sábado, 30 de abril de 2016
Jesus Cristo e os "espíritas"
Um líder do "movimento espírita", conhecido palestrante e orador, volta à "pátria espiritual" tem a oportunidade de falar com Jesus Cristo e isso causa muito regojizo ao "espírita", que vê nessa ocasião um reconhecimento para seu trabalho de "amor e bondade" feito na Terra.
Feliz da vida, o orador "espírita" não consegue esconder a euforia de encontrar seu ídolo, mas tenta se conter mantendo sempre aquela postura de serenidade que aprendeu a forjar, sobretudo quando aparecia ante os aristocratas da Terra que lhe ofereciam condecorações pelo "trabalho da caridade".
Jesus se aproxima e, depois de falar com outras pessoas, viu o orador "espírita" se aproximando. Não parecia entusiasmado ao ver o "espírita", mas, com paciência e uma certa gentileza, decidiu iniciar a conversa:
- Por gentileza, o que é que o senhor está fazendo aqui? - disse Jesus, tranquilo mas indiferente.
- Mestre, mestre! Eu cheguei aqui porque eu fui teu servo, dediquei uma vida inteira divulgando sua palavra e fazendo a caridade dentro dos seus desígnios. Eu quero um lugar para mim, sei que não lhe peço muita coisa, mas acho que estou pronto para o banquete dos puros - disse o orador.
Jesus se mantém sério e inalterado, não que ele fosse sisudo (ele nunca o foi, do contrário que os católicos tanto diziam dele), mas porque a situação o fazia ficar assim. Depois de uns segundos pensativo, perguntou:
- Qual é o seu nome, senhor orador.
- Meu nome é (diz o nome).
Jesus faz um olhar grave. Fica pensativo. Depois, faz as seguintes perguntas:
- O senhor era considerado um mestre diante de seus seguidores na Terra?
- Sim. Muitos me consideram.
- O senhor era do tipo que rezava na frente das igrejas e ficava ao lado dos sacerdotes?
- Quanto a rezar na frente das igrejas, próximo ao altar, sim. É para ver melhor a imagem dos santos que eu adoro, principalmente o Senhor. Quanto aos sacerdotes, nem sempre, às vezes os católicos não tinham tempo de me acolher nem de falar comigo. Entendo isso com humildade e resignação.
- Hum. E a caridade que o senhor fazia beneficiou muita gente? O senhor tinha ideia de que eu ia de casa em casa para esclarecer às pessoas de diversos temas, até mesmo assuntos políticos e filosóficos?
- Tinha ideia, sim, e achava excelente de sua parte. Quanto à minha caridade, posso dizer que meu trabalho, embora modesto, tenha sido vitorioso, perdurando muitos anos com minha instituição e com os trabalhos que eu publicava para garantir o sustento dos humildes.
Jesus ficou pensativo e resolveu fazer uma pergunta provocativa:
- O senhor tem noção de que está sendo hipócrita?
O orador "espírita" se assustou, e, quase com os olhos em lágrimas - estava ainda tomado de impressões da vida material, espírito ordinário que o orador era - , perguntou, um tanto perplexo:
- Como assim, Mestre? Nunca me passou pela mente a enganação e a exploração e nem sei o que lhe deu a pensar assim de mim, o seu servo!
Jesus, calmo mas sério, resolveu lhe dizer:
- O senhor deve saber que eu criticava os sacerdotes de meu tempo. Eles oravam na frente das igrejas, recebiam honras de poderosos e ricos, nunca desafiavam as elites e sua caridade nem pode ser considerada modesta, mas, sim, ínfima e inexpressiva, por se basear em atos paliativos que pouco trazem de mudanças nas vidas das pessoas.
- Mas, como assim? Eu implantava um programa educacional que ensinava a ler, escrever, trabalhar e transmitia os ensinamentos cristãos aos alunos.
- Aí é que está o problema.
- Como assim, Mestre Jesus?
- O problema é que o "cristianismo" que o senhor transmitia se baseava em crenças místicas que nunca foram de minha responsabilidade, mas foram criadas pelos meus algozes do Império Romano, que séculos depois de minha morte, resolveram pegar carona no meu prestígio e fazer minha pessoa à imagem e semelhança dos preconceitos dele sobre mim e meu povo.
- Mas eu ensinava a solidariedade, a fraternidade!
- Sim, mas inseria coisas místicas e absurdamente moralistas dentro. Não sei se lhe tenho condições de explicar, mas o senhor lembra os antigos sacerdotes que eu reprovava nas conversas com o povo da Judeia.
- Mas como? Se eu fui o teu servo maior! Eu só divulguei a sua palavra!
- Minha palavra, não! O que os medievais inventaram de mim! E o senhor, pela sua fala rebuscada, pelos seus textos prolixos, pelo seu moralismo dos níveis que eu mesmo tentei combater há mais de dois milênios, que servo é esse que faz tudo o que não recomendo?
- Como assim? Como assim?
- E ainda mais cometendo uma grande desonestidade doutrinária, entendendo muito mal o que um cidadão desenvolveu com muito trabalho, com seu próprio suor, seu próprio dinheiro e sobretudo durante uma grave enfermidade?
- Allan Kardec?
- Sim, senhor (nome do orador "espírita"). Kardec deu duro de si, transmitindo conhecimento até quando ele estava doente e abatido, e o senhor faz pouco dele, bajulando seu nome com a vaidade dos gananciosos em busca de prestígio! Nem tem ideia do que Kardec fez e enfrentou para transmitir seus ensinamentos!
- Tenho, sim. Eu sempre li os textos dele.
- Pelo que vejo, nunca leu. Não teve tempo. Tomado de sua vaidade, e seus compromissos de celebridade, o senhor apenas posava para fotos mostrando os livros de Kardec. Mas se afastava dele, horrorizado pelo seu conteúdo científico, que ia contra as convicções religiosas do senhor.
- Isso é um absurdo. Eu sempre fui discípulo de Kardec e servo seu!
- Não é o que observamos aqui no plano espiritual, onde percebemos os lados ocultos da alma humana!
- Quer dizer que eu não terei direito ao banquete dos puros? E meu trabalho em prol do próximo? Isso não é um atenuante? O senhor, Mestre, não pode considerar esse trabalho modesto mas muito sincero e profundo, para o ingresso no arraial dos espíritos puros?
- Não. Além disso, essa caridade que o senhor fala não conseguiu beneficiar 1% de uma cidade, ainda mais uma nação enorme como o Brasil. E o senhor ainda comemorava diante de autoridades e aristocratas pelo quase nada que fez.
- Mas eu retornei me preparando muito tempo para estar ao lado dos puros.
- O senhor foi infeliz nesse esforço. Porque o que se observa é que o senhor terá que retornar em breve para a Terra, em condições ainda bem inferiores, para que o senhor aprenda a desenvolver habilidades que sejam, ao menos, despretensiosas e sem a arrogância disfarçada dos falsos mestres e dos sacerdotes tomados de orgulho que eu conheci no meu tempo.
O orador "espírita" está parado, triste. Seu ídolo o rejeitara para ingressar no paraíso dos espíritos puros.
- O que o senhor ainda está fazendo aqui? - disse Jesus. - A ideia agora é trabalho. O senhor terá que regressar e perderá todo o prestígio que alcançou, para que assim possa reinventar sua vida e novas condições de trabalho e evolução moral, sem o orgulho que a roupagem religiosa sempre oferece a seus palestrantes.
Quieto, o orador "espírita" se retirou. Foi para o setor de preparação para a reencarnação de espíritos medianos.
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Brasil poderá viver um obscurantismo político
O Brasil, infelizmente, pagará muito caro pela acomodação social e pela intransigência política. E não é por falta de religião, mas pelo excesso dela. O apego a hierarquias e estereótipos também fez o país decair drasticamente e estamos à mercê de uma "época medieval" à brasileira.
Com boa parte da sociedade induzida pelo poder midiático a querer ver a presidenta Dilma Rousseff fora do poder, por causa de um esquema ainda muito mal esclarecido de corrupção supostamente envolvendo políticos do PT, mal pode perceber o perigo que assumiu em ver o país caminhando para trás na História.
Com a aprovação da abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, um fato visto com estranheza pela imprensa estrangeira (mesmo a mais conservadora), mas foi festejado como "acontecimento histórico" pela mídia oligárquica brasileira, os tempos de políticas voltadas aos movimentos sociais iniciam seu caminho para o fim.
O governo de Michel Temer está comprometido com pautas obscurantistas, não bastasse ele ser político pouco carismático e sem aprovação popular expressiva. Embora sem o radicalismo do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que virá a ser o vice-presidente do governo Temer, este novo mandato deixa o Brasil num clima de apreensão.
O discurso conservador da grande mídia e outros que compartilham desse mesmo ponto de vista tentam afirmar que o governo Temer será de "conciliação nacional". Sabemos desse discurso, até pela roupagem religiosa, incluindo a "espírita": apelar pela "fraternidade" que oculta desigualdades e injustiças, pedindo sempre ao infortunado que aceite o privilégio do algoz, e o perdoe nos abusos.
Foram divulgadas informações de que a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) estaria pressionando Michel Temer para aprovar a terceirização e a "flexibilização" das relações de trabalho, pautas conhecidas da "bandeira" de Eduardo Cunha, visando favorecer o abuso dos patrões e empresários diante da deterioração do mercado de trabalho.
Isso significa que os trabalhadores perderão encargos e garantias de segurança, e, associado a outras "bandeiras" conservadoras - como a extinção da exigência de diploma universitário para várias profissões - , haverá uma queda de qualidade nas profissões e também uma queda do nível salarial, do poder de compra e da capacidade de sustento próprio dos trabalhadores.
Por outro lado, o Judiciário deixará de regular as relações de trabalho, que poderão ser feitas na surdina, conforme querem as elites que declaram apoio ao futuro governo Temer, o que fará com que empresários sempre fiquem com a palavra final nas "livres negociações".
Temer anunciou que irá cortar verbas para programas sociais, e, "naturalmente", para a Educação e Saúde. Além disso, como que numa malandragem política, o futuro presidente acolherá políticos do PSDB, derrotados nas eleições de 2014, que neste processo revanchista irão praticamente obter o poder que não conseguiram conquistar pelo voto democrático.
A situação é comparada a um golpe, embora o termo seja visto como "ofensivo" pela mídia conservadora e pelas instituições que lhe são associadas. Afinal, se as forças derrotadas pelo voto dos brasileiros arrumam um jeito para destituir a candidata vitoriosa - à qual se atribuem acusações sem provas, vagamente enunciadas mas respaldadas pela "paixão política" do oposicionismo cego - e tomar o poder, isso é uma atitude claramente golpista, sim.
A situação é muito grave e o país tornou-se "acéfalo" (isto é, sem governo) depois do "histórico" 17 de abril, quando 367 votos autorizaram a abertura do processo de impeachment, que poderá tirar Dilma Rousseff do poder no próximo 11 de maio, talvez de maneira definitiva.
Isso porque o país anda desgovernado. Dilma Rousseff politicamente isolada e sem autoridade. Temer e Cunha envolvidos em denúncias de corrupção, que ambos poderão empurrar com a barriga e sair impunes de qualquer processo. E as pessoas dormindo tranquilas porque o impeachment foi aprovado e a permanência do PT no Governo Federal está com os dias contados!
O grande risco é que o Brasil viverá um obscurantismo político. A direita comemora, mas mesmo aqueles que pediram o "Fora Dilma" e deram "Tchau Querida" no 17 de abril não serão muito beneficiados.
O impedimento do militante Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, para assistir às sessões do Congresso Nacional, é um indício de como os futuros detentores de poder tratarão os "coxinhas" que os puseram no poder. Reacionários não agradecem apoio. Será muito se os "coxinhas" virarem faxineiros ou funcionários de lanchonetes decadentes (como McDonald's).
O país pode caminhar para retrocessos terríveis, sob a desculpa de combater a crise econômica e garantir a moralidade social. Poderemos perder conquistas históricas e a busca por qualidade de vida ficará mais distante. A sociedade retrocederá aos padrões moralistas do período colonial, sobretudo por influência da "bancada da Bíblia", da qual Eduardo Cunha, assim como o encrenqueiro Jair Bolsonaro, fazem parte.
E aí perguntaremos aos "espíritas": diante de tudo isso, será suficiente "pedirmos fraternidade" e "cultivarmos o perdão" diante dessa situação? Será bastante uma fraternidade que não combate desigualdades e um perdão que autoriza os abusos de nossos algozes contra nós mesmos? E será positivo suportarmos retrocessos terríveis em nome de "bênçãos futuras"?
quinta-feira, 28 de abril de 2016
Você não abandonou os outros. Os outros é que lhe abandonaram
A chamada sociedade pós-moderna, ao dar xeque a muitos contextos sociais e culturais, cria situações surreais de diversos níveis. Sobretudo quando se descobre que as mídias sociais se tornaram um antro de estupidez e, não raro, de muito reacionarismo.
Em regiões como o Estado do Rio de Janeiro, esse surrealismo encontra vários exemplos, muitos deles tragicômicos. Como nos fóruns de certas comunidades, em que um problema é relatado e todos os internautas reclamam, em concordância unânime, nos comentários escritos.
No entanto, é só um deles partir para a ação concreta, ele passa a receber ameaças, é humilhado, criticado e ainda por cima tem sua página de recados lotada de ofensas e ameaças violentas e sarcásticas.
Pior: se essa pessoa cria uma comunidade chamada "Eu Odeio o Problema Tal", ainda recebe mensagens de algum amigo dizendo: "Olha, se eu fosse você tirava essa mensagem do ar, não vale a pena, deixe isso para lá".
