KIM KATAGUIRI, DO MOVIMENTO BRASIL LIVRE: "CRIANÇA-ÍNDIGO"?
A julgar pela entusiasmada classificação, pelo "movimento espírita" brasileiro, de que as passeatas de 13 de Março foram sinais de "despertar político", "libertação" e "intuição dos espíritos de luz" contra "tudo que está aí", o significado de "crianças-índigo", "cristais" ou "estrelas" não pode ser outro: COXINHAS.
Pois como explicará o "espiritismo" diante do cancelamento das históricas passeatas de 31 de Julho, que iriam inaugurar, para os olhos dos "espíritas", sempre confiantes na sua "boa palavra", a transição do Brasil de país problemático para "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho"?
O "espiritismo" havia tomado o gosto da Era Michel Temer, já que diversos blogues do gênero haviam publicado, em série, textos pedindo aos sofredores aguentar dificuldades. "Abram mão de seus desejos", "não reclamem diante das dificuldades" e "bem-aventurados os perseguidos" são algumas das mensagens encontradas.
Isso coincide com a perspectiva de que o presidente interino, assim que se tornar efetivo - quando a pressão do empresariado, da mídia associada e de setores solidários do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público, influírem na votação final do impeachment de Dilma Rousseff pelo Senado - , impor um pacote de retrocessos político-econômicos que devolverão o Brasil a um estágio anterior à Era Vargas.
Daí a mensagem subliminar do "espiritismo" brasileiro, que, através desses recados pela "aceitação" e pela "perseverança", dentro dos valores da Teologia do Sofrimento que a doutrina brasileira não mais pode esconder, manifesta seu apoio entusiasmado a esse governo retrógrado, pelo qual seus palestrantes pedem "orações em favor" do presidente e "preces para ele trabalhar em prol do próximo".
São meros apelos igrejistas, que definem o caráter de uma religião que se autoproclama "ciência e filosofia", se autodefine como "futurista" e "racional" mas não consegue mais esconder sua herança dos valores medievais do Catolicismo português, que sempre estiveram nos corações dos "espíritas" desde os primórdios roustanguistas da FEB.
E aí, como explicarão os "espíritas" diante do cancelamento das passeatas anti-PT - as que exibiam as cores da bandeira brasileira que tanto encantaram os "espíritas" e inspiraram Robson Pinheiro a escrever um romance, O Partido: Projeto Criminoso de Poder - , que seriam comandadas justamente pelos grupos Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line (soa irônico os "espíritas" condenarem tanto a ideia de "revolta"), que desistiram do evento?
Sabe-se que o cancelamento, anunciado há alguns dias, teve como desculpas o fato de que a votação final do impeachment ocorrerá no final de agosto e que o período marca a volta dos jovens à escola, com o fim das férias previsto para o começo do referido mês.
E os "espíritas", o que dirão? Dirão que "espíritos traiçoeiros" iriam atrapalhar as passeatas, por isso os "espíritos benfeitores" iriam aconselhar a suspensão do evento. Explicar como os "amiguinhos pouco esclarecidos", eufemismo para os "espíritos obsessores", irão atrapalhar os eventos, é algo complicado, mas como o "espiritismo" veio para confundir e não para explicar, é compreensível.
Vamos ver como é que os "espíritas" sairão desta, eles que agora terão que assumir a herança católica medieval - em muitos momentos, seu catolicismo é ainda mais retrógrado do que o que a Igreja Católica desenvolve hoje - e, principalmente, a Teologia do Sofrimento, que se expressa claramente nos textos que são divulgados pelos próprios "espíritas".
domingo, 31 de julho de 2016
sexta-feira, 29 de julho de 2016
Vamos ter também romances sobre Pokemon Go?
O mercado literário brasileiro segue a tendência do contexto surreal que o país vive nos últimos anos. O hábito de ler livros é desnorteado em nome de uma cruzada contra o Conhecimento, diante da supremacia de tendências literárias que estão mais para uma literatura "água com açúcar" que nada acrescenta às mentes das pessoas, já emburrecidas pela grande imprensa cada vez mais estúpida.
Autores emergentes que escrevem obras comprometidas com a transmissão de conhecimentos e de questionamentos não conseguem sequer vender e-Books, que costumam ser mais baratos. Em compensação, autores surgidos do nada que escrevem romances religiosos, por exemplo, têm chance de figurar, mesmo provisoriamente, nas listas dos 20 mais vendidos.
Vimos que, nos últimos anos, o mercado literário sempre lançou algum modismo para barrar os livros informativos, evitando que as pessoas, através da leitura, saibam mais. Houve os romances sobre vampiros e as biografias de cachorros com nomes de roqueiros, dois anos atrás.
Depois, veio a aberração dos "livros para colorir", que quase nenhum texto tinham. Era aberrante que eles chegaram a estar na lista dos mais vendidos de "não-ficção", o que faria uma pessoa mais sensata perguntar o que desenho de árvores incolores tem a ver com a realidade em que vivemos, que seria o foco dessa categoria literária.
Aí vieram os Youtubers, um modismo em que qualquer pessoa com forte apelo entre o público juvenil através dos vídeos do portal social da Internet decide escrever um "diário" em forma de livro e vende como bala em porta de escola. Alguns são realmente bons, como Kéfera Buchmann e Isabela Freitas, mas há também coisas lamentáveis.
Mas aí vieram os romances de jogos de Minecraft, para criar mais uma barricada livresca para a marcha do Conhecimento, uma forma de despejar um monte de títulos e modismos para evitar que até mesmo livros jornalísticos mais mainstream - como os de Fernando Morais, por exemplo - fiquem muito tempo nas listas dos mais vendidos.
Diante desse cenário, também propiciam as vendas dos livros religiosos em geral, com "histórias lindas" aqui e ali, supostas obras proféticas (como uma tal 2036), livros de auto-ajuda e esoterismo (que vão na onda) e, é claro, a literatura "espírita", hoje representada, nos livros mais badalados, pelas obras de Robson Pinheiro (que inaugurou o "espiritismo coxinha"), o Data-Limite Segundo Chico Xavier de Juliano Pozati e o pedantismo verborrágico da série Divaldo Franco Responde.
Com isso, autores emergentes que querem lançar novas questões e transmitir informações que dificilmente aparecem na grande mídia, não conseguem vender nem divulgar adequadamente seus trabalhos. E, da forma que a nossa sociedade anda entorpecida pela grande mídia e um tanto estupidificada com o sadomasoquismo de seu antipetismo cego e de sua indiferença à catástrofe política do governo Michel Temer, são esses autores os mais discriminados.
Ficamos esperando se haverá também, como no Minecraft, uma série de obras literárias inspiradas no jogo de Pokemon Go, a onda do momento. Para um mercado que acolheu "livros para colorir" como se fosse literatura de não-ficção, tudo pode esperar. Vamos sugerir até que cada livro venha com um sorvete de brinde para o leitor jogar em sua testa.
quarta-feira, 27 de julho de 2016
"Espíritas" ficam de fora na Rio 2016. Não faz mal, se unam aos católicos
Mesmo com a recomendação do Ministério Público Federal para que se amplie a contemplação de religiões durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o comitê organizador da Rio 2016 se omitiu em responder sobre o caso, fazendo com que religiões de matriz africana e outras seitas como o "espiritismo" não tenham representação nas cerimônias a serem realizadas durante o evento.
Religiões como cristianismo, budismo, hinduísmo, judaísmo e islamismo terão representantes em plantão durante a realização de cerimônias, a serem feitas em português, espanhol e inglês. Não houve informação se tendências evangélicas estão incluídas no critério de cristianismo, já que o termo costuma estar associado à Igreja Católica.
O que se observa é a exclusão do "espiritismo" nas cerimônias. A religião, segundo dados estatísticos, tem, oficialmente, 2% de adeptos em toda a população brasileira, mas ela não terá representante de plantão para realizar cultos ou rituais específicos no evento.
Apesar de não ter havido uma resposta ao Ministério Público, representantes dos organizadores da Rio 2016 afirmaram que o Centro Olímpico estará aberto a todas as religiões e que as cinco religiões escolhidas se baseiam nas crenças da maioria dos atletas olímpicos e paralímpicos participantes.
Diante disso, a sugestão que se dá aos "espíritas", que tanto falam em resignação e perseverança, para eles deixarem de tristeza nesta ocasião e, em vez de tentar explicar o cientificismo de Allan Kardec para os organizadores olímpicos, seria melhor os "espíritas" se unirem aos católicos.
Isso porque o "espiritismo" brasileiro nunca se lembrou de Allan Kardec nos momentos mais necessários, preferindo a influência jesuíta do Catolicismo do Brasil-colônia - de origem portuguesa e de conteúdo medieval - e tanto preferiu criar práticas análogas às da Igreja Católica.
Vide a "água fluidificada" (água benta), o "auxílio fraterno" (confessionário), os "centros espíritas" e suas "doutrinárias" (igreja e missa), a concepção de "colônia espiritual" e "umbral" (Paraíso e Inferno), de "resgates espirituais" (pecado original) e de "espíritos benfeitores" (santos). Para cada atividade ou conceito católico, um equivalente "espírita".
E como os "espíritas" não parecem ter problemas em conciliar com este ou aquele segmento da sociedade, nada melhor do que eles se relaxarem e se integrarem aos católicos, porque a história do "movimento espírita" sempre esteve ligada a práticas e procedimentos que minimizassem os conflitos iniciais com os católicos, atitude que tão cedo culminou numa verdadeira vaticanização do Espiritismo realizada no Brasil. Agora é assumir isso de vez na Rio 2016.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Muito fácil os "espíritas" exigirem paciência dos outros
No "espiritismo", há uma grande manobra discursiva. Você, que não é palestrante, não é conselheiro, não é o anti-médium dotado de fama e prestígio, está na plateia e não no plenário dos "centros espíritas" você é o "eu" que os "espíritas" dizem para deixar os desejos e os anseios de lado, mudar totalmente os planos de vida e aguentar alegremente todo tipo de desgraça.
Você é que tem que abrir mão dos talentos, das necessidades, dos planos de vida tão trabalhosamente feitos. Jogue tudo fora e, depois que você aprendeu as lições amargas das desilusões da vida, que lhe fez abandonar muitas ilusões, é a vez de você ser escravo das ilusões dos outros, o que faz com que suas desilusões tivessem sido em vão.
É como se você tivesse sido vítima de uma brincadeira. E o "espírita", com discurso "benevolente", diz que você está "sendo testado a todo momento", e tudo o que você deve ter é paciência, disciplina, aguentar a barra pesada não se sabe até quando, ceder em tudo, até mesmo nas suas habilidades.
Há uma grande diferença entre encontrar desafios e suportar desgraças. No primeiro caso, os desafios não vão contra anseios nem talentos, antes os remodelassem e aperfeiçoassem. E, quando a pessoa é tomada de vontades e interesses que no fundo não lhes beneficiam, os desafios surgem por meio de desilusões que regulam desejos e vontades estabelecendo limites, como um remédio dado em doses moderadas pela receita médica.
No segundo caso, o remédio é dado acima da dose necessária. As desgraças sucessivas desafiam qualquer esforço, afrontam qualquer esperança, violentam qualquer perseverança em superar uma dificuldade. Obrigam a pessoa a abrir mão do que mais precisa, obrigando-a a fazer o que não sabe, a amar o que não gosta, já que a vontade e a vocação são combatidos como se males fossem.
"TER" E "SER"?
A traiçoeira Teologia do Sofrimento, originária dos tempos medievais do Catolicismo, em que o legado de Jesus de Nazaré foi deturpado ao extremo - chegaram a promovê-lo como um suposto "senhor dos exércitos", para justificar a carnificina das Cruzadas - , pedia para as pessoas aguentarem o sofrimento "com paciência", porque esse é o caminho das "bênçãos futuras".
Um texto é ilustrativo da Teologia do Sofrimento "espírita", com todos os clichês discursivos desta ideologia, como a ideia de que você tem que aguentar todo tipo de desgraça - descrita sob o eufemismo de "desafios" e "testes" - , acima da dose necessária, ainda que desperdice uma encarnação inteira sem poder trabalhar seus talentos nem habilidades.
A ideia de "ter" e "ser" chega a ser hipócrita, porque há muitos casos de pessoas que fazem os tais "tratamentos espirituais" para resolver os problemas da vida e contrair benefícios menos materialistas e o que recebe são justamente "oportunidades" ligadas a caprichos materialistas.
O sujeito quer trabalhar numa autarquia, tendo um projeto humanista para a sociedade, e a "oportunidade" que aparece é trabalhar numa empresa privada corrupta, que lhe oferece mais fama e vantagens materiais do que oportunidade para ajudar as pessoas.
A mulher quer se casar com um homem de caráter, acaba se casando com um empresário arrivista, que lhe garante mais bens materiais do que amor. E o homem que quer se casar com uma mulher de caráter acaba somente atraindo mulheres-objeto, símbolos justamente do "sensualismo" tão condenado pelo "espiritismo" brasileiro.
Independente de querer ter ou não alguma coisa, o próprio "espiritismo", pelas suas energias confusas, não prece medir a dose certa para o sofrimento humano. Sua falta de noção do tempo limitado de uma encarnação e sua falta de discernimento quanto à vida futura faz com que seus pregadores façam juízos de valor aqui e ali, vendo como "frescura" a agonia do outro, que aos olhos "espíritas" deve continuar sofrendo com paciência e ficar sorrindo o tempo todo.
O MITO DE "VENCER A SI MESMO"
É muito, muito perversa a ideia que os "espíritas", tão "bondosamente", falam do mito de "vencer a si mesmo". Isso denota a influência maligna da Teologia do Sofrimento no "espiritismo" brasileiro, através de Francisco Cândido Xavier.
O texto que referimos se refere a Chico Xavier como "vencedor de si mesmo" e as "recomendações" são sempre de "combater a arrogância e teimosia". E mais uma vez o "espiritismo" se contradiz em tantas e tantas coisas.
A pessoa que quer um trabalho digno, mas obtém um emprego que traz fama e prestígio e não dignidade, obtendo visibilidade mas não podendo dar uma contribuição honesta para o próximo, de nenhum modo pode ser considerada uma pessoa que vive desafios para superar a busca de autopromoção.
Da mesma forma, não se pode dizer que está combatendo o "sensualismo" se o modesto rapaz nerd que é impedido de namorar uma destacada moça da sala, que ele considera não só bela, mas de personalidade interessante, consegue atrair uma moça vulgar e grosseira, tipo "periguete", cobiçada por outros homens e que acaba de encerrar uma relação de namoro com um valentão ciumento e vingativo.
Os "espíritas" vão tentar argumentar que são "oportunidades insólitas", que o patrão corrupto é que mais precisa de ajuda, que a "boazuda" precisa de carinho, que o nerd que é agredido pelo ex-namorado da "boazuda" cumpre "reajuste espiritual" etc. Os "espíritas" são verdadeiros malabaristas discursivos. Vide a verborragia de Divaldo Franco.
