sexta-feira, 31 de julho de 2015
O precário hábito de leitura dos brasileiros
O Brasil vive uma crise cultural que é um reflexo da degradação de valores trazida pela ditadura militar e da qual ainda não se recuperou. A recente onda de questionamentos e reações ainda é insuficiente para criar uma superação desse quadro degradante, principalmente se vermos que os hábitos culturais ainda são muito precários e medíocres.
Se nas mídias sociais o que predominam são assuntos como grupos ou cantores de pop adolescente convencional, sub-celebridades e fatos sensacionalistas, o que esperar do tipo de livro que essas pessoas se habituarão a ler?
Livros sobre vampiros e bruxas ou aventuras medievais, ou diários de blogueiras sem ter muito o que dizer, auto-ajudas com receitas fajutas de melhoria de vida e biografias de pessoas que obtiveram a fama sem qualquer esforço e com menos talento ainda.
A moda agora são também os livros de cachorros com nomes de músicos, que se tornaram a tendência ascendente da "boa literatura" do grande público. Tem até um intitulado "John & George", que, para o desespero dos beatlemaníacos que esperariam uma obra dedicada apenas aos finados guitarristas da banda britânica, fala apenas de um homem John e seu cachorro George.
Claro, antes que algum brasileiro tenha a ideia de usar um pseudônimo tipo Roberto M. Frejat para escrever um livro sobre seu adorável cão Cazuza, é bom deixar claro que o "espiritismo" também se insere nesse hábito de leitura num país em que até decadentes cantores dos EUA chegam aqui como se fossem as maiores maravilhas do planeta.
O único avanço foi que mais brasileiros passaram a ler mais livros. Livrarias passaram a funcionar quase como bibliotecas, pois os fregueses, desde que não levem seus livros para casa nem os danifiquem, são autorizados a lê-los integralmente dentro do estabelecimento, o que já é um progresso quando, há dez anos, havia pessoas com orgulho de nunca ler livros.
Só que esse avanço não se refletiu em qualidade. A maioria dos livros que chegam às listas dos mais vendidos são bobagens ou, quando possuem alguma qualidade, é em consequência de um autor famoso, um tema badalado e uma personalidade marcante, livros que conseguem unir apelo ao grande público com expressiva qualidade textual e abrangência e honestidade das informações.
"ESPIRITISMO" TEM PIOR LITERATURA
Que ninguém se iluda em inserir entre os livros verdadeiramente bons os livros da chamada "literatura espírita". Fora os livros de Allan Kardec - desde que pelas traduções de José Herculano Pires e Wallace Leal Rodrigues (no caso do volume O Que é o Espiritismo?) - , pouca coisa se salva e a maioria esmagadora são de livros extremamente ruins e confusos.
Desta literatura ruim, para desespero de muitos "espíritas" movidos pelo mais emotivo sentimentalismo, se inclui a totalidade dos livros de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, marcados pelo moralismo místico e pelo religiosismo mofado que, na verdade, já tem obras mais verossímeis de similar conteúdo na literatura católica.
Estes livros "espíritas" ruins se dividem entre uma infinidade de romances mal-escritos, dramalhões toscos e do pior moralismo. Uma obra chegou a tratar um feminicida, seu protagonista, como um "coitadinho". Tais obras soam geralmente como roteiros de novelas da mais baixa categoria e, embora de textos digestíveis e de fácil leitura, são piegas, desinteressantes e retrógrados.
Já os livros "mais elaborados", como os de Chico Xavier e Divaldo Franco, não deixam de ser ruins, porque eles requerem uma leitura mais pesada, são prolixos, confusos, imprecisos, e, quando evocam personalidades conhecidas, como Humberto de Campos e os poetas de Parnaso de Além-Túmulo, distanciam completamente do estilo original deixado pelos autores em vida.
Muitos dos livros de Chico Xavier têm erros aberrantes de informações históricas. Chico Xavier era um aluno medíocre de História, e ainda mais quando tentava avançar em outras áreas das Ciências Humanas, cometia verdadeiros desastres.
Só o livro Há 2000 Anos, ditado pelo espírito Emmanuel, uma grande série de erros e omissões históricas é descrito pelo renomado historiador Lair Amaro, da UFRJ, já a partir da duvidosa figura do "senador" Públio Lentulus, na verdade retirada de um fictício figurão citado na Epístola Lentuli, sem relação com seus homônimos. Esta "carta" nem o Catolicismo medieval via como autêntica.
Mas, para um Chico Xavier que desconhece que os povos eslavos povoaram o Brasil na Região Sul e em parte de São Paulo e atribuiu em sua "profecia" que eles povoariam o Nordeste, é notório o desconhecimento do sistema político do Império Romano e seu padrão de castas familiares.
Não se pode aceitar que tais livros representem "literatura superior" só porque trazem lições supostamente edificantes. Bondade e boas mensagens não justificam informações erradas, textos pesados e prolixos, verborragia barata e moralismo ultraconservador.
É evidente que muitas "boas famílias" e "brilhantes cidadãos" vão correndo comprar livros de Chico Xavier e Divaldo Franco em busca de "lindas lições de vida e de esperança", complacentes com todo tipo de erros, correndo o sério risco de se prejudicarem com informações erradas e com moralismo retrógrado.
É esse o leitor brasileiro que irá influir no tal "coração do mundo"? Que esclarecimento iremos esperar dessas pessoas, que juntarão valores conservadores, desinformação histórica e outras barbaridades para guiar a inteligência de nosso país? Serão eles a expressão dessa nova inteligência, desse esclarecimento brilhante e honesto? Nada disso.
Se eles são desinformados em História, isso já é suficiente para que seu nível de conhecimento seja precário e, portanto, acidentalmente desonesto. Isso porque a compreensão errada da realidade e dos fatos passados já faz com que sua percepção de mundo seja atrofiada e distorcida, e isso irá refletir no péssimo quadro intelectual que se terá no futuro.
Nós, aliás, já sentimos essa reflexão, com uma geração de antropólogos, sociólogos, cineastas, ativistas e jornalistas culturais que até pouco tempo atrás promoveram impunemente a defesa da degradação cultural do país, sob a desculpa do "fim do preconceito", apesar de seus gravíssimos preconceitos sobre as classes populares.
Daí que deveríamos repensar os hábitos de leitura e entretenimento no Brasil. Antes que mais um cachorro com nome ou sobrenome de algum músico famoso possa figurar nas listas dos livros mais vendidos e enfie seus resíduos fecais nas mentes de seus leitores.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Brasil banaliza e deturpa conceito de "filósofo"
O que é ser filósofo? É simplesmente alguém que busca a verdade? Não exatamente. Além disso, se o conceito de verdade é hoje impreciso e vivemos a época em que a supremacia das mentiras e meias-verdades faz com que o sentido de verdade seja corrompido, a filosofia também passa a ter seu sentido deturpado da mesma maneira, mas num contexto mais específico.
O mundo tem lá suas deturpações do conceito de filósofo, mas é no Brasil que seu conceito torna-se mais distorcido, levando-se em conta de que o país não tem um hábito regular e saudável de leitura, com o apego da população em bobagens literárias que estão em altas posições em boa parte das listas de livros mais vendidos no mercado brasileiro.
E quem não lê não consegue se informar o que realmente é um filósofo, algo muito mais além do sentido simplório de uma pessoa que busca a verdade. E buscar a verdade torna-se um processo muito mais complexo do que se pode imaginar.
A História da Filosofia não se faz com frases curtas de aparente sabedoria, nem com receituários místicos para uma vida melhor. Ela se faz quando questões diversas impulsionam algumas pessoas a elaborar um sistema de argumentos e raciocínios complexos que se manifesta numa determinada quantidade de livros.
Não é para qualquer um. Difícil haver pessoas que se disponham em analisar, de forma profunda e cautelosa, questões das mais diversas sobre a Humanidade, com livros que possam atravessar séculos pela sua validade lógica. Não é apenas uma questão de querer ser "bonzinho" e dar "lições positivas", mas abrir um debate lançando questões das mais complicadas e até conflituosas.
Existem correntes bastante divergentes porque, no decorrer dos séculos, sistemas de raciocínio filosófico eram sucessivamente questionados por outros que vieram. A evolução da sociedade permitiu que a filosofia passasse por essa multiplicidade de abordagens, como forma de tentar analisar e desvendar o complexo mundo do conhecimento.
Mas isso era esperado, porque desvendar as questões da Humanidade não era uma coisa fácil. E ser filósofo era abraçar de forma sistemática um roteiro de análises e estudos não muito fácil de fazer e difícil de ler pelos brasileiros que acham que ser "filósofo" é algo como um "bonzinho qualquer nota" e só se interessam em ler livros sobre cachorros com nome ou sobrenome de músicos famosos.
ATITUDE LAMENTÁVEL
O que preocupa é a unânime burrice de muitos internautas em definir como "filosofia" uma coleta de frases curtinhas que, independente de terem alguma lógica ou não, servem de pílulas de "sabedoria" para disfarçar a mediocridade, para não dizer indigência, intelectual das pessoas.
A preguiça de ler livros bem mais substanciais, muito mal compensada pela leitura eventual de livros best sellers não raro de qualidade literária duvidosa, faz com que esse hábito um tanto rasteiro de ficar colhendo apenas pequenas frases ou parágrafos substituísse a leitura de livros.
Não que não se pode pegar frases curtas que sintetizam um pensamento. O ato de colhê-las não é ruim em si, e pode ser bastante instrutivo. Mas depender disso para evitar a leitura de livros é algo perigoso, sobretudo quando pessoas sem um hábito regular e salutar de leitura sucumbem a falsa sabedoria dos oportunistas.
É humilhante ver que muitos consideram Chico Xavier e Divaldo Franco "filósofos". É humilhante, vergonhoso e deplorável. E muito, muito triste. E principalmente quando se leva em conta que o Brasil não conta de um filósofo cujo pensamento pudesse atravessar séculos, como os pensadores do "velho mundo".
Afinal, os dois se deixaram valer de um Brasil de frágil hábito de leitura para usarem arremedos de sabedoria para iludir as pessoas. As frases adocicadas de Chico Xavier, auto-ajuda de baixa categoria que tenta se nivelar (e mal) aos pensamentos orientais, são um exemplo festivamente aceito e difundido pelas pessoas de boa-fé que publicam fotos e arquivos nas mídias sociais.
Divaldo Franco, então, nem se fala. Com aquela vestimenta de pretenso professor, com aquela suposta elegância de fala e gestos, com sua verborragia sobrecarregada de referências e dados, ele tanta, através da oratória, o que seu amigo Chico Xavier tentou com seus textos, se passando por "filósofos" num país sem grandes filósofos.
Isso é extremamente ridículo. Afinal, sabemos que o "pensamento" difundido pelos dois não passa de auto-ajuda, de moralismo barato, de verborragia duvidosa, textos prolixos e ideias equivocadas e conflituantes, sem o mínimo compromisso de investir no ramo do Conhecimento, mas apenas expressando religiosismo da pior espécie.
As ideias de ambos os anti-médiuns não passam de reles receituários moralistas que mais se voltam ao conformismo do que à mobilização, e que em muitos casos causariam vergonha aos mais valiosos ativistas que lutaram pelas conquistas humanas.
Mistificadores baratos, modernos fariseus, artífices da manipulação da retórica, com seus desfiles de palavras bonitas que expressam ideias confusas e sem muita coerência, os dois anti-médiuns nem de longe podem ser considerados filósofos, porque é justamente a verdade que eles não querem procurar, pois "conhecimento" para eles é embalagem, e não conteúdo.
Afinal, os melhores filósofos podem até escrever muito, mas procuram ser bastante claros em suas abordagens, buscando uma explicação de suas análises e pontos de vista, ainda que tenham falhas geralmente denunciadas por correntes sucessoras.
Chico e Divaldo, no entanto, são confusos, prolixos e contraditórios em seus pontos de vista, de forma tão aberrante que a última coisa que se pode admitir deles - se é que existe alguma necessidade de admitir - é um mínimo esforço de desenvolver um sistema de conhecimentos com um mínimo de coerência e clareza de ideias.
Outro aspecto a se levar em conta é que a filosofia, sendo uma Ciência e motivada pelo processo racional de lançar ideias, tem seu significado deturpado por causa da emotividade. É a emoção subjetivista que atribui fulano e sicrano como "filósofos", mesmo quando eles contrariam severamente todo o sistema de busca do conhecimento que carateriza a Filosofia.
Os brasileiros sempre se deslumbram com as boas embalagens, mesmo quando elas escondem armadilhas traiçoeiras e serpentes venenosas. "Filosofia", para eles, é muito mais uma questão de forma do que de conteúdo, de expressão de estereótipos de sabedoria e simplicidade que mais confundem do que esclarecem as pessoas. Emoção demais perverte a lógica da razão humana.
quarta-feira, 29 de julho de 2015
"Espiritismo" está caminhando para ser o Opus Dei brasileiro
SEDE DO MOVIMENTO OPUS DEI, EM ROMA.
Um dos aspectos preocupantes que se observa no "movimento espírita" brasileiro em todas as facções que se comungam com o religiosismo extremo da doutrina e, por isso, se distanciam do pensamento científico de Allan Kardec, é o seu conservadorismo extremo.
A crise em que vive o "espiritismo" brasileiro e a forma com seus adeptos e líderes reagem faz com que a tão alardeada "fidelidade a Kardec" seja traída severamente em detrimento do que dizem eles, e tais reações indicam o radicalismo dos retrocessos da doutrina.
O aparente abandono de Jean-Baptiste Roustaing da maioria dos chamados "espíritas" não significa o abandono das ideias por ele difundidas. Sabemos que Francisco Cândido Xavier adaptou de maneira exemplar as ideias roustanguistas que os aspectos mais polêmicos do advogado francês foram descartados para não criar problemas.
