segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Autenticações de obras de José Medrado não procedem
Diante dos festejos de aniversário do "médium" José Medrado, há poucos dias, pela alta sociedade baiana - é de surpreender que José Medrado e Divaldo Franco sejam muito adorados pelos ricaços de Salvador, Christopher Hitchens que o diga - , foi lançado um romance "mediúnico", Interesses, que só falta virar rádio novela naquela corrupta emissora baiana, a Rádio Metrópole, do demagogo eletrônico Mário Kertèsz, barão midiático local.
Com tanta badalação, os "espíritas" acabam lembrando das atividades de José Medrado nas artes plásticas "mediúnicas", e aí chegam os exemplos da crítica de arte Matilde Mattos, membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, e a mestranda da UFBA, Virgínia Muri (na foto, ao lado do próprio "médium"), dizendo que as pinturas e esculturas são "autenticamente espirituais", vendo nelas uma suposta identificação com os estilos originais dos autores alegados.
Nós observamos com muita atenção e cautela as pinturas que José Medrado atribui a vários autores espirituais - como Pierre-Auguste Renoir, Claude Manet e Edouard Monet, na pintura, e Aleijadinho, Frei Agostinho de Jesus e Camile Claudel, na escultura - vemos que não procede atribuir as autorias espirituais como autênticas, como Matilde e Virgínia classificaram.
Nós analisamos as pinturas, com o maior cuidado de pesquisa, comparando obras tidas como espirituais com as obras originais deixadas em vida, e nota-se uma disparidade aberrante de estilo. Monet, Renoir e Portinari, por exemplo, não correspondem seus respectivos estilos nas obras supostamente espirituais, que, no entanto, soam parecidas quanto ao estilo pessoal de José Medrado, que não mediu escrúpulos de usar uma mesma assinatura em todas elas.
As análises foram feitas em quatro diferentes artigos: 1, 2, 3 e 4. Neles verificamos detalhes de pintura e a forma como os objetos, rostos ou paisagens eram pintados, e, temos que garantir, José Medrado não recebeu espírito algum. Ele fez pessoalmente as pinturas, o que consiste numa fraude que, infelizmente, é vendida a preços caros como se fossem "relíquias".
NA ESQUERDA, PINTURA ORIGINAL DE PORTINARI. NA DIREITA, A DO SUPOSTO PORTINARI LANÇADA POR JOSÉ MEDRADO, O ESTILO DA PINTURA "MEDIÚNICA" NÃO PROCEDE EM RELAÇÃO AO ORIGINAL.
É lamentável que as pessoas, mesmo alguns críticos de arte, não observem as disparidades de estilo. Está muito claro que não são os espíritos que aparecem para pintar. As pinturas são parecidas entre si, mesmo quando o autor, o suposto médium, tenta reproduzir os estilos originais dos autores alegados, mas isso se torna impossível.
Os estilos nada têm a ver com os dos respectivos espíritos dos autores alegados, mas se parecem muito entre si, o que refletem tão somente o estilo pessoal do "médium". Acima vemos o caso de um São Francisco de Assis, por Cândido Portinari, e uma pintura atribuída ao mesmo autor, "psicografada" por José Medrado, e os estilos são muito diferentes, e a assinatura, então, não tem a ver com a do autor original.
CRISTO CARREGANDO A CRUZ, ORIGINAL DE ALEIJADINHO, E CRISTO DOLOROSO, QUE JOSÉ MEDRADO ATRIBUI AO ESPÍRITO DO ARTISTA BARROCO MINEIRO. ESTILO DA OBRA "MEDIÚNICA" NÃO PROCEDE COM O ORIGINAL.
Na escultura, ainda não fizemos um levantamento analítico, mas pegamos, como amostra, a forma como foi esculpido o rosto de Jesus na obra Cristo Carregando a Cruz, de Aleijadinho (apelido de Antônio Francisco Lisboa), e o Cristo Doloroso que José Medrado atribui ao espírito do artista mineiro.
Note que os estilos nada têm a ver entre si. O rosto de Jesus, por Aleijadinho, mostra uma face oval de olhos bem redondos e expressivos, e os lábios abertos e desenhados de maneira habilidosa, trazendo a dramaticidade do olhar aflito de Jesus com o sangue escorrendo de seu corpo ferido, no trabalho poeticamente esculpido pelo artista barroco.
Já o Jesus do Cristo Doloroso de José Medrado tem um rosto semi-quadrado, com um olhar mais frio e sisudo, sem a beleza lírica e dramática dos traços caraterísticos da obra de Aleijadinho. Não há como ver o artista mineiro no Cristo Doloroso. Os olhos não têm expressividade, os lábios também não, e tudo se resume a um busto que apenas reflete o estilo de José Medrado, até pelos traços terem similaridade com os dos rostos pintados ou esculpidos pelo "médium".
MUNDO ESPIRITUAL NÃO É "ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO"
O que pouca gente no Brasil consegue perceber ou tem coragem de admitir é que é praticamente impossível juntar uma grande turma de artistas para juntos lançarem obras num evento "espírita". Tudo parece bem intencionado, fascinante, encantador, mas é irreal e socialmente impossível de se acontecer.
Independente das obras serem fraudulentas ou não - elas demonstram serem mesmo fraudulentas - , é tecnicamente impossível que se possam reunir uma grande diversidade de pintores falecidos para uma atividade "mediúnica", porque vários deles já podem ter reencarnado e ninguém está aí para aparecer no Brasil como quem vai para a padaria da esquina.
Imaginem espíritos de diferentes épocas e lugares sendo juntados por um "médium" para fazer trabalhos, digamos, de pintura mediúnica. Isso não é possível. Esses espíritos têm destinos diferentes, vários deles já estão em alguma encarnação, muitos viveram em países distantes, não há um "médium" sair por aí dizendo "eu chamei toda a nata da História da Arte para trabalhar comigo".
Se há uma dificuldade para reunir uma turma escolar para a comemoração de 30 anos da classe, já que alguns não puderam vir e há casos de gente que já morreu, imagine então chamar pintores ou artistas plásticos de diferentes épocas, diferentes lugares.
Chamar artistas plásticos do além-túmulo não é como chamar uma geração de comediantes dos anos 1950-1960 para atuar com Chico Anysio, como havia feito na Escolinha do Professor Raimundo, nos anos 1990. Além do mais, vários desses comediantes já morreram.
Não, não dá. Espíritos não se juntam feito gado, com todo mundo junto para fazer uma atividade. Nem todo mundo está disponível. É como num festival cultural (música, teatro, artes plásticas) em que os produtores têm muita dificuldade para entrar em contato com artistas e agendar suas apresentações.
Ou então, no caso das artes plásticas, de combinar reunião de acervo e contato com pintores e artistas, não bastasse a elaboração de temas e outros critérios específicos. E nem todo mundo está aí para aparecer a qualquer momento.
Como na Terra, no mundo espiritual raramente as pessoas estão disponíveis para qualquer coisa. É aconselhável desconfiar do "médium" que promete reunir centenas de pintores falecidos de diversas épocas, diversos lugares e várias tendências. Isso indica uma grande fraude, pelas razões aqui apresentadas. Convém deixar a paixão religiosa de lado e tomar muito, muito cuidado.
domingo, 28 de fevereiro de 2016
O pretenso bom-mocismo de Chico Xavier
No programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo de Televisão, existem quadros relacionados, em tese, ao ativismo social, como debates sobre problemas cotidianos e aparente assistencialismo em que o programa "oferece" escolas e veículos reformados para telespectadores de origem humilde.
O aparente ativismo social de Luciano Huck é uma jogada de marketing. O apresentador e empresário, que havia sido playboy da alta sociedade de São Paulo, e hoje é radicado no Rio de Janeiro, começou como uma espécie de "Amaury Jr. para jovens", fazendo colunismo social para a juventude riquinha, e depois virou astro do entretenimento televisivo.
Até que ponto Luciano Huck poderá ser visto como um filantropo do futuro? O problema do Brasil é que a memória curta, um vício tão comum entre os brasileiros, cria armadilhas para a opinião pública na medida em que se apaga o passado sombrio de muitas personalidades, que passam a ser reconhecidas apenas pelas posturas tardias e tendenciosas que adotaram.
O Brasil tem muitos exemplos disso. O povo se esquece, por exemplo, que o arquiteto Jaime Lerner e o empresário e radialista baiano Mário Kertèsz, tidos hoje como "progressistas", eram políticos da ditadura militar e filiados à tenebrosa ARENA.
Da mesma forma, se esquece também que o dirigente esportivo Ricardo Teixeira favoreceu muito o futebol carioca, o mesmo que está na pauta do fanatismo de muitos cariocas (que, quando conhecem alguém, perguntam o seu time antes de perguntar o nome).
Mas, em outros âmbitos, as pessoas se esquecem que a FM carioca Rádio Cidade surgiu como rádio pop comum e nunca teve tradição nem vocação para rádio de rock, que o "funk carioca" foi uma jogada publicitária das Organizações Globo e da Folha de São Paulo e que impor pintura padronizada nas empresas de ônibus é uma medida originária da ditadura militar e não de governos progressistas.
A desinformação generalizada, a imbecilização que atinge a cultura popular, o reacionarismo da trolagem na Internet que defende o "estabelecido" pela mídia, pelo mercado e pelo poder político-institucional, norteiam, ou melhor, desnorteiam o inconsciente coletivo que está cada vez mais confuso num Brasil perdido entre a libertinagem sem freio e o moralismo rígido demais.
É esse contexto que figura o mito de "bondade" de Francisco Cândido Xavier, que, como um Luciano Huck do passado - guardadas as diferenças devidas de contexto - , foi o astro de um pretenso bom-mocismo feito pelo mercado midiático para deslumbrar e fanatizar a opinião pública.
A memória curta faz com que muitos esqueçam que Chico Xavier sempre foi um roustanguista convicto, mas com medo de assumir tal postura, e que ele era um plagiador e parodiador literário, através do deplorável livro Parnaso de Além-Túmulo, que por trás de aparentes semelhanças, há elementos que contrariam severamente os estilos pessoais dos autores alegados, havendo denúncia de que Chico Xavier havia plagiado Augusto dos Anjos usando o nome de Antero de Quental.
JOGADA PUBLICITÁRIA
O pretenso bom-mocismo de Chico Xavier é uma farsa que se arroga, graças à roupagem religiosa que tudo permite, até corrupção em nome da fé e da "caridade", na qual a "justiça de Deus" permite a impunidade mais absoluta, em resistir às pressões de diversos tipos.
A religião torna-se o escudo para que mentiras, mistificações traiçoeiras e abusos de todo tipo sejam protegidos. Se há uma investigação, os religiosos, desesperados, inventam que é "campanha de perseguição contra o bem", e até o mais sereno trabalho investigativo é classificado como "grito de feras ensandecidas movidas pela intolerância e impiedade".
Nota-se que, diante das denúncias de escândalos com a participação de Chico Xavier, que com muito gosto cometeu irregularidades sérias, não bastasse ter feito deturpações grosseiras da Doutrina Espírita a ponto de personificar o inimigo interno alertado por Erasto, e muito pior do que havia sido Jean-Baptiste Roustaing, há uma horda de fanáticos que, estes sim, atuam como feras ensandecidas.
Acreditando que Chico Xavier é "bondoso", por mais que minta, cometa fraudes ou coisa parecida, uma histeria que contamina até ateus (?!) e kardecianos autênticos, que acreditam ser possível a recuperação das bases espíritas originais mantendo o anti-médium nem que seja como enfeite, há a completa ignorância de como se deu essa imagem midiática.
Sim, isso mesmo, a "bondade" de Chico Xavier foi uma jogada de marketing. E não adianta os arrogantes chiquistas responderem "Ah, se é uma jogada de marketing, é uma boa jogada e os marqueteiros entenderam o valor do amor ao próximo", porque avisamos que o caráter de "bondade" de Chico Xavier é bastante duvidoso.
Há muitos aspectos sombrios relacionados a Chico Xavier, não bastasse uma foto antiga que circula na Internet, com o "médium" olhando de frente, de olhos expostos, que mostra um semblante bastante pesado e assustador. E citá-los não tem a ver com ódios nem intolerâncias, mas de observações cautelosas e bastante apuradas.
É só observar apenas uma seleção parcial de incidentes que mostram o quanto Chico Xavier não foi essa "bondade toda" que tanto falam, em breves relatos, o que podem seguramente desmascarar o anti-médium como mito de pretenso filantropo e de um ativista social que ele nunca foi, em nenhum momento:
- O "médium" consentiu que a FEB se "livrasse" do sobrinho Amauri Xavier Pena, que iria denunciar as irregularidades da federação e do "trabalho" do tio, e depois o jovem foi vítima de campanha difamatória do "movimento espírita" e, muito provavelmente, foi violentado num sanatório e teria sido envenenado, pois morreu cedo demais até para os padrões de quem bebia demais (que geralmente morre entre os 30 e 40 anos; Amauri morreu dez anos antes).
- Chico acusou, no livro Cartas e Crônicas, de 1966, as pobres vítimas do incêndio criminoso de um circo em Niterói, ocorrido cinco anos antes, de terem sido cidadãos da Gália, região da atual França que integrava o Império Romano, que sentiam prazer de ver hereges e inadimplentes serem queimados em praça pública. Além da acusação ser cruel e inverossímil (teriam todas as vítimas necessariamente vivido na Gália?), Chico ainda atribuiu a acusação a Humberto de Campos, mal disfarçado pelo pseudônimo Irmão X.
- Numa entrevista ao programa Pinga-Fogo, em 1971, Chico Xavier defendeu os generais da ditadura militar e, por associação, os torturadores e censores. Ele pediu para orarmos por eles, que estavam construindo o "reino de amor" (?!) do futuro. Reino de amor? Com o sangue derramado de inocentes? Os carrascos Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury também eram "espíritos de luz"?
- Quando amigos do jovem Jair Presente, que havia morrido afogado em 1974, lançaram dúvidas severas sobre as supostas psicografias atribuídas ao espírito do rapaz, Chico Xavier se irritou e reagiu de forma ríspida e grosseira. Ele definiu as dúvidas como "bobagem da grossa", num comentário rabugento, desconhecendo que era o direito dos jovens terem essa dúvida, afinal eles conviveram com Jair Presente.
- Desde quando se tornou mito religioso e intensificou as atividades "mediúnicas" produzindo "cartas" de pessoas falecidas, Chico Xavier acabou expondo as famílias à exploração sensacionalista de suas tragédias e fortaleceu a propaganda pessoal como pretenso mensageiro, produzindo, no entanto, mensagens que pareciam ter sempre o mesmo estilo e a mesma caligrafia, e aspectos que destoam da natureza pessoal de cada falecido, até mesmo o exagerado apelo igrejista.
- Chico Xavier dizia que não cobrava por consultas, não fazia questão de cachê, que preferia "viver pobre" (mas, perto de morrer, foi internado num bom hospital de Uberaba), mas o dinheiro de venda dos livros (produzidos em quantidade industrial e nem sempre realmente escritos pelo "médium") ia para os cofres dos dirigentes da FEB. Além disso, ninguém vira santo porque recusa receber cachê, porque aí não há caridade, e sim uma renúncia de faturamento.
- O próprio uso do nome de Humberto de Campos é uma perversidade sem tamanho. Talvez Chico Xavier tivesse pensado em usar o nome de Machado de Assis, mas seria fácil de desmascaramento, e aí usou-se o nome de Humberto, popular mas menos badalado em relação ao escritor de Dom Casmurro. O uso leviano do nome de Humberto era uma revanche pelo fato de Chico não ter sido devidamente elogiado, já que o autor maranhense temia pela concorrência da "literatura do além" que roubaria o espaço dos escritores vivos ou de seus legados em vida.
