quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Situação do Brasil já invalidou, por antecipação, "profecia" da Data-Limite
Não tem alegações de "ciência" nem divagações "filosóficas" que deem jeito. A suposta profecia de Francisco Cândido Xavier, sobre a tal "data-limite", resultante de um simples sonho de quem dorme, já pode ser considerada fracassada por antecipação.
O caótico cenário do governo Michel Temer, que começa a desagradar até mesmo as forças conservadoras que o apoiaram desde quando se manifestavam pela derrubada de Dilma Rousseff, já define como falida a ilusão supostamente progressista que muitos acreditavam se tornar o Brasil a partir de 2019.
Mesmo que o Brasil possa melhorar a partir de 2052 ou 2057, como sugerem algumas correntes de interpretação da "profecia", isso não será da forma que Chico Xavier e Divaldo Franco sonharam. Paciência, eles não são os donos da verdade, e nunca terão razão nas suas supostas avaliações sobre o futuro. Se algo parecer confirmar o que eles "previam", é só mera coincidência.
Mas a tendência é que essa situação tenda a piorar ou, na melhor das hipóteses, permanecer na confusão em que está. O governo de Michel Temer, já considerado o pior da história da República, sempre foi marcado por confusões e incidentes graves, propostas retrógradas, medidas arbitrárias que pegam mal e fazem as autoridades recuarem de alguns pontos, o que não é bom.
O governo não tem representatividade popular, não entrou em exercício de maneira legítima, mas apoiado por um confuso e tendencioso movimento jurídico, parlamentar e midiático dos mais suspeitos, e em nenhum momento trouxe o inicial choque de otimismo que mesmo outros momentos retrógrados da política brasileira chegaram a inspirar na população.
O governo Temer, também popularmente classificado como "golpista", nem sequer deu margem ao habitual refrão dos "espíritas" que, com seu velho igrejismo, costumavam pedir para que orássemos pelo governante de plantão, mesmo o mais enérgico ditador, para "pensar no próximo" e agir "dentro dos princípios cristãos".
Isso porque tanto o governo Temer quanto o "movimento espírita" cometem irregularidades e retrocessos risíveis de tão extremos. Ou, se não risíveis, choráveis. Ambos se apoiam de procedimentos jurídicos de valor bem duvidoso. Sérgio Moro e a Lava Jato dispensam comentários. No caso de Chico Xavier, a omissão da Justiça permitiu legitimar as fraudes literárias aceitando um "espírito Humberto de Campos" com um estilo distante do verdadeiro autor maranhense.
O Brasil mergulhou num cenário confuso em que setores dos mais decadentes da sociedade brasileira tentam se reciclarem e impor suas forças diante da mudança dos tempos. A situação ficou complicada e imprevisível.
Pode ser até que seja complicada também para a plutocracia e seus seguidores e colaboradores, mas uma coisa é certa: nada de "coração do mundo" ou "pátria do Evangelho", porque até o igrejismo "espírita" dá sinais de desgaste com o fracasso dessa ilusão. Até porque o Brasil, virando mais uma vez um fantoche dos EUA, não irá mesmo ser o centro de qualquer coisa no mundo.
terça-feira, 27 de setembro de 2016
O Rio de Janeiro velho, poluído e atrasado
NÃO É FOTO ANTIGA, É O RETRATO REAL DO RIO DE JANEIRO POLUÍDO E ATRASADO DE HOJE.
É preocupante a situação do Rio de Janeiro, com uma situação de extremo atraso social em todos os aspectos, sofrendo uma decadência vertiginosa que faz a ex-Cidade Maravilhosa e o Estado do qual é capital estar abaixo até mesmo dos atrasados Estados do Norte e Nordeste.
O mais preocupante é que essa grave situação não é percebida pelas próprias pessoas. Antes que a imprensa reportasse parte (e apenas parte) de sua decadência, como a criminalidade, os desastres urbanos (como as explosões de bueiros e as destruições de prédios históricos por incêndios ou desabamentos) e o colapso político-administrativo, os cariocas reagiam a tais constatações com esnobismo e desprezo.
O Sul e Sudeste, que eram regiões associadas ao desenvolvimento social, cultural e econômico no Brasil, se tornaram símbolo da decadência avassaladora que é representada, pelo plano político, pelo atual governo de Michel Temer. E o preço caro de adotar essas regiões decadentes como "modelos" a serem seguidos se revela também em outras regiões.
Recife, capital de Pernambuco, Estado do Nordeste, é um exemplo. Querendo copiar o Rio de Janeiro assimilando suas medidas negativas - como os ônibus com pintura padronizada, o fanatismo do futebol, o direitismo político e o populismo midiatizado do "funk" - , a capital pernambucana é exceção no contexto do gradual progresso que as capitais nordestinas começam a desenvolver, depois de anos de atraso resultante da supremacia de grupos coronelistas.
O Rio de Janeiro se encontra em situação tão grave, gravíssima mesmo, que o Estado é responsável direto pela derrubada do governo Dilma Rousseff e a interrupção prematura de seu governo, a menos de dois anos de se encerrar.
O deputado Eduardo Cunha, hoje cassado, foi eleito pelos cariocas num surto de moralismo movido por sua tradição autoritária (infelizmente, os cariocas têm fama de autoritários e não gostam de serem contrariados, vide os casos de cyberbulling que predominam no Estado), que, pasmem, garantiram a eleição do problemático político sob a esperança de "recuperação ética" na política nacional.
Deu no que deu. Cunha lançou pautas retrógradas, propostas sociopolíticas que, mescladas com o programa eleitoral de Aécio Neves, viraram a "Ponte para o Futuro" de Michel Temer. As pautas de Cunha, de tão antipopulares, eram consideradas "pautas-bombas", pela ameaça que representaram para conquistas sociais históricas de nossa sociedade.
Cunha foi responsável por se vingar de Dilma Rousseff, que não o defendeu diante de acusações de corrupção contra ele, e tramou todo o processo de impeachment que extinguiu definitivamente o mandato que pôs no lixo 54,5 milhões de votos, trocados por 428 (367 da Câmara, 61 do Senado) votos de parlamentares em maioria enquadrados por escândalos graves de corrupção.
Foi uma trabalheira derrubar Cunha e o processo de cassação de seu mandato foi bastante demorado e o resultado final, ainda duvidoso e inseguro. Afinal, o legado de Cunha foi deixado em muitas propostas do Plano Temer (a tal "ponte") e em muitos nomeados de sua equipe política ou do quadro de funcionários dirigentes dos órgãos do governo. Sem falar que, como havia citado Romero Jucá em conversa de bastidores, "Temer é Cunha, Cunha é Temer".
Além disso, os cariocas só conseguem se mobilizar através de dois veículos: Jornal Nacional e o periódico impresso O Dia. Fora eles, tabloides como Meia Hora e igrejas pentecostais têm algum nível de influência. Infelizmente, o povo carioca abandonou o espírito de resistência e passou a ter o de desistência. Se não for o jornal O Dia, por exemplo, ninguém questiona coisa alguma na vida.
Existe até uma anedota do carioca dorminhoco, que resiste aos apelos maquinais do relógio despertador, que anuncia a chegada de um novo dia útil. Seria preciso, segundo a piada, que houvesse, no jornal O Dia, a manchete intitulada "ACORDA, CIDADÃO", em caixa alta, para o carioca decidir-se a levantar da cama.
O Rio de Janeiro poluído, com ruas velhas e sujas, com seu pessoal sem sensibilidade, desumanizado pela ideologia do consumismo e da espetacularização da vida, mas também sem capacidade de sentir o fedor do esgoto, dos caminhões de lixo, das fezes de cachorros, preso em sua "felicidade" que não é mais uma felicidade esperançosa ou perseverante, mas uma alegria viciada e entorpecida pela falta de consciência real dos problemas.
Vemos a Baixada Fluminense nunca saindo de seu ranço coronelista, há décadas apresentando a realidade da pistolagem, que os cariocas pensam ser um cotidiano distante do Norte do Brasil. E vemos Niterói resignada em ser uma cidade provinciana pior do que muita cidade do interior da Bahia, de Pará ou Goiás, resignada com sua baixa qualidade de vida e com o papel de capacho da cidade vizinha do outro lado da Baía da Guanabara.
O Rio de Janeiro já superou São Paulo em matéria de poluição do ar. A agência Reuters reportou que o ar respirado pelos cariocas é mortal. Isso não é comentário raivoso, como aquele que desqualificou os biscoitos Globo, por outro jornal estrangeiro: é só experimentar e cheirar os braços e ver um odor de fuligem de quem anda pelas ruas do Grande Rio.
A ex-Cidade Maravilhosa também é palco de fumantes inveterados, juntamente com São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, compondo as quatro capitais com mais fumantes no Brasil. Enquanto alimentos, bebidas saudáveis e laticínios ficam muito caros e seus estoques demoram a serem renovados nos mercados, há muito cigarro barato à venda nesses lugares.
A arrogância de muitos fumantes e o descaso que eles têm em relação aos não-fumantes, notável com as caras feias com que os tabagistas largam seus cigarros toda vez que entram num prédio ou num veículo de transporte, revela essa decadência social do Rio de Janeiro que O Dia e o Jornal Nacional não iriam de jeito algum noticiar.
A Baía da Guanabara também está suja, emporcalhada, não é de hoje que chamam essa porção de água de "poça" ou "esgoto", e discussões e promessas se multiplicam, em vão, para resolver um problema que, na verdade, muitos têm um medo enorme de tomar iniciativa, com um custo que aumenta cada vez mais.
Mas existe também a poluição sonora, sobretudo dos fanáticos do futebol carioca, cujos quatro times (Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco) são os únicos que precisam estar em alguma situação favorável, por pior que estivessem nos campeonatos.
O fanatismo do futebol regula as relações sociais no Grande Rio, e muitas pessoas, quando conhecem alguém, perguntam o time antes de perguntar o próprio nome. Não raro, o fato de não gostar de futebol vira alvo de humilhações sociais ou, quando muito, de boicote, e servem até mesmo para assédio moral e motivo para demissão no emprego.
Sim, pode-se demitir alguém por não gostar de futebol, e, do jeito que estão as mobilizações pela "flexibilização" das relações de trabalho - ou seja, a lei não irá mais intervir nos abusos cometidos por patrões - , será cada vez mais difícil um demitido por esse motivo fútil acionar para processar o ex-patrão por danos morais.
O fanatismo do futebol carioca é, aliás, motivo de baixa no rendimento profissional, tamanha é a poluição sonora que os torcedores causam toda vez que um time de sua predileção faz um gol. Pode ser uma partida realizada a quinze minutos da meia-noite, que a gritaria atinge níveis ensurdecedores, não havendo condição alguma de controlar essa euforia berrante dos fanáticos futebolistas.
Mas há também os estabelecimentos mal-iluminados, com lâmpadas amarelas e fracas, que estranhamente não são trocadas. Supermercados que parecem viver em semi-escuridão, bares quase à penumbra, tudo isso dá a impressão de que os cariocas, fanáticos pela desumanizada vida noturna das boates, querem reproduzir as trevas desses ambientes para tudo quanto é lugar.
A falta de logística no comércio também é crônica. Em muitos casos, suspeita-se até de ágio, parecendo uma "metodologia" que permaneceu desde os tempos do Plano Cruzado, e que, trinta anos depois, parece permanecer nos mercados cariocas, em que determinadas marcas de produtos somem dos estoques, para forçar a venda de similares muito mais caros.
O jornal O Globo teve que admitir, em reportagem neste domingo, que o município do Rio de Janeiro aumentou a concentração de renda das classes mais ricas, em 40 anos. Os pobres só arrecadam 10% da renda gerada pelo município. Isso diz muito diante de uma plutocracia arrogante, furiosa e reacionária que são as elites cariocas, capazes de eleger um Eduardo Cunha e um Jair Bolsonaro.
A decadência do Rio de Janeiro, que acompanha a outra decadência, a de São Paulo, e já puxa ainda uma outra, a de Curitiba, comprovam o declínio destas capitais, antes associadas ao desenvolvimento e progresso, e que nem de longe podem servir de modelo algum para o resto do Brasil. São cidades atrasadas que merecem ser reavaliadas e cujos povos precisam ter uma postura autocrítica para admitir que muita coisa está errada, até coisas que parecem "corretas" e "bem-sucedidas".
E isso poderia partir do Rio de Janeiro, ainda conhecido como a "vitrine do Brasil", e que necessita urgentemente de uma reavaliação, porque os problemas que se acumulam estão muito acima do nível tolerado e considerado "natural numa complexidade urbana pós-moderna". Os problemas acumulados já atingem níveis de atrasos e retrocessos extremos, e em muitos aspectos vergonhosos e constrangedores.
Os problemas se acumulam como um grande entulho de retrocessos, tragédias e outros prejuízos, que fazem o Estado do Rio de Janeiro ser um dos mais atrasados e retrógrados do Brasil, talvez até o maior nestas lamentáveis condições. É preciso estômago forte e consciência autocrítica para perceber que esses problemas são graves e trágicos demais para aparecerem em O Dia e no Jornal Nacional, e não é esperando que essa imprensa noticie que se abrirão as consciências dos cariocas.
É preocupante a situação do Rio de Janeiro, com uma situação de extremo atraso social em todos os aspectos, sofrendo uma decadência vertiginosa que faz a ex-Cidade Maravilhosa e o Estado do qual é capital estar abaixo até mesmo dos atrasados Estados do Norte e Nordeste.
O mais preocupante é que essa grave situação não é percebida pelas próprias pessoas. Antes que a imprensa reportasse parte (e apenas parte) de sua decadência, como a criminalidade, os desastres urbanos (como as explosões de bueiros e as destruições de prédios históricos por incêndios ou desabamentos) e o colapso político-administrativo, os cariocas reagiam a tais constatações com esnobismo e desprezo.
O Sul e Sudeste, que eram regiões associadas ao desenvolvimento social, cultural e econômico no Brasil, se tornaram símbolo da decadência avassaladora que é representada, pelo plano político, pelo atual governo de Michel Temer. E o preço caro de adotar essas regiões decadentes como "modelos" a serem seguidos se revela também em outras regiões.
Recife, capital de Pernambuco, Estado do Nordeste, é um exemplo. Querendo copiar o Rio de Janeiro assimilando suas medidas negativas - como os ônibus com pintura padronizada, o fanatismo do futebol, o direitismo político e o populismo midiatizado do "funk" - , a capital pernambucana é exceção no contexto do gradual progresso que as capitais nordestinas começam a desenvolver, depois de anos de atraso resultante da supremacia de grupos coronelistas.
O Rio de Janeiro se encontra em situação tão grave, gravíssima mesmo, que o Estado é responsável direto pela derrubada do governo Dilma Rousseff e a interrupção prematura de seu governo, a menos de dois anos de se encerrar.
O deputado Eduardo Cunha, hoje cassado, foi eleito pelos cariocas num surto de moralismo movido por sua tradição autoritária (infelizmente, os cariocas têm fama de autoritários e não gostam de serem contrariados, vide os casos de cyberbulling que predominam no Estado), que, pasmem, garantiram a eleição do problemático político sob a esperança de "recuperação ética" na política nacional.
