sexta-feira, 24 de abril de 2015
A "leitura fria" e o "efeito Forer" como técnicas do ilusionismo "espírita"
Sem um estudo sério e consistente sobre mediunidade, o "espiritismo" brasileiro acaba desenvolvendo a prática de maneira improvisada e inventada, sendo mais um recurso de propagandismo religioso do que de qualquer tentativa - sim, isso mesmo, tentativa - de comunicação com os espíritos.
Uma prática que poucas pessoas levam em conta, e que é um dos recursos da neurolinguística, é a "leitura a frio", ou "leitura fria", técnica que na verdade teria sido a especialidade de Francisco Cândido Xavier e que virou "escola" para a atividade supostamente mediúnica dos "espíritas".
A "leitura fria" consiste numa técnica de manipulação psicológica. O entrevistador, integrante de um "centro espírita" com uma certa experiência - daí ser designado para tal trabalho - , procura, num breve contato, sempre em tom de simpatia e cordialidade quase paternal, perguntar o que a pessoa, que procura um recado do além, está sofrendo.
Se esforçando para observar os gestos emocionais da pessoa, o entrevistador deve ter a habilidade suficiente para captar sensações e depoimentos, sempre verificando a emotividade do entrevistado. Se, por exemplo, aquela mãe que perdeu o filho começa uma mensagem chorosa, e depois, com relatos saudosos, começa a sorrir diante das lembranças do ente falecido, e aí descreve pormenores da vida dele.
O entrevistador anota, aparentemente indiferente, mas de vez em quando olhando de forma bondosa para a mulher. Sempre existe esse recurso psicológico, do entrevistador "bondoso", mas atento, capaz de, mesmo no final de uma doutrinária, observar as pessoas que conversam com ele na saída, diante de multidões falando e se movimentando.
Os "espíritas" procuram verificar as fraquezas emocionais das pessoas, e exploram as mesmas quase que por instinto. O hábito faz com que nem os entrevistadores percebam suas habilidades, porque o ambiente psicológico e as "boas energias" já desenvolvem esse clima emocional.
Com esses contatos "informais" e "sem qualquer pretensão" senão o de auxílio fraterno, os "espíritas" colhem informações que depois vão sendo inseridas em mensagens ditas "mediúnicas". Nelas aparecem informações pessoais e uma distribuição de palavras que, embora sigam o mesmo padrão de relatos de sofrimento e recuperação e, no fim, pregações morais e religiosas, dão a impressão de serem diferenciadas.
EFEITO FORER
E aí entra o "efeito Forer", um fenômeno psicológico observado por Bentram R. Forer, psicólogo norte-americano do século XX. O fenômeno também é chamado de "efeito Barnum" por causa da similaridade com as brincadeiras do comediante circense Phineas Taylor Barnum, ou P. T. Barnum, celebridade norte-americana do século XIX.
Forer realizou um teste com vários alunos seus em 1948. Ele disse a cada um de seus alunos que mandaria um texto individual avaliando o comportamento de cada um, depois de um teste de personalidade. O aluno que recebeu a avaliação, por conseguinte, daria o seu parecer, considerando a avaliação do professor em níveis de 0 a 5 (de muito ruim a muito boa) quanto à precisão dessa avaliação.
Forer, no entanto, deu o mesmo texto para todos os alunos, sem que eles soubessem disso, tendo a impressão de que cada aluno havia recebido uma mensagem personalizada. O texto teve as seguintes palavras:
"Você tem uma necessidade de ser querido e admirado por outros, e mesmo assim você faz críticas a si mesmo. Você possui certas fraquezas de personalidade mas, no geral, consegue compensá-las. Você tem uma capacidade não utilizada que ainda não a tomou em seu favor. Disciplinado e com auto-controle, você tende a se preocupar e ser inseguro por dentro. Às vezes tem dúvidas se tomou a decisão certa ou se fez a coisa certa. Você prefere certas mudanças e variedade, e fica insatisfeito com restrições e limitações. Você tem orgulho por ser um pensador independente, e não aceita as opiniões dos outros sem uma comprovação satisfatória. Mas você descobriu que é melhor não ser tão franco ao falar de si para os outros. Você é extrovertido e sociável, mas há momentos em que você é introvertido e reservado. Por fim, algumas de suas aspirações tendem a fugir da realidade".
Forer depois revelou para seus alunos que havia mandado o mesmo texto, baseado em frases contidas nos horóscopos publicados nos jornais e revistas populares. Ele depois explicou que as frases se aplicam a qualquer pessoa, e nada têm de individualizadas. Antes de divulgar o resultado, os alunos deram, em média, a nota 4,26 para avaliar o grau de precisão de cada avaliação.
Segundo revelaram estudos posteriores, as notas mais altas tiveram como critérios a crença de que a pessoa teve uma análise personalizada e individual pelo avaliador, a impressão dessa pessoa da autoridade de quem a avalia (baseada em status acadêmicos, tecnocráticos etc), e a ênfase da qualidade positiva dos avaliados em cada parecer.
E o que isso tem a ver com as mensagens "mediúnicas"? Muita coisa. Depois que a "leitura fria" colheu informações que, secretamente, "personificam" mensagens escritas nos bastidores do "centro espírita", o "efeito Forer" ou "efeito Barnum" é produzido na ocasião da divulgação de tais mensagens.
A forma com que essas mensagens são produzidas, explorando o máximo de emotividade familiar e enfatizando as "palavras de amor" e os apelos "positivos" e "fraternais", tornam tais textos verossímeis, nem tanto pelo rigor dos aspectos particulares, mas pela "positividade" das palavras e pelo apelo religioso que explora a sensibilidade emocional dos familiares do falecido.
As mensagens são divulgadas na maioria das vezes publicamente, após as doutrinárias, aproveitando do clima emocional desenvolvido. E o "efeito Forer" se dá na crença de que cada mensagem é individualizada e familiar, quando se tratam de textos genéricos e vagos, em que apenas se inserem dados biográficos dos falecidos, mas que apontam o mesmo apelo religioso, a mesma propaganda subliminar do "espiritismo".
E isso é tomado como "verídico" por conta da "autoridade" de quem divulga tais mensagens. Chico Xavier e Divaldo Franco construíram seus mitos assim, e durante tempos eles passavam por "insuspeitos" até entre aqueles que denunciavam severamente muitos erros cometidos pelo "espiritismo" brasileiro, tendo os dois anti-médiuns passado, em primeiro momento incólumes, pela crise do roustanguismo no "movimento espírita" brasileiro.
Só que a "leitura fria" e o "efeito Forer", trabalhados nos "centros espíritas", revelam o que há de duvidoso em mensagens "mediúnicas", diante do desconhecimento da Ciência Espírita, compensado por essas técnicas de ilusionismo e manipulação de mentes.
Infelizmente, é a Ciência, no caso, a Psicologia, que se subordina e se submete às fraudes "espíritas" que ainda causam deslumbramento a muita gente e explora as fraquezas emocionais das famílias que perderam entes queridos. A Ciência reduzida a escrava das mistificações do "espiritismo" brasileiro.
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