OS CRÍTICOS DA DETURPAÇÃO "ESPÍRITA" COSTUMAM DEIXAR PASSAR FRAUDES COMO A FALSA PSICOGRAFIA ATRIBUÍDA A HUMBERTO DE CAMPOS.
Há uma espécie de mainstream (corrente principal) dos críticos da deturpação feita pelo "movimento espírita" que adota posturas bastante hesitantes a muitos problemas, mais graves e complexos, e isso contribui para o "espiritismo" brasileiro continuar na mesma pasmaceira de sempre.
Esses questionadores são corretos e consistentes quando apontam erros doutrinários em livros de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, numa comparação com os livros de Allan Kardec, e estabelecem pontos interessantes de análise e discussão de tais erros.
No entanto, eles não vão muito adiante e alguns chegam a dizer que a suposta mediunidade de Chico Xavier e Divaldo Franco são "confiáveis", que eles podem ser aproveitados pela Doutrina Espírita como "ícones de bondade" e que "não há como" questionar trabalhos atribuídos a espíritos do além.
Dessa maneira, eles deixam passar aberrações como a suposta obra "espiritual" atribuída a Humberto de Campos, uma fraude que a Justiça não teve a coragem de reconhecer e que está explícita na disparidade que o "espírito Humberto de Campos" escreveu nos livros e o que o verdadeiro autor maranhense escreveu em vida.
O Humberto de Campos que conviveu com os brasileiros escrevia com prosa fluente, culta mas acessível, constantemente descontraída, prazerosa de ler, e abordava temas laicos. O suposto espírito tinha outro estilo: prosa "muito pesada", forçadamente culta e cheia de vícios de linguagem, narrativa melancólica, difícil de ser lida e só tratava de temas religiosos.
O Humberto de Campos de carne e osso chegava a tratar de temas religiosos com os olhos de autor laico. Além do mais, ele era ateu. O "espírito Humberto de Campos" fazia o inverso, tratava os temas laicos, seja a viagem a Marte, seja uma "entrevista" com o espírito de Marilyn Monroe, sob o prisma religioso, abertamente igrejista.
Não há como ver legitimidade nisso, mas mesmo os contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" deixam isso passar e acham que Humberto de Campos iria mesmo voltar para escrever as bobagens igrejistas que tendenciosamente levaram o seu nome.
A "BONDADE" COMO ESCUDO
Mas a maior hesitação em torno dos contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" é a complacência que eles têm em relação à imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares, quase um medo de questionar essa "qualidade admirável" dos dois ídolos religiosos.
"Temos que admitir que Chico e Divaldo são ligados à missão de muito amor e caridade". "Acho válido o 'Você e a Paz' porque é sempre lindo falar de paz e isso Divaldo tem de brilhante". "Pelo menos Chico Xavier ajudou muita gente, consolou muitos infelizes". Estas frases, de profundo deslumbramento, ignoram várias armadilhas e equívocos.
Pois até no âmbito da "bondade" os dois deixam dúvidas sérias. Divaldo Franco é considerado "um dos maiores filantropos do mundo" por nada. Cálculos foram feitos levando em conta os anos de existência da Mansão do Caminho, a população atual de Salvador e a média anual de atendidos, levando em conta o número total de 160.000 beneficiados oficialmente divulgado, e concluímos que a obra de Divaldo não merece sequer metade dessa festa toda.
Os cálculos deram uma porcentagem de 0,08% em relação à população de Salvador. Um índice inexpressivo, que não vale a reputação que se atribui a Divaldo Franco. Além disso, em termos mundiais, é sinônimo de nada. Como é que se faz um "maior filantropo do mundo" com ZERO POR CENTO de ajuda, em termos mundiais?
E a "caridade" de Chico Xavier? Se ele parecia "consolar as famílias que perderam entes queridos", ele no entanto cometeu duas crueldades: uma é a superexposição das famílias que poderiam chorar seus mortos na privacidade, prolongando muitas vezes os efeitos da tragédia, impedindo que as pessoas pudessem tocar a vida sossegadas diante de tanta exploração sensacionalista.
A outra é que as mensagens "mediúnicas" se revelaram uma fraude. Pouco importa se acadêmicos tentem enrolar dizendo que as mensagens eram "verídicas" porque começavam com "Querida mamãe" ou citavam o nome da vovó, em monografias corretas na forma mas irregulares em conteúdo. A fraude se observa pelo próprio conteúdo das cartas.
Elas apresentam o mesmo apelo igrejista de Chico Xavier. O mesmo estilo de mensagem, o mesmo apelo de "fraternidade cristã". Além disso, denúncias de "leitura fria", em que colaboradores do "médium" colhiam informações sutis em entrevistas ou até em conversas informais (como no final de doutrinárias) que seriam trabalhadas em supostas mensagens espirituais, se revelam verídicas.
Isso é fácil porque se analisa o conteúdo, a linguagem, a forma como são escritas as palavras. Se vemos fraude na suposta psicografia atribuída a Humberto de Campos ou a Jair Presente, citando dois exemplos, um de livros e outro de cartas, não é porque ficamos com raiva porque Chico Xavier era "bonzinho", mas porque analisamos conteúdo de texto, linguagem e situações associadas.
Vemos o nosso saudoso Humberto de Campos de deliciosa prosa escrever de uma forma e o suposto espírito do escritor escrever de outra completamente diferente e não podemos aceitar isso, mesmo que as questões do contato dos espíritos sejam mal resolvidas e Chico Xavier é considerado "bondoso".
Quando temos condições de questionar, derrubamos uma questão, como alguém que pode enxergar uma barreira sob o nevoeiro e evitá-la ou derrubá-la com algum trator. Praticamente está fechado o caso de fraude sob o nome de Humberto de Campos, só falta a Justiça dos homens declarar oficialmente que os livros de Chico Xavier que levam o nome do saudoso autor são FALSOS.
Isso não é arrogância. O questionamento e a análise pode ir distante pelo caminho natural da lógica. Não é calúnia, presunção, inveja, perseguição ou coisa parecida. É apenas análise, estudo, averiguação. E isso muitos contestadores da deturpação "espírita" não conseguem ter, hesitantes que estão em relação a certos problemas.
Eles se esquecem que, mesmo quando ainda é um mistério o contato com espíritos, podemos ter condições de identificar fraudes e armadilhas. Não vamos ficar complacentes e fingir que Humberto "mudou seu estilo" quando foi para o além, e achar que o "bondoso" Chico Xavier nunca iria enganar com livros de "mensagens positivas" sob o nome do autor maranhense.
Devemos ser firmes neste caso e perceber que os estilos do Humberto real e do suposto espírito são diferentes. O fato de escrever mensagens "edificantes" não é garantia contra a fraude, e o próprio espírito de Erasto, nos tempos de Kardec, sempre nos alertava para tomar cuidado justamente com as mensagens que transmitissem "coisas boas", por elas esconderem mistificações e outros equívocos.
A análise comparativa dos livros que Humberto deixou em vida e as "obras espirituais" que usaram seu nome é suficiente para identificar as fraudes. Apenas uma leitura. É por isso que Chico Xavier preferiu não usar o nome de Machado de Assis mas o de Humberto, porque este, embora popular, era bem menos badalado e conhecido que o falecido autor carioca. Usar o nome de Machado, portanto, seria escancarar demais e expôr com mais facilidade às identificações de fraude.
Não analisar problemas delicados da deturpação "espírita" e nos acanharmos diante da imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares só faz os contestadores da deturpação menos corajosos e menos vigilantes. E acabam permitindo que os deturpadores continuem fortes, porque eles são poupados de questões bem mais severas.
É por isso que o "movimento espírita" consegue reagir, prometendo "ler melhor Allan Kardec" e bajulando figuras autênticas como José Herculano Pires e Carlos Imbassahy, em muitos casos tratados sob a mesma medida de "admiração" que Emmanuel e André Luiz.
Os deturpadores tentam se fazer de "espíritas autênticos" porque, num dado caminho, os contestadores, hesitantes, se afrouxam. O problema da deturpação é bem mais complexo do que simplesmente "entender errado" a obra de Allan Kardec.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Por que o "espiritismo" despreza tanto a Ciência?
O "espiritismo" valoriza a Ciência? Não. Sua aparente apreciação aos assuntos científicos e à atividade de busca do Conhecimento é apenas tendenciosa e pedante, e não são os desfiles de fatos e personalidades científicas mais manjados que resolverá os problemas que o "espiritismo" comete em relação às ideias científicas.
O fato aberrante que é o desprezo a personalidades científicas sérias, como Franz Anton Mesmer - cuja obra foi crucial para o professor Rivail, depois conhecido como Allan Kardec, estudar a temática espírita - , Percival Lowell e Wolgang Bargmann, só porque não são tão conhecidas quanto Galileu Galilei, Isaac Newton e Charles Darwin, faz os "espíritas" inventarem falsas façanhas científicas.
É digno de uma gafe o que o presidente da Rádio Rio de Janeiro, o "espírita" Gerson Simões Monteiro, fez ao atribuir a Francisco Cândido Xavier um falso pioneirismo na suposta previsão de haver vida em Marte, atribuído a cerca de 80 anos.
Antes que os "espíritas" julguem "triste" e "lamentável" essa constatação, "ferindo" um radialista que "apenas promove o trabalho do bem", é bom deixar claro que a ideia que ele lançou sobre Chico Xavier é uma gafe por razões puramente lógicas, e não por raivinhas e condenações.
Bem antes de Chico Xavier nascer, o assunto da possibilidade de haver vida em Marte era fartamente discutido, no século XIX, por muitos cientistas. Até o amigo de Allan Kardec, Camille Flamarion, era um dos estudiosos.
Destaca-se o trabalho de Percival Lowell, astrônomo que fundou um observatório no Arizona, em analisar todos os elementos que, no Brasil, foram atribuídos tão tolamente a Chico Xavier: construção de canais fluviais artificiais, civilizações adiantadas, seres humanos bastante inteligentes.
Chico Xavier nasceu dois anos depois de Lowell lançar o último livro de sua trilogia de Marte. Os livros da trilogia foram Mars (1895), Mars and its Canals (1906) e Mars as the Abode of Life (1908), todos sem tradução em português, infelizmente.
Como é que ficam os "espíritas" diante de revelação tão verídica? Que moral eles têm para sustentar um suposto pioneirismo de Chico Xavier, diante de uma realidade que os envermelha de vergonha? Triste ver que o Brasil que brilhantemente foi pioneiro, na aviação, como Alberto Santos Dumont, ter que sucumbir a esse "mico".
Daí que os estadunidenses, que erram ao atribuir o pioneirismo da aviação para os irmãos Wilbur e Orville Wright, deram o troco quando o Brasil "pisou na bola" e inventou que Chico Xavier "descobriu vida em Marte". Pois neste caso os EUA quase ganharam a partida, pois em parte Percival Lowell é que fica com os louros, por sistematizar o trabalho do cientista italiano Giovanni Schiaparelli iniciou sobre a vida em Marte.
O que dirão os "espíritas", diante disso? Dirão que a visão foi "mal interpretada". Talvez se contradizessem quando falaram que Chico Xavier "não descobriu vida em Marte" mas a revelou "com brilhantismo, ainda que tardiamente", sem saber direito dizer se Chico foi ou não pioneiro ou porque deu uma abordagem "fraternal" da suposta descoberta.
O ridículo pioneirismo do suposto espírito de André Luiz em relação à glândula pineal pode não ser uma gafe aberrante como no caso da vida em Marte, mas também chama a atenção pelos equívocos de um trabalho acadêmico e da reação patética de um grupo de "espíritas" que "comemorou" o suposto "pioneirismo científico".
Sabe-se aqui, mas não custa repetir, que o livro Missionários da Luz, de 1945, é tido pelos "espíritas" como "pioneiro" nas pesquisas de glândula pineal, o que é totalmente ridículo. A razão, adotada pelos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora comandados por Alexander Moreira-Almeida, foi que a bibliografia da época (anos 1940) sobre o assunto era "muito escassa".
O grande problema é que a equipe chegou a essa conclusão através de fontes de terceiros, sem adotar o rigoroso método de pesquisa nas próprias fontes da década. Eles se serviram de fontes secundárias, publicadas a partir de 1977, o que não é correto para acadêmicos que se comprometem em buscar embasamento científico para suas teses.
O caso patético foi por conta de um grupo de "espíritas", entre eles Marlene Nobre, já falecida, que comemoraram o "reconhecimento científico" de Chico Xavier como se fosse um "milagre", com um deslumbramento e uma euforia típicos de fanáticos religiosos. Extremamente constrangedor.
Esses são apenas dois casos, que deveriam ser amplamente divulgados. Afinal, no caso da glândula pineal, um assunto também discutido fartamente antes de Chico Xavier nascer, tinha uma bibliografia, nos anos 1940, significativa, se não na aparente quantidade, mas na qualidade, e um destacado autor do período foi o injustiçado cientista alemão Wolfgang Bargmann.
O "espiritismo", através desses dois exemplos, cometeu o ridículo de desprezar a Ciência quando ela foge dos clichês mais manjados. Os "espíritas" só apreciam assuntos e personagens manjados da História da Ciência, fazem abordagens superficiais e pedantes e não se aprofundam em estudos, sobretudo em artigos feitos às pressas e com pesquisas feitas de forma ligeira e sem conhecimento de causa.
Falar em Sol, em astros, em fenômenos biológicos e psicológicos é fácil, da maneira com que os "espíritas" tratam esses assuntos. Mas é tudo sem profundidade, e de maneira que apenas dê a impressão de uma compreensão no assunto que, para os leigos, soa aprofundada, mas na verdade é cientificamente superficial e sem embasamento teórico confiável.
Essa abordagem "espírita" só tem como objetivo dar o aparato "científico" de uma doutrina igrejista, que é o "espiritismo" brasileiro que se distanciou do pensamento de Allan Kardec e faz tudo errado ao confundir mistificação com conhecimento.
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
O preocupante coitadismo dos "espíritas"
Jesus de Nazaré advertiu sobre os falsos profetas e os falsos cristos que se proclamarão "crucificados" quando duramente criticados. Erasto, mais tarde, em mensagens divulgadas aos espíritas franceses, alertava sobre os inimigos internos da Doutrina Espírita e suas manobras traiçoeiras.
Poucos deram ouvidos. E aí veio o "movimento espírita" brasileiro que é difícil de ser desmascarado e difícil de ser atacado, não por se tratar de uma doutrina da transparência e da honestidade, mas por ser uma doutrina de lobos famintos que capricham no seu disfarce de bondosos cordeiros.
O "movimento espírita" cresceu como bola de neve e, de escândalo em escândalo, sobreviveu sem que investigações sérias pudessem confrontá-lo. Seus integrantes cometem traições terríveis ao pensamento e à coerência de Allan Kardec e ficam impunes diante de tantas e tantas irregularidades em níveis aberrantes.
A desonestidade doutrinária do "movimento espírita" é algo tão assustador que é usada uma das técnicas mais habilidosas, sutis e eficientemente traiçoeiras de persuasão, dominação e intimidação: o verniz da "bondade" e da "humildade".
Quando criticados, os líderes "espíritas", os mesmos que descumprem com gosto os ensinamentos de Kardec, se passam por "fiéis seguidores" do pensador francês e reagem com choro e tristeza, se passando por humildes e resignados derrotados. Tentam vencer pela lábia, se passando por vítimas, investindo no seu coitadismo.
O mito de Francisco Cândido Xavier se agigantou dessa forma. Chico Xavier era um católico ortodoxo que se tornou paranormal, e, promovido a um ídolo religioso às custas de muito sensacionalismo e tantas confusões, é a personificação desse preocupante coitadismo.