É um grande perigo esse mito de "vencer a si mesmo" de abrir mão, se "preciso", até das próprias necessidades, transformando a vida humana numa asfixia existencial, é o duplo sentido dessa palavra, tão tida como "confortadora", mas dotada da mais aberrante crueldade.
Afinal, "vencer a si mesmo" tem um significado oculto, mas muito mais verdadeiro: "derrotar a si mesmo". É a linguagem usada em todo tipo de competição: "vencer" é "derrotar". "Derrote-se", "derrube-se", "lute contra o pior inimigo que é você mesmo". Essa ideia vem da Teologia do Sofrimento e não há sentido lógico que faça os "espíritas" negarem essa herança.
Isso nada diz quem vive no mau-caratismo e está mergulhado em arrogâncias e privilégios abusivos. Até porque o próprio "espiritismo" apela para nunca reclamarmos nem maldizermos, mas esses apelos se dirigem mais aos sofredores.
Quem está "em cima" vive tranquilo e nem está aí para pensar se está sendo humilde ou arrogante. Até porque o "espiritismo" prega o "fiado espírita", a pessoa pode abusar hoje que só pagará "pelo que fez" nas próximas encarnações. Uma lógica materialista de pagar os erros cometidos.
E OS "ESPÍRITAS"?
Aí entra a questão do "eu" e do "outro". Muito fácil você, que não é o palestrante nem o escritor de livros, ser aconselhado a aguentar o sofrimento sem reclamar, sem maldizer, sem pedir qualquer coisa, mesmo que seja uma coisa digna. Antes a pessoa nadasse em dinheiro por causa de um trabalho indigno cujo patrão é amigo de "espíritas iluminados".
Mais fácil ainda é o palestrante "espírita", ele que se julga detentor da "boa palavra", o que parece fascinante, mas não obstante tais pessoas que agem assim não são mais do que versões humanas da mancenilheira, considerada a árvore mais venenosa do mundo.
Ele diz para os "outros" abrirem mão de desejos, de vontades, de talentos, mudar constantemente os planos de vida para muitas vezes abrir mão do necessário, embora em certos casos o fútil e o supérfluo possam prevalecer.
Para o "espírita", é muito fácil, no seu juízo de valor, acreditar que o sofredor tenha que perder uma encarnação inteira sem fazer algo de proveitoso. Quando muito, só de aceita a oferta de sopinhas para os pobres, como se isso adiantasse muita coisa. De resto, que ele fique no "sensualismo" do "funk", dos espetáculos de UFC, na fama fácil da empresa corrupta, e brinque de ser "caridoso" nesses ambientes em que a futilidade cega as almas.
Mas o "espírita" não imagina que ele é o que reclama mais, é maledicente, é orgulhoso, vaidoso, teimoso. Ele pede para outrem ceder em suas teimosias e caprichos, mas é justamente o palestrante "espírita" que mantém a teimosia de exaltar dois senhores antagônicos, Allan Kardec e Chico Xavier, sob os opulentos prêmios das condecorações, muitas vezes dadas por aristocratas e corruptos embriagados de orgulho, arrogância e intransigência.
Os sofredores que recebem os "sábios conselhos" é que tem que aguentar uma realidade que sucumbe aos níveis surreais, em que os privilegiados agora desafiam a realidade, a ética, a lógica para proteger seus benefícios e vantagens e os sofredores aguentam desgraças além das doses necessárias para a evolução e reestruturação moral de suas vidas.
É fácil o "espírita" dizer em palestras, blogues e livros para o sofredor suportar as dificuldades, mesmo as mais pesadas. Fácil pedir ao "outro" paciência e apelar para ele não reclamar. Mas o "espírita" que recebe prêmios e medalhas das elites corruptas e opulentas não vê que, neste caso, sua "boa palavra" não é mais do que a mancenilheira na vida dos outros, lindos discursos que arruínam as vidas das pessoas com base na visão "espírita" da Teologia do Sofrimento católica.
sábado, 23 de julho de 2016
A preocupante resignação dos cariocas
O carioca sai de casa para pegar um ônibus para ir ao trabalho. Vai para uma avenida geral, mal recuperado do sono e cheio de coisas a fazer, mas é obrigado a ter a atenção redobrada por causa da pintura padronizada que faz as diferentes empresas serem visualmente iguais, umas às outras.
Isso já é um grande transtorno. No ir e vir, isso revela o quanto os cariocas estão conformados com medidas nocivas, prejudiciais, como um simples fato de pegar um ônibus com pintura padronizada, já que o autoritarismo do PMDB carioca - o mesmo do deputado afastado Eduardo Cunha - fez proibir que cada empresa de ônibus tivesse a sua identidade visual própria.
As autoridades impõem a medida usando desculpas de caráter "técnico" e o povo aceita. Empresas mudam de nome, linhas trocam de empresa e a pessoa acredita que voltará para casa sã e salva, quando os noticiários confirmam que só esta medida, na verdade um mershandising não assumido da Prefeitura do Rio de Janeiro (é ela que fica com o vínculo de imagem das frotas de ônibus, como se estas fossem um gado do secretário de Transportes), causou decadência no transporte público.
E é uma decadência trágica, terrível, de ônibus sucateados que frequentemente se envolvem em acidentes de trânsito de arrepiar. É claro que isso acontecia antes de haver pintura padronizada, mas naquela época não era tão frequente assim e o sucateamento dos ônibus revela a confusão de representatividade do sistema implantado em 2010.
É um sistema em que a Secretaria de Transportes (representada pela pomposa sigla SMTR) tem poder concentrado no serviço de ônibus, sendo o secretário não o fiscal do sistema, como deveria ser, mas um tirano dotado de um discurso pseudo-racional. Em contrapartida, as empresas de ônibus não podem exibir suas identidades visuais, mas interferem no jogo eleitoral, financiando seus candidatos e até recorrendo a fraudes para que estes sejam eleitos.
Quem fica perdendo é o cidadão. O cidadão que não pode eleger o candidato que quiser porque a "máquina eleitoral", esse cabresto eletrônico chamado "urna eletrônica" - um instrumento "futurista" que não é adotado por países mais evoluídos do mundo, pelo risco de fraude que isso representa - , também sente dificuldades em pegar um ônibus.
O que assusta é que o carioca está disposto a aguentar todo tipo de retrocesso. Parece um portador da Síndrome de Riley Day, doença que impede as pessoas de sentir dor. As pessoas perdem a noção de seus próprios prejuízos e são manipuladas pela mídia para defender isso ou aquilo.
No Rio de Janeiro, os retrocessos não se dão somente pelos rombos dos cofres públicos, pelo aumento da violência nas ruas, mas por muitas outras coisas. Por exemplo, a ironia do Rio de Janeiro, um dos centros de fabricação e distribuição de produtos, demorar a renovar estoques, já que os produtos desaparecem das prateleiras e ficam pelo menos duas semanas sem reposição.
Mas mesmo atitudes "positivas" como haver, em tese, "rádio de rock", para o público voltado para este estilo, revela um retrocesso: a supremacia de uma FM incompetente, a Rádio Cidade, sem pessoal especializado no gênero, com uma programação que só toca os "sucessos" (hits) e que nem de longe aborda o básico da cultura rock, já que sua grade é literalmente chupada de rádios pop como Mix e Jovem Pan.
A rádio só irá sair do ar em 31 de julho por conta da baixa audiência, mas mesmo assim a tristeza do público soa como uma ingenuidade, afinal a Rádio Cidade não tinha 1% da competência das rádios de rock originais e seus locutores, de tão perdidos, esperavam que os ouvintes lhes mostrassem o que deveriam tocar a mais de músicas de rock. Só que os locutores têm formação pop e, com ela, seus preconceitos, e dificilmente aceitariam tocar o rock que não rola nas paradas de sucesso.
E aí entrou também a resignação: roqueiros que conheceram o legado da Fluminense FM, rádio de rock que marcou o dial do Grande Rio, não parecem se indignar com a incompetente Rádio Cidade, aceitando sua existência em troca de um hipotético fortalecimento do mercado roqueiro, aguentando uma FM coordenada por um fã de "sertanejo" (!) e cujos programas tratam o ouvinte como um idiota, só pela garantia de ter medalhões do rock tocando no Rio todo ano.
A resignação se estende também na aceitação do "funk", um pastiche de folclore popular carioca, como paradigma de "cultura popular", mesmo sendo o ritmo um subproduto do poder midiático (sua popularidade só se deu sob o apoio da Rede Globo de Televisão, Folha de São Paulo e afins), mesmo quando o ritmo aborda o povo pobre de maneira caricatural e sutilmente pejorativa.
Mas o conformismo está também nas pessoas ouvirem sempre as mesmas músicas do pop adulto, fazerem sempre as mesmas festas, irem às boates com o prazer que lhes foge como um gato assustado, terem um injustificado fanatismo pelo futebol carioca, cada vez mais sem graça, e pouco se incomodar se a cerveja produzida hoje tem mais gosto de urina espumante.
É esse conformismo que transforma o carioca num masoquista, que permite que o Rio de Janeiro sofra a decadência vertiginosa que está sofrendo, pois o referido Estado, cuja capital é sede das Olimpíadas de 2016, passou por um retrocesso tão imenso que sua situação hoje é nivelada ao dos piores momentos dos Estados do Norte e Nordeste no período da ditadura militar.
Muitos cariocas ainda se encontram em estado de choque diante dessa constatação. Não acreditam que o Estado do Rio de Janeiro e a ex-Cidade Maravilhosa estejam em situação tão decadente. Alguns até esnobam, desde os senhores de idade que com sarcasmo hipócrita leem jornal e dizem que "não tem mais jeito", tratando a desgraça carioca como se fosse piada, até os "coxinhas" que se reúnem nas praias cariocas para contar piadas, como se tudo "estivesse bem".
Só que a situação é séria e boa parte da culpa está nessa resignação dos cariocas com os próprios retrocessos. O carioca perdeu o antigo espírito de resistência, substituindo-o pela desistência. Fora uma minoria que faz o contrário, pratica trolagem e cyberbullying para defender justamente os retrocessos estabelecidos, o clima do Rio de Janeiro é de uma apatia masoquista.
As pessoas acham que, em troca de supostos benefícios, aceitam transtornos diversos, tanto pela resignação ao que lhes é imposto - muitas vezes movido pelo status quo de quem decide - , tanto pela ilusão das próprias pessoas em serem capazes de encarar dificuldades. Vai que elas aceitam pegar um ônibus padronizado e vão parar no hospital, depois de um acidente "daqueles".
E assim os cariocas vão aceitando, aceitando, aceitando as coisas, esperando que um Jornal Nacional ou O Dia lhe digam o que devem aceitar ou não. Eduardo Cunha só se tornou odiado pelos cariocas depois de tanta campanha midiática.
É perigoso depender disso para se indignar dos problemas. De aceitação em aceitação, os cariocas correm o risco de parar um dia num campo de concentração. E aí, no dia do sol vai pintar uma vontade de ir à praia de Copacabana ou Ipanema e não vai dar, porque o alojamento está trancado e ocorre um vazamento de gás mortal. Será que teremos que chegar a esse ponto para acordarmos?
quinta-feira, 21 de julho de 2016
Por que triunfalismo não é humildade nem perseverança?
"Quanto mais ataques sofro, mais sinto fortalecido". "Quanto maior é o sofrimento, mais abençoado sinto". "A cada derrota que sofro na vida, é uma vitória conquistada". "Diante das severas críticas que me derrubam, é porque me reergui sobre elas".
Existem tantos exemplos de triunfalismo. A mania de se julgar vencedor, não apenas na situação de vitória, mas sobretudo na situação de derrota. O que muitos pensam ser humildade e perseverança é na verdade uma das piores demonstrações de arrogância e teimosia do ser humano.
Já descrevemos o triunfalismo "espírita" e ficamos preocupados com essa mania dos "espíritas" de se acharem acima de qualquer adversidade. Sobretudo o exemplo deixado por Francisco Cândido Xavier, que fez coisas terríveis usando de sua esperteza para se travestir com o verniz de "amor e bondade" de sua aparência fisicamente frágil.
Os escândalos que envolveram Chico Xavier não eram fruto da fúria de perseguidores. Chico fez, mesmo, pastiches literários e plágios de trechos de obras literárias. Isso se observa de maneira isenta, sem paixões de toda ordem, já que é fácil verificar, desde que prestando atenção, que as obras literárias que Chico Xavier trouxe atribuídas ao além destoam severamente dos estilos originais dos autores alegados.
Portanto são escândalos que tiveram uma única razão: a irresponsabilidade e o oportunismo do "médium". Não é porque Chico Xavier tinha aparência de caipira molenga e, depois, de velhinho frágil, e era associado a clichês do deslumbramento religioso, que será poupado de ser culpado pelo que fez.
E ele tornou-se o pior dos culpados, e mais grave ainda porque tentou se proteger pelo véu da mística religiosa. Ele combinou coitadismo com triunfalismo, que é o complexo de superioridade às avessas, dentro de elementos ideológicos que deram certo porque agradaram muita gente.
E por que agradaram muita gente? Porque era uma rosa de perfeição entre espinhos de imperfeição? Não. Deixemos de ser infantis. O que fez Chico Xavier agradar muita gente é a junção de ingredientes acumulados como, por exemplo, se acumula em uma obra de ficção de grande sucesso.
Junte-se uma retórica dócil, fantasias infantis dignas de contos de fadas, valores da fé religiosa, visões paternalistas de caridade e elementos místicos e messiânicos e, pronto: o mito Chico Xavier está embalado para consumo.
A adoração vira um espetáculo de entretenimento, as "boas palavras" um produto a ser publicado como marketing de cada pessoa que queira se passar por "boazinha" mostrando frases dóceis ditas por um ídolo religioso e ilustrada por céus azuis e jardins floridos.
As pessoas ficam por demais ingênuas achando que suas fantasias infantis são imperecíveis. O triunfalismo coitadista de Chico Xavier, que para confundir seus contestadores se passava por choroso e "ameaçava" reagir em silêncio às adversidades que lhe vinham.
As pessoas deliravam e se comoviam à toa com isso, porque o que elas imaginavam ser uma demonstração de humildade e perseverança era uma arrogância às avessas. É como se Chico Xavier, astucioso que era, quisesse dizer "eu sou maioral" de forma diferente: criticado severamente, fazia cara de choro e ficava quieto e cabisbaixo, mas por trás de tudo isso ele tentava intimidar as pessoas com esse coitadismo oportunista.