As pessoas preferem o consumismo de emoções baratas, a realidade virtual, um estilo de vida pedante no qual existe uma falsa consciência social, um falso altruísmo, uma alegria forçada e apenas indignações mesquinhas como o ódio ao PT.
As pessoas acabam se tornando desonestas, fingidas, pretensiosas, arrogantes e narcisistas, incapazes de terem autocrítica. O erro agora é defendido pela desculpa do "Quem Nunca?". Pessoas escrevem errado e fazem questão de serem consideradas "inteligentes". Se ofendem quando não são assim reconhecidas.
A inversão ideológica é motivada pela desinformação aliada ao pedantismo e ao pretensiosismo de parecer socialmente "mais avançado". Pessoas com ideias de extrema-direita se dizem "de esquerda". Mulheres siliconadas com orgulho de serem mercadorias sexuais se dizem "feministas". Pessoas retrógradas se passando por "progressistas", pessoas estúpidas usando argumentos "racionais" para suas opiniões irracionais.
"MULTIDÕES SOLITÁRIAS"
Mas, descontando os aspectos abusivos, a cegueira consumista também cria uma situação inusitada. A de que um único cidadão com perfil diferenciado que não compartilha do consumismo de outros é simplesmente abandonado por eles.
Isso rompe com aquela ideia de que é o indivíduo "recluso" que abandona os amigos e se isola em seu ambiente. Não, não é ele que larga os amigos, são os amigos que abandonam ele, isolados na "multidão solitária" que "navega" no mar à deriva das mídias sociais.
Se a pessoa "reclusa" não tem conta no WhatsApp e quase não visita o Facebook, aparentemente é ela que "abandonou" os amigos. Mas a verdade é que as pessoas "mais sociáveis", que até se reúnem em grupo nos bares da vida, abandonaram o recluso que não adere aos passatempos da moda.
É um Brasil de valores invertidos em que a mulher que é independente, culta e inteligente depende da "sombra" de um marido poderoso, enquanto a mulher que possui personalidade submissa (se não aos homens, pelo menos aos valores da grande mídia, controlada também por alguns homens), aprecia valores culturais duvidosos e é mais piegas do que inteligente, acaba dispensada de ter um homem.
A ideia do "sistema" é frear o feminismo e filtrar a vida emancipada das mulheres independentes com a figura tradicional do marido poderoso, num último esforço do machismo em controlar os ímpetos feministas das mulheres. Já a mulher-objeto pode ficar solteira e sozinha, por seguir a cartilha machista, e reduzir o contato com um homem através das brincadeiras com seu pequeno afilhado.
Só que a sociedade hipermidiatizada desconhece isso. Muitos acreditam que aquela mulher independente e fascinante pelas boas ideias e pelos gostos interessantes não surgiu no contexto machista de seu marido poderoso, político ou empresário.
Da mesma forma, poucos conseguem admitir que aquela funqueira que desenvolveu seus "atrativos" dentro da visão machista da mulher reduzida a uma mercadoria erótica não seja uma "feminista", havendo quem até falasse em "um novo tipo de feminismo que não conhecemos (?!)".
Só isso já ilustra um contexto de incompreensões, contradições, confusões. E é ilustrativo que, neste cenário, visões igualmente sentimentalistas e subjetivistas criem reações inversas e parciais contra Lula e Dilma Rousseff e a favor de Divaldo Franco e Chico Xavier.
Sem apresentarem visões coerentes nem teses precisas, as pessoas despejam um ódio cego a Lula e Dilma Rousseff, através de uma corrupção aceita sem qualquer comprovação. Quanto a Chico e Divaldo, eles têm irregularidades comprovadas, e as pessoas os aceitam com a adoração cega de incautos tomados do mais obsessivo deslumbramento, como que dopados por algum alucinógeno.
As mídias sociais mostram isso, desde calúnias contra Dilma e Lula e frases "bonitas" de Chico Xavier, que poucos percebem serem reacionários preceitos da Teologia do Sofrimento, entre outros valores conservadores próprios do "médium" erroneamente tido como "moderno" e "progressista".
As pessoas deixam de perceber as coisas e, na realidade virtual, têm a chance de montar um "mundo todo seu" de convicções pessoais tidas como "verdades absolutas". É sintomático que, no Brasil, as pessoas tenham se tornado mais provincianas nos últimos 15 anos, superando até mesmo os tempos em que mal tínhamos redes de televisão "costuradas" de antena em antena, antes do satélite.
OS INCOMODADOS QUE SE ISOLEM
Quem é o verdadeiro incomodado? É o recluso ou o diferenciado que "reclama demais" na Internet? Não. São as pessoas que não aceitam ver gente reclamando, porque sabem que terão a responsabilidade de arcar com os problemas expostos pelo "garoto-problema".
Dificilmente se admite essa realidade. Geralmente, atribuímos a um indivíduo uma culpa, pois é fácil atribuir um erro a uma única pessoa. Grupos não podem ser culpados, porque temos apenas a ideia quantitativa da validade social, se mais pessoas aderem a algo, elas necessariamente estão sempre com a razão. O que nem sempre é verdade.
No ideário conservador, corroborado pelo "movimento espírita", as pessoas que "reclamam demais" são tidas como "problemáticas", "mal-humoradas", "intolerantes", "chatas" e "insuportáveis". Em contrapartida, ninguém diz que o rapagão que só conta piadas e tem um jeitão cínico mas festivo é alguém com neuroses sociais.
Muitos dos responsáveis por comentários ofensivos e depreciativos nas mídias sociais são pessoas consideradas pelo jeitão piadista. Os casos que envolveram famosos, como a atriz Taís Araújo, desmascararam a ilusão de que o "problemático" é o rapaz que "reclama da vida", mostrando que são os homens "irreverentes", que inspiram muita simpatia e adoração, que despejam as piores ofensas sociais.
É como no bullying da escola. Muitos valentões que humilham e até violentam rapazes considerados "estranhos" e "solitários" são considerados pela multidão da escola pessoas simpáticas, descontraídas, tão atraentes que se tornavam animadores de excursões escolares, tamanho o carisma que conquistaram dos colegas.
A sociedade mostra-se impotente em ver a complexidade da vida, e se esquece que muitos dos rapazes "hilários" das mídias sociais possuem neuroses ocultas e se tornam mais "garotos-problemas" que aquele rapaz que "reclama demais".
Muitas vezes, o rapaz que "reclama demais da vida" quer divulgar os problemas que o incomodam na esperança de que outros os resolvam, mas por trás desse perfil há uma pessoa alegre e gentil, enquanto o rapagão "de bem com a vida" que só conta piadas esconde um indivíduo traiçoeiro dotado dos mais cruéis preconceitos sociais.
É com esse nível de inversão é que as pessoas "sociáveis", que vão a um bar se reunirem no fim de noite, que são as mais isoladas e fechadas. E são elas que ditam o padrão das mídias sociais, do inconsciente coletivo que se perde nos valores estabelecidos pela mídia e pelo mercado.
Os extrovertidos ficam introvertidos com os introvertidos. Os egoístas pedem o altruísmo dos outros. Os estúpidos que não respeitam querem ser respeitados como sábios. As pessoas que pedem amor são incapazes de amar. A amizade nas mídias sociais, muitas vezes, não consegue se efetivar fora do âmbito dos computadores e celulares. E por aí vai, nessa bagunça de valores decadentes e viciados.
São elas que acabam abandonando o "recluso" que apenas não se interessa muito pelo WhatsApp, e são elas que criam uma "solidão em rede", isoladas com seus celulares na busca obsessiva de mesmice travestida em novidade pelas mídias sociais. Enquanto isso, o "recluso" quer ter uma vida social de verdade, só não encontra companhia para isso. Todos se isolaram no "zap-zap".
quarta-feira, 27 de abril de 2016
Delirante aventura espacial com Adolfo Bezerra de Menezes
Faltam dados históricos objetivos sobre o médico Adolfo Bezerra de Menezes. Apesar de contemporâneo de Machado de Assis, Joaquim Nabuco, dos irmãos Aluísio e Artur de Azevedo e de Olavo Bilac, os quais contam de muitos dados biográficos, o parlamentar e dirigente "espírita" só tem uma biografia fantasiada, em que só aspectos agradáveis de sua vida são narrados, e isso quando não são inventados.
E se faltam dados históricos, sobram dados fantasiosos. Misto de Papai Noel com Super-Homem, Adolfo Bezerra de Menezes, o "dr. Bezerra", é personagem de narrativas fantásticas, puramente ficcionais, mas atribuídas à sua "vida espiritual".
Oficialmente, o "movimento espírita" alega que Bezerra não reencarnou, permanecendo, "espírito puro", como "protetor" do Brasil e "filantropo do além-túmulo". Mas a verdade é que, por sua natureza pessoal, Bezerra reencarnou, sim, e é bem provável que esteja na sua segunda encarnação pós-1900, talvez na forma de um rapaz de cerca de 25 anos.
Não conseguimos saber se Bezerra foi um político fisiológico, como um "peemedebista" de seu tempo, ou que parentesco ele exerceu, na árvore genealógica, com o conhecido jurista fluminense Geraldo Bezerra de Menezes. Sabe-se que, embora cearense, Adolfo viveu o resto de seus dias na então capital federal, o município do Rio de Janeiro, e nela exerceu suas atividades "espíritas".
No entanto, inventam-se coisas ao mesmo tempo fabulosas e encantadoras do dr. Bezerra, e uma das passagens é essa delirante aventura espacial, de conteúdo aberrantemente esotérico e pseudo-científico, na qual se atribui ao médico as mesmas previsões absurdas que se observa em Chico Xavier e Divaldo Franco.
São as tais "previsões" de mudanças planetárias similares às da "data-limite" de Chico, citando sobretudo o planeta Nibiru, que o cientista Neil deGrasse-Tyson, sabiamente, revela não passar de uma bem elaborada ficção.
O trecho, enorme e prolixo, foi lançado por André Luiz Ruiz, no livro Herdeiros do Novo Mundo, lançado em 2009 e atribuído ao espírito Lucius - curiosamente, é o mesmo nome do espírito a que se atribui boa parte das psicografias de Zíbia Gasparetto, considerado o "mentor" dela - , no qual se atribui a Adolfo Bezerra de Menezes supostas previsões sobre "mudanças na Terra".
É bom deixar claro que essas "previsões" são uma prática que havia sido reprovada severamente por Allan Kardec, que nunca recomendou que se fizessem "profecias" dessa espécie, pelo fato de prever o futuro a longo prazo ser uma tarefa impossível e por tais "profecias" indicarem sempre uma perigosa mistificação. Vamos ao texto:
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SUPOSTA PREVISÃO DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
Por André Luiz Ruiz - Atribuído ao espírito Lucius - Livro Herdeiros do Novo Mundo, 30 de julho de 2009.
– Filhos, agora vocês entenderão o porquê das lágrimas da Mãezinha querida. Se as providências da Misericórdia já estão sendo atendidas com o afastamento dos Espíritos mais endurecidos do ambiente terreno, não imaginem que a Lua seja o porto definitivo, o destino final de tais entidades. Trata-se de medida preparatória de adestramento pela dor cuja finalidade é aparar o que precisa ser transferido para o alvo final. Observem ao longe, aquele ponto bem à nossa frente.
Apontou Bezerra na direção de peculiar corpo celeste que, de imensas dimensões, devorava distâncias na velocidade vertiginosa dos astros massivos, em obediência à órbitas desconhecidas dos mapas solares.
– Não é prudente que nos acerquemos muito mais porquanto já daqui de onde estamos, recebemos o impacto desagradável de suas emanações primitivas, carregadas de um magnetismo inferior.
Os dois companheiros de Bezerra estavam em mutismo insofreável.
– Trata-se de mundo conhecido das lendas antigas como o portador da destruição, causador de traumas geológicos e mudanças bruscas na estrutura magnética e elétrica da terra, isso sem falar no caos civilizatório que, em todas as suas aproximações, sua influência provocou. Apesar disso, a sua aproximação é vista como um grande benefício para o aceleramento das mudanças. Ainda que nesta distância da órbita terrena, suas magistrais dimensões e a grandeza de seu campo magnético-psíquico já se fazem sentir ao longo de sua trajetória, chegando aos homens bem antes de sua massa se faça visível aos olhares aterrados. Sua presença energética desperta nos que lhe são afins as emoções grotescas, as práticas mais vis pelos vícios que alimenta, das baixezas morais que estimula porque, primitivo, como disse, tal orbe emite esses sinais que se conectam com os que se lhe assemelhem em vibrações e desejos, alimentando-os com seu psiquismo, fortalecendo-os nos desejos e nas práticas inferiores. Precedendo-lhe a influência magnética e gravitacional que se avoluma, observa, há décadas, a piora dos padrões emocionais do planeta, o avolumar das crises sociais, dos crimes hediondos, das leviandades nos costumes, agora acrescidos das modificações climáticas, da surpreendente e inesperada variação do magnetismo planetário com modificação da posição dos pólos da Terra. Fenômenos inusitados confundem a mente dos homens de ciência, cheios de teorias e cegos para a verdade.
