NÃO É FOTO ANTIGA, É O RETRATO REAL DO RIO DE JANEIRO POLUÍDO E ATRASADO DE HOJE.
É preocupante a situação do Rio de Janeiro, com uma situação de extremo atraso social em todos os aspectos, sofrendo uma decadência vertiginosa que faz a ex-Cidade Maravilhosa e o Estado do qual é capital estar abaixo até mesmo dos atrasados Estados do Norte e Nordeste.
O mais preocupante é que essa grave situação não é percebida pelas próprias pessoas. Antes que a imprensa reportasse parte (e apenas parte) de sua decadência, como a criminalidade, os desastres urbanos (como as explosões de bueiros e as destruições de prédios históricos por incêndios ou desabamentos) e o colapso político-administrativo, os cariocas reagiam a tais constatações com esnobismo e desprezo.
O Sul e Sudeste, que eram regiões associadas ao desenvolvimento social, cultural e econômico no Brasil, se tornaram símbolo da decadência avassaladora que é representada, pelo plano político, pelo atual governo de Michel Temer. E o preço caro de adotar essas regiões decadentes como "modelos" a serem seguidos se revela também em outras regiões.
Recife, capital de Pernambuco, Estado do Nordeste, é um exemplo. Querendo copiar o Rio de Janeiro assimilando suas medidas negativas - como os ônibus com pintura padronizada, o fanatismo do futebol, o direitismo político e o populismo midiatizado do "funk" - , a capital pernambucana é exceção no contexto do gradual progresso que as capitais nordestinas começam a desenvolver, depois de anos de atraso resultante da supremacia de grupos coronelistas.
O Rio de Janeiro se encontra em situação tão grave, gravíssima mesmo, que o Estado é responsável direto pela derrubada do governo Dilma Rousseff e a interrupção prematura de seu governo, a menos de dois anos de se encerrar.
O deputado Eduardo Cunha, hoje cassado, foi eleito pelos cariocas num surto de moralismo movido por sua tradição autoritária (infelizmente, os cariocas têm fama de autoritários e não gostam de serem contrariados, vide os casos de cyberbulling que predominam no Estado), que, pasmem, garantiram a eleição do problemático político sob a esperança de "recuperação ética" na política nacional.
Deu no que deu. Cunha lançou pautas retrógradas, propostas sociopolíticas que, mescladas com o programa eleitoral de Aécio Neves, viraram a "Ponte para o Futuro" de Michel Temer. As pautas de Cunha, de tão antipopulares, eram consideradas "pautas-bombas", pela ameaça que representaram para conquistas sociais históricas de nossa sociedade.
Cunha foi responsável por se vingar de Dilma Rousseff, que não o defendeu diante de acusações de corrupção contra ele, e tramou todo o processo de impeachment que extinguiu definitivamente o mandato que pôs no lixo 54,5 milhões de votos, trocados por 428 (367 da Câmara, 61 do Senado) votos de parlamentares em maioria enquadrados por escândalos graves de corrupção.
Foi uma trabalheira derrubar Cunha e o processo de cassação de seu mandato foi bastante demorado e o resultado final, ainda duvidoso e inseguro. Afinal, o legado de Cunha foi deixado em muitas propostas do Plano Temer (a tal "ponte") e em muitos nomeados de sua equipe política ou do quadro de funcionários dirigentes dos órgãos do governo. Sem falar que, como havia citado Romero Jucá em conversa de bastidores, "Temer é Cunha, Cunha é Temer".
Além disso, os cariocas só conseguem se mobilizar através de dois veículos: Jornal Nacional e o periódico impresso O Dia. Fora eles, tabloides como Meia Hora e igrejas pentecostais têm algum nível de influência. Infelizmente, o povo carioca abandonou o espírito de resistência e passou a ter o de desistência. Se não for o jornal O Dia, por exemplo, ninguém questiona coisa alguma na vida.
Existe até uma anedota do carioca dorminhoco, que resiste aos apelos maquinais do relógio despertador, que anuncia a chegada de um novo dia útil. Seria preciso, segundo a piada, que houvesse, no jornal O Dia, a manchete intitulada "ACORDA, CIDADÃO", em caixa alta, para o carioca decidir-se a levantar da cama.
O Rio de Janeiro poluído, com ruas velhas e sujas, com seu pessoal sem sensibilidade, desumanizado pela ideologia do consumismo e da espetacularização da vida, mas também sem capacidade de sentir o fedor do esgoto, dos caminhões de lixo, das fezes de cachorros, preso em sua "felicidade" que não é mais uma felicidade esperançosa ou perseverante, mas uma alegria viciada e entorpecida pela falta de consciência real dos problemas.
Vemos a Baixada Fluminense nunca saindo de seu ranço coronelista, há décadas apresentando a realidade da pistolagem, que os cariocas pensam ser um cotidiano distante do Norte do Brasil. E vemos Niterói resignada em ser uma cidade provinciana pior do que muita cidade do interior da Bahia, de Pará ou Goiás, resignada com sua baixa qualidade de vida e com o papel de capacho da cidade vizinha do outro lado da Baía da Guanabara.