Ele foi o que mais divulgou frases e posturas triunfalistas. Isso era uma manobra que a própria Teologia do Sofrimento, aquela que diz que "sofrer é bonito" e que a "desgraça é o caminho para o Céu", garante a quem detém privilégios de poder. E ser ídolo religioso é um tipo de privilégio de poder, o ídolo religioso é um privilegiado fantasiado de humilde. Domina os outros "com categoria".
O triunfalismo é um tipo de arrogância. Ficar em silêncio e fazer cara de choro não é demonstração de humildade. Muitas pessoas fazem isso por chantagem ou por jogo de cena. Quantos assassinos perversos, quando estão nos bancos dos réus, fazem caras de tristonhos diante dos tribunais, tentando mostrar uma fragilidade que nunca tiveram no momento de seus crimes?
Quantos arrogantes são desprovidos de autocrítica quando, diante de tantas derrotas, ainda se consideram "vencedores"? Quantos orgulhosos se escondem no verniz da aparente choradeira, da pretensa fragilidade, da suposta humildade?
É típico de caipiras traiçoeiros que reajam em silêncio, deixam seu interlocutor ficar com a palavra final, fingem resignação e, se passando por infelizes resignados, armam alguma coisa contra o outro. Há os que não cobram dinheiro, mas cobram outras coisas, e nessa religião confusa que é o "espiritismo", as pessoas podem não pagar com dinheiro, mas pagam com os cadáveres de seus filhos mais queridos.
São energias maléficas que vem desde a influência do traiçoeiro Jean-Baptiste Roustaing, que continua firme no "movimento espírita", por mais que seus membros o reneguem em nome de uma bajulação oportunista a Kardec.
Além do mais, Chico Xavier é Roustaing redivivo, e tal constatação não é fruto de ódio nem calúnia. Comparem os livros de Xavier e a obra de Roustaing: são essencialmente a mesma coisa e a única diferença que existe é a adaptação, por Xavier, para o contexto brasileiro, ou seja, Chico Xavier "abrasileirou" Jean-Baptiste Roustaing.
Quanto ao triunfalismo, ele não é demonstração de humildade nem perseverança porque o triunfalista não aceita a derrota e se acha um vencedor. Ele apenas se passa por humilde e diz que a cada derrota se sente um vencedor. As pessoas adoram essa abordagem, sem saber que isso tem muito mais a ver com arrogância e falta de autocrítica do que com humildade e perseverança.
terça-feira, 19 de julho de 2016
Brasileiros estão brincando com fogo, politicamente falando
Nunca antes na história do nosso país determinados políticos podiam ser livremente caluniados e acusados levianamente, com mentiras grosseiras e sem provas. A catarse coletiva que expressa rancor ao PT e tudo que está a ele relacionado - sobretudo o Método Paulo Freire, só para citar o caso da Educação - e a tranquilidade diante da esperança de que "Temer veio pra ficar" é preocupante.
Os brasileiros estão brincando com fogo. Defendem um governo instaurado por políticos corruptos, através de um impedimento de uma titular da República feito por votações na qual a maioria de deputados e senadores é comprovadamente acusada de crimes graves, de crimes eleitorais a homicídio, de corrupção a crimes ambientais.
Mas não é só isso. Hoje as pessoas estão apoiando um governo que promete acabar com as conquistas sociais e fazer a vida do brasileiro virar um inferno. Um governo representado por entidades, instituições e setores da sociedade que defendem valores machistas, racistas, religiões medievais, preconceitos elitistas e tudo o mais de pior.
A alegre esperança das pessoas de que o presidente interino Michel Temer irá "melhorar o país" caso se torne efetivo - o meio político, a grande mídia empresarial e o mercado estão lutando para que haja o afastamento definitivo de Dilma Rousseff - é uma grande ilusão, na medida em que sua agenda política não consegue esconder que se destina aos mesmos privilegiados de sempre.
O papo do "Estado mínimo", das privatizações desvairadas, dos cortes aos gastos sociais, da precarização do trabalho e outras medidas amargas para "combater a crise" só resultou num desastre, em níveis devastadores, da Economia no Brasil, não com os governos do PT, mas com os do PSDB, os dois governos de Fernando Henrique Cardoso.
Diferente do PT, em que as denúncias são rumores e declarações muito mal esclarecidos, mas que o contexto sempre toma como "verdades indiscutíveis" só para desmoralizar o partido, as denúncias contra o PSDB se fundamentam em provas documentais sérias e na averiguação de acusações sobre crimes diversos contra a Economia e o patrimônio público.
Não há como dar o mesmo peso a jornalistas sérios como Aloísio Biondi e Milton Severiano, já falecidos, Amauri Ribeiro Jr. e Palmério Dória, que investigam os escândalos do PT, e a brutamontes da palavra, como Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Diogo Mainardi e Eliane Cantanhede, que despejam entulhos verbais contra os políticos do PT às custas de muita boataria e mentiras.
Não se está aqui querendo ser petista, pois o PT cometeu erros, sim, mas o que se percebe é que há uma diferença muito grande entre criticar o partido pelo que fez ou deixou de fazer e disparar calúnias e mentiras escancaradas, se servindo até de foto montagens e tudo.
Lula vestindo roupa de presidiário, publicada pela "insuspeita" revista Veja. A revista Isto É, agora numa linha editorial psicopata, dizendo que Dilma Rousseff "enlouqueceu". Na Internet, houve montagem até com Dilma Rousseff e Lula se "reunindo" com Pablo Escobar, chefe do narcotráfico colombiano falecido em 1993! E o pessoal acredita, como sendo "verdade absoluta".
Enquanto isso, um governo composto de maneira surreal, através de votações de parlamentares corruptos, de um juiz que sofre de miopia jurídica, Sérgio Moro, que só enxerga as leis com o umbigo, apoiado pelo fanfarrão jurídico, Gilmar Mendes e outros ministros e juízes hesitantes, é encarado com otimismo e esperança por muitos brasileiros incautos.
"ESPÍRITAS" ESTÃO COM TEMER
O "espiritismo", que cada vez mais comprova ser a Teologia do Sofrimento rediviva, algo que não consegue mais ser escondido pelos Alamar, Carrara e Simonetti da vida e muito menos por um verborrágico Divaldo Franco prometendo "felicidade", provou que seu partido é o partido da plutocracia, é o partido de Michel Temer.
Também, para o "espiritismo", valem duas ideias: a vítima é a "culpada" e pimenta nos olhos dos outros é refresco. Tanto faz a pessoa sofrer demais, suportar desgraças o tempo todo, se sacrificar em vão por uma oportunidade e o palestrante "espírita" fazer pouco caso, dizendo que a pessoa "não se sacrificou o bastante" para superar uma dificuldade.
Esse recado de que a pessoa "não se sacrificou o bastante" lembra muito os velhos sacerdotes medievais, ou os antigos católicos jesuítas que, no além-túmulo, voaram como pombos famintos para o milharal "espírita", que desde o começo rasgou o legado de Allan Kardec mas, nas últimas quatro décadas, tenta juntar alguns pedaços rasgados e colar de qualquer jeito para compor o "kardecismo autêntico" de hoje.
Recentemente, alguns "espíritas", com o atraso de uns três meses, foram classificar as terríveis passeatas de 13 de março passado como "sinais de regeneração da humanidade", o que revela uma visão muito absurda e até ridícula.
Afinal, as passeatas do 13 de Março, na verdade, eram manifestos de ódio e revolta, qualidades tão condenadas aparentemente pelos "espíritas", nas quais se exibiam até suásticas nazistas, se pedia o golpe militar e rogava pena de morte para Lula e Dilma Rousseff, com raivosos manifestantes no trio elétrico despejando mentiras e ofensas anti-PT aqui e ali.
Os "espíritas" deram um tiro no pé, mas neste caso agiram em coerência com seu conservadorismo adormecido (recentemente, o presidente da Federação "Espírita" Brasileira apareceu ao lado de Dilma Rousseff com "diplomacia").
O "movimento espírita" esteve na Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, a passeata que pediu o golpe militar em 1964. Francisco Cândido Xavier, o tão festejado Chico Xavier, apoiava a ditadura militar em 1971, numa época em que nem Carlos Lacerda, o maior defensor do golpe de 1964, apoiava mais este regime.
Isso sem falar que o mito "filantrópico" de Chico Xavier, fabricado para fazer frente à ascensão dos pastores eletrônicos R. R. Soares e Edir Macedo, no final dos anos 1970, foi uma tarefa da Rede Globo de Televisão, a mesma que divulga mentiras contra Lula e Dilma e que acumula um histórico de fraudes e farsas feitos para manipular o inconsciente coletivo dos brasileiros, mesmo uma parcela dos que acreditam não serem influenciados nem seguidores da emissora.
Faz parte. Afinal, o conservadorismo do "movimento espírita" se torna cada vez mais acentuado, caindo a máscara de uma doutrina que muitos incautos acreditavam ser "futurista", "progressista", "científica" e "moderna".
A cada vez mais o "espiritismo" mostra que nunca passou de uma adaptação paranormal do Catolicismo português da Idade Média, acolhendo, mais do que a Igreja Católica atual, os velhos jesuítas do Brasil colônia que, com seus preconceitos medievais, desnortearam a doutrina de Allan Kardec em prol de um igrejismo velho, gosmento e extremamente moralista.
E é esse igrejismo com cheiro de mofo que movimenta o "espiritismo" brasileiro que aposta todas as fichas do governo retrógrado de Michel Temer, seguindo o "espírito do tempo" de uma sociedade neurótica que é capaz de abrir mão da ética, da lógica e do bem-estar coletivo para se manterem em suas convicções pessoais.
domingo, 17 de julho de 2016
A grande imprensa brasileira de um Brasil em ruínas
REINALDO AZEVEDO E MERVAL PEREIRA - Jornalistas que, por suas convicções pessoais, são capazes de expressar desequilíbrio emocional.
Um alerta para as pessoas que veem Rede Globo e Globo News tranquilamente, compram Folha de São Paulo, Veja, Época e Isto É acreditando que se servem do melhor jornalismo, que recebem uma visão transparente e objetiva do mundo.
A chamada grande imprensa, ou, num âmbito geral, a grande mídia, sofre uma crise avassaladora. Uma decadência que põe o jornalismo trabalhado por elas em ruínas, e, salvo exceções que cada vez mais se tornam raras, a grande imprensa comercial simplesmente rompeu com os princípios de ética, objetividade e profissionalismo que antes fizeram o nome do jornalismo.
Há denúncias de várias pessoas de que jornalistas da revista Veja e do canal de TV noticioso Globo News já sofrem desequilíbrio emocional. Aqui temos que chamar atenção de uma diferença entre o direito de um jornalista se emocionar, quando a situação é realmente comovente, e um jornalista perder a cabeça porque os fatos não ocorrem em seu agrado.
Quando Romero Jucá, então ministro do Planejamento do desastrado governo Michel Temer, foi denunciado por uma gravação de meses atrás feita pelo aliado e ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sérgio Machado, o comentarista do canal Globo News, Merval Pereira, se demonstrava visivelmente irritado.
Mas isso é fichinha se observarmos que, nas páginas de Veja, nomes como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi escreviam com fúria, consagrando o chamado "ódiojornalismo" que vem de carona na partidarização da grande imprensa comercial, cada vez mais solidária ao PSDB e derivados e cada vez mais hostil ao Partido dos Trabalhadores.
A grande imprensa, no conjunto da obra, decaiu de forma humilhante e vergonhosa. Contratou profissionais cada vez menos competentes, a princípio em nome de interesses comerciais em prol de um jornalismo que "não conteste demais" e seja feito "para agradar o leitor". Só que isso virou um eufemismo para um jornalismo asséptico, sem gosto, sem cara, conservador, acomodado, fútil e até muito mal escrito e desinformado.
Noticiários qualquer nota sobre a mesmice cotidiana, sem um pingo de bons textos, boas informações, nenhum quesitonamento reflexivo. Tão mal escritos e desinformados que nem mesmo informações transmitidas por um mesmo periódico podem ser cruzadas.
Segundo uma mensagem de um internauta que recebemos, um jornal de Niterói, O Fluminense, tão preocupado em desenvolver um jornalismo asséptico, não conseguiu estabelecer a relação díspare entre um prefeito, Rodrigo Neves, recebendo um prêmio de "empreendedor", e o espantoso fechamento de estabelecimentos comerciais na cidade fluminense. Nem para chamar diferentes repórteres para juntarem as informações foi feito.
O jornalismo investigativo, pelo menos o que se pratica na chamada grande imprensa, é uma prática em extinção, de tal forma que um dos principais jornalistas investigativos que trabalha para a grande mídia atuantes no Brasil é o correspondente Glenn Greenwald, jornalista e advogado inglês radicado no Brasil.
Jornalista que revelou as informações secretas de Edward Snowden, a respeito dos bastidores da CIA, Greenwald também denunciou o processo irregular que se deu da votação na Câmara dos Deputados ao decorrer do governo Michel Temer, com muitos corruptos envolvidos na campanha pela derrubada do PT com sua saída do Governo Federal.
A grande imprensa é culpada pelo cenário político caótico que se vive. Ela foi capaz de publicar mentiras e tratar boatos contra petistas como se fossem "verdades indiscutíveis". Recentemente, comemoraram a prisão de um ex-ministro dos governos petistas, Paulo Bernardo. Tudo por conta de acusações mal-formuladas.
Dilma Rousseff foi afastada do poder acusada de operações financeiras que são consideradas normais no meio político. Em compensação, há muito mais provas de corrupção contra Aécio Neves, acusado de envolvimento tanto com o Mensalão quanto a Lava-Jato, fora outros escândalos (como desvio de dinheiro público para sustentar aeroportos particulares e uma emissora FM do interior), e a imprensa coloca essas sujeiras debaixo do tapete, protegendo o senador mineiro do PSDB.
O Brasil está desgovernado por culpa das pregações ideológicas da grande imprensa, que sempre desejou um projeto político retrógrado, que mais favoreça as elites e o empresariado. A decadência vergonhosa das elites, representada em âmbito geral pelo declínio vertiginoso e de níveis catastróficos do Sul e Sudeste, sobretudo Rio de Janeiro, mostra o quanto os "de cima" estão vendo o topo da pirâmide ruir como um precipício se rachando sobre o abismo.
O Estado do Rio de Janeiro sofre violência e sucumbiu a decadências em todos os aspectos. Algo que já não pode ser mais escondido, pois é uma decadência que coloca o Estado aos níveis abaixo das unidades federativas mais provincianas. Perto do que está o Estado do Rio de Janeiro hoje, o Acre parece a Suíça.
Mas outros Estados, como São Paulo e Paraná, mas sem esquecer Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a decadência é alarmante, e acima dos índices considerados esperados pela chamada "complexidade da vida moderna".