Deu no que deu. Cunha lançou pautas retrógradas, propostas sociopolíticas que, mescladas com o programa eleitoral de Aécio Neves, viraram a "Ponte para o Futuro" de Michel Temer. As pautas de Cunha, de tão antipopulares, eram consideradas "pautas-bombas", pela ameaça que representaram para conquistas sociais históricas de nossa sociedade.
Cunha foi responsável por se vingar de Dilma Rousseff, que não o defendeu diante de acusações de corrupção contra ele, e tramou todo o processo de impeachment que extinguiu definitivamente o mandato que pôs no lixo 54,5 milhões de votos, trocados por 428 (367 da Câmara, 61 do Senado) votos de parlamentares em maioria enquadrados por escândalos graves de corrupção.
Foi uma trabalheira derrubar Cunha e o processo de cassação de seu mandato foi bastante demorado e o resultado final, ainda duvidoso e inseguro. Afinal, o legado de Cunha foi deixado em muitas propostas do Plano Temer (a tal "ponte") e em muitos nomeados de sua equipe política ou do quadro de funcionários dirigentes dos órgãos do governo. Sem falar que, como havia citado Romero Jucá em conversa de bastidores, "Temer é Cunha, Cunha é Temer".
Além disso, os cariocas só conseguem se mobilizar através de dois veículos: Jornal Nacional e o periódico impresso O Dia. Fora eles, tabloides como Meia Hora e igrejas pentecostais têm algum nível de influência. Infelizmente, o povo carioca abandonou o espírito de resistência e passou a ter o de desistência. Se não for o jornal O Dia, por exemplo, ninguém questiona coisa alguma na vida.
Existe até uma anedota do carioca dorminhoco, que resiste aos apelos maquinais do relógio despertador, que anuncia a chegada de um novo dia útil. Seria preciso, segundo a piada, que houvesse, no jornal O Dia, a manchete intitulada "ACORDA, CIDADÃO", em caixa alta, para o carioca decidir-se a levantar da cama.
O Rio de Janeiro poluído, com ruas velhas e sujas, com seu pessoal sem sensibilidade, desumanizado pela ideologia do consumismo e da espetacularização da vida, mas também sem capacidade de sentir o fedor do esgoto, dos caminhões de lixo, das fezes de cachorros, preso em sua "felicidade" que não é mais uma felicidade esperançosa ou perseverante, mas uma alegria viciada e entorpecida pela falta de consciência real dos problemas.
Vemos a Baixada Fluminense nunca saindo de seu ranço coronelista, há décadas apresentando a realidade da pistolagem, que os cariocas pensam ser um cotidiano distante do Norte do Brasil. E vemos Niterói resignada em ser uma cidade provinciana pior do que muita cidade do interior da Bahia, de Pará ou Goiás, resignada com sua baixa qualidade de vida e com o papel de capacho da cidade vizinha do outro lado da Baía da Guanabara.
O Rio de Janeiro já superou São Paulo em matéria de poluição do ar. A agência Reuters reportou que o ar respirado pelos cariocas é mortal. Isso não é comentário raivoso, como aquele que desqualificou os biscoitos Globo, por outro jornal estrangeiro: é só experimentar e cheirar os braços e ver um odor de fuligem de quem anda pelas ruas do Grande Rio.
A ex-Cidade Maravilhosa também é palco de fumantes inveterados, juntamente com São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, compondo as quatro capitais com mais fumantes no Brasil. Enquanto alimentos, bebidas saudáveis e laticínios ficam muito caros e seus estoques demoram a serem renovados nos mercados, há muito cigarro barato à venda nesses lugares.
A arrogância de muitos fumantes e o descaso que eles têm em relação aos não-fumantes, notável com as caras feias com que os tabagistas largam seus cigarros toda vez que entram num prédio ou num veículo de transporte, revela essa decadência social do Rio de Janeiro que O Dia e o Jornal Nacional não iriam de jeito algum noticiar.
A Baía da Guanabara também está suja, emporcalhada, não é de hoje que chamam essa porção de água de "poça" ou "esgoto", e discussões e promessas se multiplicam, em vão, para resolver um problema que, na verdade, muitos têm um medo enorme de tomar iniciativa, com um custo que aumenta cada vez mais.
Mas existe também a poluição sonora, sobretudo dos fanáticos do futebol carioca, cujos quatro times (Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco) são os únicos que precisam estar em alguma situação favorável, por pior que estivessem nos campeonatos.
O fanatismo do futebol regula as relações sociais no Grande Rio, e muitas pessoas, quando conhecem alguém, perguntam o time antes de perguntar o próprio nome. Não raro, o fato de não gostar de futebol vira alvo de humilhações sociais ou, quando muito, de boicote, e servem até mesmo para assédio moral e motivo para demissão no emprego.
Sim, pode-se demitir alguém por não gostar de futebol, e, do jeito que estão as mobilizações pela "flexibilização" das relações de trabalho - ou seja, a lei não irá mais intervir nos abusos cometidos por patrões - , será cada vez mais difícil um demitido por esse motivo fútil acionar para processar o ex-patrão por danos morais.
O fanatismo do futebol carioca é, aliás, motivo de baixa no rendimento profissional, tamanha é a poluição sonora que os torcedores causam toda vez que um time de sua predileção faz um gol. Pode ser uma partida realizada a quinze minutos da meia-noite, que a gritaria atinge níveis ensurdecedores, não havendo condição alguma de controlar essa euforia berrante dos fanáticos futebolistas.
Mas há também os estabelecimentos mal-iluminados, com lâmpadas amarelas e fracas, que estranhamente não são trocadas. Supermercados que parecem viver em semi-escuridão, bares quase à penumbra, tudo isso dá a impressão de que os cariocas, fanáticos pela desumanizada vida noturna das boates, querem reproduzir as trevas desses ambientes para tudo quanto é lugar.
A falta de logística no comércio também é crônica. Em muitos casos, suspeita-se até de ágio, parecendo uma "metodologia" que permaneceu desde os tempos do Plano Cruzado, e que, trinta anos depois, parece permanecer nos mercados cariocas, em que determinadas marcas de produtos somem dos estoques, para forçar a venda de similares muito mais caros.
O jornal O Globo teve que admitir, em reportagem neste domingo, que o município do Rio de Janeiro aumentou a concentração de renda das classes mais ricas, em 40 anos. Os pobres só arrecadam 10% da renda gerada pelo município. Isso diz muito diante de uma plutocracia arrogante, furiosa e reacionária que são as elites cariocas, capazes de eleger um Eduardo Cunha e um Jair Bolsonaro.
A decadência do Rio de Janeiro, que acompanha a outra decadência, a de São Paulo, e já puxa ainda uma outra, a de Curitiba, comprovam o declínio destas capitais, antes associadas ao desenvolvimento e progresso, e que nem de longe podem servir de modelo algum para o resto do Brasil. São cidades atrasadas que merecem ser reavaliadas e cujos povos precisam ter uma postura autocrítica para admitir que muita coisa está errada, até coisas que parecem "corretas" e "bem-sucedidas".
E isso poderia partir do Rio de Janeiro, ainda conhecido como a "vitrine do Brasil", e que necessita urgentemente de uma reavaliação, porque os problemas que se acumulam estão muito acima do nível tolerado e considerado "natural numa complexidade urbana pós-moderna". Os problemas acumulados já atingem níveis de atrasos e retrocessos extremos, e em muitos aspectos vergonhosos e constrangedores.
Os problemas se acumulam como um grande entulho de retrocessos, tragédias e outros prejuízos, que fazem o Estado do Rio de Janeiro ser um dos mais atrasados e retrógrados do Brasil, talvez até o maior nestas lamentáveis condições. É preciso estômago forte e consciência autocrítica para perceber que esses problemas são graves e trágicos demais para aparecerem em O Dia e no Jornal Nacional, e não é esperando que essa imprensa noticie que se abrirão as consciências dos cariocas.
domingo, 25 de setembro de 2016
Preocupante crescimento do número de fumantes no Grande Rio
Tendo superado, vergonhosamente, a Grande São Paulo, no quesito de região metropolitana mais poluída do Brasil, o Grande Rio de Janeiro vive a situação preocupante do crescimento do número de fumantes, como se observa nas ruas de suas cidades, não somente o Rio de Janeiro, mas outros municípios como Niterói, Nova Iguaçu e São Gonçalo.
Que o Rio de Janeiro tornou-se um Estado de gente conformista que parece permitir o surgimento de estereótipos preconceituosos que definem o carioca como "grosseiro", "que aceita tudo de bandeja", "conformista", "anti-higiênico" e "portador da Síndrome de Riley-Day" (doença que faz a pessoa ser incapaz de sentir dor, o que dá um trocadilho como "Riley-Day Janeiro"), isso é evidente.
Mas a coisa é tão grave que o Rio de Janeiro virou um espetáculo trágico de inúmeros retrocessos sociais. Esses retrocessos praticamente invalidam a região metropolitana do Grande Rio como um modelo a ser seguido pelo resto do país, e fazem com que o eixo Rio-São Paulo cada vez mais percam o mérito de serem referenciais para a vida dos brasileiros nas demais regiões.
Cidades como Porto Alegre, São Paulo e Curitiba também mostram um alto número de fumantes, mas o Grande Rio parece competir com isso. Cigarros vendidos a preços baixos, enquanto alimentos diversos têm preços reajustados de maneira aberrante, como os laticínios.
Nota-se a arrogância com que várias pessoas andam pelas cidades com cigarros na mão ou dando tragadas que depois soltam um vapor tóxico que prejudica as demais pessoas em volta. Há muitos jovens, infelizmente, que vão na onda, mesmo quando hoje são proibidos comerciais de cigarros que os associem a qualidades positivas da vida em sociedade.
Isso é terrível, sobretudo se observarmos o narcisismo de muitos cariocas privilegiados, mesmo não sendo de altas elites econômicas, e que acham que fumar cigarro é expressão de prazer e afirmação individual.
Mal sabem eles que um único cigarro contém substâncias tóxicas de arrepiar qualquer um, como elementos químicos presentes em venenos de rato e nas fumaças expelidas pelos veículos sobre rodas. Acabam usando a vaidade de forma autodestrutiva.
O consumo constante de cigarro comum, considerado uma droga lícita, pode fazer o pulmão de alguém ficar coberto de fumo, reduzindo-se de tamanho e prejudicando os batimentos cardíacos. Em muitos casos, a aparência jovem das pessoas que fumam muito pode até não se alterar, mas por dentro seus físicos se tornam doentios, fracos e prematuramente envelhecidos.
Não raro pessoas acabam morrendo antes dos 65 anos por causa do cigarro. É muito comum, nas rodas de amigos no Grande Rio, ver pessoas lamentando a perda de amigos, de repente. É frequente, também, a surpresa que muitas pessoas relativamente jovens, entre 25 e 50 anos, morrendo subitamente de infarto ou câncer por causa do tabagismo.
A situação é tão preocupante que se observa, em ruas relativamente fechadas pelos edifícios que formam "muralhas" em seus perímetros, pessoas fumando que praticamente causam o mesmo mal estar a outros como se estivessem em recintos fechados, provocando o mesmo dano à saúde.
O que mais assusta também é não só a campanha pela liberação de cigarros de maconha, mas também pela redução de impostos para os cigarros. Embora tenham como motivo evitar o comércio clandestino e o tráfico, essas campanhas não dão ênfase nas restrições de consumo, e consta-se que os cigarros de maconha herdaram o glamour publicitário que antes era usado para os de nicotina.
A verdade é que os supermercados, bares, boates e bancas deveriam criar uma política de preços para encarecer drasticamente os cigarros, forçando os fumantes a gastar muito mais dinheiro para comprar um maço. Do jeito que as pessoas fumam e compram seus maços, o aumento dos preços dos cigarros poderá abater as despesas dos estabelecimentos comerciais, permitindo, assim, baixar os preços de alimentos ou outros bens de consumo bem mais essenciais.
Se nada consegue desestimular o hábito tabagista de muitas pessoas, pelo menos o aumento de preços, para índices bastante austeros poderia fazer com que os fumantes tenham que pagar mais para continuarem fumando, tendo consciência do dinheiro que perderão com isso.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
A catástrofe do cenário político do Brasil de hoje
A situação que o Brasil vive hoje é simplesmente assustadora. E mais assustadora porque a sociedade considerada "mais influente" permance na sua indiferença, como pais de família que acham que o incêndio a atingir os quartos de dormir deles e dos filhos fossem apenas uma festinha com churrasco.
O quadro é caótico e o Brasil está à deriva. Setores do Poder Judiciário, do Ministério Pùblico e da Polícia Federal movidos pela compreensão tendenciosa e parcial das leis e pela condenação seletiva apenas de suspeitos "mais incômodos". Uma grande mídia de rádios e TVs decadentes, e de uma imprensa que cada vez mais esquece seu compromisso com a informação, publicando mentiras aberrantes e descaradas.
Capitais que sofrem sérios retrocessos sociais como Rio de Janeiro e Curitiba cada vez mais perdem a condição de servirem de "cidades-modelo" para qualquer coisa no país. Nem para popularizar campeonatos de cuspe à distância como se fossem a "última palavra do entretenimento" no Brasil essas capitais, e muito menos São Paulo, servem mais.
Desde que toda uma campanha para derrubar Dilma Rousseff, com base em acusações infundadas e muito vagas, referentes a práticas que seriam normais a qualquer presidente da República, o Brasil não só não resolveu sua crise econômica como a fez se agravar e, o que é mais grave, a ela acumulando uma série de crises de natureza política, social, institucional, jurídica e midiática.
Existe até a crise cultural, que há muito tempo fez a chamada cultura popular se degradar com fenômenos da música, da imprensa, das (sub)celebridades etc patrocinados pela mídia oligárquica e patronal como se fossem "representantes autênticos" das classes populares e apoiados por uma intelectualidade associada e pseudo-progressista.
O Brasil vive uma verdadeira catástrofe no qual as forças retrógradas sociais se extasiaram com a volta aos "bons tempos" (leia-se Era Geisel, quando a sociadade brasileira estava, aos olhos da plutocracia, num patamar ideal). Até a onda de feminicídios conjugais, que já intensificava desde 2013, voltou a todo o vapor, fazendo a festa de machistas que "brincam" com facas, revólveres ou, às vezes, venenos.
E toda essa catástrofe, que faz com que especialistas sérios afirmem que o Brasil entrou na Idade Média, deixa as pessoas indiferentes vivendo uma felicidade assustadora, não pelo suposto otimismo ou esperança que possam representar, mas pelo desprezo ou pela ignorância de coisas piores que já estão acontecendo e outras que têm sua vinda anunciada para 2017.
A degradação do mercado de trabalho, a entrega das riquezas brasileiras para corporações estrangeiras e projetos legislativos que tentam reverter os avanços e as conquistas sociais obtidos nos últimos 80 anos - embora se fala até na revogação da Lei Áurea, são a tônica desse "novo" país que se desenha com o fim da Era PT no Governo Federal.
