sábado, 25 de julho de 2015
Frase de antropóloga dos EUA contraria "filosofia" de Chico Xavier
Com o caso da jovem negra Sandra Bland, cujo provável assassinato dentro da prisão causou grande revolta nos EUA e, em parte, no resto do mundo, uma frase da antropóloga, romancista e ativista estadunidense Zora Neale Hurston veio à tona. Antes de falarmos dessa notável intelectual estadunidense, vamos explicar o caso que aconteceu recentemente.
Sandra Bland, ativista nascida em Chicago, tinha 28 anos e, vivendo em Waller County, no Texas, estava dirigindo seu carro quando foi detida por um policial branco que alegava que ela não havia obedecido a sinalização do trânsito.
O tira ainda implicou com o fato dela fumar dentro de seu carro, e ela reclamou dizendo que tinha direito de fazê-lo. Irritado e armado de um aparelho que produzia choque elétrico, o guarda forçou Sandra a sair do carro, jogando-a no chão, onde ficou deitada até ser algemada e levada para a prisão.
No último dia 13 de julho, Sandra Bland foi encontrada morta, e aparentemente uma autópsia no seu cadáver alegou que ela "havia se suicidado". Movimentos de defesa dos direitos humanos questionam o laudo e afirmam que as imagens divulgadas da prisão teriam sido editadas para atenuar a culpa do policial.
Várias celebridades manifestaram solidariedade à vítima em diversas declarações dadas nas mídias sociais. A frase de Zora Neale Hurston foi resgatada de uma ilustração publicada no Instagram da jovem atriz negra Amandla Stenberg, de Jogos Vorazes (Hunger Games), que recentemente se envolveu numa polêmica com a sub-celebridade Kylie Jenner, por causa da apropriação tendenciosa da estética da cultura negra, através de um penteado no cabelo.
Zora Hurston nasceu em 1891 no Estado ultraconservador do Alabama. Trabalhou com uma geração de antropólogos, como Franz Boas e Margareth Mead, que, influenciados pela Escola dos Annales dos franceses Marc Bloch e Lucien Febvre, rompiam com abordagens eurocêntricas da Antropologia, passando a abordar uma visão mais realista e abrangente da humanidade.
Ela escreveu romances, chegou a ser atriz de teatro, foi casada com um músico de jazz e depois com um rapaz bem mais jovem do que ela. Zora faleceu doente, poucas semanas depois de completar 69 anos de idade, em 1960, época em que os movimentos contra o racismo se intensificavam nos EUA.
A FRASE QUE DERRUBA O PENSAMENTO DE CHICO XAVIER
Com impressionante lucidez, Zora Hurston havia dito uma frase contra a submissão das pessoas, e que serve de lição para o problema do racismo, principalmente nos Estados do Texas e do Alabama, famosos por abrigarem grupos brancos que defendem radicalmente a segregação racial.
Zora disse: "If you are silent about your pain, they'll kill you and say you enjoyed it" ("Se você fica calado a respeito de sua dor, eles irão matá-lo e dizer que você adorou isso"). É uma frase enérgica e realista, e que denuncia o sadismo hipócrita dos algozes.
Isso é muito diferente das frases "dóceis" de Chico Xavier que os brasileiros tão debilmente publicam nas redes sociais. Chico queria o "sofrimento em silêncio", o "consolo" restrito à prece, e não raro dizia para as pessoas "sofrerem amando", esperando as bonanças que viriam depois, provavelmente no além-túmulo.
Veja que diferença. Zora condenava a passividade e a complacência com a opressão. Chico queria o perdão, a misericórdia e até o sentimento masoquista de sofrer a dor "com amor". E é assustador que os brasileiros deem preferência à frase de Chico Xavier, que ideologicamente era uma das pessoas mais retrógradas do país.
É assustador que o mundo gira e que exemplos de coerência se observam lá fora, enquanto o Brasil, em sua recente onda de provincianismo, prefere seu narcisismo que cria totens e valores retrógrados, fora da realidade e sem muito proveito ou benefício reais.
Daí a sabedoria de Zora diante da pseudo-filosofia do anti-médium mineiro. Este queria que os brasileiros se prostrassem no sofrimento sem solução, aguentando tudo com paciência subserviente, daí a urgência de recorrermos à frase de uma intelectual estrangeira para tirar os brasileiros de suas fantasias infantis.
Pela frase de Zora, faz sentido o masoquismo dos chiquistas. Eles preferem ficar calados na dor, enquanto os algozes os matam, literal ou simbolicamente através dos infortúnios. Então os algozes vão logo dizendo para os chiquistas que eles adoraram esse flagelo. Mas aí os chiquistas agradecem e dizem amém.
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