Através disso, investe-se na contraditória evocação parcial do cientificismo de Allan Kardec, só que de uma forma bastante pedante e atrapalhada em relação ao pensamento do pedagogo de Lyon. Essa evocação é mesclada com o repertório moralista e religiosista do "espiritismo", mantendo as contradições que se tornaram oficialmente vigentes a partir de 1975.
Só que essa postura indica o crescente conservadorismo do "espiritismo", que trocou as ideias progressistas de Allan Kardec pelo conservadorismo piegas das mensagens diabéticas de Chico Xavier, e sua mediunidade discutível e cheia de fraudes. O conservadorismo se firmou de modo que hoje o "espiritismo" já está caminhando para os níveis de uma Opus Dei.
Para quem não sabe, a Opus Dei é uma facção da Igreja Católica fundada em 02 de outubro de 1928 (por pouco não coincide com o aniversário de Kardec, que é 03 de outubro) pelo sacerdote espanhol Josemaria Escrivá de Balaguer, canonizado pelo Vaticano em 2002.
Em tese, o Opus Dei, nome em latim que significa "obra de Deus", tem como objetivo reforçar a evangelização da Igreja Católica difundindo a "vida cristã no mundo, no trabalho, na família e a chamada universal à santidade e ao valor santificador do trabalho cotidiano".
O movimento Opus Dei é definido pelo Vaticano como Prelazia Pessoal, um status de instituição ligada à Igreja Católica, constituída de prelados (autoridades eclesiásticas), clérigos e leigos ligados a missões pastorais mas diferentes das dioceses por não serem delimitadas geograficamente.
O Opus Dei, no Brasil, tem como adeptos o casal Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) e Lu Alckmin, o político Gabriel Chalita e o jornalista de O Estado de São Paulo, Carlos Alberto Di Franco (também do direitista Instituto Millenium, de Rodrigo Constantino, Guilherme Fiúza, Pedro Bial e do ator "espírita" Carlos Vereza, que interpretou Bezerra de Menezes no cinema).
A instituição é considerada neo-medieval, pela visão extremamente tradicionalista do Catolicismo apostólico romano. Além disso, o movimento Opus Dei é também conhecido pelo seu apoio dado à ditadura do general espanhol Francisco Franco.
Aparentemente, o Opus Dei se anunciava como um movimento "humanista", enquanto respaldava um conservadorismo ideológico. É o mesmo caminho que vemos nos "espíritas", que embora jurem apreciar os novos tempos e a racionalidade científica, seguem um moralismo que torna-se a cada tempo mais próximo do Catolicismo medieval.
Esse é o medo. E vendo que o Catolicismo em geral se torna relativamente mais avançado, pois, dentro dos seus limites ideológicos, consegue se adaptar a novos valores sociais, os "espíritas" se congelam nos mesmos valores ideológicos e nas suas contradições, que a gente imagina se os integrantes do Opus Dei não gostariam de trocar a Igreja Católica pelo "movimento espírita".
Um dos aspectos preocupantes que se observa no "movimento espírita" brasileiro em todas as facções que se comungam com o religiosismo extremo da doutrina e, por isso, se distanciam do pensamento científico de Allan Kardec, é o seu conservadorismo extremo.
A crise em que vive o "espiritismo" brasileiro e a forma com seus adeptos e líderes reagem faz com que a tão alardeada "fidelidade a Kardec" seja traída severamente em detrimento do que dizem eles, e tais reações indicam o radicalismo dos retrocessos da doutrina.
O aparente abandono de Jean-Baptiste Roustaing da maioria dos chamados "espíritas" não significa o abandono das ideias por ele difundidas. Sabemos que Francisco Cândido Xavier adaptou de maneira exemplar as ideias roustanguistas que os aspectos mais polêmicos do advogado francês foram descartados para não criar problemas.
Através disso, investe-se na contraditória evocação parcial do cientificismo de Allan Kardec, só que de uma forma bastante pedante e atrapalhada em relação ao pensamento do pedagogo de Lyon. Essa evocação é mesclada com o repertório moralista e religiosista do "espiritismo", mantendo as contradições que se tornaram oficialmente vigentes a partir de 1975.
Só que essa postura indica o crescente conservadorismo do "espiritismo", que trocou as ideias progressistas de Allan Kardec pelo conservadorismo piegas das mensagens diabéticas de Chico Xavier, e sua mediunidade discutível e cheia de fraudes. O conservadorismo se firmou de modo que hoje o "espiritismo" já está caminhando para os níveis de uma Opus Dei.
Para quem não sabe, a Opus Dei é uma facção da Igreja Católica fundada em 02 de outubro de 1928 (por pouco não coincide com o aniversário de Kardec, que é 03 de outubro) pelo sacerdote espanhol Josemaria Escrivá de Balaguer, canonizado pelo Vaticano em 2002.
Em tese, o Opus Dei, nome em latim que significa "obra de Deus", tem como objetivo reforçar a evangelização da Igreja Católica difundindo a "vida cristã no mundo, no trabalho, na família e a chamada universal à santidade e ao valor santificador do trabalho cotidiano".
O movimento Opus Dei é definido pelo Vaticano como Prelazia Pessoal, um status de instituição ligada à Igreja Católica, constituída de prelados (autoridades eclesiásticas), clérigos e leigos ligados a missões pastorais mas diferentes das dioceses por não serem delimitadas geograficamente.
A instituição é considerada neo-medieval, pela visão extremamente tradicionalista do Catolicismo apostólico romano. Além disso, o movimento Opus Dei é também conhecido pelo seu apoio dado à ditadura do general espanhol Francisco Franco.
Aparentemente, o Opus Dei se anunciava como um movimento "humanista", enquanto respaldava um conservadorismo ideológico. É o mesmo caminho que vemos nos "espíritas", que embora jurem apreciar os novos tempos e a racionalidade científica, seguem um moralismo que torna-se a cada tempo mais próximo do Catolicismo medieval.
Esse é o medo. E vendo que o Catolicismo em geral se torna relativamente mais avançado, pois, dentro dos seus limites ideológicos, consegue se adaptar a novos valores sociais, os "espíritas" se congelam nos mesmos valores ideológicos e nas suas contradições, que a gente imagina se os integrantes do Opus Dei não gostariam de trocar a Igreja Católica pelo "movimento espírita".
terça-feira, 28 de julho de 2015
Os kardecianos hesitantes
HÁ QUEM QUEIRA MASCARAR O LIVRO O CONSOLADOR, DE CHICO XAVIER E EMMANUEL, COM A CAPA DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS NA TRADUÇÃO DE HERCULANO PIRES.
Existe uma espécie de questionadores dos vícios do "espiritismo" brasileiro que reclamam as bases autênticas de Allan Kardec. Acertam quando reclamam que a doutrina é corrompida por conceitos e práticas que contrariam o que o pedagogo francês havia escrito e ensinado em suas obras.
No entanto, são questionadores que não vão muito além de fazer tais reclamações, e nota-se entre eles a complacência em relação a Francisco Cândido Xavier e, em muitos outros casos, Divaldo Franco, e o pouco ou nenhum questionamento quanto às práticas duvidosas de "mediunidade" feitas no Brasil.
Eles são os "kardecianos hesitantes", que até procuram ler as traduções de José Herculano Pires das obras de Allan Kardec e reclamar da forma como se descrevem, por exemplo, os mundos espirituais, com crianças, bichinhos, campo de golfe, hospitais que parecem grandes centros comerciais, rosas com espinhos, umbrais com pessoas que mais parecem zumbis de filme B.
No entanto, eles se revoltam quando os questionamentos desqualificam Chico Xavier e Divaldo Franco e põem em xeque sua competência mediúnica. Ainda que essa competência se comprove bastante limitada, tantas as denúncias de pastiches e fraudes envolvendo os dois, os kardecianos hesitantes acham isso "um exagero" e tentam defender ambos.
Eles acham que a "mediunidade" dos dois é "altamente confiável", e que ambos podem ser reaproveitados mesmo quando se deixa de lado as abordagens febianas e "trans-febianas", termo relativo aos focos de "espiritismo cristão" observados em dissidentes ou "independentes" como Waldo Vieira, Zíbia Gasparetto, Alamar Régis Carvalho, Robson Pinheiro, Jardel Gonçalves etc.
Chico Xavier é o caso ainda mais frequente, já que existe um apego preocupante dos brasileiros à sua figura, sejam "espíritas cristãos" ligados ou não à FEB, sejam kardecianos hesitantes, sejam pessoas que nem se declaram "espíritas", mas espiritualistas simpatizantes.
Isso porque, no caso dos kardecianos hesitantes, que têm até a intenção de recuperar as bases originais de Kardec, no entanto sentem uma inexplicável complacência com Chico Xavier, talvez com peninha de sua figura estereotipada de caipira frágil dos primórios e do velhinho humilde do restante da vida.
Só que eles não sabem o que fazer com Xavier. Tentam defendê-lo, justificam sua inocência em qualquer polêmica, e, quando não conseguem desmentir suas falhas, se limitam a dizer que "ele errou e precisa ser desculpado por isso". Só não conseguem esclarecer como aproveitar o anti-médium na hipótese de se recuperar, no Brasil, as bases do pensamento de Kardec.
Pelo contrário, eles caem em muitas contradições. Em certos momentos, eles descrevem Chico Xavier como a vítima inconsciente de muitos erros do "movimento espírita". Em outros, o descrevem como um líder não aproveitado da Doutrina Espírita, um poderoso ativista em prol da caridade humana.
Eles não conseguem definir se o anti-médium mineiro era firme ou submisso, achando que sua atividade dita mediúnica era "100% confiável" e que seus inúmeros erros, que os kardecianos hesitantes subestimam, devem ser "desculpados" porque Chico Xavier era uma pessoa ligada à "caridade" e à defesa da "fraternidade".
Dessa maneira, os kardecianos hesitantes não conseguem explicar essas contradições, e com isso também não conseguem estabelecer uma base realmente kardeciana, porque coloca os erros práticos dos "espíritas" debaixo do tapete, achando que os equívocos estão apenas na teoria e em algumas práticas.
Eles não sabem do que aproveitar de Chico Xavier, e, fora descartar os livros de Emmanuel, reconhecido por eles como o padre jesuíta Manoel da Nóbrega, obras que mais explicitam os erros de abordagem da Doutrina Espírita - junto à "série André Luiz" - , não sabem qual a obra xavieriana que poderiam aceitar, além das frases adocicadas de seus depoimentos e entrevistas.
Mesmo o caso André Luiz causa controvérsias. Afinal, praticamente apenas Nosso Lar e alguns livros derivados (como Missionários da Luz) são questionados severamente pelos kardecianos hesitantes, que ainda se dividem quanto à validade da "teoria mediúnica" de Nos Domínios da Mediunidade.
Por outro lado, os kardecianos hesitantes tendem a legitimar os conteúdos de Parnaso de Além-Túmulo, a coleção de pastiches poéticos que inaugurou a "psicografia" xavieriana, da mesma forma que veem veracidade nas obras que levam o nome de Humberto de Campos, embora admitam a ridicularidade do conteúdo de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Embora eles preguem o respeito e a apreciação do cientificismo de Kardec, eles evitam fazer qualquer questionamento com as atividades "espíritas" feitas no Brasil pelos "peixes grandes" (incluindo Xavier e Franco), levando em conta a mesma temeridade que, no Catolicismo, é definida pelo nome de "mistérios da fé".
Assim, eles preferem se abster da veracidade ou não das supostas "cartas mediúnicas", e não se encorajam em questionar, por exemplo, as atividades literárias ou artísticas atribuídas a espíritos de falecidos, exceto casos escancarados, como as supostas psicografias de roqueiros brasileiros, já que eles, muito populares e conhecidos, são abordados pelas mensagens de forma caricatural e cheia de contradições.
O que se pode concluir sobre os kardecianos hesitantes existentes no Brasil é que eles são um estágio ainda tímido e primitivo de busca de uma abordagem espírita autêntica. Ainda se apegam a fatos circunstanciais como a amizade de Chico Xavier e José Herculano Pires, que não reflete exatamente na viabilidade de aproveitar o anti-médium na recuperação do pensamento kardeciano, do contrário que essa facção tímida dos kardecianos tenta ainda acreditar.
Portanto, essa postura ainda não consegue compreender a natureza original da doutrina de Allan Kardec. Deixa passar boa parte das fraudes e mistificações do "espiritismo" brasileiro, tanto pelo medo de avaliar essas práticas quanto pela complacência de estereótipos de "humildade, amor e caridade" que não se encorajam em contestar.
Com isso, a lição de Allan Kardec continua sendo parcialmente apreciada. Da parte dos kardecianos hesitantes, o pensamento de Kardec pode até ser aceito com correção e profundidade, mas tudo acaba ficando apenas na teoria, enquanto, na prática, continuam valendo as fraudes e mistificações que o "espiritismo" brasileiro continua fazendo.
Existe uma espécie de questionadores dos vícios do "espiritismo" brasileiro que reclamam as bases autênticas de Allan Kardec. Acertam quando reclamam que a doutrina é corrompida por conceitos e práticas que contrariam o que o pedagogo francês havia escrito e ensinado em suas obras.
No entanto, são questionadores que não vão muito além de fazer tais reclamações, e nota-se entre eles a complacência em relação a Francisco Cândido Xavier e, em muitos outros casos, Divaldo Franco, e o pouco ou nenhum questionamento quanto às práticas duvidosas de "mediunidade" feitas no Brasil.