Aliás, a revogação da Lei Áurea, que parece piada de Stanislaw Ponte Preta, não é tão anedótica assim. A "bancada do Boi" (ruralista) no Congresso Nacional pretende transformar em lei a PEC 3842, que retira as expressões "jornada exaustiva" e "condições degradantes de trabalho" das definições de crime de "trabalho escravo".
Isso é muito grave porque, através da reforma trabalhista do governo de Michel Temer, os patrões terão seus abusos autorizados por lei, como descumprir obrigações trabalhistas, fazer prevalecer seus interesses nos acordos coletivos de trabalho, pagar menos salários aos trabalhadores e forçá-los a trabalhar mais horas por mais anos de serviço, se aposentando (e mal) mais tarde.
É assustador o masoquismo um tanto alienado das pessoas, que pensam agir com esperança e otimismo diante desse cenário desolador. Acham que basta ter fé para sobreviver a qualquer retrocesso, e que podem entender a realidade sem poder compreender metade de sua natureza complexa, que nunca é difundida pela grande mídia nem pelo status quo plutocrático de hoje.
É assustadora a situação de catástrofe que atingirá o Brasil em dimensões trágicas. Atingirá não só as classes populares ou os novos agentes sociais - como a sociedade LGBT - mas as alegres elites felizes na areia da praia, que mal saberão que a felicidade cega das festas de hoje pode gerar uma ressaca trágica amanhã. O Brasil entrou em colapso e isso afetará sobretudo quem não está sequer preparado a admiti-lo.
É uma situação grave, com um país desgovernado por um presidente que chegou ao poder de maneira institucionalmente violenta, passando por cima das leis e sob a corrupção de setores legislativos e jurídicos.
É um quadro político aberrante, para o qual nenhum otimismo preguiçoso poderá resolver, pois o que vem por aí será duro demais para a "fé-licidade" cega das pessoas passar por cima. O Brasil está muito abaixo para poder passar por cima de nuvens trovejantes.
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Religião e paixões diversas, materiais ou não
UM DOS IDEALIZADORES DA ESCOLA SEM PARTIDO, O SENADOR MAGNO MALTA É ACUSADO DE CORRUPÇÃO.
A religião esconde muitas irregularidades, demonstrando ser uma forma de proteger erros sob uma suposta posição de "elevação moral" relativa ou plena. A princípio, a religião seria uma espécie de "muleta moral" para pessoas que cometeram erros graves ou sofrem infortúnios sérios.
Há no entanto incidentes muito preocupantes que ocorrem sob o manto da religião, envolvendo as três principais religiões existentes no Brasil, o Catolicismo, o Pentecostalismo e o "movimento espírita", que põe por terra suas reputações de "intocáveis".
No Pentecostalismo, alvo de muitos escândalos, está casos de Marco Feliciano, acusado de assédio sexual contra uma jovem jornalista, e Magno Malta, acusado de negociar com uma fabricante de armários de cozinha uma PEC (proposta de emenda constitucional) favorecendo a empresa num esquema de corrupção ligado ao Minha Casa, Minha Vida.
Malta é um dos idealizadores da Escola Sem Partido, ao lado do advogado Miguel Najib. Neste projeto - que, apesar de "evangélico", acolheria até mesmo atividades como a da Mansão do Caminho de Divaldo Franco - , o ensino deveria evitar o debate dos fatos da realidade, mas estimular a educação religiosa e a preservação das crenças religiosas de cada família.
No Catolicismo, a santificação de Madre Teresa de Calcutá envolve duas irregularidades. A primeira é a atribuição de superioridade espiritual (como sugere o título de santidade) a uma beata religiosa que maltratava seus assistidos e desviava dinheiro arrecadado de magnatas corruptos e tiranos para os cofres do Vaticano. Nas casas de "caridade" de Madre Teresa, internos eram mantidos em situações degradantes de consequências fatais.
A segunda é o factoide de um engenheiro brasileiro supostamente vítima de um coágulo cerebral gravíssimo, que, supostamente desenganado, recebe a cura depois de ter a medalha de Madre Teresa colocada sobre o peito. Consta-se que o que Marcílio Haddad Andrino sofreu teria sido uma intoxicação alimentar, e seu "estado de coma" teria sido um longo repouso natural em enfermidades deste tipo.
A adulteração da enfermidade teria sido um dado tendencioso e pretensioso, até porque o hospital onde estava internado Andrino é católico (Hospital São Lucas, de Santos). Quinze pessoas se engajaram para promover o "milagre" e o irmão do engenheiro chegou a dizer que somente se trabalham as fontes da Igreja Católica, porque as demais fontes podem trazer "problemas".
A título de comparação, o marido de Monica Besra, suposta beneficiada pelo "primeiro milagre", contestou que a medalha teria curado a mulher, portadora de um tumor em 2002. Ela foi curada porque todos os procedimentos médicos recomendados foram rigorosamente cumpridos. É muito diferente do que um parente de outro "beneficiado" corroborar o "milagre".
No "espiritismo", o que se sabe é que a crise da postura "dúbia", que adota uma posição falsamente "autêntica" em relação ao legado de Allan Kardec mas mantém valores e abordagens igrejistas, que no entanto não trouxe até agora efeitos drásticos ao "movimento espírita".
É verdade que cresce, na Internet, os questionamentos sobre a suposta mediunidade de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, sua suposta filantropia e o conteúdo doutrinário do "espiritismo", mas até agora o movimento religioso se mantém ainda em alta reputação com o apoio de setores jurídicos, midiáticos e acadêmicos.
Ultimamente, os "espíritas" tentam resistir na Internet pregando "ensinamentos morais" de toda forma. Em certos casos, palestrantes usurpam as palavras de Erasto - como a frase "mais vale rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira" - , distorcendo-as em favor do igrejismo gosmento que apregoam.
O que se observa nesses exemplos das três religiões - e, no caso dos neopentecostais ("neo" por causa de seu suporte midiático, jurídico e legislativo) - são as paixões humanas, materiais ou não, que se apoiam nos âmbitos da fé religiosa.
São paixões bem mais levianas do que mil orgias mergulhadas no luxo, nas drogas, na fortuna e na luxúria. As orgias sem sexo, às vezes sem dinheiro (mas em outras com muito dele) e apoiadas no nome de Jesus são as mais perniciosas, traiçoeiras e pecaminosas que existem, sendo muitas vezes maneiras de colocar a sordidez humana para debaixo do tapete.
No Brasil cada vez mais retrógrado, a religião busca crescer, causando um grave perigo para a sociedade do país, que pode assistir a períodos obscurantistas e fundamentalistas comparáveis aos da Idade Média, de triste lembrança. Cabe deixarmos a paixão da fé para não transformarmos nossas vidas num calvário.
A religião esconde muitas irregularidades, demonstrando ser uma forma de proteger erros sob uma suposta posição de "elevação moral" relativa ou plena. A princípio, a religião seria uma espécie de "muleta moral" para pessoas que cometeram erros graves ou sofrem infortúnios sérios.
Há no entanto incidentes muito preocupantes que ocorrem sob o manto da religião, envolvendo as três principais religiões existentes no Brasil, o Catolicismo, o Pentecostalismo e o "movimento espírita", que põe por terra suas reputações de "intocáveis".
No Pentecostalismo, alvo de muitos escândalos, está casos de Marco Feliciano, acusado de assédio sexual contra uma jovem jornalista, e Magno Malta, acusado de negociar com uma fabricante de armários de cozinha uma PEC (proposta de emenda constitucional) favorecendo a empresa num esquema de corrupção ligado ao Minha Casa, Minha Vida.
Malta é um dos idealizadores da Escola Sem Partido, ao lado do advogado Miguel Najib. Neste projeto - que, apesar de "evangélico", acolheria até mesmo atividades como a da Mansão do Caminho de Divaldo Franco - , o ensino deveria evitar o debate dos fatos da realidade, mas estimular a educação religiosa e a preservação das crenças religiosas de cada família.
No Catolicismo, a santificação de Madre Teresa de Calcutá envolve duas irregularidades. A primeira é a atribuição de superioridade espiritual (como sugere o título de santidade) a uma beata religiosa que maltratava seus assistidos e desviava dinheiro arrecadado de magnatas corruptos e tiranos para os cofres do Vaticano. Nas casas de "caridade" de Madre Teresa, internos eram mantidos em situações degradantes de consequências fatais.
A segunda é o factoide de um engenheiro brasileiro supostamente vítima de um coágulo cerebral gravíssimo, que, supostamente desenganado, recebe a cura depois de ter a medalha de Madre Teresa colocada sobre o peito. Consta-se que o que Marcílio Haddad Andrino sofreu teria sido uma intoxicação alimentar, e seu "estado de coma" teria sido um longo repouso natural em enfermidades deste tipo.
A adulteração da enfermidade teria sido um dado tendencioso e pretensioso, até porque o hospital onde estava internado Andrino é católico (Hospital São Lucas, de Santos). Quinze pessoas se engajaram para promover o "milagre" e o irmão do engenheiro chegou a dizer que somente se trabalham as fontes da Igreja Católica, porque as demais fontes podem trazer "problemas".
A título de comparação, o marido de Monica Besra, suposta beneficiada pelo "primeiro milagre", contestou que a medalha teria curado a mulher, portadora de um tumor em 2002. Ela foi curada porque todos os procedimentos médicos recomendados foram rigorosamente cumpridos. É muito diferente do que um parente de outro "beneficiado" corroborar o "milagre".
No "espiritismo", o que se sabe é que a crise da postura "dúbia", que adota uma posição falsamente "autêntica" em relação ao legado de Allan Kardec mas mantém valores e abordagens igrejistas, que no entanto não trouxe até agora efeitos drásticos ao "movimento espírita".
É verdade que cresce, na Internet, os questionamentos sobre a suposta mediunidade de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, sua suposta filantropia e o conteúdo doutrinário do "espiritismo", mas até agora o movimento religioso se mantém ainda em alta reputação com o apoio de setores jurídicos, midiáticos e acadêmicos.
Ultimamente, os "espíritas" tentam resistir na Internet pregando "ensinamentos morais" de toda forma. Em certos casos, palestrantes usurpam as palavras de Erasto - como a frase "mais vale rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira" - , distorcendo-as em favor do igrejismo gosmento que apregoam.
O que se observa nesses exemplos das três religiões - e, no caso dos neopentecostais ("neo" por causa de seu suporte midiático, jurídico e legislativo) - são as paixões humanas, materiais ou não, que se apoiam nos âmbitos da fé religiosa.
São paixões bem mais levianas do que mil orgias mergulhadas no luxo, nas drogas, na fortuna e na luxúria. As orgias sem sexo, às vezes sem dinheiro (mas em outras com muito dele) e apoiadas no nome de Jesus são as mais perniciosas, traiçoeiras e pecaminosas que existem, sendo muitas vezes maneiras de colocar a sordidez humana para debaixo do tapete.
No Brasil cada vez mais retrógrado, a religião busca crescer, causando um grave perigo para a sociedade do país, que pode assistir a períodos obscurantistas e fundamentalistas comparáveis aos da Idade Média, de triste lembrança. Cabe deixarmos a paixão da fé para não transformarmos nossas vidas num calvário.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
"Auxílio fraterno" e Teologia do Sofrimento
Típica entrevista em um "auxílio fraterno" de um "centro espírita" tido como conceituado, quando um paciente relata que está sofrendo dificuldades intransponíveis em sua vida.
ATENDENTE - O que o irmão faz aqui? Me conta.
PACIENTE - Eu sofro sérias dificuldades na vida. Eu me esforço, meto a cara, faço jogo de cintura, e nenhuma recompensa eu recebo por isso.
ATENDENTE - Você trabalhou seus pensamentos para acreditar no que você quer conseguir?
PACIENTE - Já. Com o maior otimismo e muita esperança.
ATENDENTE - Você teve perseverança nos seus esforços?
PACIENTE - Já. Persisti, me esforcei, com todo o empenho.
ATENDENTE - E por que você não conseguiu conquistar esse objetivo?
PACIENTE - Eu não sei, as dificuldades eram maiores do que eu imaginava, me dediquei, pau a pau, e nada aconteceu. Sabe, eu tenho minhas próprias habilidades.
ATENDENTE - Já pensou em abrir mão de tudo que sabe e fazer aquilo que você não sabe?
PACIENTE - Como assim?
ATENDENTE - Sabe, tem um trabalho na empresa... (companhia que surgiu com processo fraudulento e controlada por patrões de perfil bem canastrão), você deveria ir. Acho que é o lugar certo para talentos como você.
(O paciente faz cara de paisagem, mas sabe que a empresa não lhe é de sua simpatia)
PACIENTE - Mas essa empresa não surgiu de um esquema de corrupção financeira?
ATENDENTE - Aí é que você, um talento excepcional, pode entrar para sanear o ambiente de trabalho, melhorando as relações sociais. O empresário... (o tal canastrão) adoraria ter pessoas como você, ele me falou que gostaria de ter gente da sua formação.
(O paciente não questionou, para não dar discussão, mas parecia não concordar)
PACIENTE - Ah, uma coisa, agora sobre vida amorosa.
ATENDENTE - Diga.
PACIENTE - Eu não consigo atrair mulheres de minha afinidade. Desde meus tempos de estudante, mesmo na universidade, eu me relacionava com mulheres que se davam bem comigo e, quando eu pensava em iniciar algo a mais na relação, sempre havia um comprometimento.
ATENDENTE - Como assim? Me diz.
PACIENTE - Houve caso de uma que se mudou para longe, perdemos contato por uns meses, e quando voltamos a falar, ela se casou. Houve outro em que a colega que me paquerava passou a namorar firme outro homem. Tem outra que parecia ser perfeita para mim, mas também foi namorar outro e depois se casou. Houve outra que sumiu e, quando a vi nas mídias sociais, estava casada.
ATENDENTE - E o que tem de problema nisso?
PACIENTE - Aparentemente, nenhum. Mas as mulheres que consigo atrair e permanecem acessíveis são as que não possuem afinidade alguma comigo. Nem para conversar elas dão. São cafonas e piegas, seus temperamentos não combinam com o meu, e não servem sequer para uma relação proveitosa.
ATENDENTE - E de onde você tirou essa ideia de que não dá para ter relação proveitosa?
PACIENTE - Peraí. Elas não têm afinidade comigo. Se fossem para ser só amigas, tudo bem, mas cada uma me quer para namoro. Uma garota que nem é muito atraente mora próximo de minha casa e fica sempre disponível para mim. Há também outra garota, tipo periguete, que só anda de roupas obscenas na rua, é grotesca, e me olha como se tudo garantisse para eu ser marido dela.
ATENDENTE - Hum.
PACIENTE - E ainda tem aquela musa do "funk", que foi casada com miliciano, que nas mídias sociais teve gente me recomendando para namorar. Disse que não estava a fim, que ela representa o oposto de tudo que acredito e aprendi na vida, não teria afinidade alguma. Fui ridicularizado por muita gente na Internet.