A Minas Gerais de uma tragédia ambiental preocupante, causada pelo descaso empresarial, que fez estourar uma barragem situada em Mariana e despejou o lodo contaminado por um longo caminho até o mar, passando pelo Espírito Santo e atingindo várias cidades, além de ter causado várias mortes, é a terra natal de Aécio Neves, que está ameaçado de ser enquadrado em um dos piores escândalos a ser denunciado pelo publicitário Marcos Valério, que admite fazer em breve delação premiada.
São Paulo viveu a contradição de, sofrendo enchentes em sucessivos dias chuvosos, ter que conviver com a falta d'água meses depois. A capital paulista perdeu a batalha entre o provincianismo e o cosmpolitismo e a maior capital da América Latina sofreu sua queda quando se reduziu a um quintal privativo de chefões de mídia, empresários do entretenimento brega e políticos tucanos.
O Paraná, que antes tinha em Curitiba um modelo virtual de cidade moderna, como se fosse uma "Estocolmo dos trópicos", também decai e não só por ser reduto dos golpistas que queriam derrubar Dilma Rousseff, através dos juristas comprados pelo tucanato e pelo poder midiático, como Sérgio Moro (que é duro demais para combater petistas, mas hesitante até para investigar tucanos e aliados), mas pela crise social que sofre no âmbito local.
É um reduto de degradação cultural - a mediocridade cultural puxada pela dupla Chitãozinho & Xororó e pelo apresentador Carlos "Ratinho" Massa, é notória - , da imprensa (a CBN é um claro exemplo disso), temperada pelo episódio da perseguição de juristas contra jornalistas independentes que denunciaram os salários exorbitantes do Judiciário local, e em suas "modernas" cidades já ocorrem assassinatos à luz do dia, assustando a população.
É em Curitiba que está ocorrendo o esgotamento definitivo e irreversível de um modelo de transporte coletivo lançado, no auge da ditadura militar, por Jaime Lerner. Um modelo cujas medidas de pintura padronizada nos ônibus, dupla função de motorista-cobrador e redução de percursos para forçar a baldeação usando o Bilhete Único, se revelam definitivamente obsoletas e prejudiciais.
Mas tudo isso é reflexo de uma crise de valores generalizada que tem na grande imprensa seu quadro mais dramático, uma imprensa decadente de um Brasil em ruínas. Pois as pessoas são desafiadas pelas circunstâncias em admitir a crise em que vivem, e hoje o sobressalto da chamada "boa sociedade" é tanto que ela se recusa a admitir essa crise.
Essas pessoas "de bem com a vida" preferem viver isoladas nas redes sociais - o WhatsApp se revela até mais decadente que o Facebook e o antigo Orkut, já notórios redutos de brasileiros reacionários e desinformados - e aceitar essas crises como "algo normal". Acham que a coleção de escândalos do governo Michel Temer é "natural" e ainda apelam para o bordão hipócrita "Quem Nunca Erra?" que só serve para fazer apologia aos erros graves cometidos por gente privilegiada.
E assim as pessoas têm que conviver com a decadência, com as gafes, com os transtornos, com as tragédias, e não há como ver normalidade nisso. Sobretudo diante de uma imprensa que cada vez informa menos, reduzida a meros panfletos das elites empresariais e porta-voz de causas e propostas cada vez mais anti-democráticas. Será que as pessoas estão esperando haver um holocausto para se mexerem?
Um alerta para as pessoas que veem Rede Globo e Globo News tranquilamente, compram Folha de São Paulo, Veja, Época e Isto É acreditando que se servem do melhor jornalismo, que recebem uma visão transparente e objetiva do mundo.
A chamada grande imprensa, ou, num âmbito geral, a grande mídia, sofre uma crise avassaladora. Uma decadência que põe o jornalismo trabalhado por elas em ruínas, e, salvo exceções que cada vez mais se tornam raras, a grande imprensa comercial simplesmente rompeu com os princípios de ética, objetividade e profissionalismo que antes fizeram o nome do jornalismo.
Há denúncias de várias pessoas de que jornalistas da revista Veja e do canal de TV noticioso Globo News já sofrem desequilíbrio emocional. Aqui temos que chamar atenção de uma diferença entre o direito de um jornalista se emocionar, quando a situação é realmente comovente, e um jornalista perder a cabeça porque os fatos não ocorrem em seu agrado.
Quando Romero Jucá, então ministro do Planejamento do desastrado governo Michel Temer, foi denunciado por uma gravação de meses atrás feita pelo aliado e ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sérgio Machado, o comentarista do canal Globo News, Merval Pereira, se demonstrava visivelmente irritado.
Mas isso é fichinha se observarmos que, nas páginas de Veja, nomes como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi escreviam com fúria, consagrando o chamado "ódiojornalismo" que vem de carona na partidarização da grande imprensa comercial, cada vez mais solidária ao PSDB e derivados e cada vez mais hostil ao Partido dos Trabalhadores.
A grande imprensa, no conjunto da obra, decaiu de forma humilhante e vergonhosa. Contratou profissionais cada vez menos competentes, a princípio em nome de interesses comerciais em prol de um jornalismo que "não conteste demais" e seja feito "para agradar o leitor". Só que isso virou um eufemismo para um jornalismo asséptico, sem gosto, sem cara, conservador, acomodado, fútil e até muito mal escrito e desinformado.
Noticiários qualquer nota sobre a mesmice cotidiana, sem um pingo de bons textos, boas informações, nenhum quesitonamento reflexivo. Tão mal escritos e desinformados que nem mesmo informações transmitidas por um mesmo periódico podem ser cruzadas.
Segundo uma mensagem de um internauta que recebemos, um jornal de Niterói, O Fluminense, tão preocupado em desenvolver um jornalismo asséptico, não conseguiu estabelecer a relação díspare entre um prefeito, Rodrigo Neves, recebendo um prêmio de "empreendedor", e o espantoso fechamento de estabelecimentos comerciais na cidade fluminense. Nem para chamar diferentes repórteres para juntarem as informações foi feito.
O jornalismo investigativo, pelo menos o que se pratica na chamada grande imprensa, é uma prática em extinção, de tal forma que um dos principais jornalistas investigativos que trabalha para a grande mídia atuantes no Brasil é o correspondente Glenn Greenwald, jornalista e advogado inglês radicado no Brasil.
Jornalista que revelou as informações secretas de Edward Snowden, a respeito dos bastidores da CIA, Greenwald também denunciou o processo irregular que se deu da votação na Câmara dos Deputados ao decorrer do governo Michel Temer, com muitos corruptos envolvidos na campanha pela derrubada do PT com sua saída do Governo Federal.
A grande imprensa é culpada pelo cenário político caótico que se vive. Ela foi capaz de publicar mentiras e tratar boatos contra petistas como se fossem "verdades indiscutíveis". Recentemente, comemoraram a prisão de um ex-ministro dos governos petistas, Paulo Bernardo. Tudo por conta de acusações mal-formuladas.
Dilma Rousseff foi afastada do poder acusada de operações financeiras que são consideradas normais no meio político. Em compensação, há muito mais provas de corrupção contra Aécio Neves, acusado de envolvimento tanto com o Mensalão quanto a Lava-Jato, fora outros escândalos (como desvio de dinheiro público para sustentar aeroportos particulares e uma emissora FM do interior), e a imprensa coloca essas sujeiras debaixo do tapete, protegendo o senador mineiro do PSDB.
O Brasil está desgovernado por culpa das pregações ideológicas da grande imprensa, que sempre desejou um projeto político retrógrado, que mais favoreça as elites e o empresariado. A decadência vergonhosa das elites, representada em âmbito geral pelo declínio vertiginoso e de níveis catastróficos do Sul e Sudeste, sobretudo Rio de Janeiro, mostra o quanto os "de cima" estão vendo o topo da pirâmide ruir como um precipício se rachando sobre o abismo.
O Estado do Rio de Janeiro sofre violência e sucumbiu a decadências em todos os aspectos. Algo que já não pode ser mais escondido, pois é uma decadência que coloca o Estado aos níveis abaixo das unidades federativas mais provincianas. Perto do que está o Estado do Rio de Janeiro hoje, o Acre parece a Suíça.
Mas outros Estados, como São Paulo e Paraná, mas sem esquecer Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a decadência é alarmante, e acima dos índices considerados esperados pela chamada "complexidade da vida moderna".
A Minas Gerais de uma tragédia ambiental preocupante, causada pelo descaso empresarial, que fez estourar uma barragem situada em Mariana e despejou o lodo contaminado por um longo caminho até o mar, passando pelo Espírito Santo e atingindo várias cidades, além de ter causado várias mortes, é a terra natal de Aécio Neves, que está ameaçado de ser enquadrado em um dos piores escândalos a ser denunciado pelo publicitário Marcos Valério, que admite fazer em breve delação premiada.
São Paulo viveu a contradição de, sofrendo enchentes em sucessivos dias chuvosos, ter que conviver com a falta d'água meses depois. A capital paulista perdeu a batalha entre o provincianismo e o cosmpolitismo e a maior capital da América Latina sofreu sua queda quando se reduziu a um quintal privativo de chefões de mídia, empresários do entretenimento brega e políticos tucanos.
O Paraná, que antes tinha em Curitiba um modelo virtual de cidade moderna, como se fosse uma "Estocolmo dos trópicos", também decai e não só por ser reduto dos golpistas que queriam derrubar Dilma Rousseff, através dos juristas comprados pelo tucanato e pelo poder midiático, como Sérgio Moro (que é duro demais para combater petistas, mas hesitante até para investigar tucanos e aliados), mas pela crise social que sofre no âmbito local.
É um reduto de degradação cultural - a mediocridade cultural puxada pela dupla Chitãozinho & Xororó e pelo apresentador Carlos "Ratinho" Massa, é notória - , da imprensa (a CBN é um claro exemplo disso), temperada pelo episódio da perseguição de juristas contra jornalistas independentes que denunciaram os salários exorbitantes do Judiciário local, e em suas "modernas" cidades já ocorrem assassinatos à luz do dia, assustando a população.
É em Curitiba que está ocorrendo o esgotamento definitivo e irreversível de um modelo de transporte coletivo lançado, no auge da ditadura militar, por Jaime Lerner. Um modelo cujas medidas de pintura padronizada nos ônibus, dupla função de motorista-cobrador e redução de percursos para forçar a baldeação usando o Bilhete Único, se revelam definitivamente obsoletas e prejudiciais.
Mas tudo isso é reflexo de uma crise de valores generalizada que tem na grande imprensa seu quadro mais dramático, uma imprensa decadente de um Brasil em ruínas. Pois as pessoas são desafiadas pelas circunstâncias em admitir a crise em que vivem, e hoje o sobressalto da chamada "boa sociedade" é tanto que ela se recusa a admitir essa crise.
Essas pessoas "de bem com a vida" preferem viver isoladas nas redes sociais - o WhatsApp se revela até mais decadente que o Facebook e o antigo Orkut, já notórios redutos de brasileiros reacionários e desinformados - e aceitar essas crises como "algo normal". Acham que a coleção de escândalos do governo Michel Temer é "natural" e ainda apelam para o bordão hipócrita "Quem Nunca Erra?" que só serve para fazer apologia aos erros graves cometidos por gente privilegiada.
E assim as pessoas têm que conviver com a decadência, com as gafes, com os transtornos, com as tragédias, e não há como ver normalidade nisso. Sobretudo diante de uma imprensa que cada vez informa menos, reduzida a meros panfletos das elites empresariais e porta-voz de causas e propostas cada vez mais anti-democráticas. Será que as pessoas estão esperando haver um holocausto para se mexerem?
sexta-feira, 15 de julho de 2016
Robson Pinheiro ainda usou Getúlio Vargas para falar da crise brasileira
GETÚLIO VARGAS DEVE ESTAR SE REVIRANDO NO ALÉM...
É moleza ser "médium espírita". Usurpa-se o nome de algum falecido, produz uma obra atribuída ao "espírito" da escolha pessoal do "médium" e tudo permanece de maneira impune, não apenas por causa da omissão das leis, mas pelo apoio estimulado da sociedade.
Chico Xavier foi para o além totalmente impune em relação à usurpação de uma porção de brasileiros, anônimos ou famosos, em mensagens que se demonstram fraudulentas com uma leitura mais atenciosa. Mesmo assim, o "médium" se tornou "intocável" e é um dos piores exemplos de impunidade verificados em toda a História do Brasil, sem exagero.
Virou uma farra. Se você imita algum famoso falecido, digamos o Chacrinha, e se diz "médium espírita", você pode se passar pelo saudoso apresentador de TV e inventar que ele retornou para falar para o público brasileiro. As leis não lhe punirão, a polícia não lhe pegará, a prisão torna-se um aposento remoto para passar uma boa parcela de sua vida.
E aí vemos a completa festa abusiva em que nomes que vão de Humberto de Campos a Raul Seixas, lesando qualquer um que encontrar pela frente. Recentemente, o ex-casal Nizo Neto e Márcia Brito receberam uma suposta mensagem do falecido filho Ryan Brito que apresentava irregularidades referentes ao Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos sistematizado por Allan Kardec.
Aqui temos os "donos dos mortos", que publicam sempre mensagens de apelo religioso. O "morto" se reduz a um anunciador de mershandising religioso, mesmo de maneira sutil, e o "médium" usa artifícios como a leitura fria e a citação de dados como o CPF e do telefone celular do ente que está vivo (mas que se esquece que forneceu tais informações quando preencheu uma ficha no "auxílio fraterno") para forjar "legitimidade". Algo que deixaria Kardec muito desconfiado.
E aí, como vemos, o establishment está corrompido. Hierarquias mostram erros e irregularidades graves e não poucas e tudo que a sociedade faz como reação é dizer "quem é que nunca errou na vida?". Uma complacência ao erro, quando ele vem de gente "de cima", dotada dos mais variados tipos de poder, mesmo um simples prestígio como celebridade ou religioso.
E aí temos o astro das "psicografias" e "psicofonias", Robson Pinheiro. Ele usou Ângelo Inácio para descrever um Cazuza caricato, quase um debiloide. Usou uma serena Madre Teresa de Calcutá que não parece assustada com as denúncias que, na Terra, a fizeram ser desmascarada por Christopher Hitchens. E estava usando o escritor Jules Verne (que os brasileiros conhecem como Júlio Verne) quando veio a urgência de "comentar" a crise brasileira.
Além da obra "coxinha" O Partido, pautada no que a grande mídia informa da Operação Lava-Jato, inspirando um enredo surreal de espíritos traiçoeiros que manipulam brasileiros com facilidade, enquanto define como "pacíficas e memoráveis" manifestações que pedem intervenção militar e exibem até suásticas nazistas, como os protestos anti-PT, Robson ainda usou Getúlio Vargas para uma suposta mensagem aos brasileiros.
O festivo "médium" já havia usado um Tancredo Neves com um conhecimento de mídias digitais típico de um adolescente - e isso quando seu neto, Aécio Neves, tem medo de consultar a Internet por causa da avalanche de textos que denunciam sua corrupção política, com provas e tudo - para "falar à nação". Agora faz o mesmo com Getúlio.
