sábado, 19 de março de 2016
Prisão de suspeitos é pioneira na criminalização da trolagem
Nesta semana, ocorreram várias prisões, em Estados diferentes do país, de suspeitos de fazer trolagem, publicando comentários racistas contra celebridades, como as negras Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes (atrizes) e Maria Júlia Coutinho (jornalista).
Entre eles, está Tiago Zanfolim Santos, que foi preso em Brumado, Bahia, enquanto outros foram presos em operações conjuntas em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outros suspeitos estão sendo investigados e também começou a ser feita uma operação de busca e apreensão de material.
A iniciativa, comemorada pela atriz Taís Araújo, é um precedente para criminalizar a trolagem, prática reacionária feita na Internet, em que um grupo de internautas combina um ataque conjunto contra uma vítima, seja para defender valores pré-estabelecidos - considerados "novidades" impostas pelo mercado, pela mídia e pelo poder político - ou preconceitos sociais.
De valores machistas ou racistas até fenômenos ou medidas considerados "vigentes" - como a pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, a gíria midiática "balada" (associada a Luciano Huck) e a programação "roqueira" da carioca Rádio Cidade (que não tem vocação para o rock, mas conta com um forte lobby empresarial para tal tarefa), os troleiros ou trolls desmoralizavam os discordantes através do cyberbullying.
A prática é quase sempre a mesma. Seja na página de recados, em um fórum ou mesmo petição - práticas de trolagem foram identificadas até em uma petição contra pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, com ataques liderados por um busólogo da Baixada Fluminense - , são combinados envios de mensagens ofensivas para as vítimas, transmitidas num horário determinado.
São geralmente pessoas dotadas de evidentes preconceitos sociais. Pessoas que parecem "cães de guarda" de valores retrógrados ou pré-estabelecidos, geralmente sob decisão "de cima". Defendem de visões pejorativas para certos grupos sociais - como homossexuais, feministas e negros - a modismos que não são tão vantajosos, como o fato da Rádio Cidade se passar por "rádio rock" no RJ.
Em muitos casos, blogues ofensivos também são criados, em geral parodiando as atividades ou o patrimônio de sua vítima, em que até fotos particulares são reproduzidas indevidamente para fins de calúnia e difamação.
Na busologia, um blogue de "Comentários Críticos" foi criado contra quem discordar dos projetos de Eduardo Paes. O blogueiro "crítico" (o busólogo da Baixada Fluminense, a serviço de uma prefeitura) chegou a fazer "patrulhas" em Niterói, "visitando" a cidade sob o pretexto de fotografar ônibus, mas visando ameaçar busólogos emergentes e barrar a ascensão de um grupo de busólogos de São Gonçalo.
Um outro blogue, "Lola, Escreva, Lola", parodiando o blogue Escreva, Lola, Escreva, da professora de ativista feminista Lola Aronovich, também foi criado no sentido ofensivo. Ambos foram extintos depois que foram denunciados pelo SaferNet, portal especializado em receber denúncias criminais.
Inicialmente, organizações criminosas como os grupos de trolagem - que juridicamente passam a ser acusados, entre outros crimes, de "formação de quadrilha" - agiam contra pessoas anônimas ou semi-anônimas, no sentido de evitar a propagação de ativismo social nas redes sociais da Internet.
Em seguida, as trolagens passaram a atingir pessoas famosas, já que, em princípio, as práticas contra pessoas comuns não parecessem sensibilizar a sociedade, sendo vistas por muitos ingênuos como "simples brincadeiras".
Foi a partir das trolagens que atingiram de Taís Araújo a Lola Aronovich e que expressam o reacionarismo de uma parcela da juventude brasileira, que a opinião pública começou a perceber o grave problema. E isso quando os troleiros passaram a agredir na rua, como no caso de dois jovens ricos e famosos que tentaram xingar o compositor Chico Buarque.
Diante da prisão dos primeiros acusados, cria-se uma nova realidade na qual muitos troleiros terão que perceber, o que mostra que as humilhações digitais começam a ver terminar seu período de impunidade absoluta. E mostram também que, para quem não é necessariamente um troleiro mas pega carona na trolagem de um "cara mais irado", a "brincadeira digital" pode também custar caro para sua vida.
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