ATENDENTE - Por que você não aceita qualquer uma delas? Quem sabe com amor você muda as cabeças dessas moças.
PACIENTE - Não é fácil. Elas têm suas convicções, estão orgulhosas pelo que são, fazem aquilo que não me agrada e a relação não iria me fazer crescer como ser humano.
ATENDENTE - Não custa tentar. Acho que isso é uma ótima oportunidade para você promover o diálogo e a união.
Minutos depois, o paciente vai embora, frustrado, vendo que o atendente do "auxílio fraterno" ignora individualidades.
sábado, 17 de setembro de 2016
O "espiritismo" e sua fortuna imaginária
O religioso se equipara a um aristocrata. Sobretudo o "espírita". A suposta humildade não impede que pessoas desse nível se comportem como as elites das fortunas da terra, porque neste caso as fortunas são imaginárias, mas mesmo assim objeto de muita vaidade e extravagância.
O "espírita", não bastasse seu triunfalismo como um deturpador dissimulado da Doutrina Espírita, praticando o velho igrejismo mas bajulando Allan Kardec e seus semelhantes, acredita estar garantido o lugar no céu mesmo diante de conduta tão irregular e gravemente falha.
O palestrante "espírita", espécie de atualização dos velhos sacerdotes e escribas, presunçosos eruditos da fé religiosa tão severamente criticados por Jesus de Nazaré - que, para decepção dos próprios "espíritas", lhes daria reprovação imediata e severa - , se achando possuidor da "melhor palavra", sempre lutando para ficar com a "palavra final" para tudo.
A Teologia do Sofrimento, que identificamos estar presente em Francisco Cândido Xavier, é a bússola ideológica do "espiritismo" brasileiro, que na prática nada tem a ver com a doutrina original de Allan Kardec, usado apenas como fachada e simulacro para acobertar um velho Catolicismo medieval, moralista e ultraconservador por influência explícita de espíritos de antigos jesuítas.
O próprio Chico Xavier adotou um jesuíta como seu "orientador", o retrógrado padre Manuel da Nóbrega, o que estimulou a "revoada de jesuítas" que haviam sido influenciados pelo Catolicismo português de fase anterior ao terremoto de Lisboa de 1750, evento que devastou Portugal e que, para solucionar a crise, o primeiro-ministro Marquês de Pombal cancelou as atividades da Companhia de Jesus na colônia brasileira, bastante onerosas à Coroa portuguesa.
Foi como uma revanche de espíritos jesuítas que não gostaram de ver sua influência ser cortada na colônia sul-americana. Diante disso, usaram a novidade da Doutrina Espírita, mas, como sempre, misturando pioneiros com deturpadores - Allan Kardec e Jean-Baptiste Roustaing - , de forma a prevalecer sobre o próprio cientificismo kardeciano um padrão medieval de religiosidade.
É como se a Igreja Católica brasileira tivesse, nos anos 80 do século XIX, excomungado católicos medievais que, divergindo com as graduais transformações da igreja sediada no Vaticano, resolvessem criar uma dissidência que recuperasse os valores medievais introduzido no Brasil-colônia. Essa dissidência passou a ser o "espiritismo" brasileiro.
A ilusão que se produziu diante de tantas espertezas e dissimulações - hoje existe a postura "dúbia" em que um suposto "kardecismo autêntico" acoberta um igrejismo entusiasmado e viscoso - faz com que o "espiritismo", mesmo dispensando todo o aparato de ouros e joias dos católicos apostólicos romanos, também se serve de fortunas simbólicas, imaginárias, mas que inspiram a mesma vaidade de níveis bastante aristocráticos.
Ver Divaldo Franco colecionando condecorações, medalhas e prêmios, por conta de sua verborragia que mais manipula e engana do que esclarece, de uma filantropia que quase nada ajudou e de um projeto educacional que só produz cidadãos-carneiros a exemplo do que quer a Escola Sem Partido, é algo que não deveria sequer receber admiração, mas profundas lástimas.
Divaldo tem um apetite de viajar em aviões de primeira classe, fazer palestras em hotéis caríssimos, expor para brasileiros que vivem no exterior e puxar o saco dos kardecianos (espíritas autênticos e não-deturpadores) que atuam em outros países. Um apetite de viagens e adulações comparável ao de Madre Teresa de Calcutá, que era amiga de tiranos e magnatas corruptos.
É um envaidecimento descomunal, no qual os "espíritas" até forjaram uma "polêmica" em torno de Chico Xavier, minimizando a "vaidade" aos níveis de um "compreensível bom gosto", como Chico usar uma peruca cafona e Divaldo Franco se vestir à maneira de um professor aristocrático dos anos 1930 e 1940.
Mas a verdade é que o "espiritismo" brasileiro é uma fogueira incessante de vaidades. Na prática, ele reciclou as velhas presunções de fariseus e saduceus, tão reprovados por Jesus de Nazaré devido à falsa humildade, ao orgulho mórbido, à falsa sabedoria e ao eruditismo pedante e ornamentado.
É uma religião que acaba não assistindo devidamente as pessoas, mas antes trazendo azar por conta de suas péssimas energias. Ouvimos muitos relatos de pessoas que só viram tragédias e infortúnios acontecerem depois que abraçaram o "espiritismo" brasileiro, não raro com muita dedicação, admiração e respeito, para depois terem que sofrer de alguma forma o mau agouro.
Os "espíritas" tentam desmentir seus erros e equívocos, ou então minimizá-los. Tentam até dizer que fazem "espiritismo autêntico, igual ao de Kardec" mas "abraçando o sentimento de religiosidade brasileiro". Tentam desmentir que trazem azar, culpabilizam as vítimas, e, em seu pedantismo, chegam mesmo a fazer juízos de valor indevidos quando sofredores lhes descrevem sua situação.
Alguns palestrantes "espíritas" mais ambiciosos chegam mesmo a usurpar não só o cientificismo de Kardec, mas até mesmo os alertas do espírito Erasto chegam a ser deturpados de maneira leviana e tendenciosa, usados pelos "espíritas" para a causa própria destes, para tirar vantagem fácil.
Erasto havia dito que é mais válido rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira. Pois no "espiritismo" se aceitou a sua mentira, da deturpação popularizada, de maneira mais irresponsável possível, por Chico Xavier, Divaldo Franco e seus seguidores.
Ver que essa mentira se impõe como "verdade indiscutível" é terrível, tanto quanto os esforços dos "espíritas" em usar até o YouTube para que seus conceitos igrejistas dignos do Brasil-colonial sejam permanecidos de maneira pétrea, irremovível e inquestionável. É como se dissessem para ninguém mexer no bolor que está no alto da parede.
O "espiritismo", como adaptação do Catolicismo medieval que a própria Igreja Católica não se interessa mais, aproveitou a bagagem ideológica descartada pela religião romana, que com todo o seu conservadorismo, pelo menos obteve muitas transformações. É claro que, na Natureza não se dá saltos, e recentemente a megera Madre Teresa de Calcutá foi declarada oficialmente "santa". Mas aí os "espíritas" também saíram extasiados.
De que adianta o desapego a ouros, dinheiro, luxo e extravagâncias se há o ouro simbólico do prestígio religioso, o refinamento de cidades espirituais imaginárias mas tidas como "reais" pelos caprichos místicos dos "espíritas" cegos no seu triunalismo?
Que paixões tão levianas, tão morbidamente sensuais, movidas pela sedução de mitos de suposta bondade, movem as pessoas em torno de Chico Xavier, Divaldo Franco e seus seguidores? Paixões dignas dos mais mórbidos aristocratas dão um tom diferente à orgia ideológica dos "espíritas".
Afinal, não são menos orgiásticas as histerias em torno de mitos de "amor e bondade" dos ídolos "espíritas". Não são menos eróticos os êxtases em torno de supostos símbolos de "caridade e fraternidade". Não deixa de ser uma masturbação o desfile de "palavras lindas" e "mensagens de amor" do ideário "espírita", como não é menos sensualismo a aceitação de tudo que ídolos como Chico Xavier dizem para as pessoas, sem dar chance ao questionamento.
É uma orgia sem órgãos sexuais, sem a fortuna material, mas com outros objetos de sentimentos igualmente fúteis e mórbidos, que cegam com o deslumbramento que atinge níveis de êxtase. Isso não é uma energia saudável, porque, uma vez contestados em uma vírgula sequer, os adeptos do "espiritismo" brasileiro se espumam de raiva e rancor, mesmo quando se disfarçam de "belas palavras".
Por isso a fortuna imaginária, o sensualismo simbólico, a obsessão e o apego a mitos como Chico Xavier e Divaldo Franco que faz os "espíritas" sucumbirem a ilusões tão terríveis do que os afortunados da matéria, dos enriquecidos do luxo e do dinheiro.
E é esse ouro das "palavras de amor" e do sensualismo da mitificação e da mistificação que tornam os "espíritas" cegos com seu próprio porvir, sem saber que sua doutrina faz procedimentos que seriam condenáveis por Allan Kardec, Erasto e Jesus de Nazaré e que o além-túmulo revelará na sua forma mais chocante, enviando os "espíritas" para o local que suas imaginações criaram: o umbral.
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Formas de legitimar os abusos pela retórica
O Brasil se tornou um país vulnerável porque se sujeita a arbitrariedades e irregularidades diversas em nome de alegações e discursos que parecem objetivos ou agradáveis, seja prometendo benefícios futuros através de prejuízos aparentemente momentâneos ou retrocessos diversos apoiados pelo status quo de alguém. Isso sem falar da suposta imagem filantrópica de ídolos religiosos.
Existem armadilhas discursivas que fazem as piores perversidades serem aceitas como a mais generosa das bondades. E o mal que existe no Brasil é essa mania de dissimulação, que faz com que medidas retrógradas sejam aceitas ou irregularidades sejam toleradas em nome da reputação seletiva de uns poucos privilegiados.
Destacamos as principais armadilhas discursivas que fazem com que as pessoas sejam prejudicadas e enganadas sem saber. Movidas pelo prestígio de outrem, aceita-se verdadeiros malefícios mediante certos discursos não apenas verbais, mas sobretudo ideológicos, mesmo que se manifestem apenas em imagens ou pelo prestígio simbólico. Vamos a essas manobras do discurso:
1. DISCURSO TÉCNICO OU ACADÊMICO
O sistema de ônibus implantado no Rio de Janeiro em 2010, com seu trágico tripé pintura padronizada, dupla função de motorista-cobrador e redução de itinerários, implantado por Eduardo Paes, poderia fazer parte das "pautas-bombas" de Eduardo Cunha se não se apoiasse em discursos tecnocráticos, supostamente científicos, uma roupagem trazida pelo primeiro secretário de Transportes, Alexandre Sansão, sob inspiração do paranaense Jaime Lerner.
Esse é apenas um exemplo de como um processo perverso que afeta o direito de ir e vir e que, sucateando o sistema de ônibus, leva uma média mensal de 20 pessoas para os hospitais devido aos acidentes ocorridos e faz a corrupção empresarial correr solta com a pintura padronizada que impede a identificação visual de cada empresa de ônibus.
Mas existem outros exemplos, e que revelam como crueldades podem ser respaldadas por um discurso "científico" e "racional". Se as pessoas acabam sendo prejudicadas, um discurso "técnico" pode dizer que "são sacrifícios necessários", "transtornos que visam benefícios futuros". Legitimar o prejuízo alheio se apoiando numa retórica "racional e objetiva" é muito fácil.
As pessoas ficam felizes, porque é alguém "responsável", dotado de "competência e saber", que decide arbitrariedades se apoiando num discurso "científico" que, com sua verborragia, "explique" certos malefícios, definidos como "esperáveis" ou "necessários", sem saber da cilada em que caem.
E se a retórica "objetiva" parte de um Divaldo Franco, então, o pessoal delira. Há quem ache que ele é o "maior intelectual do país", considerando-o "filósofo" e tudo o mais. Se ele é considerado o "maior filantropo do país" ajudando menos que 0,1%, espera-se as definições mais delirantes.
Mas o discurso "técnico" já revelou seu caráter maléfico quando o nazismo da Alemanha usava a roupagem científica para definir certas "superioridades" raciais em detrimento de outras. No Brasil, chegou-se próximo a isso quando intelectuais da "cultura popular" definiam a degradação sócio-cultural do povo pobre como se fosse um conjunto de "qualidades positivas" às quais o menor questionamento era visto como "preconceito".
DISCURSO DA FAMA OU DA INFLUÊNCIA SOCIAL
As pessoas não conseguem perceber que, quando o governo de Michel Temer, insosso político de mentalidade retrógrada, se efetivou, políticos corruptos que nele se apoiam se empenham em "limpar a imagem" buscando deixá-la "limpa e admirável" na posteridade.
Romero Jucá, senador que, em sua breve trajetória como ministro de Temer, na sua fase interina, foi denunciado em uma gravação secreta negociando o golpe e outros esquemas de corrupção, foi promovido a presidente nacional do PMDB, sob o consentimento do Tribunal Superior Eleitoral.
O senador tucano Aécio Neves é acusado de muito mais escândalos de corrupção do que o que se atribui ao PT, mas o seu prestígio comparável ao de um "galã de novela" e a associação com qualidades simbólicas mais socialmente aceitas, o faz não só ser aceito como apoiado por setores influentes da sociedade.
Em muitos casos o prestígio e a fama se confundem com o prestígio econômico, mas a diferença é que o carisma do prestígio envolve qualidades simbólicas que vão além da riqueza financeira, envolvendo um poder social e uma capacidade de, se não contrai a admiração popular, traz alguma esperança na representatividade de algum fenômeno ou atividade.
Independente de serem carismáticas ou não, pessoas que obtém visibilidade através do status social acabam atraindo a aceitação ou a admiração popular, que se tranquilizam ao acreditar que o poder de influência de tais pessoas, por pior que sejam, é "saudável" e "natural".
É isso que faz com que o apresentador Luciano Huck, por exemplo, passe por cima de muitos escândalos, vários deles graves, como permitir que se veiculem mensagens socialmente preconceituosas numa grife de roupas na qual ele é sócio, ou de realizar obras em sua mansão sem obter alvará.
O caso mais aberrante é o sutil esforço que a grande mídia hegemônica tentou fazer transformando alguns assassinos famosos, associados ao feminicídio ou à violência no campo (respectivamente ligados a valores moralistas como o machismo e a propriedade privada rural), como "pessoas legais", tentando trabalhar uma imagem "simpática" dos mesmos, não bastasse eles estarem impunes e definitivamente fora da prisão.
Em nome do prestígio, observa-se uma Justiça desigual, não apenas a Justiça no sentido jurídico, mas o próprio sentimento das pessoas que não se indignam necessariamente por um crime cometido por alguém, mas se indignam seletivamente apenas com criminosos que não possuem grande status social, enquanto se tranquilizam com a carteirada social de criminosos mais ricos e poderosos dotados ainda de prestígio entre seus pares.