Diante de críticas recebidas, Chico Xavier e, nos últimos anos, seus discípulos, seguidores e simpatizantes, sempre reagiu de maneira contraditória, afinal a contradição era o princípio do anti-médium mineiro, o que prova que coerência e bom senso nunca foram o forte dele.
Daí que vemos essa falácia de que "é na derrota que vencemos" ou "quando mais ficamos fracos, mais fortes nos tornamos", o que é ridículo, sobretudo em relação a Chico Xavier, que quer passar por cima de tudo e de todas as situações.
Na crise aguda em que se encontra o "movimento espírita", seus líderes apelam para o mesmo coitadismo que marcou a vida de seu adorado "médium", um vitimismo que se torna o recurso de tentar tirar vantagem com a imagem de coitado, de vítima.
"Diante das perseguições que recebemos, oremos em silêncio, resignados e com a consciência tranquila, protegidos pela fé em Deus e confiantes no nosso trabalho de amor", é o que dizem os "espíritas" diante de tantas contrariedades.
Agindo assim, eles acham que sobreviverão a toda tempestade. Mas esse coitadismo demonstra uma série de estratégias oportunistas e a esperteza em se passar por vítima para obter uma vantagem, porque tudo o que contraria os "espíritas" é sempre visto como "perverso", "injusto" e "nocivo".
Os "espíritas", que traem o pensamento de Allan Kardec com um igrejismo antiquado, é que são os "bonzinhos", que "seguem fielmente" as lições do pedagogo francês, que estão "sempre certos" porque dizem promover a solidariedade, a humildade e a compaixão.
Os contestadores é que são sempre os maléficos, os nocivos, ou, quando muito, aqueles que "fortalecem" os "bondosos espíritas" ao desafiá-los com questionamentos e contestações que supostamente "comprovam" o quanto o "espiritismo" está no "bom caminho".
É um discurso traiçoeiro, um malabarismo discursivo em que o dominador tenta se passar por vítima, criando um jogo de contrastes retóricos no qual ele tenta vencer tudo não como um tirano, mas como pretensa vítima, dizendo, em um momento, que está sendo vítima de "lamentáveis reações de irmãos incompreensivos", de outro "agradece" a eles por estimulá-lo a "prosseguir o trabalho do bem".
Isso desarma as pessoas, porque é um recurso da retórica, em que o coitadismo, que é a falsa pose de injustiçado, e o vitimismo, que é a mania de atribuir desgraças contra si nos momentos em que é contestado, servem para desqualificar argumentos, investigações e inquéritos, fazendo do privilegiado que se passa por injustiçado um "vencedor" disfarçado de "derrotado resignado".
É uma trapaça ideológica, que se mostra uma armadilha das piores. E isso é horrível, sobretudo quando se transforma uma figura pitoresca como Chico Xavier numa espécie de "senhor absoluto", num "dono do Brasil" que se torna a obsessão e o flagelo de seus fanáticos seguidores.
Foi com essa pose de "coitado" e "vítima" que Chico Xavier tenta passar por cima de muitos obstáculos, ele que, de um católico paranormal esquisito, virou "líder absoluto" do Brasil, acima de tudo e de todos, quase um "imperador romano" às avessas, a dominar tudo e todos com estereótipos tendenciosos de "amor e bondade".
Um exemplo disso foi o caso Humberto de Campos, que poderia ter desmascarado por definitivo Chico Xavier, se não fossem duas coisas: o desconhecimento dos juristas da época (1944) quanto ao uso de nomes mortos para supostas psicografias, e a imagem de "bonzinho" trabalhada em torno do anti-médium.
Aí pronto. A cada escândalo, as pessoas tinham o medo de enfrentar Chico Xavier, o "monstro" que Humberto de Campos, autor de O Monstro e Outros Contos, de 1932 (ele lançava o livro quando fez a resenha de Parnaso de Além-Túmulo), não previu se formar, por causa do estereótipo de "amor e bondade" que intimida os corações mais fracos.
E vemos o quanto o verniz de "bondade e humildade", que Chico Xavier trabalhava desde quando era relativamente jovem, lá pelos 25, 30 anos, e se somou ao estereótipo de "bom velhinho" em tempos posteriores, foi um artifício para tentar intimidar seus contestadores.
Só que essa armadilha, a da "bondade" intimidadora, não é muito conhecida entre os brasileiros. Ela é vista ainda como uma qualidade positiva e não desperta suspeitas, estando imune a qualquer tipo de investigação, mesmo quando se consideram polêmicas e controvérsias relacionadas.
Daí que os questionadores mais fracos se sentem intimidados diante de pessoa "tão bondosa". As investigações param, porque os investigadores se sentem intimidados em desafiar uma "boa pessoa", e assim mesmo irregularidades das mais evidentes e com provas consistentes são deixadas de lado, pela sedutora tentação da complacência e do conformismo.
Isso é extremamente ruim, e deixa o Brasil num ciclo vicioso da subserviência religiosa, em que a coerência e o bom senso são deixados de lado, por mais que a retórica, esse espetáculo de palavras bem articuladas, tente dizer o contrário. Aliás, há formas sutis de dizer "não", apenas dizendo "sim", apresentando ideias que dizem afirmar os fatos, quando, em verdade, os contrariam.
O progresso do Brasil é comprometido com isso. Escravo do estereótipo de "amor e bondade" de figuras como Chico Xavier, o país se mantém no atraso, prisioneiro que está da fé religiosa, do deslumbramento fácil, da mistificação sedutora, em que as ideias de "bondade" e "humildade" mais parecem demonstrações de pieguice e até sensualismo emocional, corrompendo as emoções das pessoas.
A Prisão da Fé do "movimento espírita" torna-se nociva para o país, e o coitadismo que intimida quem queira levar adiante investigações sérias sobre as irregularidades da doutrina brasileira causam sérios danos na nossa busca de um mínimo de coerência e transparência para a sociedade de nosso país.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
PMDB carioca e sua forma de dizer "Fora Dilma"
"DONA DILMA, QUEREMOS DINHEIRO", DIZEM O GOVERNADOR PEZÃO E O PREFEITO PAES.
O Rio de Janeiro anda falido, em todos os sentidos. O Estado e sua capital passam por uma decadência vertiginosa sem precedentes, inimaginável até nos tempos da República Velha, quando a antiga capital do país procurava fazer reformas urbanas e sociais para superar seu antigo provincianismo.
É o Rio de Janeiro da intolerância social dos "coxinhas", do fanatismo do futebol carioca, das baixarias intelectualmente consentidas do "funk", dos ônibus com pintura padronizada, do comercialismo pseudo-roqueiro da Rádio Cidade, do exibicionismo grotesco das "popozudas", do excesso de fumantes nas ruas, da poluição que supera São Paulo e faz o Grande Rio preocupantemente superaquecido.
Pois não é mais o Rio 40 Graus, mas o Rio rumo aos 50 graus, que sofre o caos da saúde pública e a violência que "acidentalmente" mata milhares de inocentes, principalmente pobres, o que faz técnicos e especialistas da ONU falarem em "limpeza social" com tantos e tão descontrolados incidentes que parecem terem sido feitos de propósito pela truculência policial.
É o Rio de Janeiro reacionário em que antigos baderneiros da Internet, os troleiros, passam agora a hostilizar famosos e influentes nas mídias sociais e até nas ruas, e geram episódios mais típicos de cidades primitivas do interior, com jovens "tudo de bom" linchando um vendedor de gelo na antes cosmopolita Ipanema.
Vive-se um contexto em que os cariocas só tardiamente se arrependeram de eleger como deputado federal o reacionário e prepotente Eduardo Cunha, um religioso que prometia moralizar o Legislativo e, transformado num Joseph McCarthy dos trópicos (alusão ao senador estadunidense que perseguia comunistas e que inspirou o termo "macartismo"), agora é investigado por corrupção.
O Rio de Janeiro teve um 2015 horrível, tragicômico, em que personalidades de destaque, com um histórico de tabagismo no passado, como a jornalista Sandra Moreyra e a atriz Marília Pera, morreram para avisar aos cariocas que não é divertido ficar fumando e espalhando fumaça de nicotina (que inclui substâncias usadas em combustíveis de carros e veneno de rato) nas ruas.
Foram tantas notícias que variavam entre gafes, tragédias, escândalos e graves transtornos, que puseram em xeque a condição de "cidade-modelo" que o Rio de Janeiro, depois da falência social de São Paulo, passou a ter para o resto do país.
Se os desastres do maluf-tucanato e da imprensa brutamontes (não só os Cidade Alerta e Brasil Urgente da vida, mas também a Veja e os jornalões paulistanos) tiraram da Av. Paulista o símbolo máximo do "paraíso brasileiro" de prédios imponentes e cidadãos engravatados decidindo por todo o país, é a vez da ex-Cidade Maravilhosa deixar de ser vista como o "paraíso brasileiro".
E aí vemos o decadente grupo político do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Luiz Fernando Pezão, tentando sobreviver sacrificando o amigo Eduardo Cunha, que se tornou um "anel" apertado demais para os dedos dos detentores do poder no Rio de Janeiro.
Nem a família Picciani - o presidente da Assembleia Legislativa estadual, Jorge Picciani e seus filhos, o líder do PMDB na Câmara Federal, Leonardo Picciani, e o secretário de Transportes carioca, Rafael Picciani (que queria eliminar a ligação direta Zona Norte X Zona Sul para "otimizar" o sistema de ônibus) - , que jurava eterna lua-de-mel com Eduardo Cunha, quer mais ficar com ele.
Todos os envolvidos agora passaram a posar de "progressistas" e pretensos "amigos" da presidenta Dilma Rousseff, sobretudo com as bajulações baratas de um demagogo como Eduardo Paes, que pouca gente se lembra ter sido uma cria do pouco expressivo PSDB carioca.
Esse falso engajamento em prol da tendenciosa postura "fica Dilma", se opondo aos empenhos do vice-presidente Michel Temer e Eduardo Cunha em se voltarem contra a chefe do Executivo federal, não é todavia uma postura gratuita, como se fosse uma jura de amor fiel à presidenta.
Toda essa postura "fica Dilma" do PMDB carioca tem um propósito: arrancar do Governo Federal as verbas públicas para socorrer o Estado do Rio de Janeiro, que com toda sua farra política usando como pretexto a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, deixou um grande rombo nos cofres públicos que quase pôs o setor da Saúde para a paralisação definitiva, transformando hospitais públicos em verdadeiros abatedouros de gente.
Foi revelado, por uma série de reportagens do Jornal da Record, em série intitulada "O Rio de Janeiro na Lama", que o grupo político de Eduardo Paes estabeleceu um esquema de favores e acordos com grandes empreiteiros, de forma que transferisse grandes somas de dinheiro para as fortunas pessoais dos envolvidos, políticos e empresários (sobretudo empreiteiros).
Os cariocas, geralmente marionetes da "imparcialidade midiática" dos jornais O Dia e Meia Hora, que pautam o "gosto cultural" do "povão" no Grande Rio, acharam que as denúncias não passavam de "lorotas" feitas pela Rede Record, cujo dono Edir Macedo apoia a carreira política do colega Marcelo Crivella, com intenções de vencer as próximas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro, embora não se tenha ainda chegado sequer a hora de lançar pré-candidatos.
Só que os "parciais" jornalistas da Rede Record que denunciaram os escândalos de Paes e companhia são conhecidos por investigar vários escândalos políticos, independente de partidos políticos, tendo mostrado a corrupção de dirigentes esportivos da CBF e FIFA e o esquema de propinas e desvio de dinheiro público do PSDB paulista, através das concessões e obras do metrô paulistano e de alianças com empreiteiros que fizeram os tucanos turbinarem suas contas em paraísos fiscais no exterior.
Claro, a "boa sociedade" carioca, que sempre se achava com a palavra final para tudo - vide, sobretudo, a turma da trolagem na Internet - , acha que investigar dirigentes esportivos e políticos cariocas é "perda de tempo" de gente que "não pensa em favor do Rio de Janeiro".
Essa "boa sociedade" é que é responsável direta pela tragédia que acontece no Estado e consentiu com a falência de valores e princípios, que não quer que a crise seja denunciada e, irritada com as revelações da decadência do Rio de Janeiro, queria que nós esquecêssemos tudo isso e procurássemos os "anos dourados" cariocas até em videocassetadas no Whatsapp e nos glúteos das "popozudas".
Só que a "boa sociedade" tem que engolir a decadência do Estado do Rio de Janeiro, promovida pelos políticos cariocas que ela elegeu. A própria imprensa tem que relatar essa decadência, por mais que tenha vontade de esconder tudo sob o tapete.
Quanto ao PMDB carioca, seu aparente apoio a Dilma Rousseff, até pela associação com o desgastado grupo político de Eduardo Paes, soa como uma outra forma de dizer "Fora Dilma", forçando o agravamento político da crise do governo petista com o vínculo a autoridades estaduais tão corruptas, autoritárias e demagogas.
Enquanto isso, a crise fluminense se agrava mais e mais, derrubando a reputação do Estado do Rio de Janeiro e sua capital para os demais Estados do país. Alguém tem coragem de ver, na outrora imponente cidade do Rio de Janeiro, cidade-modelo para alguma coisa?
O Rio de Janeiro anda falido, em todos os sentidos. O Estado e sua capital passam por uma decadência vertiginosa sem precedentes, inimaginável até nos tempos da República Velha, quando a antiga capital do país procurava fazer reformas urbanas e sociais para superar seu antigo provincianismo.
É o Rio de Janeiro da intolerância social dos "coxinhas", do fanatismo do futebol carioca, das baixarias intelectualmente consentidas do "funk", dos ônibus com pintura padronizada, do comercialismo pseudo-roqueiro da Rádio Cidade, do exibicionismo grotesco das "popozudas", do excesso de fumantes nas ruas, da poluição que supera São Paulo e faz o Grande Rio preocupantemente superaquecido.
Pois não é mais o Rio 40 Graus, mas o Rio rumo aos 50 graus, que sofre o caos da saúde pública e a violência que "acidentalmente" mata milhares de inocentes, principalmente pobres, o que faz técnicos e especialistas da ONU falarem em "limpeza social" com tantos e tão descontrolados incidentes que parecem terem sido feitos de propósito pela truculência policial.
É o Rio de Janeiro reacionário em que antigos baderneiros da Internet, os troleiros, passam agora a hostilizar famosos e influentes nas mídias sociais e até nas ruas, e geram episódios mais típicos de cidades primitivas do interior, com jovens "tudo de bom" linchando um vendedor de gelo na antes cosmopolita Ipanema.
Vive-se um contexto em que os cariocas só tardiamente se arrependeram de eleger como deputado federal o reacionário e prepotente Eduardo Cunha, um religioso que prometia moralizar o Legislativo e, transformado num Joseph McCarthy dos trópicos (alusão ao senador estadunidense que perseguia comunistas e que inspirou o termo "macartismo"), agora é investigado por corrupção.
O Rio de Janeiro teve um 2015 horrível, tragicômico, em que personalidades de destaque, com um histórico de tabagismo no passado, como a jornalista Sandra Moreyra e a atriz Marília Pera, morreram para avisar aos cariocas que não é divertido ficar fumando e espalhando fumaça de nicotina (que inclui substâncias usadas em combustíveis de carros e veneno de rato) nas ruas.
Foram tantas notícias que variavam entre gafes, tragédias, escândalos e graves transtornos, que puseram em xeque a condição de "cidade-modelo" que o Rio de Janeiro, depois da falência social de São Paulo, passou a ter para o resto do país.
Se os desastres do maluf-tucanato e da imprensa brutamontes (não só os Cidade Alerta e Brasil Urgente da vida, mas também a Veja e os jornalões paulistanos) tiraram da Av. Paulista o símbolo máximo do "paraíso brasileiro" de prédios imponentes e cidadãos engravatados decidindo por todo o país, é a vez da ex-Cidade Maravilhosa deixar de ser vista como o "paraíso brasileiro".