O Rio de Janeiro já superou São Paulo em matéria de poluição do ar. A agência Reuters reportou que o ar respirado pelos cariocas é mortal. Isso não é comentário raivoso, como aquele que desqualificou os biscoitos Globo, por outro jornal estrangeiro: é só experimentar e cheirar os braços e ver um odor de fuligem de quem anda pelas ruas do Grande Rio.
A ex-Cidade Maravilhosa também é palco de fumantes inveterados, juntamente com São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, compondo as quatro capitais com mais fumantes no Brasil. Enquanto alimentos, bebidas saudáveis e laticínios ficam muito caros e seus estoques demoram a serem renovados nos mercados, há muito cigarro barato à venda nesses lugares.
A arrogância de muitos fumantes e o descaso que eles têm em relação aos não-fumantes, notável com as caras feias com que os tabagistas largam seus cigarros toda vez que entram num prédio ou num veículo de transporte, revela essa decadência social do Rio de Janeiro que O Dia e o Jornal Nacional não iriam de jeito algum noticiar.
A Baía da Guanabara também está suja, emporcalhada, não é de hoje que chamam essa porção de água de "poça" ou "esgoto", e discussões e promessas se multiplicam, em vão, para resolver um problema que, na verdade, muitos têm um medo enorme de tomar iniciativa, com um custo que aumenta cada vez mais.
Mas existe também a poluição sonora, sobretudo dos fanáticos do futebol carioca, cujos quatro times (Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco) são os únicos que precisam estar em alguma situação favorável, por pior que estivessem nos campeonatos.
O fanatismo do futebol regula as relações sociais no Grande Rio, e muitas pessoas, quando conhecem alguém, perguntam o time antes de perguntar o próprio nome. Não raro, o fato de não gostar de futebol vira alvo de humilhações sociais ou, quando muito, de boicote, e servem até mesmo para assédio moral e motivo para demissão no emprego.
Sim, pode-se demitir alguém por não gostar de futebol, e, do jeito que estão as mobilizações pela "flexibilização" das relações de trabalho - ou seja, a lei não irá mais intervir nos abusos cometidos por patrões - , será cada vez mais difícil um demitido por esse motivo fútil acionar para processar o ex-patrão por danos morais.
O fanatismo do futebol carioca é, aliás, motivo de baixa no rendimento profissional, tamanha é a poluição sonora que os torcedores causam toda vez que um time de sua predileção faz um gol. Pode ser uma partida realizada a quinze minutos da meia-noite, que a gritaria atinge níveis ensurdecedores, não havendo condição alguma de controlar essa euforia berrante dos fanáticos futebolistas.
Mas há também os estabelecimentos mal-iluminados, com lâmpadas amarelas e fracas, que estranhamente não são trocadas. Supermercados que parecem viver em semi-escuridão, bares quase à penumbra, tudo isso dá a impressão de que os cariocas, fanáticos pela desumanizada vida noturna das boates, querem reproduzir as trevas desses ambientes para tudo quanto é lugar.
A falta de logística no comércio também é crônica. Em muitos casos, suspeita-se até de ágio, parecendo uma "metodologia" que permaneceu desde os tempos do Plano Cruzado, e que, trinta anos depois, parece permanecer nos mercados cariocas, em que determinadas marcas de produtos somem dos estoques, para forçar a venda de similares muito mais caros.
O jornal O Globo teve que admitir, em reportagem neste domingo, que o município do Rio de Janeiro aumentou a concentração de renda das classes mais ricas, em 40 anos. Os pobres só arrecadam 10% da renda gerada pelo município. Isso diz muito diante de uma plutocracia arrogante, furiosa e reacionária que são as elites cariocas, capazes de eleger um Eduardo Cunha e um Jair Bolsonaro.
A decadência do Rio de Janeiro, que acompanha a outra decadência, a de São Paulo, e já puxa ainda uma outra, a de Curitiba, comprovam o declínio destas capitais, antes associadas ao desenvolvimento e progresso, e que nem de longe podem servir de modelo algum para o resto do Brasil. São cidades atrasadas que merecem ser reavaliadas e cujos povos precisam ter uma postura autocrítica para admitir que muita coisa está errada, até coisas que parecem "corretas" e "bem-sucedidas".
E isso poderia partir do Rio de Janeiro, ainda conhecido como a "vitrine do Brasil", e que necessita urgentemente de uma reavaliação, porque os problemas que se acumulam estão muito acima do nível tolerado e considerado "natural numa complexidade urbana pós-moderna". Os problemas acumulados já atingem níveis de atrasos e retrocessos extremos, e em muitos aspectos vergonhosos e constrangedores.
Os problemas se acumulam como um grande entulho de retrocessos, tragédias e outros prejuízos, que fazem o Estado do Rio de Janeiro ser um dos mais atrasados e retrógrados do Brasil, talvez até o maior nestas lamentáveis condições. É preciso estômago forte e consciência autocrítica para perceber que esses problemas são graves e trágicos demais para aparecerem em O Dia e no Jornal Nacional, e não é esperando que essa imprensa noticie que se abrirão as consciências dos cariocas.
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