DISCURSO DA RIQUEZA
O discurso da riqueza e do poder econômico já envolve um aspecto bem mais restrito do que o da fama e da influência. É um status mais administrativo ou ligado a um sucesso econômico. Claro que não é fácil distinguir o prestígio da fama com o da riqueza e em vários momentos os dois parecem se confundir, mas neste caso, mas no caso deste item observa-se maior ênfase em qualidades administrativas ou num êxito econômico estável.
É a partir disso que pessoas vão alegres para a rede de lanchonetes McDonald's que há muito pratica um padrão precarizado de trabalho, "antecipando" a terceirização do governo Michel Temer. E isso com um cardápio cada vez mais decadente e caro, dotado da pior comida gordurosa, carne condimentada e temperos que caem como bomba nos estômagos.
É assustador observar, em locais como o Centro do Rio de Janeiro, que pessoas se sintam no paraíso comprando lanches de valor nutricional duvidoso e sustentando empregados que são humilhados, mal remunerados e mal assistidos. Tudo porque a McDonald's é uma grande empresa e possui uma posição respeitável no meio empresarial.
Mas há também o exemplo da recém-extinta Rádio Cidade, FM do Rio de Janeiro que se aventurou no segmento rock no qual nunca teve verdadeira vocação nem competência. A crise que vive a música rock nos últimos anos abateu a rádio, mas ela era endeusada por muitas pessoas por causa de seu impecável suporte empresarial e com a boa relação com empresas de entretenimento envolvidas com rock, o que destoa de sua programação que, no conjunto da obra, sempre foi ruim.
A ideia de "sucesso econômico" e "competência administrativa" fez muitas barbaridades serem aceitas por causa desse tipo de status. Jaime Lerner é um exemplo. Como político em geral, ele foi um "monstro moral" que fazia desvio de dinheiro público, obras superfaturadas e cometia descaso com os trabalhadores. Mas virou "santo" por conta de suas supostas façanhas pela mobilidade urbana, garantindo um mito tecnocrático até hoje requisitado em palestras.
Quando presidiu a República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, respaldado pelo status de "acadêmico admirável" e "administrador responsável", criou um esquema de corrupção apoiado em privatizações que entregaram empresas públicas a companhias incompetentes e alimentou fortunas pessoais de FHC e outros do PSDB enviadas diretamente para os paraísos fiscais no exterior.
Em outros tempos, esse status trouxe a frase tão famosa "Rouba, mas faz", que foi primeiro associada ao governador de São Paulo, Adhemar de Barros, num passado não muito remoto (os anos 60, agora "resgatados" com a comparação do governo Temer com o golpe de 1964) e, depois, passou a ser associada ao político baiano Antônio Carlos Magalhães. O termo poderá voltar se caso Aécio Neves voltar à ascensão política se candidatando e vencendo as eleições presidenciais de 2018.
DISCURSO RELIGIOSO
A retórica religiosa, relacionada aos mitos de "bondade" e suas diversas simbologias - "caridade", "misericórdia", "amor ao próximo" - , também permite que pessoas cometam irregularidades protegidas pela mitificação religiosa.
A canonização de Madre Teresa de Calcutá é um caso ilustrativo. Ela cometeu irregularidades sérias, verdadeiros crimes, deixando seus "assistidos" sofrerem todo tipo de desgraça sob a desculpa de "se aproximarem de Jesus". Mas ela tornou-se "santa" de qualquer maneira e está associada a ideia de "caridade máxima" e "dedicação total ao amor".
Isso é grave, porque permite que a ideia de "bondade" possa ser associada à fraude, ao descaso e a tantos e tantos abusos. Vide o caso de Francisco Cândido Xavier ou de Divaldo Franco, que estão entre os "intocáveis" ídolos religiosos da história do nosso país.
Chico Xavier foi um plagiador e pastichador de obras literárias que realizou também falsas mensagens espirituais atribuídas a anônimos falecidos. Foi, também, um deturpador severo e de grande gravidade da Doutrina Espírita, com textos que abertamente contrariam o pensamento de Kardec, maculando seu sistema doutrinário com ideias bastante retrógradas e mistificadoras.
Mas como Chico Xavier foi protegido pela mística religiosa, ele passou por cima de tudo quanto era obstáculo. É o maior caso de impunidade conhecido no Brasil. Uma impunidade não só jurídica, mas também social, com adoração extrema e fanáticos que se multiplicam até mesmo no YouTube.
Para piorar, o próprio Chico Xavier se valeu pelo discurso falacioso do Ad Passiones, "apelo à emoção", sobretudo o Ad Misericordiam, "apelo à piedade", reagindo com coitadismo e vitimismo às piores acusações de fraude e falsidade ideológica, fugindo de todo tipo de questionamento através de uma falsa pose de vítima e de uma total encenação de poses chorosas e silêncio cabisbaixo.
Divaldo Franco é considerado "maior filantropo do Brasil" sem beneficiar sequer 0,1% da população brasileira. A "superioridade" de tal classificação se dá não pela quantidade ou qualidade de benefícios - pois o projeto educacional da Mansão do Caminho é medíocre - , mas pelo status religioso representado pelo "médium" e orador, famoso por seu texto empolado.
É este e os recursos discursivos acima citados que influem na consagração e no respaldo social a pessoas que cometem irregularidades e delitos graves, para não dizer crimes. O malabarismo discursivo das palavras e simbologias arrumadas legitima o erro, e faz com que pessoas atribuam superioridade social a pessoas erradas.
Algo tem que mudar e devemos nos preparar para ver as coisas além da aparência, questionando e desapegando de tantas ilusões e paixões cegas, mesmo aquelas que usam o verniz da "humildade" ou mesmo do "desapego", para evitar futuras e dolorosas decepções. Aparência não é tudo.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
O pseudo-Humberto "falando" como se fosse Chico Xavier
O amor pode tudo? É muito perigosa essa ideia, porque se trata de uma premissa dotada de conteúdo meramente emocional, que não traz uma segurança lógica nem um sentido coerente e confiável. Ideias como "amor", "bondade" e "caridade" podem estar a serviço da mentira, da fraude e da dissimulação.
O que poucas pessoas conseguem entender é que é muito mais traiçoeira é a ideia de "amor" e "bondade" quando sustentam práticas fraudulentas, dissimuladoras e mistificadoras, e que os pretextos amorosos não podem ser atenuantes nem legitimadores de mentiras e fraudes.
Pelo contrário, é infinitamente mais cruel e mais desonesto aquele que se apoia na simbologia do amor e da caridade para acobertar práticas fraudulentas e mistificadoras. Milhões de vezes mais perverso é aquele que usa o "amor" para legitimar a mentira, pois as "coisas boas" servem apenas de isca para enganar as pessoas e deixá-las praticamente submissas e resignadas.
É, portanto, uma forma de domínio, e vemos o quanto Francisco Cândido Xavier foi perverso e cruel nas suas atividades. Isso é chocante de dizer para muitos, mas um exame apurado verifica que é isso mesmo que aconteceu. Um criador de pastiches e plágios literários que usurpava os nomes dos mortos e se protegia pelo verniz da "caridade", sob o apoio até mesmo de políticos corruptos e barões da grande mídia.
É o que se vê neste fragmento reproduzido do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, patriotada literária escrita a quatro mãos por Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, mas levianamente atribuído a Humberto de Campos, numa revanche, nunca assumida, de Chico Xavier contra comentários irônicos que Humberto havia escrito em vida. Chico teria resolvido se vingar "transformando" Humberto num padre.
Observa-se, no trecho abaixo, que nada do estilo pessoal de Humberto de Campos se observa. Nada de sua escrita fluente, ágil, quase cinematográfica. O que se observa é um texto pachorrento, pesado e cansativo de se ler, portanto uma grande fraude. A linguagem lembra os depoimentos que Chico Xavier sempre dava à imprensa. Portanto, é um texto escrito por Chico Xavier, de sua própria mente:
"Depreende-se, portanto, que a principal questão do espiritualismo é proclamar a necessidade da renovação interior, educando-se o pensamento do homem no Evangelho, para que o lar possa refletir os seus sublimados preceitos."
"Dentro dessa ação pacífica de educação das criaturas, aliada à prática genuína do bem, repousam as bases da obra de Ismael, cujo objetivo não é a reforma inopinada das instituições, impondo abalos à Natureza, que não dá saltos; é, sim, a regeneração e o levantamento moral dos homens, a fim de que essas mesmas instituições sejam espontaneamente renovadas para o progresso comum."
"A tarefa é vagarosa, mas, de outra forma, seria a destruição e o esforço insensato. A obra da revolução espiritual, no Evangelho de Jesus, não se compadece com as agitações do século."
"Os que desejarem impor, no seu compreensível entusiasmo de crentes, os preceitos do Mestre às instituições estritamente humanas, talvez ainda não tenham ponderado que a obra cristã espera, há dois milênios, a compreensão do mundo."
"Todos os que lutaram por ela de armas na mão e quantos pretenderam utilizar-se dos processos da força para a imposição dos seus ensinamentos, no transcurso dos séculos, tarde reconheceram a sua ilusão, redundando seus esforços no mais franco desvirtuamento das lições do Salvador, porque essas lições têm de começar no coração, para conseguirem melhorar e regenerar o planeta."
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É vergonhoso que as pessoas vejam legitimidade neste texto. Essa mensagem é completamente inútil, um apelo que não tem a menor serventia, porque se apoia numa mentira. Sendo um texto que destoa do estilo pessoal de Humberto de Campos, fácil de se observar pelo texto pesado que o autor maranhense nunca teria escrito, conclui-se que é, portanto, uma grande fraude.
Lembremos Erasto, lembremos O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, no qual há vários alertas de "médiuns" ou "espíritos" que se apoiam de nomes ilustres para usar "coisas boas" para manipular os corações e mentes das pessoas.
Erasto havia dito que mais vale rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira. Aceita-se a mentira chamada Chico Xavier, com todas suas fraudes e pastiches, porque um recurso da falácia sustenta a reputação do anti-médium mineiro: o Ad Passiones, o "apelo à emoção", com todo o discurso enganador do vitimismo e do triunfalismo que sempre protegeram o "médium".
Diante dessa mensagem igrejista atribuída a Humberto de Campos, a interpretação não poderia ser outra: o uso oportunista e deplorável de um falecido autor, a profanação de sua memória respaldada por supostas mensagens positivas, garantindo assim o oportunismo de um arrivista como Chico Xavier, um sujeito que nunca deveria ter tido a confiabilidade que recebe das pessoas.
domingo, 11 de setembro de 2016
Retrocessos do governo Temer custarão caro aos mais ricos
OS RICOS TERÃO QUE SER MAIS ÁGEIS NO ESTACIONAMENTO DE VEÍCULOS, PARA EVITAR SEREM VÍTIMAS DE LATROCÍNIO.
Desde sua fase como governo interino, o de Michel Temer anunciou uma série de medidas retrógradas que pretendem desfazer, pelo menos, as conquistas trabalhistas que, com muita dificuldade, se obteve em cerca de 80 anos.
Embora sua equipe de governo e o próprio presidente Temer, efetivado há pouco mais de uma semana, desminta que irá romper com os direitos sociais previstos na Constituição Federal, há uma perspectiva de que reformas nesse sentido sejam feitas, para atender às pressões do empresariado e do mercado financeiro para o qual se privilegiarão as medidas do governo Temer.
Fala-se na reforma da Previdência Social que vai prorrogar a idade de aposentadoria dos 60 anos para homens e 55 para mulheres para a idade unificada para 65 ou 70 anos, tanto para os dois gêneros. Há também propostas de aumento da carga horária de serviço, da redução de encargos na remuneração, e do fim da intermediação da lei nas negociações trabalhistas, prevalecendo o negociado sobre o legislado.
Não bastasse isso, há também o anúncio do congelamento do valor de investimentos na Saúde e Educação por 20 anos, a desvinculação dos benefícios ao salário-mínimo e a privatização de empresas públicas e a venda de muitas reservas de petróleo, sobretudo no pré-sal, controladas pela Petrobras, ameaçada também de privatização. A primeira delas, em Carcará, na Bacia de Santos, já foi vendida para uma empresa norueguesa.
Com a privatização da Petrobras, que será vendida aos poucos através de suas subsidiárias - a BR Distribuidora, rede de postos de combustíveis, é uma das mais fortes, o que poderá enfraquecer a Petrobras se vendida para os estrangeiros - e o fim do seu monopólio na exploração do pré-sal, as riquezas petrolíferas poderão ser entregues aos estrangeiros, com prejuízo para o Tesouro Nacional.
Com as demais privatizações, que Temer pretende fazer "o máximo que for possível" para deixar o Estado mais "enxuto", o dinheiro dos brasileiros escorrerá para os cofres de empresários estrangeiros, que se esconderão em consórcios cujas empresas brasileiras apenas servem de "testas-de-ferro" para companhias estrangeiras levarem nosso dinheiro para longe daqui, só sobrando migalhas para nós.
As perdas sociais e econômicas do povo brasileiro serão incalculáveis, como se não bastasse o grave prejuízo financeiro que os brasileiros tiveram com a ditadura militar, com os confiscos das poupanças do governo Fernando Collor (que provocaram vários suicídios no Brasil) e com as privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso, que desviaram dinheiro para compradores estrangeiros e o dinheiro que ficou no Brasil acabou indo para as contas do pessoal do PSDB em "paraísos fiscais".
É muito retrocesso para um governo só, e se tratando de um mandato-tampão feito para completar o período deixado pelo afastamento da presidenta Dilma Rousseff, tornado definitivo no fim do mês passado.
E não se falou em outros retrocessos, como as mudanças administrativas da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), que controla emissoras públicas e educativas, e que se reduzirá a um órgão meramente governamental (onde os interesses políticos conservadores prevalecem aos interesses sociais) e a Escola Sem Partido, que reduzirá a Educação a um processo pedagógico inócuo, na qual se proíbe o debate de problemas reais mas se permite manter a ilusão dos mitos religiosos.
É evidente que o governo de Michel Temer, até para romper com os progressos ainda limitados, mas de certa forma significativos, dos 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, quer um retorno forçado ao passado, através do projeto que, embora seja denominado "Ponte para o Futuro", impõe retrocessos que, na melhor das hipóteses, devolvem ao Brasil os padrões sócio, político e econômicos da República Velha.
Esse retrocesso é tão certo que os críticos a essa "ponte", também conhecida como Plano Temer, lhe deram o apelido pejorativo de "pinguela para o passado" ("pinguela" é um tipo de ponte improvisada com tábuas de madeira e extremamente frágil).
Temer tenta recuos, disfarça com um discurso que tente desmentir várias medidas, mas como se observa no PMDB carioca (que impôs a nefasta pintura padronizada nos ônibus municipais, que confunde os passageiros e facilita a corrupção político-empresarial, na surdina, sem afirmar de início mas impondo a coisa na "hora H"), que inspira a lógica do PMDB como um todo, os retrocessos podem ser implantados "na marra" quando muitos não acreditarem em sua implantação.
