domingo, 13 de setembro de 2015
Como se dá a "mentiunidade"?
Já se questionou sobre a realização de atividades ditas mediúnicas no Brasil. Sabe-se que a quase totalidade das mesmas é irregular, mesmo partindo de pessoas "gabaritadas" como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, e muito do que se faz em nome dos mortos é fraudulento e não tem a menor participação deles. Os amigos do além nem chegam perto dos supostos médiuns.
Mas como é que se dá essa suposta mediunidade, a "mentiunidade"? Ela se deve sobretudo à falta de preparo, podemos dizer a incompetência, dos supostos médiuns, que não têm a concentração necessária para receber as mensagens dos mortos.
A mediunidade existe, mas ela quase não é exercida no Brasil. A falta de estudos sérios, e sinceramente rigorosos, da Ciência Espírita, faz com que essa bagunça aconteça, e muitos acreditem, porque são tarefas irregulares, malfeitas ou nada feitas, transmitidas e "ensinadas" por pessoas dotadas de prestígio e visibilidade, como os citados anti-médiuns.
Procuraremos aqui esclarecer como se dá esse lapso e como os supostos médiuns fazem para forjar uma tarefa que nunca fizeram, inventando tudo de suas mentes materiais e trazendo algum apelo religioso ou filantrópico para iludir as massas. Infelizmente, a mediunidade no Brasil é sinônimo de ilusionismo.
PSICOGRAFIA
O suposto médium se senta para escrever. Só que ele não tem concentração para receber a mensagem de um espírito do além. Ele nunca foi educado para tal recepção, e, quando muito, tenta um transe, na quase penumbra de seu canto, e finge, até para si mesmo, que está recebendo alguém, como uma criança que começa a falar com seu amiguinho imaginário.
A mediunidade que não ocorre é então compensada com um método. O "médium" não consegue se concentrar, até porque ele vive com seus problemas cotidianos, mas mesmo a serenidade não lhe garante a concentração, porque ele simplesmente nunca estudou a Ciência Espírita. Quando muito, ele apenas "passeou" pela teoria mediúnica como quem lê, entediado, uma bula de remédio.
Existe a "metodologia" que a Federação "Espírita" Brasileira adota para esses casos. Para quem não consegue se concentrar para receber um espírito no além, faz-se uma pesquisa prévia sobre o morto da ocasião e, a partir dela, escreve-se uma mensagem que segue a tríade narrativa de Nosso Lar: sofrimento no além-túmulo, internação em colônia espiritual e contato com o "Evangelho de Jesus".
Nem precisa apresentar a caligrafia do morto. O "médium" escreve tudo com a caligrafia própria, e até a "assinatura do morto" é da caligrafia do suposto receptor, nunca a do morto. É uma fraude que poucos conseguem perceber e aceitam sem queixumes. Daí fazer sentido que Chico Xavier deixou que os manuscritos originais de seus livros "psicográficos" se perderam. Eles foram jogados fora de propósito pela FEB.
Como tudo é feito nos "bastidores", as mensagens "mediúnicas" são feitas na "cozinha" dos "centros espíritas" - geralmente em salas secretas - , para permitir a "recepção espontânea" das mensagens "espirituais", todos acreditam que haja veracidade nesse engodo divulgado assim de repente.
PSICOFONIA
Evidentemente, o suposto médium que não tem concentração para receber espíritos do além para escrever mensagens tem muito menos concentração para receber espíritos do além para trazer mensagens pela voz, as chamadas "psicofonias".
Não basta apenas fechar os olhos, ficar quietinho num instante, fingindo estar em transe. Isso é insuficiente para o espírito do além aparecer e usar a voz. Diante dessa falta de concentração, o "médium" apenas "desperta" de seu fechar de olhos e ele precisa "voltar" com uma voz diferente, para convencer os incautos.
Às vezes nem pausa tem. O "gabaritado" Divaldo Franco havia cometido uma gafe, já que ele é um ignorante em Ciência Espírita por mais que tente provar o contrário, ele, um grande malabarista da palavra e um demagogo dos mais habilidosos.
Numa de suas palestras, ele estava dizendo uma mensagem e, sem dar qualquer pausa, mudou o timbre se passando pelo médico Adolfo Bezerra de Menezes, cuja presença no mundo espiritual, tão alardeada pelos "espíritas", é bastante duvidosa.