Eles são os "kardecianos hesitantes", que até procuram ler as traduções de José Herculano Pires das obras de Allan Kardec e reclamar da forma como se descrevem, por exemplo, os mundos espirituais, com crianças, bichinhos, campo de golfe, hospitais que parecem grandes centros comerciais, rosas com espinhos, umbrais com pessoas que mais parecem zumbis de filme B.
No entanto, eles se revoltam quando os questionamentos desqualificam Chico Xavier e Divaldo Franco e põem em xeque sua competência mediúnica. Ainda que essa competência se comprove bastante limitada, tantas as denúncias de pastiches e fraudes envolvendo os dois, os kardecianos hesitantes acham isso "um exagero" e tentam defender ambos.
Eles acham que a "mediunidade" dos dois é "altamente confiável", e que ambos podem ser reaproveitados mesmo quando se deixa de lado as abordagens febianas e "trans-febianas", termo relativo aos focos de "espiritismo cristão" observados em dissidentes ou "independentes" como Waldo Vieira, Zíbia Gasparetto, Alamar Régis Carvalho, Robson Pinheiro, Jardel Gonçalves etc.
Chico Xavier é o caso ainda mais frequente, já que existe um apego preocupante dos brasileiros à sua figura, sejam "espíritas cristãos" ligados ou não à FEB, sejam kardecianos hesitantes, sejam pessoas que nem se declaram "espíritas", mas espiritualistas simpatizantes.
Isso porque, no caso dos kardecianos hesitantes, que têm até a intenção de recuperar as bases originais de Kardec, no entanto sentem uma inexplicável complacência com Chico Xavier, talvez com peninha de sua figura estereotipada de caipira frágil dos primórios e do velhinho humilde do restante da vida.
Só que eles não sabem o que fazer com Xavier. Tentam defendê-lo, justificam sua inocência em qualquer polêmica, e, quando não conseguem desmentir suas falhas, se limitam a dizer que "ele errou e precisa ser desculpado por isso". Só não conseguem esclarecer como aproveitar o anti-médium na hipótese de se recuperar, no Brasil, as bases do pensamento de Kardec.
Pelo contrário, eles caem em muitas contradições. Em certos momentos, eles descrevem Chico Xavier como a vítima inconsciente de muitos erros do "movimento espírita". Em outros, o descrevem como um líder não aproveitado da Doutrina Espírita, um poderoso ativista em prol da caridade humana.
Eles não conseguem definir se o anti-médium mineiro era firme ou submisso, achando que sua atividade dita mediúnica era "100% confiável" e que seus inúmeros erros, que os kardecianos hesitantes subestimam, devem ser "desculpados" porque Chico Xavier era uma pessoa ligada à "caridade" e à defesa da "fraternidade".
Dessa maneira, os kardecianos hesitantes não conseguem explicar essas contradições, e com isso também não conseguem estabelecer uma base realmente kardeciana, porque coloca os erros práticos dos "espíritas" debaixo do tapete, achando que os equívocos estão apenas na teoria e em algumas práticas.
Eles não sabem do que aproveitar de Chico Xavier, e, fora descartar os livros de Emmanuel, reconhecido por eles como o padre jesuíta Manoel da Nóbrega, obras que mais explicitam os erros de abordagem da Doutrina Espírita - junto à "série André Luiz" - , não sabem qual a obra xavieriana que poderiam aceitar, além das frases adocicadas de seus depoimentos e entrevistas.
Mesmo o caso André Luiz causa controvérsias. Afinal, praticamente apenas Nosso Lar e alguns livros derivados (como Missionários da Luz) são questionados severamente pelos kardecianos hesitantes, que ainda se dividem quanto à validade da "teoria mediúnica" de Nos Domínios da Mediunidade.
Por outro lado, os kardecianos hesitantes tendem a legitimar os conteúdos de Parnaso de Além-Túmulo, a coleção de pastiches poéticos que inaugurou a "psicografia" xavieriana, da mesma forma que veem veracidade nas obras que levam o nome de Humberto de Campos, embora admitam a ridicularidade do conteúdo de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Embora eles preguem o respeito e a apreciação do cientificismo de Kardec, eles evitam fazer qualquer questionamento com as atividades "espíritas" feitas no Brasil pelos "peixes grandes" (incluindo Xavier e Franco), levando em conta a mesma temeridade que, no Catolicismo, é definida pelo nome de "mistérios da fé".
Assim, eles preferem se abster da veracidade ou não das supostas "cartas mediúnicas", e não se encorajam em questionar, por exemplo, as atividades literárias ou artísticas atribuídas a espíritos de falecidos, exceto casos escancarados, como as supostas psicografias de roqueiros brasileiros, já que eles, muito populares e conhecidos, são abordados pelas mensagens de forma caricatural e cheia de contradições.
O que se pode concluir sobre os kardecianos hesitantes existentes no Brasil é que eles são um estágio ainda tímido e primitivo de busca de uma abordagem espírita autêntica. Ainda se apegam a fatos circunstanciais como a amizade de Chico Xavier e José Herculano Pires, que não reflete exatamente na viabilidade de aproveitar o anti-médium na recuperação do pensamento kardeciano, do contrário que essa facção tímida dos kardecianos tenta ainda acreditar.
Portanto, essa postura ainda não consegue compreender a natureza original da doutrina de Allan Kardec. Deixa passar boa parte das fraudes e mistificações do "espiritismo" brasileiro, tanto pelo medo de avaliar essas práticas quanto pela complacência de estereótipos de "humildade, amor e caridade" que não se encorajam em contestar.
Com isso, a lição de Allan Kardec continua sendo parcialmente apreciada. Da parte dos kardecianos hesitantes, o pensamento de Kardec pode até ser aceito com correção e profundidade, mas tudo acaba ficando apenas na teoria, enquanto, na prática, continuam valendo as fraudes e mistificações que o "espiritismo" brasileiro continua fazendo.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
"Espiritismo" se nivela a retrocessos religiosos do tempo de Jesus
Os rumos do "movimento espírita" no Brasil se tornam tão preocupantes que nota-se que a doutrina acaba recuperando os vícios e extravagâncias dos antigos aristocratas religiosos e dos exploradores da fé religiosa que eram tão combatidos por Jesus de Nazaré.
Muito se superestimou tanto o caráter bondoso de Jesus de Nazaré quanto das críticas que ele fazia às elites religiosas de seu tempo. Da primeira forma, ele reduziu-se a um patético e piegas pacifista a ser complacente com a crueldade dos homens, Da segunda forma, Jesus foi convertido num ferrenho "senhor dos exércitos" que não obstante combatia a caridade que ele próprio defendia.
Mas Jesus buscava a coerência e ela não é devidamente compreendida, porque o Jesus histórico hoje é praticamente pouco conhecido e ainda depende de descobertas e pesquisas arqueológicas, históricas, sociológicas e antropológicas para analisar sua pessoa humana fora da mistificação religiosa não raro surreal e fantasiosa.
Jesus demonstrava profundo conhecimento político e uma análise bastante abrangente da sociedade. Muito das conversas que ele dava quando visitava as casas das pessoas se perdeu. As conversas que permaneceram para a posteridade foram dadas por terceiros, mas o tendenciosismo religioso do Império Romano fez criar toda uma série de deturpações ao longo dos séculos.
O que se sabe é que Jesus não aprovava a pompa religiosa da época. Exemplificava fariseus e saduceus, que, apesar de diferentes, se uniam pelo excesso de formalidades religiosas que os faziam distantes da sociedade.
Jesus criticava todas as práticas religiosas de ritos, dogmas e extravagâncias que, depois, passaram a fazer parte também do Catolicismo medieval, que se apropriava do carisma de Jesus para distorcer suas lições originais. Nas mãos dos medievais, Jesus tornou-se seu anti-cristo.
O "avanço" do Catolicismo medieval se propagou por toda a Europa e se prolongou em países como Portugal, considerado um dos menos desenvolvidos do continente, que adotava práticas medievais até meados do século XIX, quando o Reino Unido e a França viviam transformações profundas de caráter político, científico e econômico, em que pese o despotismo bonapartista francês.
O Catolicismo português, de moldes medievais, influenciou diretamente o "desenho" da mentalidade religiosa do Brasil colonial, com a ação de padres jesuítas, como Padre Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega (que "reapareceu" como Emmanuel, o mentor de Francisco Cândido Xavier), cuja hegemonia se encerrou no século XVIII, mas deixando profundo legado para a posteridade.
POMPAS, RITOS E FALSAS MODÉSTIAS
Com isso, os jesuítas foram reabilitados quando católicos com algumas práticas flexíveis e conhecedores superficiais da obra de Allan Kardec, sobretudo a partir de O Evangelho Segundo o Espiritismo, decidiram fundar o "movimento espírita", já na década de 70 do século XIX, mas oficialmente consagrada com a fundação da Federação "Espírita" Brasileira em 1884.
Desde então, surgiram "centros espíritas" que aos poucos evocaram espíritos de freis, sorores, freiras, irmãos, irmãs, padres, santos que passaram a ser seus "protetores espirituais". Uma multidão de jesuítas "há muito desencarnados" passou a ser orientadora das atividades "espíritas" realizadas até hoje.
E aí surgem as mistificações e deturpações que conhecemos. Surgem as abordagens moralistas e apenas os ritos religiosos são mais "modestos" em relação aos católicos. No entanto o "espiritismo" nem por isso tornou-se melhor que a Igreja Católica.
Pelo contrário, o "espiritismo" reproduziu as piores qualidades do Catolicismo medieval, tirando apenas os pontos mais coercitivos e inserindo no seu conteúdo práticas hereges duvidosas, feitas sob o rótulo de "mediunidade".
Mesmo assim, nota-se que a pompa religiosa dos "espíritas" não difere muito dos fariseus e saduceus dos tempos de Jesus. Da mesma forma, os vendilhões dos templos que encontram paralelo exato nos neo-pentecostais, também não deixam de ter seus equivalentes no "espiritismo". Vide o mercado de livros "espíritas", com suas grandes vendas "para a caridade".
Se, nos tempos de Jesus, os sacerdotes que ele criticava tiravam onda nos seus templos e se sentavam nos bancos da frente para orarem, fingindo falsa humildade e bajulando suas divindades com doações ínfimas e orações que mais se destacam pela forma das palavras do que pelo conteúdo e intenção, no "espiritismo" a coisa não é diferente.
Vide, por exemplo, a falsa imponência de Divaldo Franco. que como um fariseu moderno faz pose de suposta serenidade, fazendo suas orações com a beleza das palavras arrumadas, que acobertam o envaidecimento e o charlatanismo de sua religiosidade espetacularizada pela verborragia discursiva.
Ou então o falso lirismo que envolve Chico Xavier e suas frases diabéticas de auto-ajuda barata, que servem apenas como adornos de pompa religiosa que apresentam uma humildade de fachada e um verniz de falsa simplicidade que se apoia, sobretudo, em uma bibliografia contraditória, confusa, prolixa e de leitura bastante pesada e penosa.
O que Jesus faria com os "espíritas" brasileiros? Iria acolhê-los como velhos amigos e abraçá-los com o maior carinho fraterno? Não. Jesus lhes decepcionaria, chamando-os de hipócritas, bajuladores e exploradores da boa-fé humana, usurpadores de tragédias familiares, mistificadores de segunda categoria e plagiadores literários, já que é difícil enganar o bastante culto e observador Jesus.
Afinal, trata-se da velha pompa, das velhas extravagâncias, dos velhos e velhacos envaidecimentos, do verniz de perfeição e humildade tão viscosos quanto o da pretensa simplicidade dos fariseus e saduceus. Sem falar do comércio de livros "espíritas", literatura ruim que se baseia em moralismos e mistificações.
Tudo isso lembra a velha hipocrisia religiosa que Jesus combatia, com suas palestras bastante informativas e esclarecedoras, e claras e fáceis de entender do contrário das complicações rebuscadas e prolixas dos velhos religiosos que o ativista judeu contestava. O "espiritismo" resgatou essa velha hipocrisia e apenas adaptou-a aos contextos atuais, sem no entanto eliminar sua essência.
domingo, 26 de julho de 2015
'A Vida Além do Véu', o livro que inspirou 'Nosso Lar'
Uma das matrizes para a compreensão surreal da vida espiritual, feita à revelia dos estudos sérios e das pesquisas cautelosas e criteriosas da Ciência Espírita, está na obra de um reverendo protestante inglês, George Vale Owen, através do livro A Vida Além do Véu (Life Beyond the Veil).
Tendo vivido entre 1869 e 1931, George nasceu em Birmingham e formou-se na Queen's College em Oxford. Ordenou-se sacerdote anglicano em Liverpool, em 1893. Depois que sua mãe faleceu, em 1909, alegou adquirir habilidades mediúnicas. dizendo ter recebido um espírito mentor, Astriel.
Em seguida, recebeu um espírito que se autodenominou "Leader" ("Líder", em inglês), que, descrevendo também a suposta vida espiritual, ditou o texto do livro Ministério do Céu, fazendo a maior parte das comunicações posteriores e o texto do livro Os Batalhões do Céu. Leader, guia espiritual de Owen, passou a se chamar Ariel, nome creditado nessas comunicações e nos livros.
Passou a escrever livros com mensagens atribuídas a vários espíritos. Um desses livros foi A Vida Além do Véu, lançado em 1913, prefaciado pelo espírita de primeira viagem, o bem intencionado mas não muito especializado (pelo menos nos níveis de Allan Kardec) Arthur Conan Doyle, o famoso autor das instigantes estórias de Sherlock Holmes.
O livro foi lançado em 1920 no Brasil, através da editora da Federação "Espírita" Brasileira. Seu tradutor, no entanto, foi Carlos Imbassahy, o pai, que havia sido um dos autênticos espíritas brasileiros e voltados à base doutrinária de Allan Kardec.