E aí vemos o decadente grupo político do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Luiz Fernando Pezão, tentando sobreviver sacrificando o amigo Eduardo Cunha, que se tornou um "anel" apertado demais para os dedos dos detentores do poder no Rio de Janeiro.
Nem a família Picciani - o presidente da Assembleia Legislativa estadual, Jorge Picciani e seus filhos, o líder do PMDB na Câmara Federal, Leonardo Picciani, e o secretário de Transportes carioca, Rafael Picciani (que queria eliminar a ligação direta Zona Norte X Zona Sul para "otimizar" o sistema de ônibus) - , que jurava eterna lua-de-mel com Eduardo Cunha, quer mais ficar com ele.
Todos os envolvidos agora passaram a posar de "progressistas" e pretensos "amigos" da presidenta Dilma Rousseff, sobretudo com as bajulações baratas de um demagogo como Eduardo Paes, que pouca gente se lembra ter sido uma cria do pouco expressivo PSDB carioca.
Esse falso engajamento em prol da tendenciosa postura "fica Dilma", se opondo aos empenhos do vice-presidente Michel Temer e Eduardo Cunha em se voltarem contra a chefe do Executivo federal, não é todavia uma postura gratuita, como se fosse uma jura de amor fiel à presidenta.
Toda essa postura "fica Dilma" do PMDB carioca tem um propósito: arrancar do Governo Federal as verbas públicas para socorrer o Estado do Rio de Janeiro, que com toda sua farra política usando como pretexto a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, deixou um grande rombo nos cofres públicos que quase pôs o setor da Saúde para a paralisação definitiva, transformando hospitais públicos em verdadeiros abatedouros de gente.
Foi revelado, por uma série de reportagens do Jornal da Record, em série intitulada "O Rio de Janeiro na Lama", que o grupo político de Eduardo Paes estabeleceu um esquema de favores e acordos com grandes empreiteiros, de forma que transferisse grandes somas de dinheiro para as fortunas pessoais dos envolvidos, políticos e empresários (sobretudo empreiteiros).
Os cariocas, geralmente marionetes da "imparcialidade midiática" dos jornais O Dia e Meia Hora, que pautam o "gosto cultural" do "povão" no Grande Rio, acharam que as denúncias não passavam de "lorotas" feitas pela Rede Record, cujo dono Edir Macedo apoia a carreira política do colega Marcelo Crivella, com intenções de vencer as próximas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro, embora não se tenha ainda chegado sequer a hora de lançar pré-candidatos.
Só que os "parciais" jornalistas da Rede Record que denunciaram os escândalos de Paes e companhia são conhecidos por investigar vários escândalos políticos, independente de partidos políticos, tendo mostrado a corrupção de dirigentes esportivos da CBF e FIFA e o esquema de propinas e desvio de dinheiro público do PSDB paulista, através das concessões e obras do metrô paulistano e de alianças com empreiteiros que fizeram os tucanos turbinarem suas contas em paraísos fiscais no exterior.
Claro, a "boa sociedade" carioca, que sempre se achava com a palavra final para tudo - vide, sobretudo, a turma da trolagem na Internet - , acha que investigar dirigentes esportivos e políticos cariocas é "perda de tempo" de gente que "não pensa em favor do Rio de Janeiro".
Essa "boa sociedade" é que é responsável direta pela tragédia que acontece no Estado e consentiu com a falência de valores e princípios, que não quer que a crise seja denunciada e, irritada com as revelações da decadência do Rio de Janeiro, queria que nós esquecêssemos tudo isso e procurássemos os "anos dourados" cariocas até em videocassetadas no Whatsapp e nos glúteos das "popozudas".
Só que a "boa sociedade" tem que engolir a decadência do Estado do Rio de Janeiro, promovida pelos políticos cariocas que ela elegeu. A própria imprensa tem que relatar essa decadência, por mais que tenha vontade de esconder tudo sob o tapete.
Quanto ao PMDB carioca, seu aparente apoio a Dilma Rousseff, até pela associação com o desgastado grupo político de Eduardo Paes, soa como uma outra forma de dizer "Fora Dilma", forçando o agravamento político da crise do governo petista com o vínculo a autoridades estaduais tão corruptas, autoritárias e demagogas.
Enquanto isso, a crise fluminense se agrava mais e mais, derrubando a reputação do Estado do Rio de Janeiro e sua capital para os demais Estados do país. Alguém tem coragem de ver, na outrora imponente cidade do Rio de Janeiro, cidade-modelo para alguma coisa?
domingo, 27 de dezembro de 2015
A aberrante ascensão dos fascistas mirins
O reacionarismo em doses cavalares que parte de jovens abastados ou emergentes, em maioria moradores das capitais e cidades do interior no Sul e Sudeste - destacam-se o eixo Rio-São Paulo, sobretudo os bairros ricos das duas capitais e a classe média emergente dos subúrbios - é um fato preocupante que pode pôr em risco a democracia no país.
Recentemente, Chico Buarque, famoso compositor brasileiro, discutiu com dois jovens reacionários que o provocaram dizendo: "Petista, vai morar em Paris. O PT é bandido!". Só que os dois não são meros internautas a fazer trolagem, mas dois ilustres membros da alta sociedade.
Um é o inexpressivo rapper Túlio Dek, que fez seus quinze minutos de fama como namorado da atriz Cléo Pires. Túlio é neto de Jairo Andrade Bezerra, um dos idealizadores da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, passeata patrocinada pela CIA (órgão de informações do governo dos EUA) e que impulsionou o golpe militar de 1964.
Conhecido fazendeiro e empresário brasileiro, fiel defensor da ditadura militar, Jairo, falecido em 2003, é acusado de explorar trabalho escravo, mandar matar opositores e fazer "grilagem", ou seja, obtenção de terrenos para fazendas feita através de modos fraudulentos.
Outro é o empresário Álvaro Garnero Filho, cujo pai é conhecido empresário e conquistador amoroso muito em evidência nas colunas sociais, Álvaro Garnero, que, por sua vez, é filho de Mário Garnero, empresário que também defendeu a ditadura militar e, durante o governo José Sarney, se envolveu no escândalo da NEC, esquema de favorecimentos político-empresariais que incluiu o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, e Roberto Marinho, das Organizações Globo.
Os dois não hesitaram em xingar Chico Buarque, e pareciam bem mais irritados que o cantor, que, com toda a sua indignação diante de tanta estupidez, procurou manter sua dignidade. A estupidez dos jovens reacionários tornou-se um fenômeno conhecido no Brasil, depois de tantos incidentes.
Os ataques feitos por integrantes nas mídias sociais à jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, e às atrizes Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes, além de um blogue ofensivo feito para parodiar a blogueira Lola Aronovich, expuseram o problema da atuação reacionária que pôs por terra a ilusão de que todo jovem é "progressista" e "moderno" até quando é retrógrado e reacionário.
O reacionarismo juvenil na Internet e até nas ruas - os troleiros (de trolls - encrenqueiros digitais) tinham seus grupos de agressores preparados para violentar as mesmas vítimas dos ataques virtuais - se expressa em comentários irônicos compartilhados por esses grupos, que depois viram ameaças às vítimas que questionam valores e decisões elitistas vigentes.
Do anti-petismo cego à defesa de fenômenos estabelecidos pela mídia ou pelo mercado, como a gíria "balada" (associada a Luciano Huck, Rede Globo e a reacionária Jovem Pan, já apelidada por Klu Klux Pan), a programação "roqueira" (de péssima qualidade) da Rádio Cidade carioca e a pintura padronizada nas empresas de ônibus municipais do Rio de Janeiro estão entre as causas defendidas pelos troleiros da Internet.
Eles também estão associados ao "patrulhamento" de modismos diversos e de ídolos musicais que simbolizam a mediocrização cultural no país. Nomes como Zezé di Camargo & Luciano, Alexandre Pires, Ivete Sangalo, Banda Calypso, Mr. Catra, Belo e até Michael Sullivan eram apoiados por agressivos troleiros que não aguentavam uma crítica sequer a eles.
Um grupo de troleiros chegou a esculhambar o jornalista Artur Xexéo por ele ter feito críticas ao cantor Leonardo (membro vivo da antiga dupla de irmãos Leandro & Leonardo). No caso das mulheres-frutas, os troleiros humilhavam quem falasse mal das grotescas musas que só se ocupam fazendo poses "sensuais" e exibindo corpos exagerados. Os troleiros são também racistas e machistas.
A extrema-direita juvenil, os fascistas mirins que tomam conta da Internet, há muito tempo agiam nas mídias sociais e nos fóruns de Internet, ou mesmo em mensagens divulgadas em e-mail. Havia até mesmo um núcleo de reacionários dentro da populosa comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" no antigo Orkut.
Veículos midiáticos como a Rede Globo, a revista Veja, as rádios Transamérica, Jovem Pan e a "rádio rock" carioca Rádio Cidade são redutos dessa juventude extremamente reacionária, cujos ídolos variam entre Luciano Huck e Olavo de Carvalho, passando por Jair Bolsonaro e Rodrigo Constantino e, machistas (mesmo as mulheres são assim) elegem como "musas" a Mulher Melão e Solange Gomes.
Os fascistas mirins que odeiam quem pensa diferente e defendem o que é estabelecido pelo poder midiático, pelo mercado e pela política - sempre as grandes corporações, sempre as grandes autoridades polítias - , eles se enfurecem quando alguém tenta pensar ou agir diferente do restrito e fétido horizonte mental dos trogloditas digitais.
Daí que eles, nas mídias sociais, se reúnem em grupo para, num horário combinado, invadir páginas de recados, fóruns e até petições na Internet para fazer comentários ofensivos e jocosos contra aquele que discorda com o que pensa esse grupo. Os comentários geralmente vão das ironias às ameaças, com o tom ofensivo subindo aos poucos.
A situação ficou tão séria que mesmo a mídia de direita já começa a se preocupar com os "monstros" que havia criado, a exemplo da ditadura militar diante do crescimento descontrolado do poder dos coronéis e subordinados do DOI-CODI, órgão que inicialmente surgiu para zelar pelos "ideais democráticos" da "revolução" (nome pelo qual a ditadura se autodefiniu durante muito tempo).
Os troleiros inicialmente serviam como "patrulha" para defender o "estabelecido" pela mídia, política e mercado dominantes. Seus ataques inicialmente eram aceitos porque os contestadores eram vistos como "ridículos" diante de tantas "novidades" lançadas pelos detentores do poder.
Mas quando a coisa começou a se tornar mais evidente, ante os atos de desrespeito humano mais aberrantes, os troleiros passaram a serem vistos como uma ameaça, além do fato de que as causas e ídolos que eles defendiam eram retrógrados e medíocres, por mais bem sucedidos que fossem.
O fato preocupante é que essas pessoas tentam se ascender no poder. Afinal, por trás de muitos troleiros há filhos de advogados e empresários, dirigentes de fãs-clubes, produtores culturais, professores e pessoas com alguma ascensão social na vida, que acham que podem crescer rápido "atropelando" os outros com sua fúria depreciativa sem freio.
Daí o alerta que os casos de Eduardo Cunha, político reacionário envolvido em corrupção, e Jair Bolsonaro, militar e político famoso por suas truculências, significam. Os troleiros de hoje poderão ser os políticos corruptos, autoritários e desordeiros de amanhã.
Felizmente a opinião pública começa a se despertar diante de tantos reacionários antes vistos como "divertidos". Mas o alerta ainda é insuficiente, cabendo a todos os internautas não se iludirem com a falsa imagem de "legal" de certas pessoas e pegar carona numa trolagem que, no futuro, pode soar maléfica como os feitiços que se voltam contra seus feiticeiros.
Cabe ver o ovo da serpente e identificar os tiranos de amanhã, que nem sempre parecerão "divertidos" e "legais". Cabe, acima de tudo, repudiá-los em vez de pegar carona na sua aparente alegria e embarcar numa farra que pode trazer traumas no futuro.
sábado, 26 de dezembro de 2015
A incapacidade da religião "espírita" em resolver problemas
Por que o "espiritismo" brasileiro não consegue resolver problemas? Pessoas fazem tratamentos espirituais e só atraem infortúnios, mesmo que seja o "pagamento" de uma tragédia para "benefícios" concedidos (como, por exemplo, ganhar na loteria e, num passeio com o filho, ver ele ser morto num assalto).
Adepta da Teologia do Sofrimento - apesar dos palestrantes tolamente dizerem que "ninguém nasceu para sofrer", seu mestre Francisco Cândido Xavier apelava para "sofrermos em silêncio, sem queixumes" - , o "espiritismo" brasileiro não compreende a complexidade humana, as tensões cotidianas e as injustiças existentes.
Seu método de ação é o mais patético possível, com "caridades" - como concessão de donativos e cursos de alfabetização e formação profissional - que não interferem no sistema de desigualdades vigente, e ideologicamente a doutrina brasileira comprova que prefere passar por cima de problemas e pedir para que todos déssemos sorrisos amarelos para nossos próprios problemas.
Os "espíritas" acham que basta sorrir, ser bonzinho e tranquilo para ser beneficiado e ter sorte na vida. A pessoa sofre horrores, é acuada ou "sacrifica" algum ente querido pelos infortúnios da vida para ser "beneficiado" e todos temos que sorrir, dar as mãos e cantar canções piegas de louvor. Tudo parece simples e fácil quando se diz, mas na prática tudo se torna inútil.
O "espiritismo" teoriza demais o amor e a bondade de forma que só ele seja considerado a religião que trata com mais "imparcialidade" e "objetividade" os ideais de "amor e bondade". Como se teorizar demais tudo isso fosse um diferencial, o que é uma grande hipocrisia.
Perde-se tempo escrevendo poeminhas pedindo para darmos as mãos, ilustrando textos com flores, crianças sorridentes e tudo o mais - isso quando não se comete a besteira de envolver uma imagem de Chico Xavier com coraçõezinhos e jardins floridos - , enquanto as tensões da vida acontecem e as injustiças "devoram" até o que nos havia de essencialmente necessário.
Há disputas de espaços, em que pessoas sem a menor competência se tornam representantes e especialistas de uma causa que só defendem por oportunismo, seja para obter vantagens financeiras, seja para impressionar os outros.
O Brasil tornou-se um péssimo país para quem tem personalidade diferenciada, para quem não quer viver uma vida "qualquer nota", e pessoas que poderiam contribuir com seus potenciais são obrigadas a aguentar longas décadas de infortúnios e limitações pesadas, das quais só podem sair se submeterem ao jugo de alguém mais estúpido do que elas.
Fora do que "espíritas" escrevem das tintas de mel de suas canetas, dos dedos perfumados de flores campestres que digitam no computador e das bocas sorventes de açúcar, das quais saem sempre palavras dóceis e suaves, a vida mostra sua amargura e somos proibidos por essa religião de sequer reagirmos a tantos infortúnios.
É como se os "espíritas" usassem uma camiseta com estilo Johnny Walter, que diz: "Fique Calmo: Aguente qualquer tranco e SORRIA!". Só que a "bondosa" doutrina não consegue lidar com a complexidade humana e prefere que passemos por cima de nossos problemas sorrindo para nossos algozes.
Os "espíritas" prometem que os algozes "terão o que merecem". Mas daí para outra encarnação, dentro de uns cem anos. Até lá, o algoz já cometeu abusos e se vendeu como "exemplo a ser seguido" por seus semelhantes ou até por gerações posteriores, que confundem maldade com rebeldia.
E se os jovens algozes confundem maldade com rebeldia, o "espiritismo" confunde contestação com ódio. Os "espíritas" se limitam a dizer para que "não nos revoltemos", sem perceber se realmente estamos agindo com ódio ao questionar algum infortúnio ou desgraça.