A situação é tão grave que o governo Temer, tanto na condição de interino quanto na de efetivo, só fez agravar a crise político-institucional. Os protestos contra Temer só aumentam a cada dia e as autoridades estrangeiras chegaram a boicotar a Rio 2016 em protesto contra o que se define como golpe político.
ELITES TAMBÉM PODEM FICAR COM A CONTA
O que muitos não percebem é que o governo Temer, se conseguir implantar tais retrocessos, causará um grave prejuízo para o país. Já se fala que as medidas a serem adotadas são "suicidas" e contrariam as tendências mundiais. A atuação, neste sentido, do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, considerado um dos "heróis" do governo Temer, pode ser arriscada, desastrosa e com prejuízos devastadores para o Brasil.
O que chama a atenção, no entanto, é que isso serve de alerta para as próprias elites, que terão que fazer mil manobras para evitar serem vítimas de assaltos. Os assaltos tenderão a aumentar, pois, com os trabalhadores perdendo direitos e benefícios, em muitos casos não podendo sequer ter emprego, muitos poderão, nos impasses da vida, sucumbir à criminalidade.
A própria corrupção que envolve os aliados de Michel Temer e até ele próprio - como afirmam vários delatores e reportagens investigativas indicam sobre o esquema de propinas no Porto de Santos - dá um aspecto sombrio de uma farra política que vai longe demais e pode parar no precipício.
O Brasil vive uma situação de muita insegurança, a crise aumentou não por culpa de Dilma Rousseff mas do capitalismo estrangeiro e dos seguidores brasileiros que apoiam Temer, além da própria corrupção desses políticos e da mídia associada (como a companhia sonegadora de impostos, as Organizações Globo, da Rede Globo, da Globo News, da CBN e de O Globo).
As elites são ao mesmo tempo arrogantes, burras, intolerantes, vingativas mas também imprudentes. Diante das reações adversas que não acreditam que enfrentarão, elas parecem tranquilas diante de uma farra sem fim, na qual até setores jurídicos como o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República atuam em favor dos plutocratas políticos.
Mas, com os retrocessos afetando as classes populares, o sossego das elites pode encerrar principalmente à noite, onde os mais ricos costumam sair para o lazer, e é aí que os plutocratas poderão enterrar seus filhos, mortos quando estacionam seus carros ou voltam para suas casas na madrugada, por pessoas que se tornaram assaltantes por causa das barreiras intransponíveis do desemprego e da economia opressiva a ser implantada, com o fim dos direitos sociais.
Pode parecer tudo um exagero, mas a verdade é que as elites também sofrem o risco, até porque o preço a ser cobrado pela volta forçada ao passado será caro demais não somente para as classes populares, mas também para os ricos, ao mesmo tempo arrogantes e imprudentes, de vez em quando também "brincando com fogo" devido aos privilégios abusivos.
Daí que, com a implantação da pauta retrógrada que agrada muito ao PMDB e ao PSDB, além de setores como a "bancada BBB" (Bíblia, Boi e Bala) e seus partidos associados, o Brasil terá um desfecho trágico semelhante ao de períodos mais caóticos da ditadura militar. É melhor o governo Temer tomar muito cuidado com as classes populares.
Desde sua fase como governo interino, o de Michel Temer anunciou uma série de medidas retrógradas que pretendem desfazer, pelo menos, as conquistas trabalhistas que, com muita dificuldade, se obteve em cerca de 80 anos.
Embora sua equipe de governo e o próprio presidente Temer, efetivado há pouco mais de uma semana, desminta que irá romper com os direitos sociais previstos na Constituição Federal, há uma perspectiva de que reformas nesse sentido sejam feitas, para atender às pressões do empresariado e do mercado financeiro para o qual se privilegiarão as medidas do governo Temer.
Fala-se na reforma da Previdência Social que vai prorrogar a idade de aposentadoria dos 60 anos para homens e 55 para mulheres para a idade unificada para 65 ou 70 anos, tanto para os dois gêneros. Há também propostas de aumento da carga horária de serviço, da redução de encargos na remuneração, e do fim da intermediação da lei nas negociações trabalhistas, prevalecendo o negociado sobre o legislado.
Não bastasse isso, há também o anúncio do congelamento do valor de investimentos na Saúde e Educação por 20 anos, a desvinculação dos benefícios ao salário-mínimo e a privatização de empresas públicas e a venda de muitas reservas de petróleo, sobretudo no pré-sal, controladas pela Petrobras, ameaçada também de privatização. A primeira delas, em Carcará, na Bacia de Santos, já foi vendida para uma empresa norueguesa.
Com a privatização da Petrobras, que será vendida aos poucos através de suas subsidiárias - a BR Distribuidora, rede de postos de combustíveis, é uma das mais fortes, o que poderá enfraquecer a Petrobras se vendida para os estrangeiros - e o fim do seu monopólio na exploração do pré-sal, as riquezas petrolíferas poderão ser entregues aos estrangeiros, com prejuízo para o Tesouro Nacional.
Com as demais privatizações, que Temer pretende fazer "o máximo que for possível" para deixar o Estado mais "enxuto", o dinheiro dos brasileiros escorrerá para os cofres de empresários estrangeiros, que se esconderão em consórcios cujas empresas brasileiras apenas servem de "testas-de-ferro" para companhias estrangeiras levarem nosso dinheiro para longe daqui, só sobrando migalhas para nós.
As perdas sociais e econômicas do povo brasileiro serão incalculáveis, como se não bastasse o grave prejuízo financeiro que os brasileiros tiveram com a ditadura militar, com os confiscos das poupanças do governo Fernando Collor (que provocaram vários suicídios no Brasil) e com as privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso, que desviaram dinheiro para compradores estrangeiros e o dinheiro que ficou no Brasil acabou indo para as contas do pessoal do PSDB em "paraísos fiscais".
É muito retrocesso para um governo só, e se tratando de um mandato-tampão feito para completar o período deixado pelo afastamento da presidenta Dilma Rousseff, tornado definitivo no fim do mês passado.
E não se falou em outros retrocessos, como as mudanças administrativas da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), que controla emissoras públicas e educativas, e que se reduzirá a um órgão meramente governamental (onde os interesses políticos conservadores prevalecem aos interesses sociais) e a Escola Sem Partido, que reduzirá a Educação a um processo pedagógico inócuo, na qual se proíbe o debate de problemas reais mas se permite manter a ilusão dos mitos religiosos.
É evidente que o governo de Michel Temer, até para romper com os progressos ainda limitados, mas de certa forma significativos, dos 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, quer um retorno forçado ao passado, através do projeto que, embora seja denominado "Ponte para o Futuro", impõe retrocessos que, na melhor das hipóteses, devolvem ao Brasil os padrões sócio, político e econômicos da República Velha.
Esse retrocesso é tão certo que os críticos a essa "ponte", também conhecida como Plano Temer, lhe deram o apelido pejorativo de "pinguela para o passado" ("pinguela" é um tipo de ponte improvisada com tábuas de madeira e extremamente frágil).
Temer tenta recuos, disfarça com um discurso que tente desmentir várias medidas, mas como se observa no PMDB carioca (que impôs a nefasta pintura padronizada nos ônibus municipais, que confunde os passageiros e facilita a corrupção político-empresarial, na surdina, sem afirmar de início mas impondo a coisa na "hora H"), que inspira a lógica do PMDB como um todo, os retrocessos podem ser implantados "na marra" quando muitos não acreditarem em sua implantação.
A situação é tão grave que o governo Temer, tanto na condição de interino quanto na de efetivo, só fez agravar a crise político-institucional. Os protestos contra Temer só aumentam a cada dia e as autoridades estrangeiras chegaram a boicotar a Rio 2016 em protesto contra o que se define como golpe político.
ELITES TAMBÉM PODEM FICAR COM A CONTA
O que muitos não percebem é que o governo Temer, se conseguir implantar tais retrocessos, causará um grave prejuízo para o país. Já se fala que as medidas a serem adotadas são "suicidas" e contrariam as tendências mundiais. A atuação, neste sentido, do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, considerado um dos "heróis" do governo Temer, pode ser arriscada, desastrosa e com prejuízos devastadores para o Brasil.
O que chama a atenção, no entanto, é que isso serve de alerta para as próprias elites, que terão que fazer mil manobras para evitar serem vítimas de assaltos. Os assaltos tenderão a aumentar, pois, com os trabalhadores perdendo direitos e benefícios, em muitos casos não podendo sequer ter emprego, muitos poderão, nos impasses da vida, sucumbir à criminalidade.
A própria corrupção que envolve os aliados de Michel Temer e até ele próprio - como afirmam vários delatores e reportagens investigativas indicam sobre o esquema de propinas no Porto de Santos - dá um aspecto sombrio de uma farra política que vai longe demais e pode parar no precipício.
O Brasil vive uma situação de muita insegurança, a crise aumentou não por culpa de Dilma Rousseff mas do capitalismo estrangeiro e dos seguidores brasileiros que apoiam Temer, além da própria corrupção desses políticos e da mídia associada (como a companhia sonegadora de impostos, as Organizações Globo, da Rede Globo, da Globo News, da CBN e de O Globo).
As elites são ao mesmo tempo arrogantes, burras, intolerantes, vingativas mas também imprudentes. Diante das reações adversas que não acreditam que enfrentarão, elas parecem tranquilas diante de uma farra sem fim, na qual até setores jurídicos como o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República atuam em favor dos plutocratas políticos.
Mas, com os retrocessos afetando as classes populares, o sossego das elites pode encerrar principalmente à noite, onde os mais ricos costumam sair para o lazer, e é aí que os plutocratas poderão enterrar seus filhos, mortos quando estacionam seus carros ou voltam para suas casas na madrugada, por pessoas que se tornaram assaltantes por causa das barreiras intransponíveis do desemprego e da economia opressiva a ser implantada, com o fim dos direitos sociais.
Pode parecer tudo um exagero, mas a verdade é que as elites também sofrem o risco, até porque o preço a ser cobrado pela volta forçada ao passado será caro demais não somente para as classes populares, mas também para os ricos, ao mesmo tempo arrogantes e imprudentes, de vez em quando também "brincando com fogo" devido aos privilégios abusivos.
Daí que, com a implantação da pauta retrógrada que agrada muito ao PMDB e ao PSDB, além de setores como a "bancada BBB" (Bíblia, Boi e Bala) e seus partidos associados, o Brasil terá um desfecho trágico semelhante ao de períodos mais caóticos da ditadura militar. É melhor o governo Temer tomar muito cuidado com as classes populares.
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Por que Chico Xavier queria que você nunca questionasse?
Quem é tomado pela memória curta, certamente, não vai entender. Mas se voltarmos ao tempo e relembrarmos os aspectos sombrios de Francisco Cândido Xavier, que chegaram a deixar de queixo caído até o charlatão da imprensa, David Nasser - excelente escritor, notável compositor mas de caráter um tanto duvidoso - , veremos as armadilhas que o "médium" trouxe para o público.
Muitos ficam maravilhados quando Chico Xavier, em seus diversos textos - vários deles usurpando nomes como Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Meimei, Jair Presente e tantos e tantos outros que "perderam sua individualidade" e passaram a "pensar" como o "médium" - , diz para as pessoas nunca reclamarem nem se queixarem da vida. E acham isso bom.
Estão redondamente enganados. A religião tem desses sadismos. O "espiritismo" não é diferente. Quando uma pessoa sofre e enfrenta desgraças nas quais tem dificuldades de superar, o palestrante ou articulista "espírita" da ocasião sempre diz para a pessoa aguentar a barra, aceitar os "desígnios do Alto" e ter fé ou, quando muito, "mudar os pensamentos" e "buscar novos caminhos".
Chico Xavier chegava a ser muito sádico com suas "palavras de amor". Ele dizia, com aquele jeito ultraconservador de caipira moralista, que a pessoa, na pior das desgraças, estava "sendo abençoada", e dizia que o sofredor tinha que olhar passarinhos, o rio correndo, as flores brotando etc.
É até ilustrativo que O Cruzeiro tenha, até 1970, questionado os "méritos" de Chico Xavier. A revista dos Diários Associados tinha um personagem chamado O Amigo da Onça, que também falava coisas "simpáticas" diante de pessoas encrencadas.
Há passagens de Chico Xavier que lembram muito bem o personagem de Péricles Maranhão, que, por sinal, cometeu uma atitude que os "espíritas" consideram um "crime hediondo", o suicídio. Péricles estava deprimido com as gozações que recebeu por causa do seu personagem. Enquanto isso, o "espiritismo" chega a ficar complacente com o homicídio, considerando os assassinos "justiceiros" dos "resgates espirituais" de suas vítimas.
Os livros de Chico Xavier, incluindo os "medíunicos" - consideramos plausível a tese de que apenas Emmanuel teria realmente ditado os livros que levam o nome - são sempre um receituário digno da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que, no exterior, teve como seguidores, nos últimos séculos, as beatas Teresa de Lisieux e Madre Teresa de Calcutá.
E se as pessoas ficam maravilhadas com esses apelos de "não queixar", "não reclamar", "não fale mal da vida", "aceite as dificuldades visando bênçãos futuras". Isso nada tem de progressista, nada tem de transformador na vida das pessoas, é desculpa barata para o sofredor ficar sofrendo e não amolar os ídolos religiosos que não querem lidar com problemas mais complexos.
ACEITAR AS FRAUDES DE CHICO XAVIER
A ideia de não questionar o que quer que fosse, de aceitar tudo de bandeja, mostra o caráter ultraconservador do "espiritismo" brasileiro. Se vermos os textos de Emmanuel, existe um padrão de comportamento castrado no qual as pessoas são claramente aconselhadas a se tornarem submissas, conformadas e apenas submetidas ao jugo alheio.
Emmanuel personifica o espírito leviano que Erasto havia prevenido nos tempos de Allan Kardec. Lendo O Livro dos Médiuns, na tradução de José Herculano Pires, há descrições da ação e do perfil de espíritos inferiores que se encaixam perfeitamente em Emmanuel, como as qualidades negativas de espírito autoritário que produz textos empolados e usa "mensagens de amor" para forçar o público a acreditar nele.
É lamentável que vários palestrantes "espíritas" adotem uma postura contraditória de num momento fingir concordar com Erasto e em outro manifestar seu entusiasmo por Emmanuel, da mesma forma que não consegue discernir Allan Kardec e Chico Xavier, quando uma análise nem muito difícil pode ver aberrantes contradições entre estas duas pessoas claramente antagônicas.
A verdade é que, quando Chico Xavier, em parte sob influência de Emmanuel - mas com o "médium" concordando e consentindo com muito prazer - , dizia para ninguém questionar ou reclamar, quem levava vantagem com isso era justamente o próprio anti-médium mineiro.
Prestemos atenção nos textos: há sempre apelos que condenam o "exclusivismo da ciência", o "excesso de raciocínio", o "tóxico do intelectualismo", sempre um amaldiçoamento do ato de pensar, como se o raciocínio fosse um processo em si muito perigoso. E por que Chico Xavier sempre apelava para isso?
