O TOPO DA PIRÂMIDE SOCIAL LEVITANDO...
O status quo dominante é visto, no Brasil, como um estágio social no qual os detentores de algum privilégio social sempre possuem alguma motivação objetiva para obter alguma vantagem, mesmo praticando um gravíssimo erro.
Do presidente da República que toma medidas desfavoráveis às classes populares sob a desculpa de "combater a recessão" até o ídolo religioso de fala verborrágica que acusa refugiados do Oriente Médio de terem sido antigos colonizadores em busca de velhos tesouros, imaginamos o topo da pirâmide social como um paraíso de visões objetivas, ações acertadas e visões imparciais.
Isso tudo é uma ilusão. Aliás, o topo da pirâmide se revela um reduto de fantasias e ambições dos mais vergonhosos, e, nos últimos anos, nunca os privilegiados estiveram em níveis tão baixos ou, quando muito, preocupantemente medianos, no que se refere à evolução humana e social.
Isso vem desde a realidade familiar, quando os pais de família mais idosos, iludidos com o acúmulo de anos, julgam "atemporais" os valores conservadores que defendem e subestimam os erros que cometem. O quanto a "experiência", muitas vezes, se reduz a pó na complexidade da realidade dos nossos dias...
A ilusão do alto da pirâmide começou a ser posta em xeque quando uma parcela da sociedade brasileira pediu a saída da presidenta Dilma Rousseff. A ideia é colocar, no lugar da petista, um grupo político dotado de qualidades "politicamente moderadas" e "alta capacidade técnica e administrativa" para resolver a crise econômica brasileira, na verdade reflexo da crise econômica mundial que ocorre desde 2008.
Essa ilusão apostava em partidos tecnocráticos ou tradicionalistas, como PSDB, PPS, DEM e PMDB, na condução do futuro político do país, ou, em certos casos, num PSC representado pela figura desordeira, mas associada a mitos de "disciplina" e "tradição" como Jair Bolsonaro. E isso gera uma catarse que, surpreendentemente, vem de teimosos cidadãos de 60, 65 anos, cada vez menos maduros, se comportando como crianças mimadas e teimosas.
Há ilusões de "austeridade" (Bolsonaro), de "competência administrativa" (João Dória Jr.), de "modernidade" (Aécio Neves), de "moderação" (Michel Temer) que fazem boa parte da sociedade se consentir dos graves escândalos que envolvem a direita brasileira, vistos erroneamente como pequenas travessuras comparáveis a de colegas de escola em um recreio.
Ver que escândalos que envolvem Aécio Neves, José Serra, Wellington Moreira Franco, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin ou até mesmo Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, são "meras travessuras" ou "esquetes de comédia" é assustador. Como eles não são petistas, eles podem destruir o Brasil que a sociedade nem liga?
E a situação dos donos da Rede Globo, os irmãos Marinho (José Roberto, João Roberto e Roberto Irineu)? Sonegadores de impostos, parasitas de dinheiro público e superfaturadores da arrecadação do Criança Esperança, os três empresários são os homens mais ricos do país e têm o privilégio monstruoso de manipular as mentes até de uma parte de brasileiros que acham que não gostam da Globo nem são influenciados por ela.
Apenas uma pronúncia de gírias - "balada" ou "galera", que especialistas apontam como jargões difundidos, respectivamente, por Luciano Huck e Fausto Silva - já revela a influência da Globo nas pessoas. Não adianta falar essas gírias e depois cantarolar o refrão "O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo", porque a influência da Globo é mais do que explícita.
Odiar a Rede Globo mas raciocinar conforme a concepção de mundo trazida pela rede revela o quanto é hipócrita a oposição ou isenção de certas pessoas. Se não é hipocrisia, é medo de ser desqualificado pelos amigos. A Globo influi até mesmo em valores religiosos que transformam o conceito de "bondade" numa entidade subordinada ao institucionalismo religioso.
A "bondade" se reduz a uma mera "pessoa jurídica", personificada pela seita religiosa da escolha de alguém e pelo seu respectivo ídolo religioso. Diz o discurso neste âmbito que a "bondade" é "acessível a todos", mas o raciocínio é comparável ao de uma franquia de uma grande empresa que, em tese, qualquer um pode adquirir.
Poucos admitem que o que está por trás do mito dos "médiuns filantropos", a partir de Francisco Cândido Xavier, não passou de um requintado truque publicitário da Rede Globo, que se aliou à FEB na reconstrução de um mito aberrante, mas que provoca comoção fácil a uma sociedade acostumada a ver o mundo com os olhos do Jornal Nacional e dos enredos das novelas das oito/nove.
GLOBO REINVENTOU CHICO XAVIER; MÍDIA SOLIDÁRIA À GLOBO ASSINA EMBAIXO
Através de um roteiro copiado do inglês Malcolm Muggeridge, a Globo reinventou Chico Xavier visando dois objetivos: um é criar um ídolo religioso que não tivesse as vestimentas católicas habituais, mas que transmitisse, de maneira informal, os valores conservadores da Igreja Católica, como forma de domesticar os brasileiros durante a crise da ditadura militar, onde se observavam convulsões sociais semelhantes às dos dias de hoje.
Outro motivo é ainda bem mais tendencioso: Chico Xavier era promovido pela Rede Globo para fazer concorrência com os pastores neopentecostais em ascensão, Edir Macedo e R. R. Soares, que estavam comprando, naquela época (segunda metade dos anos 1970), horários de transmissão de seus cultos. E tudo isso sem despertar desconfiança, daí o "catolicismo à paisana" que os "espíritas" oferecem de graça.
Afinal, poucos admitem que o Espiritismo, no Brasil, foi reduzido, e podemos dizer rebaixado, mesmo, a um sub-Catolicismo de inspiração medieval, reciclando os valores do antigo movimento jesuíta do período colonial que hoje não fazem sentido na própria Igreja Católica. Os "espíritas" aproveitaram para si o "lixo" deixado pelos católicos.
Mas aí o fanático "espírita", com seu argumento pseudo-intelectual nas redes sociais, vai dizer: "Isso é balela. Se fosse assim teríamos doutrinária espírita até na Globo News. Os médiuns espíritas fazem programas em pequenos canais independentes, e temos notícia de mediunidade na Band, TV Cultura etc. Não faz sentido dizer que o Espiritismo é coisa da Globo, meu irmão!".
O problema não é o "espiritismo" aparecer ou não em outras mídias. Mas ele aparece nelas já "embalado" pela Globo. A Globo tem a habilidade de moldar valores e exportá-lo para mídias concorrentes, através de diversos meios. Isso é feito para dar a falsa impressão de que os padrões ideológicos de gírias, religião, abordagem política etc, transmitidos pela Globo são "imparciais" e "universais".
E boa parte da "mídia concorrente" da Globo não lhe é vinculada institucionalmente, mas ideologicamente solidária. A TV Bandeirantes, que defende as mesmas causas retrógradas defendidas pela Globo, também fez uma série sobre "mediunidade".
A Editora Abril, que publica a rancorosa revista Veja, tem uma coletânea especial da revista Superinteressante com Chico Xavier. E a Veja, que esculhamba o ativismo social, fez uma matéria de capa elogiosa com o "médium" goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, que - aviso aos esquerdistas - também é latifundiário e acusado de se enriquecer com o "dinheiro da caridade".
A Globo fez as pessoas acharem "natural" a forma aberrante que o ofício de médium ganhou no Brasil. O suposto médium ao qual se celebra o culto à personalidade - problema quase nunca visto, pela pose de "humildade" que os "médiuns" exercem - também é associada a inúmeras irregularidades que as pessoas deixam passar e até arrumam desculpas para defendê-las ou relativizá-las.
Os "médiuns", aliás, anti-médiuns, porque perderam o papel intermediário da comunicação entre vivos e mortos, também fazem apelos que os mais sérios estudiosos de diversas áreas do Conhecimento definem como negativos: o Ad Passiones (Apelo à Emoção) e o Assistencialismo.
Quanto ao Ad Passiones, o "espiritismo" recorre a uma de suas formas, o "bombardeio de amor", considerada mais radical e perigosa. As chamadas "mensagens de amor" e a imagem "comovente" dos supostos médiuns cria um aparato ideológico que arranca, de seus seguidores, a comoção fácil, um êxtase de choro que se compara a uma "masturbação com os olhos".
O apelo é reforçado pelos dramalhões relatados nas palestras, de sofredores extremos que "se deram bem na vida", de dramas com ingredientes trágicos com "finais felizes" à maneira do "espiritismo" igrejista, que servem como mero entretenimento para plateias relativamente abastadas se divertirem às custas do sofrimento alheio.
O Assistencialismo é uma prática de suposta caridade que apenas realiza ajudas pontuais, seja através de donativos, oferta de sopas e de programas de educação e profissionalização que apenas trazem resultados sociais medíocres, sem causar profundos efeitos de transformação social. É muito diferente de Assistência Social, que serve para combater, de frente, os sérios problemas sociais que o Assistencialismo só suaviza.
O Ad Passiones e o Assistencialismo foram observados na "emboscada" que Chico Xavier fez com Humberto de Campos Filho - um dos herdeiros do escritor maranhense que processaram o "médium" pelo aparente uso do ilustre nome - , no ano de 1957.
O "bombardeio de amor" da doutrinária e do "abraço fraterno", no qual Chico arriscou um falsete que desnorteou um Humberto Filho tomado de lágrimas e soluços. É a tentação traiçoeira das paixões religiosas, que muitos pensam ser "energias elevadas".
Já a caravana "filantrópica" que Chico Xavier comandou para mostrar ao filho de Humberto de Campos revela o Assistencialismo: o "médium" havia lhe mostrado, na "casa espírita" de Uberaba, um grupo de senhoras cozinhando sopas. Depois, o Assistencialismo continuava na ostensiva caravana para tão somente doar mantimentos, muita celebração para tão pouca caridade, claramente feita para promoção pessoal do "benfeitor", no caso o "médium" mineiro.
Isso é uma amostra de como as ilusões do alto da pirâmide enganam os brasileiros. E o prestígio religioso é a maior fonte de ilusões, enganos e equívocos, que não podem ser subestimados como "erros normais".
A deturpação da Doutrina Espírita cresceu através desse arrivismo todo, explorando apelos de valor duvidoso como Ad Passiones e Assistencialismo e contando com a solidariedade da mesma mídia que prega valores retrógrados e transmite baixarias para o grande público.
Ver que o mito "filantrópico" de Chico Xavier foi construído com a ajuda de uma família de empresários sonegadores de impostos, aliadas da ditadura militar (que o "médium" apoiou com gosto) e manipuladoras do inconsciente coletivo, é chocante. Mas essa é a realidade de um meio que se aproveita do prestígio religioso para obter vantagens e se achar acima de tudo e de todos, sobretudo um "espiritismo" que deturpa o legado de Kardec e depois se diz "rigorosamente fiel" a ele.
domingo, 30 de abril de 2017
sábado, 29 de abril de 2017
Pessoas de bem já conhecem demais perdas e tragédias. E os espíritos atrasados?
Vivemos uma educação moralista viciada. O moralismo religioso sempre apela para aceitarmos as perdas e ainda tenta forçar a apresentar "novas lições", quando na verdade já aprendemos demais sobre as perdas que sempre temos e estamos até cansados de ter.
Quantos progressos humanos foram adiados por tantas e tantas perdas. Quantas missões humanas foram ceifadas ou interrompidas na sua plenitude, em tarefas desempenhadas de maneira insubstituível, porque não há trainée que faça um canastrão ou arrivista substituir o gênio que se foi.
