quarta-feira, 3 de junho de 2015
Fora da ética não há salvação
"Fora da caridade, não há salvação", diz um dos princípios da Doutrina Espírita. Certamente, ajudar as pessoas é fundamental, mas o que se observa é a deturpação que o "movimento espírita" faz dessa frase, que chega ao ponto do ridículo.
Sabemos que o histórico do "espiritismo" brasileiro não é dos melhores, e desde o começo a doutrina sempre quis desviar-se do cientificismo de Allan Kardec para tentar agradar a Igreja Católica. A princípio, isso foi um mecanismo de defesa, porque ser espírita era considerado um crime, relacionado ao curandeirismo e à feitiçaria, pela sociedade do século XIX.
Todavia, o "movimento espírita" tomou o gosto da coisa e o que se viu foi a deturpação da doutrina de Kardec, muito bajulado por seus membros mas em quase tudo ignorado e desprezado nas ideias e questões.
E o que resultou disso foi uma série de fraudes, diluições, dissimulações, retrocessos ideológicos e tudo o mais, que tornaram o "espiritismo" uma religião lamentável, com erros bem mais graves do que muitas seitas neo-pentecostais cujo caráter grotesco não dá para disfarçar.
O "espiritismo" chega mesmo a transformar a mediunidade numa prática fraudulenta, com a produção em série de mensagens apócrifas, criadas das mentes dos próprios "médiuns" e tendenciosamente dotadas de propagandismo religioso, dando a falsa impressão de que todo mundo, depois que morre, vira membro da "igreja espírita".
É muita fraude, são muitas irregularidades, vindas de pessoas que se julgam "kardecistas" sem apreciar corretamente a obra de Allan Kardec e, o que é pior, sem sequer seguir seus ensinamentos e sua linha de raciocínio.
O "espiritismo", vendo tamanhos erros, muitos grosseiros, graves e feitos de propósito, tenta usar a desculpa da "moral" e da "filantropia" para esconder suas práticas equivocadas debaixo do tapete, como se quisesse compensar suas grosseiras fraudes mediúnicas e seu rigoroso moralismo pelas "ações de caridade".
Só que a caridade também é usada pelos grupos criminosos, de mafiosos da Itália e dos EUA até as milícias e o narcotráfico no Rio de Janeiro, como forma de "lavagem financeira". E a filantropia, muitos casos, torna-se um mero recurso de marketing de famosos que não estão aí para os problemas sociais do planeta e usam a caridade para ter mais sucesso sob a imagem de "bonzinhos".
Empresas que pagam mal seus funcionários também investem em projetos "sociais", como maneira de desonerar os impostos ou forjar alguma imagem "positiva" para a sociedade. E há instituições de fachada feitas para desviar dinheiro sob o pretexto da caridade, onde 90% do que é arrecadado vai para os bolsos de seus ricos donos.
É claro que se deve ajudar as pessoas, mas o que se observa no uso leviano da caridade é até mesmo a ação social condicionada, em que o alto preço da ajuda ao próximo está na manipulação ideológica dos beneficiados. Eles aprendem a ler e a escrever, mas não são autorizados a questionar os valores ideológicos da instituição e do que ela defende, daí a castração da inteligência e do bom senso.
E o "espiritismo", só para se justificar, tenta minimizar a culpa de suas práticas com a desculpa da "filantropia". "É certo, Divaldo Franco 'errou muito' como médium, mas devemos nos lembrar que ele ajudou muita gente", dizem os "espíritas", festejando demais a ação "caridosa" do anti-médium baiano, celebrado em excesso só porque a Mansão do Caminho beneficiou menos de 0,1% de soteropolitanos.
Ou então há o famoso caso de Chico Xavier, tido como o "homem mais bondoso do Brasil", e definido, de forma tão exagerada quanto equivocada, "o homem chamado Amor", ao qual a caridade é usada como desculpa para relativizar os gravíssimos erros cometidos por ele.
Isso é mal. Afinal, antes da caridade, existe a ética, existe a transparência, existe a honestidade. Infelizmente o "espiritismo" subestima as demais qualidades, dizendo que as possui, mas na prática nem de longe as realizando. Isso porque falar é fácil e o que os "espíritas" mais fazem é falar, escrever, manipular as palavras para tentar mascarar a mentira e a fraude.
A ética, aliás, é uma das forças da verdadeira caridade, porque beneficia sem prejudicar, ajuda sem enganar, concede sem explorar e conforta sem mentir. Não há caridade que se firme nas bases frágeis da desonestidade, mesmo quando a ação filantrópica é feita para tentar compensar, na aparência, os graves erros cometidos por uma instituição.
O "espiritismo" falhou demais, porque não apenas cometeu erros. Os erros cometidos foram da mais alta e preocupante gravidade, tão vergonhosos que rebaixaram a religião pretensamente vanguardista a um nível abaixo dos piores neo-pentecostais. Não há caridade que salve o "movimento espírita". Eles esqueceram que, como a caridade, fora da ética e da honestidade não há salvação.
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