Simples. Muitas irregularidades se observam, e são muito aberrantes, das atividades "mediúnicas" de Chico Xavier e seus seguidores. As "mensagens espirituais", por mais que tentem ser semelhantes, em algum momento entram em conflito com aspectos pessoais que os mortos apresentaram em vida. A lógica sempre recomenda que, diante de um monte de semelhanças, se houver alguma diferença que entre em conflito, a mensagem é simplesmente falsa.
Há pastiches literários graves. João Dornas Filho, sobre o suposto Olavo Bilac de Parnaso de Além-Túmulo, é taxativo: "Esse homem, que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!".(“Folha da Manhã”, São Paulo, 19-IV-1945).
Só faltou Dornas dizer que o suposto Olavo Bilac "pensava" como Chico Xavier. Já observamos poemas atribuídos ao espírito de Auta de Souza que não tinham o estilo gracioso da poetisa potiguar, e pareciam ter vindo da imaginação do próprio "médium".
Escândalos sérios foram causados por Chico Xavier, de propósito. Portanto, para desespero dos fanáticos seguidores do anti-médium mineiro, foi culpa do próprio Chico, sim. Ele é que quis investir nessa brincadeira, distorcendo os conceitos de vida espiritual, mediunidade e outros aspectos da Doutrina Espírita, entendendo mal e ensinando pior ainda.
Isso foi tão grave que gerou até um processo judicial. Mas, como o Brasil é conservador e seu sistema de valores envolve uma compreensão parcial (tanto em ignorância e tendenciosismo) das leis e uma certa complacência com beatos religiosos, Chico Xavier passou por cima de todo obstáculo, não por ser a expressão de "bondade suprema" (num país em que nem o Supremo Tribunal Federal nem está tão supremo assim), mas pelo famoso "jeitinho brasileiro" do qual foi hábil praticante.
Junte um caipira ultraconservador, que era beato católico dos mais ortodoxos e que decidiu fazer pastiches literários pegando os nomes dos mortos para fazer sensacionalismo e tirar boas vantagens nisso. Isso é o Chico Xavier que os questionamentos mais aprofundados e a lógica mais apurada identficam, num simples esforço de raciocínio.
É por isso que Chico Xavier e seus partidários sempre condenaram os "excessos do raciocínio". É porque eles têm medo de serem desmascarados, e por isso sempre usavam da falácia do Ad Passiones (apelo à emoção), carteirada moral feita para se protegerem, enquanto diziam que "pensar demais faz mal" para evitar que os questionamentos os desmascarassem.
Diante disso, chegamos a uma conclusão de que Chico Xavier não deveria ser conhecido como "o homem chamado Amor". Pelas obras irregulares que fez, não muito difíceis de serem desmascaradas, Chico Xavier deveria ser conhecido como "o homem chamado FALÁCIA".
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Não há como aceitar "dois" Humberto de Campos. Descarte o falso
NÃO HÁ PROBLEMA. ESTE LIVRO JÁ NASCEU "QUEIMADO".
Devemos abrir mão do fanatismo religioso, no qual residem a pior das cegueiras, a pior das luxúrias, a pior cupidez, a pior das invejas e repousam as piores calúnias. Se um não-religioso tende a ser um vulcão extinto, muitas vezes o religioso é um vulcão adormecido que parece inofensivo, mas que em dado momento se estoura em erupções das mais trágicas.
Ficamos observando os seguidores de Francisco Cândido Xavier, que como vulcões adormecidos parecem ser montanhas inofensivas e serenas. Ao menor questionamento, estouram-se de raivas, feito vulcões que, depois de tanto tempo inativos, se despertam com muito barulho, fumaças tóxicas, lavas incandescentes e soltando pedras que caem no solo em fortes impactos.
É só verificar no YouTube, em que, por exemplo, a suposta profecia da "data-limite" gera uma série de bobagens, com muitos vídeos ruminando esse ou aquele aspecto do "sonho de 1969". Masturbações retóricas travestidas de filosofia, a verborragia de gente como Divaldo Franco corroborando tais delírios e todo um verniz de sabedoria e bondade para enfeitar essas verdadeiras demonstrações de desonestidade doutrinária em relação ao Espiritismo.
Se existe um questionamento, as pessoas que defendem Chico Xavier reagem com raivas intensas. Isso contraria, e muito, a ideia de que quem apoia o "médium" está protegido com boas vibrações e é portador das energias mais elevadas. À menor contrariedade, espumam de raiva feito cães ferozes. Houve gente que agiu até como psicopata, quando soube que Chico Xavier nunca passou de um autor de pastiches literários: "Volte, Chico, volte com sua mentiras a nos comover em lágrimas".
É esse sentimento que mostra o quanto o espetáculo de ilusionismo de Chico Xavier, que envolveu hipnotismo, leitura fria e Ad Passiones - qualquer acusação de fraude era rebatido pelo recurso falacioso do "apelo à emoção" - , foi muito mais uma técnica de manipulação das mentes das pessoas do que uma demonstração de um "trabalho do bem" que, no fundo, não gerou grandes resultados.
E aí chegamos a Humberto de Campos, um escritor infelizmente esquecido do grande público, e por isso associado indevidamente à deturpação da Doutrina Espírita. Chico Xavier muito provavelmente se vingou da resenha irônica do autor maranhense e, assim que este morreu, tomou posse de seu nome para produzir supostas obras espirituais e causou uma séria bagunça.
Essa bagunça lhe rendeu um processo judicial que, por sorte, deixou os juízes sem entender o que realmente ocorreu. Deu num empate que abriu caminho para o arrivismo de Chico Xavier, que só tomou o cuidado de mudar o nome, substituindo-o por "Irmão X" (paródia de um antigo pseudônimo que Humberto registrou em vida, "Conselheiro XX"; embora seja um "irmão xis" contra um "conselheiro vinte") para evitar "novos dissabores".
Aliás, nem foi preciso tal precaução. Chico Xavier seduziu a mãe de Humberto, Ana de Campos Veras, e depois aliciou o filho, do mesmo nome, um produtor de TV que já era influenciado por chiquistas que trabalharam na TV Tupi, como Augusto César Vannucci, por exemplo.
Foram formas de ludibriamento e assédio moral que parecem "lindos" mas que, até por esse aparato, soam muito mais perigosos e perversos. Ana de Campos recebendo cartas afetuosas do "bondoso médium", Humberto de Campos Filho recebendo supostas psicografias do pai com linguagem verossímil de afetos paternais muito fáceis de se imitarem.
Humberto de Campos Filho ainda visitou Uberaba e Chico Xavier foi mostrar sempre aquele aparato de caridade que sabemos ser paliativa. Senhoras cozinhando sopas. Velhinho pobre e abobalhado triste e que, depois que Chico Xavier lhe sussurrou alguma coisa, ele reagiu com uma alegria debilmente infantil.
Pronto. Chico Xavier poderia usar o nome de Humberto de Campos livremente. Foi como tirar doce de criança. Nos nossos dias, existem duas formas de obter impunidade plena: ser "espírita" e ser do PSDB. É permitido "aprontar das suas" que ninguém mexe.
Daí que, infelizmente, o verdadeiro Humberto de Campos está esquecido e o único consolo é ele ter seus "espaços próprios" dentro dos meios acadêmicos ou de seu seleto fã-clube. Nele, se admite que Humberto produziu apenas as obras que ele havia feito em vida, mesmo as de publicação póstuma. Mas é um espaço limitado, que não resolve o problema do falso Humberto de Campos que circula livremente por aí.
O pseudo-Humberto batiza casas e eventos "espíritas" e chega a ser mencionado como "mentor" de algumas delas. Seus livros são publicados impunemente nas livrarias, na Internet e ainda servem para palestras "espíritas" diversas.
O mais grave disso tudo é que a literatura do "espírito Humberto" e seu codinome "Irmão X" alimentam a atual tendência "espírita", a tendência dúbia, na qual o nome de Allan Kardec é bajulado ad nauseam e usa-se até os avisos de Erasto em causa própria, mas professa-se o igrejismo mais gosmento, de um catolicismo mais gorduroso que nem a Igreja Católica aguenta mais.
É uma sucessão de dissimulações, mentiras, deturpações. O "movimento espírita" é carregado do mais embolorado catolicismo medieval. Analogias a ritos e crenças católicas são feitas: "auxílio fraterno" (confessionário), "água fluidificada" (água benta), "colônia espiritual" (paraíso ou purgatório, conforme a interpretação), "espíritos de luz" (santos), "benfeitores espirituais" (anjos) etc.
No entanto, todos se dizem "rigorosamente fiéis" a Allan Kardec, dizem "respeitar totalmente" seus postulados e acreditam que a lógica e o bom senso estão ao lado dos "espíritas" brasileiros. Também, tudo fica fácil diante de traduções deturpadoras das editoras FEB e IDE, entre outras, para as obras do pedagogo francês.
Tomados do status religioso - o pior dos status que se pode ter, sendo um repositório das piores vaidades, dos piores orgulhos, e da pior posse de uma suposta reputação superior mais perigosa do que a mais abusiva posse material - , as pessoas usam e abusam de suas mentiras, mistificações, deturpações, e acham que vão ficar com a palavra final para tudo e, se não ficarem, ainda acreditam que podem recuperar esse privilégio com o vitimismo.
Num país desenvolvido, a literatura atribuída ao suposto espírito de Humberto de Campos teria sido banida, pelas caraterísticas observadas. Não haveria apelação e nenhum pretexto de bondade e caridade justificaria a publicação dessas obras. Falsidade é falsidade e não é usando a bondade como cúmplice da fraude que irá resolver o problema. Quando a bondade está a serviço da desonestidade, isso não é caridade, é escravidão.
Devemos abrir mão do fanatismo religioso, no qual residem a pior das cegueiras, a pior das luxúrias, a pior cupidez, a pior das invejas e repousam as piores calúnias. Se um não-religioso tende a ser um vulcão extinto, muitas vezes o religioso é um vulcão adormecido que parece inofensivo, mas que em dado momento se estoura em erupções das mais trágicas.
Ficamos observando os seguidores de Francisco Cândido Xavier, que como vulcões adormecidos parecem ser montanhas inofensivas e serenas. Ao menor questionamento, estouram-se de raivas, feito vulcões que, depois de tanto tempo inativos, se despertam com muito barulho, fumaças tóxicas, lavas incandescentes e soltando pedras que caem no solo em fortes impactos.
É só verificar no YouTube, em que, por exemplo, a suposta profecia da "data-limite" gera uma série de bobagens, com muitos vídeos ruminando esse ou aquele aspecto do "sonho de 1969". Masturbações retóricas travestidas de filosofia, a verborragia de gente como Divaldo Franco corroborando tais delírios e todo um verniz de sabedoria e bondade para enfeitar essas verdadeiras demonstrações de desonestidade doutrinária em relação ao Espiritismo.
Se existe um questionamento, as pessoas que defendem Chico Xavier reagem com raivas intensas. Isso contraria, e muito, a ideia de que quem apoia o "médium" está protegido com boas vibrações e é portador das energias mais elevadas. À menor contrariedade, espumam de raiva feito cães ferozes. Houve gente que agiu até como psicopata, quando soube que Chico Xavier nunca passou de um autor de pastiches literários: "Volte, Chico, volte com sua mentiras a nos comover em lágrimas".
É esse sentimento que mostra o quanto o espetáculo de ilusionismo de Chico Xavier, que envolveu hipnotismo, leitura fria e Ad Passiones - qualquer acusação de fraude era rebatido pelo recurso falacioso do "apelo à emoção" - , foi muito mais uma técnica de manipulação das mentes das pessoas do que uma demonstração de um "trabalho do bem" que, no fundo, não gerou grandes resultados.
E aí chegamos a Humberto de Campos, um escritor infelizmente esquecido do grande público, e por isso associado indevidamente à deturpação da Doutrina Espírita. Chico Xavier muito provavelmente se vingou da resenha irônica do autor maranhense e, assim que este morreu, tomou posse de seu nome para produzir supostas obras espirituais e causou uma séria bagunça.
Essa bagunça lhe rendeu um processo judicial que, por sorte, deixou os juízes sem entender o que realmente ocorreu. Deu num empate que abriu caminho para o arrivismo de Chico Xavier, que só tomou o cuidado de mudar o nome, substituindo-o por "Irmão X" (paródia de um antigo pseudônimo que Humberto registrou em vida, "Conselheiro XX"; embora seja um "irmão xis" contra um "conselheiro vinte") para evitar "novos dissabores".
Aliás, nem foi preciso tal precaução. Chico Xavier seduziu a mãe de Humberto, Ana de Campos Veras, e depois aliciou o filho, do mesmo nome, um produtor de TV que já era influenciado por chiquistas que trabalharam na TV Tupi, como Augusto César Vannucci, por exemplo.
Foram formas de ludibriamento e assédio moral que parecem "lindos" mas que, até por esse aparato, soam muito mais perigosos e perversos. Ana de Campos recebendo cartas afetuosas do "bondoso médium", Humberto de Campos Filho recebendo supostas psicografias do pai com linguagem verossímil de afetos paternais muito fáceis de se imitarem.
Humberto de Campos Filho ainda visitou Uberaba e Chico Xavier foi mostrar sempre aquele aparato de caridade que sabemos ser paliativa. Senhoras cozinhando sopas. Velhinho pobre e abobalhado triste e que, depois que Chico Xavier lhe sussurrou alguma coisa, ele reagiu com uma alegria debilmente infantil.
Pronto. Chico Xavier poderia usar o nome de Humberto de Campos livremente. Foi como tirar doce de criança. Nos nossos dias, existem duas formas de obter impunidade plena: ser "espírita" e ser do PSDB. É permitido "aprontar das suas" que ninguém mexe.
Daí que, infelizmente, o verdadeiro Humberto de Campos está esquecido e o único consolo é ele ter seus "espaços próprios" dentro dos meios acadêmicos ou de seu seleto fã-clube. Nele, se admite que Humberto produziu apenas as obras que ele havia feito em vida, mesmo as de publicação póstuma. Mas é um espaço limitado, que não resolve o problema do falso Humberto de Campos que circula livremente por aí.
O pseudo-Humberto batiza casas e eventos "espíritas" e chega a ser mencionado como "mentor" de algumas delas. Seus livros são publicados impunemente nas livrarias, na Internet e ainda servem para palestras "espíritas" diversas.
O mais grave disso tudo é que a literatura do "espírito Humberto" e seu codinome "Irmão X" alimentam a atual tendência "espírita", a tendência dúbia, na qual o nome de Allan Kardec é bajulado ad nauseam e usa-se até os avisos de Erasto em causa própria, mas professa-se o igrejismo mais gosmento, de um catolicismo mais gorduroso que nem a Igreja Católica aguenta mais.
É uma sucessão de dissimulações, mentiras, deturpações. O "movimento espírita" é carregado do mais embolorado catolicismo medieval. Analogias a ritos e crenças católicas são feitas: "auxílio fraterno" (confessionário), "água fluidificada" (água benta), "colônia espiritual" (paraíso ou purgatório, conforme a interpretação), "espíritos de luz" (santos), "benfeitores espirituais" (anjos) etc.
