sábado, 5 de dezembro de 2015

"Espiritismo" não conhece as angústias humanas


O "espiritismo" brasileiro não sabe o que é sofrimento humano. Com pretensa "bondade", afirma que as neuroses humanas são consequentes de seu desamor, de seu ódio, de suas raivas, da incapacidade de resolver os próprios problemas.

Com desonestidade doutrinária, já que o "espiritismo" primeiro abandonou Allan Kardec, rompendo definitivamente com a essência de seu pensamento, para depois jurar pretensa lealdade ao pedagogo francês, a doutrina brasileira não consegue enxergar a individualidade humana, e seu moralismo comete injustiças severas que tornam o "espiritismo" uma doutrina de más energias.

É muito fácil, para um palestrante "espírita", com livros de auto-ajuda que com linguagem descontraída e retórica envolvente, prometem a "felicidade" ao seu ávido e desesperado leitor, dizer que o sofredor apenas encara as consequências de suas raivas, seus ódios, suas revoltas.

É muito confortável para palestrantes que vivem sua vida confortável, vendem livros com muita facilidade, devido à retórica digestível de "promessas lindas de vida feliz", dizer que a pessoa angustiada sofre os efeitos exclusivos de suas próprias decisões, sem que se observem que circunstâncias motivaram essa pessoa a sofrer tais infortúnios.

Alguns ideólogos "espíritas", mais atrevidos, dissimulando seu completo desconhecimento sobre mediunidade, vida espiritual e reencarnação, ideias que admitem mas não têm competência nem interesse em analisar com profundidade, acusam o sofredor de "culpado" pelo pretexto de que as angústias que sofre refletem os erros cometidos em encarnações anteriores de preferência no Império Romano.

Eles não percebem o sofrimento de alguém que queria ser um servidor público de uma autarquia ligada ao patrimônio cultural e, no entanto, tem toda a oportunidade de trabalhar numa emissora de rádiojornalismo corrupta, investida com dinheiro público de seu proprietário pouco confiável.

Da mesma maneira, eles também não percebem a angústia de alguém que quer namorar alguém com o máximo de afinidades pessoais possível, e só atrai alguém qualquer nota, de perfil fútil e com sérias desavenças pessoais, só porque "está na pista" e cismou com o indivíduo angustiado.

Houve quem, no chamado "auxílio fraterno" em um "centro espirita" de Salvador, chamasse o entrevistado de "homossexual" só porque este disse que só conseguia atrair mulheres sem a menor afinidade com ele. Uma amostra da falta de sensibilidade que toma conta não só de "determinados espíritas", mas de todo o "espiritismo" em seu conjunto de obra.

Afinal, é a desonestidade doutrinária que deixa os "espíritas" apegados em sucessivas e graves contradições, e que, neste caso, mostra o quanto eles adotam uma postura dissimulada quanto à Teologia do Sofrimento de Francisco Cândido Xavier.

Enquanto palestras nos "centros espíritas" de todo o país tentam fazer crer que, para sua doutrina, "ninguém nasceu para sofrer", coisa festivamente alardeada por palestrantes animados e "cheios de luz", a idolatria a Chico Xavier mais uma vez deixa os "espíritas" num impasse.

Afinal, se os palestrantes ficam dizendo, felizes, que "ninguém veio para sofrer", eles no entanto atribuem "superioridade" e "perfeição" a um "médium" que, nos seus desvarios de pretenso pensador, diz que devemos "sofrer amando, sem queixumes, esperando em paz (ou passividade?) pelas graças divinas".

Grande contradição. Os palestrantes reprovam a "predestinação do sofrimento", mas têm como "mestre" e "ideal de perfeição" alguém como Chico Xavier, que acha ótima esta mesma predestinação, por acreditar que é sofrendo demais que se garantirá o prêmio das "bênçãos futuras".

Então, adotemos o seguinte raciocínio. Se considerarmos como "legítimas" as posições dos "espíritas" brasileiros, teremos que admitir que, enquanto os "mais imperfeitos" acreditam que "ninguém precisa viver sofrendo", o homem que atribuem como "sinônimo de perfeição" recomenda que "sofrêssemos o pior que pudermos" para recebermos as "graças divinas" na "vida futura".

Se, dentro dessa hipótese, tivéssemos que escolher quem está com a razão, teremos que apelar para quem é considerado "superior" entre uns e outros. Neste caso, teríamos que levar em conta a tese de Chico Xavier, de que nós "viemos para sofrer, sim".

Com tal contradição entre os palestrantes espíritas e seu adorado "sábio", mais uma vez o "espiritismo" erra diante dessa falha de não compreender a complexidade das angústias humanas, e da comodidade insensível de culpar sempre aqueles que sofrem, sem observar as circunstâncias que promovem injustiças severas e além das capacidades individuais de suportá-las.

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