Certo palestrante "espírita" recomendou o filme A Cabana (The Shack), baseada num best seller literário, sobre um homem que perdeu sua filha mais nova e nunca mais viu seu cadáver e volta ao local da tragédia para encontrar uma lição de vida.
A impressão que temos é que sempre somos masoquistas. Mas tragédia envolvendo pessoas de um caráter mais evoluído é algo que existe há anos e atingiu um número maior de pessoas. Vivemos tantas tragédias desse nível que chega a ser um acinte termos que "obter mais lições" sobre aquilo que a gente aprendeu até demais. Somos pós-graduandos na perda de entes queridos!!
O que quase ninguém percebe é que, agora, quem precisa aprender o que é perda são aqueles que são muito atrasados. Ficamos na visão materialista que defende que um espírito grotesco fique "mofando" a vida toda na esperança de que ele aprenda o que sua vaidade impede de aceitar. Muita gente se recusa a admitir que as pessoas que impõem tragédias e infortúnios aos outros são as que mais se atraem e se prejudicam, criando seus próprios prejuízos e mortes.
O Brasil que se apega ao supérfluo, ao inútil e ao nocivo sempre se portou de maneira dolorosa, nostálgica mas conformada quando perde o que mais necessita. O Brasil sempre se inclina aos retrocessos e só aceita progressos quando eles são desfigurados pelo próprio retrocesso, obtido pela banalização que sempre deturpa uma novidade.
O que há de personalidades de grande valor que faleceram cedo ou no auge de sua tarefa espiritual na Terra, o Brasil já está cansado de saber. Ficamos até resignados e estamos acostumados de ver gente brilhante morrendo de repente, deixando trabalhos em andamento, cancelando uma série de projetos futuros que nunca mais serão realizados.
Mas isso é compreensível. O que não dá para compreender é quanto a homicidas ricos e poderosos que ficam impunes, quando têm suas tragédias potenciais anunciadas - como um câncer ou um sério risco de infarto - , fazem pessoas reagirem como se isso fosse um dado ofensivo. O medo de ver tais criminosos morrerem apavora mais as pessoas do que a perda de um ente querido. Por que será?
Talvez se possa explicar pelo fato da sociedade brasileira ser moralista, conservadora e, de certa forma, vingativa. Uma sociedade que defende o porte de armas e que alega que homicidas ricos e poderosos tenham cometido crimes por um propósito "justo". São "justiceiros de luxo", às vezes vistos como arremedos de Deus pelo "direito de definir a morte do outro", e, por isso, são pessoas que "não podem morrer".
Mas isso é uma grande, aliás, uma gigantesca ilusão. Os feminicidas conjugais (antes definidos como "criminosos passionais"), famosos pela desculpa da "defesa da honra", estão entre as pessoas com o maior alto risco de sofrer infartos no Brasil, não raro antes dos 60 anos de idade. São também jurados de morte em potencial, pela revolta que seus crimes, matando mulheres inocentes por conta de um ciúme doentio, provocam numa sociedade em processo de explosiva convulsão social.
Os pistoleiros que matam camponeses, missionários e ativistas rurais também não possuem uma boa expectativa de vida. Os chamados "jagunços" são mal alimentados, fumam e bebem demais e geralmente parecem mais velhos que são, de forma que dificilmente eles conseguem chegar à velhice, em muitos casos tendo uma vida tão curta quanto as vítimas que mataram, falecendo de câncer, infarto e até por distúrbios alimentares.
As pessoas que, em geral, tiram a vida do outro, provocam duas tragédias: a da vítima, uma "tragédia à vista", e a de si mesmas, uma "tragédia às prestações". É certo que não vamos sair matando homicidas impunes, porque é outra atrocidade, mas, assim que devemos respeitá-los em suas vidas, também devemos nos preparar para a própria tragédia que eles contraíram para si.
É aquela coisa: "deixemos eles viverem em paz, mas também deixemos morrer em paz, também". Mas se é um homicida que ocupou os noticiários nacionais, sobretudo durante julgamentos transmitidos em redes de TV, não há também como a imprensa omitir.
Há um medo de noticiar o falecimento de algum homicida rico, sobretudo um feminicida conjugal, uns com medo de despertar a consciência trágica nos machistas, outros para não estimular a comemoração do movimento feminista.
A omissão faz com que este tipo de homicida seja o único tipo de pessoa que "não pode morrer" e que, portanto, quando é para morrer, "morre sem morrer", sendo apenas presumidamente morto a partir dos 93 anos, por mais que tenha morrido bem antes.
A sociedade moralista se apavora com tais tragédias, achando que os homicidas ricos e poderosos "precisam de tempo" para ressocialização. Mas aí um desequilíbrio ético se ressalta, pois os homicidas, ainda tomados de muita vaidade, apenas zelam para recuperar os privilégios materiais que seus nomes terrenos representam. Poucos são aqueles que realmente sentem remorso pelo que fizeram e aprendem rigorosamente a má lição de seus crimes.
As pessoas se apavoram só de pensar que um feminicida rico morra antes dos 60 anos de idade. Mas aí vem o refrão "olha só quem fala". Pessoas que se preocupam com a tragédia de um homicida se resignam quando seus próprios filhos morrem antes de entrar na faculdade e realizar seus valiosos projetos pessoais, em muitos casos de alto nível altruísta. Por outro lado, não se importam em ver homicidas vivendo até os 85 anos como se fosse um "turista" na Terra.
Em muitos casos, o homicida que morre apenas têm como "prejuízo" a perda de seu nome material. Sua ressocialização não se encerra, e, em muitos casos, é benéfica: livre daquele nome ilustre manchado com o sangue de outra pessoa, ele não precisará cobrir de ouro as manchas sangrentas da encarnação anterior e, sob o risco de "aprendizado", retomar todos os privilégios e arrogâncias.
Em vez disso, ele terá uma nova encarnação, mais "limpa" e sem os atributos sociais que as condições terrenas da encarnação anterior mantinham. Em vez de passar a velhice tentando apagar as manchas de sangue que comprometem seu ilustre nome e seus privilégios, ele encontrará situações novas, talvez até limitações, que poderão remodelar sua personalidade de forma a preveni-lo de um novo crime.
Em muitos casos, o feminicida conjugal que havia sido, em tal encarnação, um empresário, profissional liberal, jurista etc, pode reencarnar como alguém que sofre desilusões amorosas e consegue apenas empregos modestos.
Sem o status profissional, ele poderá se preocupar mais com o trabalho, podendo, em vez de usar o prestígio social para praticar um crime de vingança e depois recuperar em vão a reputação perdida, ele poderá usar o emprego modesto para construir seu progresso espiritual, diante da impossibilidade de conquistar a mulher que ele queria namorar.
Da forma como ocorrem tragédias e não-tragédias no Brasil, os espíritos atrasados, que mais precisam de desilusão para regular seus desejos e instintos abusivos, são os que mais se livram desta necessidade, preferindo fazer turismo encarnacional que os faz cada vez mais privilegiados.
O consentimento de uma sociedade moralista com isso, enquanto deixa pessoas de grande valor morrerem antes até de iniciar qualquer tarefa de progresso social, só serve para o Brasil ficar ainda mais atrasado, iludido com a conciliação entre as forças do atraso e do progresso, acreditando num falso equilíbrio.
Hoje o que se vê é um progresso antes condicionado pelas restrições do atraso, ser cada vez mais deixado de lado pelos retrocessos que perdem a vergonha de serem impostos à população. E, como numa fruta nova contagiada pelo fungo da fruta podre, o apodrecimento ameaça até mesmo o que parece relativamente novo nas atividades diversas de nosso país.
sexta-feira, 28 de abril de 2017
O fracasso da conciliação entre o "velho" e o "novo"
DIVALDO FRANCO FAZENDO POSE DE "BOM DISCÍPULO DE ALLAN KARDEC".
Um excelente texto do sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, Aldo Fornazieri, fala dos fracassos das conciliações nos governos do PT na Presidência da República (os dois de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff).
O autor cita não só os exemplos recentes dos governos petistas como também cita a experiência do primeiro-ministro do Segundo Império, Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná, que promoveu o Ministério da Conciliação, articulando forças liberais e conservadoras. Com sua morte, ele foi substituído pelo autoritário e conservador Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que dissolveu o cenário conciliador anterior.
Muitos exaltam a conciliação como forma de atingir um benefício comum. Mas a vida humana é cheia de conflitos de interesses e, em muitos casos, a ideia de fraternidade inclui uma "direção" a ser tomada. E qual é essa direção? A do "amor e da paz"? Seria muito simples se fosse isso, mas não é.
O "espiritismo", curiosamente um "produto" do Segundo Império, surgido em 1884 depois de experiências isoladas cerca de uma década antes, acabou, desde o fim da era Wantuil - em 1974, morreu o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas - , apelou para a fórmula aparentemente conciliatória da "fase dúbia".
A ideia é conciliar "científicos" e "místicos", em torno de uma visão, já herdada do Catolicismo, do que se entende como "fraternidade cristã". Sempre se imagina a "fraternidade" como algo "sem interesse", nas na prática ela sempre esconde algum interesse, algum propósito por trás.
Evidentemente, num contexto em que lobos e cordeiros se "unem na fraternidade", como disse o anti-médium Divaldo Franco - ele mesmo o maior deturpador vivo do Espiritismo - em entrevista recente, costuma-se nivelar essa "solidariedade" aos interesses do mais privilegiado, o lobo.
O próprio "espiritismo" mostrou que não consegue resolver conflitos. A "aliança" entre os roustanguistas "arrependidos" e os seguidores do Espiritismo original foi forçada pelas conveniências e houve a ilusão de que, sem o poder central de Wantuil, o "movimento espírita" viveria seus plenos e felizes momentos de muito equilíbrio e imparcialidade.
Foi uma grande ilusão. A conciliação "dos sonhos" entre os "ensinamentos cristãos" (eufemismo para a ideologia católica tradicional) e o cientificismo de Allan Kardec (apenas apreciado de maneira pedante e tendenciosa) só revelou mais e mais contradições e, o que é pior, criou-se um aberrante "espiritismo" que mais parecia um "roustanguismo com Kardec".
A situação até piorou de quando o nome de Roustaing era mais assumido. O "espiritismo" brasileiro se transformou num engodo, que misturava conceitos de legado roustanguista - "reajustes espirituais", "profecias sobre progressos da humanidade" - com evocações superficiais aos ensinamentos espíritas originais, como o Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos.
Diante disso, evocava-se procedimentos, lições e avisos trazidos de O Livro dos Médiuns que eram desmentidos diante de citações de "André Luiz" e outros conceitos brasileiros. E tudo isso diante de um discurso que apelava para a "coerência" e o "equilíbrio", mesmo quando o igrejismo triunfava sobre o cientificismo.
Tentou-se até desvincular Francisco Cândido Xavier da FEB, após a morte de Wantuil, espécie de "descobridor" e "empresário" do "médium". E o mito de Chico Xavier, antes confusamente trabalhado, foi renovado e reinventado de forma "limpa" com a ajuda do poder manipulador da Rede Globo de Televisão, moldando o beato católico de Pedro Leopoldo e Uberaba de forma que ele, direitista e ultraconservador, fosse "digerido" até por ateus e esquerdistas.
O igrejismo acabou prevalecendo, de uma forma ou de outra. A princípio, a "fase dúbia", como é conhecida a atual fase do "movimento espírita", tinha como propósito agradar e conquistar a confiança de "científicos" como José Herculano Pires e Deolindo Amorim, mas, depois, com eles mortos, não havia mais motivo para se falar em "kardecismo autêntico".
