quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Mídia reacionária apoia católicos e "espíritas" na cruzada contra Record
Você acha que os mitos de Francisco Cândido Xavier e Madre Teresa de Calcutá são "admiráveis" por si mesmos? Você não entende metade da história que está por trás. As duas figuras religiosas, na verdade pessoas de profunda leviandade, correspondem, em verdade, a uma "guerra religiosa" que o poder midiático faz no Brasil contra a ascensão da Rede Record.
Você é manipulado pela mídia reacionária e não sabe. Não percebe que estereótipos de "amor e caridade" não são trabalhados pela grande mídia mercenária de graça, só para "limpar os pecados" dos barões da grande mídia. Os mitos de Chico Xavier e Madre Teresa não aparecem da forma "pura" que muitos acreditam, mas são frutos de um engenhoso processo de persuasão midiática.
Reforçar supostos mitos de "filantropia", pregando uma visão conservadora e inócua de "ativismo social" - mais um passivismo do que um ativismo social de verdade - , é uma manobra da grande mídia de promover certos ícones religiosos para enfrentar o crescimento das seitas concorrentes.
No âmbito mundial, o factoide em torno da suposta cura "milagrosa" atribuída a Madre Teresa de Calcutá - um pretenso "milagre" que já demonstra desconfiança por conta de um laudo médico forjado por um hospital católico de Santos para uma falsa doença crônica - tornou-se uma dupla campanha de reabilitação da Igreja Católica nos países do Ocidente.
O factoide - um engenheiro que se supôs vítima de hidrocefalia e estava "em estado terminal" se curou de maneira "inexplicável" para a Ciência - é uma forma do Vaticano retomar sua influência e neutralizar, nos países ocidentais, o crescimento da religião muçulmana, principalmente com as migrações dos fugitivos dos países árabes sob guerras ou regimes tirânicos, como a Síria.
Por outro lado, é uma forma de reabilitar a imagem, rentável para os sacerdotes da Santa Sé, da Madre Teresa de Calcutá, abalada por denúncias, dotadas de provas consistentes, de que ela teria maltratado pobres e enfermos, praticava corrupção e se aliava a magnatas corruptos e tiranos políticos. O "milagre" liberou o caminho para a canonização, prevista para setembro de 2016.
No âmbito brasileiro, o factoide do engenheiro que "se curou" por causa de uma medalhinha de Madre Teresa é um recurso que favorece movimentos religiosos como o Catolicismo e o "espiritismo", que se aliam na cruzada contra a ascensão do Neopentecostalismo, simbolizado pela Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
RELAÇÕES MIDIÁTICAS
Se o prezado leitor pensa que Chico Xavier, Divaldo Franco, Madre Teresa, José Medrado e tantos outros são mitos religiosos naturalmente desenvolvidos pela "qualidade natural da bondade", é bom rever tais ilusões e perceber o processo midiático que está por trás.
Sabe-se que, no caso de Madre Teresa, freira albanesa (nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu), seu mito foi desenvolvido por Malcolm Muggeridge, no seu documentário de 1969 da BBC de Londres, intitulado Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God, no original).
No caso de Chico Xavier, observa-se que o filme de Muggeridge inspirou explicitamente o relançamento do mito do "médium" brasileiro, antes trabalhado de maneira sensacionalista como um paranormal que "falava pelos mortos" mas que se meteu em muitas e graves confusões, a última delas com o caso Otília Diogo.
Na tentativa de trabalhar o mito de forma "limpa" e não mais diante de polêmicas, a Federação "Espírita" Brasileira fez as pazes com as Organizações Globo, num contexto comum: ambas defenderam o golpe de 1964 e a ditadura militar. A corporação da família Marinho chegou a denunciar as fraudes de Chico Xavier, mas passou a ser solidária a ele.
Desde o fim dos anos 1970, elementos do documentário de Muggeridge deram o roteiro para o mito de Xavier, similar ao de Madre Teresa (curiosamente ambos são abertamente comparados por seus seguidores).
Alguns desses elementos são o "filantropo" segurando bebê no colo, falando com velhinhos miseráveis, sendo recebido pela multidão, vendo crianças carentes tomando sopinha, acolhendo crianças em euforia, cumprimentando senhoras filantropas de classe média etc. Tudo em Chico Xavier foi inspirado no documentário sobre Madre Teresa de Calcutá.
É só observar as reportagens ou documentários sobre Chico Xavier feitos pela Rede Globo a partir do fim dos anos 70. Malcolm Muggeridge puro, ainda que com as devidas adaptações de contexto. E o mito do "bondoso médium" não saía de graça, esse mito era produzido pelo poder midiático mediante dois principais motivos.
Um era a crise político-institucional da ditadura militar. O mercado e a mídia fizeram manobras, em diversos sentidos, para evitar que, naqueles idos de 1977-1981, épocas de intensas crises sociais que desgastaram o poder ditatorial, ressurgissem manifestações como em 1963 e nos meses que antecederam o golpe de abril de 1964.