Os "espíritas" não sabem que, muitas vezes, reagimos contra os infortúnios com senso de humor, que não deve ser confundido com resignação. E que muito da "resignação" que muitos de nós somos aconselhados a sentir é, na verdade, o acobertamento de nossa indignação natural.
Quantas vezes "engolimos sapos" e aceitamos os arbítrios de nossos algozes, forjando uma misericórdia tão falsa quanto forçada, e temos que reagir descontando nossas raivas contra alguém mais inocente?
Muitos dos assaltantes surgem porque eles, de origem pobre, não podem reagir contra os abusos que os mais ricos fazem contra eles. "Desestimulados" a reagir contra as injustiças sociais, eles acabam dirigindo sua revolta contra a classe média, roubando o que lhe é necessário e essencial.
Muitos dos estelionatários surgem diante de sérios infortúnios, porque pessoas que não conseguem obter um emprego pelo azar da vida - até um concurso público apresenta um programa de estudo e um formulário de questões "puxado demais" - veem na prática de golpes financeiros uma forma de ganhar dinheiro com facilidade.
Muitos dos homens que não conseguem obter mulheres de sua afinidade, mas atraem aquelas que não correspondem ao que eles necessitam para convívio são alvo de sua violência, porque eles querem impor às mulheres aquilo que elas não são, baseado no modelo ideal da mulher inacessível.
E isso quando não ocorrem atentados terroristas, vandalismos contra bens públicos, linchamentos que são estimulados pelo vácuo da Justiça na impunidade fácil, nas violências de torcedores em que o futebol é o único meio de entretenimento que lhes é disponível, e esses problemas não podem ser explicados somente por uma simples "falta de solidariedade".
Poucas pessoas obtém privilégios sem merecimento nem competência para tais. Acabam sendo donos de uma causa que não defendem com naturalidade, mas por oportunismo. Outras são privadas de ter até o que precisam, o que mais necessitam, e orações são feitas em vão para que nenhum benefício seja obtido, a não ser com algum prejuízo como brinde.
A realidade é complexa. O "espiritismo" brasileiro, por outro lado, é simplório. A doutrina brasileira não consegue entender o pensamento científico de Allan Kardec, alvo de intensa bajulação, e perde muito tempo pedindo para sermos bonzinhos, sorrirmos até quando sentimos dor intensa, a cantar louvores e tudo o mais.
Isso é grave, mas não é o "espiritismo" que será capaz de resolver se caso fizer algum esforço. Sua incompetência é extrema, sua incapacidade em resolver problemas humanos é notória e muito imensa, e um simples apelo de "bondade", "amor" e "compaixão" são muito inócuos para resolver injustiças e tensões.
Daí que, num "centro espírita" de Salvador, um membro do chamado "auxílio fraterno" não entendeu por que um assistido reclamava de não atrair mulheres de sua afinidade para a vida amorosa, e pensou que o cara era um homossexual, fazendo um juízo de valor equivocado e obrigando o pobre coitado a "sair do armário".
O que os "espíritas" querem é que deixemos tudo para lá e vamos sorrir. É lindo ver passarinhos e árvores com suas folhas mexidas pela brisa, mas não é para isso que viemos. Encarar tragédias e infortúnios como um fim em si mesmos, sofrer por sofrer e ainda agradecer ao Alto por isso é de uma leviandade cruel, e os "espíritas", com esse apelo, acabam se tornando "docilmente" sádicos.
É a Teologia do Sofrimento. Madre Teresa de Calcutá foi chamada de "anjo do inferno" ao deixar seus assistidos à mercê de graves sofrimentos, e ao dizer que o "sofrimento é presente de Deus". Mas aqui Chico Xavier é considerado "progressista" e "ativista" dizendo a mesma coisa.
O sado-masoquismo é uma prática constante no Brasil, e é lamentável que muitas pessoas ainda não abram mão disso, presas a paixões de cunho religioso. E é isso que faz o Brasil se emperrar, preso em preconceitos moralistas e religiosos que fazem com que problemas não sejam vistos como problemas, e, por isso, bloqueiam soluções que poderiam vir se incompetentes abrissem mão de seus privilégios e infortunados tenham algum benefício a mais em suas vidas.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
Blogueira que defende Madre Teresa expressa desprezo pelos pobres
POBRES E SOFREDORES TÊM QUE PERMANECER ASSIM PARA QUE SE MANTENHA O "ESPETÁCULO DA CARIDADE".
Chamou a atenção um texto que uma blogueira conhecida como "A Catequista" fez a favor de Madre Teresa de Calcutá. Altamente reacionário, o texto que reproduziremos abaixo apela não só para os clichês da imagem de "amor e bondade" atribuída a um ídolo religioso e não apenas contra o ateísmo que Christopher Hitchens professou em sua vida, mas ao seu desprezo ao sofrimento dos pobres.
O trecho que chamaremos atenção aparecerá grifado por nós para que vocês analisem o quanto pessoas que, sob o manto da religião, têm a boca e as cordas vocais tão cheias de vocabulários amorosos, mas, sob a menor contrariedade, explodem em rancor e raiva como cães ferozes avançando sobre qualquer desconhecido.
No "espiritismo", religião brasileira que se diz "incapaz de sentir rancor", tivemos, no episódio de Amauri Xavier Pena, sobrinho de Francisco Cândido Xavier, um texto de um líder "espírita" espumando de ódio.
Mas, para quem pensa que o assunto "desencarnou" por aí, houve o rancor dos "espíritas" contra os repórteres de O Cruzeiro, no caso da farsante Otília Diogo, e nas declarações furiosas dos seguidores de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia nas chamadas "redes sociais".
Pois "A Catequista" também escreve um texto raivoso, e no entanto estranhamente defende que os pobres e enfermos "permaneçam" em sua condição. Sem dar uma réplica consistente aos questionamentos do mito da Madre Teresa, levantados sob as denúncias de Hitchens, a blogueira "catequista" comete muitos equívocos em seu texto "apaixonado" em prol da freira albanesa.
Entre tais equívocos, é o de afirmar que Madre Teresa "não quis fundar uma ONG" nem "realizar um trabalho social". Pois eram as duas coisas que, em tese, deveriam ser o trabalho da freira. A "catequista" se esqueceu que muita gente, ao ler essa passagem, poderá perguntar a ela "em que planeta ela vive".
Além do mais, caridade é livrar pobres e enfermos da miséria e da doença. Se os mantém assim, mesmo sob o pretexto de que a Madre Teresa já é "sua riqueza", então esta posição é bastante hipócrita, porque a "ascensão social", que tanto a blogueira jocosamente define, é qualidade de vida, benefício, a verdadeira caridade, que é fazer bem ao próximo.
Se ela não pensa assim, se ela acha que Madre Teresa não precisa resolver tais problemas, então a blogueira deu um tiro no pé, e mostra o quanto a Teologia do Sofrimento, que é de definir o sofrimento como "algo lindo" - uma ideologia defendida abertamente por Chico Xavier - faz seus tão "cristãos" defensores estarem mais próximos dos insensíveis imperadores romanos do que de Jesus.
Nota zero para a blogueira "catecista". Ela mostrou que, nessa retórica do "amor e bondade", os pobres, enfermos e outros infortunados têm que permanecer nestas condições humilhantes e trágicas para garantir o "espetáculo da caridade" que faz parte do circo da bondade estereotipada e da misericórdia forjada pelos insensíveis e impiedosos. Prestemos atenção para o trecho grifado.
==========
Quem não gosta de Madre Teresa, bom sujeito não é
Do blogue A Catequista - Publicado em 11 de fevereiro de 2014.
Uma freira pequenina trabalhava como professora em uma escola católica, para meninas ricas. Até o dia em que, nas ruas de Calcutá, ela ouviu o clamor do Cristo sedento, faminto e doente. Após insistir, recebeu autorização para fundar uma nova ordem e, sozinha, deixou uma vida razoavelmente confortável e segura para viver entre os mais pobres dos pobres.
Aos poucos, se juntaram a ela antigas alunas, que se tornaram as primeiras missionárias da caridade. Madre Teresa procurava Jesus nos lugares onde ninguém O buscava: no lixão, ela ia quase todos os dias revirar a imundície, e muitas vezes recolhia ali pessoas doentes, já roídas pelos ratos, e até bebês, um dos quais conseguiu “ressuscitar” com um boca a boca (fato captado pelas câmeras da BBC).
Certamente, não foi uma mulher perfeita… deve ter tido lá os seus erros. Mas, dentro do coração de milhões de pessoas, católicas ou não, há uma convicção: se aquela mulher me visse em dificuldades, ela se comoveria e me ajudaria. Ela era mesmo santa. Tanto que seu nome virou sinônimo de virtude e bondade.
Suas rugas profundas eram como o leitos de um rio, onde corria amor e sofrimento. Mas o escritor ateu Christopher Hitchens não se comoveu com essa mulher; antes a odiou. Escreveu um livro e produziu um documentário – “Anjo do Inferno” – afirmando que Madre Teresa era “uma fanática, fundamentalista e uma fraude”. Em um programa de TV, foi além, e a xingou de bitch.
Como militante do socialismo, Hitchens não poderia mesmo entender o bem que a Madre fazia aos pobres. Sua visão materialista de mundo o impedia de ver além do que os olhos podem enxergar. Cadê os hospitais de ponta? Cadê os pobres saindo da pobreza? Perguntava ele.
Hitchens acusava a Madre de não ajudar os pobres a sair de seu estado de pobreza. De fato, Madre Teresa não fundou uma ONG, ela não fazia trabalho social; ela fazia CARIDADE, ela amava cada pobre como um filho saído de seu ventre. A mesma acusação que se fez a ela, poderia-se fazer a São Francisco de Assis: quem aí ouviu dizer que o santo levou algum pobre a ascender socialmente? E, no entanto… ele era a maior riqueza dos pobres, em seu tempo.
Alguns leitores nos pediram para refutarmos o documentário “Anjo do Inferno”. Curiosamente, a BBC deixa disponível esse filme no Youtube, mas não o estupendo Something Beautiful For God, produzido pela mesma emissora, em 1969 (se alguém achar no Youtube, por favor me avise). O interesse da BBC em encobrir as boas obras da Madre e jogar lama em sua memória fica ainda mais claro quando a emissora se recusa a autorizar a exibição do documentário de 1969 em um festival de cinema gratuito realizado em 2010, para celebrar o centenário de nascimento de Teresa (Fonte: The Hindu).
Alguns dizem que Hitchens era obcecado pela figura de Madre Teresa. Eu prefiro pensar que ele era fascinado por ela, mas se revoltava contra esse fascínio, tentando sufocá-lo com fúria. Fúria e amargura era só o que ele tinha, já que seu livro e seu documentário são pobres, muito pobres em fundamentação. Que Deus tenha misericórdia de sua alma. Espero que, ainda que em seu último suspiro, ele tenha se arrependido de seus erros.
Em vez de rebater o documentário de Hitchens, em que Madre Teresa é ate mesmo acusada de combater fortemente o aborto e o divórcio (eita mulé marvada!), preferimos deixar aqui o testemunho do nosso leitor Harun Salman. Ele aprendeu a amar Jesus no convívio com a freirinha de Calcutá. Então, os ateus socialistas ladram, e a caravana da caridade passa!
Chamou a atenção um texto que uma blogueira conhecida como "A Catequista" fez a favor de Madre Teresa de Calcutá. Altamente reacionário, o texto que reproduziremos abaixo apela não só para os clichês da imagem de "amor e bondade" atribuída a um ídolo religioso e não apenas contra o ateísmo que Christopher Hitchens professou em sua vida, mas ao seu desprezo ao sofrimento dos pobres.
O trecho que chamaremos atenção aparecerá grifado por nós para que vocês analisem o quanto pessoas que, sob o manto da religião, têm a boca e as cordas vocais tão cheias de vocabulários amorosos, mas, sob a menor contrariedade, explodem em rancor e raiva como cães ferozes avançando sobre qualquer desconhecido.
No "espiritismo", religião brasileira que se diz "incapaz de sentir rancor", tivemos, no episódio de Amauri Xavier Pena, sobrinho de Francisco Cândido Xavier, um texto de um líder "espírita" espumando de ódio.
Mas, para quem pensa que o assunto "desencarnou" por aí, houve o rancor dos "espíritas" contra os repórteres de O Cruzeiro, no caso da farsante Otília Diogo, e nas declarações furiosas dos seguidores de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia nas chamadas "redes sociais".
Pois "A Catequista" também escreve um texto raivoso, e no entanto estranhamente defende que os pobres e enfermos "permaneçam" em sua condição. Sem dar uma réplica consistente aos questionamentos do mito da Madre Teresa, levantados sob as denúncias de Hitchens, a blogueira "catequista" comete muitos equívocos em seu texto "apaixonado" em prol da freira albanesa.
Entre tais equívocos, é o de afirmar que Madre Teresa "não quis fundar uma ONG" nem "realizar um trabalho social". Pois eram as duas coisas que, em tese, deveriam ser o trabalho da freira. A "catequista" se esqueceu que muita gente, ao ler essa passagem, poderá perguntar a ela "em que planeta ela vive".
Além do mais, caridade é livrar pobres e enfermos da miséria e da doença. Se os mantém assim, mesmo sob o pretexto de que a Madre Teresa já é "sua riqueza", então esta posição é bastante hipócrita, porque a "ascensão social", que tanto a blogueira jocosamente define, é qualidade de vida, benefício, a verdadeira caridade, que é fazer bem ao próximo.
Se ela não pensa assim, se ela acha que Madre Teresa não precisa resolver tais problemas, então a blogueira deu um tiro no pé, e mostra o quanto a Teologia do Sofrimento, que é de definir o sofrimento como "algo lindo" - uma ideologia defendida abertamente por Chico Xavier - faz seus tão "cristãos" defensores estarem mais próximos dos insensíveis imperadores romanos do que de Jesus.
Nota zero para a blogueira "catecista". Ela mostrou que, nessa retórica do "amor e bondade", os pobres, enfermos e outros infortunados têm que permanecer nestas condições humilhantes e trágicas para garantir o "espetáculo da caridade" que faz parte do circo da bondade estereotipada e da misericórdia forjada pelos insensíveis e impiedosos. Prestemos atenção para o trecho grifado.
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Quem não gosta de Madre Teresa, bom sujeito não é
Do blogue A Catequista - Publicado em 11 de fevereiro de 2014.
Uma freira pequenina trabalhava como professora em uma escola católica, para meninas ricas. Até o dia em que, nas ruas de Calcutá, ela ouviu o clamor do Cristo sedento, faminto e doente. Após insistir, recebeu autorização para fundar uma nova ordem e, sozinha, deixou uma vida razoavelmente confortável e segura para viver entre os mais pobres dos pobres.
Aos poucos, se juntaram a ela antigas alunas, que se tornaram as primeiras missionárias da caridade. Madre Teresa procurava Jesus nos lugares onde ninguém O buscava: no lixão, ela ia quase todos os dias revirar a imundície, e muitas vezes recolhia ali pessoas doentes, já roídas pelos ratos, e até bebês, um dos quais conseguiu “ressuscitar” com um boca a boca (fato captado pelas câmeras da BBC).
Certamente, não foi uma mulher perfeita… deve ter tido lá os seus erros. Mas, dentro do coração de milhões de pessoas, católicas ou não, há uma convicção: se aquela mulher me visse em dificuldades, ela se comoveria e me ajudaria. Ela era mesmo santa. Tanto que seu nome virou sinônimo de virtude e bondade.
Suas rugas profundas eram como o leitos de um rio, onde corria amor e sofrimento. Mas o escritor ateu Christopher Hitchens não se comoveu com essa mulher; antes a odiou. Escreveu um livro e produziu um documentário – “Anjo do Inferno” – afirmando que Madre Teresa era “uma fanática, fundamentalista e uma fraude”. Em um programa de TV, foi além, e a xingou de bitch.