O falecido presidente já havia sido usado em uma risível "psicografia" lançada por uma "médium" já falecida, Wanda A. Canutti, intitulada Getúlio Vargas em Dois Mundos, atribuída ao espírito do escritor português Eça de Queiroz. A obra claramente destoa, no entanto, do estilo do autor de O Primo Basílio, com uma narrativa tediosa e cansativa que em nada lembra o texto ágil e quase cinematográfico do grande autor lusitano.
Agora, é a vez de Robson Pinheiro repetir a brincadeira, desta vez usando o próprio Vargas, imitando seu discurso solene mas apelando para um igrejismo desnecessário, dentro daquela visão ufanista que os "espíritas" tanto usam e que remetem tão somente aos piores livros didáticos. Eis o texto:
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Mensagem do suposto espírito Getúlio Vargas divulgada por Robson Pinheiro em reunião pública de Cartas Consoladoras, na Casa de Everilda Batista. Contagem, MG, 8 de maio de 2016.
Brasileiros e brasileiras,
Nós, os que herdamos a espada da justiça; nós, os que herdamos de Ismael o compromisso de levar avante o projeto e o futuro da nossa nação, clamamos, do lado de cá da barreira da vida, para os brasileiros não se descuidarem do seu futuro, não se esquecerem do fanal de liberdade, libertando-se das garras dos lobos vorazes, de corações empedernidos, que intentam destruir a fé do povo brasileiro no futuro promissor desta nação. Não entreguem o futuro do país ou da América Latina nas mãos daqueles que corroem os valores morais e éticos, tentando, de alguma forma, solapar os valores duramente conquistados ao longo dos séculos que transformaram a nossa nação num dos países mais promissores deste planeta.
Temos que dar as mãos dos dois lados da vida, pedindo àqueles que tutelam os destinos do país, pedindo a Jesus e a Maria de Nazaré, que utilizem dos seus instrumentos divinos a fim de interromper o círculo que tenta de alguma maneira fechar os caminhos do povo brasileiro e da América Latina.
Precisamos aprender com aquele que foi o maior revolucionário de todas as épocas e que hoje é cultuado por todos os povos do ocidente como representante de Deus, como representante do governo espiritual na Terra. Ele, que se envolveu, que se manifestou no meio da multidão lutando pela política divina de um reino superior, espera que cada um de nós que nos dizemos ou nos fazemos seus seguidores possa prosseguir pelo menos honrando o compromisso que ele depositou em nossos ombros, em nossas mãos.
Eu fui um falido espiritual e, num momento de ânsia, diante dos meus erros clamorosos como político brasileiro, entreguei a minha vida sem pensar. Eu, Getúlio Vargas, retorno aqui pela misericórdia divina que me pede: “Volta, Getúlio, e fala com o povo para não desistir como você desistiu, e fala com o povo que o Brasil tem jeito, e fala com o povo para resistir aos lobos que se alimentam da esperança da nação”.
Que Deus abençoe a todos nós! Que possamos levar nossas vozes e não desistir como um dia eu desisti, mas que continuemos, mesmo depois da morte, prosseguindo na certeza de que o Brasil será finalmente o coração do mundo, a pátria deste Evangelho que vocês tanto admiram, que tanto adoram, apesar das forças contrárias ao bem e à justiça.
Graças a Deus.
Getúlio Vargas (espírito) (sic)
É moleza ser "médium espírita". Usurpa-se o nome de algum falecido, produz uma obra atribuída ao "espírito" da escolha pessoal do "médium" e tudo permanece de maneira impune, não apenas por causa da omissão das leis, mas pelo apoio estimulado da sociedade.
Chico Xavier foi para o além totalmente impune em relação à usurpação de uma porção de brasileiros, anônimos ou famosos, em mensagens que se demonstram fraudulentas com uma leitura mais atenciosa. Mesmo assim, o "médium" se tornou "intocável" e é um dos piores exemplos de impunidade verificados em toda a História do Brasil, sem exagero.
Virou uma farra. Se você imita algum famoso falecido, digamos o Chacrinha, e se diz "médium espírita", você pode se passar pelo saudoso apresentador de TV e inventar que ele retornou para falar para o público brasileiro. As leis não lhe punirão, a polícia não lhe pegará, a prisão torna-se um aposento remoto para passar uma boa parcela de sua vida.
E aí vemos a completa festa abusiva em que nomes que vão de Humberto de Campos a Raul Seixas, lesando qualquer um que encontrar pela frente. Recentemente, o ex-casal Nizo Neto e Márcia Brito receberam uma suposta mensagem do falecido filho Ryan Brito que apresentava irregularidades referentes ao Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos sistematizado por Allan Kardec.
Aqui temos os "donos dos mortos", que publicam sempre mensagens de apelo religioso. O "morto" se reduz a um anunciador de mershandising religioso, mesmo de maneira sutil, e o "médium" usa artifícios como a leitura fria e a citação de dados como o CPF e do telefone celular do ente que está vivo (mas que se esquece que forneceu tais informações quando preencheu uma ficha no "auxílio fraterno") para forjar "legitimidade". Algo que deixaria Kardec muito desconfiado.
E aí, como vemos, o establishment está corrompido. Hierarquias mostram erros e irregularidades graves e não poucas e tudo que a sociedade faz como reação é dizer "quem é que nunca errou na vida?". Uma complacência ao erro, quando ele vem de gente "de cima", dotada dos mais variados tipos de poder, mesmo um simples prestígio como celebridade ou religioso.
E aí temos o astro das "psicografias" e "psicofonias", Robson Pinheiro. Ele usou Ângelo Inácio para descrever um Cazuza caricato, quase um debiloide. Usou uma serena Madre Teresa de Calcutá que não parece assustada com as denúncias que, na Terra, a fizeram ser desmascarada por Christopher Hitchens. E estava usando o escritor Jules Verne (que os brasileiros conhecem como Júlio Verne) quando veio a urgência de "comentar" a crise brasileira.
Além da obra "coxinha" O Partido, pautada no que a grande mídia informa da Operação Lava-Jato, inspirando um enredo surreal de espíritos traiçoeiros que manipulam brasileiros com facilidade, enquanto define como "pacíficas e memoráveis" manifestações que pedem intervenção militar e exibem até suásticas nazistas, como os protestos anti-PT, Robson ainda usou Getúlio Vargas para uma suposta mensagem aos brasileiros.
O festivo "médium" já havia usado um Tancredo Neves com um conhecimento de mídias digitais típico de um adolescente - e isso quando seu neto, Aécio Neves, tem medo de consultar a Internet por causa da avalanche de textos que denunciam sua corrupção política, com provas e tudo - para "falar à nação". Agora faz o mesmo com Getúlio.
O falecido presidente já havia sido usado em uma risível "psicografia" lançada por uma "médium" já falecida, Wanda A. Canutti, intitulada Getúlio Vargas em Dois Mundos, atribuída ao espírito do escritor português Eça de Queiroz. A obra claramente destoa, no entanto, do estilo do autor de O Primo Basílio, com uma narrativa tediosa e cansativa que em nada lembra o texto ágil e quase cinematográfico do grande autor lusitano.
Agora, é a vez de Robson Pinheiro repetir a brincadeira, desta vez usando o próprio Vargas, imitando seu discurso solene mas apelando para um igrejismo desnecessário, dentro daquela visão ufanista que os "espíritas" tanto usam e que remetem tão somente aos piores livros didáticos. Eis o texto:
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Mensagem do suposto espírito Getúlio Vargas divulgada por Robson Pinheiro em reunião pública de Cartas Consoladoras, na Casa de Everilda Batista. Contagem, MG, 8 de maio de 2016.
Brasileiros e brasileiras,
Nós, os que herdamos a espada da justiça; nós, os que herdamos de Ismael o compromisso de levar avante o projeto e o futuro da nossa nação, clamamos, do lado de cá da barreira da vida, para os brasileiros não se descuidarem do seu futuro, não se esquecerem do fanal de liberdade, libertando-se das garras dos lobos vorazes, de corações empedernidos, que intentam destruir a fé do povo brasileiro no futuro promissor desta nação. Não entreguem o futuro do país ou da América Latina nas mãos daqueles que corroem os valores morais e éticos, tentando, de alguma forma, solapar os valores duramente conquistados ao longo dos séculos que transformaram a nossa nação num dos países mais promissores deste planeta.
Temos que dar as mãos dos dois lados da vida, pedindo àqueles que tutelam os destinos do país, pedindo a Jesus e a Maria de Nazaré, que utilizem dos seus instrumentos divinos a fim de interromper o círculo que tenta de alguma maneira fechar os caminhos do povo brasileiro e da América Latina.
Precisamos aprender com aquele que foi o maior revolucionário de todas as épocas e que hoje é cultuado por todos os povos do ocidente como representante de Deus, como representante do governo espiritual na Terra. Ele, que se envolveu, que se manifestou no meio da multidão lutando pela política divina de um reino superior, espera que cada um de nós que nos dizemos ou nos fazemos seus seguidores possa prosseguir pelo menos honrando o compromisso que ele depositou em nossos ombros, em nossas mãos.
Eu fui um falido espiritual e, num momento de ânsia, diante dos meus erros clamorosos como político brasileiro, entreguei a minha vida sem pensar. Eu, Getúlio Vargas, retorno aqui pela misericórdia divina que me pede: “Volta, Getúlio, e fala com o povo para não desistir como você desistiu, e fala com o povo que o Brasil tem jeito, e fala com o povo para resistir aos lobos que se alimentam da esperança da nação”.
Que Deus abençoe a todos nós! Que possamos levar nossas vozes e não desistir como um dia eu desisti, mas que continuemos, mesmo depois da morte, prosseguindo na certeza de que o Brasil será finalmente o coração do mundo, a pátria deste Evangelho que vocês tanto admiram, que tanto adoram, apesar das forças contrárias ao bem e à justiça.
Graças a Deus.
Getúlio Vargas (espírito) (sic)
quarta-feira, 13 de julho de 2016
Livro "espírita" supõe explicar a crise vivida no Brasil
Que o "espiritismo" brasileiro é sensacionalista, isto é a mais pura verdade, embora muita gente se recuse a admitir isso. Mas a coisa sucumbiu a atitudes ainda mais absurdas, sobretudo num tempo em que o Brasil ameaça se tornar uma teocracia, com a divulgação do traiçoeiro projeto Escola Sem Partido.
Robson Pinheiro, que teve que interromper o andamento de um livro, 2080, por causa do "urgente" lançamento de O Partido: Um Projeto Criminoso de Poder, atribuído ao "espírito Ângelo Inácio", "parceiro" das obras do badalado autor.
A história parece uma ficção fantasiosa: "espíritos do mal" são responsáveis de manipular tudo e todos para o erro, e aqui a força dos espíritos inferiores é superestimada, como se os espíritos encarnados não tivessem vontade própria ou, se tem, são muito mais frágeis do que normalmente se esperaria delas.
Um dos trechos do livro cita a instrução de um espírito trevoso considerado de "alta hierarquia":
"Entre os encarnados, a técnica para dominá-los sem que o saibam consistirá em falar aquilo que eles querem ouvir, dando-lhes apenas migalhas, porém, prometendo sempre mais... A verdade não importa! Gravem bem em sua memória: é a mentira que querem ouvir. Portanto, mintam! Mintam com convicção e descaradamente, mas sem perderem o ar piedoso e a aura de virtude... Acusem os inimigos de tudo o que fazemos e negamos peremptoriamente. Sejam impiedosos que eles se vergarão à humilhação pública... Nossas técnicas de persuasão em massa continuam as mesmas: pressionar, intimidar, difamar, aniquilar a imagem e a reputação de nossos opositores perante toda a gente... eis o cerne da nossa estratégia de guerrilha: negar sempre, não assumir jamais os ardis a que recorremos; tal deve ser a regra observada rigorosamente por nossos comparsas no mundo físico... Nossas marionetes, recrutaremos entre os mais instruídos - pois, como já foi dito, escolas, universidades e imprensa serão alvos prioritários da estratégia traçada - , como também em meio aos que propagam ideias espiritualizantes... Mesmo homens de bem precisam ser enganados; aliás, eles precisam se converter em nossos maiores aliados!... Dominem o que lhes apraz; a nós não interessa este mundo, a não ser sua aniquilação."
Aparentemente, a obra é ideologicamente "imparcial" e Robson Pinheiro ainda apareceu, numa foto de divulgação do livro, no YouTube, usando uma boina e vestindo camisa vermelha. Muitos perguntam se isso é paródia de Ernesto Che Guevara ou alguma gozação ao PT.
ROBSON PINHEIRO DE BOINA E CAMISA VERMELHA: PARODIANDO CHE GUEVARA E O PT?
Tudo parece mesmo uma coisa surreal e fantástica. "Magos negros" formando artilharia contra Brasília, influenciando as pessoas a praticar corrupções e arbitrariedades, além de induzi-las a falar mentiras de todo tipo. Como se fossem feiticeiros tentando dominar crianças!...
O que chama a atenção é o lado "coxinha" de uma passagem do livro, o que indica que, em que pese o "boné Che Guevara" e a "camisa petista" da foto de divulgação, Robson Pinheiro, na verdade, estaria fazendo oposição ao governo Dilma Rousseff, como sugere a interpretação de uma passeata neste trecho:
"As energias colhidas e armazenadas nas manifestações pacíficas ocorridas na Avenida Paulista, no dia 13 de março de 2016, e em outros locais do país foram empregadas pelos guardiões em tarefas últimas junto ao povo brasileiro... Naquele dia memorável, a nave dos guardiões sobrevoou a Avenida Paulista, absorvendo as energias emanadas da multidão e as armazenando em seu bojo para as usarem oportunamente. Torres de captação das irradiações mentais e emocionais foram erguidas pelos especialistas e pelos técnicos do astral... era possível captar e reter emanações que seriam essenciais, mais tarde, para enfrentarem as milícias das sombras aquarteladas no Congresso Nacional."
Isso é constrangedor. Afinal, as referidas passeatas intuídas por "guardiões" (os tais "benfeitores espirituais"), um "dia memorável" de transmissão de "energias elevadas" - termo que não aparece explícito no trecho em questão - , correspondem, na verdade, ao ápice das manifestações anti-PT que haviam ocorrido desde 2015.
MENSAGENS VINGATIVAS, BAIXARIAS, CLAMORES GOLPISTAS E ATÉ EXIBIÇÃO DE UMA SUÁSTICA NAZISTA ESTIVERAM NAS "PACÍFICAS" MANIFESTAÇÕES "CONTRA A CORRUPÇÃO".