Consta-se que o médico, político e ex-presidente da FEB reencarnou depois de encerrar sua vida como o famoso personagem, em 1900, e já deve estar até na segunda reencarnação depois de tal ocasião. Infelizmente, falta haver uma biografia imparcial sobre a figura do dr. Bezerra. Tudo que se produziu sobre sua vida não passa de um monte de fantasias romanceadas.
Pois Divaldo, imitando a voz de Zé Colmeia com gripe, fez um "dr. Bezerra" agonizante - diferente do "dr. Bezerra" esganiçado do seu amigo baiano, o também anti-médium José Medrado - que causou deslumbramento nos presentes. E, na citada palestra, Divaldo nem se deu ao cuidado de dar uma pausa, falou uma coisa com a voz normal e depois emendou com um falsete.
Geralmente os falsetes são feitos atribuindo a personalidades que viveram até o século XIX e não tiveram acesso às gravações sonoras que, em 1877, eram uma grande novidade que só se popularizaram no século seguinte, e ainda assim nos anos 1920.
Quando muito, pessoas de convívio mais intenso, como Chico Xavier da parte de Ariston Teles e o falecido parceiro de Divaldo na Mansão do Caminho, "tio" Nilson Pereira, por parte do próprio anti-médium, são evocadas em falsetes que procuram imitar com perfeição as vozes e os trejeitos vocais dos falecidos. É como, no humorismo, se faz com Sílvio Santos, Fausto Silva e Chacrinha, com imitações muitas vezes impecáveis.
PSICOPICTOGRAFIA
Essa técnica é mais complexa para um suposto médium. E muito mais difícil de garantir verossimilhança. A psicopictografia, que é o nome técnico da pintura mediúnica, é feita por menos supostos médiuns do que as demais técnicas, porque vai muito mais do que imitar Chacrinha ou forjar uma mensagem de um filhinho desesperado gritando pela mãe.
Geralmente o suposto médium de pintura têm que ter alguma habilidade para pintar. Claro que ele pode inventar que "nunca entendeu de pintura", que "faz aquilo sem ter ideia do que é" ou coisa parecida. Mas a verdade é que ele teve algum curso de pintura, sim, por mais modesto que seja.
Ele usa do clichê das "falanges de pintores", desde que Luiz Antônio Gasparetto e José Medrado popularizaram essa manobra. Atribuir uma logicamente impensável reunião de pintores de diferentes épocas e procedências é algo que alimenta o sensacionalismo e comove as plateias incautas.
Assim, junta-se sobretudo pintores expressionistas, impressionistas e modernistas num balaio de pinturas supostamente espirituais. Geralmente as obras não possuem necessariamente um propagandismo religioso explícito, como nas supostas psicografias e psicofonias, mas sempre carregam de algum pretexto filantrópico, como a destinação do dinheiro arrecadado das vendas.
As obras tentam apresentar diferentes estilos, até para atribuição de autoria espiritual. Só que, como se tratam de trabalhos de imitação, observa-se irregularidades sérias nas pinturas, em que cada trabalho "espiritual" contradiz, em muitos aspectos, ao estilo que o alegado autor pintou em vida. Em compensação, as "diferentes" pinturas sempre têm um estilo parecido com o suposto médium.
Este nem mede escrúpulos de imitar a assinatura original. Na cara-de-pau, bota tudo na sua própria caligrafia, e joga cada obra como se fosse autêntica, enquanto o público compra gato por lebre, adquirindo fraudes como se fossem obras verdadeiras.
Para piorar, as leis permitem que essas fraudes sejam feitas, desde que anunciadas como "pinturas espirituais". A Justiça não avalia mentiras que são feitas na conta da gente do além. Todas as brincadeiras são feitas em nome dos mortos e os advogados e juízes podem aceitar como legítimas, seduzidos pela reputação "caridosa" dos envolvidos.
E assim todo esse processo fraudulento é feito e legitimado, na falta de estudos sérios sobre mediunidade. O que temos no Brasil é a "mentiuindade", mediunidade de mentira, que se propaga e vira uma técnica à parte, respaldada por muitos incautos.
Teoria mediúnica até existe, livros sérios foram publicados a respeito, a partir do próprio Allan Kardec, mas o problema é o conflito entre dizer e fazer. E, infelizmente, no "espiritismo" se costuma dizer uma coisa e fazer outra. E fica nisso mesmo, com todo mundo dizendo "amém". Para muitos, mentira de amor não dói.
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