São tantas perversidades e pontos obscuros, que não compensam com a aparente "caridade" associada a Chico Xavier. Até porque, do lado da "caridade", as ações são muito confusas e não há clareza em dizer de que forma Chico realmente ajudou as pessoas, até porque a filantropia era paliativa, as mensagens, de um religiosismo conservador e o atendimento aos familiares dos mortos custava a ostentação sensacionalista destas famílias.
ESSES MANEQUINS DE PONTA-CABEÇA SÃO REENCARNAÇÕES DE ESTÁTUAS DE PATRÍCIOS ROMANOS?
Imaginamos como seria se deixássemos Luciano Huck ganhar fama de "bom moço. Um mito é construído e, se essa construção vingar por uma relativa porção de anos, cria-se uma falsa tradição na qual se atribui ao ídolo venerado qualidades que, na verdade, foram forjadas ou inventadas de maneira fraudulenta ou tendenciosa.
O Brasil é muito vulnerável à fabricação de mitos, e ao prolongamento da publicidade enganosa que, persuadindo por longos anos, torna-se "verdade absoluta". Por isso é que os brasileiros passam a ter uma percepção atrofiada das coisas e veem a realidade de maneira confusa na qual combinam desde incompreensões motivadas pela ignorância até arrogantes convicções pessoais.
Chico Xavier foi o Luciano Huck do passado, e seu artífice, o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, "mentor" material de Chico na Terra (Emmanuel era o mentor do além-túmulo), buscou transformar um criador de pastiches literários, a partir do estranhamente remendado Parnaso de Além-Túmulo, a pretenso filantropo.
E é aberrante que é a mesma sociedade que comete calúnias gratuitas e violentas contra o PT, fazendo abertas difamações a Lula, Dilma Rousseff, José Dirceu e outros, aceite que Chico Xavier minta, cometa fraudes e finja receber espíritos por ser "bondoso". Isso mostra o quanto está o nível ético das pessoas, movidas por paixões aqui e ali.
Daí que os defensores de Chico Xavier só conseguem provar uma coisa: são obsediados, apegados a um ídolo religioso e movidos tão somente por paixões terrenas das mais graves (os chiquistas demonstram serem fanáticos e raivosos). E mostra também que a religião não é tão purificadora assim, já que estereótipos podem ser perigosa e maliciosamente sedutores, vide o de Chico Xavier.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Em artigo da Revista Espírita, Allan Kardec fala sobre saber e crença
O "espiritismo" confunde Fé com Conhecimento. Tenta "cientificar" seu igrejismo, misturando as coisas, difundindo ideias que se contradizem entre si, e apelando para Allan Kardec só nos trechos que agradam os palestrantes e escrevinhadores brasileiros.
A tendência dúbia persiste, até mesmo na marra, e os "espíritas" reagem fazendo a mesma coisa, mantendo seu contraditório procedimento, de aceitar teorias científicas e religiosas que se chocam dolorosamente, mas que os "espíritas" teimam em manterem juntas sob o pretexto do "equilíbrio", como se ser contraditório fosse sinônimo de ser equilibrado. E não é.
Há um artigo de Allan Kardec na Revista Espírita, de fevereiro de 1867, intitulado "Livre Pensamento e Livre Consciência", que merece muita atenção e cuidado. Os deturpadores da Doutrina Espírita apreciam parcialmente o texto, quando se fala em "crença" e "tolerância", como se esses mercadores da "boa palavra" usassem Kardec para apelar para a aceitação e tolerância aos mesmos que distorcem e empastelam os próprios ensinamentos kardecianos.
Os "espíritas" usam toda a diversidade cultural e intelectual em proveito próprio. Citam ateus, cientistas, filósofos, artistas diferenciados, ou usam seus nomes para apoiar todo o igrejismo viscoso que se observa nas práticas "espíritas" brasileiras, sem medir escrúpulos em transformar, se quiserem, Albert Einstein em sacerdote e Raul Seixas em padre.
É muita contradição, o tempo todo. Um mesmo palestrante ou escritor "espírita" faz um texto igrejista em um momento: exalta o Evangelho, fala em milagres, recomenda a fé e diz que tudo isso é necessário para o bem estar emocional do indivíduo. Noutro momento, fala em Ciência, em buscar o Conhecimento, exalta o trabalho intelectual, recomenda o exame da lógica em prol da coerência.
Como se conseguisse nos enganar, o ideólogo "espírita" tenta criar uma ponte falsa para essas contradições: a "bondade". Com ilustrações de coraçõezinhos, crianças sorridentes e pessoas abrindo os braços para o céu ensolarado, é fácil se tranquilizar e aceitar como "equilíbrio" a grave contradição da fé deslumbrada e do raciocínio objetivo, como se a mistificação e a lógica que a primeira nega pudessem caminhar juntas.
Vamos reproduzir alguns textos do artigo de Allan Kardec na Revista Espírita, reproduzido aqui. Um conhecido palestrante "espírita" também os reproduziu, em passagens que lhe são agradáveis. Mas ele se esquece de outros conselhos de Allan Kardec, como recomendar ao ignorante não procurar saber o que não sabe, se não tem condições de compreender a nova ideia.
Não se trata de censura, mas de uma questão de responsabilidade, principalmente quado o ignorante que tenta forçar o seu saber, sem buscar os caminhos naturais do exame, da argumentação ou mesmo da identificação natural com a nova ideia, acaba desenvolvendo ideias erradas, inventando falsas concepções e tomando como certeza absoluta o que não passa de uma débil e improvável suposição.
O "espiritismo" que não entende de mediunidade - quase tudo que se produz sob esse pretexto são mensagens inventadas pelos "médiuns" e só servem como propaganda religiosa - reflete o quanto a doutrina brasileira que jura "fidelidade absoluta" a Allan Kardec o trai o tempo todo. Vamos aos trechos e a análises adicionais:
"O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a uma outra fé cega; de outro modo dito, uma nova escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crê-lo é preciso ignorar-lhe os primeiros elementos. Com efeito, coloca como princípio que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender é preciso fazer uso de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo antes de nada admitir, em saber o porquê e o como de cada coisa; também os Espíritas são mais suscetíveis do que os outros com relação aos fenômenos que saem do círculo das observações habituais. Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida e hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em lugar de dizer: "Crede primeiro, e compreendais em seguida, se o puderdes," ele diz: Compreendei primeiro e crereis em seguida se o quiserdes." Ele não se impõe a ninguém; diz a todos: "Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente se isto vos convém." Assim falando, ele se candidata e corta as chances da concorrência. Se muitos vão a ele, é que os satisfaz muito, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Àqueles que não o aceitam, ele diz: "Sois livres, e não vos quero; tudo o que vos peço, é de deixar-me a minha liberdade, como vos deixo a vossa. Se procurais me afastar, pelo medo de que vos suplante, é que não estais muito seguros de vós."
O Espiritismo não procurando afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, e nas condições do verdadeiro livre pensamento; não admitindo nenhuma teoria que não esteja fundada sobre a observação, ele está, ao mesmo tempo nas do mais rigoroso positivismo; tem, enfim, sobre seus adversários de duas opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância".
O que os "espíritas" se esquecem é que Kardec escreveu claramente que, para crer, é preciso compreender, ou seja, ter conhecimento rigoroso sobre uma coisa. Para obter compreensão, é preciso fazer uso do julgamento, ou seja, da avaliação, do exame, do questionamento.
Kardec descreve que o Espiritismo verdadeiro, o que ele codificou, "procura se dar conta de tudo antes de nada admitir", ou seja, antes que pudesse admitir ou, ao menos, supor alguma coisa, ele deve conhecer e verificar alguma ideia, saindo do círculo das observações habituais e sem repousar em teorias preconcebidas e hipotéticas, mas sobre a experiência e a observação dos fatos.
O pedagogo deixa claro, quando comenta: "(...) em lugar de dizer: 'Crede primeiro, e compreendais em seguida, se o puderdes', ele (o Espiritismo) diz: 'Compreendei primeiro e crereis em seguida se o quiserdes'". Está explícita a preferência do questionamento à fé, da observação que pode desmanchar impressões e dogmas que a crença religiosa simplesmente manteria de pé.
Se prestarmos atenção no texto, o "movimento espírita" simplesmente seria pego sem as roupas na mão. O texto desmascara os "espíritas" na sua teimosia em se manter em crendices religiosas, muito mal disfarçadas pelo simulacro de ciência que fazem, pelo malabarismo das palavras em que ideias opostas entre si "convivem harmoniosamente" sob os laços frágeis da "bondade".
O trecho final de Allan Kardec neste artigo é, na verdade, uma punhalada violenta nos "espíritas" brasileiros, quando fala que o Espiritismo tem na tolerância a vantagem sobre opiniões extremamente opostas - o cientificismo exagerado, que mais complica do que busca o Conhecimento, e a fé extrema, que prejudica o esclarecimento.
Com isso, Allan Kardec desmontou o castelo de areia armado pelos "espíritas" brasileiros, apoiados tanto num falso racionalismo de palavras rebuscadas, ideias confusas e textos prolixos quanto num religiosismo fanático de crenças fantasiosas e verdades absolutas construídas através de suposições.
Com isso, o proselitismo religioso travestido de "mediunidade", as fantasias sobre o mundo espiritual e os paralelismos católicos disfarçados em "práticas espíritas" são desmascarados pelo tranquilo processo de raciocínio lógico, questionamento e verificação de contradições e equívocos. Portanto, questionar o "espiritismo" brasileiro não é questão de intolerância, mas de pura observação.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Livro 'Data-Limite' viaja na maionese: "Menos religião"?
Sabe-se que o livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, a exemplo do documentário, é uma grande perda de tempo, por dar atribuições proféticas a um sonho de quem dorme, criando suposições um tanto catastrofistas para forçar a ascensão e, quem sabe, a hegemonia de uma seita religiosa brasileira.
"Ah, mas não são sonhos comuns. São sonhos de Chico Xavier", dirão os chiquistas. Isto não procede. Se Francisco Cândido Xavier é visto como "autoridade máxima" da humanidade, nem por isso seu sonho possa ser visto como previsão de coisa alguma.
Autoridades da Organização das Nações Unidas sonham todos os dias quando dormem e nenhum deles se preocupa em atribuir a quaisquer de seus sonhos alguma profecia ou previsão. O presidente dos EUA, Barack Obama, sonha quando dorme e nem por isso contrai profecias. Nem o papa Francisco I, quando dorme, se preocupa em atribuir alguma profecia em seu sonho.
E olha que a reputação de "autoridade" ou coisa parecida atribuída a Chico Xavier é extremamente duvidosa e altamente discutível. Ele não pode ser líder de coisa alguma pelo conjunto da obra, por ter feito fraudes e apoiado as fraudes dos outros. E ainda defendeu a ditadura militar, justamente no momento em que as torturas se tornavam mais intensas.
O livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, de autoria de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, é um festival de pretensiosismos, não bastasse a manipulação editorial que faz um livro de 350 páginas ter um conteúdo que caberia apenas em 100. O volume, quantitativamente, tem o conteúdo que caberia num volume da série Primeiros Passos da Brasiliense, se bem que, qualitivamente, o livro é mil vezes inferior.
Um dos pretensiosismos corresponde à postura pseudocientífica do "espiritismo" brasileiro. O livro é um produto da chamada tendência "dúbia", na qual o "movimento espírita", no discurso, exalta Allan Kardec e, na prática, comete as deturpações de sempre, contrariando os ensinamentos do pedagogo francês.
Sabe-se que o "espiritismo" brasileiro sempre seguiu a linhagem dos "místicos", ou seja, aqueles que fazem prevalecer a opção religiosa. Isso distancia da proposta kardeciana original, que enfatizava a ciência e as análises filosóficas.
O ceticismo de Kardec deu lugar a um "acreditar" viscoso e gosmento dos "espíritas" que, se afastando do professor, fizeram do "espiritismo" uma espécie de neo-catolicismo mais flexível, combinando valores morais do Catolicismo português, de tendência medieval, com práticas hereges de ocultismo e feitiçaria, também medievais.O "espiritismo" brasileiro é duplamente medieval, por excelência.
Mas aí passam os anos e, diante da crise do roustanguismo - o "movimento espírita" surgiu nas bases ideológicas de Jean-Baptiste Roustaing - , veio a tendência "dúbia" de hoje, que se ancora num novo carisma de Chico Xavier, trabalhado de forma "sóbria" pela Rede Globo, com base no que Malcolm Muggeridge fez como propaganda de Madre Teresa de Calcutá.
E aí, sabe-se: igrejismo travestido de ciência. E Juliano Pozati parece levar ao extremo essa postura tendenciosa, fazendo bajulação barata à ciência e chegando ao descaramento de dar como título de um dos capítulos a expressão "Menos Religião, Mais Espiritualidade".
Aí não dá para entender. Se ele adora tanto Chico Xavier, então ele deveria prestar atenção na vida do "médium", que foi um católico de valores morais ortodoxos, mas de rituais um tanto excêntricos, como a paranormalidade. Mas Chico rezava terços, orava Pai Nosso e Ave Maria, fazia novenas, colecionava imagens de santos e sempre exigia um pequeno altar para realizar preces.
Apesar disso, para Juliano Pozati, Geraldo Lemos Neto, a falecida Marlene Nobre, Divaldo Franco e outros, Chico Xavier era "cientista". E é isso que faz o "espiritismo" brasileiro se tornar confuso, irregular, incoerente e surreal. Essa onda de contradições que só desmoraliza, humilha e invalida todo o árduo trabalho feito por Allan Kardec em sua vida.
MENOS RELIGIÃO?
Pozati entra em contradição quando diz defender a noção de Espiritismo de Allan Kardec no sentido de busca de espiritualidade e evolução moral do ser humano. Ele chega a citar a ideia de que Kardec reprovava a concepção de religião como uma "instituição burocratizada", mas no fim reafirma o que ele acredita ser o tripé da Doutrina Espírita: Ciência, Filosofia e Religião.
E ele vai justamente para a fonte de deturpadores para explicar seu ponto de vista, citando uma passagem do livro Plantão de Respostas - Pinga Fogo, com base em depoimento de Chico Xavier ao famoso programa da TV Tupi de São Paulo e acrescido de alguns "ensinamentos" de Emmanuel. O trecho se refere a uma resposta dada por Chico Xavier ao programa:
Pergunta: O que a Doutrina Espírita pode dizer a respeito do fim dos tempos, isto é, como ocorrerá a transformação do planeta de provas e expiações para regeneração?
Resposta (Chico Xavier): Através da busca de espiritualização, superação das dores e construção de uma nova sociedade, a humanidade caminha para a regeneração das consciências. Emmanuel afirma que a Terra será um mundo regenerado por volta de 2057. Cabe, a cada um, longa e árdua tarefa de ascensão. Trabalho e amor ao próximo com Jesus, este é o caminho.
Aqui ocorre uma série de incoerências. O Chico Xavier que apelava aos sofredores para suportarem as desgraças "em silêncio" e "sem queixumes" fala em "superação das dores" como se fosse fácil um sofredor desperdiçar uma ou duas encarnações em desgraças e só poder trabalhar suas qualidades e projetos de vida cerca de 100 anos depois.
Dessa forma, o maior defensor da Teologia do Sofrimento, o "bondoso médium" que atuou em Pedro Leopoldo e Uberaba, usa de seu malabarismo discursivo para tentar plantar otimismo oco no público que assistia a um programa de televisão.