O ridículo disso tudo - dentro de uma perspectiva que classifica o parcial juiz Sérgio Moro, um sujeito que se recusa a prender tucanos (PSDB) corruptos com a mesma agilidade (e pressa) que combate o PT, como um "herói" - é que as "maravilhosas manifestações contra a corrupção" eram na verdade uma coleção de incidentes infelizes.
É necessário lembrar também que esses protestos anti-PT, que Robson Pinheiro descreve como se fossem "vibrações positivas" da população, o que pressupõe um manifesto coletivo de solidariedade e união, foram na verdade manifestações de puro ódio e rancor.
As fotos não deixam mentir. Uma senhora segurando um cartaz dizendo "Por que não mataram todos em 1964?" é de um rancor vingativo descomunal. Manifestantes mostrando os traseiros para o governo Dilma Rousseff e mensagens pedindo intervenção militar para o país (espécie de eufemismo para golpe militar, como era a palavra "revolução" há 42 anos) também foram notados.
Mas o pior disso tudo é que, em algumas dessas manifestações, chegou-se a exibir uma suástica nazista, o que é uma atitude das mais deploráveis, por razões óbvias. Como é que Robson irá atribuir, a esses protestos culminados no 13 de março de 2016, uma "vibração positiva" diante de eventos tão lamentáveis, só para usar uma definição mais "educada"?
O livro O Partido também peca pelo maniqueísmo fácil existente entre políticos e povo. Os políticos seriam a "podridão" do país, o povo a massa sedenta por "bondade e fraternidade". Tudo muito simplório, ignorando que a vida é muito mais complexa e que aquele "memorável treze de março" era na verdade uma podridão muito pior do que erroneamente se atribui ao PT em supostas denúncias que mais parecem rumores e boatos confusos e muito mal explicados.
E todos esses processos "contra a corrupção" deram origem a um governo mais corrupto ainda. E isso é terrível. Afinal, o país na verdade vive uma crise de valores e o que se está em jogo hoje é a plutocracia e outras elites associadas (patriarcado, oligarquias, tecnocracia, aristocracia, empresariado etc) que tentam fazer o Brasil voltar aos padrões de uma sociedade castrada de 1974.
Chama a atenção também o nome de um espírito "representante máximo da justiça divina": Miguel. O nome é uma variante de Michel, nome do presidente interino que está associado a forças muito mais corruptas do que aquelas que supostamente cercaram a presidenta afastada.
Robson Pinheiro também comete a asneira de comparar, no sentido positivo, o 13 de maio de 1888 e o 13 de março de 2016. Se os dois fatos são comparáveis, isso se dá pelo lado negativo: fatos que geraram crises profundas. Não que a escravidão não devesse ser abolida, mas da forma como foi feita, com o Brasil levando mais de seis décadas para eliminar esse triste método de exploração humana, deixou os negros à deriva.
A única coisa realmente comparável que aconteceu foi que, enquanto, em 1888, a plutocracia da época, como os senhores de engenho e os emergentes senhores do café, decidiram derrubar o Império, forçando o afastamento do imperador Dom Pedro II (que saiu do país de forma melancólica), a plutocracia de hoje decidiu mandar afastar a presidenta Dilma Rousseff, em processos de votação de uma maioria de corruptos clamando por este afastamento.
E todos eles clamando "pela Família cristã", o que poderia tranquilizar os "espíritas". Estes falam no impeachment como uma "libertação", quando na verdade vemos o Brasil desgovernado e prisioneiro de seus paradigmas mais antigos.
As pessoas querem retroceder em uma versão mais radical de 1974, com mais machismo, mais mistificação, mais racismo, mais capitalismo, mais escravidão moderna (algo que foi praticado até por uma editora "espírita"), mais poder midiático, para atender aos interesses de pessoas dotadas de maior status social, seja ele político, econômico, acadêmico, lúdico (famosos), tecnocrático e até religioso.
Robson Pinheiro cita Francisco Cândido Xavier indiretamente, descrevendo a "missão" do Brasil em ser "coração do mundo e pátria do Evangelho". Com esse livro "coxinha", Robson condiz com a postura reacionária do "movimento espírita" (do qual ele se envolve de maneira "independente", sem ter vínculo formal à FEB), que defendeu o golpe de 1964 e, em 1971, mostrou Chico Xavier defendendo abertamente a ditadura militar na TV, quando ela estava em sua fase mais cruel.
Diante disso, só se pode esperar de O Partido uma obra reacionária e fantasiosa, cheia de preconceitos moralistas religiosos e uma confusa e maniqueísta abordagem da vida política nacional. Mais uma obra lamentável de uma longuíssima antologia de lamentáveis obras "espíritas".
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Hierarquias em queda
Os fatos que acontecem no Brasil nos últimos anos são reflexo de um desgaste de um sistema de valores que alguns agentes sociais tentam recuperar ou manter na marra, já a partir de um governo interino do presidente em exercício Michel Temer, composto de forma golpista e fraudulenta.
O medo da queda de valores hierárquicos, diante de tantos escândalos de corrupção, ou gafes e crimes cometidos, se reflete pelos surtos histéricos que, a partir da grande imprensa, acontecem, e fazem religiosos de mentalidade medieval recorrerem a "remédios" como o Escola Sem Partido, projeto reacionário criado pelo advogado Miguel Najib e divulgado por gente como o ator Alexandre Frota.
A derrubada de totens e paradigmas assusta muita gente. Tecnocratas, famosos, burocratas, acadêmicos e oligarcas que se julgavam detentores de uma superioridade social inabalável estão com medo de perder privilégios e vantagens.
As transformações sociais vividas no Brasil amedrontam os privilegiados hoje, da mesma forma que em 1964, e é típico do Brasil que tais pessoas tentem forçar o país a dar passos para trás para evitar mudanças naturais.
Tudo que vem desta plutocracia está ruindo: do "funk", que simboliza um modo plutocrático de promover a "cultura" das classes populares, ao "espiritismo", que no fundo é o "catolicismo à paisana" que tanto agrada os barões midiáticos, a partir das Organizações Globo.
Estão caindo aristocratas, políticos, empreiteiros, antropólogos, jornalistas culturais, juristas, socialites, astros do futebol, apresentadores de TV, publicitários, médicos, arquitetos e tantos outros que se dispunham de uma reputação antes inabalável, só porque simbolizam alguma vantagem conquistada.
Até no mercado de trabalho se começa a ver que muitas das contratações de emprego não são feitas por puro preconceito, que vai desde a questão da idade à aparência ou mesmo uma especialização às avessas, quando o mercado prefere contratar gente medíocre do que outra que, mais talentosa, possa ameaçar a estabilidade dos privilegiados de hoje.
Isso desnorteia as pessoas, que ainda têm que encarar a catástrofe da decadência de um Estado e uma capital, ambos chamados Rio de Janeiro, que antes serviam de modelo para a sociedade. A sucessão de notícias funestas que atingem a outrora Cidade Maravilhosa assustam o país e o mundo, praticamente pondo xeque-mate à sua antiga condição de cidade-modelo para o resto do Brasil, onde até pouco tempo atrás qualquer coisa que vinha dessa cidade passava a valer em todo o país.
Diante disso, estouram movimentos obscurantistas aqui e ali. Grupos neofascistas, movimentos pedagógicos ligados a seitas retrógradas (como o Escola Sem Partido, que propõe desqualificar a Educação brasileira), são apenas exemplos de um Brasil apavorado que busca desesperadamente voltar aos parâmetros sociais de 1974.
É uma sociedade em pânico, já demonstrada pelo vandalismo e pela truculência digital das trolagens e cyberbullying da Internet. E mostra o quanto um número considerável de brasileiros, até pela educação ultraconservadora que recebem aqui e ali, de maneira direta ou indireta, estão com medo de ver seus ídolos e totens serem desqualificados por definitivo.
Da mesma forma, é uma sociedade insegura que precisa de "gente de cima" para "dar exemplo". Ver o desgaste de tantas personalidades do topo das hierarquias sociais, de âmbito político, econômico, técnico, acadêmico, lúdico e religioso, é demais para essas pessoas, que em primeiro momento estão reagindo com indignação, como alguém que é decepcionado pela primeira vez e recusa ver o seu antigo objeto de adoração desmascarado.
A situação só está começando e a crise social em que vive o país só vai aumentar, demonstrando que não há como recuperar antigas estruturas hierárquicas que hoje perdem o sentido, embora elas ainda sejam consideradas de "máximo valor" diante de um país atolado na areia movediça de suas zonas de conforto.
Essa crise acaba sendo necessária para as pessoas reverem seus valores, abandonando estruturas que parecem benéficas e estáveis, mas que influem direta ou indiretamente na série de injustiças e prejuízos humanos, muitos deles graves. É doloroso abandonar totens e paradigmas consagrados mas em profundo desgaste, mas isso é necessário para reinventar um país.
sábado, 9 de julho de 2016
Com o "13 de Março", o "espiritismo" brasileiro deixou a máscara cair
Com os recentes textos exaltando, de forma tardia, as manifestações de 13 de março de 2016, definindo como processos de "libertação" e "regeneração" do Brasil, o "movimento espírita" simplesmente deixou a máscara cair de vez.
Sem poder explicar a postura "dúbia", na qual contraditoriamente bajula Allan Kardec e faz falsa apreciação dos assuntos científicos, mas por outro lado exalta o igrejismo e o mal-disfarçado catolicismo de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, o "espiritismo" se revelou que nunca foi mais do que uma reciclagem do Catolicismo medieval português.
A exaltação ao 13 de Março, usando como alegação a "conscientização política" dos jovens, pode até parecer uma confusão feita pelos "espíritas" aos protestos em prol do "Fora Collor", se não fosse o caráter ultraconservador que o "espiritismo", sobretudo através de Chico Xavier, demonstrou explicitamente, apoiando o golpe de 1964 e pregando a Teologia do Sofrimento.
A postura "coxinha" assumida pelo "movimento espírita" ao chamar de "regeneração" e atribuir "conscientização política" aos protestos de 13 de março, na verdade, revelam o aspecto sombrio da seita religiosa, através de quem e do que se destina tal apoio.
Em primeiro lugar, a doutrina que tanto fala em "amor" e reprova o ódio e a revolta acabou por dar seu apoio a manifestações que vieram de campanhas rancorosas nas mídias sociais, protestos fantasiados de trajes verde-amarelos e usando bandeiras do Brasil pedindo a volta da ditadura militar, mostrando suásticas nazistas e até mesmo pedindo morte a Dilma Rousseff, Lula e "toda a quadrilha" do PT.
Segundo, é só observar as pessoas e as ideias que estão por trás do "memorável momento" para ver o quanto a ideia de "regeneração" é ridícula. Vamos primeiro citar as pessoas, para se ver quem são os "iluminados" que os "espíritas" andam exaltando com tanto entusiasmo.
Fascistas como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, os manifestantes Renan Santos e Kim Kataguiri (ambos do Movimento Brasil Livre), Marcello Reis (Revoltados On Line), o neo-medieval Olavo de Carvalho e os trogloditas da opinião, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, são alguns dos ídolos do "povo" do 13 de Março, assim como uma Rachel Sheherazade que certa vez defendeu a tortura de um jovem ladrão por "justiceiros" e uma ensandecida juíza Janaína Paschoal.
Isso sem falar que a "histórica" manifestação impulsionou os deputados federais, presididos por um Eduardo Cunha (que já renunciou ao cargo) acusado de tantas corrupções, a votarem pelo afastamento de Dilma Rousseff e sua substituição pelo governo retrógrado de Michel Temer. Muitos dos deputados e senadores que participaram das votações ao longo do processo são investigados ou acusados de graves crimes, sobretudo corrupção.
Quanto às ideias, o "maravilhoso" 13 de Março propôs as seguintes causas: proteção aos privilégios dos ricos, precarização do mercado de trabalho, privatização do ensino público, projeto pedagógico que não promovesse o debate entre professores e alunos, entrega de reserva de pré-sal, mediante venda por valor bastante simbólico, às corporações estrangeiras do petróleo etc.
Além disso, a tese de "regeneração" difundida pelos "espíritas" é ridícula. Afinal, eles acreditam que o Brasil irá liderar a comunidade das nações e se tornará o "Coração do Mundo", sendo também a tal "pátria do Evangelho" a dar "lições de sabedoria e solidariedade" para o resto do mundo, com seu projeto "progressista" para a humanidade.
Só que, se tal alegação era impossível de qualquer maneira e sob todos os aspectos, já que esconde intenções teocráticas ("pátria do Evangelho") e propõe uma inconcebível posição de liderança (até por ela ser perigosa, vide exemplos como o Império Romano e a Alemanha nazista, e impossível, diante de um Brasil afundado em crise).
Além do mais, que nação-líder do mundo será um Brasil que retomará, aos olhos do "missionário" governo de Michel Temer, preparando o terreno para um futuro "grande líder" (Aécio Neves?), a postura de país periférico subordinado às diretrizes político-econômicas dos EUA?
Isso soa contraditório, pois o país que os "espíritas" alegam estar destinado a ser o "Coração do Mundo" está sujeito a voltar a ser um capacho dos EUA, o que não é uma postura de liderança, mas de subserviência das mais lamentáveis. A máscara caiu para o "espiritismo" brasileiro.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
A ilusão da invulnerabilidade dos retrógrados
A TERRA MAIS PARECE UM AMBIENTE A SER TOMADO PELO BOLOR.
A onda de retrocessos sociais expressa dois problemas. Um é o consentimento da sociedade moderna para que movimentos retrógrados aconteçam, reivindicando a volta de padrões antiquados de vida social, geralmente focados na Idade Média ou na Antiguidade do Oriente Médio.
Machistas, racistas, neo-nazistas, patrimonialistas, todas as facções retrógradas da sociedade se rebelam de uma forma ou de outra, em ocorrências que variam da formação do governo de Michel Temer, no Brasil, à chacina cometida numa boate gay em Orlando, na Flórida, passando pela tentativa de destruição de uma cidade síria pelo Estado Islâmico ou o assassinato da parlamentar britânica Jo Cox por um neo-nazista.
A fúria daqueles que sonham com o retorno de sociedades atrasadas, como supostos paraísos austríacos de gente exclusivamente branca, nações teocráticas, sociedades elitistas, cidades escravocratas, estruturas familiares conservadoras, mostra o quadro surreal em que vivemos.
Pois isso é resultante de uma nostalgia doentia que move iniciativas tão extremistas. Sejam os corruptos do Congresso Nacional brasileiro com saudade da "mamata" da ditadura militar, quando a sociedade era castrada e forçada a se resignar com os arbítrios políticos, sejam os membros do Estado Islâmico que acreditam em nações misticamente fortes e autoritárias.
Mesmo o "espiritismo" brasileiro se insere nesse quadro, pois a religião não consegue disfarçar sua herança do Catolicismo medieval português, já que em muitos momentos chega a ser mais católico que a Igreja Católica, com o agravante de que aproveitou diretrizes que os católicos não seguem mais. Defender a Teologia do Sofrimento é uma delas.
