quarta-feira, 17 de junho de 2015
Organizações Globo e sua mudança de atitude em relação a Chico Xavier
Muitos tentam perguntar a si mesmos e a outras pessoas de seu interesse sobre o que pode ter feito as Organizações Globo a mudar sua atitude em relação ao anti-médium Francisco Cândido Xavier, que antes era de uma oposição bastante violenta.
Quem acompanha a trajetória do "movimento espírita" e não se deixa levar pela memória curta - a pior e "tradicional" doença de boa parte dos brasileiros - sabe que as Organizações Globo, que outrora se limitaram ao jornal O Globo e à Rádio Globo, começaram a ver Chico Xavier com estranheza.
Uma edição de O Globo, datada de 1935, chega mesmo a exibir uma foto assustadora (sim, isso mesmo), de Chico Xavier com um semblante bastante pesado e negativo de olhos arregalados, foto já reproduzida na Internet. Consta-se que ele estava num aparente transe mediúnico.
O Globo manifestava seu ceticismo na época, mas nada que significasse ainda a oposição que se tornou conhecida em 1958, quando a reportagem da sucursal de Belo Horizonte do periódico carioca investigava o até hoje misterioso caso Amauri Pena, o sobrinho de Chico Xavier que quase fez revelações sobre os bastidores do "espiritismo" brasileiro.
Uma reportagem chegou a declarar que Chico Xavier havia sido desmascarado. Mas o "movimento espírita" reagiu com a fúria rancorosa que poucos imaginam haver entre seus membros e Amauri foi levado a um "centro espírita" distante e "misteriosamente" morreu cedo demais para um jovem que só bebia, com 28 anos incompletos, podendo ter sido envenenado por "queima de arquivo".
O tempo passou e, aparentemente, O Globo não trouxe grandes manifestos de oposição a Chico Xavier, até que, de alguns tempos para cá, a postura em relação ao anti-médium mineiro passou a ser mais simpática.
Essa atitude simpatizante aconteceu quando Roberto Marinho ainda estava vivo, já pelos anos 1980. Em 2002, com a empresa já nas mãos dos seus filhos José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto, já que o pai estava doente e no ano seguinte acabava morrendo, a morte de Chico Xavier recebeu uma cobertura das mais positivas, dentro da exaltação costumeira de seu mito.
Cerca de cinco anos depois do falecimento do "dr. Roberto", a Rede Globo passou a fazer parcerias com a Federação "Espírita" Brasileira que produziu vários filmes sobre Chico Xavier ou baseados em obras por ele publicadas.
Só os filmes como Chico Xavier - O Filme, As Mães de Chico Xavier, O Filme dos Espíritos, Nosso Lar e ...E a Vida Continua, a linguagem novelesca chega a ser explícita, tendo sido o primeiro dirigido por Daniel Filho, diretor de atrações da Rede Globo e de vários longas da Globo Filmes, e contado com um elenco com forte presença nas novelas da emissora.
CATÓLICOS ORTODOXOS
A razão provável para a mudança de atitude das Organizações Globo é que o jornal O Globo tinha a influência de colunistas católicos ortodoxos, como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima (conhecido também pelo pseudônimo Tristão de Athayde).
Antes de mais nada, convém esclarecer uma coisa. A Igreja Católica se mantinha essencialmente ortodoxa, mas havia superado a fase medieval e mantido seu sistema de crenças sem adotar uma postura radical ou obscurantista. Poderia ter se mantido conservador, mas longe da postura ameaçadora de antes.
Já o "movimento espírita" soa como um Catolicismo heterodoxo, sem batina nem certos dogmas e ritos mais escancarados, mas em contrapartida aproveitou a essência do ultraconservadorismo medieval do Catolicismo que entrava no século XX "ficando na sua" no Vaticano.
Em outras palavras, é como se o Catolicismo tivesse apenas feito uma faxina em sua casa, mantido quase tudo como está mas tirando apenas a antiga mobília, que não mais lhe servia, tendo doado tais objetos para o "movimento espírita", que, sabemos, nem de longe simboliza a vanguarda que se autoproclama em relação aos movimentos espiritualistas.
Daí uma coisa estranha, dessas que só acontecem no Brasil. O conservador Catolicismo parecia mais brandamente católico, mesmo fechados nos seus valores tradicionais, do que o "moderno espiritismo" que, sem batina e acreditando na vida espiritual (sem conhecê-la, no sentido científico do termo), adota valores mais conservadores.
É como se o "espiritismo" sentisse uma nostalgia pelo Catolicismo medieval através da forte influência jesuíta que até hoje toma conta dos "centros espíritas", enquanto a Igreja Católica propriamente dita não sente saudades dessa época, apenas adaptando seu sistema de valores para os tempos de hoje.
Quanto às relações com as Organizações Globo, é curioso que a empresa, tradicionalmente católica, agora faça frente à Rede Record, da Igreja Universal do Reino de Deus, usando não as batinas dos católicos (e olha que ela tem em mãos um Padre Marcelo Rossi com forte apelo midiático), mas o misticismo pseudo-científico e "filantrópico" dos "espíritas".
Talvez esse apelo se dê porque o "espiritismo" não é visado por muitas pessoas como um "movimento religioso". Seu simulacro de humanismo, de filantropia e de ciência dá a impressão de uma doutrina "limpa" e "modesta", sem as ostensivas batinas católicas e seus rituais extremamente pomposos.
Com o "espiritismo", as Organizações Globo procuram competir com a máquina eletrônica de Edir Macedo sem que o rival perceba que a concorrente lida com outra religião. E Chico Xavier e Divaldo Franco tornam-se os "ases" desse jogo de cartas midiático em torno da fé religiosa, movido pelos filhos do "dr. Roberto" contra a IURD.
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