Outra incoerência é a aberrante violação que Chico Xavier fez contra uma das recomendações de Allan Kardec, que sempre alertou que marcar datas fixas para a evolução da humanidade é um indício de mistificação. Mesmo que a sociedade esteja regenerada em 2057, não será de parte da suposta previsão de Chico Xavier, mas tão somente de circunstâncias que podem haver na época.
Outro caso é um certo etnocentrismo religioso, já que Chico Xavier descreve o "amor ao próximo com Jesus" como único caminho para a evolução da humanidade. Por mais respeitável que tenha sido a figura de Jesus de Nazaré, nem todos o reconhecem como profeta maior.
Há pessoas que não têm a menor ideia de quem teria sido Jesus, e, no caso de grupos como os muçulmanos, que preferem Maomé como seu profeta maior, a referência é outra. Isso sem falar de pessoas que duvidam que Jesus tenha existido. Essas pessoas seriam amaldiçoadas por conta de posturas tão diferentes do cristocentrismo do Ocidente?
A ideia do "amor ao próximo com Jesus" não seria uma ênfase aos dogmas religiosos, já que o Jesus que Chico Xavier acredita não é o ativista que viveu na Judeia e ainda carece de estudos arqueológicos, historiográficos e antropológicos para conhecer seu verdadeiro valor como agente histórico e social, mas o mito trazido para as pessoas através da interpretação da Igreja Católica, que não obstante é deturpada e estereotipada.
A declaração de Juliano Pozati, que, pelo jeito, acredita, em suas fantasias infantis, que Chico Xavier era um "cientista", "intelectual" e "filósofo", sem ter realmente quaisquer dessas qualidades, só foi uma grande "viagem na maionese". Não bastasse todo o rol de besteiras que simboliza o livro, que toma como fonte um reles sonho que alguém teve enquanto dormiu.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Os atropelos do PMDB carioca
Não bastassem os terríveis ônibus padronizados que escondem diferentes empresas de ônibus sob uma mesma pintura, causando confusão, desconforto e insegurança para os passageiros de ônibus e favorecendo a corrupção político empresarial, e não fossem suficientes a demissão de cobradores de ônibus por causa do acúmulo da função para os motoristas e a extinção ou esquartejamento de linhas de ônibus importantes para forçar a baldeação, o grupo político de Eduardo Paes se atropela em mil incidentes.
Há o conflito do grupo com seu ex-aliado, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que tenta mexer as varetas para evitar sua cassação, algo insólito no país, porque se fosse no Primeiro Mundo, Eduardo Cunha nem deputado mais seria, e sim um presidiário e cumprir o resto de seus dias numa cela.
Há, também, a tendenciosa mudança de postura da família Picciani, uma das mais ricas do Estado do Rio de Janeiro, que, depois de ter feito campanha para Aécio Neves em 2014 e manter alianças quase simbióticas com Eduardo Cunha, passou a se opor a este e a defender Dilma Rousseff. De repente, Leonardo Picciani virou o "herói da pátria" que vai desenhar o ocaso político do seu antigo protetor.
O perigo é que essa postura "progressista" de Leonardo Picciani possa se transferir para o irmão Rafael, que, como secretário de Transportes do município do Rio de Janeiro, impõe medidas dignas de um Eduardo Cunha da mobilidade urbana. E não é só para impedir o povo da Zona Norte de frequentar as praias da Zona Sul, se contentando (Chico Xavier iria adorar!) com a pequena praia de Rocha Miranda, uma aberração que tem horário limitado, de 9h às 20h, tempo que foge às recomendações médicas, já que 9h é horário de intensificação de raios ultravioleta. A praia de Rocha Miranda já começa o expediente (?!) sob o risco do câncer de pele.
Os estudantes da PUC que moram na Zona Norte e os estudantes da UERJ que moram na Zona Sul agora têm que pegar dois ônibus, viajar no segundo ônibus quase sempre a pé, e, se o Bilhete Único se esgotar, pagar duas passagens, cerca de R$ 3.040 por mês (mal dá para o salário dos trabalhadores de classe média), ida e volta, o que é capim para um Rafael Picciani com um patrimônio de quase dez milhões de reais.
A opinião pública de esquerda deve, portanto, tomar muito cuidado com a família Picciani, para que não veja como "progressista" medidas como impedir que moradores do Méier e da Penha continuem se deslocando diretamente para Copacabana e Ipanema, mesmo que seja a trabalho.
O grupo político de Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, e Luiz Fernando Pezão, governador do correspondente Estado, é marcado por uma centena de atitudes desastrosas, que dariam um grande livro, só para citar todas. E o próprio grupo começa a se desentender, quando o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório - que, dizem, é capaz de impor padronização visual até para uniformes de futebol - , está sendo sondado por Aécio Neves para migrar para o PSDB e virar candidato tucano à sucessão de Paes.
Paes chegou a pedir para Aécio Neves barrar a mudança de partido a Osório, o que seria uma compensação para a perda do apoio de Picciani - que, para não perder sua fortuna, passou a elogiar Dilma Rousseff para que ela pagasse os custos da crise financeira nos cofres cariocas - , mas o ex-governador de Minas Gerais disse não.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro é denunciado por diversas instituições estrangeiras e até pelos meios de comunicação no exterior por causa da poluição da Baía da Guanabara, da violência policial que mata moradores da favela inocentes, do descado geral das autoridades cariocas, que tudo falam e prometem mas nada fazem de realmente positivo, e da expulsão de moradores, sem aviso nem indenização devidos, de áreas destinadas às Olimpíadas.
Enquanto isso, os incautos não percebem a decadência vertiginosa que atinge o Estado do Rio de Janeiro, que não pode ser encarada como efeito natural da complexidade urbana. Até porque a decadência é resultado de retrocessos graves que, em muitos aspectos, deixam a cidade do Rio de Janeiro com um provincianismo comparável ao de capitais nordestinas no auge do coronelismo. E isso, em boa parte, se deve ao PMDB carioca, em sua atuação simplesmente vergonhosa e desastrosa.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Previsão de Nibiru é dada por cientistas de universidade pouco conceituada
Mais um sensacionalismo de cunho pretensamente científico é divulgado pela mídia. A chegada, em março próximo, do suposto planeta Nibiru, conhecido também como "Planeta X", que se chocará com a terra e, em torno desse suposto astro, há outros dois planetas de sua órbita.
Aparentemente, cientistas de uma universidade da Espanha disseram ter observado padrões orbitais estranhos e dois objetos rochosos na proximidade de Plutão, o que, para eles, pode ser indício de existência de dois planetas que orbitam em volta de Nibiru.
Segundo eles, a movimentação de Nibiru e seus dois planetas "auxiliares" estariam se deslocando em direção à órbita terrestre. Segundo eles, Nibiru teria cerca de dez vezes a massa da Terra e sua órbita é feita a cerca de 250 vezes a distância entre a Terra e o Sol.
As "previsões" dos cientistas são altamente duvidosas, levando em conta que a Universidade Complutense de Madrid não parece destacada no meio acadêmico, o que sugere ser uma instituição de ensino pouco conceituada, ou, pelo menos, há o pouco conceito da parte dos cientistas que divulgaram essa hipótese.
O "planeta" Nibiru, conhecido também como Planeta X, é originário de uma lenda surgida por astrônomos da Babilônia, influenciados pela religião monoteísta cuja ideia de Deus está representada pela entidade Marduk. Nibiru teria sido a morada de Marduk, tido como "governante do universo".
A ideia também foi difundida pelo arqueólogo do Azerbaijão, Zecharia Sitchin (1920-2010), que apostava na teoria de antigos astronautas (ou seja, de que a humanidade da Terra descende de extraterrestres), que, com base em crenças dos povos sumérios, atribuía a Nibiru a origem da espécie humana no nosso planeta.
"ESPÍRITAS" ABRAÇAM A TESE
A "vinda" de Nibiru para próximo da Terra, "agendado" para março de 2016, é uma ideia festejada por vários setores do "movimento espírita", com base em relatos divulgados pelo "médium" baiano Divaldo Pereira Franco, muito identificado com Esoterismo e outras pseudociências.
Mas a ideia também era, de uma forma ou de outra, associada a Francisco Cândido Xavier. A ideia de Chico Xavier "prever" o "fim do velho mundo" e acreditar que os extraterrestres iriam "compensar" as lacunas que o mundo desenvolvido deixaria depois de destruído também se refere de uma forma ou de outra à crença no "Planeta X", também definido como "planeta-chupão".
A tese dos "espíritas" consiste em atribuir a Nibiru uma espécie de "aspirador de pó" da humanidade da Terra. Segundo eles, Nibiru seria um planeta que "acolheria" espíritos considerados de baixo nível de evolução, "limpando" a humanidade para que só restem pessoas "comprometidas com a fraternidade".
A hipótese é altamente discutível, pois ela mistura alegações pseudocientíficas, suposições astronômicas e moralismo religioso. A ideia de quem "deveria ir para Nibiru" é tão confusa quanto a ideia de "crianças-índigo".
Afinal, quem é que "merece" ir para Nibiru? Artistas ateus ou homicidas religiosos? Se o artista tem um nível humanista admirável, um talento peculiar, uma contribuição imensurável à humanidade, mas não crê em Deus ele é mais desgraçado que alguém que cometeu um homicídio e mal consegue se arrepender dele, mesmo quando impune, só porque vai a uma igreja ou "centro espírita"?
A "vinda de Nibiru" já havia sido anunciada pelos místicos para dezembro de 2012. Até Divaldo Franco de uma forma ou de outra anunciou o "fim do mundo" com aquele seu "otimismo" natural, com sua voz de padre e sua encenação discursiva, para aquele mês, como um "momento de transformação" para a "regeneração" da humanidade da Terra.
Até agora, nada aconteceu. E, se aconteceu, foi pior. De 2012 para cá, por exemplo, o bullying digital dos trolls de Internet, que humilhava pessoas que não aceitavam valores pré-estabelecidos - desde visões racistas até gírias impostas pela mídia como o jargão "balada" - , cresceu do simples ataque virtual a pessoas comuns até as humilhações virtuais a famosos e, daí, para conflitos públicos, como as humilhações a Chico Buarque e Jorge Ben Jor.
Aliás, outra confusão "espírita" é quanto a quem pode ser considerado "índigo". Se são meninos-prodígio ou garotos-problemas, se são adolescentes de profundo saber intelectual ou troleiros de Internet. Se são líderes humanitários ou chefes de violentas torcidas de futebol. E as "crianças-cristais"? E as "crianças-estrelas"? Seriam coroinhas de igreja ou o Movimento Brasil Livre de Kim Kataguiri? Na religião, tudo é confusão.
REGENERAÇÃO?
E isso ainda é fichinha diante dos dois ataques terroristas que atingiram Paris em 2015, um contra jornalistas do periódico Charlie Hebdo e outra contra frequentadores de casas noturnas bastante badaladas. Que tipo de "regeneração" planetária se espera disso?
Os próprios "espíritas" ficam muito confusos quando se fala em períodos de "regeneração". Num momento, dizem que a "regeneração" da humanidade "já chegou", em outro momento dizem que ela "demorará a chegar". Ficam fixando datas prévias e depois ficam desmentindo, dizendo que os "espíritos benfeitores" tiveram que mudar datas para a transformação da Terra, devido a acontecimentos desagradáveis etc etc.
Eles também tentam puxar a brasa para suas sardinhas e afirmam que a "regeneração já está ocorrendo" através dos "centros espíritas", onde há "vários exemplos" de atividades ligadas ao "amor ao próximo", com "doações de roupa" e "sopas" oferecidas de graça aos pobres e desamparados, deixando clara a propaganda religiosa mais tendenciosa.
Portanto, essa fantasia de "planetas chupões", "crianças astrais" ou coisa parecida, só serve para produzir sensacionalismo pseudocientífico que é um prato cheio para a imprensa medíocre que está mais voltada a interesses comerciais do que no compromisso com a informação.
A mesma fantasia também serve para despertar nos líderes religiosos um moralismo religioso travestido de advertências sérias, se aproveitando da postura de falsos profetas para dominar a humanidade pelo medo ou pelo deslumbramento, enquanto alimentam vaidades pessoais com tais manobras.
Como bem disse Neil deGrasse Tyson, renomado cientista dos EUA, Nibiru não passa de uma bela e bem elaborada obra de ficção. E, uma coisa está certa: a Terra não será atingida pelo "planeta chupão", e o próximo mês ocorrerá mais ou menos como ocorre atualmente.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
'Data-Limite' e sua irresponsável bajulação à Ciência
INFELIZMENTE, A DETURPAÇÃO DO ESPIRITISMO HÁ MUITO TEMPO CHEGOU À TERRA DE ALLAN KARDEC. ESTE CARTAZ É SÓ UMA AMOSTRA RECENTE.
Não foi por falta de aviso que a Doutrina Espírita foi completamente tomada pelos inimigos internos. Há mais de 150 anos, o espírito Erasto descrevia com detalhes como agiriam esses inimigos, que se apropriariam da doutrina de Allan Kardec para impor abordagens que corrompessem a missão lógica e científica trazida pelo pedagogo de Lyon.
Erasto avisou de tudo. De textos prolixos, palavras bonitas e até mesmo a transmissão de "coisas boas" - os tais "conceitos de amor e bondade" - , tudo foi alertado por Erasto e também pelas próprias ideias de Kardec. E sob a recomendação de tomarmos cuidado com todos esses processos traiçoeiros.
Despindo de todo tipo de paixão terrena, vulnerável à sedução que os estereótipos espetaculares de "amor e caridade" que trazem, diante do "bom etnocentrismo" de muitos que concebem tipos aparentes de "pessoas humildes" e "mestres bondosos", vemos em Chico Xavier e Divaldo Franco os mais traiçoeiros e perniciosos inimigos da Doutrina Espírita, e, com toda segurança, os piores deles.
E, enfatizamos, ao constatar tudo isso, não estamos agindo com rancor, com intolerância religiosa, com fúria impiedosa contra o trabalho do bem, contra a ação social, entre outras alegações perversas. Nada disso. Constatamos isso pela observação calma, isenta e imparcial de ideias e conteúdos.
Vemos os textos e as práticas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco verdadeiras contrariedades aberrantes ao pensamento kardeciano, algo que preocupa porque, prestando bem atenção, se o pedagogo lionês dizia uma coisa, os anti-médiuns brasileiros diziam outra. Se aquele fazia algo, os dois faziam coisa bem diferente e oposta.
Desde que o "espiritismo" brasileiro passou a ser comandado pela corrente "dúbia", em que se declara nominalmente "fidelidade e respeito absoluto" a Allan Kardec mas, na prática, se comete as mesmas traições doutrinárias de sempre, o que se viu foi uma bajulação oportunista e irresponsável da ciência e da Filosofia pelo "movimento espírita".
A situação está pior do que nos tempos em que Jean-Baptiste Roustaing era assumidamente admirado pelos "espíritas". Hoje meros pregadores religiosos, como Divaldo Franco, posam de "intelectuais" através de um discurso rebuscado e prolixo que mais confunde do que esclarece. Exemplo disso são as delirantes abordagens que Divaldo fez das "crianças-índigo".
Mas essa fase "dúbia" faz até Chico Xavier ser definido como "cientista", através de atribuições mais delirantes. Não bastasse o fato dele ter cometido fraudes "mediúnicas", participado de farsas de materialização, fazendo pastiches literários e tudo, não fosse suficiente sua imagem de "bondade" ser altamente discutível (como no caso dele, tão levianamente, jogar à superexposição sensacionalista das famílias de pessoas comuns mortas), fala-se que ele "previu" descobertas científicas aqui e ali.