No entanto, todos se dizem "rigorosamente fiéis" a Allan Kardec, dizem "respeitar totalmente" seus postulados e acreditam que a lógica e o bom senso estão ao lado dos "espíritas" brasileiros. Também, tudo fica fácil diante de traduções deturpadoras das editoras FEB e IDE, entre outras, para as obras do pedagogo francês.
Tomados do status religioso - o pior dos status que se pode ter, sendo um repositório das piores vaidades, dos piores orgulhos, e da pior posse de uma suposta reputação superior mais perigosa do que a mais abusiva posse material - , as pessoas usam e abusam de suas mentiras, mistificações, deturpações, e acham que vão ficar com a palavra final para tudo e, se não ficarem, ainda acreditam que podem recuperar esse privilégio com o vitimismo.
Num país desenvolvido, a literatura atribuída ao suposto espírito de Humberto de Campos teria sido banida, pelas caraterísticas observadas. Não haveria apelação e nenhum pretexto de bondade e caridade justificaria a publicação dessas obras. Falsidade é falsidade e não é usando a bondade como cúmplice da fraude que irá resolver o problema. Quando a bondade está a serviço da desonestidade, isso não é caridade, é escravidão.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Caridade paliativa: quando a ajuda pouco beneficia
ADIANTA DAR ABRIGOS E COBERTORES PARA QUEM CONTINUA VIVENDO NA RUA?
O que é caridade paliativa? Também conhecida como "assistencialismo" é uma ajuda que apenas minimiza o sofrimento das pessoas, mas sem muita eficácia. São apenas ajudas parciais, poucos benefícios que mais parecem ações emergenciais, mas que são atos filantrópicos que se tornam superestimados pela sociedade.
O caso da oferta de sopas, por exemplo, mostra o grau paliativo dessa caridade. No mundo desenvolvido, as sopas dos pobres eram vistas apenas como atos extremos em momentos de crise gravíssima, como aconteceu durante a agonia da Segunda Guerra Mundial. Nunca são vistas como atitudes transformadoras, antes atos emergenciais que só evitam sofrimentos extremos.
Só neste Brasil confuso e desgovernado (leia-se governo Michel Temer, um caos absoluto) é que a caridade paliativa é vista como "profundamente transformadora". Muitos chegam mesmo a defini-la como "revolucionária", sem saber direito o nível e o alcance de seus atos, superficiais e limitados.
Daí que houve a gafe de muitos "espíritas", quando defendem Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, definirem seus atos "filantrópicos" como sendo "revolucionários", sem se informarem direito do que são esses atos e se realmente eles trazem algum resultado.
A verdade é que esses atos não trazem resultados profundos nem concretos. Se trouxessem, até as áreas de influência de Chico Xavier e Divaldo Franco, respectivamente a cidade mineira de Uberaba e o bairro de Pau de Lima, em Salvador, seriam modelos de progresso e desenvolvimento humano, a ponto de qualquer um poder sair na rua de noite sem perigo.
Mas ocorre o contrário. As duas regiões estão entre as mais violentas do país, com assustadoras ocorrências de assaltos à luz do dia e assassinatos quase todos à noite, obrigando as pessoas a se acostumarem a dormir sob o som de metralhadoras e revólveres soando durante a madrugada.
As caridades dos dois não tiveram profundidade. A de Chico Xavier era muito vaga, apenas doações, donativos, que não transformam muito. A de Divaldo Franco inclui um projeto educacional inócuo e religioso, que faria os defensores da ultraconservadora Escola Sem Partido ficarem tranquilos e felizes.
No entanto, por que as duas caridades são tidas como "revolucionárias"? É porque ela causou transformações profundas na sociedade? De jeito nenhum. O que há é uma visão equivocada que exalta a caridade quando ela é feita sob o selo de uma religião. Num país em que se chamou uma ditadura militar de "revolução", chama-se de "revolucionária" a Educação que não revoluciona de jeito algum, mas que fascina por causa do selo religioso que carrega.
Paulo Freire, notável educador brasileiro, ajudaria zilhões de vezes mais do que os dois anti-médiuns juntos. Isso porque o método do pedagogo pernambucano era realmente revolucionário, permitindo as pessoas em pensar criticamente a sociedade e agir de maneira a combater as injustiças e desigualdades sociais, que a caridade paliativa da religião não se dispõe a enfrentar.
Só que aí os deslumbrados religiosos deixam a máscara cair. Tanto posam de "progressistas" falando de Chico Xavier e Divaldo Franco, mesmo não podendo esconder seus valores conservadores, que no entanto reagem a qualquer comentário sobre Paulo Freire chamando-o de "comunista" e "fabricante de guerrilheiros".
Há o aspecto de que a caridade que se protege sob o manto da religiosidade não afronta as desigualdades sociais, na medida em que esse espetáculo da bondade aparente mostra sempre os pobres e doentes resignados, os ricos mantendo seus privilégios e os religiosos se promovendo com uma ajuda que rende mais publicidade do que benefícios.
Foi patético e constrangedor ver Divaldo Franco aparecer no Fantástico, da Rede Globo, tido como "maior filantropo do Brasil" com um projeto assistencial que não ajudou sequer 1% da população de Salvador, quanto mais um país inteiro. E isso mostra o quanto a caridade paliativa exagera na publicidade, deixando que os incautos acreditem, mesmo sem saber por quê, que tais caridades "revolucionam".
É essa publicidade que engana as pessoas e faz com que movimentos religiosos se promovam diante da boa-fé das pessoas. Uma bondade que não tem vida própria, não tem brilho próprio, se tornando apenas um subproduto de uma instituição religiosa, o que desmascara o aparente mérito da caridade paliativa que praticamente nada traz de mudanças profundas e significativas para a sociedade.
O que é caridade paliativa? Também conhecida como "assistencialismo" é uma ajuda que apenas minimiza o sofrimento das pessoas, mas sem muita eficácia. São apenas ajudas parciais, poucos benefícios que mais parecem ações emergenciais, mas que são atos filantrópicos que se tornam superestimados pela sociedade.
O caso da oferta de sopas, por exemplo, mostra o grau paliativo dessa caridade. No mundo desenvolvido, as sopas dos pobres eram vistas apenas como atos extremos em momentos de crise gravíssima, como aconteceu durante a agonia da Segunda Guerra Mundial. Nunca são vistas como atitudes transformadoras, antes atos emergenciais que só evitam sofrimentos extremos.
Só neste Brasil confuso e desgovernado (leia-se governo Michel Temer, um caos absoluto) é que a caridade paliativa é vista como "profundamente transformadora". Muitos chegam mesmo a defini-la como "revolucionária", sem saber direito o nível e o alcance de seus atos, superficiais e limitados.
Daí que houve a gafe de muitos "espíritas", quando defendem Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, definirem seus atos "filantrópicos" como sendo "revolucionários", sem se informarem direito do que são esses atos e se realmente eles trazem algum resultado.
A verdade é que esses atos não trazem resultados profundos nem concretos. Se trouxessem, até as áreas de influência de Chico Xavier e Divaldo Franco, respectivamente a cidade mineira de Uberaba e o bairro de Pau de Lima, em Salvador, seriam modelos de progresso e desenvolvimento humano, a ponto de qualquer um poder sair na rua de noite sem perigo.
Mas ocorre o contrário. As duas regiões estão entre as mais violentas do país, com assustadoras ocorrências de assaltos à luz do dia e assassinatos quase todos à noite, obrigando as pessoas a se acostumarem a dormir sob o som de metralhadoras e revólveres soando durante a madrugada.
As caridades dos dois não tiveram profundidade. A de Chico Xavier era muito vaga, apenas doações, donativos, que não transformam muito. A de Divaldo Franco inclui um projeto educacional inócuo e religioso, que faria os defensores da ultraconservadora Escola Sem Partido ficarem tranquilos e felizes.
No entanto, por que as duas caridades são tidas como "revolucionárias"? É porque ela causou transformações profundas na sociedade? De jeito nenhum. O que há é uma visão equivocada que exalta a caridade quando ela é feita sob o selo de uma religião. Num país em que se chamou uma ditadura militar de "revolução", chama-se de "revolucionária" a Educação que não revoluciona de jeito algum, mas que fascina por causa do selo religioso que carrega.
Paulo Freire, notável educador brasileiro, ajudaria zilhões de vezes mais do que os dois anti-médiuns juntos. Isso porque o método do pedagogo pernambucano era realmente revolucionário, permitindo as pessoas em pensar criticamente a sociedade e agir de maneira a combater as injustiças e desigualdades sociais, que a caridade paliativa da religião não se dispõe a enfrentar.
Só que aí os deslumbrados religiosos deixam a máscara cair. Tanto posam de "progressistas" falando de Chico Xavier e Divaldo Franco, mesmo não podendo esconder seus valores conservadores, que no entanto reagem a qualquer comentário sobre Paulo Freire chamando-o de "comunista" e "fabricante de guerrilheiros".
Há o aspecto de que a caridade que se protege sob o manto da religiosidade não afronta as desigualdades sociais, na medida em que esse espetáculo da bondade aparente mostra sempre os pobres e doentes resignados, os ricos mantendo seus privilégios e os religiosos se promovendo com uma ajuda que rende mais publicidade do que benefícios.
Foi patético e constrangedor ver Divaldo Franco aparecer no Fantástico, da Rede Globo, tido como "maior filantropo do Brasil" com um projeto assistencial que não ajudou sequer 1% da população de Salvador, quanto mais um país inteiro. E isso mostra o quanto a caridade paliativa exagera na publicidade, deixando que os incautos acreditem, mesmo sem saber por quê, que tais caridades "revolucionam".
É essa publicidade que engana as pessoas e faz com que movimentos religiosos se promovam diante da boa-fé das pessoas. Uma bondade que não tem vida própria, não tem brilho próprio, se tornando apenas um subproduto de uma instituição religiosa, o que desmascara o aparente mérito da caridade paliativa que praticamente nada traz de mudanças profundas e significativas para a sociedade.
sábado, 3 de setembro de 2016
O materialismo "espírita"
"Misericórdia com algoz. Mude o pensamento. Se você é enforcado, dialogue com a forca para que ela não aperte o seu pescoço, perdoe o seu carrasco e lhe diga para ele ser bonzinho. Fé em Deus que tudo poderá".
Tudo isso parece fácil, mas a vida é cheia de complicações. Mas o "espiritismo" insiste em ver a vida de forma simplória, como se individualidades e complexidades mil fossem apenas aspectos postiços, como se as almas fossem todas iguais e tudo que é peculiar e particular se dissolve no além-túmulo.
Para o "espiritismo", a individualidade é tratada como se fosse uma qualidade provisória. Evidentemente, os "espíritas", dissimuladores que são, não irão admitir isso, para eles a individualidade "existe" na vida espiritual, mas apenas se "manifesta" da forma que eles consideram "elevada", ou seja, através do igrejismo de sempre.
A negação da individualidade, porém, se dá sutilmente, atribuindo desejos e necessidades humanas como "manifestos cegos de materialismo". Para os "espíritas", pouco importa se alguém com vocação para historiador vira flanelinha, ou que uma mulher que deseje um namorado que lhe tenha afinidade só atrai homens com cargos de comando mas dotados de personalidade insossa e superficial.
Os "espíritas" acham que, desvalorizando as questões da vida material, estão abandonando o materialismo. Estão enganados. O "espiritismo" brasileiro é muito mais materialista que o marxismo, que dá um banho de solidariedade e caridade na doutrina popularizada por Francisco Cândido Xavier.
Isso porque, condenando os desejos e necessidades dos indivíduos, que o julgamento de valor "espírita" define como "caprichos do materialismo", o "espiritismo" está condenando, na verdade, a possibilidade da pessoa intervir na vida brutal da matéria, buscando um diferencial mais humano, que passa por condições específicas a cada indivíduo.
Nem todo mundo pode ter uma vocação para professor e um destino para flanelinha. Nem todo homem que deseja uma mulher de caráter tem condições de aturar uma funqueira. Quase nenhuma adversidade é aprendizado, quase nenhum obstáculo traz um novo caminho, e a coleção de desgraças quase sempre estraga a pessoa, tornando-a mais amarga, odiosa e até violenta.
É inútil que os "espíritas" façam os apelos que insistem ultimamente: "aguente seus sofrimentos", "na pior das desgraças, preste atenção nas bênçãos que recebe", "não reclameis para não macular seu coração" e outras coisas que mais parecem súplicas desesperadas de uma religião que não tem condição alguma de ajudar quem quer que seja.
O que os "espíritas" não sabem é que as pessoas são diferentes. Nem todo mundo tem a disposição e a paciência para mudar drasticamente os planos de vida. Poucos conseguem sobreviver diante de uma tempestade de desgraças. Poucos conseguem permanecer serenos perdendo a juventude toda com infortúnios difíceis de se superar e, tardiamente, obter apenas metade dos benefícios que mereceria.
O excesso de desgraças, que os "espíritas", com seu dócil sadismo, definem como "testes sucessivos" e tratam como se fossem "provas para conquistar as bênçãos futuras", em muitos casos torna o sofredor mais materialista, mais ganancioso, dotado de egoísmo, preconceito e senso de vingança, mesmo que essa vingança se manifeste por uma seletividade social maquiavélica.
E que juízo de valor cruel é o "espiritismo" quando seus palestrantes se arrogam em dizer que a necessidade de fulano é "materialismo"? Querer um cônjuge por questão de afinidade é "sensualismo"? Querer um trabalho de acordo com a própria vocação é "pedir luxo"? Querer qualidade de vida é "frescura de magnata"?
O que os "espíritas" fazem é atirar pedras ideológicas nos sofredores. Julgando-se acima de tudo, os "espíritas" apelam para os sofredores aguentarem desgraças. A cada vez mais o "espiritismo" brasileiro, guiado pelas obras de Chico Xavier, comprova seu vínculo com a Teologia do Sofrimento, sem poder mais esconder suas contradições consequentes da desonestidade doutrinária.
Desta maneira, o igrejismo "espírita" tenta sugerir falsas soluções, medidas vagas de "superação" que nada resolvem, orações que parecem se perder na atmosfera, enquanto lágrimas de angústia são produzidas por sofredores que, não bastassem as desilusões graves que sofrem diariamente, desafiando o mais persistente otimismo e o mais perseverante esforço, ainda são obrigados a se submeterem às desilusões de outros, de caráter muito menos evoluído.
Com isso, o "espiritismo" prova ser materialista, na medida em que acha que a vida humana pode ser qualquer nota. O materialismo consiste em pregar que a pessoa não possa interferir na vida material, pelo menos da forma desejada e planejada, e que tanto faz adiar projetos de vida para outras encarnações sob a desculpa de que existe reencarnação e a "verdadeira vida" é no plano espiritual. Nada disso justifica que percamos uma breve encarnação suportando desgraças.