quinta-feira, 13 de agosto de 2015
A ditadura das zonas de conforto no Brasil
A onda de conformismo e de pouco questionamento que existe no Brasil nos últimos 50 anos e, de maneira mais intensa, nos últimos 25, é preocupante. A "felicidade" de pessoas que se contentam com pouco permite que arbitrariedades e retrocessos aconteçam sem que viva alma se desse conta disso.
As páginas que promovem questionamentos profundos sobre a realidade são as que menos visitas recebem, a não ser quando um gancho mais polêmico puxa a curiosidade das pessoas, como um assunto de grande predominância na agenda noticiosa do dia.
Nem mesmo o Twitter e o Google+ ou o Facebook conseguem chamar a atenção das pessoas. Pelo menos não há mais aquela adesão surpreendentemente maciça, porém negativa, em que um texto é lido por mais gente em menos tempo, só que quase todos reagem com ódio, sarcasmo e violência.
Isso porque o reacionarismo na Internet, que continua existindo, no entanto começa a ser visado. Se os encrenqueiros digitais antes davam surra e voltavam para dormir tranquilos, hoje eles dão surra, apanham e podem ter seus computadores levados para uma delegacia de polícia para investigação.
Mesmo assim, a situação não parece ter melhorado. Se, só no hábito de leitura de livros, os supérfluos ocupam cerca de 60% dos mais vendidos, criando modismos que procurem desviar o público da leitura de obras mais consistentes, fora dele a coisa é ainda pior.
Há até mesmo a má fama dos "vídeos da Internet", em que os destaques sempre se voltam para as mais variadas tolices, como um bebê recém-nascido que dubla Frank Sinatra ou um gato que pula do alto de uma geladeira e assusta uma dona-de-casa.
Fica muito difícil conscientizar e mobilizar dessa forma. E o nível de percepções das pessoas, que agora se limitam a brincar com o WhatsApp de seus celulares, torna-se ainda mais atrofiado e, mais complicado ainda é ver que, nestes casos, a pior ignorância é a ignorância da própria ignorância.
O Brasil passa por muitos retrocessos. O Sul e Sudeste, principalmente o Rio de Janeiro, tornam-se casos aberrantes e preocupantes. O Estado do Rio de Janeiro vive um surto de provincianismo e boa parte de seu povo parece viver numa bolha de plástico, num cenário que chega a ser pior na Bahia dos tempos de Antônio Carlos Magalhães.
No Estado do Rio de Janeiro, há o poder de uma geração de tecnocratas, executivos de mídia, empresários do entretenimento, donos de supermercados e políticos (com o destaque para o autoritário PMDB carioca) que influi em decisões retrógradas que acabam prevalecendo diante da resignação popular e do desconhecimento de problemas sérios por trás disso tudo.
As pessoas parecem conformadas com a vida "dentro dos limites". Acabam, de retrocesso em retrocesso, vivendo abaixo de suas necessidades básicas. A precarização da vida, a ignorância de sua própria ignorância, a ilusão de ter tudo nas mãos só porque tem o WhatsApp no seu celular,
O consumismo, o entretenimento vazio, impulsivo e inconsciente, a busca de um prazer que não se sabe se tem ou como é, a aceitação cega do que é decidido "de cima", os critérios elitistas de popularidade, formação acadêmica e poder político como ilusões para atribuir superioridade a quem na verdade é inferior, são problemas que acabam prejudicando os brasileiros.
A zona de conforto marcada por tamanhas ilusões, em que os problemas são tão banalizados que suas denúncias a ninguém sensibilizam, por mais que muitos aparentemente concordem com isso, deixa as pessoas vulneráveis para a degradação social que poderá arruinar o Brasil.
É a zona de conforto espiritualista, de Silas Malafaia a Chico Xavier, é a zona de conforto cultural, dos "sucessos populares" ou dos "clássicos radiofônicos", é a zona de conforto da mobilidade urbana, da submissão e endeusamento ao "filhote da ditadura" Jaime Lerner e suas ideias que perderam a validade (como pintura padronizada nos ônibus e dupla função motorista-cobrador).
Ou então, é a zona de conforto do futebol, da cerveja, das bobagens despejadas no YouTube e que aquele "programa da tarde" veicula como se fosse grande coisa. Ou então é a zona de conforto do programa policialesco de TV que promete "defender a justiça e a cidadania" com suas abordagens dignas de claustros da Idade Média.
As pessoas ficam iludidas com o próprio pessimismo, que lhes permite aceitar qualquer barbaridade. os retrocessos acontecem ano após ano, de forma que não cause dor às pessoas. Assim, de 1965 para cá, o Brasil regrediu muito sem que as pessoas se percebam e o mínimo de qualidade de vida que se reivindicava antes do Golpe de 1964 hoje é considerado erroneamente "artigo de luxo".
As pessoas precarizam suas vidas, suas necessidades, sua cultura, seus anseios e suas satisfações. Indispostas a questionar problemas e sem saber o que e como mobilizar, acabam, com essa desculpa de "viver feliz com o básico", se afundando abaixo de suas necessidades básicas.
Assim, as pessoas acabam reduzindo suas vidas a rudimentares manuais de sobrevivência dos piores momentos. Acham que sobreviver a eles é fácil e satisfatório, que basta viver o pior "da maneira que se pode" para tudo ficar bem.
Até que depois as tragédias passem a ser oferecidas de bandeja não mais com o sabor doce dos primeiros retrocessos, mas com o gosto amargo dos retrocessos ainda mais confusos, efeitos danosos da complacência extrema. O deputado Eduardo Cunha que o diga.
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