Como militante do socialismo, Hitchens não poderia mesmo entender o bem que a Madre fazia aos pobres. Sua visão materialista de mundo o impedia de ver além do que os olhos podem enxergar. Cadê os hospitais de ponta? Cadê os pobres saindo da pobreza? Perguntava ele.
Hitchens acusava a Madre de não ajudar os pobres a sair de seu estado de pobreza. De fato, Madre Teresa não fundou uma ONG, ela não fazia trabalho social; ela fazia CARIDADE, ela amava cada pobre como um filho saído de seu ventre. A mesma acusação que se fez a ela, poderia-se fazer a São Francisco de Assis: quem aí ouviu dizer que o santo levou algum pobre a ascender socialmente? E, no entanto… ele era a maior riqueza dos pobres, em seu tempo.
Alguns leitores nos pediram para refutarmos o documentário “Anjo do Inferno”. Curiosamente, a BBC deixa disponível esse filme no Youtube, mas não o estupendo Something Beautiful For God, produzido pela mesma emissora, em 1969 (se alguém achar no Youtube, por favor me avise). O interesse da BBC em encobrir as boas obras da Madre e jogar lama em sua memória fica ainda mais claro quando a emissora se recusa a autorizar a exibição do documentário de 1969 em um festival de cinema gratuito realizado em 2010, para celebrar o centenário de nascimento de Teresa (Fonte: The Hindu).
Alguns dizem que Hitchens era obcecado pela figura de Madre Teresa. Eu prefiro pensar que ele era fascinado por ela, mas se revoltava contra esse fascínio, tentando sufocá-lo com fúria. Fúria e amargura era só o que ele tinha, já que seu livro e seu documentário são pobres, muito pobres em fundamentação. Que Deus tenha misericórdia de sua alma. Espero que, ainda que em seu último suspiro, ele tenha se arrependido de seus erros.
Em vez de rebater o documentário de Hitchens, em que Madre Teresa é ate mesmo acusada de combater fortemente o aborto e o divórcio (eita mulé marvada!), preferimos deixar aqui o testemunho do nosso leitor Harun Salman. Ele aprendeu a amar Jesus no convívio com a freirinha de Calcutá. Então, os ateus socialistas ladram, e a caravana da caridade passa!
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Mídia reacionária apoia católicos e "espíritas" na cruzada contra Record
Você acha que os mitos de Francisco Cândido Xavier e Madre Teresa de Calcutá são "admiráveis" por si mesmos? Você não entende metade da história que está por trás. As duas figuras religiosas, na verdade pessoas de profunda leviandade, correspondem, em verdade, a uma "guerra religiosa" que o poder midiático faz no Brasil contra a ascensão da Rede Record.
Você é manipulado pela mídia reacionária e não sabe. Não percebe que estereótipos de "amor e caridade" não são trabalhados pela grande mídia mercenária de graça, só para "limpar os pecados" dos barões da grande mídia. Os mitos de Chico Xavier e Madre Teresa não aparecem da forma "pura" que muitos acreditam, mas são frutos de um engenhoso processo de persuasão midiática.
Reforçar supostos mitos de "filantropia", pregando uma visão conservadora e inócua de "ativismo social" - mais um passivismo do que um ativismo social de verdade - , é uma manobra da grande mídia de promover certos ícones religiosos para enfrentar o crescimento das seitas concorrentes.
No âmbito mundial, o factoide em torno da suposta cura "milagrosa" atribuída a Madre Teresa de Calcutá - um pretenso "milagre" que já demonstra desconfiança por conta de um laudo médico forjado por um hospital católico de Santos para uma falsa doença crônica - tornou-se uma dupla campanha de reabilitação da Igreja Católica nos países do Ocidente.
O factoide - um engenheiro que se supôs vítima de hidrocefalia e estava "em estado terminal" se curou de maneira "inexplicável" para a Ciência - é uma forma do Vaticano retomar sua influência e neutralizar, nos países ocidentais, o crescimento da religião muçulmana, principalmente com as migrações dos fugitivos dos países árabes sob guerras ou regimes tirânicos, como a Síria.
Por outro lado, é uma forma de reabilitar a imagem, rentável para os sacerdotes da Santa Sé, da Madre Teresa de Calcutá, abalada por denúncias, dotadas de provas consistentes, de que ela teria maltratado pobres e enfermos, praticava corrupção e se aliava a magnatas corruptos e tiranos políticos. O "milagre" liberou o caminho para a canonização, prevista para setembro de 2016.
No âmbito brasileiro, o factoide do engenheiro que "se curou" por causa de uma medalhinha de Madre Teresa é um recurso que favorece movimentos religiosos como o Catolicismo e o "espiritismo", que se aliam na cruzada contra a ascensão do Neopentecostalismo, simbolizado pela Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
RELAÇÕES MIDIÁTICAS
Se o prezado leitor pensa que Chico Xavier, Divaldo Franco, Madre Teresa, José Medrado e tantos outros são mitos religiosos naturalmente desenvolvidos pela "qualidade natural da bondade", é bom rever tais ilusões e perceber o processo midiático que está por trás.
Sabe-se que, no caso de Madre Teresa, freira albanesa (nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu), seu mito foi desenvolvido por Malcolm Muggeridge, no seu documentário de 1969 da BBC de Londres, intitulado Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God, no original).
No caso de Chico Xavier, observa-se que o filme de Muggeridge inspirou explicitamente o relançamento do mito do "médium" brasileiro, antes trabalhado de maneira sensacionalista como um paranormal que "falava pelos mortos" mas que se meteu em muitas e graves confusões, a última delas com o caso Otília Diogo.
Na tentativa de trabalhar o mito de forma "limpa" e não mais diante de polêmicas, a Federação "Espírita" Brasileira fez as pazes com as Organizações Globo, num contexto comum: ambas defenderam o golpe de 1964 e a ditadura militar. A corporação da família Marinho chegou a denunciar as fraudes de Chico Xavier, mas passou a ser solidária a ele.
Desde o fim dos anos 1970, elementos do documentário de Muggeridge deram o roteiro para o mito de Xavier, similar ao de Madre Teresa (curiosamente ambos são abertamente comparados por seus seguidores).
Alguns desses elementos são o "filantropo" segurando bebê no colo, falando com velhinhos miseráveis, sendo recebido pela multidão, vendo crianças carentes tomando sopinha, acolhendo crianças em euforia, cumprimentando senhoras filantropas de classe média etc. Tudo em Chico Xavier foi inspirado no documentário sobre Madre Teresa de Calcutá.
É só observar as reportagens ou documentários sobre Chico Xavier feitos pela Rede Globo a partir do fim dos anos 70. Malcolm Muggeridge puro, ainda que com as devidas adaptações de contexto. E o mito do "bondoso médium" não saía de graça, esse mito era produzido pelo poder midiático mediante dois principais motivos.
Um era a crise político-institucional da ditadura militar. O mercado e a mídia fizeram manobras, em diversos sentidos, para evitar que, naqueles idos de 1977-1981, épocas de intensas crises sociais que desgastaram o poder ditatorial, ressurgissem manifestações como em 1963 e nos meses que antecederam o golpe de abril de 1964.
Sabe-se que, no lado pagão, o poder midiático financiou a bregalização cultural, que aos poucos passaram a ocupar redutos que eram das expressões culturais de qualidade, tirando as chamadas "boazudas" de revistas pornográficas de segunda categoria para programas de auditório, criando uma "escola" para as Solange Gomes, Geisy Arruda e Mulher Melão da vida.
No lado religioso, a ideia era trabalhar o "bom exemplo" de Chico Xavier, um católico fervoroso mas, como excomungado pela igreja e adotado pelo "movimento espírita", era uma pessoa considerada "ecumênica". Era uma forma tanto de "tranquilizar" uma sociedade tensa quanto para evitar a ascensão de pastores neopentecostais como Edir Macedo e R. R. Soares.
E foi só a Globo que fez isso? Não. Na campanha do Catolicismo e do "movimento espírita", se vê que o poderio midiático é representado também pelo SBT, do animador Sílvio Santos, e do Grupo Bandeirantes, da família Saad, em parte ligada ao corrupto ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros.
JOSÉ LUIZ DATENA E RACHEL SHEHERAZADE - Truculências moralistas em redes "espiritualizadas" como Band e SBT.
O SBT adaptou um concurso de premiação da BBC (a mesma do documentário de Muggeridge) e criou o Brasileiro do Ano. Em 2012, elegeu Chico Xavier como o Maior Brasileiro do Ano, numa lista de cem que incluiu até o apresentador José Luiz Datena, que comanda o Brasil Urgente (TV Bandeirantes), programa que explora a criminalidade e a violência como entretenimentos televisivos.
É o mesmo SBT que, mais tarde, contratou Rachel Sheherazade, jornalista evangélica cujo reacionarismo extremo a fez ser conhecida como a "Sarah Palin brasileira", em alusão à estadunidense filiada ao Partido Republicano e que integra o grupo neo-medieval Tea Party.
Uma vez, Rachel defendeu que "justiceiros" espancassem um menor que cometia pequenos roubos, que estava amarrado em um poste, no Rio de Janeiro. E isso num SBT que elege Chico Xavier no topo dos cem maiores brasileiros!
A TV Bandeirantes é conhecida por criminalizar os movimentos de agricultores sem-terras, por veicular o Brasil Urgente que espetaculariza a violência e que veiculou o reacionário humorístico CQC, hoje extinto (apesar das promessas de voltar ao ar em breve).
Pegando carona na Globo, SBT e Bandeirantes também veiculam reportagens sobre "mediunidade", "curas espirituais" e "curas milagrosas". Um pouco de Catolicismo propriamente dito, outro tanto de "espiritismo". Tudo dentro da mesma abordagem que evoca os ecos de Malcolm Muggeridge. Será que o espírito do jornalista inglês anda rondando tais emissoras?
Nos últimos anos, programas como Profissão Repórter e Fantástico (Rede Globo), Jornal da Band (TV Bandeirantes) e SBT Repórter (SBT) se empenham nessa campanha, apresentando programas que variam entre as "curas pela fé" e personalidades como Divaldo Franco. Nesta semana, o Jornal da Band apresenta uma série de reportagens sobre "curas milagrosas", baseado no factoide de Santos.
E isso ocorre porque é uma forma de fazer o espectador relaxar e ficar feliz com os arautos da esperança e do bem-estar do próximo, que inocentemente utilizam a grande mídia para propagar de maneira simples a sua linda mensagem? Não!
É só ver o outro lado. A Rede Record lidera a audiência televisiva com a adaptação em novela bíblica da saga de Moisés, Os Dez Mandamentos. A popularidade da novela bíblica despertou o sinal de alerta nas concorrentes ao derrubar o antes inabalável Jornal Nacional, mesmo nas televisões do Rio de Janeiro, antes ferreamente ligadas na Globo.
Daí que a Bandeirantes vai mostrar "curas espirituais" no momento em que Moisés, num espetáculo dramatúrgico, manda o mar se partir ao meio e envia gafanhotos para azucrinar o Faraó. Isso quando prepara o terreno para que Madre Teresa seja santificada por antecipação pela Band, SBT e Globo e abre caminho para uma canonização informal de Chico Xavier, sem depender da chancela do Vaticano.
No âmbito impresso, destaca-se a "polêmica" porém complacente adesão da revista Superinteressante - dedicada a curiosidades em geral - a Chico Xavier e ao "movimento espírita", sendo uma publicação da mesma Editora Abril famosa pelo reacionarismo extremo da revista Veja, que condenava todo tipo de movimentos sociais.
Dessa forma, a gente observa o quanto essa mídia reacionária, que produz seus Reinaldo Azevedo, José Luiz Datena, Rachel Sheherazade, Danilo Gentili, Merval Pereira e tantos outros, apoia tanto o "movimento espírita" e o Catolicismo. Não é um apoio casual nem inocente. Há interesses em jogo, tanto comerciais quanto ideológicos. Mas como, segundo a fé religiosa, o "amor tudo permite"...
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Gosta de Chico Xavier? Agradeça a Rede Globo!
A pretensa unanimidade em torno de Francisco Cândido Xavier aparentemente atinge fronteiras externas ao âmbito religioso católico e "espírita", envolvendo setores das esquerdas ou mesmo ateus. O mito da suposta filantropia de Chico Xavier torna-se o canto da sereia que seduz boa parte dos brasileiros.
A memória curta que atinge muitos brasileiros se esquece de que esse mito de "amor e bondade" foi construído em uma engenhosa campanha ideológica feita pela Federação "Espírita" Brasileira em parceria com as Organizações Globo.
O mito de Chico Xavier, que fez muita gente se esquecer que ele fez terríveis plágios e pastiches literários e usurpava os nomes dos mortos, sobretudo dos mortos falecidos que o "médium" transformava em fetiches, tornou-se a maior obsessão que escraviza almas em todo o Brasil.
Prisioneiras de retrógradas crenças religiosas, muitas delas de um deslumbramento em níveis medievais, os seguidores de Chico Xavier ignoram que tenham sido manipulados pelo poder da Rede Globo, que retrabalhou o mito do anti-médium no auge da ditadura militar.
É só observar o contexto da época. Governo do general Ernesto Geisel, crise político-institucional do regime militar - que recebia o apoio de Chico Xavier e da FEB desde a campanha pelo golpe consumado em 1964 - , e intensa turbulência política e social que ameaçava criar uma desordem nacional.
A sociedade conservadora reagia à sua maneira. O machismo com seus feminicídios conjugais, o coronelismo com sua pistolagem, os Esquadrões da Morte com sua "limpeza social", os jagunços urbanos eliminando sindicalistas, o crime organizado crescendo sob o patrocínio do Imperialismo e do livre comércio de armas.
Diante desse quadro de muita tensão social, seria ingênuo dizer que o mito de Chico Xavier veio para "trazer paz" para a nação. Grande engano. Um plagiador de livros e usurpador dos nomes dos mortos - o que ele fez de Humberto de Campos, só para citar um entre milhares de exemplos, é de uma leviandade sem tamanho - não poderia virar ídolo porque "só queria a paz".
Além disso, o processo foi tendencioso porque a fonte de toda essa mitificação de Chico Xavier nem foi original. Ela tomou como base o que o jornalista inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de 1969. A Rede Globo encampou a causa também por motivos tendenciosos.
Afinal, as seitas neopentecostais se multiplicavam através de dissidências da Igreja Nova Vida, fundada em 1960 pelo canadense radicado no Brasil, Robert McAllister, e a Globo, católica, não podia perder a briga com os evangélicos dessa vertente.
É claro que a Rede Globo não iria se limitar a cultuar padres e sacerdotes exclusivamente. Ela precisava de um ídolo religioso que fosse "ecumênico" e atingisse os mais diversos segmentos sociais, mesmo aqueles que não sentem simpatia pela rede televisiva.
REDE GLOBO ALCANÇA ATÉ QUEM DIZ ODIÁ-LA
O mito de Chico Xavier foi certeiro. Ele representava estereótipos que agradavam ao imaginário religioso conservador. Um velhinho humilde, frágil, devoto religioso, simpático e aparentemente indefeso, simbolizando valores e paradigmas que correspondem ao moralismo e a fé religiosa.
A Globo trabalhou o mito de Chico Xavier com os mesmos ingredientes de Muggeridge, através de veículos jornalísticos como Jornal Nacional, Fantástico e, principalmente, o Globo Repórter, programa que segue o estilo documentário, mesmo gênero do filme sobre a Madre Teresa.
É só observar as aparições de Chico Xavier: ele recebido pela multidão, abraçando bebês no colo, cumprimentando miseráveis, vendo crianças carentes tomando sopa. Tudo isso é igual ao que Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá. O jornalista inglês deveria ter seu crédito reconhecido pelo mito de Chico Xavier.