E aí o igrejismo voltou a se acentuar de tal forma que o "espiritismo" hoje não é outra coisa senão a reciclagem da Teologia do Sofrimento católica. E isso fez o "espiritismo" viver um impasse ainda pior, porque o roustanguismo escondido debaixo do tapete nunca esteve tão explícito quanto nos últimos anos.
A promessa de "entender melhor Kardec" torna-se inútil, diante de tantas irregularidades, sobretudo no desmascaramento da "mediunidade", feita no faz-de-conta e à margem da Ciência Espírita, com tudo reduzido a um propagandismo religioso.
Com tantas irregularidades reveladas, o "espiritismo" sobrevive exibindo pretensa filantropia - que nada contribui para transformar a sociedade - e suas oratórias belas que são apenas palavras enfeitadas que nada dizem e, que, em certos casos, até ferem. Como o próprio Divaldo Franco acusando os refugiados do Oriente Médio de terem sido "antigos tiranos colonizadores".
Dessa forma, o "espiritismo" chegou ao fim de linha e é difícil que mais uma retratação faça sentido, pois se retratou demais, permitindo uma "conciliação" que só fez o "velho" Catolicismo medieval jesuíta vestir a capa do Espiritismo, o "novo" em questão. A crise chega ao seu ponto mais agudo e não há mais como compactuar, porque o antigo pacto só serviu mesmo para privilegiar os deturpadores igrejeiros na vã promessa de recuperar os postulados de Kardec.
Um excelente texto do sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, Aldo Fornazieri, fala dos fracassos das conciliações nos governos do PT na Presidência da República (os dois de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff).
O autor cita não só os exemplos recentes dos governos petistas como também cita a experiência do primeiro-ministro do Segundo Império, Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná, que promoveu o Ministério da Conciliação, articulando forças liberais e conservadoras. Com sua morte, ele foi substituído pelo autoritário e conservador Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que dissolveu o cenário conciliador anterior.
Muitos exaltam a conciliação como forma de atingir um benefício comum. Mas a vida humana é cheia de conflitos de interesses e, em muitos casos, a ideia de fraternidade inclui uma "direção" a ser tomada. E qual é essa direção? A do "amor e da paz"? Seria muito simples se fosse isso, mas não é.
O "espiritismo", curiosamente um "produto" do Segundo Império, surgido em 1884 depois de experiências isoladas cerca de uma década antes, acabou, desde o fim da era Wantuil - em 1974, morreu o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas - , apelou para a fórmula aparentemente conciliatória da "fase dúbia".
A ideia é conciliar "científicos" e "místicos", em torno de uma visão, já herdada do Catolicismo, do que se entende como "fraternidade cristã". Sempre se imagina a "fraternidade" como algo "sem interesse", nas na prática ela sempre esconde algum interesse, algum propósito por trás.
Evidentemente, num contexto em que lobos e cordeiros se "unem na fraternidade", como disse o anti-médium Divaldo Franco - ele mesmo o maior deturpador vivo do Espiritismo - em entrevista recente, costuma-se nivelar essa "solidariedade" aos interesses do mais privilegiado, o lobo.
O próprio "espiritismo" mostrou que não consegue resolver conflitos. A "aliança" entre os roustanguistas "arrependidos" e os seguidores do Espiritismo original foi forçada pelas conveniências e houve a ilusão de que, sem o poder central de Wantuil, o "movimento espírita" viveria seus plenos e felizes momentos de muito equilíbrio e imparcialidade.
Foi uma grande ilusão. A conciliação "dos sonhos" entre os "ensinamentos cristãos" (eufemismo para a ideologia católica tradicional) e o cientificismo de Allan Kardec (apenas apreciado de maneira pedante e tendenciosa) só revelou mais e mais contradições e, o que é pior, criou-se um aberrante "espiritismo" que mais parecia um "roustanguismo com Kardec".
A situação até piorou de quando o nome de Roustaing era mais assumido. O "espiritismo" brasileiro se transformou num engodo, que misturava conceitos de legado roustanguista - "reajustes espirituais", "profecias sobre progressos da humanidade" - com evocações superficiais aos ensinamentos espíritas originais, como o Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos.
Diante disso, evocava-se procedimentos, lições e avisos trazidos de O Livro dos Médiuns que eram desmentidos diante de citações de "André Luiz" e outros conceitos brasileiros. E tudo isso diante de um discurso que apelava para a "coerência" e o "equilíbrio", mesmo quando o igrejismo triunfava sobre o cientificismo.
Tentou-se até desvincular Francisco Cândido Xavier da FEB, após a morte de Wantuil, espécie de "descobridor" e "empresário" do "médium". E o mito de Chico Xavier, antes confusamente trabalhado, foi renovado e reinventado de forma "limpa" com a ajuda do poder manipulador da Rede Globo de Televisão, moldando o beato católico de Pedro Leopoldo e Uberaba de forma que ele, direitista e ultraconservador, fosse "digerido" até por ateus e esquerdistas.
O igrejismo acabou prevalecendo, de uma forma ou de outra. A princípio, a "fase dúbia", como é conhecida a atual fase do "movimento espírita", tinha como propósito agradar e conquistar a confiança de "científicos" como José Herculano Pires e Deolindo Amorim, mas, depois, com eles mortos, não havia mais motivo para se falar em "kardecismo autêntico".
E aí o igrejismo voltou a se acentuar de tal forma que o "espiritismo" hoje não é outra coisa senão a reciclagem da Teologia do Sofrimento católica. E isso fez o "espiritismo" viver um impasse ainda pior, porque o roustanguismo escondido debaixo do tapete nunca esteve tão explícito quanto nos últimos anos.
A promessa de "entender melhor Kardec" torna-se inútil, diante de tantas irregularidades, sobretudo no desmascaramento da "mediunidade", feita no faz-de-conta e à margem da Ciência Espírita, com tudo reduzido a um propagandismo religioso.
Com tantas irregularidades reveladas, o "espiritismo" sobrevive exibindo pretensa filantropia - que nada contribui para transformar a sociedade - e suas oratórias belas que são apenas palavras enfeitadas que nada dizem e, que, em certos casos, até ferem. Como o próprio Divaldo Franco acusando os refugiados do Oriente Médio de terem sido "antigos tiranos colonizadores".
Dessa forma, o "espiritismo" chegou ao fim de linha e é difícil que mais uma retratação faça sentido, pois se retratou demais, permitindo uma "conciliação" que só fez o "velho" Catolicismo medieval jesuíta vestir a capa do Espiritismo, o "novo" em questão. A crise chega ao seu ponto mais agudo e não há mais como compactuar, porque o antigo pacto só serviu mesmo para privilegiar os deturpadores igrejeiros na vã promessa de recuperar os postulados de Kardec.
quinta-feira, 27 de abril de 2017
De que adianta assumir os erros e não sofrer seus efeitos?
Os "espíritas" têm um discurso tão contraditório que, se num dia são taxativos e firmes em certas recomendações, no outro se tornam hesitantes e apavorados tentando explicar que não era bem assim o que eles queriam dizer, desmentindo a si mesmos.
A doutrina igrejista, cujo "pecado original" foi a preferência pelos valores igrejistas trazidos por Jean-Baptiste Roustaing, um nome hoje considerado um "palavrão" pelo meio, está agora imersa num emaranhado de contradições e equívocos que seus palestrantes e dirigentes tentam relativizar e minimizar, com medo de serem desqualificados de maneira irreversível.
Um exemplo é quando se fala em irregularidades do "movimento espírita". seus palestrantes chegam a dizer, em princípio, que os erros partem apenas de "certos centros espíritas pouco preparados". Tem até palestrante "espírita" escrevendo coisas do tipo: "Ih, lá vem a Maricota da Lavanderia, que acha que espírito veste lençol de cama, como fantasminhas de desenho animado".
Chegamos a um ponto em que os próprios deturpadores "espíritas" andam fazendo "boa teoria", transmitindo os ensinamentos de Allan Kardec que eles próprios não seguem. Tem até suposto médium, criador de quadros falsamente mediúnicos, que gravou o vídeo alertando sobre os "médiuns farsantes". Assim fica fácil roubar doce de criança.
Um outro palestrante "espírita" chegou a dizer, taxativo, que se deve ter "conduta espírita" e "manter coerência". Questionado nas suas incoerências - ele bajulava Erasto, mas depois exaltava a "sabedoria" do medieval Emmanuel - , ele depois escreveu, envergonhado, que "somos todos falíveis". Mas continua com seu balé de palavras na esperança de ter em suas mãos a posse da Verdade.
Os "espíritas" pecam pela ilusão que contraem por achar, sem qualquer cautela nem qualquer rigor de coerência e respeito à Ciência Espírita, que estão conectados com o "Alto" apenas por uma questão de palavrinhas bonitas e suposta filantropia. Mas muitas omissões, desonestidades, ignorâncias e arrogâncias acabam por corromper e tornar o Espiritismo, na forma como é feita no Brasil, uma doutrina praticamente desmoralizada e decadente.
Há até "espíritas" que impõem seu juízo de valor, se achando juízes da vida alheia, donos da vontade dos outros etc etc. Se alguém lhes recorre, nos auxílios fraternos, reclamando de sofrimentos e adversidades pesadas, os "espíritas", em vez de ajudá-los a combater, ficam dando explicação a favor de tais circunstâncias e sempre dão aqueles falsos conselhos que os falsos amigos já dão no dia a dia.
O "espiritismo" brasileiro se afastou de Allan Kardec e é inútil haver milhares de textos e palestras bajulando o pedagogo francês, reproduzindo parágrafos de seus livros - sobretudo de traduções igrejistas - e babando ovo em cima de Erasto e ainda falando mal dos "falsos cristos e falsos profetas" sem se olharem no espelho.
Pois os "espíritas", que desfiguram Kardec, são os que mais falam do argueiro do olho alheio. Tão fácil falar dos "falsos cristos e falsos profetas" quando eles são os outros. E que trave enorme não há nos olhos dos próprios "espíritas", num primeiro momento seguidores eufóricos de Jean-Baptiste Roustaing e, posteriormente, roustanguistas envergonhados babando ovo no túmulo de Kardec!
Que falso cristo não foi Francisco Cândido Xavier, forjando vitimismo quando era acusado de fraudes literárias e mediúnicas fáceis de serem comprovadas? Que falso profeta não foi ele estabelecendo datas fixas para isso e aquilo, como forma de tantar iludir as massas com falsas esperanças? E Divaldo, que transformava a criação de datas fixas como seu recreio nas suas pregações verborrágicas?
Quantos falsos cristos, no "movimento espírita", não há, entre aqueles que, parodiando a peregrinação de Jesus de Nazaré, ficam a viver transmitindo palavrinhas bonitas, se achando seguidor do exemplo cristão quando, em verdade, apenas reproduzem a verborragia barata dos antigos sacerdotes que o próprio Jesus tanto reprovou em seus discursos?
Quantos falsos profetas, no "movimento espírita", não há, entre aqueles que anunciam a bonança quando a tempestade se aproxima? E ainda mais quando o "espiritismo" está cada vez mais próximo, talvez num caminho sem volta, num velho Catolicismo jesuíta, e pregando, de forma nunca assumida mas aberrantemente explícita, da Teologia do Sofrimento que nem é unanimidade entre os católicos!
Nem todos os que dizem "Senhor, Senhor" estarão no reino dos céus! E, no balé de palavras bonitas em que os palestrantes e escritores "espíritas" produzem em quantidades industriais, na tentativa de, na visão deles, poderem agradar Deus com belas palavras e garantir com menor dificuldade possível o ingresso aos céus, quanta decepção não esperam os "espíritas" no retorno à "pátria espiritual".
