sábado, 25 de março de 2017
Texto "espírita" e igrejeiro diz "reprovar" Teologia do Sofrimento
O "espiritismo" brasileiro cai em contradição o tempo inteiro. Perdeu totalmente o compromisso com a coerência, não pelas divergências em si, mas pelo fato de que as divergências são muito grandes e graves. Só a "profecia da Data-Limite" de Francisco Cândido Xavier não é unanimidade entre os seguidores do anti-médium mineiro.
A Teologia do Sofrimento, que se torna uma corrente dominante no "movimento espírita" e que era defendida abertamente - mas sem assumir o nome - por Chico Xavier, através de suas ideias publicadas em seus livros, também causa controvérsia, não bastasse os chorosos "espíritas" se recusarem a assumir essa ideologia, alegando que "não defendem o sofrimento".
Mas, no lado da Igreja Católica, da qual se originou a Teologia do Sofrimento, também existem alegações de que "ninguém quer defender o sofrimento". A Teologia do Sofrimento também tem, em seus postulados, a ideia de que "ninguém merece sofrer", mas que "o sofrimento é o caminho mais curto para a felicidade". A ideologia já é uma série de falácias na sua versão católica, ganhando novos contextos com a adesão entusiasmada do "espírita" Chico Xavier.
Um texto de um palestrante "espírita", José Reis Chaves, igrejista e de formação católica, aparentemente "reprova" a Teologia do Sofrimento, que ele refere à "teologia antiga" que "confunde sofrimento com virtude" e associa "prazer e alegria com pecado".
Ele se choca com os textos que muitos "espíritas" consagrados fazem, que, embora digam promover a esperança, o otimismo e a alegria, criminalizam a vontade humana e definem o sofrimento como "aprendizado" ou "desafio", recomendando aos sofredores aceitarem as desgraças e abrirem mão de seus desejos e necessidades. Falam até em "amar o sofrimento" como se isso garantisse o ingresso rápido ao Céu.
Pois o texto abaixo, embora o autor seja também de um "espiritismo" igrejeiro e catolicizado, demonstra o quanto o "espiritismo" brasileiro tornou-se uma Torre de Babel na qual as contradições se multiplicam de forma assustadora, criando uma confusão doutrinária muito grande. Fica difícil querer ser fraterno com esse rol de contradições e desentendimentos doutrinários. Vejamos o texto:
DEUS É VINGATIVO?
Por José Reis Chaves - Jornal O Tempo, 26 de dezembro de 2011.
Para teólogos do passado, Deus é vingativo e até sádico
Sacrifícios de sangue agradam apenas aos espíritos atrasados
Praticando o mal, traçamos o nosso destino provisório de sofrimento, pois vamos colhendo o que semearmos como nos ensinam as escrituras sagradas de todas as religiões. E, assim, vamos caminhando, até que consigamos a difícil passagem pela porta estreita, segundo o Mestre dos mestres, para quem muitos querem, mas não conseguem passar por ela, e ao que eu acrescento que, por enquanto, muitos nem sequer querem passar por essa porta. Mas não faltará o momento de eles o desejarem e por ela conseguirem passar, como aconteceu com o filho pródigo da parábola, que, só após colher os amargos e disciplinares frutos da má semeadura que fez, despertou para a sua libertação.
Deus, ao criar o homem, sabia de nossos reveses. Mas sabia também que o tempo, que é seu e sem fim, nos seria dado suficientemente para que nós, espíritos imortais, pudéssemos usá-lo pelas eternidades afora, até que conseguíssemos, um dia, a nossa difícil libertação. Realmente, Deus jamais criaria um filho seu para um sofrimento irremediável e sem fim, já que Ele só cria com sabedoria e amor infinitos. Portanto, jamais o Nazareno quis dizer que quem não passasse pela porta estreita não mais passaria por ela.
O nosso sofrimento não significa castigo e menos ainda coisa agradável a Deus. Essa ideia dos teólogos do passado admite, mesmo que inconscientemente, que Deus é vingativo e até sádico. Mas na verdade jamais Deus se deleitaria com o sofrimento de uma pessoa ou de um animal. O apóstolo Paulo ensina que o mesmo fogo (dor) que queima uma obra, provocando dano em alguém, salva a ele como que através do fogo (1 Coríntios 3:15). E o fogo bíblico é diferente, esotérico, figurado e purificador do espírito, o que nos traz à memória o Purgatório da Igreja, elogiado por Kardec. O sofrimento, pois, nada mais é do que a colheita da má semeadura. Ele serve apenas de disciplina para a correção do erro, e não é, eu repito, nada agradável a Deus, como aquela teologia antiga ensinava, por confundir sofrimento com virtude, e prazer e alegria com pecado.
De fato, os teólogos do passado, inclusive alguns que escreveram textos bíblicos, por influência da mitologia, dos sacrifícios de religiões pagãs feitos aos deuses ou demônios (espíritos humanos) atrasados, que eles confundiam com o Espírito do próprio Deus, e, principalmente, por causa do sacrifício de Jesus na cruz, entenderam e ensinaram que Deus se compraz com rituais de sangue derramado, o que eu tenho denominado de "teologia do sangue". Esse foi um dos grandes erros dos teólogos judeus e cristãos antigos que ainda é aceito por muitos religiosos, e que foi veementemente condenado por Jesus: "Basta de sacrifícios, eu quero misericórdia!".
Se Jesus, cuja vontade é a de Deus, detesta sacrifícios e quer misericórdia, como, pois, Deus poderia nos dar por destino irremediável o nosso sacrifício infernal da "Divina Comédia", de Dante, anulando, por completo, a sua tão decantada misericórdia infinita?
Não nos esqueçamos de que Jesus morreu na cruz, justamente em consequência de Ele ter vindo trazer para nós regras de como nos libertarmos, o quanto antes, do sofrimento e da dor. E são essas regras, ou seja, o Evangelho, o que nos salva, e não os sacrifícios agradáveis apenas aos espíritos atrasados!
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