sábado, 7 de março de 2015
O "Exército de Cristo" evangélico: soa o sinal de alarme
Um dos fenômenos preocupantes do Brasil e que soa como um sinal de alarme para aqueles que acreditam que o país será "potência mundial" ou "coração do mundo" é o movimento chamado "Exército de Cristo", uma das piores aberrações ocorridas no âmbito da religião do país.
Trata-se de uma interpretação equivocada de certas traduções deturpadas e surreais da Bíblia, ou ao menos do Novo Testamento, que, não bastassem definir Jesus como o "Deus filho" ou o "Deus reencarnado", o definem como "Senhor dos Exércitos".
Os "Gladiadores do Altar", criado pela Igreja Universal do Reino de Deus, são um movimento evangélico que define aquilo que seus seguidores entendem como "cristão" como uma espécie de "guerreiro", e não raro aparecem cartazes com fotos de soldados em guerra ou mesmo de cavaleiros com armadura, à maneira medieval.
Existe até uma camiseta que inclui frases "cristãs" dentro de uma estampa que lembra os trajes em tons verdes de um soldado em missão de guerra. Vídeos também reforçam o caráter militaresco - que poderia dar até em problemas na Justiça, porque os "Gladiadores do Altar" insinuam um caráter paramilitar, o que é inconstitucional - , com alusões a batalhas e combates.
Para piorar as coisas, já existem, pelo menos, duas canções "gospel" com esse título, um do cantor Wilson Rocha e outro da banda Conexa, dos quais há todo um trocadilho entre a devoção religiosa que acreditam e a analogia da guerra. Vejamos:
Exercito de Cristo - Wilson Rocha (composição do próprio)
Pelo Senhor marchamos, sim
O seu exercito, poderoso é.
Sua glória será vista em toda terra.
Vamos cantar o canto da vitória:
GLORIA A DEUS
Vencemos a batalha
Toda arma contra nós, perecerá
O nosso general é Cristo
Seguimos os seus passos
Nenhum inimigo nos resistirá
O nosso general é Cristo
Seguimos os seus passos
Nenhum inimigo nos resistirá
Pelo Messias, marchamos (sim)
Em suas mãos a chave da vitória
que nos leva a construir a terra prometida
Vamos cantar o canto da vitória:
GLORIA A DEUS
Vencemos a batalha
Toda arma contra nós, perecerá
O nosso general é Cristo
Seguimos os seus passos
Nenhum inimigo nos resistirá
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Exército de Cristo - Conexa (composição de Pitter di Laura)
Todo guerreiro também sente medo
Isso é tão normal
Todo guerreiro também tem vontade de desistir
Nesses momentos tudo é tão escuro
Mas não é esse o fim
Quem é do exército de Jesus Cristo encontrará
A luz que está sempre a brilhar dentro dos corações
A luz que está sempre a brilhar dentro dos corações!
Sou guerreiro e não desisto
Sou do exército de Cristo (bis)
Não, eu não desisto!
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Com tanto surrealismo que acontece no Brasil, a situação é preocupante. Afinal, Jesus Cristo não teve o propósito de criar religiões - ele sabia que isso causaria ainda mais conflitos do que aqueles que viu em seu tempo e de um dos quais foi vítima fatal - , e muito menos pensava em formar um exército.
A evocação de Jesus Cristo ou mesmo de Deus como um líder de algum exército veio de traduções medievais da Bíblia, das quais surgiram as visões surreais e absurdas que hoje conhecemos, como um "mar se partindo ao meio" da história de Moisés ou o exagero de uma enchente que a arca de Noé enfrentou ter sido atribuída a um cataclisma que atingiu o mundo inteiro, não uma região específica.
Essa visão de Jesus Cristo ou Deus - o Catolicismo medieval chegava a creditá-los como uma mesma pessoa - como líder de algum exército foi o pretexto usado pelo Catolicismo Apostólico Romano, a religião totalitária criada pelo imperador Constantino, para permitir a realização das chamadas Cruzadas.
As Cruzadas eram verdadeiras forças bélicas, com soldados montados a cavalo que promoviam carnificinas sob o pretexto de combater os hereges e garantir a supremacia da "religião de Cristo" que era o sustentáculo religioso do Império Romano na época.
Em certo período da Idade Média, mais precisamente no século V, no ano 476 da nossa era, o Império Romano do Ocidente caiu e o Império Romano do Oriente, do qual Constantino era governante no seu tempo, se transformou no Império Bizantino e durou cerca de mil anos.
Esse cenário não representou o fim da Idade Média. Muito pelo contrário. A Idade Média durou até cerca do século XV, quando surgiram os primeiros conceitos que romperam com paradigmas sociológicos e religiosos que conduziam o padrão de vida medieval e a economia se transformava com as grandes navegações oceânicas, uma delas relacionada à origem do Brasil.
Mas a Idade Média influenciou práticas sanguinárias observadas sobretudo na Segunda Guerra Mundial e nos conflitos atuais do Oriente Médio. Do nazi-fascismo ao fundamentalismo islâmico, a herança do Catolicismo medieval é explícita.
O Brasil, virgem de tais manifestações - o máximo de obscurantismo de grande escala que tivemos foi a fase do AI-5 da ditadura militar e a violência do narcotráfico, da contravenção e do latifúndio, além de pequenos focos de neo-nazismo de grupos juvenis - , corre o sério perigo de virar um celeiro de movimentos de fanatismo religioso diversos.
A disputa do Catolicismo com os movimentos "protestante" e "espírita" pela supremacia religiosa criam um quadro preocupante no Brasil, contrariando todas as expectativas de país destinado à prosperidade e à liderança fraterna mundial.
O auge de uma crise de valores resultante do colapso social da ditadura militar e da corrupção generalizada surgida após seu fim, que cresceu de forma generalizada nos anos 90, revela ainda um grande risco de uma calamidade social a atingir o próprio Brasil.
A crise econômica e as diversas crises institucionais dão o sinal de um país que mais parece uma panela de pressão prestes a explodir ao lado de um barril de pólvora com o rastro aceso e uma garrafa de querosene adiante.
Isso se observa por diversos cantos e nos noticiários diversos e independente de qualquer plano ideológico. Portanto, a boa perspectiva de um Brasil paradisíaco a comandar um mundo em ruínas vinda de um simples sonho dorminhoco de Chico Xavier, é praticamente impossível de ser realizada, conforme o que vemos na dura realidade existente em nosso país.
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