples embranquecer de cabelos ou formar de rugas fosse garantia de obtenção de sabedoria e bom senso. O mito do "mestre da geração" se torna cada vez mais distante diante de gerações de idosos ou "coroas", nascidos sobretudo dos anos 1940 até os 1960, está cada vez mais distante, na medida em que a meia-idade e a velhice apresentam cada vez mais vestígios de imaturidade e insensatez.
MITO DO "VELHO SÁBIO"
A ideia do "velho sábio", garantida pelo acúmulo de experiências temporais, criou um mito que, no Brasil, foi reforçado por gerações de escritores, diplomatas, juristas e estadistas nascidos nas duas primeiras décadas do século XX, e que pareciam, depois dos 60 anos de idade, expressar exemplos de razoável segurança pessoal e um espírito de prudência, sensatez e sabedoria, por mais que cometessem erros aqui e ali, e mesmo assim erros sem muita gravidade.
Isso criou uma visão glamourizada da velhice que, no sistema moralista e ultraconservador vigente no Brasil, acoberta a realidade de que pessoas distintas, que se encaixariam na figura do "idoso com sabedoria", são na verdade um número bem mais seleto e que os pobres mortais são imaturos e inconsequentes até depois das rugas crescerem e após os cabelos ficarem totalmente brancos.
Mas, mesmo nas melhores hipóteses, o que se observa é que a meia-idade e a velhice se tornam revelações de desejos reprimidos na juventude, decisões equivocadas, anseios frustrados e problemas mal resolvidos. É surpreendente, por exemplo, que casamentos que pareciam promissores, estáveis e sólidos na casa dos 30 anos, se encerrem aos 55 de maneira bastante turbulenta e tensa.
Em muitas famílias, há o perfil dos pais que vivem no seu mundinho doméstico, no qual repousam dogmas morais que parecem atemporais. A mãe que trata o quarto dos filhos como sua casa de bonecas, o pai que espera do filho um "super-herói", valorizando mais o sacrifício do que a conquista de uma meta, na luta do descendente para "vencer na vida".
O acúmulo material de anos de vida e a suposição de que esse acúmulo traz aos idosos uma segurança de vida com menor risco de erros revela uma ilusão na qual o aparato de "vida adulta", voltado à "racionalidade" e "objetividade", escondem vícios e apegos a práticas e abordagens infantis.
A mãe busca intervir nos filhos como se fossem bonecas de brinquedo da velha infância. O pai, escondido na "vida racional" das leituras de jornais e em quatro horas assistindo a noticiários de TV, o que lhe faz um rudimentar arremedo de intelectual, mal consegue perceber que possui também teimosias infantis e idealizações maiores da vida.
No caso das dificuldades que os filhos enfrentam para "vencer na vida", encarando concursos públicos com programa de estudo pesado e questões de prova surrealmente difíceis - onde gabaritos têm margem de erro em pelo menos cinco questões - ou entrevistas de emprego nas quais os patrões não exigem talento, mas "boa aparência" e "talento humorístico" (sim, é isso mesmo que você lê), os pais pensam que os filhos "podem tudo" e exigem sacrifícios descomunais.
É muito fácil exigir dos mais jovens um sacrifício descomunal por pouco e nada. E, se algo não dá certo, é culpa da vítima. O filho perdeu o emprego porque ficou "esfregando as mãos" diante de uma pergunta tola. Ou teria que estudar demais para o concurso público, porque das 60 questões de prova, 12 das 56 que acertou foram rejeitadas pelo "robô" que faz leitura ótica dos cartões de resposta.
As famílias cujos pais e mães se preocupam mais com casa arrumada, com regras de etiqueta e exigem dos filhos mais sacrifícios, mais jogo de cintura e mais sorrisos diante de um bombardeio dificuldades e frustrações revelam o quanto não é necessariamente do lado de quem tem pouca idade é que estão os equívocos e os exageros de quem idealiza ou exige demais das coisas.
A ilusão do status quo, então, agrava a situação, quando vemos, no cenário político atual, pessoas dotadas de formação acadêmica, prestígio econômico, jurídico e empresarial, que são tidas como "responsáveis", "experientes" e "prudentes", cometendo imprudências e outros deslizes de arrancar os cabelos até de quem já é careca.
Vemos empresários que precisam aprender a se vestir na hora de lazer - nem toda situação requer um traje de colarinho e sapatos de couro - , assim como homens de 60 anos que têm que adotar posturas mais joviais. É um processo duro a perda das ilusões de uma velhice "sábia" e "experiente", o que faz irritar muitos sessentões que ainda tratam os mais jovens de forma sutilmente jocosa, fazendo piadas irônicas sobre o que a juventude anda fazendo no dia a dia.
No âmbito da religião, incluindo o "espiritismo", o que se vê é o deslumbramento das pessoas com estórias que glamourizam o sofrimento humano, que lembram o conto da Gata Borralheira que virou Cinderela, com apenas suas devidas variações dramáticas.
O mito de Francisco Cândido Xavier tornou-se absoluto por essa exploração de fraquezas emocionais humanas que chegam à velhice muito mal resolvidas. Através dos livros e de atividades "filantrópicas" de Chico Xavier, as pessoas o endeusaram pela ilusão de uma "bondade" espetacularizada que lembra o saudosismos infantil das fábulas e dos contos de fadas.
A quebra dessas ilusões cria um clima de impasse, sobretudo no Brasil. Temos hoje uma geração de idosos em sua grande maioria acéfala, incapaz de trazer um norte definido para o país. As pessoas que chegam aos 60 anos hoje estão associadas a uma juventude vivida nos tempos da ditadura militar, onde o instinto de sobrevivência falava mais alto do que qualquer idealismo.
Daí ser compreensível que teremos idosos sem sabedoria, precisando mais aprender a vida hoje do que ensinar aquilo que eles viveram mal. O contexto social e político que defendeu a repressão ao desejo, ao pragmatismo da vida e outras limitações produziu "coroas" e velhos que, se não totalmente irresponsáveis, estão longe de representar algum modelo de experiência e sabedoria.
O Brasil está tomado de insegurança porque os paradigmas de experiência, prestígio e maturidade andam em crise, extremamente velhos e obsoletos. A insegurança é generalizada e convém as pessoas terem consciência dessa insegurança e da imaturidade dos "amadurecidos", porque os contextos sociais, culturais e políticos do passado produziram "coroas" e velhos medíocres, incapazes de trazer lições concretas e aprofundadas da vida.
Cabe repensar tudo isso e verificar se os "mais experientes" também não possuem suas neuroses, seus desejos reprimidos, suas incompreensões, suas inseguranças e suas inquietações. E ver como o país lidará com sua situação quando se assumir com firmeza que a imaturidade também ocorre na meia-idade e na velhice.
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