Aliás, se os seguidores de Chico Xavier o endeusam tanto, deveriam endeusar também Roberto Marinho e Malcolm Muggeridge. Deveriam imprimir os retratos do empresário da Globo e do jornalista da BBC e colocá-los como santinhos para orações diárias. O "milagre" da Rede Globo em influenciar até aparentes detratores é grande e não envolve só Chico Xavier.
O "funk carioca", por exemplo, nada seria se não fosse a influência da Rede Globo. Muita gente insiste até hoje que o ritmo "surgiu nas periferias" - só falta dizer que o "funk" nasceu no Quilombo dos Palmares, no século XVIII, o que é absolutamente ridículo - , mas a verdade é que ele nasceu dos escritórios da Globo em reuniões com os empresários e também DJs do ritmo, que desde os primórdios tiveram parcerias com veículos da emissora.
A gíria "balada", que contaminou o imaginário juvenil, ultrapassando os limites da juventude frequentadora de boates e ouvinte de dance music, muitos imaginavam ser um jargão "genial" e "corajosamente juvenil" que ultrapassava os limites do tempo e do espaço, contrariando a natureza originalmente provisória e grupal de uma giria, mal conseguiam imaginar que era um produto de mídia.
A popularização da gíria "balada" - uma gíria sem pé nem cabeça que pode denominar tanto uma festa com DJs como um jantar entre amigos - se deu porque um conhecido empresário e divulgador dos agitos noturnos de São Paulo, Luciano Huck, era apresentador de um programa da Jovem Pan FM e depois virou um destacado astro da Rede Globo.
Ele havia feito uma parceria com o empresário da JP, Tutinha, para divulgar a gíria "balada" como um teste para ver como eles podiam influenciar a juventude. Assim, a popularização da gíria "balada" (palavra cujo sentido original nada tinha a ver com agitos noturnos) se deu através de uma combinada parceria entre a Jovem Pan FM e a Rede Globo. Ultimamente a JP também é conhecida por contratar jornalistas reacionários para comentar em programas informativos.
Esses episódios, assim como tantos outros, mostram o caráter perigoso que é o poder das Organizações Globo, que influenciam até quem não parece ter simpatia com a empresa e diz repudiar esse poder. Se alguém fala mal do Domingão do Faustão e fica dizendo a gíria "galera" o tempo todo, pode ter certeza que ele está influenciado pelo programa que diz desejar.
Isso é sério, porque, se um veículo dominante de comunicação é capaz de manipular não só as mentes que lhe são submissas, mas também aquelas que dizem repudiar seu poder, então a coisa se torna bem mais preocupante, porque indica um poder ainda maior de um veículo de comunicação e um alcance de manipulação que pega desprevenidos aqueles que dizem rejeitar o seu domínio.
E é assim que manobras da Rede Globo se infiltram no inconsciente coletivo como se viessem da própria sociedade. O que é planejado e elaborado por publicitários, produtores e psicólogos a serviço das Organizações Globo, nas quatro paredes de seus escritórios e salas, acaba sendo vista como algo surgido "espontaneamente" do imaginário popular.
Repetimos. Isso é muito grave. Seja uma gíria, seja um ritmo comercial, seja uma figura como Chico Xavier. Isso porque o que acaba se observando é que a Rede Globo acabou substituindo as consciências de muitos brasileiros, que só "decidem" as coisas com o toque do plim-plim.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
"Santo" recebe por comissão?
O episódio do "milagre" atribuído a Madre Teresa de Calcutá é um episódio estranho. Não se revelou a identidade do engenheiro beneficiado. Só tardiamente ele foi revelado como Marcílio Haddad Andrino.
Também não se precisou a data. Falou-se que ele tinha uma hidrocefalia, estava em estado terminal e, no dia seguinte, saiu curado por causa de uma medalhinha. E os médicos, em unanimidade, afimaram que a cura seria "impossível" em condições normais.
Estranha a história, de um suposto caso ocorrido em 2008. E que compensou a farsa do "milagre" de anos antes, quando Monica Besra, indiana que sofria de câncer no ovário, foi curada não por causa da medalha de Madre Teresa, mas por conta de um tratamento regular com medicamentos prescritos.
E por que o caso ocorreu no Brasil? Claro, aqui se legitimam quadros falsos quando feitos "em nome da espiritualidade" e sob o pretexto de garantir o "pão dos pobres". Madre Teresa de Calcutá, "derrubada" por denúncias sérias sobre aspectos sombrios de sua vida, tinha que apelar para o Brasil ainda complacente com as cegueiras da fé e "renascer" numa suposta cura aceita pelo Vaticano.
Ser "santo" é garantia de superioridade espiritual? Nem de longe! O título é uma concessão terrena e material dada por elites de sacerdotes ao longo dos tempos. É uma promoção que só vale para a Terra, no além-túmulo não tem a menor serventia e nem o espírito se torna melhor ou pior por causa desse título tão terreno.
O título nem tem essa nobreza, porque, na prática, mais parece uma promoção de loja. O sujeito que convencer mais fregueses a aceitar comprar em sua loja ganha uma comissão por isso. O religioso falecido que atender supostos milagres também ganha "comissão". É a "santidade", um título de promoção igual ao de um vendedor que finalmente consegue o posto de gerente.
O que chama a atenção no Brasil é essa preferência por curas difíceis feitas sem motivo. As curas "inexplicáveis" são muito mais comemoradas do que descobertas de curas por cientistas, que são as curas "explicadas".
Por trás de curas "milagrosas" feitas pelas orações católicas ou por "cirurgias espirituais" esconde um processo muito grave e preocupante. É a rebelião da Fé contra a Ciência, é a intromissão da fé religiosa sobre a área do conhecimento científico, e a tentativa de submeter as curas de doenças graves ao obscurantismo religioso, em vez do esclarecimento científico.
Dando preferência às supostas curas "sem explicação" e feitas sob a "luz da fé religiosa", em detrimento ao trabalho árduo de cientistas para estudos de curas para doenças graves, o que se observa são dados que não são tão positivos assim:
1) As curas "pela fé", sejam católicas, "espíritas" ou similares, são sempre seletivas, correspondendo a casos isolados e diferenciais. A cura "sem qualquer explicação" deslumbra e fascina muitos, mas ela sempre estabelece restrições e costuma beneficiar apenas beatos que se sentem subordinados pela fé religiosa.
2) As curas "pela fé" refletem o desprezo pelo trabalho científico, mesmo quando, diante do malabarismo das palavras ditas ou escritas pelos "espíritas", este seja visto como "atividade necessária e digna de muita admiração e respeito".
A Ciência, aliás, é vista pelos "espíritas" como "digna de muita admiração e respeito" desde que se limite a aprovar a fé religiosa. A fé religiosa pode intervir sobre a Ciência e competir na busca de curas "difíceis", ou atribuir falsas façanhas científicas a ídolos religiosos. Mas a Ciência está proibida de questionar a fé religiosa e seus totens e mitos.
E aí o Brasil festeja a "canonização" de Madre Teresa de Calcutá que, por trás da imagem de "santa viva" enquanto, obviamente, ela estava viva, ignorando que ela poderia muito bem ter curado os doentes graves que alojou feito animais no abatedouro. Não fez.
Talvez o mérito de "santidade" fosse mais coerente se todos os infortunados abrigados por ela tivessem sido curados como o suposto engenheiro de Santos. Só que não. E a Madre Teresa de Calcutá vai virar "santa" com os "espíritas" se somando aos aplausos dos devotos da freira albanesa.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Há mais altruísmo nas pesquisas científicas do que nas "curas milagrosas"
Com o recente caso da canonização de Madre Teresa de Calcutá, atribuída a uma suposta cura "milagrosa" de um brasileiro, que abafou as denúncias sobre suas irregularidades trazidas por Christopher Hitchens, revela o embate entre fé religiosa e conhecimento científico, num país como o Brasil, ainda incipiente para entender problemas que o Velho Mundo sofreu há séculos.
O Brasil ainda está apegado a muitos conceitos místicos, a estereótipos de "amor e bondade", e sofre a insegurança de abrir mão da idolatria de totens consagrados para buscar a lógica e a coerência dos fatos. "Danem-se os fatos, o que importa é o sonho e a esperança", defendem tais pessoas.
Muitas pessoas no Brasil ainda se revoltam - sim, se revoltam - quando algum questionamento vai contra totens religiosos consagrados e desafiam estigmas de "amor e bondade" que muitas pessoas acreditam.
Daí que, no "espiritismo", as pessoas se revoltam, irritadas, quando alguém chama de "missa" o projeto "Você e a Paz" de Divaldo Franco ou se contesta a veracidade das "psicografias" de Parnaso de Além-Túmulo e dos livros "mediúnicos" que usam o nome de Humberto de Campos.
Houve comentários absurdos na Internet, relacionados ao "espiritismo" no Brasil, em que as pessoas reclamavam do "excesso de lógica" da obra de Allan Kardec ou o apelo, um tanto jocoso, de um internauta que disse "deixa Chico Xavier ser charlatão, pelo menos ele ajuda muita gente".
O perigo de surgir um "Estado Islâmico" nos apegos do deslumbramento religioso são muito grandes. Não é só o caso de uma Síria, um Irã ou um Iraque, redutos atuais desse fanatismo, ou de iniciativas como o fascista e medieval Klu Klux Klan nos EUA, mas o avanço da "dócil" histeria religiosa que no Brasil não aceita qualquer contrariedade.
Diante de casos "milagrosos", como as "curas" ligadas ao Catolicismo e ao "espiritismo", em que doenças graves desaparecem "porque sim", é preocupante que a fé tenha que estabelecer sua supremacia sobre a realidade e que impõe os estereótipos de "amor e bondade" para que sua "beleza" na forma domine as pessoas, que nunca abrirão mão desse deslumbramento místico.
"MILAGRES" SÃO MAIS "SELETIVOS" QUE OS ESTUDOS CIENTÍFICOS
Será que ninguém observou que os "milagres" tendem a ser mais "seletivos" nos benefícios do que os estudos científicos, estes o mais insólito, porém mais realista, reduto potencial de solidariedade e ajuda ao próximo, descontando os trabalhos científicos que sejam feitos de maneira maliciosa ou perniciosa, que não são maioria e se servem mais ao obscurantismo do que ao conhecimento.
Os trabalhos científicos que se apoiam na busca do conhecimento são os que mais estabelecem solidariedade, mais do que meros procedimentos individuais de rezar a um santo para pedir a cura de uma doença grave. Afinal, o processo religioso, que é fundamentado na "legitimação" de fenômenos "sem qualquer explicação", não busca o altruísmo pleno, e segue procedimentos não muito generosos.
Em primeiro lugar, os "milagres" são consequentes de um tipo de submissão. Submete-se a um santo de sua preferência e ele "lhe concede o favor". Em vez de buscar soluções lógicas para algo, ela surge "pronta" e obtida "de repente", o que parece algo urgente e merecido diante de situações de muita necessidade, mas não é.
Afinal, não é a necessidade em si que se leva em conta. Tudo é condicionado à submissão a um santo. Ou, no caso do "espiritismo", ao trabalho dos "espíritos benfeitores". Daí que ocorre o caráter "seletivo" do benefício. Se a pessoa é submissa a um santo ou "amigo de luz", ganha o prêmio. Caso contrário, que ela se dane.
Por isso existem casos em que pessoas buscam a mesma devoção e não têm o mesmo benefício. E, o que é pior, os religiosos ainda se arrogam a dizer que o benefício não foi obtido porque "houve pouca fé" e "a devoção foi fraca".
Há um desvio de foco em relação à natureza do necessitado, que fica em segundo plano, e até o benefício "milagroso" ocorre não em razão da necessidade do infortunado, mas do modo em que ele ou seus familiares e amigos mais próximos se devotam a santos e "amigos de luz" de sua preferência.
O "milagre", portanto, subestima as necessidades humanas. Elas se reduzem a um veículo para a popularidade de um santo ou "amigo de luz". O beneficiado é só um beneficiado, o que importa é que o "milagre" aumentou a popularidade do santo ou "amigo de luz" e a "quota milagrosa" garante ao figurão religioso o prêmio da canonização ou a "legitimação" informal da "superioridade espiritual".
Na Ciência, ocorre algo bem mais bonito. Pesquisadores realizam um estudo sobre determinada doença ou sobre um problema cotidiano, no caso as Ciências Humanas. Buscam-se livros e teses para serem lidas e confrontadas. Discutem-se problemas e questões e buscam-se respostas com um máximo de coerência e lógica. Testam-se procedimentos e soluções dotadas de certo risco, para que se obtenham respostas concretas para tais problemas.
Os investimentos inexpressivos que os cientistas recebem para estudar doenças graves é inversamente proporcional ao apoio festivo que se tem quando essas mesmas enfermidades são "curadas" de forma "inexplicável" por causa de uma devoção a um santo ou "amigo de luz". Isso revela uma grande injustiça e deprecia o trabalho científico, que ainda busca racionalizar os recursos para realizar seus trabalhos com um mínimo de agilidade possível.
Quanto deve custar uma medalha de um santo ou um folheto com o retrato de um ídolo "espírita"? Em muitos casos, nada. Por outro lado, cientistas precisam de dinheiro para criar e sustentar cobaias, para viajar para pesquisar livros e locais de estudos, gastam papel para elaborar teses, e ainda vão aqui e ali para realizar entrevistas e outros trabalhos.
Pesquisadores trocam ideias, refazem trabalhos, arriscam procedimentos para estudar curas e outras soluções, e, não bastassem receber poucos recursos financeiros, ainda não contam com o apoio da sociedade, num contexto em que esta ainda é manipulada pela grande mídia, responsável por perpetuar as fantasias e preconceitos da fé religiosa.
A ideia de "milagre" é preconceituosa, porque, na medida em que se apoia num fenômeno ocorrido sem explicação, ela se apoia justamente nesse princípio, o de forjar uma certeza em algo que não tem um conceito, o "milagre" é uma ideia pré-concebida de um benefício obtido.
E é isso que se deve saber. A Ciência mostra exemplos de solidariedade e altruísmo bem maiores do que a fé religiosa, porque o trabalho científico une um grupo de pessoas que atua em prol do conhecimento e da busca de respostas e soluções para problemas de grande gravidade.
Já a fé no "milagre" é "seletiva", porque se apoia não na necessidade urgente de uma pessoa, mas na devoção e submissão a um ícone religioso para o êxito de um benefício. E nem todos são beneficiados da mesma forma, pois não há um mesmo "milagre" para todos, o que compromete o valor altruísta tão comumente atribuído a ele.
domingo, 20 de dezembro de 2015
Suposto milagre faz Vaticano marcar canonização de Madre Teresa de Calcutá
CHRISTOPHER HITCHENS INVESTIGOU E ENCONTROU IRREGULARIDADES NA TRAJETÓRIA DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ.
Depois de tantos anos barrado por polêmicas referentes a um milagre que não existiu, um outro suposto milagre atribuído a Madre Teresa de Calcutá fez o Vaticano decidir por sua canonização, que já tem data marcada, em setembro de 2016.
O processo foi encaminhado pelo Padre Caetano Rizzi, de Santos, com base num suposto caso ocorrido em 2008 com um homem morador de Santos, cidade do litoral paulista. Ele estava passando uma lua-de-mel com a mulher em Gramado, no Rio Grande do Sul, quando se sentiu mal, foi levado ao médico e diagnosticado com hidrocefalia, excesso de líquido no cérebro.
Transferido às pressas para um hospital em Santos, o paciente estava inconsciente. Foram diagnosticadas oito infecções no cérebro. Uma cirurgia de drenagem chegou a ser marcada para o dia seguinte, mas assim que esse dia veio o homem já se sentia curado e tomou o café sozinho.
