RUÍNAS DA ANTIGA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA, NO EGITO.
Se o "velho mundo", a julgar pela suposta profecia de Francisco Cândido Xavier, for mesmo destruído a partir de 2019, deixando praticamente intato o Hemisfério Sul e, sobretudo o Brasil, qual o impacto que isso causará no âmbito do conhecimento e do ativismo social? Que perdas irreparáveis se poderá ter com tudo isso?
Analisando as coisas, isso quer dizer que um considerável número de personalidades do meio artístico, intelectual e político, irão desaparecer com as catástrofes e os atos bélicos e terroristas. Embora um certo número de pessoas tivesse condições de se deslocar para as regiões remanescentes, podemos perceber que as perdas cogitáveis não serão poucas.
No Brasil de hoje, em que a compreensão da realidade se torna cada vez mais atrofiada e confusa, o fim do "velho mundo" - que compreende regiões como o Oriente Médio, a Europa, os EUA e a Ásia - será bastante prejudicial, não pela ausência total de réplicas de material produzido nessas regiões, mas até mesmo pelo valor que se dá a elas e aos esforços pela busca do conhecimento.
O Brasil tem como hábito o anti-intelectualismo. É um dos poucos países em que Allan Kardec recebe opiniões negativas sobre seu cientificismo. Recentemente, surgiu uma onda de discriminação do pensamento questionador e do raciocínio aprofundado e virou moda as pessoas dizerem que fulano está errado por causa do "excesso de lógica" e da "overdose de ciência".
Isso combina uma série de fatores. A ciência é sempre ensinada de forma errada nas escolas, o que dá a impressão de que ela é sempre tediosa e maçante. A religião, trabalhada à maneira dos contos de fadas, recebe a preferência popular por ser mais agradável e relaxante.
Por isso é que há a discriminação pelo próprio ato de pensar, pela abordagem contestatória, pela análise aprofundada. Ela se intensificou nas mídias sociais, cada vez mais voltadas a serem redutos do entretenimento "água com açúcar", algo insólito até para os padrões da ditadura militar, mas existentes e resistentes num contexto de democracia ainda frágil, mas consolidada e protegida pela Constituição de 1988.
FRANZ ANTON MESMER E PERCIVAL LOWELL "DESAPARECERIAM" COM A DESTRUIÇÃO DO "VELHO MUNDO".
Comparamos o relato de Chico Xavier, dado a Geraldo Lemos Neto e cujas "previsões" condizem ao que Emmanuel havia descrito em vários textos sobre o fim do "velho mundo", com a destruição do legado da Antiguidade Clássica.
Sabe-se que o impacto das diversas destruições, sobretudo de uma das antigas maiores bibliotecas do mundo, a de Alexandria, no Egito onde se juntava um riquíssimo acervo de conhecimentos científicos, obras artísticas e trabalhos intelectuais, eliminou para sempre as chances de termos acesso a registros riquíssimos de ideias, pesquisas e conhecimentos de profundo valor.
Sucessivos incêndios destruíram 95% das obras científicas, artísticas e intelectuais depositadas em Alexandria, assim como outras preciosas expressões das artes, dos movimentos científicos e das atividades intelectuais, se perderam para sempre, só restando o que pôde ser salvo até nossos dias. E isso na Grécia, em Roma (da qual documentos sobre sua fundação são considerados perdidos) e em outras partes do Mundo Antigo.
Conseguimos montar sistemas de conhecimento de Matemática, Filosofia, Química e expressões artísticas provenientes dessas épocas, mas até hoje perguntamos coisas a respeito da sofisticada Arquitetura e Engenharia produzida no Mundo Antigo, sobretudo as pirâmides de requintada construção, complexa até para os padrões tecnológicos de hoje.
Mas levamos muito tempo para reestabelecer o norte da sociedade mundial, já que a Antiguidade Clássica foi durante séculos desprezada ou apreciada de forma privativa por alguns privilegiados ou esclarecidos. Só quando foram descobertos fósseis de pessoas e construções nas cidades de Pompeia e Herculano é que se "redescobriu" a Antiguidade Clássica que a Idade Média quis destruir.