Que adianta assumir que "errou e errou muito", que "nasceu falho e talvez continue falhando", se todo esse discurso é feito para evitar ocorrer os efeitos de seus erros. Os sofredores tão "assistidos" pelos "espíritas", indiferentes estes à desgraça alheia, podem, aos olhos desta doutrina igrejista, acumularem desgraças e enfrentar impasses terríveis, sem esperança de alguma bonança.
Mas os "espíritas" não querem ser questionados. Que teatro do coitadismo não fizeram os "espíritas", a exemplo do próprio Chico Xavier, que arrumava confusão com seus projetos sensacionalistas, e depois se promovia forjando silêncio e tristeza. "Não vamos botar querosene neste incêndio", disse Chico certa vez, achando que é no silêncio e na postura de tristonho cabisbaixo que iria triunfar, como um falso cristo inventando falsas cruzes para forjar uma pretensa "ascensão ao Senhor".
Hoje o "espiritismo" vive sua aguda crise e a antiga esperança de retratação, que fazia os deturpadores, numa suposta conciliação "espírita", fingirem que participam da recuperação das bases doutrinárias. O que se viu são os próprios deturpadores pregando a "boa teoria espírita" e praticando igrejismo, alternando livros e textos de "rigor aos ensinamentos de Kardec" com outros em que o deslumbramento religioso atropela os próprios postulados espíritas.
Daí ser inútil apelar para a única solução que os "espíritas" apelam neste momento de aguda crise no movimento: "entender melhor Allan Kardec". Muito se fez nesse sentido nos últimos 40 anos e não é repetindo esse procedimento que a crise no "movimento espírita" será resolvida. Isso é correr atrás do próprio rabo e só fará agravar, ainda mais, as contradições que ameaçam até mesmo derrubar reputações antes consideradas inabaláveis dentro do "movimento espírita" brasileiro.
quarta-feira, 26 de abril de 2017
A que interessa o "espiritismo" adotar uma postura "dúbia"?
Resolver um problema adotando, como solução, o próprio problema. É assim que os "espíritas" esperam resolver a crise, sempre apostando na ladainha de "ler melhor os livros de Allan Kardec", coisa que se faz muito há pelo menos 40 anos, sem resultado algum.
O "espiritismo" brasileiro hoje paga o preço extremamente caro de suas más escolhas. Optou pelo roustanguismo e depois se envergonhou disso, e escondeu Jean-Baptiste Roustaing debaixo do tapete, enquanto Kardec passou a ser alvo de intensa bajulação e imenso pedantismo.
Aliás, pedantismo é o que se mais usa no interior do "movimento espírita", desde que a "fase dúbia" surgiu após o fim da Era Wantuil. A evocação de personalidades não só do Espiritismo autêntico, mas cientistas, intelectuais e ativistas sérios, tornou-se um hábito oportunista e um tanto pedestre dos "espíritas", querendo se apropriar do prestígio destas personalidades que realmente deram contribuições valiosas à humanidade, mas sem ter a mesma competência deles.
As más energias que o "espiritismo" traz às pessoas, uma constatação que horroriza os "espíritas" que nunca aceitariam essa tão triste conclusão, se deve por essas más escolhas e pela progressiva dissimulação que culminou na "fase dúbia" de hoje.
Perdido entre um roustanguismo envergonhado e uma falsa recuperação dos postulados kardecianos, o "espiritismo" brasileiro se perde por tentar explicar tamanhas contradições e equívocos, pondo reputações construídas e exaltadas em grave risco.
Isso porque vários palestrantes e escritores "espíritas" chegam a adotar posturas categóricas e taxativas que depois tentam minimizar, pressionados pelas críticas. Isso contradiz a preocupação dos "espíritas" em ficar com a verdade, usando como pretexto a ligação com Deus, Jesus e Kardec.
A contradição, neste caso, se dá, por exemplo, porque um palestrante "espírita" escreveu que o sofredor tem que amar suas próprias desgraças e fingir para si mesmo que está tudo bem, e que o sofredor só tem que combater seu maior inimigo, que é ele mesmo.
Aí as pessoas reagem e o próprio palestrante, envergonhado, tenta dizer que "não foi bem assim" o que disse, desmentindo as ideias que, na véspera, afirmou de maneira taxativa. "Não, não disse para a pessoa amar o sofrimento e ser inimiga de si, mas extrair as lições do sofrer e cultivar o amor próprio desfazendo de seus vícios", diz o mesmo palestrante antes convicto, agora intimidado.
Isso mostra a falta de segurança que o "espiritismo" traz às pessoas. Não há um apoio moral consistente nem um auxílio realmente fraterno. Que amigo se espera de alguém que, ouvindo as pessoas reclamarem de tantas desgraças, diz para elas as suportarem e "tirarem bom proveito delas"?
São tantas contradições que não há como encontrar coerência e bom senso. E os piores "espíritas", do contrário que se imagina, não são os "centros" de fundo de quintal, mas pessoas "conceituadas" como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, os maiores deturpadores da Doutrina Espírita em toda sua história.
Isso porque eles já corromperam o conceito de "médium", abolindo com o sentido intermediário original. Viraram dublês de pensadores e de ativistas, numa pretensa filantropia que soa mais como propaganda para eles mesmos do que para um projeto de ajuda social definitiva. E, além disso, poucos conseguem ver o aberrante defeito do "culto à personalidade", que é a marca infeliz dos "médiuns" no Brasil.
E com tantas deturpações e distorções, a que interessa praticar o igrejismo e a "mediunidade" de faz de conta e, ao mesmo tempo, alegar "rigor absoluto" ao legado kardeciano? Alguns deturpadores do Espiritismo chegam a, cinicamente, dizer que "não existem vários espiritismos" mas "um só, o de Kardec". E eles são os que mais deturpam, exaltando Chico e Divaldo.
Que interesse tem tanta dissimulação, se, pelo menos, quando a "fase dúbia" surgiu, por volta de 1975, havia o pretexto dos deturpadores do Espiritismo tentarem agradar o espírita autêntico José Herculano Pires, fingindo cumprir o dever de aula.
Hoje, com os "espíritas" abraçados à Rede Globo e ao conservadorismo social, eles não precisam de tanto jogo de cena. Poderiam dizer que Jean-Baptiste Roustaing é "melhor" que Allan Kardec porque este "peca" pelos "excessos do pensamento científico". Criava-se um discurso, a mídia solidária fabricava consenso e todos dormiriam tranquilos com a impressão de que Os Quatro Evangelhos tem um conteúdo "mais interessante" que o dos livros kardecianos.
O problema, talvez, vem das pretensões arrivistas que sempre apelam para um pretexto vanguardista. É a mesma intenção que faz, por exemplo, o Mário Kertèsz, o ambicioso barão da mídia da Rádio Metrópole FM, ter optado por entrevistar o ex-presidente Lula, quando ele poderia ter entrevistado tucanos ou peemedebistas baianos. Isso porque Kertèsz queria se passar por "generoso" diante das esquerdas e fazer a Rádio Metrópole atrair o apoio da mídia esquerdista para depois liquidá-la.
A associação com Kardec, portanto, é que faz os roustanguistas enrustidos se projetarem. Eles se promovem às custas do prestígio intelectual do pedagogo francês, por mais que cometam sérias traições a ele. O arrivista sempre se afasta do Titanic que afunda, se uma pequena balsa salva-vidas lhe garante vantagem e promoção pessoal.
Daí as armadilhas da psique humana. Pessoas que se passam por modestas, despretensiosas e coitadas para se promoverem às custas de um movimento social mais avançado, de forma a conquistar o poder caindo de pára-quedas e se achando "donas da área". Os deturpadores do Espiritismo, no Brasil, se acham "donos de Kardec".
terça-feira, 25 de abril de 2017
"Espiritismo" faz mal "dando oportunidade" a espíritos atrasados
O moralismo "espírita" tem um enunciado que, à primeira vista, parece bem intencionado. Dá chance para espíritos inferiores adiantarem o progresso, dando-lhes toda sorte de se livrar das piores encrencas ou criar uma moratória de expiação, o chamado "fiado espírita", que permite a quem cometer alguma maldade só pagar pelo que fez daqui a uma ou duas encarnações.
Mas o raciocínio é puramente materialista e grosseiro. Vamos comparar com uma escola. na qual o professor dá aos alunos mais bagunceiros e gazeteiros uma chance rápida para passar de ano. Dão direito a eles colarem nas provas, a se comportarem quietos nas aulas, e deixam eles voltarem atrasados do recreio. Simbolicamente, dão notas que fazem eles passarem de ano com um conceito "C", sem no entanto sequer contribuir para obter um "D" nas notas escolares.
O raciocínio é grosseiro porque os espíritos atrasados não vão progredir por prolongarem demais uma encarnação, na tentativa de, mesmo cometendo crimes, salvar sua reputação material e seus ilustres nomes vivendo até os 95 anos, mesmo se descuidando seriamente da saúde. Eles apenas ficam fazendo turismo e recreando, ficaram "bonzinhos" e "simpáticos", mas desperdiçam tempo sem se evoluir, protegidos pela ilusão próspera de seus privilégios terrenos.
O "espiritismo", como religião-porteira - não é a mais popular do Brasil mas é a que abre as portas para as energias que afetam o país como um todo - , acabou atraindo multidões de espíritos grosseiros, alguns até com relativa inteligência, suficiente para promover dissimulações ou pegar carona em iniciativas de vanguarda, como os chamados arrivistas.
CHICO XAVIER, UM ESPÍRITO ATRASADO
O próprio Francisco Cândido Xavier, católico ortodoxo, caipira ultraconservador, pegou carona na novidade trazida da França, o legado espírita de Allan Kardec, se apropriou e desfigurou essa doutrina de forma a se tornar "dono dela" e "controlar" simbolicamente até quando houver um esforço de recuperação das bases doutrinárias.
Daí ser vergonhoso querer recuperar as bases originais da Doutrina Espírita mantendo Chico Xavier no pedestal. A esperteza do anti-médium mineiro, que "comeu quieto" diante de tantas confusões que causou, é pouco percebida, mas comprova o caráter traiçoeiro do grande deturpador que realizou com plenitude os objetivos traçados por Jean-Baptiste Rostaing.
Como caipira de fala mole e, mais tarde, com aparência frágil, Chico Xavier podia se passar pelo "humilde sensível" que muitos acreditam "ter realmente sido". A ilusão de luminosidade, que quase ninguém percebe ter sido um apelo publicitário feito com ajuda da Rede Globo (a emissora dos Marinho, que transformou Lula num "diabo", também fez de Chico Xavier um "semi-deus"), pode ser comprovadamente rejeitada por fatos.
Quem verificar as fotos mais antigas de Chico Xavier, ainda com os olhos à mostra, nota-se que seu semblante sempre foi muito pesado e diabólico, pior do que um personagem de terror. Dizem que ele tinha um olhar assassino, daí o que está por trás do posterior uso de óculos escuros para esconder o olhar assustador e traiçoeiro do Grande Deturpador.
Ele se apropriou de autores mortos e criou a pegadinha chamada Parnaso de Além-Túmulo, que deixou as pessoas desnorteadas por ser uma fraude de difícil investigação. Só mesmo pessoas como Alceu Amoroso Lima dariam a resposta. que, num caso de "fogo amigo", foi confirmado sem querer por uma carta de Chico Xavier a Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB, divulgado no livro Testemunhos de Chico Xavier, de sua adepta Suely Caldas Schubert.