As próprias figuras de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco se inserem nesse quadro, por mais que seus defensores insistam num inexistente futurismo em suas pregações. Isso porque Chico Xavier e Divaldo Franco personificam tipos antiquados de personalidades, lembrando, respectivamente, um caipira da República Velha e um catedrático das velhas escolas dos anos 1920-1940.
O conteúdo religioso deles também é reflexo disso. E as pessoas que os glorificam sentem saudade de uma moral religiosa que assegurasse relações hierárquicas, conservadorismo ideológico sustentado por pretextos moralistas e pela utopia do prêmio póstumo das "bênçãos futuras", uma forma confusa e vaga de definir as "recompensas" prometidas para os sofredores pela religião "espírita".
Há um saudosismo doentio em todos os aspectos, que no entanto garante uma estranha confiabilidade dos seus detentores. Todos parecem empenhados e confiantes em recuperar padrões obsoletos de vida social, que nada dizem para os dias de hoje, mas cujos defensores persistem em resgatá-los e fazer prevalecer até em sociedades futuras.
É como se o passado quisesse ser dono do futuro. É a rebelião do mofo tóxico contra o ar puro. É a recusa de admitir novos tempos e a teimosia em recuperar o irrecuperável, criando uma ilusão de tranquilidade ou, na pior das hipóteses, de triunfalismo da parte de seus defensores ou agentes.
Afinal, existe também a pressão de outra parte da sociedade, que quer reafirmar os novos tempos, e não aceita que antigas desigualdades ou antigos dogmas, mesmo obsoletos, retornem como se fossem atuais, e a intransigência dos retrógrados revela o quanto pessoas desse nível ainda se mantém numa ilusão de invulnerabilidade, como se acreditassem num triunfo futuro.
Esse é o grande problema da humanidade. É um grande risco do futuro ficar refém do passado. E tal coisa é expressa por diversos movimentos sociais, políticos e religiosos que querem que a Terra volte aos estágios medievais ou teocráticos, retomando estruturas arcaicas de sociedades desiguais, misticamente subordinadas e rigidamente hierarquizadas. Cabe pensarmos nesse grave problema.
A onda de retrocessos sociais expressa dois problemas. Um é o consentimento da sociedade moderna para que movimentos retrógrados aconteçam, reivindicando a volta de padrões antiquados de vida social, geralmente focados na Idade Média ou na Antiguidade do Oriente Médio.
Machistas, racistas, neo-nazistas, patrimonialistas, todas as facções retrógradas da sociedade se rebelam de uma forma ou de outra, em ocorrências que variam da formação do governo de Michel Temer, no Brasil, à chacina cometida numa boate gay em Orlando, na Flórida, passando pela tentativa de destruição de uma cidade síria pelo Estado Islâmico ou o assassinato da parlamentar britânica Jo Cox por um neo-nazista.
A fúria daqueles que sonham com o retorno de sociedades atrasadas, como supostos paraísos austríacos de gente exclusivamente branca, nações teocráticas, sociedades elitistas, cidades escravocratas, estruturas familiares conservadoras, mostra o quadro surreal em que vivemos.
Pois isso é resultante de uma nostalgia doentia que move iniciativas tão extremistas. Sejam os corruptos do Congresso Nacional brasileiro com saudade da "mamata" da ditadura militar, quando a sociedade era castrada e forçada a se resignar com os arbítrios políticos, sejam os membros do Estado Islâmico que acreditam em nações misticamente fortes e autoritárias.
Mesmo o "espiritismo" brasileiro se insere nesse quadro, pois a religião não consegue disfarçar sua herança do Catolicismo medieval português, já que em muitos momentos chega a ser mais católico que a Igreja Católica, com o agravante de que aproveitou diretrizes que os católicos não seguem mais. Defender a Teologia do Sofrimento é uma delas.
As próprias figuras de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco se inserem nesse quadro, por mais que seus defensores insistam num inexistente futurismo em suas pregações. Isso porque Chico Xavier e Divaldo Franco personificam tipos antiquados de personalidades, lembrando, respectivamente, um caipira da República Velha e um catedrático das velhas escolas dos anos 1920-1940.
O conteúdo religioso deles também é reflexo disso. E as pessoas que os glorificam sentem saudade de uma moral religiosa que assegurasse relações hierárquicas, conservadorismo ideológico sustentado por pretextos moralistas e pela utopia do prêmio póstumo das "bênçãos futuras", uma forma confusa e vaga de definir as "recompensas" prometidas para os sofredores pela religião "espírita".
Há um saudosismo doentio em todos os aspectos, que no entanto garante uma estranha confiabilidade dos seus detentores. Todos parecem empenhados e confiantes em recuperar padrões obsoletos de vida social, que nada dizem para os dias de hoje, mas cujos defensores persistem em resgatá-los e fazer prevalecer até em sociedades futuras.
É como se o passado quisesse ser dono do futuro. É a rebelião do mofo tóxico contra o ar puro. É a recusa de admitir novos tempos e a teimosia em recuperar o irrecuperável, criando uma ilusão de tranquilidade ou, na pior das hipóteses, de triunfalismo da parte de seus defensores ou agentes.
Afinal, existe também a pressão de outra parte da sociedade, que quer reafirmar os novos tempos, e não aceita que antigas desigualdades ou antigos dogmas, mesmo obsoletos, retornem como se fossem atuais, e a intransigência dos retrógrados revela o quanto pessoas desse nível ainda se mantém numa ilusão de invulnerabilidade, como se acreditassem num triunfo futuro.
Esse é o grande problema da humanidade. É um grande risco do futuro ficar refém do passado. E tal coisa é expressa por diversos movimentos sociais, políticos e religiosos que querem que a Terra volte aos estágios medievais ou teocráticos, retomando estruturas arcaicas de sociedades desiguais, misticamente subordinadas e rigidamente hierarquizadas. Cabe pensarmos nesse grave problema.
terça-feira, 5 de julho de 2016
Retrocessos sociais podem aumentar a violência em todo o Brasil
A MÉDICA GISELE PALHARES, MORTA DIAS ATRÁS EM UM ASSALTO NA LINHA VERMELHA, NO RIO DE JANEIRO.
A chamada "sociedade civil" brasileira está brincando com fogo quando clama pelo resgate de valores "sagrados" ou "estáveis" que na verdade correspondem a retrocessos diversos feitos para salvar privilégios econômicos e sociais e valores hierárquicos.
As passeatas pelo "Fora Dilma" abriram caminho para um governo de moldes ultraconservadores que é o do presidente interino Michel Temer, que causou um cenário político de disparada nos preços dos produtos, aumento de desemprego e propostas que preveem retrocessos sociais de qualquer espécie, sempre em prejuízo às classes populares, maioria no povo brasileiro.
A questão da hierarquia, que é objeto da maior, embora silenciosa, crise que atinge todo o país, fez com que setores da classe média manipulados pelos meios de comunicação - controlados por oligarquias riquíssimas, como é o caso da Rede Globo de Televisão - pedissem o fim de "13 anos de roubalheira" e quisessem tirar Dilma Rousseff do poder.
A crise da hierarquia atinge todos: empregadores, acadêmicos, políticos, profissionais liberais, empresários, celebridades, tecnocratas. Gafes, crimes e outras irregularidades graves envolvem pessoas de algum status quo. E a própria base de apoio dessa sociedade retrógrada, com jovens capazes de fazer cyberbullying na Internet ou exibir símbolos nazistas nas ruas, é uma amostra de como o topo da pirâmide anda cada vez mais apodrecido.
Enquanto isso, o governo Michel Temer planeja uma política de austeridade sócio-econômica que vai entre outras coisas, deixar os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. Investimentos à Saúde e Educação serão reduzidos, o mercado de trabalho será desqualificado com o fim de encargos e a desvalorização salarial, os preços já aumentam de forma descontrolada e constante.
Diante desse processo de verdadeira "higienização social" - movido por um mercado de trabalho socialmente preconceituoso e menos inclinado a talentos diferenciados, preferindo adotar critérios de conveniência social, e por um sistema de preços que só serve para afastar certos produtos do alcance de consumidores "socialmente inferiores" - , a sociedade brasileira sofre um grave perigo.
Na medida em que se afasta as classes populares dos benefícios alcançados nos últimos anos, e conforme as autoridades "mais responsáveis", sobretudo do estilo "administrativo" do PMDB carioca, que não resolvem o problema da segurança pública nem fazem políticas de melhorias sociais para as comunidades pobres, as pessoas mais pobres se expõem a infortúnios pesados que, em indivíduos menos pacientes, pode gerar ações vingativas.
Se, da parte de classes mais abastadas, os crimes são feitos para preservar os privilégios que têm ou para se vingar de privilégios perdidos - como os feminicídios conjugais cujos criminosos se vingam da perda dos "troféus sexuais" que suas companheiras lhes representavam, tirando-lhes a vida - , nas classes populares os crimes são feitos por quem geralmente não consegue obter algum benefício, nem mesmo um emprego.
É ilustrativo que em áreas de governos irregulares, como as decadentes cidades do Rio de Janeiro e de Niterói (esta com o agravante de ser uma cidade provinciana que nenhuma cidade provinciana gostaria de ser, com lojas fechando aos montes enquanto o prefeito Rodrigo Neves ganha prêmio por "empreendedorismo"), os assaltos aumentaram drasticamente e ocorrem até à luz do dia.
No Rio de Janeiro, balas perdidas e assaltos diversos já dizimaram várias pessoas, independente das classes sociais. Cinco jovens pobres que comemoraram conquistas de emprego e estudo foram assassinados por policiais, em 2015. Recentemente, uma médica de Nova Iguaçu, Gisela Palhares, de 34 anos, foi assassinada por uma quadrilha de assaltantes, na Linha Vermelha.
Os assaltos podem aumentar diante da situação irremediável a que serão condenados muitos pobres. A desqualificação do mercado de trabalho e a desvalorização dos salários pode, com o fim da auto-estima das classes populares, poder causar revolta naqueles que antes eram esperançosos e, assim, levar muitas pessoas à ação criminosa, pela falta de algum meio de obter renda de maneira honesta para sua sobrevivência.
A violência pode se voltar cada vez mais para as classes mais abastadas, sobretudo porque as políticas de segurança são muito frouxas. Dentro desse quadro caótico de descaso político e administrativo, e do propósito elitista de reverter os avanços obtidos pelos governos de Lula e Dilma Rousseff, a revolta popular pode se voltar justamente contra quem defendeu com tanta urgência o "Fora Dilma".
Não é preciso dizer que cenários políticos como os últimos anos da ditadura militar e os governos de José Sarney, Fernando Collor e os momentos de crise de Fernando Henrique Cardoso foram épocas de muita violência. A falta de ações para garantir não só o emprego e alguma renda, mas qualidade de vida e outros benefícios, até mesmo educacionais, podem transformar o país num território de uma verdadeira guerra civil.
Com a terceirização do emprego que reduzirá os assalariados aos padrões do trabalho informal, projetos como Escola Sem Partido que proibirão os debates sobre problemas sociais e a privatização de serviços essenciais que fará com que eles tenham o caos que se vê hoje na telefonia, cada vez mais cara e incompetente, podem pesar nas contas futuras da sociedade que quer se beneficiar com o atual cenário político.
Sem salários dignos, sem qualidade de vida, sem garantias sociais e sem uma educação que discutisse e esclarecesse os valores morais, as pessoas ficarão mais egoístas, arrivistas, vingativas, reacionárias e preconceituosas, e o Brasil se tornará ainda mais violento, como foi no momento de crise no final da Era Geisel, com um AI-5 revogado de maneira humilhante, sem poder "moralizar" o país pela repressão.
O crime se tornou mais organizado, as elites também passaram a praticar crimes, os reacionários se manifestando de maneira violenta, o desrespeito humano se banalizando, tudo isso foi se consolidando no final da Era Geisel, já que a sociedade "equilibrada" de 1974 deixou suas máscaras caírem.
Não adiantou a Rede Globo reinventar Francisco Cândido Xavier inspirado num documentário sobre Madre Teresa de Calcutá. O mito "filantrópico" de Chico Xavier, feito para adoçar as mentes brasileiras nessa época de crise, só fez resgatar uma religiosidade ultraconservadora que em nada contribuiu para resolver de forma corajosa as injustiças e desigualdades vividas. Muito pelo contrário.
O que vemos é um saudosismo doentio, obsessivo, paranoico e viciado de pessoas que nunca deixaram de sentir saudade da Era Geisel, tentando a todo custo voltar o relógio social para 1974, o que pode, diante de novos contextos que exigem transfomação, criar um quadro ainda mais desastroso, próximo ao de uma catástrofe social. Pois desta vez é a plutocracia e as elites associadas que pagarão o preço caro de quererem retroceder o país.
A chamada "sociedade civil" brasileira está brincando com fogo quando clama pelo resgate de valores "sagrados" ou "estáveis" que na verdade correspondem a retrocessos diversos feitos para salvar privilégios econômicos e sociais e valores hierárquicos.
As passeatas pelo "Fora Dilma" abriram caminho para um governo de moldes ultraconservadores que é o do presidente interino Michel Temer, que causou um cenário político de disparada nos preços dos produtos, aumento de desemprego e propostas que preveem retrocessos sociais de qualquer espécie, sempre em prejuízo às classes populares, maioria no povo brasileiro.
A questão da hierarquia, que é objeto da maior, embora silenciosa, crise que atinge todo o país, fez com que setores da classe média manipulados pelos meios de comunicação - controlados por oligarquias riquíssimas, como é o caso da Rede Globo de Televisão - pedissem o fim de "13 anos de roubalheira" e quisessem tirar Dilma Rousseff do poder.
A crise da hierarquia atinge todos: empregadores, acadêmicos, políticos, profissionais liberais, empresários, celebridades, tecnocratas. Gafes, crimes e outras irregularidades graves envolvem pessoas de algum status quo. E a própria base de apoio dessa sociedade retrógrada, com jovens capazes de fazer cyberbullying na Internet ou exibir símbolos nazistas nas ruas, é uma amostra de como o topo da pirâmide anda cada vez mais apodrecido.
Enquanto isso, o governo Michel Temer planeja uma política de austeridade sócio-econômica que vai entre outras coisas, deixar os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. Investimentos à Saúde e Educação serão reduzidos, o mercado de trabalho será desqualificado com o fim de encargos e a desvalorização salarial, os preços já aumentam de forma descontrolada e constante.
Diante desse processo de verdadeira "higienização social" - movido por um mercado de trabalho socialmente preconceituoso e menos inclinado a talentos diferenciados, preferindo adotar critérios de conveniência social, e por um sistema de preços que só serve para afastar certos produtos do alcance de consumidores "socialmente inferiores" - , a sociedade brasileira sofre um grave perigo.