A esposa do homem foi para a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em São Vicente, falou com um padre e disse que o marido estava em estado terminal. O padre lhe deu uma medalha da Madre Teresa de Calcutá e ela decidiu colocá-la no travesseiro onde o marido estava internado. Ela voltou para casa e orou para a freira albanesa.
Membros da Ordem dos Médicos, meses depois, teriam realizado um exame e constataram que a suposta cura era "cientificamente inexplicável" e, por unanimidade, reconheceram que era um "milagre" de Madre Teresa. Outras 14 testemunhas foram entrevistadas, além do padre Rizzi. Um documento de 400 páginas foi enviado para o Vaticano.
A estória foi relembrada numa época em que foi lançado, nos EUA, o filme The Letters, que mostra a vida de Madre Teresa com ênfase nas cartas que ela escreveu no decorrer de 40 anos. O episódio também tenta compensar um "fracasso" de um suposto milagre que depois foi comprovadamente contestado.
Foi em 2002, quando houve o caso da indiana Monica Besra, que havia sido diagnosticada com um câncer. Ela sentia dores abdominais intensas e os médicos identificaram tuberculose e tumor no quisto dos ovários. Foi colocada uma medalha da Madre Teresa sobre seu abdome e ela foi curada, mas não por conta do milagre, mas porque seu tumor era pequeno e pôde ser curado com o uso regular de medicamentos.
Até que ponto o caso do homem de Santos, cuja identidade não foi revelada, teria realmente sofrido a hidrocefalia? Ele não teria tomado um medicamento que teria causado a cura? Ou houve algum mal entendido quanto aos resultados do exame ou às sensações do paciente?
HISTÓRICO SOMBRIO
A madre albanesa que está prestes a virar santa é a mesma que alojou pobres e enfermos de qualquer maneira, lhes dava apenas aspirina ou paracetamol para aliviar as dores e permitia o uso de poucas seringas que, usadas, só eram "lavadas" com água de torneira e reutilizadas depois, algo que normalmente se vê em usuários de drogas que compartilham seringas infectadas.
O jornalista Christopher Hitchens (1949-2011) investigou as "casas dos moribundos" de Madre Teresa de Calcutá e observou irregularidades diversas, como as descritas acima. O que ele constatou foi publicado tanto no livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), de 1995, e no documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), de 1997.
"Madre Teresa não é amiga dos pobres. Ela é amiga da pobreza. Ela disse que o sofrimento era um presente de Deus. Ela passou sua vida se opondo à única cura conhecida para a pobreza, que é o poder das mulheres e sua emancipação de uma forma animal de reprodução compulsória", afirma Hitchens.
Embora o livro de 1995 tenha revoltado a Igreja Católica, pesquisas posteriores comprovaram dados sombrios de Madre Teresa: sua cumplicidade com tiranos políticos e magnatas corruptos, a falta de cuidado no alojamento dos pobres e doentes, e suas opiniões conservadoras a respeito de aborto e família, não bastasse a Teologia do Sofrimento que diz que "sofrer é lindo".
Um grupo de acadêmicos do Canadá comprovou esses dados, diferente do que fazem os acadêmicos das universidades brasileiras, sempre buscando respaldar ícones religiosos. Sem temer idolatrias religiosas, as pesquisas acadêmicas buscam nos fatos e na lógica o sentido de veracidade, enquanto no Brasil o preocupante apego à fé impõe limites ao raciocínio investigativo de muitos.
Aliás, por que foi no Brasil que o suposto milagre aconteceu? Por que aqui o raciocínio é quase sempre visto como um mal, ou como uma "virtude" a ser domada pelas rédeas da fé e da mistificação religiosa?
Isso se mostra tão preocupante que vemos um caso aberrante de Francisco Cândido Xavier, que de plagiador e imitador de estilos literários passou a ser visto como "super-médium" e um "santo" informalmente declarado, sem a chancela do Vaticano, mas sob a histeria de seguidores fanáticos tão exaltados e deslumbrados quanto os católicos.
Pessoalmente, nada temos contra Madre Teresa de Calcutá. Mas, diante de fatos que comprovam suas irregularidades, temos que admiti-las com imparcialidade e sem complacência, sem a "peninha" com que se sente diante de totens religiosos que parecem intimidar as pessoas com seu aparato de pretensos amor, bondade, caridade e humildade.
Se Madre Teresa alojou os pobres e doentes sem qualquer cuidado e não lhes dava o devido socorro, se ela pregava que o sofrimento era uma "bênção", se ela chegou a elogiar a "vocação pacifista" de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, enquanto este mandava assassinar ativistas sociais de qualquer tipo - até padres e freiras progressistas - , na América Central, não podemos consentir com a imagem de "santa viva" que teve Madre Teresa de Calcutá.
É como fazemos com Chico Xavier, que cometeu plágios e pastiches literários que temos que admitir devido a comparações sérias que apresentam aberrantes disparates entre o que os alegados autores fizeram em vida e as obras tidas como "espirituais". Um Humberto de Campos falando como padre é inadmissível! E não podemos nos omitir por causa da imagem de "bonzinho" de Chico Xavier.
Chico e Teresa, além disso, eram adeptos fervorosos da Teologia do Sofrimento. Eles sempre defenderam que os sofredores não deveriam reclamar, que deveriam aceitar os infortúnios de bom grado, em nome de uma recompensa futura, geralmente póstuma, da qual não se sabe como é e nem se sabe se realmente haverá.
Isso é muito grave. E ver que a Madre Teresa de Calcutá, mesmo permitindo que se usem seringas infectadas para o tratamento dos enfermos, será canonizada. Até que ponto os padres da Terra, os sacerdotes, com seus critérios materiais, podem decidir se fulano é "superior" ou não, isso é absolutamente duvidoso.
Mas isso não difere muito do "espiritismo" brasileiro que permite que se façam cirurgias espirituais com tesouras enferrujadas e sujas, mediante consentimento de muitos que comemoram milagres e curas "espirituais" como se fosse a vitória da Fé sobre a Ciência.
Daí que, diante dessas curas "milagrosas", o que existe é, na verdade, um grande conflito. É a Fé querendo ser mais curadora de doenças do que a Ciência, impedindo que se realizem estudos sérios para descobrir a cura de doenças graves.
Desta forma, a religião faz um grande prejuízo aos cientistas, que com todo seu trabalho de estudos e pesquisas, não conseguem ter dinheiro suficiente para levarem adiante pesquisas que levassem a descobertas de curas e tratamentos. Enquanto isso, se é a fé religiosa que "realiza curas", a sociedade dá maior apoio e, se possível, lhe investirá com o dinheiro que falta tanto aos nossos cientistas.
Depois de tantos anos barrado por polêmicas referentes a um milagre que não existiu, um outro suposto milagre atribuído a Madre Teresa de Calcutá fez o Vaticano decidir por sua canonização, que já tem data marcada, em setembro de 2016.
O processo foi encaminhado pelo Padre Caetano Rizzi, de Santos, com base num suposto caso ocorrido em 2008 com um homem morador de Santos, cidade do litoral paulista. Ele estava passando uma lua-de-mel com a mulher em Gramado, no Rio Grande do Sul, quando se sentiu mal, foi levado ao médico e diagnosticado com hidrocefalia, excesso de líquido no cérebro.
Transferido às pressas para um hospital em Santos, o paciente estava inconsciente. Foram diagnosticadas oito infecções no cérebro. Uma cirurgia de drenagem chegou a ser marcada para o dia seguinte, mas assim que esse dia veio o homem já se sentia curado e tomou o café sozinho.
A esposa do homem foi para a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em São Vicente, falou com um padre e disse que o marido estava em estado terminal. O padre lhe deu uma medalha da Madre Teresa de Calcutá e ela decidiu colocá-la no travesseiro onde o marido estava internado. Ela voltou para casa e orou para a freira albanesa.
Membros da Ordem dos Médicos, meses depois, teriam realizado um exame e constataram que a suposta cura era "cientificamente inexplicável" e, por unanimidade, reconheceram que era um "milagre" de Madre Teresa. Outras 14 testemunhas foram entrevistadas, além do padre Rizzi. Um documento de 400 páginas foi enviado para o Vaticano.
A estória foi relembrada numa época em que foi lançado, nos EUA, o filme The Letters, que mostra a vida de Madre Teresa com ênfase nas cartas que ela escreveu no decorrer de 40 anos. O episódio também tenta compensar um "fracasso" de um suposto milagre que depois foi comprovadamente contestado.
Foi em 2002, quando houve o caso da indiana Monica Besra, que havia sido diagnosticada com um câncer. Ela sentia dores abdominais intensas e os médicos identificaram tuberculose e tumor no quisto dos ovários. Foi colocada uma medalha da Madre Teresa sobre seu abdome e ela foi curada, mas não por conta do milagre, mas porque seu tumor era pequeno e pôde ser curado com o uso regular de medicamentos.
Até que ponto o caso do homem de Santos, cuja identidade não foi revelada, teria realmente sofrido a hidrocefalia? Ele não teria tomado um medicamento que teria causado a cura? Ou houve algum mal entendido quanto aos resultados do exame ou às sensações do paciente?
HISTÓRICO SOMBRIO
A madre albanesa que está prestes a virar santa é a mesma que alojou pobres e enfermos de qualquer maneira, lhes dava apenas aspirina ou paracetamol para aliviar as dores e permitia o uso de poucas seringas que, usadas, só eram "lavadas" com água de torneira e reutilizadas depois, algo que normalmente se vê em usuários de drogas que compartilham seringas infectadas.
O jornalista Christopher Hitchens (1949-2011) investigou as "casas dos moribundos" de Madre Teresa de Calcutá e observou irregularidades diversas, como as descritas acima. O que ele constatou foi publicado tanto no livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), de 1995, e no documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), de 1997.
"Madre Teresa não é amiga dos pobres. Ela é amiga da pobreza. Ela disse que o sofrimento era um presente de Deus. Ela passou sua vida se opondo à única cura conhecida para a pobreza, que é o poder das mulheres e sua emancipação de uma forma animal de reprodução compulsória", afirma Hitchens.
Embora o livro de 1995 tenha revoltado a Igreja Católica, pesquisas posteriores comprovaram dados sombrios de Madre Teresa: sua cumplicidade com tiranos políticos e magnatas corruptos, a falta de cuidado no alojamento dos pobres e doentes, e suas opiniões conservadoras a respeito de aborto e família, não bastasse a Teologia do Sofrimento que diz que "sofrer é lindo".
Um grupo de acadêmicos do Canadá comprovou esses dados, diferente do que fazem os acadêmicos das universidades brasileiras, sempre buscando respaldar ícones religiosos. Sem temer idolatrias religiosas, as pesquisas acadêmicas buscam nos fatos e na lógica o sentido de veracidade, enquanto no Brasil o preocupante apego à fé impõe limites ao raciocínio investigativo de muitos.
Aliás, por que foi no Brasil que o suposto milagre aconteceu? Por que aqui o raciocínio é quase sempre visto como um mal, ou como uma "virtude" a ser domada pelas rédeas da fé e da mistificação religiosa?
Isso se mostra tão preocupante que vemos um caso aberrante de Francisco Cândido Xavier, que de plagiador e imitador de estilos literários passou a ser visto como "super-médium" e um "santo" informalmente declarado, sem a chancela do Vaticano, mas sob a histeria de seguidores fanáticos tão exaltados e deslumbrados quanto os católicos.
Pessoalmente, nada temos contra Madre Teresa de Calcutá. Mas, diante de fatos que comprovam suas irregularidades, temos que admiti-las com imparcialidade e sem complacência, sem a "peninha" com que se sente diante de totens religiosos que parecem intimidar as pessoas com seu aparato de pretensos amor, bondade, caridade e humildade.
Se Madre Teresa alojou os pobres e doentes sem qualquer cuidado e não lhes dava o devido socorro, se ela pregava que o sofrimento era uma "bênção", se ela chegou a elogiar a "vocação pacifista" de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, enquanto este mandava assassinar ativistas sociais de qualquer tipo - até padres e freiras progressistas - , na América Central, não podemos consentir com a imagem de "santa viva" que teve Madre Teresa de Calcutá.
É como fazemos com Chico Xavier, que cometeu plágios e pastiches literários que temos que admitir devido a comparações sérias que apresentam aberrantes disparates entre o que os alegados autores fizeram em vida e as obras tidas como "espirituais". Um Humberto de Campos falando como padre é inadmissível! E não podemos nos omitir por causa da imagem de "bonzinho" de Chico Xavier.
Chico e Teresa, além disso, eram adeptos fervorosos da Teologia do Sofrimento. Eles sempre defenderam que os sofredores não deveriam reclamar, que deveriam aceitar os infortúnios de bom grado, em nome de uma recompensa futura, geralmente póstuma, da qual não se sabe como é e nem se sabe se realmente haverá.
Isso é muito grave. E ver que a Madre Teresa de Calcutá, mesmo permitindo que se usem seringas infectadas para o tratamento dos enfermos, será canonizada. Até que ponto os padres da Terra, os sacerdotes, com seus critérios materiais, podem decidir se fulano é "superior" ou não, isso é absolutamente duvidoso.
Mas isso não difere muito do "espiritismo" brasileiro que permite que se façam cirurgias espirituais com tesouras enferrujadas e sujas, mediante consentimento de muitos que comemoram milagres e curas "espirituais" como se fosse a vitória da Fé sobre a Ciência.
Daí que, diante dessas curas "milagrosas", o que existe é, na verdade, um grande conflito. É a Fé querendo ser mais curadora de doenças do que a Ciência, impedindo que se realizem estudos sérios para descobrir a cura de doenças graves.
Desta forma, a religião faz um grande prejuízo aos cientistas, que com todo seu trabalho de estudos e pesquisas, não conseguem ter dinheiro suficiente para levarem adiante pesquisas que levassem a descobertas de curas e tratamentos. Enquanto isso, se é a fé religiosa que "realiza curas", a sociedade dá maior apoio e, se possível, lhe investirá com o dinheiro que falta tanto aos nossos cientistas.
sábado, 19 de dezembro de 2015
Allan Kardec rejeita tese defendida por Divaldo Franco
DIVALDO FRANCO FINGINDO QUE SEGUE AS LIÇÕES DE ALLAN KARDEC.
Hoje, dia do evento "Você e a Paz", missa "ecumênica" comandada pelo anti-médium baiano Divaldo Pereira Franco e que promete "a paz mundial" com uma simples retórica religiosa e rebuscada de sua atração principal, sugere uma reflexão bastante delicada.
Afinal, algumas correntes do "movimento espírita" acreditam que, se Francisco Cândido Xavier, o "popular" Chico Xavier, desviou de maneira explícita dos ensinamentos kardecianos, Divaldo Franco parecia mais "exemplar" e "correto" nas lições do professor lionês.
Só que isso consiste numa grande ilusão. Divaldo Franco deturpou tanto a Doutrina Espírita quanto Chico Xavier. Os dois nunca aprenderam de maneira devida as lições trazidas por Allan Kardec, e o que difere é a maneira com que o mineiro e o baiano fizeram na deturpação dos ensinamentos kardecianos. De toda forma, nenhum dos dois deveria ser considerado seguidor de Kardec.
Divaldo Franco apenas possui um verniz mais caprichado. Chico Xavier era confuso e contraditório, e muito mais explícito nas suas pregações igrejistas. Além disso, sua alta visibilidade foi obtida sob o preço de escândalos e polêmicas, de maneira indiscreta e conflituosa, o que faz com que seja mais fácil contestar o "kardecismo" de Chico Xavier do que o "kardecismo" de Divaldo Franco.
O verniz "espírita" de Divaldo Franco se apoia numa postura aparentemente elegante, com um ar professoral que lembra os antigos professores dos anos 1940, dotados de discurso rebuscado e pretensa erudição intelectual.