A resposta foi que, realmente, Chico Xavier era incapaz de fazer pastiches sozinho. Mas se atribuir autenticidade às obras "mediúnicas", um erro ficaria evidente, pois os autores "espirituais" fogem de seus estilos pessoais e passam a "escrever e pensar" igual ao "médium" ou algum outro ligado a ele (como Wantuil). Diante disso, descobriu-se que os livros de Chico Xavier sempre contaram com outros redatores, editores e consultores literários. Era uma obra coletiva, mas de gente da Terra.
As confusões foram feitas de propósito e o caso do Párnaso e de Humberto de Campos - que, em vida, fez uma resenha que não agradou Chico e, por isso, este resolveu se vingar e, depois da morte do escritor, o "médium" usurpou seu nome e o "relançou" em estilo totalmente diferente, guardada uma ou outra semelhança superficial - comprovam que Chico Xavier era um espírito atrasado, grosseiro e arrivista.
Daí que não faz sentido fazer qualquer associação dele com o pedagogo Allan Kardec, de uma trajetória vital límpida e íntegra, desde seus tempos de jovem educador até os últimos tempos de enfermo divulgador da Codificação. Diferente de Kardec, Chico criava confusão e se metia em escândalos, afastando qualquer hipótese de atribuir coerência ao "médium".
Foi Chico que corrompeu o legado espírita de forma mais irresponsável. E, se hoje o anti-médium e beato de Pedro Leopoldo e Uberaba é visto como "figura luminosa", é através de um engenhoso discurso publicitário trazido pela Rede Globo de Televisão, e sob inspiração no que Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá.
Chico foi o maior exemplo de arrivista que o Brasil já teve. O arrivista é um tipo mais ambicioso de canastrão ou malandro que quer levar vantagem a qualquer preço e geralmente é uma pessoa de formação retrógrada que pega carona em qualquer fenômeno de vanguarda que estiver ao seu alcance.
Daí que arrivistas diversos, sejam políticos corruptos que depois viram pretensos radiojornalistas, funkeiras rebolativas que se passam por feministas e cantores canastrões de música brega que prometem "salvar a MPB", entre tantos outros, conseguem ter o caminho aberto que os verdadeiros vanguardistas não conseguem. Até porque o Brasil tem um grande histórico de pessoas de vanguarda que morrem cedo ou no auge de suas atividades na Terra.
Dar a oportunidade, desta forma, a espíritos atrasados, prolongando uma vida de êxitos e vantagens até para homicidas impunes - que parecem "nunca morrer" mesmo quando chegam à velhice e, quando não há jeito, a imprensa lhes oculta o obituário - , não conseguem obter o aprendizado prometido, e, prometendo "limpar" seus nomes, apenas reconquistam os privilégios terrenos que pareciam perdidos.
Desta forma, o Brasil não consegue superar a mediocridade cultural ou valores retrógrados como o machismo e o direitismo político. São os espíritos atrasados que acabam tendo chance de testemunhar para seus netos e, assim, representarem o "exemplo vivo" de seus atos ruins, mesmo quando eles são negativamente relatados. Mas, aí, para muitas pessoas, isso não importa, vide a ilusão fácil de ter uma juventude de maldades para depois forjar "bom-mocismo" na juventude.
Isso apenas alimenta vaidades e minimiza o impacto dos erros, fazendo piorar as coisas, porque o "fiado espírita" que influi na imoralidade inadimplente que prevalece hoje em dia irá provocar inseguranças futuras, quando as pessoas só passarem a "pagar pelo que fizeram" depois do remorso. Esse moralismo, vale lembrar, tem muito a ver com o receituário medieval da Teologia do Sofrimento, a base maior do "espiritismo" feito no Brasil.
segunda-feira, 24 de abril de 2017
Por que o "espiritismo" facilita a ação de espíritos vingativos?
Muitas pessoas reclamam pelo fato de assistirem a doutrinárias "espíritas", lerem seus livros mais destacados ou fazer seus tratamentos em "casas espíritas" e contraírem azar e infortúnios. Veem as pessoas de mais valor moral e intelectual morrerem de repente, sofrem infortúnios graves, vivem em sobressaltos e são alvos de humilhações por pouca coisa.
Os "espíritas" costumam acusar os outros. A vítima é a "culpada", por alguma "falta de fé" ou porque tem "algo a ajustar" de uma suposta encarnação antiga. Essa presunção de "reajustes espirituais" é feita no mais completo achismo, considerando que o "espiritismo" brasileiro é tão deturpado que ele é simplesmente ignorante em Ciência Espírita.
A verdade é que o prestígio religioso anda criando uma grande ilusão em uma parcela de pessoas, que são os palestrantes, ídolos e tarefeiros "espíritas". Eles se acham no direito de fazer juízo de valor aqui e ali, e dar pitaco até na vontade dos outros. Tem "espírita" até que diz qual o tipo de mulher que um homem deve ter, ou qual o tipo de homem que uma mulher deve ter na vida amorosa.
O "espiritismo" é tão deturpado e tão dissimulado que atrai para si as piores energias. Imagine praticar ideias trazidas pelo livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, ter vergonha deste nome e jurar de joelhos que segue com rigor absoluto os postulados originais de Allan Kardec.
Pura hipocrisia, não é? É, sim. Porque alegar uma postura e praticar outra bem oposta é falsidade, por mais que esta falsidade se esconda em palavras bonitas e ilustraçõezinhas de corações vermelhos e fofos que nem almofadas.
Nem as músicas "espíritas" afastam os espíritos inferiores. Pelo contrário, eles se aproximam cada vez mais, porque, para eles, é um descanso, um recreio diante do "trabalho" que eles fazem para arruinar a vida das pessoas. Imaginar que o açúcar das palavras causa repugnância nos espíritos endurecidos é um grande engano.
O rol de contradições aqui e ali dá ao "espiritismo" uma triste peculiaridade: é a religião com mais contradições de todas que existem no Brasil. O Catolicismo e o Protestantismo têm suas fantasias, as seitas neopentecostais contam com um projeto retrógrado de sociedade, como se quisesse fazer o Brasil retroceder aos tempos de Moisés, mas pelo menos essas religiões contam com coerência doutrinária, no sentido de que não dissimulam e não afirmam ser aquilo que não são.
O "espiritismo" é hipócrita e dissimulador. Roustanguista, faz de tudo para manter seu vínculo forçado a Allan Kardec. As mensagens "mediúnicas", feitas à revelia de qualquer estudo de Ciência Espírita, apresentam falhas grotescas relacionadas aos aspectos pessoais dos autores espirituais alegados. O "morto" retorna e "passa a escrever e pensar" igualzinho ao "médium". Não é estranho?
A hipocrisia é tanta que o "espiritismo", na prática, se afasta dos postulados originais de Kardec, mergulhado no igrejismo dos antigos jesuítas do Brasil-colônia, e passa a encampar causas muito estranhas ao legado kardeciano, como a Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo que não é unanimidade entre os católicos.
Nenhum "espírita" veio dizer que defende a Teologia do Sofrimento e é possível que seu discurso apele sempre no "desconhecimento" dessa corrente católica, ou mesmo num falso repúdio. Mas as ideias trazidas a partir do próprio Francisco Cândido Xavier, em suas próprias palavras, demonstram que a Teologia do Sofrimento praticamente virou a base do "espiritismo" feito no Brasil.
Chico Xavier sempre dizia, em suas frases, para a pessoa aguentar e até adorar o sofrimento, sofrer desgraças e fingir que está tudo bem. Ele chegava mesmo a botar suas ideias usando os nomes de autores mortos como Auta de Souza, Casimiro de Abreu e Humberto de Campos, "forçados a concordar" com o "médium", num processo perigoso de mistificação.
Isso faz a festa dos espíritos inferiores. A alegação de "reajustes espirituais", a suposição leviana de "dívidas passadas", feitas desprezando a Ciência Espírita, mas motivada pelo "achismo" que a ilusão do prestígio religioso parece, em tese, garantir, faz a farra da "galera do umbral" que sempre tem um motivo para arruinar a vida de alguém ou para motivar algum encarnado a agir em prejuízo ao próximo.
Como a vítima é que leva a culpa e o algoz da ocasião só vai "pagar pelo que fez" na próxima encarnação - é a teoria do "fiado espírita" - , a "multidão das trevas" tem todo o caminho aberto. Os espíritos inferiores viram "jagunços" da "Lei de Causa e Efeito", e com isso têm sua responsabilidade provisoriamente atenuada, sofrendo uma "moratória moral" de cerca de cinquenta ou seis anos, o que faz com que os crimes e outros delitos só possam ser pagos em outra encarnação e após arrependimento.
O moralismo retrógrado do "espiritismo" e sua ética um tanto torta que permite que espíritos atrasados se "adiantem" apressadamente, como "justiceiros do além", enquanto espíritos com algum adiantamento moral e intelectual têm suas encarnações interrompidas pela tragédia ou pelas desgraças faz com que o "espiritismo" seja uma porta aberta para espíritos do mais baixo nível moral e intelectual.
Embora não seja a religião mais popular do Brasil, com apenas 1% de adesão (o Censo afirma ter 2%, mas a realidade indica metade disso), o "espiritismo" é uma religião-porteira no qual atrai espíritos maléficos através de seu rol de contradições, confusões, equívocos e dissimulações.
Os espíritos inferiores são favorecidos pelas "boas energias" da doutrina e se empolgam tanto que eles se expandem e decidem também ocupar os mais diversos espaços da sociedade, fora do âmbito "espírita". ampliando demais a sua influência e travando gravemente o progresso do Brasil, que se torna refém de antigos paradigmas, uns relacionados à ditadura militar, outros ao período colonial, outros ao macartismo dos EUA e por aí vai.
Diante disso, percebemos o quanto o "espiritismo" brasileiro brinca com as circunstâncias. Contradiz, dissimula e omite o tempo inteiro, camuflando tudo com um interminável balé de palavras bonitas, imagens adocicadas e um aparato de filantropia que se revela, na verdade, um mero Assistencialismo, uma "caridade" que nunca transformou a sociedade de forma profunda e definitiva, servindo apenas para a promoção pessoal do "médium" que já é alvo do mais mórbido culto à personalidade.
domingo, 23 de abril de 2017
"Filantropia" é usada no Brasil como desvio de foco do Espiritismo
O "espiritismo" brasileiro é uma coisa estranha. Uma sucessão de falácias e artifícios no qual o principal, os ensinamentos de Allan Kardec, não são devidamente apreciados, mas constantemente distorcidos ao sabor das circunstâncias. Tudo é feito para dar a impressão de estar tudo em ordem, mas na verdade não é isso que acontece.
Nota-se uma ênfase estranha na aparente filantropia. Não que o Espiritismo não falasse em caridade e há a célebre frase de Kardec, "Fora da caridade não há salvação". Mas ela é usada de maneira tendenciosa e espetacularizada, de modo que os próprios ensinamentos kardecianos fiquem em segundo plano.
O legado de Kardec nunca foi devidamente apreciado no Brasil, salvo pequenas iniciativas que não se podem ser vinculadas ao que oficialmente se denomina "movimento espírita". Ou seja, são iniciativas que nem de longe passam pela sombra dos deturpadores Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, dois maiores inimigos internos da Doutrina Espírita que a desfiguraram na igrejificação explícita.
O que se observa, portanto, é uma série de fingimentos. Finge-se que se compreende perfeitamente o legado kardeciano, que se cumpre o rigor dos postulados espíritas originais e que se está cumprindo a missão de transformação da humanidade. Tudo no clima do faz de conta.
Você vê claramente que os assuntos de "família" e as atividades "filantrópicas", mesmo que de uma forma ou de outra sigam, em tese, os postulados espíritas, servem mais para desviar o foco. Diante da catolicização do Espiritismo, criam-se uma engenhosa série de artifícios para botar a deturpação debaixo do tapete.