Várias instituições científicas estão informadas da aproximação desse corpo massivo, mas, por prudência ou por receio de se ridicularizarem, não se dispuseram ainda a reconhecer a emergência que se abate sobre toda a humanidade, preferindo adotar condutas contemporizadas ou, até mesmo, procurando preparar as pessoas empregando recursos subliminares como filmes, reportagens, documentários de desastres, tratando do assunto de maneira ficcional. Gradualmente, porém, a influência gravitacional desse corpo planetário vai apertar seus laços sobre os demais planetas do sistema solar, demarcando a sua trajetória com as naturais conseqüências de sua presença intrusa e gigantesca, aproximando-se do nosso Sol. Este é o corpo celeste que, como um ímã poderoso, separará a limalha de ferro pelo poder que já exerce, e exercerá, ainda mais, sobre tudo o que se sintonize com a sua vibração. Homens e Espíritos no mesmo padrão serão por ele reclamados como um patrimônio que lhe pertence, liberando a Terra para novas etapas de crescimento e evolução. Talvez venha a ser confundido por muitos com um cometa, com um astro que se chocará com nosso planeta, com um mensageiro do mal pelo medo e aflição que provocará. Outros se valerão dele para atormentar seus irmãos de humanidade, tentando arrancar-lhes os últimos bens materiais que possuam. Mal intencionados se valerão de tal presença no Céu para apregoar o fim do mundo, levando o caos aos mais ingênuos e despreparados. Marcada por eventos cataclísmicos datados de milênios, a humanidade sentirá a aproximação do novo ajuste de contas e cada qual saberá dizer se, no fundo de si mesmo, fez o que deveria ter feito para modificação de suas vibrações. Por fim, a aproximação maior provocará as alterações geológicas, climáticas e energéticas que promoverão a depuração das almas. Para ele serão levadas aquelas que já se encontram estagiando na superfície do satélite lunar. Batizado desde a antiguidade com diferentes nomes, tais como Nibiru, Marduk, Hercólubus, pela ciência chamado de planeta X, também apelidado de Astro Higienizador ou Chupão pelos espiritualistas de diversas vertentes, este é o Mundo Novo, mundo em formação dotado de uma humanidade primitiva que precisa de irmãos mais capacitados, treinados no aprendizado terreno que a ajudará, acelerando a sua evolução. E enquanto fazem isso, desbastam as próprias arestas ao conviver com as asperezas de um planeta primitivo e rústico que lhes fornecerá as oportunidades para lições novas de disciplina e transformação.
É por isso que Maria chorava como viram. Se o sofrimento da Lua é apenas expansão da maldade dos que nela foram congregados, nenhum deles imagina o que os espera em um mundo novo como esse, sofrimento que compunge o sentimento dessas Almas Superiores, que tudo fizeram para adiar o trágico encontro dos maus com seus próprios destinos. É da lei que a sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória.
Os dois ouvintes estavam atônitos.
Ao longe divisavam um grande corpo celeste avermelhado pelos gases que o envolviam, com um tamanho imenso para os padrões terrenos e que, como Bezerra afirmava, era dotado de uma atmosfera fluídica primitiva, que já se podia sentir mesmo estando a milhões de quilômetros de distância. Como haveria de ser árdua a vida naquele corpo celeste! – pensavam em silêncio.
Interessado em maiores informações, Adelino perguntou:
– Poderíamos visitar a superfície desse orbe?
Sem perda de tempo, Bezerra respondeu:
– Os cuidados que precisaríamos adotar na realização de tal empreendimento exigiriam um esforço e um tempo de que não dispomos neste momento, sobretudo porque não é interessante perturbar nossos irmãos de humanidade com descrições deprimentes e chocantes acerca das condições evolutivas embrionárias que marcam a superfície de tal orbe primitivo. É suficiente para os nossos objetivos que nos conduzem informarmos aos nossos irmãos de humanidade de que esta é a hora definidora de suas vidas. Que a aproveitem da melhor forma para que não acabem mudando de casa. Que não percam tempo na transformação decisiva de suas tendências mais profundas porque, pelo tamanho do planeta que estão observando, não faltará espaço para boa parte dos trinta bilhões de espíritos que, encarnados ou desencarnados, estagiam na Terra ou em seus níveis vibratórios. No entanto, poderíamos nos aproximar, assimilando as energias densas que visam à plasmagem perispiritual indispensável, caso nos interessasse um aprofundamento na apreciação de suas peculiaridades para a descrição futura.
terça-feira, 26 de abril de 2016
Ninguém esclarece o enigma do clã Bezerra de Menezes
LIVRO DO JURISTA GERALDO MONTEDÔNIO BEZERRA DE MENEZES, SOBRE O PAI, TAMBÉM JURISTA.
Até agora um mistério ronda o sobrenome Bezerra de Menezes. Pode ter sido um grande clã, originário do Nordeste, sobretudo no Ceará, e com descendências no Estado do Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, o nome do dirigente "espírita" Adolfo Bezerra de Menezes ainda está desvinculado a outras personalidades do mesmo nome, sem qualquer tipo de explicação.
Rotulado erroneamente como o "Kardec brasileiro", já que Adolfo Bezerra de Menezes preferiu a deturpação de Jean-Baptiste Roustaing, o "médico dos pobres" parece isolado de outros personagens do clã Bezerra de Menezes, como se o "movimento espírita" lhe garantisse uma distinção que o impedisse de se misturar com os demais membros do clã.
Há muito mistério na vida do dr. Bezerra de Menezes e isso ocorre de forma inexplicável. Afinal, Bezerra era contemporâneo de Joaquim Nabuco e Machado de Assis, figuras que dispõem de fartos dados biográficos. Bezerra teria sido um parlamentar com algum destaque na vida política brasileira, além de ter sido médico e militar de considerada reputação no Segundo Império.
Não há uma biografia isenta, imparcial, que mostrasse não só qualidades, mas defeitos, sobre o dr. Bezerra. E isso impede uma compreensão de sua vida desprovida de paixões religiosas, que fazem com que o dirigente "espírita" seja tratado como se fosse a versão brasileira do Papai Noel.
Isso é chocante, porque o "espiritismo" brasileiro se define como um movimento simpático à ciência, à busca do Conhecimento e diz apreciar os trabalhos intelectuais, a visão isenta dos fatos, o raciocínio investigativo e a análise da realidade. Mas, na prática, faz o contrário de tudo isso, até de forma aberrante.
Qual o parentesco do médico "espírita" Adolfo Bezerra de Menezes com o jurista fluminense Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes? É leviano relacionar o médico "espírita" ao jurista católico, ligado ao Centro Dom Vital (instituição de Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima)? Não é, e além do mais o "médico dos pobres" também era um católico devoto.
E, mais uma vez, se queixa de não haver dados biográficos objetivos sobre Adolfo Bezerra de Menezes, enquanto sobram estórias fantasiosas feitas para fortalecer o mito "filantrópico" e a imagem "santificada" do ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira.
Existe até mesmo supostas mensagens espirituais de Adolfo Bezerra lançadas por Chico Xavier e Divaldo Franco foram divulgadas de forma tendenciosa, diante da crise da cúpula da FEB e como forma de se vingar de Luciano dos Anjos, um dos membros dirigentes da federação, que denunciou que Divaldo teria iniciado suas "psicografias" plagiando as de Chico.
O tom tendencioso era de que o suposto Adolfo Bezerra de Menezes se "arrependeu" do roustanguismo - defendido por Luciano dos Anjos - e pedia para os "espíritas" se "kardequizarem", adotando uma postura supostamente "fiel" a Allan Kardec. Só que o igrejismo ficava latente com a expressão "kardequizar", que sugere um trocadilho com a palavra "catequizar".
As manobras "psicográficas" de Chico e Divaldo para mostrar um "dr. Bezerra" supostamente fiel a Allan Kardec deram origem à postura "dúbia" do "movimento espírita" de hoje, que faz juras de suposta fidelidade e respeito ao pensamento kardeciano, mas continua investindo em deturpações de cunho igrejista.
Além disso, é pouco provável que Adolfo Bezerra de Menezes realmente tenha deixado de reencarnar, como é a visão oficial do "movimento espírita". É muito provável que ele reencarnou, sim, e estaria hoje provavelmente na sua segunda reencarnação depois de 1900, talvez um jovem de cerca de 25 anos de idade.
Há também a necessidade de esclarecer a árvore genealógica da família Bezerra de Menezes, sem a separação de Adolfo Bezerra de outros familiares. Além do mais, que mal tem ligar o médico "espírita" a juristas católicos se o próprio doutor Bezerra também foi católico?
É preciso que se avalie a trajetória de Adolfo Bezerra de Menezes sem escorregar na areia movediça do deslumbramento religioso e das tentadoras ilusões da "bondade" religiosa. É preciso ver o "movimento espírita" sem deslumbramento, e não adianta fingir isenção e imparcialidade e depois sucumbir a tais ilusões. É preciso ter coragem para ver a realidade, nem sempre doce e meiga, do biografado.
Até agora um mistério ronda o sobrenome Bezerra de Menezes. Pode ter sido um grande clã, originário do Nordeste, sobretudo no Ceará, e com descendências no Estado do Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, o nome do dirigente "espírita" Adolfo Bezerra de Menezes ainda está desvinculado a outras personalidades do mesmo nome, sem qualquer tipo de explicação.
Rotulado erroneamente como o "Kardec brasileiro", já que Adolfo Bezerra de Menezes preferiu a deturpação de Jean-Baptiste Roustaing, o "médico dos pobres" parece isolado de outros personagens do clã Bezerra de Menezes, como se o "movimento espírita" lhe garantisse uma distinção que o impedisse de se misturar com os demais membros do clã.
Há muito mistério na vida do dr. Bezerra de Menezes e isso ocorre de forma inexplicável. Afinal, Bezerra era contemporâneo de Joaquim Nabuco e Machado de Assis, figuras que dispõem de fartos dados biográficos. Bezerra teria sido um parlamentar com algum destaque na vida política brasileira, além de ter sido médico e militar de considerada reputação no Segundo Império.
Não há uma biografia isenta, imparcial, que mostrasse não só qualidades, mas defeitos, sobre o dr. Bezerra. E isso impede uma compreensão de sua vida desprovida de paixões religiosas, que fazem com que o dirigente "espírita" seja tratado como se fosse a versão brasileira do Papai Noel.
Isso é chocante, porque o "espiritismo" brasileiro se define como um movimento simpático à ciência, à busca do Conhecimento e diz apreciar os trabalhos intelectuais, a visão isenta dos fatos, o raciocínio investigativo e a análise da realidade. Mas, na prática, faz o contrário de tudo isso, até de forma aberrante.
Qual o parentesco do médico "espírita" Adolfo Bezerra de Menezes com o jurista fluminense Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes? É leviano relacionar o médico "espírita" ao jurista católico, ligado ao Centro Dom Vital (instituição de Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima)? Não é, e além do mais o "médico dos pobres" também era um católico devoto.
E, mais uma vez, se queixa de não haver dados biográficos objetivos sobre Adolfo Bezerra de Menezes, enquanto sobram estórias fantasiosas feitas para fortalecer o mito "filantrópico" e a imagem "santificada" do ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira.
Existe até mesmo supostas mensagens espirituais de Adolfo Bezerra lançadas por Chico Xavier e Divaldo Franco foram divulgadas de forma tendenciosa, diante da crise da cúpula da FEB e como forma de se vingar de Luciano dos Anjos, um dos membros dirigentes da federação, que denunciou que Divaldo teria iniciado suas "psicografias" plagiando as de Chico.
O tom tendencioso era de que o suposto Adolfo Bezerra de Menezes se "arrependeu" do roustanguismo - defendido por Luciano dos Anjos - e pedia para os "espíritas" se "kardequizarem", adotando uma postura supostamente "fiel" a Allan Kardec. Só que o igrejismo ficava latente com a expressão "kardequizar", que sugere um trocadilho com a palavra "catequizar".
As manobras "psicográficas" de Chico e Divaldo para mostrar um "dr. Bezerra" supostamente fiel a Allan Kardec deram origem à postura "dúbia" do "movimento espírita" de hoje, que faz juras de suposta fidelidade e respeito ao pensamento kardeciano, mas continua investindo em deturpações de cunho igrejista.
Além disso, é pouco provável que Adolfo Bezerra de Menezes realmente tenha deixado de reencarnar, como é a visão oficial do "movimento espírita". É muito provável que ele reencarnou, sim, e estaria hoje provavelmente na sua segunda reencarnação depois de 1900, talvez um jovem de cerca de 25 anos de idade.
Há também a necessidade de esclarecer a árvore genealógica da família Bezerra de Menezes, sem a separação de Adolfo Bezerra de outros familiares. Além do mais, que mal tem ligar o médico "espírita" a juristas católicos se o próprio doutor Bezerra também foi católico?
É preciso que se avalie a trajetória de Adolfo Bezerra de Menezes sem escorregar na areia movediça do deslumbramento religioso e das tentadoras ilusões da "bondade" religiosa. É preciso ver o "movimento espírita" sem deslumbramento, e não adianta fingir isenção e imparcialidade e depois sucumbir a tais ilusões. É preciso ter coragem para ver a realidade, nem sempre doce e meiga, do biografado.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Os brasileiros e a escolha errada dos ícones futuristas
SÓ FALTA DIZER QUE ESSE É O FUTURO DO BRASIL...
Os brasileiros cometem o equívoco de atribuir a certas pessoas ou fenômenos um pretenso futurismo, quando na verdade eles ao que existe de mais retrógrado na sociedade do Brasil, associados a valores antiquados ou contextos sociais, políticos e culturais bastante atrasados.
Três exemplos mostram o quanto o país que só acolhe ideias novas quando elas são filtradas por valores antigos e até obsoletos - mas que "ganham fôlego" travestidos em tais novidades - tende também a definir como "sinônimos de futurismo" pessoas, fenômenos ou instituições que deveriam ser considerados ultrapassados.