Isso é uma grande farra mística, que coloca o "espiritismo" brasileiro num nível abaixo ao pior dos movimentos neopentecostais, por mais retrógrados que sejam. Afinal, que diferença faz a "bancada da Bíblia" estabelecendo valores retrógrados, promovendo da degradação do mercado de trabalho a definições homofóbicas de família brasileira, diante de delirantes "espíritas" que acham que o misticismo brasileiro prevalecerá ao ceticismo lógico que aquece os debates no "velho mundo"?
Essencialmente, não existe diferença alguma. Divaldo Franco e Silas Malafaia são duas faces de uma mesma moeda. Dá até para fazer um "morph" (espécie de mash up de imagens, quando ocorre uma mistura digital de dois rostos diferentes), talvez gerando um Divlas Malafranco.
Mas a vantagem, que pode ser inexpressiva em termos práticos, dos neopentecostais aos "espíritas", está no fato de que os primeiros não estabelecem desonestidade doutrinária. Os neopentecostais, com todo o propósito, veem o mundo de forma religiosista, mistificada, e não travestem a fé religiosa que professam em "ciência" e "filosofia". Se eles mistificam, assumem isso e ainda citam passagens da Bíblia traduzida para seus propósitos "evangélicos".
Já o "espiritismo" peca pela desonestidade doutrinária. O que os "espíritas" fizeram ou fazem, e aqui devemos incluir Chico Xavier e Divaldo Franco, contraria abertamente o que Allan Kardec pensou e recomendou. A deturpação ocorre em palavras soltas, que os "espíritas" brasileiros mal se esforçam em dissimular.
Com o documentário e o livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, respectivamente dirigido por Fábio Medeiros e escrito por seus co-produtores, Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, a postura "dúbia" é levada às últimas conseguências.
Pozati, que tudo indica ser o principal escritor do livro, carrega demais no pretensiosismo científico. Ele chegou a delirar intitulando um capítulo como "Menos Religião, Mais Espiritualidade", se contradizendo falando no tripé Ciência, Filosofia e Religião supostamente atribuído a Allan Kardec (que, na verdade, queria que sua doutrina fosse uma combinação de Ciência, Filosofia e Moral), e se esquecendo que Chico Xavier era, acima de tudo, um fanático religioso.
Isso não é invenção. Se prestar atenção na biografia de Chico Xavier, ele nunca foi espírita de verdade, mas um católico ortodoxo em crenças, mas dotado de paranormalidade, o que lhe valeu ser excomungado pela Igreja em Pedro Leopoldo, não porque "desafiou os católicos", como tão mentirosamente dizem seus seguidores, mas porque tinha hábitos "estranhos".
Chico Xavier era defensor da Teologia do Sofrimento, o que confirma sua qualidade de católico ortodoxo. A constatação é dolorosa para os seguidores do anti-médium, mas verídica e realista. É só observar as ideias de Chico Xavier sobre o sofrimento: "sofrer amando", "sofrer sem queixumes", "sofrer sem divulgar suas desgraças aos outros". Pura Teologia do Sofrimento.
Os adeptos de Chico Xavier se esquecem que ele era um adorador de imagens católicas, um rezador de terços e novenas, uma pessoa que queria ter um pequeno altar onde ele estivesse, uma espécie de capela individual. Reportagens mostram isso de maneira explícita.
Juliano Pozati se esqueceu que Chico Xavier deixava claro seu fanatismo católico na entrevista do Pinga-Fogo. Xavier acreditava na missão da Igreja Católica para a condução moral da humanidade, e pedia aos espectadores respeito e submissão à religião apostólica romana.
Portanto, é irresponsável essa bajulação que os "espíritas" fazem à Ciência e à Filosofia. Pozati chegou a criar uma palestra sobre a "filosofia da Data-Limite" e, tolamente, expressava sua preferência à palavra "ciência". Ingenuidade ou hipocrisia?
E é esse o problema do "espiritismo" brasileiro, hoje afogado em suas próprias contradições. Dizendo uma coisa e fazendo outra, dizendo uma coisa e dizendo outra depois, num momento usando a "ciência" para camuflar o igrejismo, e outro usando a "bondade" para camuflar o mau cientificismo, o "espiritismo" não consegue dizer a que veio, e só consegue prevalecer por causa de seu pretenso bom-mocismo.
Não foi por falta de aviso que a Doutrina Espírita foi completamente tomada pelos inimigos internos. Há mais de 150 anos, o espírito Erasto descrevia com detalhes como agiriam esses inimigos, que se apropriariam da doutrina de Allan Kardec para impor abordagens que corrompessem a missão lógica e científica trazida pelo pedagogo de Lyon.
Erasto avisou de tudo. De textos prolixos, palavras bonitas e até mesmo a transmissão de "coisas boas" - os tais "conceitos de amor e bondade" - , tudo foi alertado por Erasto e também pelas próprias ideias de Kardec. E sob a recomendação de tomarmos cuidado com todos esses processos traiçoeiros.
Despindo de todo tipo de paixão terrena, vulnerável à sedução que os estereótipos espetaculares de "amor e caridade" que trazem, diante do "bom etnocentrismo" de muitos que concebem tipos aparentes de "pessoas humildes" e "mestres bondosos", vemos em Chico Xavier e Divaldo Franco os mais traiçoeiros e perniciosos inimigos da Doutrina Espírita, e, com toda segurança, os piores deles.
E, enfatizamos, ao constatar tudo isso, não estamos agindo com rancor, com intolerância religiosa, com fúria impiedosa contra o trabalho do bem, contra a ação social, entre outras alegações perversas. Nada disso. Constatamos isso pela observação calma, isenta e imparcial de ideias e conteúdos.
Vemos os textos e as práticas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco verdadeiras contrariedades aberrantes ao pensamento kardeciano, algo que preocupa porque, prestando bem atenção, se o pedagogo lionês dizia uma coisa, os anti-médiuns brasileiros diziam outra. Se aquele fazia algo, os dois faziam coisa bem diferente e oposta.
Desde que o "espiritismo" brasileiro passou a ser comandado pela corrente "dúbia", em que se declara nominalmente "fidelidade e respeito absoluto" a Allan Kardec mas, na prática, se comete as mesmas traições doutrinárias de sempre, o que se viu foi uma bajulação oportunista e irresponsável da ciência e da Filosofia pelo "movimento espírita".
A situação está pior do que nos tempos em que Jean-Baptiste Roustaing era assumidamente admirado pelos "espíritas". Hoje meros pregadores religiosos, como Divaldo Franco, posam de "intelectuais" através de um discurso rebuscado e prolixo que mais confunde do que esclarece. Exemplo disso são as delirantes abordagens que Divaldo fez das "crianças-índigo".
Mas essa fase "dúbia" faz até Chico Xavier ser definido como "cientista", através de atribuições mais delirantes. Não bastasse o fato dele ter cometido fraudes "mediúnicas", participado de farsas de materialização, fazendo pastiches literários e tudo, não fosse suficiente sua imagem de "bondade" ser altamente discutível (como no caso dele, tão levianamente, jogar à superexposição sensacionalista das famílias de pessoas comuns mortas), fala-se que ele "previu" descobertas científicas aqui e ali.
Isso é uma grande farra mística, que coloca o "espiritismo" brasileiro num nível abaixo ao pior dos movimentos neopentecostais, por mais retrógrados que sejam. Afinal, que diferença faz a "bancada da Bíblia" estabelecendo valores retrógrados, promovendo da degradação do mercado de trabalho a definições homofóbicas de família brasileira, diante de delirantes "espíritas" que acham que o misticismo brasileiro prevalecerá ao ceticismo lógico que aquece os debates no "velho mundo"?
Essencialmente, não existe diferença alguma. Divaldo Franco e Silas Malafaia são duas faces de uma mesma moeda. Dá até para fazer um "morph" (espécie de mash up de imagens, quando ocorre uma mistura digital de dois rostos diferentes), talvez gerando um Divlas Malafranco.
Mas a vantagem, que pode ser inexpressiva em termos práticos, dos neopentecostais aos "espíritas", está no fato de que os primeiros não estabelecem desonestidade doutrinária. Os neopentecostais, com todo o propósito, veem o mundo de forma religiosista, mistificada, e não travestem a fé religiosa que professam em "ciência" e "filosofia". Se eles mistificam, assumem isso e ainda citam passagens da Bíblia traduzida para seus propósitos "evangélicos".
Já o "espiritismo" peca pela desonestidade doutrinária. O que os "espíritas" fizeram ou fazem, e aqui devemos incluir Chico Xavier e Divaldo Franco, contraria abertamente o que Allan Kardec pensou e recomendou. A deturpação ocorre em palavras soltas, que os "espíritas" brasileiros mal se esforçam em dissimular.
Com o documentário e o livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, respectivamente dirigido por Fábio Medeiros e escrito por seus co-produtores, Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, a postura "dúbia" é levada às últimas conseguências.
Pozati, que tudo indica ser o principal escritor do livro, carrega demais no pretensiosismo científico. Ele chegou a delirar intitulando um capítulo como "Menos Religião, Mais Espiritualidade", se contradizendo falando no tripé Ciência, Filosofia e Religião supostamente atribuído a Allan Kardec (que, na verdade, queria que sua doutrina fosse uma combinação de Ciência, Filosofia e Moral), e se esquecendo que Chico Xavier era, acima de tudo, um fanático religioso.
Isso não é invenção. Se prestar atenção na biografia de Chico Xavier, ele nunca foi espírita de verdade, mas um católico ortodoxo em crenças, mas dotado de paranormalidade, o que lhe valeu ser excomungado pela Igreja em Pedro Leopoldo, não porque "desafiou os católicos", como tão mentirosamente dizem seus seguidores, mas porque tinha hábitos "estranhos".
Chico Xavier era defensor da Teologia do Sofrimento, o que confirma sua qualidade de católico ortodoxo. A constatação é dolorosa para os seguidores do anti-médium, mas verídica e realista. É só observar as ideias de Chico Xavier sobre o sofrimento: "sofrer amando", "sofrer sem queixumes", "sofrer sem divulgar suas desgraças aos outros". Pura Teologia do Sofrimento.
Os adeptos de Chico Xavier se esquecem que ele era um adorador de imagens católicas, um rezador de terços e novenas, uma pessoa que queria ter um pequeno altar onde ele estivesse, uma espécie de capela individual. Reportagens mostram isso de maneira explícita.
Juliano Pozati se esqueceu que Chico Xavier deixava claro seu fanatismo católico na entrevista do Pinga-Fogo. Xavier acreditava na missão da Igreja Católica para a condução moral da humanidade, e pedia aos espectadores respeito e submissão à religião apostólica romana.
Portanto, é irresponsável essa bajulação que os "espíritas" fazem à Ciência e à Filosofia. Pozati chegou a criar uma palestra sobre a "filosofia da Data-Limite" e, tolamente, expressava sua preferência à palavra "ciência". Ingenuidade ou hipocrisia?
E é esse o problema do "espiritismo" brasileiro, hoje afogado em suas próprias contradições. Dizendo uma coisa e fazendo outra, dizendo uma coisa e dizendo outra depois, num momento usando a "ciência" para camuflar o igrejismo, e outro usando a "bondade" para camuflar o mau cientificismo, o "espiritismo" não consegue dizer a que veio, e só consegue prevalecer por causa de seu pretenso bom-mocismo.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Como o documentário, livro sobre "Data-Limite" é um desperdício
Um enorme desperdício. Essa é a definição mais realista do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, e do livro baseado neste filme de autoria de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, co-produtores da película.
Afinal, é muito burburinho por causa da interpretação de um sonho de uma pessoa que dorme. E temos que admitir que não é o prestígio de alguém que faz um sonho ficar profético, porque sonho é apenas sonho e raramente ele pode dizer coisas importantes e, quando diz, não vão além do plano pessoal.
Repleto de profundas inverdades, o "sonho de 1969" de Francisco Cândido Xavier inspirou uma série de pregações confusas, supostas "profecias" que não passam de um engodo em que se mistura o moralismo religioso das ideias de Chico Xavier com alegações falsamente científicas. Portanto, é uma verdadeira gororoba mística, pseudocientífica, sem muita serventia.
Falando sobre o livro, a referida obra não corresponde, em conteúdo, ao que suas 350 páginas sugerem à primeira vista. Primeiro, porque seu texto poderia muito bem ser lançado num livro de cerca de cem páginas. Segundo, porque é um amontoado de inverdades e enrolações diversas.
O livro busca descrever, em vários de seus capítulos, aspectos conhecidos do "espiritismo" que acreditam. Começam narrando a biografia de Chico Xavier, mostrando a mentira descarada de que Humberto de Campos teria "legitimado" a "mediunidade" do caipira de Pedro Leopoldo.
Teremos que ler o trecho do artigo "Poetas do Outro Mundo", primeira parte de uma resenha dividida em dois artigos, publicado no Diário Carioca em 1932. Em nenhum momento ele disse que a "psicografia" de Chico Xavier era autêntica, como delirantemente alegam os "espíritas", e Juliano Pozati não fugiu à regra:
"Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena de Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas caraterísticas de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocupavam em vida. O gosto é o mesmo. E o verso, obedece, ordinariamente, a mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos - sente-se ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do sr. Francisco Cândido Xavier para escrever "À la manière de..." ou para traduzir o que aqueles outros espíritos sopraram ao seu."
Uma coisa é dizer: "isto é parecido". Outra coisa é dizer: "isto é verdadeiro". Além disso, Humberto de Campos sugere que a semelhança dos poemas "espirituais" e dos de seus supostos autores deixados em vida parte da primeira impressão do leitor. Ele mesmo foi "assaltado" pelo "primeiro pensamento" de que o livro apresenta semelhanças.
Voltando ao livro de Juliano e Rebeca. A obra só "vale" - se é que ela pode valer alguma coisa - porque descreve os bastidores do documentário. No entanto, o livro se perde em supostas alegações "científicas", e até algumas posições bastante hipócritas.
Uma delas é sobre a suposta admiração de Chico Xavier pela Ciência, com base na declaração da longa entrevista feita para o programa Pinga-Fogo, do jornalista Saulo Gomes, em 1971. Escreveu Juliano Pozati, a respeito:
"O próprio Chico Xavier venerava a ciência com respeito e admiração. (...) O Chico não disse que seria um Papa que nos descortinará esse futuro imenso diante do universo. Não disse que seria um grande médium, um grande orador, um presidente da república ou um executivo de peso. Ele disse "a ciência", provavelmente porque sabia que os dogmas que limitam a nossa percepção do ABSOLUTO deveriam ruir, para o bem de nossa própria evolução".
Que mentira, que lorota boa! A linha de pensamento de Chico Xavier sempre foi em prol de um igrejismo mais convicto, com seus dogmas e paradigmas. Ele sempre apelava para as pessoas nunca questionarem as coisas, e via no questionamento, que é o combustível do trabalho científico, uma fonte de dissabores e um ninho de potenciais escândalos.
Além do mais, que "respeito à ciência" é esse, se supostos pioneirismos científicos atribuídos às obras de Chico Xavier não passam de mentiras já que ao "médium" se atribuem façanhas que, na verdade, já eram feitas por outros cientistas bem antes da publicação das obras "psicográficas" e, em certos casos, até antes de Chico nascer, como na hipótese de haver vida em Marte, analisada fartamente pelo astrônomo Percival Lowell.
Outra hipocrisia se refere à postura de Juliano Pozati, que diz ser adepto da ciência e descreve a obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, como seu livro favorito. A gente pergunta se Pozati realmente leu esse livro e se ele realmente tem certeza de que gosta muito dele.