Isso é grave. Porque "bondade" e "fraternidade", entre tantas palavras bonitas, são na verdade usados para disfarçar a ignorância aos ensinamentos kardecianos originais e até como formas de legitimar as visões mistificadoras que fantasiam o mundo espiritual, degradam a encarnação presente e estabelecem juízos de valor citando supostas encarnações anteriores.
O açúcar das mensagens "espíritas" entorpece as pessoas e corrompe a percepção. Cria-se uma emotividade cega, que relativiza qualquer erro grave cometido sob o rótulo do Espiritismo no Brasil, com ressalvas sucessivas que acabam colocando os próprios deturpadores acima do Codificador.
É um sentimentalismo viscoso, gosmento, piegas, que não raro vai com exageros como "Jesus Cristo construiu a Terra" ou tolices como "O bebê Jesus pulou feliz dentro da barriga de Maria ao saber que João Batista estava dentro da barriga de Isabel", aceitas sem crítica porque evocam, em tese, ideias consideradas "positivas", mas, não raro, fúteis e extremamente tolas.
O emaranhado de meias-verdades cria uma teia discursiva que parece harmoniosa em suas entranhas, parecendo um engodo uniforme, que muitos pensam ser expressão de equilíbrio, imparcialidade e prudência. Mas o "espiritismo", na prática, se tornou uma doutrina não apenas confusa e irregular, mas absolutamente mentirosa e dissimulada.
Isso porque se pratica um igrejismo alucinado enquanto, no discurso, se apela para uma falsa fidelidade aos ensinamentos de Kardec, criando uma série de artifícios e aparatos que desviam o foco da ignorância que se tem à Doutrina Espírita, principalmente à Ciência Espírita.
Num dado momento, os próprios "espíritas" desobedecem os ensinamentos kardecianos, ao praticar invigilância, transformando em conselheiros absolutos os "médiuns" que mais pregam a deturpação. Deixa-se de lado o rigor da Razão, apelando para a desculpa fácil de que "certos fenômenos escapam da percepção humana". Uma grande falácia, que permite a aceitação de tantos absurdos.
E é isso que compromete a compreensão do Espiritismo e permite a predominância de "médiuns" que já violam a natureza de sua atividade, centro os "centros das atenções" e usufruindo o culto à personalidade. E são eles os maiores responsáveis pela desfiguração do legado espírita, hoje entregue a um balé de belas palavras e um aparato de supostas boas ações que apenas distraem as pessoas diante do próprio desprezo que o "espiritismo" no Brasil faz às ideias de Kardec.
sábado, 22 de abril de 2017
Misericórdia é permissividade?
A deturpação que atingiu como um punhal os postulados originais da Doutrina Espírita triunfou depois que, com o fim da Era Wantuil, se prometeu recuperar as bases kardecianas, mas se manteve todo o igrejismo de raiz roustanguista, até de maneira mais radical, por mais que o nome do incômodo Jean-Baptiste Roustaing fosse descartado.
Tentou-se combater a deturpação e poupar os deturpadores, pela bem intencionada porém ingênua tese de que os deturpadores "fizeram isso sem querer" ou "foram mal-orientados por espíritos inferiores". Acreditando que os deturpadores iriam se corrigir, criou-se o que oficialmente se chama de "kardecismo", nome que apelava mais para a promessa, nunca cumprida, de recuperar suas bases doutrinárias.
A "fase dúbia" está em crise, porque, em vez do equilíbrio doutrinário entre o cientificismo e os ensinamentos cristãos, o que se viu foi a prevalência do igrejismo, com muito mais força do que quando se assumia o nome de Roustaing. As contradições se tornaram mais frequentes e a crise só veio a se agravar mais e mais quando, na Internet, se relembravam os diversos episódios da deturpação do Espiritismo.
Acreditou-se que os deturpadores iriam se corrigir e eles não se corrigiram. Foi como se, tomados de aparente misericórdia, acolhêssemos os lobos como integrantes do nosso rebanho, Passemos as mãos nas cabeças dos lobos na crença deles desistirem de devorar as ovelhas, se tornando eles também tenras ovelhinhas.
Pode parecer desagradável e chocante para muitos, mas Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco contribuíram de forma nefasta para a ampliação da deturpação. Se eles agiram por influência de espíritos inferiores, isso é verdade, mas eles mesmos também fizeram isso com gosto, e não por ingenuidade ou boa-fé. Ou suas pregações igrejeiras medievais não teriam resultado em centenas de livros e palestras de imensa repercussão, até mesmo fora dos meios espíritas autênticos ou não.
Chico Xavier e Divaldo Franco foram as ervas daninhas a se alimentar da árvore kardeciana, prejudicando a limpidez dos frutos da Doutrina Espírita, corrompidos e infectados por um igrejismo velho, mofado, que só foram aceitas porque o brasileiro tem o coração mole e, em vez de ter vigilância, se rende fácil às armadilhas da vida.
Daí que o brasileiro aceita tudo: overdose de informação, sociedade do espetáculo, glamourização da pobreza, apelo à emoção (Ad Passiones) etc. Coisas que, no Brasil, são tidas como "maravilhosas" mas que intelectuais do mais alto gabarito, na Europa e nos EUA, definem como fenômenos perigosos e preocupantes.
Misericórdia é permissividade? Perdoar é aceitar que a pessoa continue com seu erro ou deixe de sofrer os efeitos danosos da decisão equivocada? No caso da deturpação espírita, perdoar o deturpador é dar consideração a ele quando forem recuperadas as bases kardecianas?
A resposta é não. Perdoar, neste caso, é apenas não sentir ódio e nem espumar de raiva diante de determinada pessoa ou de sua respectiva citação ou exibição de alguma imagem. Mas não é acolhê-lo como se fosse um aliado, porque, no caso da deturpação da Doutrina Espírita, já houve o conselho de mensageiros como o discípulo de Paulo de Tarso, Erasto, pedindo a rejeição severa dos deturpadores.
Vendo O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, na tradução de José Herculano Pires, se verifica que os deturpadores da Doutrina Espírita só merecem o desprezo e a rejeição severa e vigilante, não cabendo qualquer compactuação. Alertas como a tática de deturpadores falarem em "amor e caridade", apelar para a emoção e usar artifícios para convencer e atrair a vítima haviam sido feitos, e não foi sem aviso que os brasileiros viraram presas fáceis dos deturpadores.
Infelizmente, o "espiritismo" sucumbiu à permissividade, e verdadeiros atentados à lógica e ao bom senso são feitos impunemente, usando como desculpa palavras como "amor" e "fraternidade". ou pretextos como a suposta caridade, que vemos ser mero assistencialismo (aquela "caridade" que ajuda pouco, não transforma a sociedade e serve mais para propaganda do "benfeitor").
As pessoas se acostumaram tanto com isso que até os críticos da deturpação da Doutrina Espírita param no meio do caminho para ficarem fazendo ressalvas dos próprios deturpadores. Isso é um caminho muito perigoso, porque gradualmente quem questiona a deturpação, ao aceitar os deturpadores, vai acabar depois voltando atrás e aceitando a deturpação. Com o medievalismo de Emmanuel e tudo.
Por isso, o que se deve ter é bom senso, rejeitar severamente os deturpadores da Doutrina Espírita e se manter vigilante. Nenhuma retratação se deve haver e a rejeição terá que ser rigorosa e sem retratação. É admitir que os deturpadores não merecem qualquer inclusão na Doutrina Espírita e pregar que eles mereçam o esquecimento não é de tal forma defender ódio nem vingança, mas admitir a completa falta de serventia dos deturpadores para a difusão dos ensinamentos de Allan Kardec.
sexta-feira, 21 de abril de 2017
O maior erro de José Herculano Pires
José Herculano Pires foi um dos espíritas autênticos de notável trajetória, e que, como tradutor, é o que mais manteve fidelidade com o texto original de Allan Kardec, traduzindo quase todos os livros da Codificação publicados pela LAKE (Livraria Allan Kardec Editora), enquanto, sob sua orientação, obras como O Que é o Espiritismo tinham a tradução do colaborador Wallace Leal Rodrigues.
Pires, sobrinho do contador caipira Cornélio Pires - é curioso falarmos em cultura caipira, quando se vê que até ela é alvo de intensa deturpação - , foi também um dos mais enérgicos críticos da deturpação da Doutrina Espírita.
Em boa parte de suas obras - num currículo que inclui formação em Filosofia e intensa atividade jornalística e literária - , Pires faz duras críticas ao que ele denomina "igrejificação" do Espiritismo, tendo sido o maior representante do grupo dos "científicos", fiéis aos postulados espíritas originais, em detrimento dos "místicos", que predominam e tomam as rédeas no "movimento espírita".
É de Herculano Pires - também creditado muitas vezes como "J. Herculano Pires" - o termo "doutrina dos papalvos" ("papalvo" quer dizer "pateta" ou "imbecil") para definir a deturpação igrejista feita com o Espiritismo. Denunciou, em 1973, um plano ainda mais perverso que a FEESP, Federação "Espírita" do Estado de São Paulo (federação regional privilegiada pelo poderio da FEB), de fazer uma tradução dos livros kardecianos mais próxima ainda da deturpação roustanguista.
Pires também alertou para o roustanguismo confesso do baiano Divaldo Franco, embora este diga que "não teve tempo para ler a obra de Jean-Baptiste Roustaing" (a falta de tempo não teria sido em relação a outro autor, Divaldo?).
No entanto, Herculano Pires cometeu um sério erro. Amigo de Francisco Cândido Xavier, superestimou a confiança dada ao anti-médium mineiro e, talvez vendo boa-fé no "médium" na condução igrejificada do Espiritismo, acreditasse que o mineiro poderia seguir corretamente o legado de Allan Kardec, fazendo até com ele parcerias em cinco livros.
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Pelo menos, Herculano era pé no chão e nunca acreditaria que Chico Xavier teria sido reencarnação de Allan Kardec. Há uma entrevista em um programa em 1971 no qual Herculano pergunta a Chico sobre alguma informação sobre reencarnação de Kardec e o mineiro afirma não ter tido qualquer informação.
Renato – Existe alguma notícia, já que se fala tanto, do plano espiritual sobre a reencarnação de Kardec aqui no Brasil ou em algum outro país?
Chico Xavier – Até hoje, pessoalmente, eu nunca recebi qualquer notícia positiva a respeito da presença de Allan Kardec reencarnado no Brasil ou alhures. Entretanto, eu devo dizer que em se tratando desses vultos veneráveis do nosso movimento, seja do cristianismo, seja do espiritismo, pessoalmente eu tenho muito receio de receber qualquer notícia, porque temo, pela minha fragilidade, e estimaria não ser o médium de notícias tão altas.
J. Herculano Pires – Excelente, Chico, essa resposta, porque infelizmente há por aí uma onda de reencarnações de Allan Kardec. Infelizmente há. Nós sabemos que isso são perturbações que ocorrem no movimento espírita em virtude da invigilância dos médiuns e da falta mesmo de compreensão de grande parte dos nossos companheiros no tocante à significação de uma personalidade espiritual como a de Kardec. De maneira que a sua resposta é também para nós de um valor inestimável.
Chico Xavier – Muito obrigado. Pensamos que, quando Allan Kardec surgir ou ressurgir, ele dará notícias de si mesmo pela sua grandeza, pela presença que mostre.
E onde está o erro de José Herculano Pires? Talvez tenha havido uma certa invigilância prática, até porque se reconhece, pelas próprias atividades, que Chico Xavier foi um deturpador proposital, não um ingênuo deturpador do Espiritismo. O mineiro não agiu por boa-fé, mas sim por má-fé, senão ele não teria escrito uma série de livros e depoimentos ligados à mais explícita igrejificação do "movimento espírita".