Além disso, se Chico Xavier trabalhou seu mito mais pela "humildade" e pela suposta força de um "velhinho frágil e bondoso", Divaldo Franco trabalha seu mito pelo estereótipo do pretenso sábio, que se supõe ter as respostas prontas para todos os assuntos, o que, diante da complexidade da vida humana, é uma tarefa impossível de ser feita, indicando que a "sabedoria" do "médium" baiano não é mais do que simples pose.
Duas das provas que Divaldo Franco contraria Allan Kardec se referem a duas manias que fazem o anti-médium baiano contradizer o professor lionês: o apreço que Divaldo tem por previsão de datas determinadas e sua crença na fantasiosa ideia de "crianças especiais", sejam "índigos" ou "cristais".
Ambas as ideias foram duramente combatidas por Allan Kardec, por representarem incoerências sérias e aberrações sem qualquer tipo de lógica. No decorrer de sua obra, Kardec sempre alertou que não existem tipos "diferenciados" de pessoas nem datas "determinadas" para a ocorrência de progressos na humanidade.
Quanto ao mito das "crianças-índigo" e "crianças-cristais", Kardec rejeitaria de imediato, porque, embora ele admita que, em determinado estágio da humanidade, possam surgir pessoas de elevada formação moral e intelectual, é inadmissível enquadrá-las em grupos "diferenciados", até porque podem sugerir discriminação.
Diz Kardec no livro A Genese, que na falta de, no momento deste texto, um exemplar da tradução de Herculano Pires, recorremos a nós mesmos ao original francês e publicarmos tradução por conta própria:
"A nova geração, destinada a iniciar a era do progresso moral, distingue-se pela inteligência e pela razão adquiridas geralmente cedo, somadas ao senso inato a respeito do bem e das crenças espiritualistas, que é o sinal inconfundível de um certo grau de progresso anterior. Ela não se compõe exclusivamente de espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e capaz de ajudar no andamento da regeneração".
Em nenhum momento Kardec rotulou tais espíritos deste ou daquele nome, se limitando apenas a dizer suas qualidades, verificando não os conceitos místicos de evolução espiritual, mas aspectos sociais de evolução moral e intelectual.
Além disso, os critérios de "índigo" e "cristais" são tão confusos que tais rótulos podem corresponder tanto a jovens cientistas como a membros de torcidas organizadas, ou intelectuais precoces e troleiros irresponsáveis, além do fato de que doenças como TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), que se manifestam por surtos de desatenção de pessoas inteligentes mas sobrecarregadas, que às vezes as impelem a pequenas gafes ou trabalhos incompletos, como "qualidades positivas".
Portanto, não se trata de atribuir a uma "divindade interplanetária" chamada Kryon - figura tão fictícia e ridícula quanto o Xenu dos cientologistas - a evolução de determinadas pessoas, até porque muitas das qualidades das almas evoluídas podem ser obtidas através da educação e de um ambiente social saudável.
O mal-entendido do "movimento espírita" que atribui a Kardec a confirmação das "crianças astrais" (sejam "índigos", "cristais" ou, em outra variante, "estrelas") ignora que o pedagogo francês, pelo seu método de raciocínio científico e pela forma de analisar a humanidade, não iria discriminar em rótulos de que natureza for as gerações de pessoas diferenciadas moral e intelectualmente.
Portanto, é correto afirmar que Allan Kardec rejeitaria tais rótulos, em vez de confirmá-los, porque ele sabe muito bem que não é da natureza da humanidade tais rótulos, até pelo fato de que, separando as pessoas mais evoluídas em um rótulo, promove-se uma discriminação e, em contrapartida, se atribuirá às mesmas um caráter de anormalidade impróprios da natureza humana.
O "movimento espírita", que não aprecia individualidades e adota uma ideologia conservadora, é que costuma discriminar essas pessoas "especiais" tanto pelos critérios de agrupamentos quanto pela ideia "anormal" de evolução moral e intelectual (se bem que limitados ao juízo de valor religioso "espírita").
Na visão dos "espíritas", a definição de "crianças astrais" seria uma forma de juntar coletivamente, como que fazendo um gado bovino, de pessoas que não corresponderiam aos padrões de "normalidade" esperados pela sociedade convencional.
Quanto aos planetas chupões, Kardec nunca acreditou nisso e, em A Gênese, ele se limitava a admitir que a Terra sofreria uma evolução lenta e gradual da humanidade, sem haver qualquer fantasia de planeta "aspirador de pó" que "chupasse" a "gente ruim" da orbe terrestre. Kardec acreditava que a humanidade só se evoluiria pelo natural processo das evoluções sociais que conhecemos.
DIVALDO E SUAS DATAS CERTINHAS
O outro aspecto corresponde ao joguinho de falsa profecia, que é o de determinar datas certas como supostos marcos de evolução da humanidade, geralmente inspiradas em efemérides que o "movimento espírita" sente maior simpatia e apreço.
Sabe-se que o livro A Caminho da Luz, de Chico Xavier, ditado pelo esperto Emmanuel, anunciava "marcos" de evolução da Terra, como o surgimento do planeta, a vinda de Jesus ao mundo carnal terreno e uma "outra reunião" que, segundo conversas do anti-médium com Geraldo Lemos Neto, em 1986, se deu num sonho de 1969 tido após a notícia da viagem de astronautas à Lua, que daria numa "data-limite" para o "progresso da humanidade".
A tal "data-limite" escolhida foi 2019, e o "movimento espírita" já determinou "datas fixas" para supostas profecias que nunca ocorreram. Houve atribuições diversas, como 1952, 1970, 2000 e 2012, entre abordagens catastrofistas e outras igrejistas, que simplesmente não passaram de grandes bobagens para assustar crianças e adultos infantilizados.
Divaldo Franco parece estar tranquilo com seus desvarios de falso profeta, quando afirma, com discurso rebuscado e pseudo-racional, que a Terra passará por uma fase de regeneração em 2052 ou 2057, datas determinadas que o anti-médium baiano usou em causa própria.
Afinal, observemos os dois anos. 2052 é o ano dos cem anos da Mansão do Caminho, entidade fundada por Divaldo e seu parceiro, já falecido, Nilson Pereira. Já 2057 é alvo de bajulação, por significar os 200 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Isso, no entanto, desmascara um Divaldo Franco que, feliz da vida, "consegue ser visto" por uma parcela da sociedade "espírita" como um "correto discípulo" de Allan Kardec, porque a determinação de datas fixas para qualquer fato é algo firmemente rejeitado pelo pedagogo francês.
Diz Kardec em A Gênese que "os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas", acrescentando que "se pode ter por certo que, quanto mais circunstanciadas as predições, mais elas são suspeitas".
Em O Livro dos Médiuns, Kardec expressou-se com muita clareza: "Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".
Isso desmascarou Divaldo Franco de vez e fez com que sua roupagem de "kardecista autêntico", protegida por um ar professoral e falsamente científico, fosse derrubada por vez. O fato dele acreditar em "crianças astrais", planetas "aspiradores de pó" e datas fixas para qualquer coisa revela o quanto o anti-médium baiano é, a exemplo de Chico Xavier, um péssimo aluno do pedagogo francês.
Hoje, dia do evento "Você e a Paz", missa "ecumênica" comandada pelo anti-médium baiano Divaldo Pereira Franco e que promete "a paz mundial" com uma simples retórica religiosa e rebuscada de sua atração principal, sugere uma reflexão bastante delicada.
Afinal, algumas correntes do "movimento espírita" acreditam que, se Francisco Cândido Xavier, o "popular" Chico Xavier, desviou de maneira explícita dos ensinamentos kardecianos, Divaldo Franco parecia mais "exemplar" e "correto" nas lições do professor lionês.
Só que isso consiste numa grande ilusão. Divaldo Franco deturpou tanto a Doutrina Espírita quanto Chico Xavier. Os dois nunca aprenderam de maneira devida as lições trazidas por Allan Kardec, e o que difere é a maneira com que o mineiro e o baiano fizeram na deturpação dos ensinamentos kardecianos. De toda forma, nenhum dos dois deveria ser considerado seguidor de Kardec.
Divaldo Franco apenas possui um verniz mais caprichado. Chico Xavier era confuso e contraditório, e muito mais explícito nas suas pregações igrejistas. Além disso, sua alta visibilidade foi obtida sob o preço de escândalos e polêmicas, de maneira indiscreta e conflituosa, o que faz com que seja mais fácil contestar o "kardecismo" de Chico Xavier do que o "kardecismo" de Divaldo Franco.
O verniz "espírita" de Divaldo Franco se apoia numa postura aparentemente elegante, com um ar professoral que lembra os antigos professores dos anos 1940, dotados de discurso rebuscado e pretensa erudição intelectual.
Além disso, se Chico Xavier trabalhou seu mito mais pela "humildade" e pela suposta força de um "velhinho frágil e bondoso", Divaldo Franco trabalha seu mito pelo estereótipo do pretenso sábio, que se supõe ter as respostas prontas para todos os assuntos, o que, diante da complexidade da vida humana, é uma tarefa impossível de ser feita, indicando que a "sabedoria" do "médium" baiano não é mais do que simples pose.
Duas das provas que Divaldo Franco contraria Allan Kardec se referem a duas manias que fazem o anti-médium baiano contradizer o professor lionês: o apreço que Divaldo tem por previsão de datas determinadas e sua crença na fantasiosa ideia de "crianças especiais", sejam "índigos" ou "cristais".
Ambas as ideias foram duramente combatidas por Allan Kardec, por representarem incoerências sérias e aberrações sem qualquer tipo de lógica. No decorrer de sua obra, Kardec sempre alertou que não existem tipos "diferenciados" de pessoas nem datas "determinadas" para a ocorrência de progressos na humanidade.
Quanto ao mito das "crianças-índigo" e "crianças-cristais", Kardec rejeitaria de imediato, porque, embora ele admita que, em determinado estágio da humanidade, possam surgir pessoas de elevada formação moral e intelectual, é inadmissível enquadrá-las em grupos "diferenciados", até porque podem sugerir discriminação.
Diz Kardec no livro A Genese, que na falta de, no momento deste texto, um exemplar da tradução de Herculano Pires, recorremos a nós mesmos ao original francês e publicarmos tradução por conta própria:
"A nova geração, destinada a iniciar a era do progresso moral, distingue-se pela inteligência e pela razão adquiridas geralmente cedo, somadas ao senso inato a respeito do bem e das crenças espiritualistas, que é o sinal inconfundível de um certo grau de progresso anterior. Ela não se compõe exclusivamente de espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e capaz de ajudar no andamento da regeneração".
Em nenhum momento Kardec rotulou tais espíritos deste ou daquele nome, se limitando apenas a dizer suas qualidades, verificando não os conceitos místicos de evolução espiritual, mas aspectos sociais de evolução moral e intelectual.
Além disso, os critérios de "índigo" e "cristais" são tão confusos que tais rótulos podem corresponder tanto a jovens cientistas como a membros de torcidas organizadas, ou intelectuais precoces e troleiros irresponsáveis, além do fato de que doenças como TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), que se manifestam por surtos de desatenção de pessoas inteligentes mas sobrecarregadas, que às vezes as impelem a pequenas gafes ou trabalhos incompletos, como "qualidades positivas".
Portanto, não se trata de atribuir a uma "divindade interplanetária" chamada Kryon - figura tão fictícia e ridícula quanto o Xenu dos cientologistas - a evolução de determinadas pessoas, até porque muitas das qualidades das almas evoluídas podem ser obtidas através da educação e de um ambiente social saudável.
O mal-entendido do "movimento espírita" que atribui a Kardec a confirmação das "crianças astrais" (sejam "índigos", "cristais" ou, em outra variante, "estrelas") ignora que o pedagogo francês, pelo seu método de raciocínio científico e pela forma de analisar a humanidade, não iria discriminar em rótulos de que natureza for as gerações de pessoas diferenciadas moral e intelectualmente.
Portanto, é correto afirmar que Allan Kardec rejeitaria tais rótulos, em vez de confirmá-los, porque ele sabe muito bem que não é da natureza da humanidade tais rótulos, até pelo fato de que, separando as pessoas mais evoluídas em um rótulo, promove-se uma discriminação e, em contrapartida, se atribuirá às mesmas um caráter de anormalidade impróprios da natureza humana.
O "movimento espírita", que não aprecia individualidades e adota uma ideologia conservadora, é que costuma discriminar essas pessoas "especiais" tanto pelos critérios de agrupamentos quanto pela ideia "anormal" de evolução moral e intelectual (se bem que limitados ao juízo de valor religioso "espírita").
Na visão dos "espíritas", a definição de "crianças astrais" seria uma forma de juntar coletivamente, como que fazendo um gado bovino, de pessoas que não corresponderiam aos padrões de "normalidade" esperados pela sociedade convencional.
Quanto aos planetas chupões, Kardec nunca acreditou nisso e, em A Gênese, ele se limitava a admitir que a Terra sofreria uma evolução lenta e gradual da humanidade, sem haver qualquer fantasia de planeta "aspirador de pó" que "chupasse" a "gente ruim" da orbe terrestre. Kardec acreditava que a humanidade só se evoluiria pelo natural processo das evoluções sociais que conhecemos.
DIVALDO E SUAS DATAS CERTINHAS
O outro aspecto corresponde ao joguinho de falsa profecia, que é o de determinar datas certas como supostos marcos de evolução da humanidade, geralmente inspiradas em efemérides que o "movimento espírita" sente maior simpatia e apreço.
Sabe-se que o livro A Caminho da Luz, de Chico Xavier, ditado pelo esperto Emmanuel, anunciava "marcos" de evolução da Terra, como o surgimento do planeta, a vinda de Jesus ao mundo carnal terreno e uma "outra reunião" que, segundo conversas do anti-médium com Geraldo Lemos Neto, em 1986, se deu num sonho de 1969 tido após a notícia da viagem de astronautas à Lua, que daria numa "data-limite" para o "progresso da humanidade".
A tal "data-limite" escolhida foi 2019, e o "movimento espírita" já determinou "datas fixas" para supostas profecias que nunca ocorreram. Houve atribuições diversas, como 1952, 1970, 2000 e 2012, entre abordagens catastrofistas e outras igrejistas, que simplesmente não passaram de grandes bobagens para assustar crianças e adultos infantilizados.
Divaldo Franco parece estar tranquilo com seus desvarios de falso profeta, quando afirma, com discurso rebuscado e pseudo-racional, que a Terra passará por uma fase de regeneração em 2052 ou 2057, datas determinadas que o anti-médium baiano usou em causa própria.
Afinal, observemos os dois anos. 2052 é o ano dos cem anos da Mansão do Caminho, entidade fundada por Divaldo e seu parceiro, já falecido, Nilson Pereira. Já 2057 é alvo de bajulação, por significar os 200 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Isso, no entanto, desmascara um Divaldo Franco que, feliz da vida, "consegue ser visto" por uma parcela da sociedade "espírita" como um "correto discípulo" de Allan Kardec, porque a determinação de datas fixas para qualquer fato é algo firmemente rejeitado pelo pedagogo francês.
Diz Kardec em A Gênese que "os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas", acrescentando que "se pode ter por certo que, quanto mais circunstanciadas as predições, mais elas são suspeitas".
Em O Livro dos Médiuns, Kardec expressou-se com muita clareza: "Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".
Isso desmascarou Divaldo Franco de vez e fez com que sua roupagem de "kardecista autêntico", protegida por um ar professoral e falsamente científico, fosse derrubada por vez. O fato dele acreditar em "crianças astrais", planetas "aspiradores de pó" e datas fixas para qualquer coisa revela o quanto o anti-médium baiano é, a exemplo de Chico Xavier, um péssimo aluno do pedagogo francês.