domingo, 20 de março de 2016
Por que a grande mídia blinda tanto os anti-médiuns "espíritas"?
É para observar, com certa cautela, a blindagem que a grande mídia reacionária, sobretudo a Rede Globo de Televisão, faz com os ídolos do "espiritismo", como os chamados anti-médiuns. O teor de tendenciosismo que está por trás não deve ser visto como mera coincidência.
Observa-se que a Rede Globo de Televisão foi responsável direta pelo relançamento do mito de Francisco Cândido Xavier. Tomando como base um documentário feito pelo jornalista britânico Malcolm Muggeridge sobre Madre Teresa de Calcutá, todos os seus ingredientes foram utilizados para relançar o mito de Chico Xavier, enfatizando o lado "filantrópico".
Todo o roteiro de Muggeridge então foi reproduzido. O "filantropo" chegando a uma casa de caridade e sendo acolhido pela multidão. O "filantropo" cumprimentando velhos doentes. O "filantropo" segurando criança no colo. O "filantropo" acariciando doentes prostrados na cama. O "filantropo" dando depoimentos com frases de efeito, supostamente "sábias".
Todo esse marketing causou deslumbramento no grande público, hipnotizado por toda essa espetacularização da caridade que mais deslumbra do que transforma as pessoas, e traz defensores fanáticos que são tomados pela teimosia e pela cegueira emocional.
A Globo sempre protegeu Chico Xavier e, por conseguinte, Divaldo Franco, por ver que eles, aos olhos dos executivos das Organizações Globo, são "cartas na manga" para concorrer com o religiosismo da Rede Record representado pela Igreja Universal do Reino de Deus.
E por que o "espiritismo" brasileiro é tão cortejado pela Rede Globo? Ela não é uma emissora católica, as Organizações Globo não eram uma empresa assumidamente ligada à Igreja Católica? A resposta está em aspectos bastante sutis.
É claro que a Globo poderia usar ídolos católicos como os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo. Mas isso seria ser explícito demais. Sendo o "espiritismo" brasileiro uma religião de bases católicas - a doutrina brasileira sempre esteve distante do cientificismo de Allan Kardec - , a Globo entende isso como um "catolicismo à paisana" e, por isso, uma peça mais hábil de manipulação.
"FILANTROPIA" ANESTESIANTE
É ilustrativo que o mito de Chico Xavier tivesse sido retrabalhado numa época de profunda crise social, como foi na época do governo do general Ernesto Geisel (1974-1979). A ideia, um tanto falaciosa, de exaltar a "missão fraterna" do anti-médium mineiro passou a ser uma fórmula eficaz de dominação e manipulação dos corações e mentes.
Através de uma campanha midiática no qual se evoca a pieguice emocional e o deslumbramento religioso, a Globo retrabalhava Chico Xavier como um ídolo que estivesse associado a estereótipos de "amor e bondade" que estabelecem um efeito anestesiante nas mentes das pessoas.
Desse modo, não era preciso fazer ativismo social, porque o "ativismo" defendido por setores conservadores da sociedade já estava sendo feito pela "caridade" religiosa. A "voz do silêncio", a resignação "em paz", o sofrimento "suportado" pela fé, a "ajuda aos necessitados" sem mexer nos privilégios de poder, todas essas "coisas lindas" que fazem muitos incautos dormirem felizes.
Não há o "incômodo" de combater privilégios abusivos. Faz-se a "caridade" sem ferir os egoísmos dos "bem de vida". E é isso que faz com que haja fanáticos deslumbrados com Chico Xavier e Divaldo Franco, com seu "ativismo" feito à maneira que a Rede Globo quer.
É irônico que, naquela época, o mito de Chico Xavier era trabalhado enquanto se ascendia um operário sindicalista, ninguém menos que Luís Inácio Lula da Silva, o "bode expiatório" de toda a crise nacional de hoje, na condição de ex-presidente da República.
Daí, cria-se uma inversão de valores. O Chico Xavier que plagiava livros, fazia grotescos pastiches literários e enganava muita gente dizendo que "recebia mensagens do além", virou o "maior exemplo de caridade e perfeição humana do país". O Lula que tentou melhorar a vida dos cidadãos em seu governo e virou o "maior ladrão da História do Brasil".
E o "espiritismo", que usa uma roupagem "ecumênica" e uma postura supostamente despretensiosa - a doutrina brasileira, em tese, afirma não cobrar dinheiro para ajudar as pessoas nem forçá-las a ter uma religião - , foi propagado pela Rede Globo de maneira "independente" e "laica", o que enganou até quem é anti-Globo, além de esquerdistas e ateus.
A Globo tem essa habilidade. Se gírias como "balada" e "galera" ou o jargão "cliente" (que agora substituiu a palavra "freguês"), expressões do "vocabulário de poder" analisados, no exterior, por intelectuais como o jornalista inglês Robert Fisk (nenhuma relação com uma empresa de curso de inglês existente no Brasil), propagam fora da linha de respaldo "global", ídolos religiosos associados a uma imagem de "bondade" também sofrem o mesmo efeito.
E é isso que os executivos da Globo fazem. Através dela, um Luciano Huck pode introduzir seus valores e abordagens até nas mentes de uma parcela de detratores. Sendo assim, empurrar Chico Xavier e Divaldo Franco para serem adorados até por comunistas e ateus torna-se uma boa manobra de manipulação da Rede Globo, como forma de domesticar os movimentos sociais.
Afinal, há todo um simulacro que disfarça bem o ranço católico dos dois anti-médiuns. Os dois, além de "ecumênicos", passam uma falsa imagem de "filósofos", uma aparência de tolerantes e versáteis, e com isso até setores sociais que poderiam se opor a eles acabam a eles aderindo. Não é porque eles são as perfeições humanas que se alardeia por aí, mas é pela imagem midiática que os torna "mais agradáveis" a diversos setores sociais.
Daí que o "catolicismo à paisana" de Chico Xavier e Divaldo Franco é uma forma do poder midiático - não apenas a Globo, mas principalmente ela - manipular as pessoas com mais eficácia do que os programas e emissoras estritamente religiosos, podendo fazer frente a figuras ideologicamente "fechadas" como Edir Macedo, R. R. Soares e Silas Malafaia.
E essa blindagem reapareceu agora quando se fala que Chico Xavier e Divaldo Franco "promoveram caridade", quando sabemos que isso é mito e o que eles fizeram não foi mais do que ações paliativas e mornas, sem muita transformação social.
Dessa forma, o deslumbramento religioso é uma forma hipnótica de anestesiar as pessoas, diante da crise nacional, para que as pessoas sejam impedidas de lutar contra privilégios abusivos dos detentores do poder econômico, preferindo a caridade que "ajuda" sem mexer no "sistema".
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