Afinal, quem lê O Livro dos Médiuns com muita atenção e cautela - ou seja, abrindo mão das paixões próprias da fé religiosa - , e a edição brasileira deve ser a tradução de José Herculano Pires, mais próxima do texto original, sabe que, entre os diversos aspectos reprovados por Allan Kardec está procedimentos claramente observados não só em Chico Xavier, mas também em Divaldo Franco, que é entrevistado no documentário de Fábio Medeiros.
Há um capítulo considerado o mais maçante, em que Pozati - que parece ter escrito a maior parte do livro, mas há a colaboração de Rebeca Casagrande em várias passagens, além de um capítulo escrito só por ela - tenta "filosofar", de acordo com o "espiritismo" brasileiro, sobre aspectos psicológicos da alma humana, com divagações monótonas e prolixas sobre SER e ESTAR. Dispensável.
Mas a obra se destaca mesmo pela ideia de que a "terceira reunião" de Jesus e outros líderes do universo (!), como se fosse uma ONU dos planos astrais, algo que não tem muita lógica por seguir uma perspectiva materialista (até o "médium" Ariston Teles esnobou essa "reunião política" usando uma suposta psicofonia de Chico Xavier) iria prevenir a Terceira Guerra Mundial.
A ideia é tentar evitar o fim do "velho mundo", descrito através de relatos catastrofistas de Chico Xavier, revelados por Geraldo Lemos Neto, com uma "moratória" de 50 anos antes que Deus viesse castigar o planeta com desastres naturais que ocorreriam depois dos conflitos bélicos no Hemisfério Norte.
Embora o livro de Juliano e Rebeca não citassem esse lado catastrófico, eles enfatizam o contato com extraterrestres que ocorreria independentemente do "fim do velho mundo". Segundo o devaneio de Chico Xavier, os ETs compensariam as lacunas do "velho mundo" entrando em contato com a população terrestre remanescente.
Juliano e Rebeca também não enfatizam a ideia do Brasil ser "coração do mundo" e liderar o planeta como "pátria do Evangelho". Ambos preferem se limitar a dizer que a Terra teria que evitar o conflito bélico, promover "solidariedade" entre os povos e esperar que os ETs tragam mais sabedoria ao planeta.
Tudo isso num livro que poderia se limitar a uma centena de páginas. E tais relatos refletem a mistura do deslumbramento da fé religiosa com pretensões de pseudociência - Pozati fala até em "filosofia da Data-Limite", o que é um absurdo - , que fazem o livro, a exemplo do documentário, um total desperdício, por não trazer coisa alguma de realmente útil no âmbito do Conhecimento.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Data-Limite das discórdias sem limite
A religião do "movimento espírita", que fala tanto em "união e solidariedade", apresenta um episódio terrível de discórdias e mal-entendidos. Pois se o "espiritismo" brasileiro alega ter "fidelidade absoluta" a Allan Kardec e comete, contra este, traições doutrinárias das mais graves, dá para perceber o quanto o arrivismo "espírita" pode mostrar atropelos diversos.
Foi lançado, recentemente, o livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, co-produtores do documentário homônimo dirigido por Fábio Medeiros. Em 350 páginas - mas com um conteúdo correspondente a 150 e que poderia ser reduzido para menos da metade - , o livro descreve os bastidores do documentário e divaga em pregações "espíritas" diversas.
Sabemos do conteúdo do documentário e, lamentavelmente, o livro é um sucesso de vendas. Tudo por conta do prestígio de Francisco Cândido Xavier obtido por anos e anos de marketing da Federação "Espírita" Brasileira e uma ajudinha tardia da Rede Globo de Televisão, famosa pela manipulação sórdida do inconsciente coletivo.
A Globo viu em Chico Xavier um bom instrumento para hipnotizar as pessoas em prol de uma personalidade tendenciosamente associada a paradigmas conservadores de "caridade". A Globo que fez jogo sujo para eleger Fernando Collor é a mesma que transformou Chico Xavier num semi-deus.
Com Data-Limite Segundo Chico Xavier, tanto o documentário quanto o livro, Chico Xavier é promovido a um misto de pretenso cientista e o falso profeta que, certamente, seria reprovado por Jesus de Nazaré (o verdadeiro, diferente de muitos estereótipos religiosos que estão por aí e muito longe do bobalhão da Judeia descrito em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho).
Há uma construção de um Chico Xavier "cientista", com pretensões de falar sobre descobertas da Física e Química, de fatores biológicos e geológicos, de ciência política, de assuntos sociológicos, de fenômenos culturais, em muitos casos sem conhecimento de causa e apresentando erros profundos e constrangedores.
Muita gente adere, mas o surpreendente é que muita gente igualmente fanática por Chico Xavier simplesmente reprova essa abordagem. Os que não aceitam a tese da "data-limite" alegam que Chico Xavier nunca disse o que Geraldo Lemos Neto (que foi comunicado sobre as "profecias") afirmou ter recebido do "médium" e este seria "completamente incapaz" de fazer a "profecia" anunciada a partir do livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre.
Do "time" contrário ao mito do "Chico Xavier cientista" está o "médium" Ariston Teles, baiano radicado em Brasília, e aparentemente tão dedicado ao seu ídolo quanto Geraldo Lemos Neto, cada um comandando uma instituição ligada ao "médium" mineiro.
Registramos uma mensagem "psicofônica" atribuída a Chico Xavier, por Ariston Teles, que desmente toda a "profecia", e que certamente funde a cuca dos chiquistas, já que Chico Xavier havia descrito várias vezes a "reunião" que "desmentiu" na "psicofonia", e a "lógica" de Ariston é de enfatizar tão somente o "Chico Xavier religioso" ou o "Chico Xavier filantropo".
Para completar a confusão, não bastassem os dois times terem aliados "importantes" de Chico Xavier - o time de Geraldinho tem Divaldo Franco e o de Ariston, o "filho" Eurípedes Higino - é o fato de que o "filho adotivo" de Chico Xavier chegou a ser parceiro do "médium" baiano-brasiliense em um livro, mas desmente que considere suas "psicofonias" autênticas, por elas não apresentarem o tal "código secreto" (Eurípedes foi um dos três que receberam a "senha" do anti-médium).
Enfim, é tudo muito confuso. Muita contradição, muita discordância. E sendo isso partido de uma religião que tanto fala em "união", o que é muitíssimo grave. O que se vê nos "espíritas" é todo esse malabarismo de palavras fáceis e bonitas, que na prática se contradizem, se atropelam, desmentem umas às outras. E ainda se fala em "coerência espírita". Vejamos o texto da suposta psicofonia:
SUPOSTA PSICOFONIA DIFUNDIDA POR ARISTON TELES, NO "CENTRO ESPÍRITA" MONTE ALVERNE, EM BRASÍLIA, 01 DE JANEIRO DE 2015.
Ano 2015. Primeiro de janeiro. Estou em Brasília, capital do Terceiro Milênio, uma paragem de renovação política, moral e espiritual, está chegando, superadas grandes dificuldades que a população enfrentou ao longo de décadas. Entretanto, o Ano Novo 2015 continuará se arrastando pelo chão de dificuldades consideráveis. Há um passado a ser corrigido, há um compromisso a ser resgatado. 2015 ainda será um período de turbulência política, social e espiritual, no Brasil e no mundo.
Meu nome tem sido ventilado pelos canais de comunicação moderna, principalmente onde determinadas pessoas que tiveram acesso ao meu ambiente doméstico, decidiram fazer publicamente afirmações que, a rigor, não saíram dos meus lábios. Jamais Chico Xavier teria dito que o ano 2019 é limite para o planeta. Jamais eu me prestei a este tipo de revelações. Vejamos, quando os espíritos superiores cunham aos meus ouvidos determinadas revelações, eu tinha todo o cuidado de filtrar as suas mensagens, de modo que meu trabalho como médium não trouxesse perturbação a ninguém, muito menos à comunidade.
Chegou ao meu conhecimento o que determinadas pessoas vêm publicando, dizendo que Jesus se comporta à semelhança de governantes políticos, governantes do mundo, a ponto de reunir anjos protetores da Terra e do Universo para debater - uso essa expressão, "para debater" - questões relacionadas à evolução do planeta, da Terra.
Meus filhos, espíritos da luz não debatem, não discutem, não articulam palavras à semelhança do ser humano. O que existe é um diálogo telepático, fraterno, espiritual, sutil, o que é considerado consenso entre os homens, nos planos da luz recebe outro nome: a harmonia. Ah... Então Cristo, Nosso Senhor, protetor espiritual deste planeta, não delibera assunto nenhum à semelhança do ser humano, à semelhança das convicções político-administrativas. A realidade dos planos superiores é diferente. O estatuto, a Constituição que o Cristo, ou os Cristos, respeitam, é simplesmente a Lei que comanda todos os fenômenos da vida e todos os níveis de evolução no Universo.
Nunca, sinceramente, eu disse o que está nesses textos circulando na Internet e em determinado livro. Jamais. Essas pessoas, que se dão a esse trabalho, deviam minimamente respeitar a minha ausência humana, considerar que na minha condição de desencarnado raramente eu poderia vir a público para confirmar ou negar essa ou aquela publicação. Eu sei, claramente, que o que estou afirmando por vias mediúnicas neste momento também vai sofrer a crítica mordaz de muita gente, mesmo ou principalmente no movimento espírita que ainda não se cristianizou.
O ano 2019 será a sequência natural do ano anterior, e assim sucessivamente. Fica essa consideração, demonstrando mais uma vez meu respeito à Doutrina Espírita e aos seus verdadeiros seguidores lembro mais uma vez. O ano que começa hoje, 2015, também será a sequência, o seguimento de 2014. As turbulências vão ter continuidade, em todos os setores da experiência humana. Entretanto, onde houver mais trevas, a luz da misericórdia divina estará mais presente. Onde houver muito ódio, o amor infinito de Deus vai se manifestar, em socorro especialmente aos corações que merecem uma vida melhor. Nada acontece, absolutamente, à revelia das leis divinas.
Continuemos no plano físico e no plano espiritual. Continuemos com a luz do otimismo acesa em nossos corações, e com a atmosfera refrescante da tranquilidade em nossas consciências. A todos que me ouvem, nesta singela mensagem, ofereço meu abraço de muita paz, constante e permanente paz, sob a bênção luminosa do Nosso Senhor Jesus.
Chico Xavier (sic)
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Supor encarnações anteriores pode alimentar vaidades pessoais
FARRA "REENCARNACIONISTA" DOS "ESPÍRITAS" ACABA DIVERTINDO A IMPRENSA SENSACIONALISTA, SEMPRE EM BUSCA DE FACTOIDES PITORESCOS.
O "movimento espírita" brasileiro se revelou uma grande farsa. De que adianta a tardia "lealdade" a Allan Kardec, se os "espíritas" sempre se identificaram com o igrejismo embolorado de Jean-Baptiste Roustaing, o sinistro responsável por Os Quatro Evangelhos?
A falta de um estudo sério sobre a espiritualidade, acrescido de uma série de mentiras, fingimentos, desculpas, alegações e tantas irregularidades que mancham a doutrina brasileira e a fazem cada vez mais afastada do pedagogo francês do qual diz se inspirar, permite todo um festival de brincadeiras que são levadas a "sério" e corrompem a análise sobre a vida após a morte.
Como uma versão doutrinária da Tábua Ouija, que animava os recreios aristocráticos das "mesas girantes", o "espiritismo" brasileiro percorreu o caminho inverso de Allan Kardec. O cético professor Rivail estudava as "mesas girantes" com muito ceticismo e questionamento e resolveu, a partir dele, elaborar um sistema de análises e perguntas sobre o que seria mesmo o mundo espiritual.
Kardec criou um estudo científico depois de ver uma brincadeira. Já os "espíritas" brasileiros criaram uma brincadeira a partir da evocação de Kardec. E isso faz com que os "espíritas" sentissem preguiça em realizar trabalhos sérios sobre espiritualidade.
A mediunidade nunca passou de fingimento. Os "médiuns" faziam mensagens de sua própria mente, ou pintavam pastiches estilísticos em quadros ou faziam falsetes imitando o que imaginavam ser as vozes de antigos falecidos (que viveram antes da popularização do fonógrafo), e botavam um apelo religioso e "positivo" para minimizar os indícios de fraude, com base no mito de que "boas mensagens" nunca despertariam desconfiança.
O mundo espiritual não passa de especulação, de fantasia. O mito da colônia espiritual de Nosso Lar, com muitos aspectos materialistas, é fictício e sem qualquer relação com a veracidade, e o próprio Allan Kardec havia advertido da dificuldade das pessoas em analisar o mundo espiritual, do qual não se tem, até agora, um indício confiável de como deveria ser.
Junta-se a "mentiunidade" (metáfora para o fingimento de mediunidade, fazendo trocadilho com a palavra "mentira") e a especulação sobre a vida espiritual e vemos pessoas completamente ignorantes dos temas espíritas, e isso não exclui pessoas que muitos acreditam serem "tarimbadas", como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
Eles são os primeiros a expor preconceitos igrejistas, fantasias místicas, moralismo retrógrado e especulações anti-doutrinárias. Suas obras apresentam pontos que contradizem frontalmente com o pensamento kardeciano e nem de longe o atualizam, até porque muitas visões retrógradas se observam nas obras desses dois supostos médiuns, como o machismo na obra de Chico Xavier.
Essas visões, que combinam conservadorismo social com moralismo religioso, derrubam a tese de que o "espiritismo" brasileiro é uma "modernização" ou "atualização" do pensamento kardeciano, e demonstram a herança que os "espíritas" receberam do legado católico do século XIX, de influência portuguesa, da qual se mantiveram visões e práticas medievais.
"BOVESPÍRITA"
O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro quer ser especializado no que não sabe. Isso é uma mania muito comum no Brasil. Vemos de jornalistas reacionários metidos a juízes, como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo, a rádios pop que se passam por roqueiras, como a FM carioca Rádio Cidade, num país de muito pretensiosismo sem vocação natural para a causa respectiva.
Aí eles imaginam o mundo espiritual como um misto de parquinho, condomínios de luxo e complexo hospitalar. Forjam mensagens "espirituais" em que se dá a impressão de que todo espírito do além virou "seminarista" ou "noviça", "padre" ou "freira", com tantos apelos igrejistas que supostas psicografias trazem.
E isso chega ao ponto de "espíritas" iniciarem as apostas de quem teria sido quem em encarnações antigas. Fora um esforço de negociação em que atribuir reencarnações passadas não pode causar conflitos de informações, pois se um figurão "espírita" alega, por exemplo, ter sido Napoleão, outro não pode fazer a mesma atribuição.
Mas numa doutrina bagunçada como o "espiritismo" brasileiro, isso não impede que haja choques e controvérsias aqui e ali. Osvaldo Polidoro foi um lunático místico e mistificador que se autodefinia como "reencarnação de Allan Kardec". Por outro lado, há uma torcida forte atribuindo o próprio Chico Xavier como a reencarnação do pedagogo francês.
Da mesma forma, o personagem André Luiz se divide em encarnações anteriores atribuídas a Carlos Chagas, Osvaldo Cruz e o dirigente esportivo Faustino Esporel, entre outros. Nestes casos, o desconhecimento da vida espiritual e as vaidades pessoais dos "espíritas" arriscam palpites que se chocam uns com os outros e sempre apresentam contradições.
Uma verdadeira farra é feita por "espíritas", que atribuem vidas espirituais aqui e ali. O falecido líder "espírita", Rino Curti, atribuiu a um "centro espírita" a "proteção espiritual" de Machado de Assis e Humberto de Campos. Mas isso é fichinha em relação às brincadeiras que envolveram Chico Xavier.
