segunda-feira, 9 de março de 2015
O pior inimigo de Chico Xavier: a lógica
Francisco Cândido Xavier é associado a uma imagem, construída há mais de 70 anos, de figura "bondosa", de "perdão infinito" e de "ampla e irrestrita caridade". Só que muito dessa imagem não é mais do que mito, já que o anti-médium mineiro tem seu currículo cheio de irregularidades vergonhosas.
Astro maior de toda uma conduta deturpada do "espiritismo" brasileiro pela Federação "Espírita" Brasileira, Chico Xavier, na verdade, nunca foi "espírita", nunca sentiu, ao longo de seus 92 anos de vida entre 1910 e 2002, qualquer identificação verdadeira com Allan Kardec. Chico sempre foi católico, mesmo com sua relativa paranormalidade que o fazia se comunicar com o jesuíta Emmanuel.
Chico Xavier, mesmo assim, parecia se manter incólume, sob o pretexto de que "para ser espírita não precisa deixar de ser católico" e o anti-médium de Pedro Leopoldo e, depois, Uberaba, passou por cima de inúmeros incidentes que mostraram seu perfil contraditório e irregular.
Ele mesmo tornou-se o principal responsável de toda sorte de mistificações, fraudes e deturpações da Doutrina Espírita, em primeiro momento sob ordens da FEB, mas depois tomando com gosto tais procedimentos que lhe favoreciam a visibilidade, a fama e o prestígio.
Todo um rol de fraudes, que envolvem plágios literários e apoio a práticas ilusionistas travestidas de materialização - que incluíram o truque de usar modelos ou objetos cobertos de roupas brancas para nelas colarem recortes de fotos de gente falecida - , além de um cem-número de mistificações e interpretações equivocadas da vida espiritual, marcaram a trajetória do suposto "homem-amor".
Recentemente, acadêmicos a serviço (não-assumido) da FEB tentam fazer monografias que possam colocar Chico Xavier no seleto clube de cientistas, como se Chico tivesse sido um primo distante de Stephan Hawking e, com "baixa instrução", fosse capaz de transmitir relatos de "profunda importância para o meio científico", mesmo sob a colaboração de "espíritos".
São monografias irregulares, feitas por metodologias falhas pelo rigor parcial que impede a precisão realmente rigorosa nas pesquisas, e que só servem para forjar supostas comprovações científicas sobre Chico Xavier.
Primeiro, foi a pesquisa sobre as cartas atribuídas ao falecido jovem Jair Presente, que causaram estranheza não pela suposição de apresentar ou não dados pessoais complexos do rapaz, morto em 1974, mas pelo contraste gritante entre algumas cartas igrejistas, como a primeira "psicografada" por Chico Xavier, e um relato posterior de um suposto Jair desesperado que parece ter "viajado em ácido".
Segundo, foi a pesquisa que acadêmicos fizeram e que supôs que o (fictício, embora os "espíritas" não admitam) André Luiz divulgou conhecimentos científicos "pioneiros" em até 63 anos sobre a glândula pineal, conclusão infundada porque os pesquisadores não consultaram livros científicos originários da época da elaboração de Missionários da Luz.
Terceiro, é a própria interpretação surreal de um sonho dormido de Chico Xavier, pouco depois da chegada de uma missão da NASA à Lua, em 1969, que gerou uma série de "profecias" das quais o Brasil, mesmo problemático, se transformaria na "maior nação da Terra" às custas do colapso vivido pelo "velho mundo".
Há outros exemplos que tentam empurrar Chico Xavier goela abaixo no seleto clube de cientistas, como se não bastassem as qualidades surreais que Chico acumulou sem qualquer habilidade para tais: filósofo, professor, psicólogo, profeta, jornalista e o que vier à tona. E nenhuma dessas qualidades Chico realmente cumpriu de maneira exemplar e correta.
No entanto, tudo isso gerou uma mistificação e uma mitificação que fizeram Chico Xavier estar acima de tudo e de todos, transformando-o num vice-deus, quase um vice-senhor do Universo, acima do bem e do mal e dono de todo o processo científico de transmissão do conhecimento.
Questionar Chico Xavier passou a ser um pretexto para seus seguidores, não raro de forma bem agressiva, acusarem os contestadores de "obsediados", "perseguidores", "prisioneiros das paixões humanas" e "escravos dos juízos da razão envenenada".
Daí que o homem que supostamente perdoou tudo e todos, na verdade, nunca perdoou um dos mais decisivos, certeiros e eficientes recursos do ser humano: a capacidade de, através da análise, raciocinar e questionar amplamente as coisas.
Chico Xavier nunca perdoou o raciocínio lógico. Sempre condenava severamente a contestação, o exame, o debate, a investigação. Para ele, isso era fonte de "escândalos", "dissabores", "desgostos" e "conflitos desnecessários", e isso era tão certo que Chico preferia que as pessoas sofressem "amando", encarassem as angústias "orando em silêncio", sem realizar qualquer intervenção para superar tudo isso.
Chico só admitia a lógica e o conhecimento científico quando ele se desenvolvia em favor do anti-médium. É como se a Ciência fosse escrava de Chico Xavier e se submetesse até aos mais risíveis caprichos de parte do anti-médium. É uma herança do Catolicismo medieval, com a diferença de que a Ciência, em vez de condenada sumariamente, pode ao menos ser cooptada e depois deturpada.
Essa é a sina do conhecimento científico nessa forma deturpada de Doutrina Espírita, determinada pela FEB e ampliada e popularizada por Chico Xavier. O raciocínio lógico somente é aceitável quando não interfere nas fantasias e delírios dessa doutrina brasileira, podendo, nesta condição, ser exaltado com todos os seus personagens.
Mas se a Ciência questionar algum ponto estranho de Chico Xavier, a coisa muda e mesmo o mais preciso, coerente e verídico parecer lógico é desqualificado levianamente sob o rótulo de "julgamento das paixões terrenas dos homens". Maior ataque ao raciocínio lógico do que este, impossível.
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