O erro pode ter sido uma complacência que abriu caminho para a "fase dúbia". Herculano era até bem intencionado na sua crença de que Chico Xavier ou mesmo Divaldo Franco teriam sido "vítimas de espíritos das trevas" e, por isso, houvesse uma chance dos dois se corrigirem e passarem a pregar corretamente os postulados espíritas originais.
Não foi isso que aconteceu. E, diante da esperança de haver um "equilíbrio" entre "científicos" e "místicos", com a coexistência "em bons termos" do rigor científico dos ensinamentos de Allan Kardec e dos valores católicos "na dose certa" atribuídos a Jesus de Nazaré, acreditava-se que o Espiritismo estaria com seu formato ideal. Esse suposto equilíbrio chegou a influir na popularização do "espiritismo", nos últimos 40 anos.
Todavia, o que se observa é que a "fase dúbia" é que se originou com esse "convívio pacífico" entre a árvore espírita e a erva daninha da deturpação. E ignorando aberrações como a de que o próprio conceito de "médium" foi deturpado no Brasil, expressando culto à personalidade, pretensa sabedoria e estrelismo explícito, a promessa de recuperação das bases kardecianas foi seriamente prejudicada.
HERCULANO PIRES VIROU "CABEÇA DE PAPEL"
Mesmo bem intencionada, a esperança de Herculano Pires se constituiu num erro fatal. A acolhida dos "médiuns" deturpadores, mesmo sob o signo da misericórdia e da fraternidade, e a promessa de que o igrejismo estaria nos limites "estritamente cristãos" trouxe efeitos nefastos.
O fato de Chico Xavier e Divaldo Franco espalharem a deturpação, com ideias igrejistas e misticismo surreal, de forma proposital e ampliada, através de livros e, no caso deste último, de palestras ao redor do mundo, fez com que a esperança de Herculano Pires tivesse sido em vão.
A "fase dúbia" fez piorar ainda mais a deturpação do Espiritismo, uma vez que o roustanguismo deixava de ser assumido. Como no caso do ex-deputado Eduardo Cunha para o grupo político do governo Michel Temer, se descartou o idealizador, mas se aproveitou o seu legado e hoje projetos defendidos por Cunha, como a terceirização e a flexibilização das relações de trabalho, continuam na pauta do grupo político, mesmo com o ex-deputado virado "carta fora do baralho".
Dessa forma, criou-se um roustanguismo sem Jean-Baptiste Roustaing, mas com citações pedantes não apenas de Allan Kardec, mas também de personalidades científicas. Até mesmo Erasto é evocado pelos roustanguistas não-assumidos, como meio de fingir que está cumprindo o rigor doutrinário, colocando as traições constantes e diárias debaixo do tapete.
Herculano Pires acabou sendo feito gato e sapato por aqueles que ele tentou acolher na melhor das intenções. Depois da morte do batalhador, ele foi usado numa suposta materialização, ainda em 1979, repetindo as técnicas fraudulentas que se via até a década de 1970, com uso de gazes e colagem de fotos mimeografadas. Uma foto conhecida de Herculano Pires foi usada na farsa.
Houve também, num "centro espírita" de Brasília, uma suposta psicografia de 2003 atribuída a José Herculano Pires, mas com qualidade muito inferior de seus textos e poemas - Herculano também escrevia poesia, até por influência do tio poeta e compositor - , ia na contramão de seu senso lógico, pois a suposta mensagem espiritual alegava que Chico Xavier era reencarnação de Allan Kardec.
Sabe-se que, em Brasília, há o suposto médium Ariston Teles, nascido na Bahia mas vivendo na capital do país. Suposto incorporador de Xavier - talvez por conseguir imitar sua voz, após tempos de convívio quando o anti-médium mineiro era vivo - , Ariston defende a tese de que "Chico foi Kardec", uma tese absurda mesmo se considerarmos os parâmetros da deturpação do Espiritismo.
O poema, carregado do mais laxativo igrejismo, é este que vemos abaixo:
A VOZ DE CHICO
Atribuído ao espírito Irmão Saulo, suposto pseudônimo de Herculano Pires
O além sempre mostrando
A presença da bondade,
Um anjo se apagou
E serviu à Humanidade.
Os enganos, desenganos,
Na luta junto a Jesus,
Kardec se engrandece
Após o Chico e a cruz.
O mesmo médium mineiro,
De tanta simplicidade,
Ocultava a voz do Mestre,
É Kardec na cidade..
Quanta vontade de ver
Os amigos de outrora,
Dizer-lhes que me enganei
Pois Chico se esplendora.
Viva luz banha meu peito,
Chico nimbado de luz
Em junho, dois mil e dois,
Pois avista-se a Jesus.
O Mestre vem receber
O amigo de todos nós,
Allan Kardec desperta
E Chico solta sua voz.
quinta-feira, 20 de abril de 2017
O "bombardeio do amor" como tática perigosa
Um texto do portal Listverse mostra uma lista de dez razões psicológicas para pessoas se juntarem a cultos, não apenas religiosos, mas institucionais de toda espécie, incluindo desde uma fábrica de material esportivo até o manjado nazi-fascismo e organizações estranhas como a Família Manson. Para quem não tem paciência em ler em inglês, há um texto em espanhol.
No exterior, onde a humanidade teve experiência com as várias armadilhas da retórica humana, ninguém se ilude com o "apelo à emoção", ou Ad Passiones, e com o que chamam love bombing, o "bombardeio do amor". É certo que lá tem gente que adere a essas armadilhas, mas elas podem ser também identificadas e seu perigo reconhecido por não pouca gente.
Uma das dez razões apresentadas na lista nós reproduzimos em português, para entender melhor o assunto que focamos nesta postagem, e que revela uma armadilha muito usada pelo "movimento espírita" e que nem os contestadores da deturpação do legado de Allan Kardec têm coragem de questionar:
"Uma das táticas utilizadas pelas seitas para atrair novos membros é o "bombardeio do amor". Esta é uma técnica onde os membros do grupo são demasiado carinhosos e compreensivos. Para alguém que tem baixa autoestima, este é um grande impulso para o ego. Para as pessoas que não estão acostumadas a receber muito amor e adulação em sua vida, isto é obviamente algo muito sedutor. Às vezes, se trata de um culto religioso, se promete aos membros que, além de receber o amor dos seres humanos no grupo, receberão também um amor espiritual e a aceitação de um ser superior.
Porém, uma vez que alguém começa a questionar ou duvidar das ações da organização, este "bombardeio de amor" pode rapidamente voltar. Para castigar a qualquer um que questionar a autoridade, eles o submetem à humilhação pública e ao isolamento social. Temendo a perda de novas amizades e relações íntimas, as pessoas deixam de questionar. Os tipos de pessoas mais suscetíveis a esse tipo de manipulação são aqueles que provém de famílias em conflito e relações abusivas".
O "bombardeio de amor" é a arma usada pela deturpação da Doutrina Espírita para se fazer prevalecer. Cria-se todo um malabarismo de belas palavras, todo um açúcar de frases e imagens, todo um artifício de afetividade que tenta envolver as pessoas, e os questionadores da deturpação param no meio do caminho.
Daí que os questionamentos em torno dos deturpadores Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco estacionam no meio do caminho. A falácia de que eles "praticam bondade" e "ajudam muita gente", além de carecer de embasamento, serve para usar a perigosa tática de "bombardeio de amor" para calar os contestadores.
Dois casos em prol da deturpação envolveram essa perigosa estratégia, que em inglês se denomina love bombing - no fundo, uma versão mais radical do Ad Passiones - e consiste num jogo psicológico de usar artifícios de afetividade e comoção para dominar a pessoa, um "canto de sereia" místico e ainda mais cruel porque evoca ideias como "bondade", "caridade" e "fraternidade" que facilmente subjugam a vítima.
Um ocorreu em 1957. Depois do episódio dos herdeiros de Humberto de Campos, que processaram Chico Xavier e a FEB pelo uso do nome do falecido escritor, o anti-médium mineiro armou uma emboscada para dominar o homônimo filho do escritor, um jornalista e produtor de TV que chegou a aparecer até em uma foto ao lado de Hebe Camargo.
Sabe-se que o desfecho do famoso processo judicial de 1944 resultou em empate. Os juízes tiveram entendimento raso, achando que a questão se limitava aos direitos autorais, quando estava claro que o "espírito Humberto de Campos" era uma farsa. Os herdeiros chegaram a recorrer da sentença e Chico Xavier teria que armar um plano para atrair para si o apoio de suas vítimas.
A víuva de Humberto, D. Catarina Vergolina, também conhecida como "dona Paquita", faleceu em 1951. O esperto anti-médium mineiro já havia seduzido a mãe do escritor, dona Ana de Campos Veras, e se preparava para seduzir o neto desta, Humberto de Campos Filho.
Em 1957, convidou Humberto para uma doutrinária, em um "centro espírita" de Uberaba. e fez todo o alarde. Dois aspectos de manipulação da opinião pública foram usados para seduzir e conquistar Humberto: o Ad Passiones, através da forma radical do "bombardeio de amor", e o assistencialismo. Ambos considerados métodos perigosos de manipulação do inconsciente coletivo.
O "bombardeio de amor" se deu pelo traiçoeiro abraço "fraternal" de Chico Xavier em Humberto de Campos Filho. Este se rendeu ao efeito catártico da comoção extrema, como se fosse um "orgasmo com os olhos" dentro desse processo mórbido de sedução. A esfera "familiar", o clima "afetuoso" e a comoção existente até no fundo musical usado nas "casas espíritas" (na época, músicas orquestrais, distante de nomes como Enya, que se usam hoje), foi certeiro para tal dominação.
No caso do assistencialismo, Chico Xavier mostrou a Humberto Filho atividades "filantrópicas" como um grupo de senhoras cozinhando sopas e uma caravana de ostentação que mais se exibia do que ajudava o próximo: sua "causa" era apenas uma inócua e pouco eficiente doação de mantimentos, uma ajuda que nada contribui em transformações profundas na humanidade.
Outro exemplo de "bombardeio de amor" envolveu a atriz Camila Pitanga. Ela perdeu o amigo e colega de elenco da novela Velho Chico, da Rede Globo, o ator Domingos Montagner, que, ao nadar num trecho do Rio São Francisco, morreu afogado. Camila ia nadar com ele, mas ele a impediu, o que fez ela se livrar da tragédia.
Ateia, Camila Pitanga foi aconselhada, talvez por um colega "espírita" da novela (Carlos Vereza?) a agradecer pela sobrevida no "centro" de João Teixeira de Faria, o João de Deus, o mais novo arroz-de-festa da deturpação do Espiritismo. A chegada de uma atriz da Globo, ateia e de esquerda (João de Deus, latifundiário e direitista, foi até capa de elogiosa matéria da reacionária Veja), foi um prato cheio para a propaganda do anti-médium de Abadiânia, Goiás.
Uma foto que foi divulgada na Internet e até em parte da imprensa escrita mostra Camila ao lado de uma funcionária do "centro", com uma aparente positividade que consiste num dos apelos do "bombardeio de amor", uma propaganda religiosa que não consiste numa bondade espontânea, mas num apelo tendencioso.