A tradução do livro e seu lançamento no Brasil foram feitos para estimular o debate sobre a vida espiritual, através de um relato já considerado controverso, supostamente ditado por vários espíritos a respeito do que se imagina ser o mundo espiritual. E, se o "espiritismo" brasileiro é catolicizado, nota-se a herança protestante no trabalho de Owen.
GEORGE VALE OWEN.
O enredo de A Vida Além do Véu começa com a divagação sobre assuntos ligados a fé religiosa ao lado de abordagens pretensamente filosóficas e científicas. Em seguida, mostra a evolução do espírito na erraticidade, mostrando colônias espirituais. Bem antes do livro, Astriel havia descrito esse "cenário" nos livros Os Baixos Campos (ou Planos) do Céu e Os Altos Campos (ou Planos) do Céu.
Owen descreve uma suposta cidade espiritual chamada Castrel, uma colônia destinada a atender espíritos de pessoas falecidas na infância. Seria um cruzamento de "hospital" com "escola" que prepararia as crianças para serem enviadas para outros planos espirituais, assim que atingissem a fase adulta.
Há também a "região das trevas", nas quais espíritos considerados mais evoluídos são enviados para prestar assistência e orientação moral. O livro encerra com conceitos tidos como espíritas. A mãe de Owen e Ariel se destacam entre os aparentes mensageiros espirituais.
TABELA DO BLOGUE OBRAS PSICOGRAFADAS COMPARANDO O LIVRO DE OWEN COM UMA DAS "PSICOGRAFIAS" DE CHICO XAVIER.
Antes de Nosso Lar, Francisco Cândido Xavier teria iniciado o plágio de A Vida Além do Véu através de Cartas de Uma Morta, de 1935, livro atribuído à psicografia de Maria João de Deus, mãe do anti-médium mineiro.
O livro seria o primeiro em que Chico Xavier arrisca a descrever a "vida espiritual". Depois do "ambicioso" livro poético Parnaso de Além-Túmulo, que ganhava segunda edição em 1935, o anti-médium ainda posava para fotos de O Globo, mostrando um semblante assustador olhando de frente.
Também em 1935, Xavier alegava ter sonhado com Humberto de Campos, o que "justificou" a apropriação do carisma do autor falecido em 1934. Quando a Cartas de Uma Morta, o blogue Obras Psicografadas não só apresenta tabela comparativa (ver acima) como fez outras comparações, referentes à natureza da narrativa:
1º) Uma mãe desencarnada (espírito) se comunicando com o filho na Terra.
2º) A narrativa feita pela mãe do local onde se encontra e um evento, marcado pela reunião de espíritos, que ouvem uma palestra.
3º) O ponto máximo da palestra, marcado por orações e flores que caem sobre os presentes.
4º) A citação de que no momento de clímax do evento, ocorrem mudanças na “atmosfera”: O céu pareceu ter intensificado sua cor / Um luar indescritível, projetando-se …
Sobre Nosso Lar, que inferimos ter sido um trabalho "conjunto" em que Chico Xavier não só plagiou o livro de Owen como teria recebido sugestões de Wantuil de Freitas. da FEB, e até do então pré-adolescente e depois parceiro Waldo Vieira, já considerado "médium" e fã de HQ, inclusive de ficção científica, a "colônia espiritual" era copiada da Universidade das Cinco Torres do livro de Owen.
O que se comprova é que A Vida Além do Véu foi fonte de muitos plágios de Chico Xavier, que dele se serviu para copiar vários de seus trechos, o que faz com que boa parte das psicografias associadas ao anti-médium mineiro percam a credibilidade que fazem a sua fama e prestígio.
Se os herdeiros de George Vale Owen tivessem sabido disso, teriam processado Chico Xavier. Só que a justiça britânica não seria moleza e não haveria o desconhecimento manifesto pelos juízes brasileiros. O anti-médium mineiro estaria frito, nesta situação.
sábado, 25 de julho de 2015
Frase de antropóloga dos EUA contraria "filosofia" de Chico Xavier
Com o caso da jovem negra Sandra Bland, cujo provável assassinato dentro da prisão causou grande revolta nos EUA e, em parte, no resto do mundo, uma frase da antropóloga, romancista e ativista estadunidense Zora Neale Hurston veio à tona. Antes de falarmos dessa notável intelectual estadunidense, vamos explicar o caso que aconteceu recentemente.
Sandra Bland, ativista nascida em Chicago, tinha 28 anos e, vivendo em Waller County, no Texas, estava dirigindo seu carro quando foi detida por um policial branco que alegava que ela não havia obedecido a sinalização do trânsito.
O tira ainda implicou com o fato dela fumar dentro de seu carro, e ela reclamou dizendo que tinha direito de fazê-lo. Irritado e armado de um aparelho que produzia choque elétrico, o guarda forçou Sandra a sair do carro, jogando-a no chão, onde ficou deitada até ser algemada e levada para a prisão.
No último dia 13 de julho, Sandra Bland foi encontrada morta, e aparentemente uma autópsia no seu cadáver alegou que ela "havia se suicidado". Movimentos de defesa dos direitos humanos questionam o laudo e afirmam que as imagens divulgadas da prisão teriam sido editadas para atenuar a culpa do policial.
Várias celebridades manifestaram solidariedade à vítima em diversas declarações dadas nas mídias sociais. A frase de Zora Neale Hurston foi resgatada de uma ilustração publicada no Instagram da jovem atriz negra Amandla Stenberg, de Jogos Vorazes (Hunger Games), que recentemente se envolveu numa polêmica com a sub-celebridade Kylie Jenner, por causa da apropriação tendenciosa da estética da cultura negra, através de um penteado no cabelo.
Zora Hurston nasceu em 1891 no Estado ultraconservador do Alabama. Trabalhou com uma geração de antropólogos, como Franz Boas e Margareth Mead, que, influenciados pela Escola dos Annales dos franceses Marc Bloch e Lucien Febvre, rompiam com abordagens eurocêntricas da Antropologia, passando a abordar uma visão mais realista e abrangente da humanidade.
Ela escreveu romances, chegou a ser atriz de teatro, foi casada com um músico de jazz e depois com um rapaz bem mais jovem do que ela. Zora faleceu doente, poucas semanas depois de completar 69 anos de idade, em 1960, época em que os movimentos contra o racismo se intensificavam nos EUA.
A FRASE QUE DERRUBA O PENSAMENTO DE CHICO XAVIER
Com impressionante lucidez, Zora Hurston havia dito uma frase contra a submissão das pessoas, e que serve de lição para o problema do racismo, principalmente nos Estados do Texas e do Alabama, famosos por abrigarem grupos brancos que defendem radicalmente a segregação racial.
Zora disse: "If you are silent about your pain, they'll kill you and say you enjoyed it" ("Se você fica calado a respeito de sua dor, eles irão matá-lo e dizer que você adorou isso"). É uma frase enérgica e realista, e que denuncia o sadismo hipócrita dos algozes.
Isso é muito diferente das frases "dóceis" de Chico Xavier que os brasileiros tão debilmente publicam nas redes sociais. Chico queria o "sofrimento em silêncio", o "consolo" restrito à prece, e não raro dizia para as pessoas "sofrerem amando", esperando as bonanças que viriam depois, provavelmente no além-túmulo.
Veja que diferença. Zora condenava a passividade e a complacência com a opressão. Chico queria o perdão, a misericórdia e até o sentimento masoquista de sofrer a dor "com amor". E é assustador que os brasileiros deem preferência à frase de Chico Xavier, que ideologicamente era uma das pessoas mais retrógradas do país.
É assustador que o mundo gira e que exemplos de coerência se observam lá fora, enquanto o Brasil, em sua recente onda de provincianismo, prefere seu narcisismo que cria totens e valores retrógrados, fora da realidade e sem muito proveito ou benefício reais.
Daí a sabedoria de Zora diante da pseudo-filosofia do anti-médium mineiro. Este queria que os brasileiros se prostrassem no sofrimento sem solução, aguentando tudo com paciência subserviente, daí a urgência de recorrermos à frase de uma intelectual estrangeira para tirar os brasileiros de suas fantasias infantis.
Pela frase de Zora, faz sentido o masoquismo dos chiquistas. Eles preferem ficar calados na dor, enquanto os algozes os matam, literal ou simbolicamente através dos infortúnios. Então os algozes vão logo dizendo para os chiquistas que eles adoraram esse flagelo. Mas aí os chiquistas agradecem e dizem amém.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Chico Xavier, Emmanuel e homossexualismo
Lançado em 1970, o livro Vida e Sexo, da safra Emmanuel / Chico Xavier, se encontra num contexto em que o anti-médium mineiro precisava moderar um pouco no conservadorismo acentuado (mas digerível por meio de suas palavras dóceis) que marcou sua trajetória.
Era a época em que o movimento hippie, mesmo tendo se tornado um modismo desgastado nos EUA (maculado pelos episódios da violência dos Hell's Angels em Altamont e da chacina dos seguidores da seita de Charles Manson), começava a se propagar pelo mundo.
E, como no Brasil as coisas começam a ocorrer muito tarde, foi em 1970 que o movimento hippie começou a pegar de vez e, pasmem, ainda se encontravam hippies pelas ruas brasileiras no começo dos anos 1980.
E aí Chico Xavier tentava pegar carona no psicodelismo. Um exemplo é o tal "sonho" de 1969 que o fez um simulacro de profeta com pretensões de cientista, cientista político e estrategista geográfico dos mais infelizes, com graves erros sociológicos, geográficos e geológicos que anulam qualquer validade de sua "linda profecia".
Entre o "sonho" de 1969 e os ajustes na suposta psicografia de Jair Presente, em que a primeira mensagem saiu "no estilo Chico Xavier" e as demais viraram um caricato amontoado de gírias hippies com narrativa forçadamente alucinógena, houve também um posicionamento um tanto tendencioso quanto ao assunto do momento, o homossexualismo.
Nota-se, na Contracultura dos anos 1960, que diversos movimentos sociais reclamavam liberdade e direitos, como os homossexuais, os negros, os universitários, o operariado e o campesinato, só para dizer os principais. Foi, na época, um fator inédito no mundo e, por incrível que pareça, já dava seus sinais no comecinho da década, quando aparentemente não havia psicodelia nem hippies.
Com isso, o machismo de Emmanuel e o moralismo dele e de Chico Xavier tinham que maneirar. Até pelo fato de Chico ter tido um jeito considerado efeminado de falar e agir, como um caipira tipicamente provinciano e submisso que era.
Tanto no livro Vida e Sexo quanto num momento na entrevista do anti-médium mineiro no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo, a postura chiquista-emmanueliana sobre o homossexualismo parece "favorável", mas não menos preconceituosa. Observem as seguintes declarações, primeiro, do livro e, depois, da entrevista no programa da Tupi. Depois, nossas considerações:
A homossexualidade, hoje chamada também transexualidade, definindo-se, no conjunto de suas caraterísticas, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos de base materialista mas é perfeitamente compreensível à luz da reencarnação.
Embora a sociedade terrena seja constituída, em sua maioria, por criaturas heterossexuais, o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiências dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos aos heterossexuais.
A vida espiritual pura e simples rege-se por afinidades eletivas essenciais; contudo, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.
O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, é em muitos casos induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, ocorrendo o mesmo com a mulher que tenha agido de igual modo.
(FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER / EMMANUEL. VIDA E SEXO. FEB, 1970)
ALMYR GUIMARÃES Chico, tem aqui uma pergunta de dona Maria Lúcia Silva Gomes. Pergunta: "Como se explica o homossexualismo e a perturbação no comportamento sexual à luz da doutrina espírita?"
CHICO XAVIER Temos tido alguns entendimentos com Espíritos amigos e notadamente com Emmanuel a esse respeito.
O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou bissexualismo como a assexualidade são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito. E acreditamos que o comportamento sexual na humanidade sofrerá de futuro revisões muito grandes, porque nós vamos catalogar, do ponto de vista de ciência, todos aqueles que podem cooperar na procriação e todos aqueles que estão numa condição de esterilidade.
A criatura humana não é só chamada à fecundidade física, mas também à fecundidade espiritual. Quando geramos filhos, através da sexualidade dita normal, somos chamados também à fecundidade espiritual, transmitindo aos nossos filhos os valores do espírito de que sejamos portadores.
Não nos referimos aqui aos problemas do desequilíbrio nem aos problemas da chamada viciação nas relações humanas. Estamos nos referindo a condições da personalidade humana reencarnada, muitas vezes portadora de conflitos que dizem respeito seja à sua condição de alma em prova ou à sua condição de criatura em tarefa específica.
De modo que o assunto merecerá muito estudo e poderemos voltar a ele em qualquer tempo que formos convidados Porque nós temos um problema em matéria de sexo na humanidade, que precisaríamos considerar com bastante segurança e respeito recíproco.
Se as potências do homem na visão, na audição, nos recursos imensos do cérebro nos recursos gustativos, nas mãos, na tatilidade com que as mãos executam trabalhos manuais, nos pés; se todas essas potências foram dadas ao homem para a educação, para o rendimento no bem, isto é, potências consagradas ao bem e à luz em nome de Deus, seria o sexo, em suas várias manifestações, sentenciado às trevas?
(ENTREVISTA DO PROGRAMA PINGA-FOGO, APRESENTADO POR ALMYR GUIMARÃES, TV TUPI DE SÃO PAULO, 28 DE JULHO DE 1971)
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Note-se que, apesar da postura "respeitosa", tanto Chico Xavier quanto Emmanuel não deixam de adotar um preconceito moralista, "não condenando" o homossexualismo no enunciado, mas condenando nos pormenores.