A ele se atribuíram personalidades femininas diversas, com base no jeito efeminado do "médium" mineiro. Entre elas, uma fictícia Flávia Lentúlia, que pelo nome não condiz à norma de castas familiares das elites romanas do tempo de Jesus, já que seu nome deveria ser um derivado dos nomes dos pais, Publius Cornelius e Lívia. Já o sobrenome Lentúlia é muito vulgar para uma aristocrata, devendo ser Lentulina ou Lentulila, conforme a etiqueta romana da época.
Uma verdadeira farra se fez atribuindo encarnações a Arnaldo Rocha, sua prematuramente falecida esposa Irma de Castro Rocha, a Meimei, a Clóvis Tavares, membro da Federação "Espírita" Brasileira, e até a Rômulo Joviano, que foi patrão de Chico Xavier num trabalho de fazenda.
Fora isso, e fora atribuições sobre quem teria sido André Luiz ou quem será a reencarnação de Emmanuel - foi indicado um jovem, mas ele é suave demais para ser o "novo Emmanuel" - , atribuiu-se também ao médico Adolfo Bezerra de Menezes a a antiga encarnação do cobrador de impostos Zaqueu.
Atribuiu-se a Dom Pedro II a encarnação antiga de Cassius Longinus, oscilando entre dois personagens políticos com este nome e um filósofo homônimo, em informações que se contradizem. E Chico Xavier e Divaldo Franco entraram em choque, quando o primeiro afirmou que Marechal Deodoro reencarnou no corrupto Fernando Collor e Divaldo Franco fez um falsete supondo que o primeiro presidente da República brasileira continuava no mundo espiritual.
Em muitos casos, atribui-se reencarnações antigas a monarcas, cientistas, padres, intelectuais e famosos. Isso é muito perigoso, sobretudo em se tratando de uma religião irregular como o "espiritismo". Pode trazer vaidades pessoais que, uma vez derrubadas por revelações contrárias ou advertências, criam muito mal-estar e reações negativas.
Pensar em vidas passadas, além de ser desnecessário na maioria esmagadora das vezes, só pode ser feito quando extremamente necessário, e mediante um motivo de grande urgência. Não é em qualquer situação e mesmo a alta reputação atribuída a um figurão "espírita" não é justificativa para supor nele vidas anteriores, como se fez a Chico Xavier mais de uma vez.
Quase sempre essa atribuição é supérflua, porque as pessoas andam para a frente, caminham para o progresso espiritual, não havendo necessidade de saber quem foi quem no passado, até para evitar renascer vaidades, frustrações ou traumas pessoais. Saber sobre vidas passadas é perigoso por causa desses sentimentos extremos que sempre causam mal-estar sob a menor adversidade.
E vendo que os "espíritas" adoram brincar, com sua "Bovespírita", ou seja, com seu mercado de apostas e especulações, atribuindo encarnações passadas aqui e ali, para qualquer um que faça o pedido, isso se torna muito perigoso, porque, buscando o superávit da evocação de personagens ilustres, se encontra o déficit da presunção, da desilusão e do trauma que envenenam as consciências.
O "movimento espírita" brasileiro se revelou uma grande farsa. De que adianta a tardia "lealdade" a Allan Kardec, se os "espíritas" sempre se identificaram com o igrejismo embolorado de Jean-Baptiste Roustaing, o sinistro responsável por Os Quatro Evangelhos?
A falta de um estudo sério sobre a espiritualidade, acrescido de uma série de mentiras, fingimentos, desculpas, alegações e tantas irregularidades que mancham a doutrina brasileira e a fazem cada vez mais afastada do pedagogo francês do qual diz se inspirar, permite todo um festival de brincadeiras que são levadas a "sério" e corrompem a análise sobre a vida após a morte.
Como uma versão doutrinária da Tábua Ouija, que animava os recreios aristocráticos das "mesas girantes", o "espiritismo" brasileiro percorreu o caminho inverso de Allan Kardec. O cético professor Rivail estudava as "mesas girantes" com muito ceticismo e questionamento e resolveu, a partir dele, elaborar um sistema de análises e perguntas sobre o que seria mesmo o mundo espiritual.
Kardec criou um estudo científico depois de ver uma brincadeira. Já os "espíritas" brasileiros criaram uma brincadeira a partir da evocação de Kardec. E isso faz com que os "espíritas" sentissem preguiça em realizar trabalhos sérios sobre espiritualidade.
A mediunidade nunca passou de fingimento. Os "médiuns" faziam mensagens de sua própria mente, ou pintavam pastiches estilísticos em quadros ou faziam falsetes imitando o que imaginavam ser as vozes de antigos falecidos (que viveram antes da popularização do fonógrafo), e botavam um apelo religioso e "positivo" para minimizar os indícios de fraude, com base no mito de que "boas mensagens" nunca despertariam desconfiança.
O mundo espiritual não passa de especulação, de fantasia. O mito da colônia espiritual de Nosso Lar, com muitos aspectos materialistas, é fictício e sem qualquer relação com a veracidade, e o próprio Allan Kardec havia advertido da dificuldade das pessoas em analisar o mundo espiritual, do qual não se tem, até agora, um indício confiável de como deveria ser.
Junta-se a "mentiunidade" (metáfora para o fingimento de mediunidade, fazendo trocadilho com a palavra "mentira") e a especulação sobre a vida espiritual e vemos pessoas completamente ignorantes dos temas espíritas, e isso não exclui pessoas que muitos acreditam serem "tarimbadas", como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
Eles são os primeiros a expor preconceitos igrejistas, fantasias místicas, moralismo retrógrado e especulações anti-doutrinárias. Suas obras apresentam pontos que contradizem frontalmente com o pensamento kardeciano e nem de longe o atualizam, até porque muitas visões retrógradas se observam nas obras desses dois supostos médiuns, como o machismo na obra de Chico Xavier.
Essas visões, que combinam conservadorismo social com moralismo religioso, derrubam a tese de que o "espiritismo" brasileiro é uma "modernização" ou "atualização" do pensamento kardeciano, e demonstram a herança que os "espíritas" receberam do legado católico do século XIX, de influência portuguesa, da qual se mantiveram visões e práticas medievais.
"BOVESPÍRITA"
O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro quer ser especializado no que não sabe. Isso é uma mania muito comum no Brasil. Vemos de jornalistas reacionários metidos a juízes, como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo, a rádios pop que se passam por roqueiras, como a FM carioca Rádio Cidade, num país de muito pretensiosismo sem vocação natural para a causa respectiva.
Aí eles imaginam o mundo espiritual como um misto de parquinho, condomínios de luxo e complexo hospitalar. Forjam mensagens "espirituais" em que se dá a impressão de que todo espírito do além virou "seminarista" ou "noviça", "padre" ou "freira", com tantos apelos igrejistas que supostas psicografias trazem.
E isso chega ao ponto de "espíritas" iniciarem as apostas de quem teria sido quem em encarnações antigas. Fora um esforço de negociação em que atribuir reencarnações passadas não pode causar conflitos de informações, pois se um figurão "espírita" alega, por exemplo, ter sido Napoleão, outro não pode fazer a mesma atribuição.
Mas numa doutrina bagunçada como o "espiritismo" brasileiro, isso não impede que haja choques e controvérsias aqui e ali. Osvaldo Polidoro foi um lunático místico e mistificador que se autodefinia como "reencarnação de Allan Kardec". Por outro lado, há uma torcida forte atribuindo o próprio Chico Xavier como a reencarnação do pedagogo francês.
Da mesma forma, o personagem André Luiz se divide em encarnações anteriores atribuídas a Carlos Chagas, Osvaldo Cruz e o dirigente esportivo Faustino Esporel, entre outros. Nestes casos, o desconhecimento da vida espiritual e as vaidades pessoais dos "espíritas" arriscam palpites que se chocam uns com os outros e sempre apresentam contradições.
Uma verdadeira farra é feita por "espíritas", que atribuem vidas espirituais aqui e ali. O falecido líder "espírita", Rino Curti, atribuiu a um "centro espírita" a "proteção espiritual" de Machado de Assis e Humberto de Campos. Mas isso é fichinha em relação às brincadeiras que envolveram Chico Xavier.
A ele se atribuíram personalidades femininas diversas, com base no jeito efeminado do "médium" mineiro. Entre elas, uma fictícia Flávia Lentúlia, que pelo nome não condiz à norma de castas familiares das elites romanas do tempo de Jesus, já que seu nome deveria ser um derivado dos nomes dos pais, Publius Cornelius e Lívia. Já o sobrenome Lentúlia é muito vulgar para uma aristocrata, devendo ser Lentulina ou Lentulila, conforme a etiqueta romana da época.
Uma verdadeira farra se fez atribuindo encarnações a Arnaldo Rocha, sua prematuramente falecida esposa Irma de Castro Rocha, a Meimei, a Clóvis Tavares, membro da Federação "Espírita" Brasileira, e até a Rômulo Joviano, que foi patrão de Chico Xavier num trabalho de fazenda.
Fora isso, e fora atribuições sobre quem teria sido André Luiz ou quem será a reencarnação de Emmanuel - foi indicado um jovem, mas ele é suave demais para ser o "novo Emmanuel" - , atribuiu-se também ao médico Adolfo Bezerra de Menezes a a antiga encarnação do cobrador de impostos Zaqueu.
Atribuiu-se a Dom Pedro II a encarnação antiga de Cassius Longinus, oscilando entre dois personagens políticos com este nome e um filósofo homônimo, em informações que se contradizem. E Chico Xavier e Divaldo Franco entraram em choque, quando o primeiro afirmou que Marechal Deodoro reencarnou no corrupto Fernando Collor e Divaldo Franco fez um falsete supondo que o primeiro presidente da República brasileira continuava no mundo espiritual.
Em muitos casos, atribui-se reencarnações antigas a monarcas, cientistas, padres, intelectuais e famosos. Isso é muito perigoso, sobretudo em se tratando de uma religião irregular como o "espiritismo". Pode trazer vaidades pessoais que, uma vez derrubadas por revelações contrárias ou advertências, criam muito mal-estar e reações negativas.
Pensar em vidas passadas, além de ser desnecessário na maioria esmagadora das vezes, só pode ser feito quando extremamente necessário, e mediante um motivo de grande urgência. Não é em qualquer situação e mesmo a alta reputação atribuída a um figurão "espírita" não é justificativa para supor nele vidas anteriores, como se fez a Chico Xavier mais de uma vez.
Quase sempre essa atribuição é supérflua, porque as pessoas andam para a frente, caminham para o progresso espiritual, não havendo necessidade de saber quem foi quem no passado, até para evitar renascer vaidades, frustrações ou traumas pessoais. Saber sobre vidas passadas é perigoso por causa desses sentimentos extremos que sempre causam mal-estar sob a menor adversidade.
E vendo que os "espíritas" adoram brincar, com sua "Bovespírita", ou seja, com seu mercado de apostas e especulações, atribuindo encarnações passadas aqui e ali, para qualquer um que faça o pedido, isso se torna muito perigoso, porque, buscando o superávit da evocação de personagens ilustres, se encontra o déficit da presunção, da desilusão e do trauma que envenenam as consciências.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
A vitória de um Picciani e o sinal amarelo da situação política
OS IRMÃOS LEONARDO E RAFAEL PICCIANI.
No último dia 17, ocorreu a votação no PMDB para a escolha do líder do partido na Câmara dos Deputados. A vitória do carioca Leonardo Picciani contra o piauiense Hugo Motta pode até ser um sinal de declínio do poder do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por ele defender o candidato derrotado.
Eduardo Cunha, famoso por suas propostas reacionárias, era apoiado pela família Picciani, representada politicamente pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, e seus filhos, Leonardo, que reconquistou o cargo que antes exercia, e Rafael, deputado estadual licenciado por ser secretário de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro.
No primeiro momento, a vitória de um Picciani é positiva, por significar o declínio de um deputado como Cunha, que ameaçava romper com conquistas sociais defendidas pela Constituição Federal. A comissão que analisava o pedido de impeachment de Cunha também sofreu a baixa de um deputado integrante que na verdade era um aliado do presidente da Câmara Federal.
No entanto, se a situação favorece o governo de Dilma Rousseff, que vê se distanciar a ameaça de impeachment com o declínio de Cunha, ela representa um sinal amarelo para as causas sociais, não apenas pelo fato da família Picciani ser, segundo reportagem de O Estado de São Paulo, uma das mais ricas do Estado do Rio de Janeiro e detentora de grandes propriedades de terras.
MEDIDAS AUTORITÁRIAS
Afinal, não é porque a chamada "nata" do PMDB carioca - o grupo político do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do governador fluminense Luiz Fernando Pezão - rompeu com Eduardo Cunha e passou a dar o "apoio irrestrito" à presidenta Dilma Rousseff que se tornou um grupo de fato progressista. O grupo político é famoso por adotar medidas de forma não menos autoritária que o deputado das "pautas-bomba".
Se, como líder do PMDB na Câmara Federal, Leonardo Picciani estabelecerá contatos e articulações para manter o Governo Federal até o fim, já que o PMDB faz parte da base aliada do governo Dilma e é o partido do vice, Michel Temer, o irmão Rafael, no cargo de secretário de Transportes carioca, está à frente de medidas reacionárias defendidas sob falsos pretextos técnicos de "otimizar" e "racionalizar" o sistema de ônibus carioca.
Empenhado em extinguir as linhas de ônibus que fazem ligação direta entre as zonas Norte e Sul do município do Rio de Janeiro, que aos poucos reduzem seus itinerários - as linhas para Zona Sul via Centro vão para a Praça 15, as que passam pelo Túnel Santa Bárbara vão para a estação Siqueira Campos em Copacabana, quase no lado do Leme e as do Leblon e Jardim de Alah vão para Siqueira Campos ou Botafogo - , Rafael também quer ver menos ônibus circulando nas ruas cariocas.
Com isso, vê-se a diferença. Para pior. Ônibus que saíam da Central semi-vazios, com cerca de dez passageiros, possibilitando uma lotação menos incômoda quando seguem pelo Aterro ou pela Av. Beira-Mar para a Zona Sul, hoje saem do famoso terminal rodoviário junto à estação de trem já com uma média de dez passageiros em pé, com todos os demais sentados.
Imagine se o plano de redução de itinerários e extinção de linhas concluir e 700 ônibus saírem das ruas do Rio se concluir. No que diz à ocupação do espaço em uma rua, um ônibus equivale a cerca de dois automóveis, só que transporta uma lotação que corresponde a cerca de 40 ou 50 automóveis. A retirada de um único ônibus nas ruas terá de ser compensada por um acréscimo de 50 automóveis, que ocupariam o espaço correspondente a 25 ônibus.
MENOS ÔNIBUS NAS RUAS SIGNIFICAM MAIS AUTOMÓVEIS CIRCULANDO
Se 700 ônibus forem retirados em circulação, um número estimado de 35 mil automóveis serão acrescidos nas ruas, e esse dado não leva em conta a influência publicitária dos comerciais de automóveis que congestionam os intervalos dos programas de televisão. Rafael fala em eliminar itinerários "sobrepostos", mas se esquece da sobreposição de propagandas de automóveis na televisão, em que um só intervalo de cinco minutos chega a mostrar até três ou quatro comerciais de marcas de carros.
Quando houve o escândalo da repressão policial a jovens moradores da Zona Norte que se dirigiam em praias da Zona Sul - bastava não estar com documento de identidade para ser detido pela Polícia Militar - , surgiram denúncias de que o fim das linhas diretas entre as duas zonas cariocas era um processo de discriminação social que prejudicava a ida e volta por ônibus da população suburbana, que teria que gastar mais em passagem, já que os percursos não cobriam o limite de horário do Bilhete Único.
