quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Brasil persiste no culto às mulheres-objeto
O Brasil continua sendo uma sociedade terrivelmente machista. E, como também é marcado pela hipocrisia de uma boa parcela reacionária da nossa sociedade, é um machismo nunca assumido no discurso, mas praticado de forma escancarada e até agressiva.
De um lado temos homens capazes de cometer atos como a chacina na festa de Ano Novo em Campinas, por ódio da ex-mulher e dos familiares dela, sobretudo mulheres. De outro, temos o recreio machista das mulheres siliconadas que só ficam mostrando fotos "sensuais" que, de tão obsessivas, nem inspiram mais sensualidade.
Há mulheres-frutas, ex-integrantes da Banheira do Gugu, entre outras, que aceitam o papel de brinquedos sexuais. Solange Gomes, ex-Banheira, fica o tempo todo "sensualizando" na Internet mas reclama de assédio machista numa escola de samba que não a quis mais como rainha de Carnaval (não confundir com rainha da bateria). A funkeira Renata Frisson, a Mulher Melão, é uma verdadeira "mulher-coisa" e ainda se acha "feminista".
A hipersexualização ocorre porque existe um público machista, que vê a mulher como um brinquedo para suas fantasias sexuais desenfreadas, criando uma ilusão em que tudo é fácil e permitido, o que faz irem às ruas e acharem que toda mulher é Solange Gomes e Mulher Melão para sair aí dando cantadas baratas ou agarrando seus corpos.
O Brasil entrou num surto reacionário nos últimos tempos, mas tudo isso estava latente desde os anos 90, quando intelectuais eram treinados para defender a degradação da cultura popular e a grande mídia despejava sensacionalismo grotesco e a espetacularização da violência e da estupidez humana. Poucos se lembram que a bregalização cultural (que nos últimos anos se valeu do discurso hipócrita de "vítima de preconceito") e a imprensa policialesca criaram condições para o país doentio de hoje.
Se existem mulheres que só vivem de mostrar o corpo, é porque existe um público cruelmente machista nas redes sociais. Evidentemente, ninguém vai abrir o jogo, ninguém vai se assumir machista, ninguém vai se assumir reacionário, todos usam os melhores discursos, e para todo o efeito, os machistas são "pessoas liberais e da paz" e as mulheres-objeto "feministas com o livre direito de mostrar o corpo".
São hipócritas as alegações de "direito à sensualidade" e "liberdade do corpo" porque as mulheres que assim pensam usam isso como desculpa para ficarem se ostentando o tempo todo. Elas esquecem que sua "liberdade do corpo" está a serviço da tara machista e dos impulsos sexuais dos seus aparentes admiradores. E elas não medem escrúpulos em fazer esse papel machista, apesar do rótulo "feminista" muito mal sustentado pela aparente solteirice amorosa.
Há uma grande diferença entre mulheres de uma personalidade mais decente, que de vez em quando aparecem em posições sensuais, e outras que encaram a sensualidade como um fim em si mesmo. Para complicar as coisas, as mulheres que "só se sensualizam" usam o exemplo das mulheres decentes para se achar no "direito à sensualidade".
Só que uma mulher decente, entre uma foto sensual e outra, aparece em outros momentos usando roupas comportadas e mostrando outras atividades. Podem conversar sobre política, atuar, cantar, dançar e escrever livros, e divulgar ideias consistentes. Já a mulher-objeto só se "sensualiza", usando roupas apelativas até quando vão a eventos fora do contexto sensual, como lançamento de livros e velórios.
O Brasil vive um machismo que trata de forma restrita e desigual a emancipação feminina. Há um cruel condicionamento da independência da mulher, que obriga aquelas que buscam aprimorar conhecimentos, ter uma vida comedida e aprimorar o caráter, a se vincularem obrigatoriamente a um marido "importante", seja ele um empresário ou um profissional liberal, ou alguém com o mesmo poder de influência.
A mulher que pode ser solteira, de acordo com essa ideologia maligna, é aquela que cumpre os ideais machistas sem a "moderação" do homem. Seguem "por conta própria" os valores machistas, sejam as moças que só ficam em casa vendo TV e ouvindo música brega, sejam as "turbinadas" que ficam "sensualizando" o tempo todo, até quando o contexto não permite.
Isso é bastante cruel e precisa ser discutido e debatido na sociedade. O que se observa, através da grande mídia, é esse machismo que tenta filtrar a emancipação da mulher de todas as formas, seja confinando as mulheres inteligentes e comedidas à vida marital, seja liberando as mulheres-objetos para o recreio afoito dos internautas que, mais tarde, sairão por aí nas ruas estuprando garotas, achando que "tudo é possível" e que toda mulher é "fruta" ou vem de certas "banheiras".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.