terça-feira, 22 de dezembro de 2015
"Santo" recebe por comissão?
O episódio do "milagre" atribuído a Madre Teresa de Calcutá é um episódio estranho. Não se revelou a identidade do engenheiro beneficiado. Só tardiamente ele foi revelado como Marcílio Haddad Andrino.
Também não se precisou a data. Falou-se que ele tinha uma hidrocefalia, estava em estado terminal e, no dia seguinte, saiu curado por causa de uma medalhinha. E os médicos, em unanimidade, afimaram que a cura seria "impossível" em condições normais.
Estranha a história, de um suposto caso ocorrido em 2008. E que compensou a farsa do "milagre" de anos antes, quando Monica Besra, indiana que sofria de câncer no ovário, foi curada não por causa da medalha de Madre Teresa, mas por conta de um tratamento regular com medicamentos prescritos.
E por que o caso ocorreu no Brasil? Claro, aqui se legitimam quadros falsos quando feitos "em nome da espiritualidade" e sob o pretexto de garantir o "pão dos pobres". Madre Teresa de Calcutá, "derrubada" por denúncias sérias sobre aspectos sombrios de sua vida, tinha que apelar para o Brasil ainda complacente com as cegueiras da fé e "renascer" numa suposta cura aceita pelo Vaticano.
Ser "santo" é garantia de superioridade espiritual? Nem de longe! O título é uma concessão terrena e material dada por elites de sacerdotes ao longo dos tempos. É uma promoção que só vale para a Terra, no além-túmulo não tem a menor serventia e nem o espírito se torna melhor ou pior por causa desse título tão terreno.
O título nem tem essa nobreza, porque, na prática, mais parece uma promoção de loja. O sujeito que convencer mais fregueses a aceitar comprar em sua loja ganha uma comissão por isso. O religioso falecido que atender supostos milagres também ganha "comissão". É a "santidade", um título de promoção igual ao de um vendedor que finalmente consegue o posto de gerente.
O que chama a atenção no Brasil é essa preferência por curas difíceis feitas sem motivo. As curas "inexplicáveis" são muito mais comemoradas do que descobertas de curas por cientistas, que são as curas "explicadas".
Por trás de curas "milagrosas" feitas pelas orações católicas ou por "cirurgias espirituais" esconde um processo muito grave e preocupante. É a rebelião da Fé contra a Ciência, é a intromissão da fé religiosa sobre a área do conhecimento científico, e a tentativa de submeter as curas de doenças graves ao obscurantismo religioso, em vez do esclarecimento científico.
Dando preferência às supostas curas "sem explicação" e feitas sob a "luz da fé religiosa", em detrimento ao trabalho árduo de cientistas para estudos de curas para doenças graves, o que se observa são dados que não são tão positivos assim:
1) As curas "pela fé", sejam católicas, "espíritas" ou similares, são sempre seletivas, correspondendo a casos isolados e diferenciais. A cura "sem qualquer explicação" deslumbra e fascina muitos, mas ela sempre estabelece restrições e costuma beneficiar apenas beatos que se sentem subordinados pela fé religiosa.
2) As curas "pela fé" refletem o desprezo pelo trabalho científico, mesmo quando, diante do malabarismo das palavras ditas ou escritas pelos "espíritas", este seja visto como "atividade necessária e digna de muita admiração e respeito".
A Ciência, aliás, é vista pelos "espíritas" como "digna de muita admiração e respeito" desde que se limite a aprovar a fé religiosa. A fé religiosa pode intervir sobre a Ciência e competir na busca de curas "difíceis", ou atribuir falsas façanhas científicas a ídolos religiosos. Mas a Ciência está proibida de questionar a fé religiosa e seus totens e mitos.
E aí o Brasil festeja a "canonização" de Madre Teresa de Calcutá que, por trás da imagem de "santa viva" enquanto, obviamente, ela estava viva, ignorando que ela poderia muito bem ter curado os doentes graves que alojou feito animais no abatedouro. Não fez.
Talvez o mérito de "santidade" fosse mais coerente se todos os infortunados abrigados por ela tivessem sido curados como o suposto engenheiro de Santos. Só que não. E a Madre Teresa de Calcutá vai virar "santa" com os "espíritas" se somando aos aplausos dos devotos da freira albanesa.
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