As autoridades tentaram desmentir que o fim das linhas diretas - substituídas por "alimentadoras" Zona Norte X Centro e "troncais" Centro X Zona Sul - eram uma medida de "limpeza social" e que a medida seria para "otimizar" o sistema de ônibus. Houve até o paliativo de se criar uma "praia artificial" para os suburbanos "não precisarem" ir para a Zona Sul e a Barra da Tijuca (o corredor Barra-Madureira-Penha-Fundão também sofreu drásticas reduções de itinerários, eliminando linhas tradicionais e funcionais em prol de "alimentadoras" e "troncais"), a Praia da Rocha Miranda, no Parque Madureira.
"PRAIA DOS SUBURBANOS" TEM ÁREA EQUIVALENTE A 1/8 DE COPACABANA
Só que a "admirável medida", que em tese seria uma boa opção de lazer para os suburbanos, não passou de um grande fiasco. A "praia" que iria receber toda a população dos subúrbios - uma área que vai de São Cristóvão e Tijuca a Campo Grande e de Jacarepaguá ao entorno de Vicente de Carvalho a Inhaúma - não passa de uma pequena área de 500 m, cerca de um oitavo da extensão de Copacabana, o que não comporta uma demanda tão grande e bem maior do que os moradores da Zona Sul que querem ter exclusividade na praia junto, quando muito, aos turistas.
Como 500m de extensão, com um pequeno lago e as chamadas "cachoeiras artificiais" - na verdade um agrupamento de chuveiros - , o Parque Madureira ainda tem como defeito o horário limitado de funcionamento, de 9h às 20h. Esse horário, além de não permitir sequer caminhadas matinais e luaus noturnos, vai contra as recomendações médicas, já que o "grosso" do funcionamento da praia se dá em horários de sol mais forte, o que pode causar os conhecidos malefícios para a pele.
Mas as autoridades não querem saber disso. O Rio de Janeiro é decidido por uma minoria de políticos, empresários, dirigentes esportivos, executivos de mídia e publicitários. A "boa sociedade" é que aceita tudo isso numa boa, por achar que os "de cima" estão sempre com a razão.
Daí a cautela que se tem com o caso Picciani. Em primeiro momento, se aplaude a vitória de um antigo aliado que passou a ser opositor. Mas, em segundo momento, os cariocas não poderão mais comemorar alguma coisa na Zona Sul e nem o Reveillon será mais aberto ao povo, pois os moradores da Zona Norte vão ter que se contentar em festejar o Ano Novo no Piscinão de Ramos, na prainha de Rocha Miranda ou, quando muito, em algum boteco na Av. Pres. Vargas.
A vitória de Leonardo Picciani pode ter sido um fator para o gradual afastamento do poder do prepotente Eduardo Cunha mas traz o sinal amarelo da ascensão dos Picciani diante das arbitrariedades do irmão Rafael contra os suburbanos que vão e vêm de ônibus no Rio, que dão um verdadeiro sinal vermelho para a mobilidade urbana, tema tão falado e tão pouco compreendido.
No último dia 17, ocorreu a votação no PMDB para a escolha do líder do partido na Câmara dos Deputados. A vitória do carioca Leonardo Picciani contra o piauiense Hugo Motta pode até ser um sinal de declínio do poder do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por ele defender o candidato derrotado.
Eduardo Cunha, famoso por suas propostas reacionárias, era apoiado pela família Picciani, representada politicamente pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, e seus filhos, Leonardo, que reconquistou o cargo que antes exercia, e Rafael, deputado estadual licenciado por ser secretário de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro.
No primeiro momento, a vitória de um Picciani é positiva, por significar o declínio de um deputado como Cunha, que ameaçava romper com conquistas sociais defendidas pela Constituição Federal. A comissão que analisava o pedido de impeachment de Cunha também sofreu a baixa de um deputado integrante que na verdade era um aliado do presidente da Câmara Federal.
No entanto, se a situação favorece o governo de Dilma Rousseff, que vê se distanciar a ameaça de impeachment com o declínio de Cunha, ela representa um sinal amarelo para as causas sociais, não apenas pelo fato da família Picciani ser, segundo reportagem de O Estado de São Paulo, uma das mais ricas do Estado do Rio de Janeiro e detentora de grandes propriedades de terras.
MEDIDAS AUTORITÁRIAS
Afinal, não é porque a chamada "nata" do PMDB carioca - o grupo político do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do governador fluminense Luiz Fernando Pezão - rompeu com Eduardo Cunha e passou a dar o "apoio irrestrito" à presidenta Dilma Rousseff que se tornou um grupo de fato progressista. O grupo político é famoso por adotar medidas de forma não menos autoritária que o deputado das "pautas-bomba".
Se, como líder do PMDB na Câmara Federal, Leonardo Picciani estabelecerá contatos e articulações para manter o Governo Federal até o fim, já que o PMDB faz parte da base aliada do governo Dilma e é o partido do vice, Michel Temer, o irmão Rafael, no cargo de secretário de Transportes carioca, está à frente de medidas reacionárias defendidas sob falsos pretextos técnicos de "otimizar" e "racionalizar" o sistema de ônibus carioca.
Empenhado em extinguir as linhas de ônibus que fazem ligação direta entre as zonas Norte e Sul do município do Rio de Janeiro, que aos poucos reduzem seus itinerários - as linhas para Zona Sul via Centro vão para a Praça 15, as que passam pelo Túnel Santa Bárbara vão para a estação Siqueira Campos em Copacabana, quase no lado do Leme e as do Leblon e Jardim de Alah vão para Siqueira Campos ou Botafogo - , Rafael também quer ver menos ônibus circulando nas ruas cariocas.
Com isso, vê-se a diferença. Para pior. Ônibus que saíam da Central semi-vazios, com cerca de dez passageiros, possibilitando uma lotação menos incômoda quando seguem pelo Aterro ou pela Av. Beira-Mar para a Zona Sul, hoje saem do famoso terminal rodoviário junto à estação de trem já com uma média de dez passageiros em pé, com todos os demais sentados.
Imagine se o plano de redução de itinerários e extinção de linhas concluir e 700 ônibus saírem das ruas do Rio se concluir. No que diz à ocupação do espaço em uma rua, um ônibus equivale a cerca de dois automóveis, só que transporta uma lotação que corresponde a cerca de 40 ou 50 automóveis. A retirada de um único ônibus nas ruas terá de ser compensada por um acréscimo de 50 automóveis, que ocupariam o espaço correspondente a 25 ônibus.
MENOS ÔNIBUS NAS RUAS SIGNIFICAM MAIS AUTOMÓVEIS CIRCULANDO
Se 700 ônibus forem retirados em circulação, um número estimado de 35 mil automóveis serão acrescidos nas ruas, e esse dado não leva em conta a influência publicitária dos comerciais de automóveis que congestionam os intervalos dos programas de televisão. Rafael fala em eliminar itinerários "sobrepostos", mas se esquece da sobreposição de propagandas de automóveis na televisão, em que um só intervalo de cinco minutos chega a mostrar até três ou quatro comerciais de marcas de carros.
Quando houve o escândalo da repressão policial a jovens moradores da Zona Norte que se dirigiam em praias da Zona Sul - bastava não estar com documento de identidade para ser detido pela Polícia Militar - , surgiram denúncias de que o fim das linhas diretas entre as duas zonas cariocas era um processo de discriminação social que prejudicava a ida e volta por ônibus da população suburbana, que teria que gastar mais em passagem, já que os percursos não cobriam o limite de horário do Bilhete Único.
As autoridades tentaram desmentir que o fim das linhas diretas - substituídas por "alimentadoras" Zona Norte X Centro e "troncais" Centro X Zona Sul - eram uma medida de "limpeza social" e que a medida seria para "otimizar" o sistema de ônibus. Houve até o paliativo de se criar uma "praia artificial" para os suburbanos "não precisarem" ir para a Zona Sul e a Barra da Tijuca (o corredor Barra-Madureira-Penha-Fundão também sofreu drásticas reduções de itinerários, eliminando linhas tradicionais e funcionais em prol de "alimentadoras" e "troncais"), a Praia da Rocha Miranda, no Parque Madureira.
"PRAIA DOS SUBURBANOS" TEM ÁREA EQUIVALENTE A 1/8 DE COPACABANA
Só que a "admirável medida", que em tese seria uma boa opção de lazer para os suburbanos, não passou de um grande fiasco. A "praia" que iria receber toda a população dos subúrbios - uma área que vai de São Cristóvão e Tijuca a Campo Grande e de Jacarepaguá ao entorno de Vicente de Carvalho a Inhaúma - não passa de uma pequena área de 500 m, cerca de um oitavo da extensão de Copacabana, o que não comporta uma demanda tão grande e bem maior do que os moradores da Zona Sul que querem ter exclusividade na praia junto, quando muito, aos turistas.
Como 500m de extensão, com um pequeno lago e as chamadas "cachoeiras artificiais" - na verdade um agrupamento de chuveiros - , o Parque Madureira ainda tem como defeito o horário limitado de funcionamento, de 9h às 20h. Esse horário, além de não permitir sequer caminhadas matinais e luaus noturnos, vai contra as recomendações médicas, já que o "grosso" do funcionamento da praia se dá em horários de sol mais forte, o que pode causar os conhecidos malefícios para a pele.
Mas as autoridades não querem saber disso. O Rio de Janeiro é decidido por uma minoria de políticos, empresários, dirigentes esportivos, executivos de mídia e publicitários. A "boa sociedade" é que aceita tudo isso numa boa, por achar que os "de cima" estão sempre com a razão.
Daí a cautela que se tem com o caso Picciani. Em primeiro momento, se aplaude a vitória de um antigo aliado que passou a ser opositor. Mas, em segundo momento, os cariocas não poderão mais comemorar alguma coisa na Zona Sul e nem o Reveillon será mais aberto ao povo, pois os moradores da Zona Norte vão ter que se contentar em festejar o Ano Novo no Piscinão de Ramos, na prainha de Rocha Miranda ou, quando muito, em algum boteco na Av. Pres. Vargas.
A vitória de Leonardo Picciani pode ter sido um fator para o gradual afastamento do poder do prepotente Eduardo Cunha mas traz o sinal amarelo da ascensão dos Picciani diante das arbitrariedades do irmão Rafael contra os suburbanos que vão e vêm de ônibus no Rio, que dão um verdadeiro sinal vermelho para a mobilidade urbana, tema tão falado e tão pouco compreendido.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
A preocupante situação das relações sociais no Rio de Janeiro
CARIOCAS CONDICIONAM AS RELAÇÕES DE AMIZADE AO CONSUMO DE AMBIENTES COMO AS CASAS NOTURNAS.
Algo está errado no Rio de Janeiro. As relações sociais andam se deteriorando sutilmente, e pessoas consideradas da "boa sociedade" estão evitando manter amizade com pessoas que expressam um questionamento aprofundado das coisas, que passam a serem vistas como "incômodas" e "estranhas".
O Rio de Janeiro está em crise séria, e não se limita apenas ao âmbito da Política, da Economia e da Segurança. A crise é generalizada, de tal forma que, culturalmente, o Estado prefere considerar como "valiosas" aberrações como o "funk carioca" e a programação "roqueira" da Rádio Cidade, emissora sem competência nem tradição para o rock e não tem sequer pessoal especializado no gênero.
O mais grave problema é que a crise que atinge o Rio de Janeiro, que se manifesta em uma infinidade de incidentes, alguns trágicos, outros cômicos de tão ridículos, é vista com indiferença pelos próprios fluminenses, que reagem a esse quadro da pior maneira, ignorando-o ou achando tudo "normal" dentro do que eles chamam de "complexidade da vida urbana".
A crise, no entanto, está muito acima do que se pode considerar como "aceitável" na "complexidade da vida urbana". A ideia não é o Rio de Janeiro ter "problemas típicos de metrópole", mas problemas que expressam uma decadência profunda que dá, ao Estado e sua antes imponente capital, um ar de provincianismo decadente, ancorado pelo neocoronelismo que envolve autoridades cariocas.
As pessoas no Grande Rio parecem sentir alguma fobia a contestações e necessidade de manifestação. E fazem uma discriminação grave contra quem questiona o estabelecido. Até pouco tempo atrás, a maioria dos praticantes de trolagem vem de internautas do Estado do Rio de Janeiro, mas nem todas as discriminações sociais vêm de gente que pratica trolagem.
As piores discriminações vem de gente considerada "amiga", pessoas aparentemente simpáticas e amistosas, respeitosas e respeitáveis, admiráveis até certo ponto, mas que condicionam a amizade ao compartilhamento de certos bens de consumo da "vida moderna" carioca. Ou seja, as relações de amizade são relações de consumo, de mero compartilhamento de lazer.
SOCIEDADE PRECONCEITUOSA
A sociedade carioca tornou-se preconceituosa. Criou-se um pensamento único e reacionário que contamina até a chamada "mobilidade urbana" (ônibus com pinturas padronizadas e itinerários reduzidos, praças gigantescas no Centro da cidade que obrigam pessoas a andarem mais etc) e um senso de pragmatismo (se satisfazer com pouco, tido como "básico dos básicos") que fazem o Rio de Janeiro se retroceder em décadas por conta de tantas posturas retrógradas.
E aí surgiu a mania de condicionar as relações de amizade por alguns ritos sociais que nem são tão benéficos assim: ir a uma boate da moda, torcer por futebol, aceitar "novidades" por mais absurdas e nocivas que sejam, não questionar as coisas, ficar se divertindo à toa, e rir das desgraças em vez de resolver problemas.
Há uma situação surreal de que, quando existe um problema e ele é discutido no meio privativo dos fóruns de Internet, todos debatem serenamente o problema, até com desabafos duros, porém dentro de uma esfera de respeito e um mínimo de bom senso.
De repente, quando um dos internautas parte para ação e tenta resolver esse problema, os demais internautas reagem com fúria, e há até quem faça trolagem, despeje piadas grosseiras e ofensivas em petições na Internet, haja esculhambação e tudo, só porque um indivíduo ultrapassou os limites da discussão digital e foi resolver o problema através de uma ação mais concreta.
Há uma situação grave que é a do pessoal do Rio de Janeiro preferir fazer amizade com encrenqueiros que tenham um mínimo de prestígio social do que para pessoas aparentemente solitárias e de bom caráter que no entanto são conhecidas por "questionar todas as coisas". Como se, numa sociedade problemática como a nossa, houvesse uma parcela de problemas e retrocessos que "têm que ser preservados".
AUTISMO COLETIVO
Muitos indivíduos de difícil capacidade de socialização reclamam do preconceito que sofrem no Rio de Janeiro. Telefonam para marcar encontros e recebem uma desculpa como resposta. "Ah, tenho que ir à casa de minha tia", "Ih, não dá tempo, tenho compromisso", e tudo o mais.
Mesmo os amigos parecem indispostos em algum momento. Chamam os "garotos-problemas" - as tais pessoas que questionam o estabelecido e são alvo de discriminação no RJ - de "arredios", dizem que "exageram na dose" das contestações, e pedem para que eles fiquem "de bem com a vida", aceitando tudo de bandeja.
Para piorar, não são os contestadores "incômodos" que se isolam da sociedade. Eles querem que amigos lhes combinem encontros, improvisem locais para se verem, já que em certos casos a distância soa muito cara para um deles. Quem se isola é a sociedade carioca e os fluminenses que dela têm como modelo.
