domingo, 14 de agosto de 2016
Erasto e a apropriação indébita dos "espíritas"
Quem são os "donos da verdade"? Certamente aqueles que dizem, na cara dura, "a verdade está comigo", "eu sou a personificação do bom senso" ou "a razão nunca passa senão por minhas mãos"? Não. Num Brasil em que as piores armadilhas não aparecem, o chamado "dono da verdade" não se manifestam claramente.
No "espiritismo", a deturpação "espírita" ocorreu de tal forma que até mesmo os alertas de Erasto foram deturpados. O espírito do discípulo de Paulo de Tarso (conhecido como São Paulo pelos católicos), Erasto, era um dos mais enérgicos críticos da deturpação da Doutrina Espírita.
Ele havia dito que era melhor repelir dez verdades do que aceitar uma única mentira. No "movimento espírita", aceita-se a mentira do igrejismo deturpador, simbolizado por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco. Eles acabam se tornando os "donos da verdade", pois a eles, beneficiados pelo status religioso, se atribui a palavra final sobre qualquer coisa.
Um texto merece leitura cautelosa e crítica. O autor, um "espírita" de moldes bem católicos, que "acende a vela" para dois indivíduos antagônicos - Allan Kardec e Chico Xavier - , se apropria de Erasto, diluído em uma tradução igrejista (editora IDE), para interpretar, de maneira tendenciosa, o recado dado por Erasto.
É verdade que, aqui na Terra, não conhecemos o que poderia ser a verdade das coisas. Mas os "espíritas" conhecem bem menos. Evidentemente, eles trabalham as ideias distorcidas de Kardec, transformado em "padre" por traduções irresponsáveis (editoras FEB e IDE), que, por ironia, são armadilhas previstas pelo próprio Erasto.
Esquecem os "espíritas" que coisas que a razão e o bom senso reprovam devem ser repelidas. Isso foi Erasto que disse. As "colônias espirituais" de Chico Xavier, as "crianças-índigo" que foram uma farsa criada por um casal de desocupados querendo ganhar dinheiro, e que Divaldo Franco corroborou como sendo uma "descoberta científica", são coisas que Erasto reprovaria de imediato e com energia.
Diante de tantos erros atribuídos a esses anti-médiuns e a outros "espíritas" solidários, o "movimento espírita" sempre apela para a carteirada moral, dizendo que eles, "pelo menos", falavam em "caridade" e "tiveram suas vidas voltadas exclusivamente ao amor do próximo". Apesar de agradável, tal alegação soa ainda mais hipócrita do que alguém possa admitir.
Pois o que eles fazem é um desfile de palavras e um roteiro de ações paliativas que abordam a ideia de "bondade" de maneira viscosa, gosmenta, como um açúcar servido em doses diabéticas. São manifestações piegas, em que o sentimentalismo exagerado, como uma doçura excessiva, mais prejudica do que beneficia.
Uma prova disso é que o desfile de palavras enfeitadas de Chico Xavier e Divaldo Franco corrompe as almas, fazendo-as puras e benevolentes na aparência e sombrias e maléficas na essência. Enquanto temos que concordar com chiquistas e divaldistas, eles são dóceis e meigos, mas a primeira discordância lhes faz ferver os nervos, como a ignição de um incêndio.
Embora vários deles tentem apelar para uma réplica mais comportada, com palavras falsamente fraternais e argumentos falsamente consistentes, chiquistas e divaldistas, quando recebem a mínima discórdia, se espumam de raiva e não são raras as denúncias de pessoas que foram vítimas de cyberbullying pelos próprios "espíritas".
Uma chiquista tresloucada, ao ver que Chico Xavier foi contestado por uma espírita autêntica, veio com uma arrogante carteirada: "Quem é você para falar de Chico Xavier?". O que mostra o quanto a moral diabética, que cria uma falsa pureza espiritual através da doçura das palavras e dos atos de fachada da caridade paliativa ou assistencialismo, escondem verdadeiros venenos no coração.
