terça-feira, 17 de março de 2015
Juscelino Kubitschek ajudou FEB e Chico Xavier. E o que ele recebeu em troca? Azar!
Quando se fala que o "espiritismo" brasileiro, "governado", no plano espiritual, por tenebrosos espíritos ligados a imperadores e sacerdotes medievais e seus colaboradores mais fiéis, muitas pessoas não acreditam, mas o efeito maligno dessa doutrina que deturpou a obra de Allan Kardec tem efeitos bem mais devastadores do que se imagina.
Um claro exemplo é de como o "espiritismo da FEB" pode dar em troca a um presidente, cujo apoio dado à Federação "Espírita" Brasileira e à figura de Francisco Cândido Xavier só lhe causaram azar e uma série de infortúnios que culminou em uma tragédia, em 1976.
O médico mineiro e político, Juscelino Kubitschek de Oliveira, natural de Diamantina, no interior de Minas Gerais, foi prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais, antes de se tornar eleito à Presidência da República, em 1955.
Sua posse chegou a ser ameaçada por um golpe tramado pelo então presidente da República em exercício, deputado Carlos Luz, em parceria com Carlos Lacerda, mas um contragolpe movido pelo general Henrique Teixeira Lott, depois promovido a marechal, depôs Luz e, com o senador Nereu Ramos governando o país, garantiu a sucessão e a posse de Juscelino.
Político moderado, Juscelino tinha como vice o estancieiro gaúcho João Goulart, de inclinações de centro-esquerda. Governou o país dentro do programa da aliança PSD-PTB, dois partidos surgidos no ocaso do governo Getúlio Vargas, sendo um conservador e outro progressista.
Juntando medidas de fortalecimento do capitalismo nacional e de estímulo às melhorias sociais dos trabalhadores, Juscelino ainda teve a habilidade de malabarista para enfrentar impasses diversos para construir Brasília e inaugurá-la ainda em seu mandato, apesar de muito trabalho ainda a fazer (em 1961, Brasília ainda não havia abrigado todos os ministérios).
O Brasil, evidentemente, não se tornou uma nação próspera sob o governo de Juscelino Kubitschek. Era ainda um país confuso, injusto e desigual. Mas haviam propostas e medidas de progresso social, de evolução urbana e outros avanços, que fizeram da Era JK estar associada à ideia de "Anos Dourados" que mais parecia um sonho do que uma realidade plena.
Mesmo assim, a partir do governo Juscelino, começou-se a pensar num projeto de país autônomo, justo, dinâmico e avançado que lançou projetos e medidas diversos, desde o projeto revolucionário de alfabetização para adultos, o Método Paulo Freire, até os debates culturais através do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes.
Tudo parecia impulsionar para o progresso brasileiro, um caminho que parecia garantido até depois do governo JK e mesmo durante os governos turbulentos de Jânio Quadros e João Goulart. Até o golpe militar de 1964 destruir esse projeto de país que ainda não foi devidamente recuperado, mesmo 30 anos depois do fim da ditadura.
O "MUI AMIGO" CHICO XAVIER
Juscelino Kubitschek era amigo de Chico Xavier e visitava sempre sua casa, primeiro em Pedro Leopoldo, terra-natal do anti-médium, depois em Uberaba. Sempre fazia consultas "mediúnicas" e acatava os conselhos do conterrâneo, já que, apesar de nascidos em cidades diferentes, ambos eram mineiros.
O então presidente sempre era fiel e gentil a essa amizade, ajudava Chico quando era necessário e estabeleceu relações cordiais com a FEB. Tanto que, no ano em que inaugurou Brasília, em 1960, Juscelino decretou que a instituição era considerada "de utilidade pública".
E o que Juscelino Kubitschek, com sua atitude de generosidade e bom coração em relação a Francisco Cândido Xavier e aos dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira, recebeu em troca de tão abnegada caridade e consideração? Azar, muito azar!
Juscelino, até o começo de 1964, tinha como certa a sua vitória eleitoral na campanha presidencial para 1965, na qual, junto a outros candidatos, polarizaria seu favoritismo com o enérgico rival Carlos Lacerda. O mineiro seria provavelmente eleito e iniciaria seu mandato na Brasília que ele inaugurou, a essas alturas com a "mobília" restante trazida do Rio de Janeiro.