Sabe-se que há um esforço para "privatizar" o conceito de "bondade" ao institucionalismo religioso, como se ela não fosse uma qualidade inerente da espécie humana, mas tão somente um subproduto de determinada seita ou movimento religioso. E o "espiritismo" se apoia em muitas falácias para manter a "bondade" como um sub-conceito seu, reduzindo a virtude humana a um mero pragmatismo igrejeiro e paternalista.
quarta-feira, 19 de abril de 2017
Millôr Fernandes nocauteou Chico Xavier e Divaldo Franco
No malabarismo das belas palavras, o "espiritismo" sempre cai em contradição. Cai quando assume posturas que, no dia seguinte, irá desmentir. Cai por cometer erros de propósito que no momento posterior são tidos como acidentais.
Cria-se todo um faz de conta de pretensa sabedoria, com os supostos médiuns promovidos a dublês de pensadores e beneficiados pelo culto à personalidade. Aberrações como a série de livros "Divaldo Responde" são ilustrativas sobre o quanto o "espiritismo" deturpado arroga-se a se achar "possuidor da verdade".
Uma frase de Millôr Fernandes, este, sim, alguém que pôde transmitir o saber através do humor, Em pelo menos duas frases, Millôr pode ser tomado emprestado para questionar o irregular "espiritismo" e seus médiuns dotados de um estrelismo messiânico mal disfarçado de humildade.
Uma frase é "Quem sabe tudo, é porque anda mal informado". Só essa frase faria com que os volumes pedantes do anti-médium Divaldo Franco, os tais "Divaldo Responde", tenham vergonha até de serem jogados nos sebos, porque ninguém vai querer ficar com livros igrejistas que prometem "respostas prontas" para tudo.
A realidade é muito complexa para haver pseudo-sábios oferecendo respostas para todas as coisas, arrogando uma perfeição descomunal. Além do mais, o verdadeiro sábio não é aquele que oferece respostas, mas questões. Ou dúvidas, como uma outra versão da frase de Millôr que circula na Internet: "Se você não tem dúvidas, é porque está mal informado".
Ha um malabarismo discursivo em que os "espíritas" primeiro assumem posições taxativas que depois vão relativizando. Eles ficam fazendo um interminável jogo de palavras que tenta dar a falsa impressão de tanto oferecer certezas como adotar autocríticas. Falam sem saber, iludidos com sua sensação de "posse da verdade" e, quando são desmascarados, tentam reconhecer os erros mas é tarde demais.
A doutrina marca por um festival interminável de contradições. Os seguidores, tomados de uma emotividade extrema, deixam tudo passar. Pensam que o a coerência pode montar uma ilha num mar revolto de tantas contradições e confusões. que o bom senso e o contrassenso podem ser falsamente conectados por uma palavra solta chamada "amor". Seria um falso equilíbrio que, na verdade, atestaria a vitória do contrassenso sobre o bom senso.
Outra frase de Millôr é a de que "Heróis nunca me iludiram". Os supostos "médiuns espíritas", que já destoam violentamente do que os médiuns do tempo de Allan Kardec eram, pois em vez de serem pessoas discretíssimas e quase anônimas, tornaram-se portadores do mais aberrante culto à personalidade, da forma mais cafajeste, disfarçada de humildade, mas inspiradora dos mais levianos gozos terrenos, que ocorrem sob a lona das paixões religiosas.
Os "médiuns" viraram pretensos heróis, pretensos santos canonizados de maneira informal, um agravante em relação à canonização católica, porque, com todo o tendenciosismo e leviandade de muitos processos - pessoas que se revelaram perversas como o padre José de Anchieta e Madre Teresa de Calcutá viraram "santos" - , há pelo menos uma formalização e uma organização. No "espiritismo", basta o "achismo" para atribuir santidade a fulano ou sicrano.
O que parece lindo, confortante, animador e admirável é, na verdade, uma leviandade. "Médiuns" que viram objetos de adoração extrema, pelo malabarismo das palavras, pelo espetáculo de suas atividades religiosas, pela pretensa sabedoria e por uma aparente filantropia que mais expõe o "benfeitor" do que realiza benefícios, por sinal, bastante inexpressivos.
Ainda há uma outra frase de Millôr Fernandes que também pode ser interpretada, não exatamente ao pé da letra, mas diante de uma mania muito comum no Brasil, que é de abraçar novidades e compactuá-las com conceitos velhos: "Quando uma ideologia fica bem velhinha, ela vem morar no Brasil".
Na verdade, a ideologia em si não é o sistema original de ideias contido numa corrente que, no exterior, surgiu inovadora, mas a forma com que ela foi recebida no Brasil. Tivemos vários exemplos de quanto as novidades "perecem" pela compactuação com aspectos retrógrados da corrente que deveria ser rompida, mas que sobrevive na essência quase oculta da novidade deturpada.
Tivemos, no Brasil, um Iluminismo que compactuou com a escravatura. Mais recentemente, tivemos uma cultura rock'n'roll que compactuou com velhos paradigmas de diluições comportadas dos EUA e Itália assimiladas pela Jovem Guarda, e rádios de rock que se deturparam em prol de uma linguagem "jovem", ou melhor, Jovem Pan, espécie de rádio pop mofada.
E temos um feminismo que tem que negociar com o machismo, seja "aconselhando" mulheres com inteligência, opinião e sem sensualismo obsessivo a se casarem com homens de liderança, enquanto aquelas que se contentam em ser meros objetos sexuais são "dispensadas" até de ter um namorado.
O Espiritismo entra nesse bolo de bolor, com cobertura nova e recheio podre, que se faz muito no Brasil. O que se vê na doutrina de Allan Kardec, no Brasil, é sua desfiguração total: em lugar do cientificismo original kardeciano, influenciado pelo Iluminismo francês, o que se vê é um igrejismo extremado e um receituário moralista inspirado na Teologia do Sofrimento do Catolicismo medieval.
Diante de tantas análises, Millôr Fernandes, que embora desagrade muitas pessoas por ter sido ateu, foi um grande intelectual que usava do humorismo para trazer boas lições para a humanidade. Não se preocupava em ser santo, sábio ou herói, e com isso tinha a liberdade de trazer ideias consistentes.
Muito diferente dos "médiuns espíritas" que, no Brasil, vivem o culto à personalidade, se passando por pretensos sábios e supostos filantropos, para promover um igrejismo velho e cansado, mas que ainda arrasta multidões seduzidas pela tentação fácil das paixões religiosas.
Com suas frases, Millôr Fernandes nocauteou os "médiuns" Divaldo Franco e Chico Xavier e outros que seguem linhas semelhantes.
terça-feira, 18 de abril de 2017
Por que se deve desconfiar quando se fala demais em "Amor"?
Ninguém desconfia quando o "espiritismo" brasileiro fica perdendo tempo demais em falar sobre "amor". Há até um meme que define a doutrina igrejista, que desfigurou o legado de Allan Kardec, de "Ciência do Amor". E boa parte das doutrinárias falam somente de temas sentimentais, sob a desculpa de debater problemas morais, mas não raro tudo fica na pieguice, nas emoções baratas.
O "espiritismo" sucumbiu às paixões religiosas e, vendo com distanciamento e imparcialidade, se observa o quanto as sessões "mediúnicas" de Francisco Cândido Xavier e, mais recentemente, de João Teixeira de Faria, o João de Deus, possuem a mesma energia pesada mas aparentemente agradável das orgias do sexo, do dinheiro e das drogas.
O que poucos conseguem perceber é que quem fala demais sobre Amor é porque não ama. O Amor se perde no caminho eterno da coreografia das palavras, ele, por ser dito em demasia, não é sentido, não é praticado. O Amor acaba sendo escravo da teoria, e o termo "Ciência do Amor" não pode ser mais infeliz.
Afinal, o termo "Ciência do Amor" revela uma dupla manipulação ideológica. Ou o Amor é transformado em "problema científico" ou a Ciência reduz seu potencial de raciocínio para mergulhar nas correntezas perigosas da emoção exagerada, nos belos rios da pieguice que levam ao despenhadeiro do fanatismo, da credulidade, da mistificação.
O termo Argumentum Ad Passiones ou simplesmente Ad Passiones, conhecido como "apelo à emoção", é considerado um tipo de falácia. Entende-se como "falácia" uma mentira ou uma inverdade que se impõem como se fossem verdades indiscutíveis, através de hábil discurso de convencimento.
A forma com que o "mentor terreno" de Chico Xavier, o então presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, desenvolveu o Ad Passiones para promover a imagem de seu pupilo, antes um sombrio paranormal que professava o Catolicismo mais ortodoxo.
O que Wantuil não fez, por falta de habilidade sua e, depois, com sua morte, a FEB buscou ajuda na Rede Globo de Televisão, que teve o interesse de reinventar Chico Xavier para criar um mito religioso para fazer frente a Edir Macedo e R. R. Soares, que se ascendiam através de emissoras concorrentes (Edir, sabemos, mais tarde virou proprietário da Rede Record de rádio e TV).
A Globo, por sua vez, buscou inspiração no trabalho "limpo" do inglês Malcolm Muggeridge, que produziu um documentário que promoveu Madre Teresa de Calcutá - depois denunciada por deixar seus assistidos em condições sub-humanas - como "paradigma de caridade", uma "caridade" que mais promove o "benfeitor" do que realmente ajuda o próximo, mas cujo discurso é certeiro para arrancar comoção das massas.
E nisso também foi aplicado o Ad Passiones. criando todo um discurso associado a boas emoções e bons atos, aliado a todo um discurso de religiosidade que muitos confundem com ativismo, mas que não é outra coisa senão um tipo de ação paternalista, o assistencialismo, uma atitude condenável por ser um arremedo pouco eficaz, porém tendencioso, de assistência social.
O assistencialismo está por trás do tipo de "caridade" adotado pelos "espíritas": apenas uma forma de manter a pobreza e a miséria sob controle, mas sem acabá-las por completo. Até porque os "espíritas" cada vez mais fazem apologia ao sofrimento humano, defendendo, mesmo sem assumir no discurso, a Teologia do Sofrimento herdada do Catolicismo medieval.
Não há uma emancipação plena. E, mesmo que haja uma aparente "emancipação", como por exemplo promete o projeto da Mansão do Caminho, de Divaldo Franco, ela é sempre inócua e feita sob o preço do proselitismo religioso: você não é obrigado a acreditar em "crianças-índigo", por exemplo, mas é "aconselhado" a acreditar nisso, pela pretensa reputação de "sabedoria" associada ao famoso anti-médium baiano.
Essa "emancipação" não sai do contexto do assistencialismo, que nada intervém em transformações sociais plenas, porque é apenas uma relativa independência sócio-econômica, sem que possa transformar psicologicamente o indivíduo em alguém que compreendesse o mundo de maneira crítica e criativa e intervisse de maneira profunda nos seus problemas.
O "emancipado" não deixa de ser massa de manobra da religião e sua situação serve mais para propaganda de um suposto médium, deturpador da Doutrina Espírita, que, de tão antiquado, por sua verborragia rebuscada e prolixa, se maquia à maneira de um ator de cinema mudo dos anos 1920 e se veste como um professor do ensino aristocratizado dos anos 1930.
Allan Kardec já havia prevenido no quanto a ênfase de uma retórica apelativa à emoção, com palavras bonitas como "amor" e "caridade", podem ser perigosas, quando por trás delas existe um método de dominação religiosa, de aliciamento do público em favor da deturpação da Doutrina Espírita.
E quanto de belas palavras, imagens enfeitadas e até um ambiente de doçura nas "casas espíritas" foi feito para dominar e manipular as pessoas. São armadilhas que eram previstas já nos tempos da Codificação, mas que os brasileiros deixaram passar de tal forma que até os críticos da deturpação têm muito medo de criticar os deturpadores. O Ad Passiones causou efeitos devastadores no inconsciente coletivo diante do que se faz aqui sob o rótulo de "espiritismo".