Observa-se que Chico Xavier credita a homossexualidade a uma espécie de confusão de identidade, pois essa opção se daria por causa dos "conflitos da alma" e sua avaliação sugere que a opção obedece a uma espécie de castigo reencarnacional por conta de uma sexualidade mal resolvida.
Já Emmanuel descreve que o homem torna-se homossexual como uma punição por ter arruinado relações conjugais construtivas em outra encarnação, como meio de "reajuste emocional", o mesmo ocorrendo com a mulher em semelhante condição de delito.
As duas frases, no entanto, parecem um "assopra-e-morde", porque, embora Emmanuel e Chico Xavier afirmem que os homossexuais "nossa maior atenção e respeito, em pé de igualdade com a atenção e respeito dados aos heterossexuais", nota-se um moralismo punitivo que transforma os homossexuais em condenados.
Isso é um grande absurdo. A questão sexual é apenas uma questão de escolha, e não de punição ou reajuste. É certo que muitas pessoas tornam-se homossexuais porque se desiludem com a vida heterossexual, mas isso não quer dizer que a condição de homossexualidade seja uma punição. Em muitos casos, pode ser apenas uma busca inusitada por prazer ou por uma nova paixão.
Portanto, o que se pode inferir é que Chico e Emmanuel só não puderam expressar homofobia porque, naqueles tempos em que o hoje conhecido movimento LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e trangêneros) estava a todo vapor nos EUA e Europa, os dois não poderiam se manter em valores considerados obsoletos.
Além do mais, esta postura, tendenciosa, "em respeito" aos homossexuais, iria também confrontar com a igualmente tendenciosa postura "fielmente espírita", já que Allan Kardec afirmava que o espírito não tem sexo e as encarnações podem variar quanto ao gênero. O moralismo chiquista apenas mudou os anéis para preservar os dedos sem trazer coisa alguma de moderno ou transformador.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Cientistas brasileiros contrariam "profecia" de Chico Xavier
AUSTRÁLIA (NA FOTO, A CAPITAL CANBERRA) É UM DOS PAÍSES MAIS RECEPTIVOS AO TRABALHO DE CIENTISTAS E TÉCNICOS BRASILEIROS.
É sabido que os cientistas brasileiros estão indo embora. A falta de investimentos nas pesquisas científicas faz com que muitos brasileiros, não tendo recursos para levar adiante seus trabalhos, prefiram migrar para outros países, sobretudo desenvolvidos, onde existem condições financeiras e profissionais para realizarem suas pesquisas.
Esse não é um fato recente e, no entanto, também está longe de se encerrar, mesmo durante o "longo período" de "recuperação" que o mundo terá sob o presumido comando do Brasil, como sonhava Chico Xavier que, em sua visão provinciana, queria que o nosso país fosse o "coração do mundo".
Para piorar, o "sonho de 1969" ainda tinha a presunção de "garantir" que multidões de grandes pensadores, artistas e cientistas, e principalmente intelectuais de grande valor, passariam a viver no Brasil depois que guerras e catástrofes naturais (!) tornassem o Hemisfério Norte "inabitável", da mesma forma que haveria similares brasileiros de igual importância.
Risível. Que intelectuais "importantes" mostraremos no "coração do mundo"? Aqueles antropólogos e cineastas que corroboram com a visão caricata de povo pobre e com a etnografia de mercado do programa Esquenta! da Rede Globo? Que cientistas teremos? Aqueles igualzinho aos de Juiz de Fora que tentam comprovar o incomprovável dos embustes "mediúnicos" do "nosso bom profeta espírita"?
O país da corrupção política, da "cultura" da demagogia - faz-se o pior alegando ser por "boas intenções" - , dos baixos investimentos em Educação e Saúde e da prevalência de valores sociais retrógrados, com reflexo na nossa cultura, impedem que o Brasil possa assumir qualquer liderança mundial. Recuperar o país dessa degradação generalizada é um trabalho difícil que não conseguirá fazer o Brasil alcançar tal condição.
Em compensação, os países desenvolvidos
tentam resolver seus problemas. Afinal, eles são mais experientes. A Europa já passou por um período de muita fome e miséria depois da Segunda Guerra Mundial e, por isso, pôde somar estes problemas aos que já acumulou no decorrer dos séculos para resolverem, e assim se desenharam os países desenvolvidos que hoje conhecemos.
Aí os países europeus em geral decidiram realizar controle de natalidade para evitar a superpopulação e, por consequência, a crise sócio-econômica. Só que isso, levado adiante, faz com que a população não só reduzisse como envelhecesse, porque a baixa natalidade acaba envelhecendo a população e enfraquecendo a demanda socialmente ativa.
Isso faz com que as autoridades busquem alternativas para preencher a oferta de emprego, como a contratação de estrangeiros. No caso dos brasileiros, as oportunidades reservadas para áreas como Medicina, Engenharia e Informática, incluindo cursos de capacitação profissional ou formação universitária (incluindo pós-graduação) e programas de emprego temporário (que no entanto podem se converter em estáveis se depender do caso).
Muitos brasileiros já participaram desses programas em países como Canadá e Austrália, os que mais os oferecem para os cidadãos oriundos do Brasil. Mas a Nova Zelândia, a Noruega e a Alemanha também oferecem esses programas, que permitem um acolhimento melhor na vida dos que querem deixar o Brasil em busca de uma vida melhor.
Isso contraria severamente as "previsões" de Chico Xavier. Os cientistas brasileiros estão indo embora, vários já foram. Como também muitos dos técnicos e especialistas de altíssimo valor. E isso próximo de 2019. Faltam quatro anos. O que significa que o quadro não tende a ser diferente, diante do agravamento dos retrocessos que atingem o país.
Até o Sul e Sudeste, antes referências de modernidade e desenvolvimento no Brasil - embora aquém dos padrões do "velho mundo" - , tornaram-se redutos de um atraso antes inimaginável, através de um provincianismo que envolve a degradação sócio-cultural em vários sentidos, da corrupção política às humilhações de internautas encrenqueiros nas mídias sociais.
É um quadro social desfavorável para grandes projetos profissionais e educativos. Hoje estamos questionando todos esses valores, mas infelizmente os algozes estão no poder e não parecem sujeitos a cair. O que se sabe é que o "sonho" de Chico Xavier em ver o Brasil como "coração do mundo" foi liquidado mais uma vez com essa realidade do país perder seus grandes talentos profissionais e acadêmicos que migram para o exterior.
É sabido que os cientistas brasileiros estão indo embora. A falta de investimentos nas pesquisas científicas faz com que muitos brasileiros, não tendo recursos para levar adiante seus trabalhos, prefiram migrar para outros países, sobretudo desenvolvidos, onde existem condições financeiras e profissionais para realizarem suas pesquisas.
Esse não é um fato recente e, no entanto, também está longe de se encerrar, mesmo durante o "longo período" de "recuperação" que o mundo terá sob o presumido comando do Brasil, como sonhava Chico Xavier que, em sua visão provinciana, queria que o nosso país fosse o "coração do mundo".
Para piorar, o "sonho de 1969" ainda tinha a presunção de "garantir" que multidões de grandes pensadores, artistas e cientistas, e principalmente intelectuais de grande valor, passariam a viver no Brasil depois que guerras e catástrofes naturais (!) tornassem o Hemisfério Norte "inabitável", da mesma forma que haveria similares brasileiros de igual importância.
Risível. Que intelectuais "importantes" mostraremos no "coração do mundo"? Aqueles antropólogos e cineastas que corroboram com a visão caricata de povo pobre e com a etnografia de mercado do programa Esquenta! da Rede Globo? Que cientistas teremos? Aqueles igualzinho aos de Juiz de Fora que tentam comprovar o incomprovável dos embustes "mediúnicos" do "nosso bom profeta espírita"?
O país da corrupção política, da "cultura" da demagogia - faz-se o pior alegando ser por "boas intenções" - , dos baixos investimentos em Educação e Saúde e da prevalência de valores sociais retrógrados, com reflexo na nossa cultura, impedem que o Brasil possa assumir qualquer liderança mundial. Recuperar o país dessa degradação generalizada é um trabalho difícil que não conseguirá fazer o Brasil alcançar tal condição.
Em compensação, os países desenvolvidos
tentam resolver seus problemas. Afinal, eles são mais experientes. A Europa já passou por um período de muita fome e miséria depois da Segunda Guerra Mundial e, por isso, pôde somar estes problemas aos que já acumulou no decorrer dos séculos para resolverem, e assim se desenharam os países desenvolvidos que hoje conhecemos.
Aí os países europeus em geral decidiram realizar controle de natalidade para evitar a superpopulação e, por consequência, a crise sócio-econômica. Só que isso, levado adiante, faz com que a população não só reduzisse como envelhecesse, porque a baixa natalidade acaba envelhecendo a população e enfraquecendo a demanda socialmente ativa.
Isso faz com que as autoridades busquem alternativas para preencher a oferta de emprego, como a contratação de estrangeiros. No caso dos brasileiros, as oportunidades reservadas para áreas como Medicina, Engenharia e Informática, incluindo cursos de capacitação profissional ou formação universitária (incluindo pós-graduação) e programas de emprego temporário (que no entanto podem se converter em estáveis se depender do caso).
Muitos brasileiros já participaram desses programas em países como Canadá e Austrália, os que mais os oferecem para os cidadãos oriundos do Brasil. Mas a Nova Zelândia, a Noruega e a Alemanha também oferecem esses programas, que permitem um acolhimento melhor na vida dos que querem deixar o Brasil em busca de uma vida melhor.
Isso contraria severamente as "previsões" de Chico Xavier. Os cientistas brasileiros estão indo embora, vários já foram. Como também muitos dos técnicos e especialistas de altíssimo valor. E isso próximo de 2019. Faltam quatro anos. O que significa que o quadro não tende a ser diferente, diante do agravamento dos retrocessos que atingem o país.
Até o Sul e Sudeste, antes referências de modernidade e desenvolvimento no Brasil - embora aquém dos padrões do "velho mundo" - , tornaram-se redutos de um atraso antes inimaginável, através de um provincianismo que envolve a degradação sócio-cultural em vários sentidos, da corrupção política às humilhações de internautas encrenqueiros nas mídias sociais.
É um quadro social desfavorável para grandes projetos profissionais e educativos. Hoje estamos questionando todos esses valores, mas infelizmente os algozes estão no poder e não parecem sujeitos a cair. O que se sabe é que o "sonho" de Chico Xavier em ver o Brasil como "coração do mundo" foi liquidado mais uma vez com essa realidade do país perder seus grandes talentos profissionais e acadêmicos que migram para o exterior.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
"Espiritismo" é materialista, mas despreza a vida material. Como explicar isso?
PARA CHICO XAVIER, ESSE INFELIZ DEVERIA APENAS FICAR ORANDO EM SILÊNCIO, COM GARANTIA DE RECOMPENSAS FUTURAS SÓ NO ALÉM-TÚMULO.
O "espiritismo" não consegue explicar por que faz a apologia ao sofrimento humano. Alega que se deva sofrer da pior forma possível, recorrer a uma overdose de orações e religiosidade para ter um pouco menos de prejuízos e um pouco mais de benefícios, sempre longe de obter qualidade de vida ou mesmo chances plenas até de ajudar alguém.
Perdido num receituário moralista conservador, o "espiritismo" despreza a necessidade de ter uma vida material melhor. Temos um prazo de cerca de 80 anos de vida que acaba sendo marcado por infortúnios pesados, mas desnecessários, impostos além do limite de alguém para suportá-los e, como se isso não bastasse, às vezes o azar faz alguém abreviar sua vida quando mais precisa levá-la adiante.
Obtendo tratamentos espirituais com a intenção de atrair sorte para emprego, o paciente acaba atraindo o azar que não tinha. Perde oportunidades de obter excelentes empregos, através de situações confusas que permitem esse infortúnio, por mais que o sujeito se esforce de maneira exemplar para realizar tais oportunidades.
Se for a vida amorosa, o homem que suplica para pedir que venha em seu caminho uma moça atraente e com afinidades de personalidade, ou seja, afinidades espirituais, ele acaba atraindo mulheres que não são atraentes, não possuem afinidade espiritual com ele e, além disso, às vezes só correspondem a padrões grotescos de sensualidade que o homem não aprecia.
Que "sorte" é essa que os tratamentos espirituais atraem? O homem pede uma mulher com personalidade e caráter, que se afine com ele e ajude a tornar sua vida melhor, e ganha de presente uma "periguete" que, quando muito, só serve para atos sexuais mais primitivos? Que espiritualismo é esse que só permite benefícios tão materialistas?
E, no emprego? Tem gente que perde no concurso público para trabalhar numa autarquia que lhe traria grandes aprendizados e, todavia, lhe é permitido trabalhar como celetista numa empresa corrupta cujo patrão "raposa velha" teve a "sorte" de fazer aniversário do mesmo dia do pobre coitado.
Pode ser contraditório afirmar que o "espiritismo" despreza a vida material e é materialista. Mas a verdade é que essa aparente contradição tem sentido e, no fundo, é bem menos contraditória do que se imagina, se observarmos alguns dados.
Primeiro, porque a valorização da vida material é, na verdade, uma necessidade de estabelecer uma relação positiva entre a ação do espírito encarnado e as condições sociais materiais diversas. Dar valor positivo à vida material é ser mais espiritualista, porque defende-se o melhor aproveitamento da matéria para o aperfeiçoamento do espírito.