Só que, logo em abril, os infortúnios começaram. O golpe militar se consolidou, e Juscelino, que até apoiou a deposição do outrora vice Jango depois que não gostou de ver o então presidente anistiar um grupo de militares rebeldes, foi um dos primeiros politicos a terem mandato cassado, perdendo o cargo de senador que JK exercia sob novo domicílio político, o Estado de Goiás.
Não bastasse isso, o governo "provisório" do general Humberto de Alencar Castelo Branco, feito a princípio apenas para completar o tempo de mandato de Jango, decidiu que a "revolução" (como se autoproclamava a ditadura militar) seria "permanente" e optou por cancelar as eleições presidenciais de 1965.
Frustrados, Carlos Lacerda (político civil que mais apoiou o golpe de 1964 e era governador do então Estado da Guanabara, composto apenas pelo município do Rio de Janeiro) e Juscelino, inimigos acérrimos, optaram pelo perdão mútuo e, tornados amigos, realizaram um movimento de redemocratização chamado Frente Ampla, a partir de um contato em Lisboa, em 1966.
A Frente Ampla chegou a atrair adeptos, embora causasse uma desconfiança muito forte nas esquerdas, em especial Leonel Brizola, que não aceitou participar do movimento. Todavia, dois anos depois, a ditadura militar decretou a ilegalidade da Frente, a poucos meses de decretar o AI-5.
Juscelino Kubitschek, ainda por cima, perdeu a eleição para a Academia Brasileira de Letras, ele, que havia escrito um livro de memórias e era bastante culto, apesar de seus discursos terem sido escritos pelo amigo e escritor Augusto Frederico Schmidt (fundador da extinta rede de supermercados Disco e que, pouco antes de morrer, em 1965, expressou sua oposição à ditadura que ele por boa-fé defendeu).
Mas o pior não foi isso. Poucos dias antes de completar 74 anos, numa manhã ensolarada, numa estrada sem problemas e com um chofer muito experiente e atento, Juscelino morreu num estranho desastre automobilístico na Rodovia Pres. Dutra (ironicamente em homenagem ao colega de partido de Juscelino, PSD, o general e ex-presidente Eurico Gaspar Dutra), que matou também seu motorista.
Na Comissão Nacional da Verdade, uma linha de investigação preferiu defender a tese oficial de que Juscelino teria sido morto num acidente de carro comum, No entanto, pesam sobre a tragédia fortes indícios de que teria sido um atentado cometido por alguma sabotagem militar, por ordem de órgãos da ditadura brasileira integrantes da Operação Condor, junto às ditaduras argentina e chilena.
O infortúnio ainda se estendeu à sua única filha biológica, Márcia Kubitschek (a irmã, Maristela, que continua viva, é adotiva), que faleceu em 2000 aos 56 anos, vítima de câncer. Márcia parecia ainda muito bonita e de boa aparência, relativamente jovem para encerrar sua vida.
Nos últimos anos, o nome de Juscelino Kubitschek foi usado em inúmeras "psicografias" que na verdade eram mensagens apócrifas de panfletarismo religioso que se esforçavam em imitar a retórica de Juscelino nos textos que ele escreveu para a revista Manchete ou mesmo nos discursos políticos escritos pelo poeta e ensaísta Augusto Frederico Schmidt.
O mais esperto deles foi o médico de São José do Rio Preto, no interior paulista, Woyne Figner Sacchetin, no livro Caminhos do Brasil, em que o pseudo-Juscelino consegue, com falhas, imitar o texto do ex-presidente, sob o pretexto de narrar a vida de candangos.
Woyne é conhecido por ter sido processado por usar o nome de Alberto Santos Dumont para fazer acusações infundadas contra vítimas de uma tragédia aérea em 2007, com um avião da TAM no aeroporto de Congonhas (SP).
O que é o "espiritismo", doutrina de "todo amor e bondade", que reagiu à generosidade de Juscelino Kubitschek de maneira ingrata e cruel, rogando tanto sofrimento e azar ao médico que, como presidente, lutava para promover um país realmente mais próspero e solidário. O "espiritismo" da FEB "matou" JK, que lhe deu pão e recebeu serpente em troca.
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