No "movimento espírita", é notório, por exemplo, a atribuição equivocada de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, sobretudo o primeiro deles, como pretensos exemplos de futurismo, baseado em mitos pseudo-científicos e messiânicos. Sem motivos consistentes, são tidos como "progressistas" e "revolucionários".
As pessoas não conseguem perceber que os dois figurões do "movimento espírita" são pessoas retrógradas, antiquadas e conservadoras, católicos neo-medievais, bajuladores da ciência mas apegados a valores religiosos que resistem no Brasil não por serem acima dos tempos, mas porque o conservadorismo social permite que permaneçam.
Observando a biografia, vemos que Chico Xavier personificava o caipira antiquado da República Velha, católico de valores ortodoxos que só não foi assim reconhecido porque tinha uma relativa paranormalidade. Mais tarde, ele se revelou moralista, conservador e retrógrado, adepto da Teologia do Sofrimento e defensor até da ditadura militar (hoje ele teria defendido o impeachment de Dilma Rousseff).
Divaldo Franco não é menos retrógrado. Vestido à maneira dos anos 1930, ele personifica o velho professor que só tivera sua razão de ser nos anos 1940, aristocrático, de fala verborrágica, pedante e de palavras rebuscadas e oratória prolixa, nem de longe poderia ser considerado um "espiritualista de vanguarda" e muito menos um "intelectual moderno".
MOBILIDADE URBANA DE REPÚBLICA VELHA
Fora desse âmbito, o arquiteto Jaime Lerner e o "funk carioca" também são vistos equivocadamente como símbolos de "futurismo", carregando, à sua maneira, mas com o mesmo tendenciosismo de Chico Xavier e Divaldo Franco, elementos ideológicos que reforçam a falsa associação.
Jaime Lerner foi um político paranaense que sempre foi ideologicamente conservador. Filiado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), foi nomeado prefeito de Curitiba pelos generais da ditadura militar, processo que ganhou o nome pejorativo de "prefeito biônico".
Ele está associado a um planejamento urbano aparentemente arrojado para a capital do Paraná. No entanto, é uma lógica semelhante a que o economista Roberto Campos fez pela Economia, dentro do contexto tecnocrático ligado à ditadura militar.
Usando como carro-chefe as "pistas exclusivas" e os ônibus articulados (BRT - Bus Rapid Transit), Lerner no entanto propõe medidas reacionárias: pintura padronizada nos ônibus, redução drástica de frotas em circulação, dupla função de motorista-cobrador, redução de percursos de linhas e lógica militar de cumprimento de horário de percursos.
Essas medidas foram impostas tardiamente no Rio de Janeiro, como "vitrine" para um modelo de cidade tido como "futurista", mas comprovadamente antiquado. O fato de diferentes empresas de ônibus serem obrigadas a ter uma mesma pintura e a rotina dos motoristas ser opressiva, com a pressão surreal de horários e o acúmulo da função de cobrador, apontam esse aspecto retrógrado.
Falaram até que era "tendência" ver diferentes empresas de ônibus usando a mesma pintura, como se a modernização e melhoria do sistema de ônibus dependesse disso e da exibição de logotipos de governos. Só que a verdadeira tendência é cada empresa de ônibus mostrar sua identidade visual, independente da área em que serve, porque isso expressa as modernas relações entre os passageiros e as operadoras de linhas de ônibus.
Afinal, a pintura padronizada só traz prejuízos e desvantagens. Por trás do fato de diferentes empresas de ônibus terem a mesma pintura, há mais burocracia, a corrupção político-empresarial é favorecida (afinal, as empresas são "todas iguais"), os passageiros se confundem na correria do dia a dia na hora de pegar um ônibus e nenhuma funcionalidade nem praticidade é observada na medida, que deveria ser banida em todo o Brasil.
Da mesma forma, a dupla função do motorista-cobrador, usada sob o pretexto de promover a bilhetagem eletrônica, é responsável por muitos acidentes de trânsito, por conta da sobrecarga que os motoristas têm, que já são obrigados a cumprir horário de trajetos em cidades marcadas por congestionamentos.
Assim, em ruas de menor movimento os ônibus dão disparada para lutar contra o tempo e, não raro, causam acidentes que resultaram numa média de 20 a 30 passageiros feridos, para não dizer os mortos que se tornam vítimas de vários desses acidentes.
A "mobilidade urbana" de Jaime Lerner é tão reacionária que o discurso de "menos ônibus nas ruas", sob a desculpa de "fluidez no trânsito", mais parece feita para atender ao lobby da indústria automobilística, sobretudo quando se sabe que a Grande Curitiba tem a sede brasileira da companhia francesa Renault.
"FUNK" FEZ O POVO CARIOCA REGREDIR AO SÉCULO XIX
Outro falso fenômeno de futurismo é o "funk carioca", surgido de uma armação de DJs ricos que, vendo DJs veteranos da black music morrerem, abandonaram as lições dos mestres e desenvolveram um ritmo rudimentar e precário, explicitamente medíocre e grotesco.
Surgido como um karaokê em que vocalistas, intitulados MCs, satirizavam cantigas infantis com letras maliciosas, o "funk" foi um dos fenômenos da decadência cultural brasileira, em que a cultura popular se sujeitava à mais canhestra bregalização, processo em que o povo pobre era visto de maneira sutilmente pejorativa pela "indústria cultural" relacionada.
Durante anos, o "funk" era um dos símbolos máximos da baixaria no entretenimento brasileiro. Até que os ricos DJs começaram a aliciar ativistas, intelectuais e celebridades para defender o gênero diante de uma campanha de persuasão com apelo claramente publicitário, mas disfarçado de ativismo social, modernismo cultural e rebelião comportamental.
A blindagem do poder midiático e dos meios acadêmicos e intelectuais forjou no "funk" uma pretensa superioridade cultural e artística que nunca existiu nem passou a existir. O ritmo é apenas um pop dançante mais rasteiro, feito por intenções exclusivamente comerciais, sem valor artístico nem cultural autêntico, quanto mais em relação ao engajamento político. Vide a demagógica iniciativa de um "baile funk" tentar animar as manifestações a favor de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro.
Por trás dessa persistente e sedutora imagem publicitária, o "funk" é uma ruindade sonora quando se toca seus discos e vê as apresentações de seus ídolos. É algo que nenhuma desculpa de "combate ao preconceito" consegue desmentir, até porque o preconceito está no lado do "funk", e não contra ele.
O "funk" é que tem preconceito com a sociedade, tratando o povo pobre de maneira tão estereotipada, aos níveis de uma paródia, que ele praticamente fez as classes populares no Rio de Janeiro regredirem ao século XIX, tamanho o nível de grotesco de seus sucessos e de seus intérpretes.
O "funk" apenas se beneficia por um malabarismo discursivo - alguém se lembrou do "movimento espírita"? - no qual valores retrógrados são invertidos como se fossem "avançados". O "funk" glamouriza a pobreza, promove valores machistas, estabelece um sutil racismo contra negros (tratados de maneira caricatural).
Além do mais, o "funk" tem rigidez estética (é sempre o mesmo som a cada temporada, sendo proibido criar melodias e inserir instrumentos sem a autorização do DJ, que só permite mudanças conforme as conveniências), mas tenta dar a falsa impressão de que é "musicalmente diversificado" e "altamente criativo". Pura conversa para boi dormir.
Uma prova disso é a forma como o "funk" trata fenômenos improvisados da pobreza, como morar em favelas e praticar prostituição. Tidos como medidas emergenciais e desagradáveis aos pobres, as favelas e os prostíbulos são trabalhados pela ideologia do "funk" como se fossem "locais libertários" aos quais os pobres estão destinados a viver o resto da vida. Uma visão puramente elitista mas que é descrita como se fosse um "ideal progressista".
CONCLUSÃO
A desinformação das pessoas e a crise de valores em que vivemos mostram que os brasileiros dificilmente conseguem enxergar o que é moderno ou antiquado. Convicções pessoais, ideais conservadores nunca assumidos e a compreensão errada da realidade influem no falso futurismo atribuído a determinadas pessoas ou fenômenos.
Dessa maneira, o Brasil não consegue se tornar um país moderno, porque sempre apela para o mesmo vício: apreciar o novo sob o filtro do velho, fazendo com que valores antiquados, que deveriam ser obsoletos, sejam reciclados e até perpetuados por tempo indeterminado, o que traz o risco do Brasil regredir seus modos de vida a níveis medievais.
Os brasileiros cometem o equívoco de atribuir a certas pessoas ou fenômenos um pretenso futurismo, quando na verdade eles ao que existe de mais retrógrado na sociedade do Brasil, associados a valores antiquados ou contextos sociais, políticos e culturais bastante atrasados.
Três exemplos mostram o quanto o país que só acolhe ideias novas quando elas são filtradas por valores antigos e até obsoletos - mas que "ganham fôlego" travestidos em tais novidades - tende também a definir como "sinônimos de futurismo" pessoas, fenômenos ou instituições que deveriam ser considerados ultrapassados.
No "movimento espírita", é notório, por exemplo, a atribuição equivocada de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, sobretudo o primeiro deles, como pretensos exemplos de futurismo, baseado em mitos pseudo-científicos e messiânicos. Sem motivos consistentes, são tidos como "progressistas" e "revolucionários".
As pessoas não conseguem perceber que os dois figurões do "movimento espírita" são pessoas retrógradas, antiquadas e conservadoras, católicos neo-medievais, bajuladores da ciência mas apegados a valores religiosos que resistem no Brasil não por serem acima dos tempos, mas porque o conservadorismo social permite que permaneçam.
Observando a biografia, vemos que Chico Xavier personificava o caipira antiquado da República Velha, católico de valores ortodoxos que só não foi assim reconhecido porque tinha uma relativa paranormalidade. Mais tarde, ele se revelou moralista, conservador e retrógrado, adepto da Teologia do Sofrimento e defensor até da ditadura militar (hoje ele teria defendido o impeachment de Dilma Rousseff).
Divaldo Franco não é menos retrógrado. Vestido à maneira dos anos 1930, ele personifica o velho professor que só tivera sua razão de ser nos anos 1940, aristocrático, de fala verborrágica, pedante e de palavras rebuscadas e oratória prolixa, nem de longe poderia ser considerado um "espiritualista de vanguarda" e muito menos um "intelectual moderno".
MOBILIDADE URBANA DE REPÚBLICA VELHA
Fora desse âmbito, o arquiteto Jaime Lerner e o "funk carioca" também são vistos equivocadamente como símbolos de "futurismo", carregando, à sua maneira, mas com o mesmo tendenciosismo de Chico Xavier e Divaldo Franco, elementos ideológicos que reforçam a falsa associação.
Jaime Lerner foi um político paranaense que sempre foi ideologicamente conservador. Filiado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), foi nomeado prefeito de Curitiba pelos generais da ditadura militar, processo que ganhou o nome pejorativo de "prefeito biônico".
Ele está associado a um planejamento urbano aparentemente arrojado para a capital do Paraná. No entanto, é uma lógica semelhante a que o economista Roberto Campos fez pela Economia, dentro do contexto tecnocrático ligado à ditadura militar.
Usando como carro-chefe as "pistas exclusivas" e os ônibus articulados (BRT - Bus Rapid Transit), Lerner no entanto propõe medidas reacionárias: pintura padronizada nos ônibus, redução drástica de frotas em circulação, dupla função de motorista-cobrador, redução de percursos de linhas e lógica militar de cumprimento de horário de percursos.
Essas medidas foram impostas tardiamente no Rio de Janeiro, como "vitrine" para um modelo de cidade tido como "futurista", mas comprovadamente antiquado. O fato de diferentes empresas de ônibus serem obrigadas a ter uma mesma pintura e a rotina dos motoristas ser opressiva, com a pressão surreal de horários e o acúmulo da função de cobrador, apontam esse aspecto retrógrado.
Falaram até que era "tendência" ver diferentes empresas de ônibus usando a mesma pintura, como se a modernização e melhoria do sistema de ônibus dependesse disso e da exibição de logotipos de governos. Só que a verdadeira tendência é cada empresa de ônibus mostrar sua identidade visual, independente da área em que serve, porque isso expressa as modernas relações entre os passageiros e as operadoras de linhas de ônibus.
Afinal, a pintura padronizada só traz prejuízos e desvantagens. Por trás do fato de diferentes empresas de ônibus terem a mesma pintura, há mais burocracia, a corrupção político-empresarial é favorecida (afinal, as empresas são "todas iguais"), os passageiros se confundem na correria do dia a dia na hora de pegar um ônibus e nenhuma funcionalidade nem praticidade é observada na medida, que deveria ser banida em todo o Brasil.
Da mesma forma, a dupla função do motorista-cobrador, usada sob o pretexto de promover a bilhetagem eletrônica, é responsável por muitos acidentes de trânsito, por conta da sobrecarga que os motoristas têm, que já são obrigados a cumprir horário de trajetos em cidades marcadas por congestionamentos.
Assim, em ruas de menor movimento os ônibus dão disparada para lutar contra o tempo e, não raro, causam acidentes que resultaram numa média de 20 a 30 passageiros feridos, para não dizer os mortos que se tornam vítimas de vários desses acidentes.
A "mobilidade urbana" de Jaime Lerner é tão reacionária que o discurso de "menos ônibus nas ruas", sob a desculpa de "fluidez no trânsito", mais parece feita para atender ao lobby da indústria automobilística, sobretudo quando se sabe que a Grande Curitiba tem a sede brasileira da companhia francesa Renault.