Quando se desvaloriza a vida material e atribui à "vida futura" a recompensa do sofrimento na carne, o "espiritismo" está sendo muito materialista, porque, tornando a vida material uma trajetória de sofrimentos pesados ou de inúteis tentativas de superação de limitações, está, na verdade, tratando a vida material como algo sem importância.
A "rivalidade" que os "espíritas" pregam entre matéria e espírito, defendendo a vida material como uma penitência individual, como se a Terra fosse uma grande penitenciária, é que revela mais materialismo que espiritualismo, não bastassem os "espíritas" terem uma visão materialista sobre a misteriosa vida espiritual. Nosso Lar demonstra esse materialismo.
Não sabemos agora com precisão o que é vida espiritual, e as incipientes pesquisas de contatos com espíritos morreu com a bagunça que muitos supostos médiuns fizeram, sem excluir Chico Xavier e Divaldo Franco, cujas fraudes e pastiches contradizem a alta reputação que alcançaram.
O materialismo se dá pelo desprezo ao uso da vida material de forma qualitativa e diferenciada. Por exemplo, se um homem não quer qualquer mulher e exige que sua pretendente tenha afinidades espirituais com ele, ele não pode pegar qualquer solitária feita apenas para fins reprodutivos.
Da mesma forma, a mulher que deseja um homem diferenciado não pode pegar como cônjuge um homem que apenas "estava ali" o tempo todo, um grosseiro durão que apenas se porta como tendenciosamente gentil e falsamente descontraído e amoroso, um homem sem caráter mas com uma única capacidade de manipular as conveniências sociais.
No emprego, então, a pessoa que faz tratamento espiritual para atrair sorte para um bom emprego, visando aproveitar melhor sua inteligência e seu potencial criativo, não quer atrair para si um emprego "qualquer nota" que só serve para atrair um salário qualquer, enquanto o emprego dos sonhos se torna uma realidade distante e impossível.
O "espiritismo" não pensa em qualidade de vida. Faz apologia ao sofrimento. Só pensa em recompensas póstumas para o "corajoso" sofredor. E acha que a vida material é a mesma em qualquer encarnação, pouco ligando para a transformação dos tempos e das pessoas, o que nos faz compreender por que o "espiritismo" tornou-se uma religião retrógrada e parada no tempo.
Para os "espíritas", vive-se a vida material "como se pode", de preferência encarando qualquer cilada, tendo qualquer prejuízo, desperdiçando os melhores talentos que encontram obstáculos intransponíveis para a expressão livre e adequada de suas habilidades. Até o sentido de caridade, neste caso, é deturpada pela doutrina, ao defender a complacência ou submissão aos algozes.
Na medida em que o "espiritismo" despreza a necessidade de melhor aproveitar a ação espiritual na vida material, ele está sendo materialista. Porque, assim, o "espiritismo" pensa a matéria como qualquer coisa. O espírito encarnado é que tem que se embrutecer e emburrecer e viver apenas para atender necessidades materiais.
A ideia é sobreviver e não viver. Vida melhor acaba se reduzindo a uma utopia a ser atingida depois da morte, através da perspectiva do desconhecido, a "certeza" do incerto que o sadismo das religiões mais moralistas impõe e que não difere muito do Taylorismo econômico que sacrificava as classes operárias.
Achar que tanto faz sofrer numa encarnação e acreditar que vida melhor só existe no além-túmulo é desprezar a oportunidade do espírito aproveitar melhor a sua rara oportunidade em cada encarnação. O mundo muda, existem reencarnações, mas cada encarnação é única em seus contextos e caraterísticas humanas.
Desprezar a necessidade de evitar sofrimentos na vida presente, buscando qualidade de vida para um encarnado, é desprezar o potencial do espírito em aproveitar melhor a vida material, e achar que encarnação é aguentar qualquer limitação sem intervir contra a mesma é, isso sim, uma visão escancarada e cruelmente materialista.
O "espiritismo" não consegue explicar por que faz a apologia ao sofrimento humano. Alega que se deva sofrer da pior forma possível, recorrer a uma overdose de orações e religiosidade para ter um pouco menos de prejuízos e um pouco mais de benefícios, sempre longe de obter qualidade de vida ou mesmo chances plenas até de ajudar alguém.
Perdido num receituário moralista conservador, o "espiritismo" despreza a necessidade de ter uma vida material melhor. Temos um prazo de cerca de 80 anos de vida que acaba sendo marcado por infortúnios pesados, mas desnecessários, impostos além do limite de alguém para suportá-los e, como se isso não bastasse, às vezes o azar faz alguém abreviar sua vida quando mais precisa levá-la adiante.
Obtendo tratamentos espirituais com a intenção de atrair sorte para emprego, o paciente acaba atraindo o azar que não tinha. Perde oportunidades de obter excelentes empregos, através de situações confusas que permitem esse infortúnio, por mais que o sujeito se esforce de maneira exemplar para realizar tais oportunidades.
Se for a vida amorosa, o homem que suplica para pedir que venha em seu caminho uma moça atraente e com afinidades de personalidade, ou seja, afinidades espirituais, ele acaba atraindo mulheres que não são atraentes, não possuem afinidade espiritual com ele e, além disso, às vezes só correspondem a padrões grotescos de sensualidade que o homem não aprecia.
Que "sorte" é essa que os tratamentos espirituais atraem? O homem pede uma mulher com personalidade e caráter, que se afine com ele e ajude a tornar sua vida melhor, e ganha de presente uma "periguete" que, quando muito, só serve para atos sexuais mais primitivos? Que espiritualismo é esse que só permite benefícios tão materialistas?
E, no emprego? Tem gente que perde no concurso público para trabalhar numa autarquia que lhe traria grandes aprendizados e, todavia, lhe é permitido trabalhar como celetista numa empresa corrupta cujo patrão "raposa velha" teve a "sorte" de fazer aniversário do mesmo dia do pobre coitado.
Pode ser contraditório afirmar que o "espiritismo" despreza a vida material e é materialista. Mas a verdade é que essa aparente contradição tem sentido e, no fundo, é bem menos contraditória do que se imagina, se observarmos alguns dados.
Primeiro, porque a valorização da vida material é, na verdade, uma necessidade de estabelecer uma relação positiva entre a ação do espírito encarnado e as condições sociais materiais diversas. Dar valor positivo à vida material é ser mais espiritualista, porque defende-se o melhor aproveitamento da matéria para o aperfeiçoamento do espírito.
Quando se desvaloriza a vida material e atribui à "vida futura" a recompensa do sofrimento na carne, o "espiritismo" está sendo muito materialista, porque, tornando a vida material uma trajetória de sofrimentos pesados ou de inúteis tentativas de superação de limitações, está, na verdade, tratando a vida material como algo sem importância.
A "rivalidade" que os "espíritas" pregam entre matéria e espírito, defendendo a vida material como uma penitência individual, como se a Terra fosse uma grande penitenciária, é que revela mais materialismo que espiritualismo, não bastassem os "espíritas" terem uma visão materialista sobre a misteriosa vida espiritual. Nosso Lar demonstra esse materialismo.
Não sabemos agora com precisão o que é vida espiritual, e as incipientes pesquisas de contatos com espíritos morreu com a bagunça que muitos supostos médiuns fizeram, sem excluir Chico Xavier e Divaldo Franco, cujas fraudes e pastiches contradizem a alta reputação que alcançaram.
O materialismo se dá pelo desprezo ao uso da vida material de forma qualitativa e diferenciada. Por exemplo, se um homem não quer qualquer mulher e exige que sua pretendente tenha afinidades espirituais com ele, ele não pode pegar qualquer solitária feita apenas para fins reprodutivos.
Da mesma forma, a mulher que deseja um homem diferenciado não pode pegar como cônjuge um homem que apenas "estava ali" o tempo todo, um grosseiro durão que apenas se porta como tendenciosamente gentil e falsamente descontraído e amoroso, um homem sem caráter mas com uma única capacidade de manipular as conveniências sociais.
No emprego, então, a pessoa que faz tratamento espiritual para atrair sorte para um bom emprego, visando aproveitar melhor sua inteligência e seu potencial criativo, não quer atrair para si um emprego "qualquer nota" que só serve para atrair um salário qualquer, enquanto o emprego dos sonhos se torna uma realidade distante e impossível.
O "espiritismo" não pensa em qualidade de vida. Faz apologia ao sofrimento. Só pensa em recompensas póstumas para o "corajoso" sofredor. E acha que a vida material é a mesma em qualquer encarnação, pouco ligando para a transformação dos tempos e das pessoas, o que nos faz compreender por que o "espiritismo" tornou-se uma religião retrógrada e parada no tempo.
Para os "espíritas", vive-se a vida material "como se pode", de preferência encarando qualquer cilada, tendo qualquer prejuízo, desperdiçando os melhores talentos que encontram obstáculos intransponíveis para a expressão livre e adequada de suas habilidades. Até o sentido de caridade, neste caso, é deturpada pela doutrina, ao defender a complacência ou submissão aos algozes.
Na medida em que o "espiritismo" despreza a necessidade de melhor aproveitar a ação espiritual na vida material, ele está sendo materialista. Porque, assim, o "espiritismo" pensa a matéria como qualquer coisa. O espírito encarnado é que tem que se embrutecer e emburrecer e viver apenas para atender necessidades materiais.
A ideia é sobreviver e não viver. Vida melhor acaba se reduzindo a uma utopia a ser atingida depois da morte, através da perspectiva do desconhecido, a "certeza" do incerto que o sadismo das religiões mais moralistas impõe e que não difere muito do Taylorismo econômico que sacrificava as classes operárias.
Achar que tanto faz sofrer numa encarnação e acreditar que vida melhor só existe no além-túmulo é desprezar a oportunidade do espírito aproveitar melhor a sua rara oportunidade em cada encarnação. O mundo muda, existem reencarnações, mas cada encarnação é única em seus contextos e caraterísticas humanas.
Desprezar a necessidade de evitar sofrimentos na vida presente, buscando qualidade de vida para um encarnado, é desprezar o potencial do espírito em aproveitar melhor a vida material, e achar que encarnação é aguentar qualquer limitação sem intervir contra a mesma é, isso sim, uma visão escancarada e cruelmente materialista.
terça-feira, 21 de julho de 2015
Não se deve ensinar Chico Xavier a espíritas iniciantes
Iniciativa extremamente infeliz um blogue que se volta a ensinar Doutrina Espírita para iniciantes falar em "excelente entrevista" com Francisco Cândido Xavier, como se fosse maravilhoso ouvir suas "previsões" a respeito do futuro da humanidade.
Afinal, a iniciativa, além de ser pouco recomendável, ou melhor, até de muita urgência evitar, revela um grande risco de ensinar para os espíritas iniciantes coisas erradas, vindas de um grande mistificador e que, podemos dizer, era um grande charlatão.
O "espiritismo" já é uma doutrina confusa nas mentes dos mais experientes, cheia de contradições que mesmo quem se diz entendido da doutrina no Brasil não consegue discernir, O duplipensar "espírita" faz os veteranos ficarem desnorteados, entre o pedantismo científico e o deslumbramento religioso, imagine o que ele faria com os iniciantes.
Já sabemos dessa entrevista de Chico Xavier. Ele foi falar do mesmo lero-lero religiosista de sempre. Aquele mesmo conselho religiosista de pedir fraternidade, que seduz a todos por conta da viciada emotividade da fé cega que corrompe até aqueles que se dizem dotados de alguma capacidade de raciocínio questionador.
É aquela mesma coisa que Chico Xavier recebeu de Emmanuel em 1938, que descreveu em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho usurpando o hoje maculado nome de Humberto de Campos, que citou no tal sonho dormido depois da viagem de astronautas da NASA à Lua, em 1969, e que ficava dizendo em entrevistas ou livros aqui e ali.
O "futuro" de Chico Xavier é coisa tão risível, que seria preferível que ouvíssemos uma história de um pescador ou de um dono de boteco sobre o que cada um destes acharia do futuro da humanidade. Eles podem até delirar e falar muita lorota, mas pelo menos seriam relatos bem mais deliciosos e divertidos de se ouvir.
Já a lorota de Chico Xavier, de que o Brasil será a nação mais poderosa do planeta, se baseia na tese de que o Hemisfério Norte desenvolvido poderá desaparecer, que o Brasil se tornará poderoso e que o "espiritismo" será a religião que "causará muito interesse no planeta".
Esse roteiro já vimos no drama que destruiu a antes imponente e desenvolvida Grécia. Descontados aspectos atrasados daqueles tempos (o machismo, a escravidão, a extravagância das elites e as guerras, além dos assustadores gigantes de um olho só que amedrontam muita gente que lê as obras mitológicas), a Grécia Antiga era um projeto de sociedade bastante desenvolvida de seu tempo.
As guerras destruíram a Grécia Antiga e o resto do mundo antigo: astecas, fenícios, egípcios, maias. Tudo isso ao longo dos séculos, entre a Antiguidade e o fim da Idade Média. O Império Romano constituiu num retrocesso, ao criar um modelo de poder teocrático a partir da sanguinária Igreja Católica Apostólica-Romana.
E aí a humanidade na Terra custou a recuperar o rumo de sua História. Até hoje não se consegue ter a mesma competência arquitetônica dos egípcios, e a imponência intelectual dos filósofos se estacionou nos últimos anos.
Com o fim do Hemisfério Norte, em que se presume que milhares de personalidades importantes tenham suas vidas ceifadas de imediato, só nos restará as réplicas de seu legado, em livros, CDs, DVDs, sítios na Internet etc, guardadas e preservadas no Hemisfério Sul. Pode ser alguma coisa, mas é essencialmente insuficiente.
É igualzinho a Idade Média. Uma humanidade desenvolvida é dizimada (Grécia Antiga e Hemisfério Norte), um império surge de repente (Império Romano e o Brasil feito "coração do mundo") e uma religião torna-se o sustentáculo político do novo império (Catolicismo e "espiritismo cristão").