Na medida em que se afasta as classes populares dos benefícios alcançados nos últimos anos, e conforme as autoridades "mais responsáveis", sobretudo do estilo "administrativo" do PMDB carioca, que não resolvem o problema da segurança pública nem fazem políticas de melhorias sociais para as comunidades pobres, as pessoas mais pobres se expõem a infortúnios pesados que, em indivíduos menos pacientes, pode gerar ações vingativas.
Se, da parte de classes mais abastadas, os crimes são feitos para preservar os privilégios que têm ou para se vingar de privilégios perdidos - como os feminicídios conjugais cujos criminosos se vingam da perda dos "troféus sexuais" que suas companheiras lhes representavam, tirando-lhes a vida - , nas classes populares os crimes são feitos por quem geralmente não consegue obter algum benefício, nem mesmo um emprego.
É ilustrativo que em áreas de governos irregulares, como as decadentes cidades do Rio de Janeiro e de Niterói (esta com o agravante de ser uma cidade provinciana que nenhuma cidade provinciana gostaria de ser, com lojas fechando aos montes enquanto o prefeito Rodrigo Neves ganha prêmio por "empreendedorismo"), os assaltos aumentaram drasticamente e ocorrem até à luz do dia.
No Rio de Janeiro, balas perdidas e assaltos diversos já dizimaram várias pessoas, independente das classes sociais. Cinco jovens pobres que comemoraram conquistas de emprego e estudo foram assassinados por policiais, em 2015. Recentemente, uma médica de Nova Iguaçu, Gisela Palhares, de 34 anos, foi assassinada por uma quadrilha de assaltantes, na Linha Vermelha.
Os assaltos podem aumentar diante da situação irremediável a que serão condenados muitos pobres. A desqualificação do mercado de trabalho e a desvalorização dos salários pode, com o fim da auto-estima das classes populares, poder causar revolta naqueles que antes eram esperançosos e, assim, levar muitas pessoas à ação criminosa, pela falta de algum meio de obter renda de maneira honesta para sua sobrevivência.
A violência pode se voltar cada vez mais para as classes mais abastadas, sobretudo porque as políticas de segurança são muito frouxas. Dentro desse quadro caótico de descaso político e administrativo, e do propósito elitista de reverter os avanços obtidos pelos governos de Lula e Dilma Rousseff, a revolta popular pode se voltar justamente contra quem defendeu com tanta urgência o "Fora Dilma".
Não é preciso dizer que cenários políticos como os últimos anos da ditadura militar e os governos de José Sarney, Fernando Collor e os momentos de crise de Fernando Henrique Cardoso foram épocas de muita violência. A falta de ações para garantir não só o emprego e alguma renda, mas qualidade de vida e outros benefícios, até mesmo educacionais, podem transformar o país num território de uma verdadeira guerra civil.
Com a terceirização do emprego que reduzirá os assalariados aos padrões do trabalho informal, projetos como Escola Sem Partido que proibirão os debates sobre problemas sociais e a privatização de serviços essenciais que fará com que eles tenham o caos que se vê hoje na telefonia, cada vez mais cara e incompetente, podem pesar nas contas futuras da sociedade que quer se beneficiar com o atual cenário político.
Sem salários dignos, sem qualidade de vida, sem garantias sociais e sem uma educação que discutisse e esclarecesse os valores morais, as pessoas ficarão mais egoístas, arrivistas, vingativas, reacionárias e preconceituosas, e o Brasil se tornará ainda mais violento, como foi no momento de crise no final da Era Geisel, com um AI-5 revogado de maneira humilhante, sem poder "moralizar" o país pela repressão.
O crime se tornou mais organizado, as elites também passaram a praticar crimes, os reacionários se manifestando de maneira violenta, o desrespeito humano se banalizando, tudo isso foi se consolidando no final da Era Geisel, já que a sociedade "equilibrada" de 1974 deixou suas máscaras caírem.
Não adiantou a Rede Globo reinventar Francisco Cândido Xavier inspirado num documentário sobre Madre Teresa de Calcutá. O mito "filantrópico" de Chico Xavier, feito para adoçar as mentes brasileiras nessa época de crise, só fez resgatar uma religiosidade ultraconservadora que em nada contribuiu para resolver de forma corajosa as injustiças e desigualdades vividas. Muito pelo contrário.
O que vemos é um saudosismo doentio, obsessivo, paranoico e viciado de pessoas que nunca deixaram de sentir saudade da Era Geisel, tentando a todo custo voltar o relógio social para 1974, o que pode, diante de novos contextos que exigem transfomação, criar um quadro ainda mais desastroso, próximo ao de uma catástrofe social. Pois desta vez é a plutocracia e as elites associadas que pagarão o preço caro de quererem retroceder o país.
domingo, 3 de julho de 2016
Brasileiros continuam iludidos com o status quo
O grande problema no Brasil é uma ilusão simplória. As pessoas ainda se apegam a padrões de status quo que fazem com que se estabeleça uma relação de hierarquia que perde cada vez mais o sentido, mas que diante disso resistem de maneira permanente.
O governo de Michel Temer mostra o quanto o status quo mostra suas armadilhas num país marcado pela mediocridade sócio-cultural e pelas desigualdades sócio-econômicas. Temer se reveste de uma roupagem que reúne elegância pessoal e uma equipe de "notáveis" que, pelo menos em parte, se voltam a paradigmas técnicos ou o mito de que um distanciamento numa especialidade garantiria maior objetividade e isenção.
No entanto, esses mitos são derrubados com os inúmeros escândalos que um governo que pareceria retomar a "racionalidade" que ilude muitos que se constrangem quando operários ou ex-militantes estudantis (como Dilma Rousseff) detém o Governo Federal.
Sob a desculpa de atribuir poder a "especialistas", os brasileiros teimam em se apegar ao status quo na atribuição do poder decisivo. Muitas pessoas ainda raciocinam como se ainda vivêssemos sob a ditadura militar. A ideia de alguém, ao mesmo tempo especializado e distanciado, que decide por alguma coisa, alguém ao mesmo tempo "de fora" que se "especializa" a alguma coisa.
No âmbito da cultura, da política, da economia ou da mobilidade urbana, surgem "deuses" que ocupam o Olimpo da adoração coletiva através desses atributos que envolvem desde paradigmas de elegância e etiqueta (como o sisudo Michel Temer) até mitos de austeridade (Roberto Campos), metodismo (Jaime Lerner) e objetividade (Fernando Henrique Cardoso).
Mas tudo isso tem seu preço. O mito de objetividade atinge até mesmo a adoração de uma rede de televisão que se passa por "plural", a Rede Globo de Televisão, juntamente com seus derivados midiáticos (O Globo, Época e Globo News, por exemplo).
Ela chega mesmo à cultura jovem, quando, contrariando o estigma de rebeldia e engajamento do rock, uma parcela da sociedade aceita que uma rádio sem vocação nem tradição, a Rádio Cidade, do Rio de Janeiro, seja uma "rádio rock" sem ter pessoal especializado no ramo, composto por locutores ligados a FMs de pop dançante ou música popularesca.
É o status quo. Uma rádio que, para o rock, é completamente incompetente e constrangedora, cuja abordagem do gênero não chega a cobrir o básico - a divulgação de bandas seminais chega, em muitos casos, a se reduzir a uma única música e a grade de programação prioriza somente programas de besteirol e de sucessos musicais - , mas cuja defesa extrema, pelo mercado, pela mídia e pela juventude, se dá pelo status quo.
Neste caso, aspectos são considerados: o impecável departamento comercial que aparentemente compensa uma programação completamente desastrada, o bom relacionamento dos donos da Rádio Cidade com os grandes empresários de shows (como Roberto Medina) e até o mito, defendido pelos reacionários produtores da emissora, de que contratar radialistas sem envolvimento com rock traria o "distanciamento necessário para uma atuação mais imparcial".
Aí tem problemas. Atuação "imparcial" é botar programas de besteirol sem relação com o rock - um deles é sobre futebol, esporte cujos adeptos, em maioria esmagadora, não gostam do gênero - , tocar somente os hits e despejar gírias, não bastasse o nome "Rádio Cidade", de tão banal (há até rádios homônimas de perfil evangélico), nada dizem como diferencial para o público roqueiro?
São problemas de status quo, que no âmbito geral são mostrados pelos sucessivos escândalos que atingem o governo Michel Temer, envolvendo o próprio presidente interino, desafiando a opinião pública que costuma divinizar o status quo através de mitos ligados à disciplina, técnica e objetividade que se desgastam de forma avassaladora, ainda que denunciar esse desgaste cause muita irritação na sociedade.
ATÉ O "ESPIRITISMO" SOFRE DESSA ILUSÃO
E ainda não falamos da mobilidade urbana, em que o "padrão Jaime Lerner" estabelece uma superioridade messiânica mesmo quando seu plano para o transporte coletivo esconde empresas de ônibus sob uma pintura padronizada, há demissão em massa de cobradores de ônibus por causa da dupla função do "motorista-cobrador" e obriga as pessoas a fazer baldeação em dois ou três ônibus por causa dos mitos do "sistema integrado" e da supervalorização do Bilhete Único.
Mesmo quando Lerner está associado à ditadura militar, quando o arquiteto paranaense era filiado à ARENA e havia se tornado "prefeito biônico" (nomeado pelos generais) de Curitiba, e pelo fato de, como político, ele ter praticado corrupção, a reputação "divina" ainda continua inabalada.
É o apego ao status quo, que em várias ocasiões faz emergir bordões como "rouba mas faz" e que, no "espiritismo" poderia ter um outro bordão, de significado próximo: "faz fraude mas é bom". Pois o "'rouba mas faz' espírita" faz com que os anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco tenham uma blindagem social, midiática, política e jurídica de fazer os políticos do PSDB ficarem babando.
Se já é aberrante um político como o senador Aécio Neves, envolvido até a medula em tantos escândalos de corrupção, mas tem a sorte da blindagem da mídia (sobretudo Veja e Rede Globo) e de setores do Judiciário (não fosse a parcialidade do juiz Sérgio Moro, Aécio já estaria na cadeia há um bom tempo), imagine então em "espíritas" que fazem pastiches literários e inserem mistificação barata sob o manto da "caridade".
Chico Xavier nunca passou de um católico paranormal que realizou pastiches literários e outros truques ilusionistas. Não era menos traiçoeiro que Otília Diogo e, pelo que realmente fez, Chico só seria lembrado, entre nós, na melhor das hipóteses, como um verbete pitoresco do Guia dos Curiosos. No entanto, sua reputação cresceu de forma descontrolada, alimentada por interesses mesquinhos da FEB e até da Rede Globo de Televisão, que hoje Chico Xavier é visto como um quase "deus".
Divaldo Franco segue o mesmo caminho, à sua maneira, pois, diferente do mineiro, o baiano é mais sutil nas suas manobras. Adota uma estética de professor dos anos 1920-1940, com uma retórica rebuscada, como nos oradores da República Velha, reunindo valores simbólicos ligados ao moralismo, à etiqueta e padrões hierárquicos.
Ele é um demagogo, um deturpador religioso que em países mais evoluídos, seria desmascarado como um charlatão explorador da fé alheia. Mas Divaldo é beneficiado pela simbologia do status quo que já blinda Chico Xavier em outros aspectos, ligados a estigmas de "velhice" e "bondade".
O status quo da fé religiosa, a exemplo do que ocorre com o ideal dos festejos profanos, vale por uma relativa inversão valorativa em que ideias que nunca seriam apoiadas em condições normais passam a ser defendidas até com um certo fanatismo.
Nos festejos profanos (como nas ditas "baladas" defendidas pelo entretenimento midiático, juntamente com "bailes funk", vaquejadas, micaretas etc), a inversão consiste em adotar práticas de liberdade sexual e instintiva que o discurso moralista usualmente condena em ocasiões comuns.
Na fé religiosa, a ideia condenável é a simbologia de pessoas idosas, frágeis, doentes e humildes, vistos como "escória" pelo discurso elitista. No entanto, esse mesmo discurso admite a valorização destas ideias quando elas se voltam ao âmbito religioso, até porque esse é um setor para o qual se destinam "lavagens de dinheiro" de corruptos ou a doação de objetos considerados obsoletos ou fora de moda pelas pessoas ricas.
Esse cenário de "inferioridade social" aceita pelo imaginário elitista devido ao âmbito religioso é também uma forma das elites reservarem à classe média os meios de diminuir apenas os danos extremos de miséria e pobreza, sem que exigissem dos mais ricos se comprometer a tais tarefas ou abrir mão de seus privilégios exorbitantes. Na sociedade elitista, enquanto os ricos têm um excedente de bens e privilégios, a classe média torna-se fiadora da relativa resolução da pobreza e miséria.
CRISE DE VALORES
A crise que se nota no Brasil não é uma simples crise econômica ou de administração política. Não é uma mera crise de segurança, que faz estourar a violência nas ruas nem no desvio de verbas necessárias para investimentos diversos.
É, na verdade, uma crise de valores. Se um hospital é invadido por bandidos para libertar um comparsa, se existe barata na merenda escolar, se um ônibus com pintura padronizada sofre acidente de trânsito com 40 feridos e se até o presidente interino da República é indiciado por corrupção (e até condenado a não concorrer em cargos eletivos por oito anos), isso não é uma crise política ou econômica.
A crise atinge vários sentidos. Cultural, moral, existencial, midiática, urbana, automotiva etc. Uma crise que se apoia no desgaste de reputações. Pois os maiores envolvidos em corrupção e fraudes são justamente pessoas que ainda gozam de prestígio porque simbolizam o status quo político, econômico, administrativo, técnico, acadêmico, midiático e religioso.
De Luciano Huck a Jaime Lerner, de Aécio Neves a Chico Xavier, da Rede Globo à Rádio Cidade, das filiais brasileiras da MC Donald's à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), do "funk carioca" ao BRT, tudo isso simboliza o desgaste de decisões e práticas que se respaldavam em uma alegada superioridade de pretensos detentores de superioridade nos âmbitos de status acima citados.
Isso desnorteia gravemente nossa sociedade, que fica confusa e desorientada. Ela não quer ver cair seus totens envolvidos em escândalos gravíssimos. Prefere a ilusão fácil do bordão "quem nunca erra?", ignorando que os erros que seus ídolos de diversos tipos fazem e os que instituições e medidas provocam causam um sério prejuízo de proporções incalculáveis para a população.
É através dessa ilusão do "quem nunca erra?", que mais parece uma sutil apologia a erros graves cometidos por gente "tarimbada" que o Brasil está sofrendo a crise extrema que envergonha o mundo. A complacência ao status quo que permite que os "de cima" cometam erros graves que supostamente "não fazem mal" faz com que tantos prejuízos, irregularidades e escândalos aconteçam. Não será hora de sacrificar e derrubar muitos totens em nome da ética, da coerência e do bom senso?