"FUNK" FEZ O POVO CARIOCA REGREDIR AO SÉCULO XIX
Outro falso fenômeno de futurismo é o "funk carioca", surgido de uma armação de DJs ricos que, vendo DJs veteranos da black music morrerem, abandonaram as lições dos mestres e desenvolveram um ritmo rudimentar e precário, explicitamente medíocre e grotesco.
Surgido como um karaokê em que vocalistas, intitulados MCs, satirizavam cantigas infantis com letras maliciosas, o "funk" foi um dos fenômenos da decadência cultural brasileira, em que a cultura popular se sujeitava à mais canhestra bregalização, processo em que o povo pobre era visto de maneira sutilmente pejorativa pela "indústria cultural" relacionada.
Durante anos, o "funk" era um dos símbolos máximos da baixaria no entretenimento brasileiro. Até que os ricos DJs começaram a aliciar ativistas, intelectuais e celebridades para defender o gênero diante de uma campanha de persuasão com apelo claramente publicitário, mas disfarçado de ativismo social, modernismo cultural e rebelião comportamental.
A blindagem do poder midiático e dos meios acadêmicos e intelectuais forjou no "funk" uma pretensa superioridade cultural e artística que nunca existiu nem passou a existir. O ritmo é apenas um pop dançante mais rasteiro, feito por intenções exclusivamente comerciais, sem valor artístico nem cultural autêntico, quanto mais em relação ao engajamento político. Vide a demagógica iniciativa de um "baile funk" tentar animar as manifestações a favor de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro.
Por trás dessa persistente e sedutora imagem publicitária, o "funk" é uma ruindade sonora quando se toca seus discos e vê as apresentações de seus ídolos. É algo que nenhuma desculpa de "combate ao preconceito" consegue desmentir, até porque o preconceito está no lado do "funk", e não contra ele.
O "funk" é que tem preconceito com a sociedade, tratando o povo pobre de maneira tão estereotipada, aos níveis de uma paródia, que ele praticamente fez as classes populares no Rio de Janeiro regredirem ao século XIX, tamanho o nível de grotesco de seus sucessos e de seus intérpretes.
O "funk" apenas se beneficia por um malabarismo discursivo - alguém se lembrou do "movimento espírita"? - no qual valores retrógrados são invertidos como se fossem "avançados". O "funk" glamouriza a pobreza, promove valores machistas, estabelece um sutil racismo contra negros (tratados de maneira caricatural).
Além do mais, o "funk" tem rigidez estética (é sempre o mesmo som a cada temporada, sendo proibido criar melodias e inserir instrumentos sem a autorização do DJ, que só permite mudanças conforme as conveniências), mas tenta dar a falsa impressão de que é "musicalmente diversificado" e "altamente criativo". Pura conversa para boi dormir.
Uma prova disso é a forma como o "funk" trata fenômenos improvisados da pobreza, como morar em favelas e praticar prostituição. Tidos como medidas emergenciais e desagradáveis aos pobres, as favelas e os prostíbulos são trabalhados pela ideologia do "funk" como se fossem "locais libertários" aos quais os pobres estão destinados a viver o resto da vida. Uma visão puramente elitista mas que é descrita como se fosse um "ideal progressista".
CONCLUSÃO
A desinformação das pessoas e a crise de valores em que vivemos mostram que os brasileiros dificilmente conseguem enxergar o que é moderno ou antiquado. Convicções pessoais, ideais conservadores nunca assumidos e a compreensão errada da realidade influem no falso futurismo atribuído a determinadas pessoas ou fenômenos.
Dessa maneira, o Brasil não consegue se tornar um país moderno, porque sempre apela para o mesmo vício: apreciar o novo sob o filtro do velho, fazendo com que valores antiquados, que deveriam ser obsoletos, sejam reciclados e até perpetuados por tempo indeterminado, o que traz o risco do Brasil regredir seus modos de vida a níveis medievais.
domingo, 24 de abril de 2016
O constrangimento familiar nas supostas mensagens espirituais
O "espiritismo" brasileiro é marcado por irregularidades. E elas são ou foram cometidas até por gente "gabaritada", o que faz dessa doutrina um movimento religioso pouco confiável. A mediunidade de faz-de-conta, que mais parece uma propaganda religiosa, chega mesmo a causar constrangimentos até mesmo na histeria de quem acredita nelas.
Imagine uma mãe de um jovem que morreu cedo por algum motivo e que recebe, num "centro espírita" considerado "conceituado", uma mensagem atribuída ao filho, que faz ela acreditar na sua veracidade, e depois se revela que essa suposta psicografia foi uma farsa, forjada pelo "médium" tido como de grande credibilidade, mas de práticas que, na verdade, são muito duvidosas.
Quanto constrangimento deve haver, quantas ilusões derrubadas.
Quanta vergonha e quanto remorso devem haver entre as famílias, prolongando suas dores e tragédias diante de um sentimento confuso de esperança e desespero, em que um simples recebimento de supostas mensagens espirituais é algo tão incerto e pouco confiável!
Mediunidade, no Brasil, tornou-se uma prática desmoralizada. Virou uma piada na qual qualquer um põe a mão na testa, fecha os olhos e rabisca qualquer coisa num papel. Como prática, virou uma mensagem qualquer nota em que o suposto espírito diz que sofreu, mas está bem, cita alguns familiares e depois faz propaganda religiosa.
A coisa está tão ruim que não adianta o simples conhecimento teórico da teoria lançada por Allan Kardec. Há quem leia O Livro dos Médiuns, na tradução de Herculano Pires, entenda bem a teoria, é capaz de expô-la de maneira correta e exemplar e, mesmo assim, não conseguir praticar a mediunidade.
As pessoas são ludibriadas pelas figuras sensacionalistas e espetacularizadas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, ídolos religiosos que inspiram nos seus seguidores um apego doentio, sobretudo quando eles se passam por pretensos filósofos (mesmo postumamente, no caso de Chico Xavier). A partir deles, a mediunidade acaba sendo muito mal ensinada e mal compreendida.
Tomadas pela emoção, as pessoas se deixam levar por muita confusão, e perdem a vigilância diante de mensagens duvidosas que, apenas por algumas semelhanças banais e, às vezes, algumas mais sutis, são tidas como verídicas,
quando nelas se ocultam diferenças que contradizem a natureza pessoal do falecido.
No caso de Ryan Brito, a justificativa dada pela mãe, a atriz Márcia Brito (a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo, versão anos 90), era de que o "médium", Fernando Ben, investia em "caridade". Virou lugar comum justificar o "espiritismo" irregular pelo bom-mocismo, pode-se até mentir visando o "pão dos carentes".
Tudo isso nem de longe segue as precauções dadas por Allan Kardec. Nenhum conselho dado por ele, para verificar, com muita cautela, a autenticidade ou não das mensagens ditas "espirituais". Em vez disso, a primeira mensagem que aparece e que traz "palavras de amor" é tida como autêntica, mesmo se apresentar irregularidades em relação aos aspectos pessoais do falecido.
Isso causa uma grande frustração, porque, no Brasil, o que se pratica é uma "mediunidade" de faz-de-conta, com o "médium" fingindo que recebe um morto e escrevendo uma mensagem qualquer, contanto que apareça sempre as tais "palavras de amor" e transmitam "mensagens positivas" e não raro de propaganda religiosa, que servem para dissimular a fraude e não despertar desconfianças.
Num dado momento, alguém aponta a irregularidade na mensagem "espiritual", comparando, sobretudo, com outras mensagens "psicográficas" transmitidas, refletindo não os diferentes estilos de personalidades dos finados, mas tão somente o estilo pessoal do suposto médium. Daí a frustração que não raro causa desentendimentos entre as famílias.
A péssima escola de Chico Xavier criou essa bagunça toda, reduzindo a mediunidade a uma atividade sem a menor confiabilidade. E, para piorar, da forma como ela é feita estimula o sensacionalismo, a ostentação das tragédias familiares e os desentendimentos entre crédulos e desconfiados numa mesma família. Com isso, a religião que diz unir, o "espiritismo", provoca, de propósito, a desunião.
Daí a ilusão que todo o verniz de "bondade" traz ao "espiritismo". Uma doutrina malfeita não vira boa por causa da "bondade". O bom-mocismo é o recurso dos calhordas para obter credibilidade. E os que não conseguem seguir com rigor, na prática - é inútil dizer e caprichar no discurso - , as lições de Kardec, usam dessa alegação de "bondade" para tentar convencer as pessoas e desviar o foco de uma finalidade nunca alcançada.
sábado, 23 de abril de 2016
Aceitar a deturpação do Espiritismo por causa da "bondade" é perigoso
Há uma reação constante na Internet de pessoas que até admitem a deturpação do Espiritismo feita pela doutrina brasileira, mas fazem blindagem em favor de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco por causa da "bondade" e da "caridade".
A ideia que tais pessoas têm é admitir que os dois lançaram, sim, ideias que contradizem o pensamento de Allan Kardec, mas ambos são respeitáveis e conceituados por causa da "caridade" que está oficialmente associada a eles.
Essa visão, difundida como um mantra nas mídias sociais, por pessoas desesperadas que não têm condições de serem bondosos por conta própria e que precisam de dois estereótipos de "bons velhinhos" para personificar a bondade e a caridade que não entendem, é dotada de muitos equívocos.
Primeiro, porque a "caridade" de Chico Xavier e Divaldo Franco é aquém do que o discurso alardeia em favor deles. A "caridade" de Chico Xavier é nebulosa e, em certos casos, perniciosa. A de Divaldo Franco é muito inócua e sem eficiência definitiva.
Chico Xavier havia doado o faturamento dos direitos autorais e das vendas dos livros para a Federação "Espírita" Brasileira. Isso não é caridade. Isso significa que os dirigentes da FEB ficam com o dinheiro, a exemplo dos sacerdotes do Vaticano no caso de Madre Teresa de Calcutá, que deixou de investir na sua "filantropia" para encher os cofres dos chefões da Igreja Católica.
Além disso, casos de doações de dinheiro são muito vagos e imprecisos. E, no caso da divulgação de "psicografias" de anônimos falecidos, houve crueldade na exposição sensacionalista das tragédias familiares como na produção de mensagens apócrifas tão "confiáveis" quanto trotes telefônicos dados por sequestradores ou estelionatários.
Já Divaldo Franco só ajudou uma parcela ínfima de menos de 0,1% da população de Salvador, o que, em níveis nacionais, é muito mais vergonhoso para o título de "maior filantropo do Brasil" dado a ele, diante de uma dimensão de 200,4 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE em 2013.
Seu projeto educacional também é, qualitativamente, frouxo, por ser um programa até correto de alfabetização e curso profissionalizante, mas que nada faz para estimular o senso crítico da pessoa, mas para inserir nela valores igrejistas, muitos deles conservadores, já que é notória a influência católica de Divaldo, que acredita, por exemplo, que Deus tem a forma de um homem.
Mesmo também agindo de forma paliativa, o Bolsa-Família do Partido dos Trabalhadores ajudou muito mais gente que a "caridade" dos dois "médiuns". E, com toda a má reputação que possui, o Movimento dos Sem-Terra tem projetos educacionais que dão um banho em transformação nas mentes humanas sobre o projeto "revolucionário" da Mansão do Caminho.
Afinal, o MST ensina as pessoas a lerem, escreverem e trabalharem, mas ensina também a ter consciência crítica do meio em que vive, de forma que as pessoas possam também agir contra os abusos dos poderosos, sobretudo os grandes proprietários de terras, em boa parte improdutivas ou levianamente produtivas. O sujeito aprende a ler, escrever e trabalhar, mas não se transforma num "brinquedo de Deus".
DETURPAÇÃO NÃO É TRAVESSURA
O que as pessoas não conseguem entender é que a deturpação da Doutrina Espírita não é uma travessura de moleques querendo brincar com o pensamento de Allan Kardec porque é "divertido". Esse processo já revela um rol de mentiras perniciosas e, como se trata de uma forma de enganar e distorcer as coisas, ela já em si desmerece qualquer pretexto de "bondade" alegado.
É até estranho que, num país em que a presidenta Dilma Rousseff sofre campanha para cassação de seu mandato sem que alguma acusação precisa seja feita contra ela e seu antecessor Luís Inácio Lula da Silva, deturpadores severos como Chico Xavier e Divaldo Franco ainda tenham esperança de embarcar numa hipotética recuperação das bases kardecianas, mesmo que só por enfeite.
O que eles fizeram foi de extrema gravidade. Afinal, o que Chico e Divaldo fizeram não foi inserir os "bons ensinamentos cristãos" na doutrina kardeciana, mas corrompê-la com ideias medievais, misticismo barato, fantasias esotéricas e pretensas profecias.
Eles corromperam o Espiritismo, desmoralizaram a mediunidade, que reduziu-se a uma fórmula fácil do faz-de-conta - a pessoa finge que recebe mensagens do além e, para dissimular a fraude, insere mensagens religiosas e "fraternas" - e ainda por cima deturparam o conceito de médium ao se tornarem estrelas, virando o centro das atenções e bancando dublês de "filósofos" para uma sociedade de incautos.
Não é pouca coisa. Analisando tecnicamente e de forma isenta os trabalhos "psicográficos" de Chico Xavier, observa-se falhas quanto aos aspectos pessoais do suposto autor espiritual e as semelhanças quanto ao estilo pessoal do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
O que isso pode indicar de falsidade ideológica é algo sem tamanho. Só mesmo atribuindo a ingenuidade e precariedade da Justiça da época (1944) para ninguém culpar Chico Xavier e a FEB de apropriação indébita da obra de Humberto de Campos.