E qual a opção que o "bom" Chico Xavier acreditava para preencher a lacuna deixada pelo "mundo desenvolvido" extinto? A invasão de extra-terrestres que iriam trazer "sabedoria" para o mundinho restante. Para quem fez Nosso Lar pensando fazer ficção científica (ruim) travestida de realismo espiritualista, isso faz sentido.
Chico, além disso, cometeu sérios deslizes geográficos e geológicos. Ele se esqueceu que, se o Hemisfério Norte for destruído por violentos terremotos e erupções vulcânicas, que atingiriam o Japão e a Califórnia, nos EUA, fatalmente destruiria todo o Chile, por fazer parte do Círculo de Fogo do Pacífico.
Além disso, que gafe terrível foi cometida por Chico Xavier quando, tentando ser o sabichão sobre os futuros povoamentos de estrangeiros no Brasil, os povos eslavos, vindos de nações bastante frias, iriam se instalar nos Estados do Nordeste brasileiro, cujo padrão térmico iria trazer a esses europeus um choque de temperatura que os faria ficarem doentes e morrerem com muita facilidade.
A História do Brasil registra que, na virada do século XIX e XX, quando povos eslavos se instalaram no Brasil, eles escolheram os Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) para viverem, além de São Paulo, que na antiga divisão de regiões do Brasil, pré-1956 (data de criação da SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), também fazia parte da Região Sul.
Não há como infantilmente aceitarmos Chico Xavier a título de "espiritismo para iniciantes" porque sua confusa trajetória, cheia de contradições e erros gravíssimos, não pode ser aceita sob o pretexto dos estereótipos de "bondade" e "humildade" a ele associados.
Pelo contrário, quem quer ensinar Doutrina Espírita para iniciantes e se mantém apegado ao "carisma" de Chico Xavier acaba cometendo uma grande irresponsabilidade e um gravíssimo equívoco, porque as coisas não são sempre do jeito que parecem.
Chico Xavier, com seu histórico de pastiches literários e exploração sensacionalista das tragédias familiares, não bastasse seu moralismo ultraconservador que fazia apologia ao sofrimento humano, só pode ser recusado pelos brasileiros.
A verdade é que questionar e contestar Chico Xavier, isso sim, é um grande serviço, que não pode ser feito por iniciantes. Não se deve ensinar Chico Xavier para quem é iniciante no Espiritismo. Até porque sua figura traiçoeira precisa ser analisada e questionada por quem é mais entendido e experiente no assunto.
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Tudo passa?
Francisco Cândido Xavier era dado a um sadismo. Ele foi o maior sado-masoquista que existiu na história do Brasil, porque fazia apologia o sofrimento com seus livros, cartas e depoimentos, e se divertia explorando as tragédias humanas.
É sempre aquele mesmo papo: você sofre as piores coisas da vida e vai o "bom médium" dizer para você aguentar tudo sem se queixar. Lhe aconselha, com palavras mansas, a não questionar, evitar o raciocínio contestatório e, o que é pior, ainda tem o descaramento de dizer que o melhor é "sofrer amando".
Sim, é isso mesmo que você vai ler se consultar as frases de Chico Xavier. Você, que se ilude com a boa imagem dele e com os estereótipos maravilhosos a ele associados, sabe que ele teve uma maneira bem dócil e suave para dizer, em textos às vezes prolixos, em outros carinhosos, que no fundo querem somente dizer "VÁ SE FERRAR!".
Você até se ofende, porque a única coisa que importa na vida é o "bom velhinho". Você não liga para seus pais idosos, para seus tios e avós, seu professor idoso dos tempos de escola lhe cumprimentou e você foi lacônico e insensível com ele, o Noam Chomsky lançou um livro sobre alertas políticos sérios e você nem deu bola e você ainda disparou dizendo que João Gilberto é ultrapassado.
Desprezando os idosos e idosas diversos, você se apega a Chico Xavier - o pior apego que um cidadão, sobretudo brasileiro, pode ter é aos estereótipos do anti-médium mineiro - com a forma mais obsessiva que se pode imaginar. Você está obsediado e não sabe. Nem tem razões para adorar tanto o anti-médium mineiro, mas faz e continua fazendo, mesmo se isso lhe der um maior azar (e dá).
Aí você, no seu doce masoquismo de aceitar o pior sofrimento "com amor", responde que nós estamos sendo cruéis com Chico Xavier, que ignoramos sua "inigualável bondade" e blablablá. E aí tenta desmentir o sadismo do "bom velhinho" ao lembrar que, apesar de recomendar que "soframos com amor", Chico nos lembrava de que, na vida, "tudo passa".
Claro. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Sofremos ano após ano, a dor aumenta, os infortúnios crescem, nossa capacidade de resolvê-los se torna cada vez mais difícil, pessoas nos caluniam e nos humilham sem que possamos reagir para salvar nossos direitos.
Aí temos que achar tudo isso ótimo, desperdiçar uma encarnação inteira com tudo dando errado, sem que trabalhássemos nossa inteligência e senso de justiça para coisa alguma, tratando o prazer e a vontade como se fossem atos criminosos e sermos escravos do destino e dos arbítrios alheios, acreditando que a "vida futura" nos trará recompensas melhores e maiores.
Chico Xavier faltou com o respeito à gente. Perdemos um prazo de cerca de 80 anos de vida, talvez menos, talvez mais, para ficar sofrendo enquanto as soluções para superarmos esses sofrimentos se tornam piores, e a água invade o fundo do poço até nos afogarmos.
Sofremos tudo isso "com amor" para só conseguir alguma coisa depois que morrermos e desperdiçar uma encarnação inteira nada fazendo senão só aguentar males dos mais absurdos. Em muitos casos morremos cedo e nem precisamos escrever cartas para nossos entes, porque os "médiuns" escrevem por nós e acabam fazendo propaganda religiosa só para lotar "centros espíritas" e vender mais livros.
O que a ideologia de Chico Xavier fez seus deslumbrados seguidores se esquecerem é que temos esse breve período de vida material para desempenharmos nossa inteligência e aperfeiçoarmos nosso caráter, e não virarmos escravos do infortúnio, da calúnia e da má sorte.
Se em algum momento sofremos ou perdemos as coisas, o ideal seria que fossem apenas formas de aprendizado e regulação dos nossos desejos e atos, mas não a ponto de fazer com que as melhores pessoas fiquem sofrendo demais e as pessoas de mau caráter tivessem sorte para contornarem as mais complicadas encrencas.
A doutrina de Chico Xavier, que nada tem a ver com Allan Kardec, parece que não quer que os bons tenham o necessário, e permite que os maus tenham mais do que merecessem ter. É uma religião que acaba protegendo um Fernando Collor, aparentemente capaz de contornar qualquer encrenca, mas deixa um José Wilker morrer no meio do caminho.
Foi José Wilker, um dos mais talentosos artistas da atuação do país e uma das mentes mais brilhantes de criação e análise das artes cênicas, profundo conhecedor de cinema e teatro, foi só consultar um "centro espírita" para morrer de infarto no meio do caminho, antes de completar 70 anos.
Wilker tinha um projeto de carreira para os 90 anos de idade. Tinha planos de filmes, estava dirigindo novas peças de teatro, e disponível para muitos novos papéis como ator. Faleceu com pelo menos 25 anos de caminho pela frente.
Já se Fernando Collor morresse hoje, aos 66 anos de idade, não faria falta. Como político, foi um dos piores da história de nosso país. Foi um corrupto de carreira, tão cafajeste que é viciado em uma boa retórica. Mas ele parece ganhar todas, e mesmo estando sob investigação, parece ter condições de contornar tudo e, o que é pior, agora com reputação de político "progressista".
O Brasil passa por retrocessos profundos. Isso porque seu sistema de valores privilegia a mediocridade, a incompetência, o maucaratismo, as conveniências e os jogos de interesses. E é toda essa escória social que parece ser favorecida pelas circunstâncias. Tudo passa?
A impunidade que os maus sofrem, se ela terminar, ocorre geralmente na encarnação em que eles já estão arrependidos. É o "fiado espírita": faça mal primeiro e pague as consequências depois de se arrepender.
Esse receituário moralista, vindo do "bondoso" Chico Xavier, é a cicuta que adoça primeiro mas envenena os corações das pessoas. Gente que não é capaz de criar bons exemplos por si só, com a dependência psíquica dos "bons exemplos" do anti-médium mineiro.
Incapazes de criarem seus próprios bons exemplos, sua própria caridade, sua própria humildade, essas pessoas acabam preferindo que os brasileiros sofram, que infortúnios cresçam e apareçam, que as pessoas sejam proibidas de realizar seus desejos e projetos de vida, enquanto Chico Xavier é sempre lembrado pelas palavras bonitinhas que não passam de conversa para boi dormir.
Além disso, o termo "tudo passa" de Chico Xavier acaba se tornando uma forma sádica, porém em dóceis palavras, de querer que se adiem as coisas. Deixa-se tudo para depois, sejam a melhoria de vida dos bons e a punição aos maus. Como se uma encarnação nada valesse, como se a vida fosse inútil.
domingo, 19 de julho de 2015
O duplipensar "espírita"
Na obra 1984, de George Orwell, a Oceânia adota a técnica do duplipensar, que se fundamenta no falseamento da realidade, na manipulação da informação, na adulteração do passado e no desenvolvimento de um pensamento em que mentira e verdade se confundem. O próprio sentido de duplipensar é dúbio, podendo ser a mentira necessária ou a verdade absoluta, mesmo quando apresentam sentidos invertidos.
Vendo o caso do "espiritismo", que sofre sua grave crise desde que se aprofundaram os questionamentos, as reações feitas ainda se baseiam nas ilusões fáceis de outros escândalos. Vários casos pareciam render vitórias inabaláveis para os "espíritas", que imaginam poder dar a volta por cima na atual crise.
Em 1944, tiveram a sorte de ter sido o questionamento feito contra eles - que envolvia a apropriação de Chico Xavier à imagem simbólica do falecido escritor Humberto de Campos - desconhecido dos meios jurídicos de então, o que significou a inocência do anti-médium, não porque ele ganhou a causa, mas porque ele foi favorecido pelo zero a zero jurídico.
Em 1958, o sobrinho do anti-médium, Amauri Xavier, ameaçou revelar os bastidores da produção de livros "espíritas", prometendo dar informações sobre a sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo, da qual chegou a colaborar. Com isso, o "movimento espírita" teria realizado uma campanha de calúnias contra o jovem, estranhamente falecido em 1961. A blindagem conseguiu salvar Chico Xavier de um novo escândalo.
Entre 1965 e 1970, começaram a ser denunciadas fraudes de materialização, a partir das atividades de Otília Diogo que, entre outros personagens, se passava pelo espírito da irmã Josefa. Chico Xavier apoiava tais brincadeiras, e teria assistido a várias delas desde 1953, chegando mesmo a assinar atestados para forjar autenticidade a essas farsas.
No entanto, apesar da cobertura investigativa da imprensa, que irritou os "espíritas" (sim, eles se irritam), Chico Xavier saiu imune pela interpretação, um tanto malandra, de que "cúmplice não é culpado". E o anti-médium foi depois ao Pinga-Fogo da TV Tupi defender a ditadura militar e seus seguidores fizeram vista grossa a isso.
Entre 1973 e 1975, Chico Xavier chegou a apoiar, explicitamente, um projeto de deturpação ainda mais radical através de traduções grosseiras de um livro de Kardec. José Herculano Pires denunciou o escândalo e a deturpação foi cancelada.
Era a época do auge da crise do roustanguismo, e desde então o "movimento espírita" passou a adotar uma apreciação envergonhada da obra de Jean-Baptiste Roustaing. Quando muito, o roustanguismo se limita à cúpula da Federação "Espírita" Brasileira. Fora dele, o que se viu foi justamente a aplicação de um "duplipensar", uma postura dúbia que vicia até mesmo quem combate os vícios do "movimento espírita".
O duplipensar "espírita" consiste na ideia de buscar recuperar as bases doutrinárias de Allan Kardec, mas contraditoriamente continua idolatrando Chico Xavier, Divaldo Franco e suas atividades não obstante fraudulentas.
Se antes o mal do "espiritismo" era o religiosismo exagerado e um coquetel ideológico que misturava mistificação e moralismo, a atual linha investe na contraditória equação entre uma apreciação pedante dos temas científicos impulsionados por Allan Kardec e uma mística pseudo-humanitária simbolizada pelos estereótipos relacionados ao "bondoso" Chico Xavier.
Esse duplipensar chega a atingir até mesmo aqueles que, a princípio, até parecem espíritas genuínos, mas ainda se mostram condescendentes com Chico Xavier, seduzidos pelos estereótipos que cercam o anti-médium.
Com tudo isso, não há como recuperar as bases kardecianas se o maior de seus traidores se mantém a prova de qualquer contestação. Querer a autêntica Doutrina Espírita sem romper com Chico Xavier é um exemplo do duplipensar da Oceânia do livro de Orwell.
sábado, 18 de julho de 2015
"Espiritismo" faz de muitos adeptos "sacos de pancadas" humanos
Você adoraria ser um "saco de pancadas"? Pois é isso que o "espiritismo", com suas energias confusas combinadas com seu misticismo moralista e sua espiritualidade irregular e corrompida, quer de você.
A ideologia de Francisco Cândido Xavier, tido equivocadamente como "progressista" e "moderno", enfatiza o silêncio da prece e o sofrimento sem queixumes, coisas que nada têm de progressistas, mas são extremamente conservadoras.