Sabe-se que Pompeia e Herculano foram duas cidades do Sul da Itália, que, na época do Império Romano, em 79 d. C, foram soterradas pelas lavas do vulcão Vesúvio, cuja explosão ainda fez atirar pedras sobre as duas cidades, atingindo várias pessoas.
Oportunista, o obsessor de Chico Xavier, o dito "mentor" Emmanuel, no livro Há Dois Mil Anos, que supôs ter tido uma encarnação como o suposto senador Públio Lentulus (sem relação verdadeira com os parentes homônimos que realmente existiram), personagem claramente baseado em cartas apócrifas medievais, atribuindo seu óbito à tragédia vulcânica acima citada.
Com muito trabalho, tentamos recuperar os rumos que a Idade Média interrompeu. Consta-se que o "golpe final" contra a biblioteca de Alexandria foi dado por autoridades romanas que acreditavam que seu acervo continha "teses perigosas" para a "paz social" imposta pela Igreja Católica. A descoberta dos fósseis de Pompeia e Herculano ocorreram já na Idade Moderna.
De repente, a "profecia" de Chico Xavier fala que o "velho mundo" seria castigado por violentas catástrofes naturais que ocorreriam depois de uma onda de conflitos bélicos e ataques terroristas. Cidades e regiões seriam destruídas e o Hemisfério Norte se tornaria "inabitável". Populações remanescentes migrariam para o Hemisfério Sul.
Temos expressões artísticas, intelectuais e científicas que são subestimadas no Hemisfério Sul. No Brasil, não há conhecimento de traduções das obras de Franz Anton Mesmer, alemão teórico do Magnetismo, tão estudado por Allan Kardec.
Da mesma forma, o astrônomo Percival Lowell, que estudou aspectos sobre vida em Marte tão tolamente atribuídos pelos "espíritas" brasileiros a Chico Xavier, não tem sua trilogia sobre o Planeta Vermelho traduzida no Brasil, o que impede que nosso país tenha conhecimento da obra desse renomado cientista.
Perderemos uma parcela menor de referenciais do conhecimento do que nos tempos da Antiguidade Clássica, talvez pela reprodutividade ampla da maior parte das obras. Mas, mesmo com esse dano minimizado, sobretudo por causa da Internet, haverá lacunas irreparáveis, sobretudo pela própria negligência que o Brasil, país tido como futura liderança planetária, tem para o âmbito do conhecimento.
É no Brasil onde prevalecem visões mistificadoras e uma interpretação atrofiada da realidade. Aspectos da mediocrização cultural, por exemplo, que são questionados de maneira enérgica por inteelctuais renomados do exterior, aqui são defendidos e não contestados pela maioria de intelectuais influentes e ligados a um mercado do entretenimento atrelado a interesses político-empresariais.
Só o caso da investigação sobre mitos religiosos revela o quanto o Brasil está mergulhado na areia movediça da complacência. Com todo o estereótipo "imaculado" da missionária religiosa e apoiado por um mito mais organizado e verossímil, Madre Teresa de Calcutá pôde ser contestada até por trabalhos acadêmicos que apresentaram provas de sua trajetória irregular.
Aqui, Chico Xavier, com um mito cada vez mais confuso e um estereótipo bem menos organizado de "bondade e humildade", mesmo com uma coleção de aspectos sombrios e de fácil comprovação em sua trajetória, tornou-se um ídolo difícil de ser desmascarado, até pelo contexto de anti-intelectualismo que atinge boa parcela dos brasileiros.
Pode se imaginar que, se o "velho mundo" for destruído, as perdas poderão ser mais qualitativas que quantitativas, embora sabemos que alguma coisa se perderá. Boa parte das personalidades famosas iria sucumbir a essa tragédia, o que privará o restante da Terra do testemunho e da contribuição viva de pessoas com notável saber e talento.
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