sábado, 1 de outubro de 2016
Por respeito aos cidadãos, loja de Niterói deveria retirar retrato de Madre Teresa de Calcutá
Não se trata de intolerância nem de combate à liberdade religiosa, mas da consideração de muitos aspectos negativos que fazem com que uma loja localizada na Rua Gavião Peixoto, em Niterói, tenha que retirar a gravura com o rosto desenhado de Madre Teresa de Calcutá.
Em primeiro lugar, porque o estabelecimento comercial - uma papelaria - é um lugar laico, que atende a todo tipo de pessoa, independente de crença ou outro tipo de diferença. Em segundo lugar, porque nos últimos anos se revelou, com surpreendentes provas documentais, o caráter sombrio de Madre Teresa de Calcutá, que tira todo o mérito de idolatria a ela, apesar da "santidade".
Madre Teresa é acusada de desviar o dinheiro filantrópico, colhido de tiranos e magnatas corruptos, para os cofres do Vaticano. Ela tinha um temperamento autoritário e ranzinza, e era acusada de maus tratos aos doentes e velhos assistidos.
Entre as crueldades de Madre Teresa, se destacam: doentes expostos uns ao lado dos outros, facilitando o contágio de doenças graves. Má alimentação, que os deixava subnutridos. Doentes graves apenas tratados com paracetamol e aspirina. Falta de higiene nos alojamentos. Seringas reutilizadas que eram apenas lavadas com água de torneira, levemente contaminada.
Essa realidade dura, que choca a todo deslumbrado religioso que prefere a cegueira da fé do que o esclarecimento da realidade - alucinado, o deslumbrado religioso acha que sua cegueira é "esclarecimento", seu apego ao fanatismo religioso uma "libertação" e suas fantasias "a realidade" - , é fruto de trabalhos de pesquisas de documentos, fatos e entrevistas.
Os próprios "milagres" de Madre Teresa, que garantiram ao Vaticano conceder o título de "santa", são fraudulentos: um caso de tumor de uma dona de casa na Índia, Monica Besra, que foi curada não pela "medalha da santa", mas devido a um tratamento médico rigorosamente cumprido. E um suposto coágulo cerebral de graves proporções do qual um enfermo teria sido "incrivelmente curado".
O primeiro "milagre" foi facilmente desmentido. Mas o segundo tornou-se a base para a "santificação", um caso insólito, já que dois supostos milagres eram necessários e Madre Teresa foi declarada "santa" apenas pelo segundo deles, num processo tão duvidoso quanto os do Poder Judiciário e do Ministério Público brasileiros, que parecem usar as leis apenas ao sabor das conveniências políticas e socioeconômicas.
São fatos realistas demais para o religioso, na sua teimosia infantil, querer reagir como se recusasse tudo isso. É muito fácil dizer: "não importa a realidade, o que importa é a fé no Amor", "existem coisas que a realidade não consegue explicar", se utilizando da carteirada religiosa para rejeitar as denúncias de irregularidades.
Se a pessoa quiser idolatrar Madre Teresa, o faça em sua casa. A liberdade religiosa diz respeito à opção individual, não à "liberdade" da pessoa impor sua opção religiosa ou seu totem religioso aos outros. O respeito a essa liberdade deve ser contextualizado, e se a pessoa gosta tanto de Madre Teresa, que crie um altar e coloque a gravura dela nele. Ninguém vai reprimir alguém com isso.
O Brasil vive uma fase de fundamentalismo religioso, seja ele católico, neopentecostal ou "espírita", no qual as pessoas confundem liberdade religiosa com liberdade de impor crenças e totens religiosos para os outros. Isso acaba eliminando a verdadeira liberdade religiosa, e mostra a insegurança que muitos devotos religiosos têm nas suas posturas religiosas, incomodados porque suas crenças não são compartilhadas por outrem.
São seitas religiosas que permitem queimar grades de praças de tanto acender velas para orações (católicos), impor projetos políticos retrógrados no Congresso Nacional (neopentecostais) e desprezar a complexidade do sofrimento humano ("espíritas"). E cujos seguidores se sentem inseguros em ver que só eles realmente acreditam nos seus mitos e dogmas, e se enfurecendo quando são contrariados. Jesus de Nazaré teria dado uma séria bronca em todos eles.
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