Está tudo claro. Leiam os livros originais de Humberto de Campos - alguns deles estão no portal Domínio Público - e comparem com os livros "espirituais". A diferença textual é grotesca, a disparidade de estilos é aberrante.
A escrita original de Humberto é fluente, concisa, culta mas acessível, um neoparnasiano com os pés no Modernismo, de narrativa constantemente descontraída. Já a escrita do "espírito Humberto de Campos" é pesada, melancólica, pretensamente erudita mas com sérios erros de linguagem (como cacófatos do tipo "chama maria" e "que cada") e narrativa carregadamente igrejista.
ESQUECENDO OS AVISOS DE ERASTO
Não são molecagens aceitáveis. O que Chico Xavier fez de deturpação, pastiche e fraude é muito, muito grave. E Divaldo Franco foi na carona, inclusive fazendo plágios de plágios, de início copiando Chico Xavier quando este já copiava de outrem. E, ideologicamente, Chico Xavier era adepto da Teologia do Sofrimento católica, de forma bastante explícita. Divaldo ia de carona, embora mais sutil.
Como é que chegam as pessoas para dizer que "pelo menos eles promoviam a caridade"? São pessoas incapazes de serem bondosas por conta própria ou de procurarem outros exemplos de bondade e caridade e dependem de dois senhores retrógrados para personificar, ainda que de maneira discutível, conceitos consagrados de "amor e bondade".
Daí o grande perigo de aceitar Chico Xavier e Divaldo Franco como "exemplos de caridade". Esse "atenuante" a dois deturpadores da Doutrina Espírita demonstra que os espíritas brasileiros, autênticos ou bastardos, se esqueceram dos avisos do espírito de Erasto, dados na época de Kardec.
Erasto disse que é possível que os inimigos internos do Espiritismo apresentem, em suas mensagens, algumas coisas boas, mas é aí que se deve tomar maior cautela, porque elas podem servir de apoio para a transmissão de ideias e conceitos levianos. Pode se considerar as atividades no mesmo sentido das mensagens citadas por Erasto.
Isso significa que Erasto recomendou não ter a menor complacência quando os deturpadores da Doutrina Espírita mostram algum aspecto de bom-mocismo. Ele alertou que os deturpadores podem até mesmo forjar humildade, fingir misericórdia absoluta ou mesmo ficarem em silêncio diante de contestações severas. Podem até mesmo reagir chorando, quando desmascarados.
Por trás da complacência, o que se observa são atividades e ideias confusas que prevalecem. Divaldo Franco personifica o escrevinhador de textos rebuscados advertido por Erasto. E Chico Xavier, o propagador das ideias levianas em território brasileiro, enquanto Divaldo espalha a mistificação pelo mundo.
O fato deles terem feito um péssimo serviço para o Espiritismo é suficiente para que não se tenha complacência com eles nem se relativize seus erros. Eles já fizeram coisa grave, retrocedendo o pensamento inovador de Kardec a um igrejismo barato, de conceitos medievais.
Se as pessoas estão complacentes com Chico Xavier e Divaldo Franco, então essas pessoas também estão equivocadas, por subordinarem a ideia de "bondade" a duas figuras religiosas retrógradas. E acabam indo por um caminho muito perigoso.
Afinal mesmo os espíritas com alguma inclinação para as bases doutrinárias, ao consentir com a "bondade" de Chico e Divaldo, será tentado a ouvi-los e apreciar suas obras, afinal eles são considerados "puros" e "bondosos". Aí é que se quebra o ovo da serpente.
Isso porque, num primeiro momento, elogiamos a "caridade" de Chico e Divaldo. Felizes com seu "bom exemplo", seremos tentados a ouvi-los e ler suas obras. Daqui a pouco estaremos legitimando até as mistificações de Emmanuel e, depois, vamos sonhando em construir parques de diversões em Nosso Lar. Esse é o grande perigo dos que querem recuperar as bases kardecianas mantendo Chico e Divaldo nos seus pedestais.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
A "bondade" como armadilha do "espiritismo" para garantir a deturpação
Usar a "bondade" como finalidade, princípio e diferencial do "espiritismo" brasileiro pode parecer lindo, mas é um grande desvio de foco. É o bom-mocismo usado para camuflar a desonestidade doutrinária, usando a "caridade" como pretexto para continuarem valendo as deturpações e mistificações.
Há um ditado popular que, embora percorressse o terreno pantanoso das referências religiosas, diz com interessante metáfora: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". Da mesma forma, quando o "espiritismo" fala demais em "bondade" e "caridade", é bom desconfiar.
Os brasileiros não seguem as recomendações do espírito Erasto, que no tempo de Allan Kardec advertiu para os inimigos internos da Doutrina Espírita. Em certo momento, Erasto fala que os espíritos levianos (entendemos eles tanto encarnados como desencarnados) podem às vezes mostrar coisas boas, mas é justamente aí que se deve tomar muita cautela.
Segundo Erasto, é a partir dessas "coisas boas" que há o aperitivo para a deturpação, as mistificações e a inserção de ideias contrárias à lógica e ao bom senso. O que significa que, dentro do "espiritismo" de moldes igrejeiros, a "bondade" é apenas um gancho para forçar o apoio à deturpação e à mistificação.
A ideia é, diante dos questionamentos feitos contra a deturpação da Doutrina Espírita, seus partidários espalharem por aí que "é verdade que Allan Kardec foi mal entendido e muito mal estudado", para depois dizer "mas temos que reconhecer que os 'espíritas' sempre agem por bondade e amor ao próximo".
Se uma instituição hospitalar presta um mau serviço, deixa pessoas prostradas e amontoadas no corredor, causa demora no atendimento e ainda assim atende mal, se esse hospital faz propaganda de bom-mocismo, dizendo que "não tem fins curativos" e prima pela "bondade" e pelo "amor", você acreditaria? Mas o "espiritismo" faz isso e as pessoas põem a mão no fogo pelos deturpadores.
Pronto. A estratégia do bom-mocismo está lançada. As pessoas vão dormir tranquilas porque, "pelo menos", os maus espíritas "são bondosos" e escrevem suas obras deturpadoras visando o "pão dos pobres". As pessoas não sabem as armadilhas em que estão caindo ao exaltar a "bondade" de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
No primeiro momento, acredita-se que Chico Xavier e Divaldo Franco são "maiores símbolos de amor e bondade", com aquela concepção igrejista de "bondade" que muitos acreditam e não sabem que se trata de uma concepção domesticada, uma "bondade" que não mexe nas estruturas de poder e privilégio que promovem injustiças.
Felizes, os que acreditam nessa "bondade" que nada transforma de profundo - apenas "transforma" no sentido de criar cidadãos-carneirinhos para o "sistema" - vão dormir tranquilos. Dizem admitir que Chico Xavier e Divaldo Franco são deturpadores, mas "pelo menos fazem caridade". Parece lindo, mas é o ovo da serpente.
Depois, as pessoas, acreditando na "bondade" e na "confiabilidade" deles, vão ser tentadas a ouvi-los. "Quem sabe eles trazem coisas boas, lindas lições de vida", dizem. E aí, pegam os vídeos ou livros de Chico Xavier e os de Divaldo Franco e vão ver as palestras e entrevistas deste.
Pronto. Acreditando que eles são "bondosos", acredita-se que eles são "confiáveis". Acreditando desta forma, surge a vontade de rever suas ideias. Com isso, é tentado a acreditar em ideias deturpadas, porque elas evocam a "esperança", a "superação" e a "fraternidade".
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Isso é o que Erasto estava tentando evitar, com seus avisos dados num tom desagradável para muitos. A "bondade" é um gancho para legitimar a deturpação e a "caridade" apenas um aparato para reforçar esse apelo.
E aí as pessoas não conseguem perceber o ditado da "esmola que é demais". Quando se fala demais em "bondade", como se fosse um mantra, é bom desconfiar, porque a verdadeira bondade não precisa de tanta ostentação nem de muito apelo discursivo.
O "espiritismo" apela demais pelo discurso e pelo aparato de "bondade", e isso não é bom, escondendo uma pretensão de dominação por trás de tão encantadora retórica. Além disso, a bondade autêntica nunca precisa do espetáculo festivo das palavras e dos atos de fachada.
quinta-feira, 21 de abril de 2016
O "Padrão Globo de Caridade"
Existem sérios problemas quando se atribui a Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco o privilégio da "melhor filantropia". Esse discurso de "bondade" que inocenta os dois até da culpa da deturpação da Doutrina Espírita, através de uma argumentação confusa de que eles "honram" o Espiritismo porque "são bondosos", esconde aspectos graves que merecem serem levados em conta.
Em primeiro lugar, prevalece a desculpa de que o "espiritismo" brasileiro é a "religião da bondade". Pode cometer sérias contradições com o pensamento de Allan Kardec, com erros doutrinários claramente observados nos livros de Chico Xavier e Divaldo Franco, mas a "caridade" e a "bondade" são usadas como escudos contra qualquer acusação ou investigação.
Isso é muito grave porque bondade não tem religião. Atribuir como diferencial do "espiritismo" a bondade restringe essa qualidade a um movimento religioso que, com suas irregularidades e seus equívocos diversos, atrai a simpatia das pessoas por causa do aparato ideológico que traz.
Afinal, o "espiritismo" aparentemente, não cobra dinheiro por seus serviços, não se aparenta uma religião "fechada" e até seu igrejismo sugere um pretenso ecumenismo, que faz as pessoas dormirem tranquilas com esse "catolicismo à paisana", aparentemente "flexível".
Poucos percebem, mas tudo isso vem de um marketing religioso trazido pelo poder das Organizações Globo. É ela que realimentou o mito de Chico Xavier, baseado no que Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá, através de estereótipos de filantropia que se tornam um discurso perfeitamente construído, tal qual um conto de fadas.
É tudo bem construído. Uma narrativa simplória, tranquila, sem conflitos. Pessoas doentes e miseráveis atendidas por uma pessoa religiosa, acolhidas em uma casa, recebendo alimentação e tratamentos aparentemente modestos e eficazes. Crianças tomando sopa, brincando ou aprendendo a ler e escrever. O ídolo religioso atendendo os sofredores, depois de ser acolhido pela multidão.
Esse discurso deslumbra muita gente, fascina muitas pessoas, que acreditam que é esse tipo de caridade que traz transformações profundas na humanidade. Mas não traz. É uma caridade paliativa, que até ajuda um pouco, mas está longe de garantir os festejos e as admirações entusiasmadas que recebe das pessoas.
O PODER DA GLOBO
O que é assustador em nosso país é que o poder da Rede Globo, o principal veículo das Organizações Globo, exerce influência até em parte de seus detratores. A capacidade de uma corporação midiática em inserir hábitos, gostos, pontos de vista e atitudes até em quem diz odiar a rede televisiva é estarrecedor.
Temos a influência de Luciano Huck na juventude brasileira, que atinge uma boa parcela de pessoas que consideram o apresentador um "idiota" (usamos aqui um sinônimo de um conhecido palavrão). A sua gíria "balada" é um exemplo de como um apresentador pode criar um jargão para uso "universal".
Não nos esqueçamos também do poder influenciador de Galvão Bueno, que conduz o comportamento dos fanáticos por futebol, inclusive de quem o detesta, ou Fausto Silva, que dita o gosto musical do grande público, atingindo quem o acha "ridículo". Muitos opositores de William Bonner ainda pensam o Brasil e o mundo como se fizessem parte da equipe editorial do Jornal Nacional.
E é isso que faz com que, em relação aos ídolos religiosos, as pessoas não percebessem que Chico Xavier havia sido adotado pela Rede Globo, já nos anos 1970, dando por encerradas as hostilidades entre Roberto Marinho e o "movimento espírita".
O "Padrão Globo de Caridade", discurso que é aplicado nas campanhas do Criança Esperança, é que dita essa concepção de "bondade" e "caridade" que, numa sociedade complexa como a brasileira, é antiquado e não causa transformações profundas na sociedade, apenas "melhorando" a vida das pessoas sem que se possa interferir num sistema de classes marcado por injustiças e desigualdades.
Além disso, há o dado bastante tendencioso de que a caridade só é "boa" quando feita sob a sombra de alguma religiosidade, mesmo quando a instituição se apresenta como laica. A religiosidade está na forma de ensino e divulgação de "bons valores". Quando ela é feita de maneira realmente laica, ela é vista como "perversa", como se fosse uma "máquina de manipulação ideológica".
A "MELHOR CARIDADE" É A QUE "NÃO MANIPULA", MANIPULANDO
Isso é coisa de maluco. A educação que manipula religiosamente as pessoas é "saudável" porque "não manipula". A educação que não manipula religiosamente é "nociva" porque é uma "fábrica de ideologia". Isso é uma grande doideira, mas é assim a visão oficial.
Evidentemente, o projeto educacional da Mansão do Caminho vai introduzir conceitos igrejistas, meio "sem querer querendo". Divaldo Franco é, a exemplo de Chico Xavier, um católico que se intrometeu na Doutrina Espírita e a corrompeu inserindo conceitos e valores que não corresponderam ao que foi codificado por Allan Kardec.
Além disso, o programa educacional pode até ser eficaz em alguns aspectos, mas é inócuo. De fato, ensina a escrever, ler, aprender um ofício, fazer as contas. Mas a coisa para por aí, porque, sendo uma instituição religiosa, a Mansão do Caminho não foge do objetivo de criar "cidadãos-carneiros", por seu ideário seguir o "espiritismo" catolicizado que conhecemos.