Um outro seguidor de Chico Xavier, diante dos questionamentos trazidos por um blogue, Obras Psicografadas, reagiu como um psicopata: "Benditas sejam as fraudes do Chico e as falsas personalidades de seus guias, – seus alteregos – que conseguiram colocar milhões de desesperançados no caminho da luz, da esperança e da renovação!" foi uma de suas frases.
Mas para quem se serve da "chicuta" como um veneno de dóceis palavras bem organizadas e enfeitadas, adoçando o coração mas envenenando vidas e consciências, observa-se que os recados de Erasto não podem servir de brinquedo retórico para palestrantes "espíritas" ambiciosos e que se julgam, não pela palavra aparente, mas pela argumentação astuta, "possuidores da verdade".
É bom deixar claro que Erasto foi muito duro com a deturpação "espírita" e O Livro dos Médiuns, é claro, é lido pelos "espíritas" por suas traduções deturpadas, igrejeiras, que distorcem, e muito, o texto original de Allan Kardec, daí que a contundência de Erasto é dissolvida com água e açúcar de modo que o prudente espírito possa ser usado para apoiar os deturpadores que, em verdade, condenou.
Enquanto os "espíritas" tentam dizer que eles "erram muito" e que "Chico e Divaldo também erraram", mas usam a "bondade" como carteirada para que eles prevalecessem até mesmo quando se considera a retomada das bases originais kardecianas, Erasto já havia dado esse aviso, como se vê no trecho da tradução de O Livro dos Médiuns feita por José Herculano Pires:
"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Sim, é isso mesmo. Erasto avisou para tomarmos cuidado justamente quando mensagens trazidas por espíritos ou supostos médiuns usam como pretexto a "bondade" e a "fraternidade". Lamentavelmente, os brasileiros ignoram esse aviso (até desconhecem), e mergulham fundo na credulidade de quem se promove lançando "palavras de amor" e caridade paliativa.
As pessoas caem na armadilha, deslumbradas com a beleza da isca. E comemoram ações de caridade palativa que se tornam tão inócuas que as áreas "protegidas" por Chico e Divaldo, a cidade de Uberaba e o bairro de Pau de Lima, em Salvador, são justamente alguns dos lugares mais violentos no Brasil.
Em Uberaba, por exemplo, uma busca na Internet revela que as pessoas estão assustadas, apavoradas, com a violência na cidade mineira onde Chico passou suas últimas décadas. Há até mesmo uma foto montagem da figura alegória da Morte (uma dama encapuzada) circulando por uma rua de Uberaba. A imprensa descreve a violência como fato preocupante e pessoas já fizeram passeatas mostrando fotos de pessoas assassinadas e pedindo justiça e segurança.
Os "espíritas" nem ligam para isso. Para eles, violência é apenas um "mimimi" para vender jornal, atrair audiência para rádios e TVs. Acham que o Brasil está às mil maravilhas, porque a sopinha insossa do "centro espírita" está combatendo a miséria mundial, ainda que esses "índices revolucionários" estejam muito abaixo de 0,1% da população brasileira.
Arruma-se todo tipo de desculpa para legitimar deturpadores. E é essa desordem coletiva, esse efeito manada da credulidade religiosa, essa "espiral do silêncio" que foge dos avisos de Erasto, mas que sabem muito bem deturpar seus alertas ao sabor das conveniências, que faz com que a doença infantil do "espiritismo" brasileiro, igrejista e medieval, se torne um mal de difícil cura.
É um terrível hábito dos brasileiros em que diversas visões deturpadoras ou oportunistas prevaleçam e sobrevivam a todo tipo de réplica que tente desmascarar. Isso revela o grande mal que vicia o Brasil, que é a deturpação. Pior do que o mentiroso pouco habilidoso, é aquele que veste a capa da "verdade" e que numa argumentação bem elaborada, se acha sempre o "dono" da palavra final.
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