A amizade passa a ser condicionada pela presença no WhatsApp, pela frequência a uma boate ou um bar, pelo fanatismo pelo futebol (de preferência para quatro times, Flamengo, Fluminense, Botafogo ou Vasco), pela obrigação de sempre contar piadas, pela aceitação de "novidades" sem questionamento, mesmo quando elas revelam absurdos e malefícios.
Nas relações amorosas, os homens tendem a ser fanfarrões e as mulheres, insensíveis e nada carinhosas. Não há espaços gratuitos de paqueras e há muita discriminação nas escolhas amorosas, em que o caráter é deixado em segundo plano, em nome das conveniências sociais de todo tipo, sobretudo ligadas a dinheiro e prestígio estético.
Chega-se ao ponto de considerar que quem aceita os retrocessos no Rio de Janeiro, como um sistema de ônibus que se degrada completamente ou uma "rádio de rock" sem pessoal especializado, como a Rádio Cidade, é "gente como a gente", ganhando simpatia por aceitar os retrocessos que ocorrem por decisões vindas "de cima", a pretexto de acreditar que, se algo perde a qualidade, é porque os "mandões" têm algum motivo de sobra para que isso aconteça.
Se não aceitar, é alvo de preconceitos. E é isso que faz a sociedade do Rio de Janeiro se isolar, criando uma espécie de autismo coletivo. Não são os caras que "reclamam demais das coisas" que abandonam os amigos mais prestigiados, mas estes que, isolados nas suas convicções pessoais e nos seus hábitos de consumismo, se fecham e abandonam os amigos "mais estranhos".
É um fenômeno tipicamente brasileiro, porém mais típico no Rio de Janeiro. O autismo coletivo de grupos sociais que se fecham em si mesmos. Não há extrovertidos que se interessem a chamar os introvertidos a fazerem parte do grupo, os introvertidos é que têm que se virar para serem extrovertidos e se chegarem aos grupos extrovertidos, com muito "jogo-de-cintura".
No entanto, quando extrovertidos chamam um introvertido para se reunirem com o grupo, é quase sempre através de um comentário agressivo ou para forçar a adesão a alguma coisa. Houve casos de estudantes de uma universidade do Rio de Janeiro que forçaram um colega introvertido a experimentar cerveja, causando constrangimento a este.
SOCIEDADE RELIGIOSA
E a decadência que acontece no Rio de Janeiro ocorre por falta de religião? Muito pelo contrário. O Estado do Rio de Janeiro é um dos mais religiosos de todo o país, e na prática a unidade federativa - combinação do antigo Estado fluminense com o antigo Estado da Guanabara, que havia sido o Distrito Federal - ainda se comporta como sede operacional de movimentos religiosos.
Sede da Igreja Universal do Reino de Deus, principal reduto da Igreja Católica e espécie de "quartel-general" do "movimento espírita" - a antiga sede, hoje filial, da Federação "Espírita" Brasileira, é conhecida como "Vaticano espírita" - , o Rio de Janeiro superou Salvador (que, diz a lenda, parecia ter uma igreja para cada dia do ano) tornou-se um dos maiores redutos de atividades religiosas do país.
Há casos de religiosos que fazem trolagem na Internet, que transmitem pontos-de-vista altamente reacionários, que reagem com rancor e desdém a quem não pensa igual a ele e cometem discriminações sociais e morais gravíssimas.
Há um caso de uma mulher, de cerca de 45 anos, que é devota de Francisco Cândido Xavier - sim, o "médium" Chico Xavier - , e que, de forma inexplicável, passou a discriminar antigos colegas de escola para os quais chegou a ter alguma admiração na infância. Ela chega a "curtir" postagens deles no Facebook, mas na hora do encontro pessoal, ela os evita de maneira temerosa.
Pior: as pessoas acabam discriminando humanos e depositando mais afeição em cachorrinhos. O que é aliás um dado irônico, pois os cachorros demonstram mais espontaneidade e valorização da amizade do que os humanos, já que cachorros aparentemente estranhos entre si demonstram maior afetividade para outros cães, do que o que se vê na espécie humana.
Várias pessoas religiosas também manifestaram "patrulhamento" diante de certos temas, e não se fala de religião. Um "cristão convicto" chegou a dizer para um internauta apagar do Facebook uma página contrária à pintura padronizada e outros problemas no decadente sistema de ônibus do Rio de Janeiro (que terá mais linhas esquartejadas no fim de semana; o povo da Zona Norte que se vire com a "prainha artificial" em Rocha Miranda que só abre do meio da manhã e fecha antes do luau).
O Rio de Janeiro traz esse mau e triste exemplo de se fechar em preconceitos, zonas-de-conforto e convicções pessoais que fizeram sua sociedade se tornar mentalmente fechada e indiferente às transformações do tempo.
Perdido em problemas cuja gravidade subestima, e em retrocessos vistos como "naturais", os fluminenses, e, em particular, os cariocas, chegam a dar uma péssima demonstração social ao boicotar amigos que "reclamem demais" e não compartilhem do consumismo de boates, do futebol, do WhatsApp ou mesmo daquela "novidade" nefasta que somos obrigados a aceitar.
Assim o Rio de Janeiro perde ainda mais seu mérito de ser cidade-modelo e ponto de referência para o país, ante a crise generalizada que, como um câncer terminal, atinge o Estado e sua capital e pega de surpresa a "boa sociedade" envaidecida com suas zonas-de-conforto garantidas pelas vaidades das glórias passadas e pelas convicções pessoais que aceitam tudo de bandeja.
Algo está errado no Rio de Janeiro. As relações sociais andam se deteriorando sutilmente, e pessoas consideradas da "boa sociedade" estão evitando manter amizade com pessoas que expressam um questionamento aprofundado das coisas, que passam a serem vistas como "incômodas" e "estranhas".
O Rio de Janeiro está em crise séria, e não se limita apenas ao âmbito da Política, da Economia e da Segurança. A crise é generalizada, de tal forma que, culturalmente, o Estado prefere considerar como "valiosas" aberrações como o "funk carioca" e a programação "roqueira" da Rádio Cidade, emissora sem competência nem tradição para o rock e não tem sequer pessoal especializado no gênero.
O mais grave problema é que a crise que atinge o Rio de Janeiro, que se manifesta em uma infinidade de incidentes, alguns trágicos, outros cômicos de tão ridículos, é vista com indiferença pelos próprios fluminenses, que reagem a esse quadro da pior maneira, ignorando-o ou achando tudo "normal" dentro do que eles chamam de "complexidade da vida urbana".
A crise, no entanto, está muito acima do que se pode considerar como "aceitável" na "complexidade da vida urbana". A ideia não é o Rio de Janeiro ter "problemas típicos de metrópole", mas problemas que expressam uma decadência profunda que dá, ao Estado e sua antes imponente capital, um ar de provincianismo decadente, ancorado pelo neocoronelismo que envolve autoridades cariocas.
As pessoas no Grande Rio parecem sentir alguma fobia a contestações e necessidade de manifestação. E fazem uma discriminação grave contra quem questiona o estabelecido. Até pouco tempo atrás, a maioria dos praticantes de trolagem vem de internautas do Estado do Rio de Janeiro, mas nem todas as discriminações sociais vêm de gente que pratica trolagem.
As piores discriminações vem de gente considerada "amiga", pessoas aparentemente simpáticas e amistosas, respeitosas e respeitáveis, admiráveis até certo ponto, mas que condicionam a amizade ao compartilhamento de certos bens de consumo da "vida moderna" carioca. Ou seja, as relações de amizade são relações de consumo, de mero compartilhamento de lazer.
SOCIEDADE PRECONCEITUOSA
A sociedade carioca tornou-se preconceituosa. Criou-se um pensamento único e reacionário que contamina até a chamada "mobilidade urbana" (ônibus com pinturas padronizadas e itinerários reduzidos, praças gigantescas no Centro da cidade que obrigam pessoas a andarem mais etc) e um senso de pragmatismo (se satisfazer com pouco, tido como "básico dos básicos") que fazem o Rio de Janeiro se retroceder em décadas por conta de tantas posturas retrógradas.
E aí surgiu a mania de condicionar as relações de amizade por alguns ritos sociais que nem são tão benéficos assim: ir a uma boate da moda, torcer por futebol, aceitar "novidades" por mais absurdas e nocivas que sejam, não questionar as coisas, ficar se divertindo à toa, e rir das desgraças em vez de resolver problemas.
Há uma situação surreal de que, quando existe um problema e ele é discutido no meio privativo dos fóruns de Internet, todos debatem serenamente o problema, até com desabafos duros, porém dentro de uma esfera de respeito e um mínimo de bom senso.
De repente, quando um dos internautas parte para ação e tenta resolver esse problema, os demais internautas reagem com fúria, e há até quem faça trolagem, despeje piadas grosseiras e ofensivas em petições na Internet, haja esculhambação e tudo, só porque um indivíduo ultrapassou os limites da discussão digital e foi resolver o problema através de uma ação mais concreta.
Há uma situação grave que é a do pessoal do Rio de Janeiro preferir fazer amizade com encrenqueiros que tenham um mínimo de prestígio social do que para pessoas aparentemente solitárias e de bom caráter que no entanto são conhecidas por "questionar todas as coisas". Como se, numa sociedade problemática como a nossa, houvesse uma parcela de problemas e retrocessos que "têm que ser preservados".
AUTISMO COLETIVO
Muitos indivíduos de difícil capacidade de socialização reclamam do preconceito que sofrem no Rio de Janeiro. Telefonam para marcar encontros e recebem uma desculpa como resposta. "Ah, tenho que ir à casa de minha tia", "Ih, não dá tempo, tenho compromisso", e tudo o mais.
Mesmo os amigos parecem indispostos em algum momento. Chamam os "garotos-problemas" - as tais pessoas que questionam o estabelecido e são alvo de discriminação no RJ - de "arredios", dizem que "exageram na dose" das contestações, e pedem para que eles fiquem "de bem com a vida", aceitando tudo de bandeja.
Para piorar, não são os contestadores "incômodos" que se isolam da sociedade. Eles querem que amigos lhes combinem encontros, improvisem locais para se verem, já que em certos casos a distância soa muito cara para um deles. Quem se isola é a sociedade carioca e os fluminenses que dela têm como modelo.
A amizade passa a ser condicionada pela presença no WhatsApp, pela frequência a uma boate ou um bar, pelo fanatismo pelo futebol (de preferência para quatro times, Flamengo, Fluminense, Botafogo ou Vasco), pela obrigação de sempre contar piadas, pela aceitação de "novidades" sem questionamento, mesmo quando elas revelam absurdos e malefícios.
Nas relações amorosas, os homens tendem a ser fanfarrões e as mulheres, insensíveis e nada carinhosas. Não há espaços gratuitos de paqueras e há muita discriminação nas escolhas amorosas, em que o caráter é deixado em segundo plano, em nome das conveniências sociais de todo tipo, sobretudo ligadas a dinheiro e prestígio estético.
Chega-se ao ponto de considerar que quem aceita os retrocessos no Rio de Janeiro, como um sistema de ônibus que se degrada completamente ou uma "rádio de rock" sem pessoal especializado, como a Rádio Cidade, é "gente como a gente", ganhando simpatia por aceitar os retrocessos que ocorrem por decisões vindas "de cima", a pretexto de acreditar que, se algo perde a qualidade, é porque os "mandões" têm algum motivo de sobra para que isso aconteça.
Se não aceitar, é alvo de preconceitos. E é isso que faz a sociedade do Rio de Janeiro se isolar, criando uma espécie de autismo coletivo. Não são os caras que "reclamam demais das coisas" que abandonam os amigos mais prestigiados, mas estes que, isolados nas suas convicções pessoais e nos seus hábitos de consumismo, se fecham e abandonam os amigos "mais estranhos".
É um fenômeno tipicamente brasileiro, porém mais típico no Rio de Janeiro. O autismo coletivo de grupos sociais que se fecham em si mesmos. Não há extrovertidos que se interessem a chamar os introvertidos a fazerem parte do grupo, os introvertidos é que têm que se virar para serem extrovertidos e se chegarem aos grupos extrovertidos, com muito "jogo-de-cintura".
No entanto, quando extrovertidos chamam um introvertido para se reunirem com o grupo, é quase sempre através de um comentário agressivo ou para forçar a adesão a alguma coisa. Houve casos de estudantes de uma universidade do Rio de Janeiro que forçaram um colega introvertido a experimentar cerveja, causando constrangimento a este.
SOCIEDADE RELIGIOSA
E a decadência que acontece no Rio de Janeiro ocorre por falta de religião? Muito pelo contrário. O Estado do Rio de Janeiro é um dos mais religiosos de todo o país, e na prática a unidade federativa - combinação do antigo Estado fluminense com o antigo Estado da Guanabara, que havia sido o Distrito Federal - ainda se comporta como sede operacional de movimentos religiosos.
Sede da Igreja Universal do Reino de Deus, principal reduto da Igreja Católica e espécie de "quartel-general" do "movimento espírita" - a antiga sede, hoje filial, da Federação "Espírita" Brasileira, é conhecida como "Vaticano espírita" - , o Rio de Janeiro superou Salvador (que, diz a lenda, parecia ter uma igreja para cada dia do ano) tornou-se um dos maiores redutos de atividades religiosas do país.
Há casos de religiosos que fazem trolagem na Internet, que transmitem pontos-de-vista altamente reacionários, que reagem com rancor e desdém a quem não pensa igual a ele e cometem discriminações sociais e morais gravíssimas.
Há um caso de uma mulher, de cerca de 45 anos, que é devota de Francisco Cândido Xavier - sim, o "médium" Chico Xavier - , e que, de forma inexplicável, passou a discriminar antigos colegas de escola para os quais chegou a ter alguma admiração na infância. Ela chega a "curtir" postagens deles no Facebook, mas na hora do encontro pessoal, ela os evita de maneira temerosa.
Pior: as pessoas acabam discriminando humanos e depositando mais afeição em cachorrinhos. O que é aliás um dado irônico, pois os cachorros demonstram mais espontaneidade e valorização da amizade do que os humanos, já que cachorros aparentemente estranhos entre si demonstram maior afetividade para outros cães, do que o que se vê na espécie humana.
Várias pessoas religiosas também manifestaram "patrulhamento" diante de certos temas, e não se fala de religião. Um "cristão convicto" chegou a dizer para um internauta apagar do Facebook uma página contrária à pintura padronizada e outros problemas no decadente sistema de ônibus do Rio de Janeiro (que terá mais linhas esquartejadas no fim de semana; o povo da Zona Norte que se vire com a "prainha artificial" em Rocha Miranda que só abre do meio da manhã e fecha antes do luau).
O Rio de Janeiro traz esse mau e triste exemplo de se fechar em preconceitos, zonas-de-conforto e convicções pessoais que fizeram sua sociedade se tornar mentalmente fechada e indiferente às transformações do tempo.
Perdido em problemas cuja gravidade subestima, e em retrocessos vistos como "naturais", os fluminenses, e, em particular, os cariocas, chegam a dar uma péssima demonstração social ao boicotar amigos que "reclamem demais" e não compartilhem do consumismo de boates, do futebol, do WhatsApp ou mesmo daquela "novidade" nefasta que somos obrigados a aceitar.
Assim o Rio de Janeiro perde ainda mais seu mérito de ser cidade-modelo e ponto de referência para o país, ante a crise generalizada que, como um câncer terminal, atinge o Estado e sua capital e pega de surpresa a "boa sociedade" envaidecida com suas zonas-de-conforto garantidas pelas vaidades das glórias passadas e pelas convicções pessoais que aceitam tudo de bandeja.