Existe uma manipulação sutil, tão sutil que ela vem sob o rótulo de "valores positivos", o que tranquiliza a "boa sociedade". Já a educação laica, como se vê, por exemplo, no Método Paulo Freire, embora os efeitos sejam mil vezes mais transformadores que os da Mansão do Caminho, são vistos como "nocivos", porque supostamente impelem os beneficiados ao "conflito".
Daí a visão maluca que, no entanto, esconde um conservadorismo religioso. É mais "transformadora" uma "caridade" que não transforma profundamente, que beneficia sem mexer no "vespeiro" dos privilégios dos poderosos, do que uma caridade que realmente transforma, mas cria tensões quando ensina as pessoas humildes a ver o mundo de maneira crítica e questionadora.
As pessoas acham isso natural, mas a verdade é que temos uma fórmula matemática. Para uma ideologia manipuladora como a da Rede Globo, a verdadeira manipulação "inexiste", enquanto a anti-manipulação é que é "manipuladora".
Dessa forma, a "melhor caridade" é aquela que não traz transformações profundas, apenas cria cidadãos com um mínimo de capacidade de sobrevivência na selva moderna, sem todavia interferir nos privilégios de classes e sob o pretexto de "não causar conflitos". Já a caridade verdadeira, que ameaça os privilégios dos "confortáveis", ela é vista como "nociva" por causa das tensões a serem provocadas.
Afinal, para melhorar a vida das pessoas, os privilegiados têm que ceder. Mas eles não cedem. Isso é que traz tensão. Já no âmbito religioso, gente como Divaldo Franco demonstra consentimento com a sociedade de classes, quando vai discursar para poderosos e ricos sem cobrar deles alguma providência, e mais para bajular os detentores da fortuna e do poder.
Não nos devemos esquecer que Chico Xavier e Divaldo Franco sempre foram figuras ultraconservadoras, personificando tipos antiquados de beatos religiosos, associados a valores morais que, por mais que pareçam agradáveis a muitos, são em muitos aspectos ultrapassados e socialmente limitadores.
Por isso concluímos que aqueles que consideram Chico Xavier e Divaldo Franco "símbolos máximos de caridade", pensando que estão sendo progressistas com isso, na verdade estão sendo rigorosamente conservadores. E, sem saber, eles acabam acreditando no Padrão Globo de Caridade, uma caridade que não confronta, que conforta os humildes sem mexer nos privilégios abusivos dos ricos e poderosos.
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Brasil desgovernado
DOIS DOS MAIORES BENEFICIADOS PELO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF.
A votação da Câmara dos Deputados pela abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pode ter sido, para muitos, um momento histórico da vitória da democracia sobre a "roubalheira" do Governo Federal.
No entanto, diante de investigações incompletas e precipitadas, em que as denúncias contra Dilma e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva mais parecem fofocas de tão vagas e imprecisas, o que se viu foi a consagração da histeria anti-petista que tomou conta do país.
Tudo virou uma questão de ódio contra o PT. Não que fosse proibido fazer oposição ao Partido dos Trabalhadores e fazer duras críticas a Lula e Dilma, mas o que se viu foi um processo doentio de intolerância e rancor, em que o raciocínio objetivo era a última coisa a se cogitar fazer por parte desses anti-petistas doentios.
E isso é preocupante. Por coisas muito mais graves, Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier são aceitos com o mesmo fanatismo, mas por meio de uma outra emoção. Deturpadores da pior espécie da Doutrina Espírita, desonestos quando se autoproclamavam "fiéis" a Allan Kardec enquanto cometiam traições aberrantes ao seu pensamento, eles são protegidos pelos estereótipos.
Sim. É o mundo das aparências que tanto dispara rancor a Lula e Dilma e apela pela complacência mais absoluta a Divaldo e Chico Xavier. Estereótipos são feitos para criar um pretenso maniqueísmo, por conta da aparência física e de outros aparatos ideológicos envolvidos.
Lula tornou-se famoso pela sua figura aparentemente rude de um homem ao mesmo tempo roliço e robusto, com um rosto de feições supostamente duronas, um discurso enérgico e uma origem social precária. Dilma tem a aparência da senhora austera, lembrando a governanta de uma casa, com jeito de durona e voz grave.
Muito diferente das aparências de Chico Xavier e Divaldo Franco, que, por mais que personificassem tipos ainda mais antiquados do que os do "operário bronco" de Lula e da "governanta durona" de Dilma, ainda contam com o apoio, um tanto ingênuo e submisso, de uma boa parcela de brasileiros.
É o estereótipo de Chico Xavier como um caipira inocente, como era até certo tempo, e que foi somado ao de um velhinho frágil e doente. E Divaldo Franco, maquiado à maneira dos aristocratas dos anos 1930, personificando o "bom professor" nos moldes dos anos 1940, verborrágico e grandiloquente, que ainda causam muitas saudades nos brasileiros mais conservadores.
CONSERVADORISMO
Em ambos os lados, há um conservadorismo convicto que, no lado dos ídolos religiosos, está escondido sutilmente em mentes aparentemente progressistas, como a de pessoas que não imaginam que Chico Xavier havia defendido a ditadura militar no auge desta e o "bondoso médium" teria provavelmente defendido a saída de Dilma da presidência da República, por "falta de amor ao próximo".
A sociedade brasileira ainda é altamente conservadora. Mesmo quando, no âmbito político e econômico, ou mesmo em alguns valores morais, alega postura progressista, nos âmbitos cultural e religioso mostram um sutil conservadorismo, em muitos casos, disfarçado pela postura progressista em outras áreas.
Com isso, o Brasil não consegue sustentar governos progressistas e o de Dilma Rousseff tornou-se frágil pelo apego a projetos políticos e econômicos conservadores, sobretudo com a condescendência a uma mídia reacionária que, fortalecida com as verbas federais, desenvolveu munição pesada para desmoralizar a presidenta, que acabou sustentando os que depois decidiram derrubá-la.
Diante de uma campanha midiática atroz, o Congresso Nacional foi estimulado a votar pelo impedimento político, sendo 367 votos a favor da abertura do processo de impeachment e 137 contra, além de outros nove, entre abstenções e ausências.
Tudo isso movido pela mesma "paixão cega" que criminaliza Lula e Dilma mas permite que Divaldo Franco e Chico Xavier façam suas fraudes, invistam em falsidade ideológica, protegidos pela aparência de "divulgadores da mensagem cristã" e pretensos filantropos.
São apenas desvarios emocionais, devaneios moralistas que se julgam acima de qualquer objetividade, e que fazem o julgamento de valor mais pelo que as aparências inspiram de "simpático" ou de "antipático" na sociedade.
As pessoas foram dormir tranquilas e felizes, sem saber que o Brasil ficou desgovernado, com a aprovação do impeachment. É como um viajante que dorme feliz quando o ônibus, percorrendo uma rodovia escura, roda em altíssima velocidade e mal consegue enxergar o caminhão que lhe está na mão oposta, na curva.
O Brasil está desgovernado, porque os dois maiores beneficiados por esse golpe travestido de "processo jurídico-democrático", o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, possuem contra si acusações bem mais consistentes e precisas do que os rumores que aterrorizaram a presidenta.
Além disso, Temer e Cunha poderão implantar medidas de caráter econômico e social retrógradas, sobretudo Cunha, que presidirá a República quando Temer estiver viajando e, por isso, aproveitará esse poder para impor medidas que, simplesmente, desfazem as conquistas sociais obtidas com tanta dificuldade e luta no decorrer dos tempos.
Para os brasileiros explicitamente conservadores - como os reacionários que comemoraram a vitória de sua causa nas votações do último 17 de abril - e para outros sutilmente conservadores, "progressistas" que, entre outras coisas, acolhem um retrógrado Chico Xavier que defendia a ditadura e pregava a Teologia do Sofrimento, o Brasil parece poder resolver a crise conforme suas respectivas convicções pessoais.
Mas não. A verdade é que o Brasil ainda vai aprofundar a crise de 2013, e, perto de 2019, isso já derruba a "profecia" de Chico Xavier, de maneira definitiva. O Brasil, desgovernado e entregue a políticos corruptos (até Renan Calheiros é acusado pelo crime de corrupção), não resolverá a crise econômica de forma esperada e eficaz e ainda vai agravá-las, como agravará outros tipos de crise.
A ideia agora é esperar que contradições e dilemas novos venham, porque a sociedade mais reacionária lutou para ter Dilma Rousseff fora do poder e se empenhará para que o impedimento seja definitivo daqui a alguns meses, depois das atuações do Senado e do Supremo Tribunal Federal.
A prosperidade não veio com a vitória do impeachment na votação da Câmara dos Deputados. Pelo contrário, veio uma "solução" que era dominante mas nem por isso coerente, que só foi conveniente para uma parcela da sociedade que sente rancor pelo PT.
Mas novos problemas, novos dilemas e novos impasses virão, porque o confuso país que é o Brasil continua apegado a convicções pessoais e zonas de conforto, tentando proteger de privilégios econômicos de uns poucos à reputação de ídolos religiosos consagrados. Portanto, mais problemas virão, e é bom estarmos preparados.
A votação da Câmara dos Deputados pela abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pode ter sido, para muitos, um momento histórico da vitória da democracia sobre a "roubalheira" do Governo Federal.
No entanto, diante de investigações incompletas e precipitadas, em que as denúncias contra Dilma e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva mais parecem fofocas de tão vagas e imprecisas, o que se viu foi a consagração da histeria anti-petista que tomou conta do país.
Tudo virou uma questão de ódio contra o PT. Não que fosse proibido fazer oposição ao Partido dos Trabalhadores e fazer duras críticas a Lula e Dilma, mas o que se viu foi um processo doentio de intolerância e rancor, em que o raciocínio objetivo era a última coisa a se cogitar fazer por parte desses anti-petistas doentios.
E isso é preocupante. Por coisas muito mais graves, Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier são aceitos com o mesmo fanatismo, mas por meio de uma outra emoção. Deturpadores da pior espécie da Doutrina Espírita, desonestos quando se autoproclamavam "fiéis" a Allan Kardec enquanto cometiam traições aberrantes ao seu pensamento, eles são protegidos pelos estereótipos.
Sim. É o mundo das aparências que tanto dispara rancor a Lula e Dilma e apela pela complacência mais absoluta a Divaldo e Chico Xavier. Estereótipos são feitos para criar um pretenso maniqueísmo, por conta da aparência física e de outros aparatos ideológicos envolvidos.
Lula tornou-se famoso pela sua figura aparentemente rude de um homem ao mesmo tempo roliço e robusto, com um rosto de feições supostamente duronas, um discurso enérgico e uma origem social precária. Dilma tem a aparência da senhora austera, lembrando a governanta de uma casa, com jeito de durona e voz grave.
Muito diferente das aparências de Chico Xavier e Divaldo Franco, que, por mais que personificassem tipos ainda mais antiquados do que os do "operário bronco" de Lula e da "governanta durona" de Dilma, ainda contam com o apoio, um tanto ingênuo e submisso, de uma boa parcela de brasileiros.
É o estereótipo de Chico Xavier como um caipira inocente, como era até certo tempo, e que foi somado ao de um velhinho frágil e doente. E Divaldo Franco, maquiado à maneira dos aristocratas dos anos 1930, personificando o "bom professor" nos moldes dos anos 1940, verborrágico e grandiloquente, que ainda causam muitas saudades nos brasileiros mais conservadores.
CONSERVADORISMO
Em ambos os lados, há um conservadorismo convicto que, no lado dos ídolos religiosos, está escondido sutilmente em mentes aparentemente progressistas, como a de pessoas que não imaginam que Chico Xavier havia defendido a ditadura militar no auge desta e o "bondoso médium" teria provavelmente defendido a saída de Dilma da presidência da República, por "falta de amor ao próximo".
A sociedade brasileira ainda é altamente conservadora. Mesmo quando, no âmbito político e econômico, ou mesmo em alguns valores morais, alega postura progressista, nos âmbitos cultural e religioso mostram um sutil conservadorismo, em muitos casos, disfarçado pela postura progressista em outras áreas.
Com isso, o Brasil não consegue sustentar governos progressistas e o de Dilma Rousseff tornou-se frágil pelo apego a projetos políticos e econômicos conservadores, sobretudo com a condescendência a uma mídia reacionária que, fortalecida com as verbas federais, desenvolveu munição pesada para desmoralizar a presidenta, que acabou sustentando os que depois decidiram derrubá-la.
Diante de uma campanha midiática atroz, o Congresso Nacional foi estimulado a votar pelo impedimento político, sendo 367 votos a favor da abertura do processo de impeachment e 137 contra, além de outros nove, entre abstenções e ausências.
Tudo isso movido pela mesma "paixão cega" que criminaliza Lula e Dilma mas permite que Divaldo Franco e Chico Xavier façam suas fraudes, invistam em falsidade ideológica, protegidos pela aparência de "divulgadores da mensagem cristã" e pretensos filantropos.
São apenas desvarios emocionais, devaneios moralistas que se julgam acima de qualquer objetividade, e que fazem o julgamento de valor mais pelo que as aparências inspiram de "simpático" ou de "antipático" na sociedade.
As pessoas foram dormir tranquilas e felizes, sem saber que o Brasil ficou desgovernado, com a aprovação do impeachment. É como um viajante que dorme feliz quando o ônibus, percorrendo uma rodovia escura, roda em altíssima velocidade e mal consegue enxergar o caminhão que lhe está na mão oposta, na curva.