Não é exagero dizer que Chico Xavier é um ultraconservador, uma espécie de "AI-5 com amor". A apologia de seus textos e frases em prol do sofrimento humano são extremamente cruéis e dotadas de um sadismo terrível, mas da forma como são escritas e expostas, elas confortam muita gente.
É como um veneno saboroso, que mata depois de maravilhoso deleite. A cicuta, ou melhor, a "chicuta" das frases adocicadas do "bom velhinho" que fez horrores se autopromovendo às custas da ostentação de tragédias familiares ou da usurpação do carisma de pessoas mortas - só para citar alguns: Humberto de Campos e Irma de Castro, a Meimei - , parece ter um sabor agradável.
Nessa peçonha de palavras bonitinhas, as pessoas mal conseguem perceber que são aconselhadas a se contentar com suas situações inferiores e seus infortúnios e, de preferência, nunca estarem prevenidas às tragédias que lhes tiram do convívio, muitas vezes de forma que poderia ser antes evitada, as pessoas mais especiais.
A "dócil" doutrina de Chico Xavier roga por um país cujo seu exército de excluídos, vivos ou prematuramente mortos, sejam pessoas muito especiais. Mesmo pessoas que morreram relativamente idosas, como José Wilker e o geógrafo Milton Santos, se inserem neste contexto.
Daí que é muito estranho quando pessoas diferenciadas, quando se tornam "espíritas", passam a sofrer sérias limitações. Nem mesmo sua inteligência, seu jogo de cintura e sua habilidade para contornar dificuldades conseguem romper as barreiras que, de maneira surreal, se impõem às suas vidas e que criam situações confusas que lhes roubam as melhores oportunidades de ascensão.
Não adianta ter um desejo de ajudar as pessoas, ou de aprimorar sua inteligência, ou de aprender e ensinar as pessoas. Quem é diferenciado parece ser um algoz para o "espiritismo" que, com seu dedo ferino, têm a arrogância de julgar as pessoas com voracidade, embora sempre "recomende" aos outros para "não julgar" e "a ninguém acusar".
Se o "espírita" tem uma personalidade mais "carneirinha" ou "bovina" e aceita tudo de mão beijada, a não ser aquilo que o sistema de valores permite que seja combatido, nada acontece de grave, pelo menos em tese. O "espiritismo" chega a ser menos cruel para tais pessoas.
Se bem que, mesmo entre elas, infortúnios também acontecem. A devota "espírita" pode até se curar do câncer ou se livrar de ser assaltada ao perder um ônibus na volta de um "centro espírita", mas vê sua filha confidente morrer de acidente de moto guiada pelo namorado, enquanto lhe resta aquele filho viciado em drogas que, apesar disso, continua vivo e furtando sempre os objetos preciosos de sua mãe.
Será que também é lindo um "espírita" ver seu telefone celular roubado por um assaltante? Se levarmos em conta as "palavras carinhosas" de Chico Xavier, teríamos que acreditar que o ladrão fez isso não só para testar nossa paciência de "antigos romanos que éramos", mas pela tola tese de que o meliante talvez precisasse do telefone para alguma coisa. "Lindo", não é?
Claro, as complicações da vida do cidadão, que, ao perder o seu telefone celular, terá que se esforçar rapidamente para bloqueá-lo indo à loja do fabricante do aparelho, e mudar todos os dados na Internet, nas inscrições diversas, nas contas e serviços vários, trocando o número do telefone e tudo o mais.
E aí o "espiritismo", como na tira do Amigo da Onça - ironicamente, uma das maiores vítimas da máquina de plagiar de Chico Xavier - acha essas complicações o máximo, porque assim as pessoas "aprendem mais" e podem "aproveitar as boas oportunidades para resolver seus problemas".
Claro, talvez digam os chiquistas, possuidores de tão "tenra sabedoria", que a pimenta que arde nos olhos dos outros é um belíssimo refresco, porque assim as pessoas poderão encontrar a luz, como o profeta Paulo de Tarso, que conheceu Jesus depois que ficou cego. Talvez acreditem que a ardência nos olhos irá garantir bálsamos e luzes na "fé em Cristo".
Se o "espírita" é diferenciado e deseja ter um bom emprego para aprimorar sua inteligência e ajudar as pessoas, é bom desistir. Ele que arrume um emprego qualquer e aguente patrões prepotentes ou colegas humilhadores, e que aceite qualquer cilada "com muito amor e gratidão".
Infelizmente, o "espiritismo" brasileiro não é uma doutrina de progresso como se alardeia por aí. É, sim, uma doutrina de servidão, quase como um manual prático de como enfrentar as piores coisas da vida em prol de uma recompensa que só virá depois da morte, algo que engana e ilude as pessoas como toda seita religiosa de perfil retrógrado.
Afinal, tudo acaba sendo uma desculpa para sofrer mais e ficar submisso a essas mazelas. As "bênçãos futuras", pretexto para que se aceitem as piores barbaridades na vida de alguém, são vistas como um prêmio, embora seja algo que não se pode definir e nem se tem garantia segura de que realmente haverá.
E aí o "espiritismo" comete os mesmos piores vícios das religiões mais retrógradas. Ela tenta convencer as pessoas de acreditar na "certeza do incerto", e aceitar se darem mal na vida em prol de um benefício futuro que ninguém sabe como é, o que se trata e se realmente haverá.
Diante dessa falta de discernimento, as pessoas aceitam fazer o papel de "sacos de pancadas" nas lutas da vida. E, neste caso, até Edir Macedo, com seus piores defeitos, passou na frente de Chico Xavier. Sua Igreja Universal do Reino de Deus, pelo menos, tem como lema "Pare de Sofrer".
sexta-feira, 17 de julho de 2015
A preocupante polarização do Brasil de Fernando Collor e Eduardo Cunha
É preocupante que o Brasil, que sofreu uma avalanche de retrocessos nos últimos 50 anos e, de forma ainda mais intensa, nos últimos 25, ainda se ache em condições de se tornar potência mundial e vanguarda espiritual da humanidade planetária.
A epidemia que atinge o Brasil, comparável à gripe espanhola de 100 anos atrás - que chegou a matar o presidente da República, Rodrigues Alves, no começo de 1918 - , pode não causar danos físicos, mas traz danos sociais profundos. É o provincianismo, que impele as pessoas de terem uma compreensão confusa, incoerente e atrasada da realidade em volta.
O Rio de Janeiro tornou-se um caso preocupante, porque, pela primeira vez, depois de Pereira Passos - ainda mais antigo que a gripe espanhola que atingiu muitos brasileiros, pois urbanizou a Cidade Maravilhosa cerca de uma década antes - , a outrora capital do país, antes símbolo da modernidade, tornou-se uma das cidades mais atrasadas do país.
Tudo retrocedeu. Até o desabastecimento dos supermercados, no Grande Rio, atingiu proporções dignas de cidade do interior. E isso com o Rio de Janeiro próximo a sedes, estaduais ou interestaduais, dos fabricantes e distribuidores de produtos. Até a Bahia - do estereótipo, injusto, do povo "preguiçoso", passou uma boa rasteira nos cariocas - , o que é preocupante.
Nas mídias sociais, boa parte dos reacionários e matutos são internautas do Rio de Janeiro. Ver que pessoas de formação universitária e bom poder aquisitivo, com pinta de surfista (só para citar um estereótipo moderno), morando na Barra da Tijuca (a "Hollywood" brasileira, no sentido urbano do termo), agirem como se fossem um misto de Klu Klux Klan com Comando de Caça aos Comunistas, é estarrecedor.
Isso sem falar no clima de bangue-bangue que atinge a cidade, mostrando a falência das UPPs e a falência maior ainda do autoritário grupo político de Eduardo Paes que, de tão matuto, acho que sistema de ônibus era igual criação de gado bovino e juntou diferentes empresas de ônibus para usar o mesmo visual da província e ganhar o carimbo da Prefeitura.
São pessoas sendo mortas por balas perdidas. Policiais sendo assassinados a queima-roupa. E cidadãos sendo assaltados por ladrões que, num contexto desses, só precisavam de faca para renderem suas vítimas. Teve assassinato à luz do dia na movimentada estação do metrô no entorno da Rua Uruguaiana.
E o que se observa, no âmbito ideológico? Fora os reacionários (mal) fantasiados de esquerdista - apesar do QI nos níveis do lendário senador estadunidense Joseph McCarthy, famoso pelo reacionarismo neurótico - observa-se, no status quo da opinião pública, a polarização entre uma direita psicótica e uma esquerda festiva.
A direita psicótica, simbolizada por Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Rachel Sheherazade, Eliane Cantanhede e o roqueiro Lobão, quer um país mergulhado no mais castiço e castrador capitalismo e quer que o povo seja excluído dos benefícios sócio-econômicos e dos debates públicos no país.
A esquerda festiva, simbolizada por Pedro Alexandre Sanches, Paulo César Araújo, Gustavo Alonso, Eduardo Nunomura e outros que, na verdade, imigraram da mídia direitista e outros ambientes similares, quer uma cultura brasileira mergulhada no mais castiço e castrador capitalismo e quer que o povo seja excluído dos benefícios sócio-econômicos e dos debates públicos.
A diferença entre uns e outros é só pontual. A direita psicótica tem um discurso raivoso e não admite sequer um papel positivamente caricatural para o povo pobre. A esquerda festiva tem um discurso sorridente, e admite que o "melhor lugar" para as classes populares é fazer um papel de debiloide através de uma "cultura popular" submetida às regras vorazes do mercado de entretenimento.
É preocupante ver que a intelectualidade que se divide entre esses dois papéis igualmente cruéis para as classes populares, em que uns querem ver o povo à deriva e outros apenas admitem ao povo a expressão de papéis ridículos, que o "bom elitismo" dos "generosos pensadores" festivos, desejando a espetacularização da miséria, define como "cultura do mau gosto".
Na política, nota-se uma polarização semelhante. Tem-se, num lado, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dotado de ideias retrógradas, como se nota nos casos da terceirização, do fator previdenciário e na redução da maioridade penal, além de uma reforma política que sutilmente lhe arrumasse uma chance de transformá-lo em primeiro-ministro.
Para quem não sabe, a terceirização é a eliminação de conquistas trabalhistas, reduzindo o emprego a uma ocupação instável, insegura e muito mal remunerada. O fator previdenciário é um cálculo feito para adiar para muitos anos a aposentadoria, obrigando os idosos a trabalhar mais. A redução da maioridade penal apenas irá lotar as prisões com adolescentes que só cometeram crimes porque se inspiraram nos "adultos selvagens" da programação violenta da televisão.
No outro, tem-se o senador Fernando Collor de Mello, o ex-presidente que decidia medidas contrárias aos interesses dos trabalhadores, confiscou as poupanças dos brasileiros, era um privatista doentio - queria vender até as universidades públicas - e desvalorizou a indústria nacional, enfatizando demais a importação de produtos (inclusive os péssimos automóveis da russa Lada).
Todavia, depois que ele recebeu o impeachment e a proibição de exercer direitos políticos por oito anos, Fernando Collor voltou como se fosse personagem de filme de Luís Buñuel: cortejado por seus opositores e aclamado como "estadista moderno e progressista", quase tratado como se fosse um político emergente de centro-esquerda.
O teste desta blindagem veio quando o Supremo Tribunal Federal ordenou que buscassem e apreendessem bens e documentos em casa, empresas e instituições que Fernando Collor controlava, direta ou indiretamente. Três automóveis caríssimos (Ferrari, Porsche e Lamborghini) foram apreendidos. Collor é acusado de receber R$ 3 milhões do esquema de propinas de uma subsidiária da Petrobras, a BR Distribuidora.
Se, em vez de Collor, fosse Aécio Neves, a esquerda toda comemorava. Mas como não foi um político do PSDB, setores da esquerda ficaram incomodados e fizeram coro quando Collor, furioso, disparou no palanque do Senado Federal que tinha sido "humilhado" e que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, "extrapolou" os limites do Estado democrático e da Constituição.
Fernando Collor tornou-se o símbolo tardio das esquerdas festivas - embora parte dela diga "não ir com a cara dele" - por ter sido o presidente que apoiou todo o contexto de decadência sócio-cultural vivida no Brasil, em que a Economia virou a medida de todas as coisas, mesmo com um povo brasileiro entregue ao emburrecimento duplamente produzido pela falta de investimentos na Educação e pelos valores retrógrados transmitidos pela mídia.
Imaginemos como se daria essa polarização, se um dia Eduardo e Fernando se tornarem os favoritos para concorrer à Presidência da República. O obscurantismo "cristão" de Eduardo Cunha e o neoliberalismo "popular" de Fernando Collor não são as melhores soluções para resolver os problemas do país, mas medidas que só agravarão esses mesmos problemas.
Acreditar que Eduardo Cunha trará moralidade e cidadania ou que Fernando Collor fará um país mais justo e mais moderno são tolices mediante o que os dois representam. Polarizar a política com um líder vindo do grupo autoritário e antilegalista do PMDB carioca e um antigo político da ARENA e do esquecido PRN convertido num "populista" pretensamente progressista.
Essa polarização se torna preocupante porque são dois lados de uma mesma moeda, em que um lado se preocupa demais com a "nobreza" e outro quer dar "pão e circo" para a "plebe". Nenhum dos lados tem compromisso real com o progresso do país e com o atendimento das necessidades das classes populares, e o Brasil só tende a piorar quando os dois passarem a polarizar o jogo político.
E, mais uma vez, não há como acreditar que o Brasil possa vir a ser "potência mundial", "coração do mundo", "vanguarda da humanidade" ou coisa parecida, passando por retrocessos que o fazem, na verdade, se atolar na retaguarda dos países emergentes.