Sabe-se que, no lado pagão, o poder midiático financiou a bregalização cultural, que aos poucos passaram a ocupar redutos que eram das expressões culturais de qualidade, tirando as chamadas "boazudas" de revistas pornográficas de segunda categoria para programas de auditório, criando uma "escola" para as Solange Gomes, Geisy Arruda e Mulher Melão da vida.
No lado religioso, a ideia era trabalhar o "bom exemplo" de Chico Xavier, um católico fervoroso mas, como excomungado pela igreja e adotado pelo "movimento espírita", era uma pessoa considerada "ecumênica". Era uma forma tanto de "tranquilizar" uma sociedade tensa quanto para evitar a ascensão de pastores neopentecostais como Edir Macedo e R. R. Soares.
E foi só a Globo que fez isso? Não. Na campanha do Catolicismo e do "movimento espírita", se vê que o poderio midiático é representado também pelo SBT, do animador Sílvio Santos, e do Grupo Bandeirantes, da família Saad, em parte ligada ao corrupto ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros.
JOSÉ LUIZ DATENA E RACHEL SHEHERAZADE - Truculências moralistas em redes "espiritualizadas" como Band e SBT.
O SBT adaptou um concurso de premiação da BBC (a mesma do documentário de Muggeridge) e criou o Brasileiro do Ano. Em 2012, elegeu Chico Xavier como o Maior Brasileiro do Ano, numa lista de cem que incluiu até o apresentador José Luiz Datena, que comanda o Brasil Urgente (TV Bandeirantes), programa que explora a criminalidade e a violência como entretenimentos televisivos.
É o mesmo SBT que, mais tarde, contratou Rachel Sheherazade, jornalista evangélica cujo reacionarismo extremo a fez ser conhecida como a "Sarah Palin brasileira", em alusão à estadunidense filiada ao Partido Republicano e que integra o grupo neo-medieval Tea Party.
Uma vez, Rachel defendeu que "justiceiros" espancassem um menor que cometia pequenos roubos, que estava amarrado em um poste, no Rio de Janeiro. E isso num SBT que elege Chico Xavier no topo dos cem maiores brasileiros!
A TV Bandeirantes é conhecida por criminalizar os movimentos de agricultores sem-terras, por veicular o Brasil Urgente que espetaculariza a violência e que veiculou o reacionário humorístico CQC, hoje extinto (apesar das promessas de voltar ao ar em breve).
Pegando carona na Globo, SBT e Bandeirantes também veiculam reportagens sobre "mediunidade", "curas espirituais" e "curas milagrosas". Um pouco de Catolicismo propriamente dito, outro tanto de "espiritismo". Tudo dentro da mesma abordagem que evoca os ecos de Malcolm Muggeridge. Será que o espírito do jornalista inglês anda rondando tais emissoras?
Nos últimos anos, programas como Profissão Repórter e Fantástico (Rede Globo), Jornal da Band (TV Bandeirantes) e SBT Repórter (SBT) se empenham nessa campanha, apresentando programas que variam entre as "curas pela fé" e personalidades como Divaldo Franco. Nesta semana, o Jornal da Band apresenta uma série de reportagens sobre "curas milagrosas", baseado no factoide de Santos.
E isso ocorre porque é uma forma de fazer o espectador relaxar e ficar feliz com os arautos da esperança e do bem-estar do próximo, que inocentemente utilizam a grande mídia para propagar de maneira simples a sua linda mensagem? Não!
É só ver o outro lado. A Rede Record lidera a audiência televisiva com a adaptação em novela bíblica da saga de Moisés, Os Dez Mandamentos. A popularidade da novela bíblica despertou o sinal de alerta nas concorrentes ao derrubar o antes inabalável Jornal Nacional, mesmo nas televisões do Rio de Janeiro, antes ferreamente ligadas na Globo.
Daí que a Bandeirantes vai mostrar "curas espirituais" no momento em que Moisés, num espetáculo dramatúrgico, manda o mar se partir ao meio e envia gafanhotos para azucrinar o Faraó. Isso quando prepara o terreno para que Madre Teresa seja santificada por antecipação pela Band, SBT e Globo e abre caminho para uma canonização informal de Chico Xavier, sem depender da chancela do Vaticano.
No âmbito impresso, destaca-se a "polêmica" porém complacente adesão da revista Superinteressante - dedicada a curiosidades em geral - a Chico Xavier e ao "movimento espírita", sendo uma publicação da mesma Editora Abril famosa pelo reacionarismo extremo da revista Veja, que condenava todo tipo de movimentos sociais.
Dessa forma, a gente observa o quanto essa mídia reacionária, que produz seus Reinaldo Azevedo, José Luiz Datena, Rachel Sheherazade, Danilo Gentili, Merval Pereira e tantos outros, apoia tanto o "movimento espírita" e o Catolicismo. Não é um apoio casual nem inocente. Há interesses em jogo, tanto comerciais quanto ideológicos. Mas como, segundo a fé religiosa, o "amor tudo permite"...
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