O Brasil está desgovernado, porque os dois maiores beneficiados por esse golpe travestido de "processo jurídico-democrático", o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, possuem contra si acusações bem mais consistentes e precisas do que os rumores que aterrorizaram a presidenta.
Além disso, Temer e Cunha poderão implantar medidas de caráter econômico e social retrógradas, sobretudo Cunha, que presidirá a República quando Temer estiver viajando e, por isso, aproveitará esse poder para impor medidas que, simplesmente, desfazem as conquistas sociais obtidas com tanta dificuldade e luta no decorrer dos tempos.
Para os brasileiros explicitamente conservadores - como os reacionários que comemoraram a vitória de sua causa nas votações do último 17 de abril - e para outros sutilmente conservadores, "progressistas" que, entre outras coisas, acolhem um retrógrado Chico Xavier que defendia a ditadura e pregava a Teologia do Sofrimento, o Brasil parece poder resolver a crise conforme suas respectivas convicções pessoais.
Mas não. A verdade é que o Brasil ainda vai aprofundar a crise de 2013, e, perto de 2019, isso já derruba a "profecia" de Chico Xavier, de maneira definitiva. O Brasil, desgovernado e entregue a políticos corruptos (até Renan Calheiros é acusado pelo crime de corrupção), não resolverá a crise econômica de forma esperada e eficaz e ainda vai agravá-las, como agravará outros tipos de crise.
A ideia agora é esperar que contradições e dilemas novos venham, porque a sociedade mais reacionária lutou para ter Dilma Rousseff fora do poder e se empenhará para que o impedimento seja definitivo daqui a alguns meses, depois das atuações do Senado e do Supremo Tribunal Federal.
A prosperidade não veio com a vitória do impeachment na votação da Câmara dos Deputados. Pelo contrário, veio uma "solução" que era dominante mas nem por isso coerente, que só foi conveniente para uma parcela da sociedade que sente rancor pelo PT.
Mas novos problemas, novos dilemas e novos impasses virão, porque o confuso país que é o Brasil continua apegado a convicções pessoais e zonas de conforto, tentando proteger de privilégios econômicos de uns poucos à reputação de ídolos religiosos consagrados. Portanto, mais problemas virão, e é bom estarmos preparados.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Quando Divaldo Franco pegou carona no sucesso de Paulo Coelho
O "espiritismo" é tendencioso, quando quer. Vide as supostas psicografias de gente famosa falecida, de valor bastante duvidoso e apelo igrejista muitas vezes impróprio, dando a impressão de que o falecido virou "garoto-propaganda" da fé religiosa.
De vez em quando, surgem livros evocando personalidades famosas, de Getúlio Vargas a Cazuza. Em outros, há "coincidências" de pensamento em relação a obras literárias comuns, o que dá um forte indício de plágio.
O exemplo comparativo que apresentamos, com base em postagem do blogue Obras Psicografadas, de Vítor Moura, se relaciona a uma obra do "sábio" Divaldo Franco, intitulada A Busca da Perfeição, de 2002, um trecho que os colaboradores Cristina e Toninho Bacarat apontaram como indício de plágio do livro Histórias para Pais, Filhos e Netos, do famoso escritor Paulo Coelho, antigo parceiro do roqueiro Raul Seixas.
Embora, em primeiro momento, não se possa identificar o trecho como plágio, já que tanto no livro de Divaldo quanto no de Paulo os relatos se baseiam em estórias de domínio público, a finalidade plagiadora pode ser sutilmente observada pelo fato de que o livro do "médium" foi lançado um ano depois do livro do escritor e letrista, o que indica uma apropriação oportunista.
Isso quer dizer que a obra, atribuída a um suposto espírito denominado apenas "Eros", pode ter feito um plágio, sim, pelo contexto da fonte da qual se acusa a cópia, e a sutileza pode ter vindo da experiência plagiadora de Divaldo Franco, cujos primeiros livros plagiavam outro plagiador, Chico Xavier.
Daí que os plágios, que já seguiam o método do próprio Chico de reescrever o trecho trocando parágrafos, inserindo sinônimos e redistribuindo frases e palavras, tinham que ser mais sutis, usando do aparato de um conto de domínio público para não deixar vazar vestígios mais explícitos de plágio.
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Paulo Coelho, “Histórias para pais, filhos e netos” (2001)
Uma viúva de uma aldeia pobre em Bengala não tinha dinheiro para pagar o ônibus para seu filho, de modo que o garoto, quando foi matriculado na escola, iria ter que atravessar sozinho uma floresta. Para tranqüilizá-lo, ela lhe disse:
- Não tenha medo da floresta, meu filho. Peça ao seu Deus Krishna para acompanhá-lo. Ele escutará sua oração.
O garoto fez o que a mãe dizia; Krishna apareceu e passou a levá-lo todos os dias à escola.
Quando chegou o dia do aniversário do professor, o menino pediu à mãe algum dinheiro para levar um presente.
- Não temos dinheiro, filho. Peça ao seu irmão Krishna para lhe arranjar um presente para o professor.
No dia seguinte, o menino contou seu problema a Krishna. Este lhe deu uma jarra cheia de leite.
Animado, o menino entregou a jarra ao professor. Mas, como os outros presentes eram mais bonitos, o mestre não deu a menor atenção.
- Leve esta jarra para a cozinha – disse o professor para um assistente. O assistente fez o que lhe fora ordenado. Ao tentar esvaziar a jarra; porém, notou que ela tornava a se encher sozinha. Imediatamente foi comunicar o fato ao professor que, aturdido, perguntou ao menino:
- Onde arranjou esta jarra e qual é o truque que a mantém cheia?
- Quem me deu foi Krishna, o Deus da floresta. O mestre, os alunos, o assistente, todos riram.
- Não há deuses na floresta, isto é superstição! – disse o mestre. – Se ele existe, vamos lá fora para vê-lo!
O grupo inteiro saiu da sala. O menino começou a chamar por Krishna, mas este não aparecia. Desesperado, ele fez uma última tentativa: -Irmão Krishna, meu mestre quer vê-lo. Por favor, apareça!
Nesse momento, escutou-se uma voz que vinha da floresta. Ela ecoou pela cidade e foi ouvida por todos:
- Como é que ele deseja me ver, meu filho? Ele nem sequer acredita que eu existo!
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Divaldo Pereira Franco, “A Busca da Perfeição”, Espírito Eros (2002)
Conta-se que, Ramakrishna, tanto quanto o seu discípulo Vivekananda, entre as histórias comovedoras de que gostavam, sempre narravam uma em que ressaltam a simplicidade e a pureza de coração.
Tratava-se de um menino pobre, filho de humilde viúva, que residia fora da aldeia e que, para chegar à Escola, necessitava atravessar um bosque espesso.
Aquele era um lugar temerário, em razão da presença de animais ferozes e de salteadores impenitentes.
As crianças, economicamente bem aquinhoadas que o atravessavam, sempre se faziam acompanhar por servos que as protegiam.
Sentindo-se desamparado, e receando os perigos da floresta, oportunamente a criança pediu à mãe a proteção de um adulto, ao que ela respondeu, lacrimosa:
- É-me impossível consegui-lo, porquanto não dispomos sequer do necessário para o pão, quanto mais um serviço de tal natureza.
Reflexionando um pouco, e muito comovida com o pedido do filho, concluiu:
- Pede ao teu Irmão Krishna, para que ele te ajude e aguarde, à entrada do bosque, quando vás e quando voltes da Escola, e te conduza pelo caminho difícil, pois que ele é o Senhor da Vida.
A criança confiante suplicou ao incomparável Benfeitor, que no dia imediato lhe apareceu e, a partir de então, aguardava-o à borda do bosque pela manhã, na ida à Escola e, à tarde, na volta ao lar.
Dialogavam pelo caminho, sorriam e amavam a vida,
Quando o seu mestre aniversariou, todas as crianças foram convocadas a levar-lhe um presente.
O órfão solicitou à genitora uma dádiva, que lamentou não o poder atender.
Enquanto porém, ele caminhava pela floresta com Krishna, esse perguntou-lhe pela razão da tristeza que lhe ensombrava a face.
Esclarecido, o Anjo bom ofereceu-lhe uma jarra de leite, para que a brindasse ao professor.
Ao chegar à Escola, o menino acercou-se do mestre, e tentou ofertar-lhe o mimo. Mas esse, que era preconceituoso e aos pobres tratava com desprezo, comentava os valiosos presentes recebidos dos alunos ricos, enquanto que não dava importância ao órfão, que insistia para entregar sua dádiva.
Irritado com o pequeno, solicitou ao ajudante que derramasse o leite em outro vasilhame e lhe devolvesse a jarra, mandando embora o importuno.
Ao fazê-lo, porém, o cooperador percebeu, perplexo, que, à medida que transferia o líquido precioso de uma para outra vasilha, essa novamente se repletava.
Indagada, a criança explicou que fora presente de Krishna, ante a surpresa geral e a incredulidade de todos.
Na sua ingenuidade, o menino falou que diariamente o Sábio o conduzia pela floresta enquanto conversava com ele.
Solicitado a que levasse todos ao sítio do encontro, seguiram-no e, chegando à borda do bosque, ele pôs-se a chamar pelo Avatar, que não apareceu.
Sofrendo o apodo e a zombaria do mestre e dos colegas, que o abandonaram, e se foram, às gargalhadas, deixando-o confuso, pôs-se a chorar.
Nesse momento, ele ouviu a voz do Mestre:
- Não lhes apareci, porque eles não possuem um coração simples nem puro como tu o tens, para identificar a Verdade e defrontá-la.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Descobridor de Chico Xavier não é considerado "santo"
O endeusamento de Francisco Cândido Xavier tem seus aspectos insólitos que mostram o quanto o deslumbramento religioso tem suas omissões. Estranha-se, por exemplo, que seu descobridor, o ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, não tem a mesma adoração.
Descobridor de Chico Xavier, Wantuil, como era conhecido, presidiu a FEB durante quase trinta anos. Foi o "mentor" terreno de Chico Xavier, e trabalhou para promover a fama e o prestígio do "médium" mineiro.
Se Chico Xavier tornou-se o ídolo adorado pelos brasileiros, numa pretensa unanimidade que constrangeria o dramaturgo Nelson Rodrigues, uma boa parcela de responsabilidade se deve a Wantuil, da mesma forma que Roberto Marinho, das Organizações Globo e Malcolm Muggeridge, jornalista da BBC.
Todos eles seriam também "santos", se Chico Xavier o é. Seriam igualmente "espíritos puros", Wantuil, Marinho e Muggeridge, e deveriam ser adorados porque eles contribuíram para a consagração definitiva do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Wantuil, porque lançou e conduziu o mito de Chico Xavier, antes um mero funcionário público que era católico e paranormal, e depois foi promovido a um suposto porta-voz de personalidades do além-túmulo e de anônimos cidadãos brasileiros.
Marinho, porque as Organizações Globo, com seu poder de persuasão que atinge, dependendo do caso, até parte dos detratores dessa corporação midiática, difundiu e ampliou o mito de Chico Xavier através de uma propaganda religiosa dissimulada de documentário jornalístico.
Muggeridge, de forma indireta, porque o jornalista britânico, católico fervoroso, criou os ingredientes da mitificação filantrópica e messiânica que desenvolveu para Madre Teresa de Calcutá e que foram usados no Brasil para relançar o mito de Chico Xavier.
Se Chico Xavier é considerado um "espírito puro", seria esperado que, pelo menos, Wantuil, que o descobriu, recebesse a mesma adoração. Afinal, ele foi presidente da FEB, cargo que outro dirigente "santificado", o médico Adolfo Bezerra de Menezes, também exerceu.
E vemos em Bezerra de Menezes a personificação ideológica do "Papai Noel brasileiro", em que o mito se sobrepôs ao homem, em que fantasias ligadas ao médico "espírita" impedem a compreensão exata do político, já que o trabalho de parlamentar do dr. Bezerra só é vagamente mencionado, ele, que foi contemporâneo de Joaquim Nabuco, de fartos dados biográficos.
E por que Wantuil não pôde ser considerado "santo", nesse contexto de tanto deslumbramento religioso? Ele, em quase três décadas de atividade, lançou livros, deu depoimentos e lançou frases, se considerava um "intelectual espírita", poderia muito bem ser um ídolo religioso tal qual seu pupilo mais famoso.
E se Chico Xavier e Bezerra de Menezes ganharam narrativas fantasiosas, em detrimento de biografias mais realistas que faltam ser lançadas ou relançadas, Wantuil poderia muito bem ter ganho narrativas fantasiosas, deslumbradas, com estórias fascinantes, relatos de "amor" e "caridade".
Talvez Wantuil não tivesse o carisma necessário para tanto. Era o "chefão" da FEB, nem sempre querido por seus pares. Parecia mais um técnico que agia nos bastidores do que alguém que pudesse ser um mito religioso. E tinha um poder concentrado que discriminava as atuações das federações regionais.
No entanto, acredita-se que, no vale-tudo "espírita", capaz de transformar falecidos autores ateus em supostos pregadores religiosos, o mito de Wantuil poderia muito bem ser retrabalhado para que ele seja também considerado um "ícone da fraternidade", o "grande líder espírita", o "apóstolo brasileiro de Jesus", o "legislador do amor" ou coisa parecida.
O fato de Wantuil, com toda a responsabilidade de ser o "mentor" e "protetor" terreno de Chico Xavier e o idealizador de seu mito, não ter recebido a mesma adoração mostra o quanto o "espiritismo" apresenta também suas omissões, não fossem as contradições infinitas de seu conteúdo doutrinário. O deslumbramento religioso também é "seletivo".