O TENENTE ESTADUNIDENSE ROBERT JACOBS.
Uma grande armação foi feita por "espíritas" brasileiros ao usarem declaração de dois militares que viram discos voadores na década de 1960 como suposta confirmação do sonho dorminhoco de Francisco Cândido Xavier, uma prova de como o "espiritismo" é capaz de manipular tendenciosamente casos isolados para construir uma história sem pé nem cabeça.
Dois militares dos EUA, o ex-capitão Robert Salas e o tenente Robert Jacobs foram entrevistados e relataram episódios, cada um em separado, em que viram luzes estranhas em uma base militar naquele país. Alegaram que as luzes, que se movimentavam de forma estranha, pareciam ser de discos voadores.
Robert Jacobs viu as luzes na base militar de Vandenberg, na Califórnia, em 15 de setembro de 1964, e o detalhes podem ser obtidos aqui. Já o caso de Robert Salas, na base militar de Malmstrom, em Montana, em 16 de março de 1967, pode ser pesquisada aqui. Os dois textos estão em inglês.
Era a época da Guerra Fria e os EUA estavam avançando em pesquisas espaciais, assim como a União Soviética que passou a rasteira na nação norte-americana ao lançar o satélite Sputnik, em 1957, e ao enviar um astronauta, Yuri Gagarin, para entrar em órbita sobre a Terra, em 1961.
O EX-CAPITÃO ESTADUNIDENSE ROBERT SALAS, MILITAR APOSENTADO.
Eram casos isolados, que poderiam muito bem se relacionar com Ufologia e segurança militar, mas aí tudo foi plantado para que os "espíritas", dentro de um argumento sem pé nem cabeça, dissessem que os militares dos EUA "confirmaram" as supostas "profecias" de Chico Xavier.
A argumentação não é precisa, pois apenas se remendam alguns dados soltos e jogam eles, precariamente relacionados, para evocar o proselitismo religioso de Chico Xavier, que é o que interessa ao "movimento espírita". Eis os argumentos soltos:
1) Dois militares dos EUA relatam terem vistos luzes estranhas se movimentando no céu, parecendo ser naves extra-terrestres sobrevoando as respectivas bases militares em 1964 e 1967. As bases serviam para armazenamento e teses de mísseis nucleares.
2) Os EUA viviam a época da Guerra Fria, contra a União Soviética, que também desenvolvia tecnologia militar. A nação norte-americana estava começando a Guerra do Vietnã, país que se dividiu em partes Norte (comunista) e Sul (capitalista) conforme as disputas territoriais da Guerra Fria.
3) Desde 1962, com a chamada crise dos mísseis entre Cuba, que se declarou comunista em 1961, e os EUA, havia a ameaça de um grave conflito nuclear, que poderia destruir o planeta através de efeitos incalculáveis.
4) Um anti-médium brasileiro relatou um sonho qualquer, desses que todo mundo tem quando dorme, a um "espírita" mal saído da adolescência, em 1969, e o bate-papo passou a valer como um suposto relato profético sobre os tempos futuros.
Olha a malandragem "espírita". Juntam-se dois casos de militares que viram OVNIs, com o contexto da Guerra Fria entre EUA e a hoje extinta URSS, acrescentam-se ameaças de guerras nucleares e, pronto: o sonho de um caipira passa a ter seu suposto e improcedente devaneio "profético" pretensamente "confirmado" por militares dos EUA.
É muita cara-de-pau. Os militares não tiveram qualquer relação com isso e nem de longe afirmaram de Chico Xavier está certo ou não. Nem devem conhecer direito quem é esse suposto médium que é tão festejado em um país ainda de baixo prestígio como o Brasil.
Os "espíritas" é que, querendo arrumar vantagem para si, distorcem a história ao sabor de seus próprios interesses e jogam no YouTube um título sensacionalista: "Militares dos EUA confirmam Data-Limite de Chico Xavier".
Só que os argumentos que Geraldo Lemos Neto (o tal "jovem espírita" do relato de 1969) e do físico de inclinação mística Laércio Fonseca descrevem, além de toda a história plantada para "confirmar" a tese de Chico Xavier, nem de longe são esclarecedores.
Muito pelo contrário, os argumentos soam confusos, vagos, superficiais. Não há um rigor nos argumentos, não há uma abordagem científica séria, não existe um argumento racional preciso, correto e, acima de tudo, confiável, que possa dizer que os devaneios oníricos de Chico Xavier foram confirmados por militares estadunidenses.
O que se tem, em verdade, é apenas a costura de situações soltas para no fim fazer, através dessa argumentação confusa e de objetivo igrejista, aquele mesmo apelo enjoado da "fraternidade" que só serve para lotar "centros espíritas" e vender livrinhos do gênero. Portanto, essa tese da "confirmação" não passou de uma grande lorota de pescador, o "pescador de almas" chamado Chico Xavier.
A presunção de que militares "confirmaram" as "previsões" de Chico Xavier é leviana. A associação é puramente fruto de interpretações tendenciosas que forçaram o vínculo de militares estrangeiros aos sonhos do anti-médium mineiro, mas a verdade é que esses militares nunca confirmaram a tese e nem tenham ideia exata de quem foi Xavier.
Portanto, o que concluímos aqui, com nossa segurança que pode desagradar a muitos, mas é mais realista, é que os militares dos EUA EM NENHUM MOMENTO quiseram ou tentaram confirmar a tese de Chico Xavier. Eles apenas falaram que viram discos voadores, e só. Os "espíritas" apenas quiseram puxar a brasa para sua sardinha, querendo inventar uma confirmação que não houve.
segunda-feira, 30 de março de 2015
domingo, 29 de março de 2015
A "Data-Limite" apostou na "psicologia do terror"
É uma grande brincadeira de mau gosto. Cria-se uma "psicologia do terror", prenunciando catástrofes, maus presságios, ameaças, tudo para assustar as pessoas e fazê-las cada vez mais temerosas e submissas. É uma forma habilidosa de manipulação do inconsciente coletivo.
Estamos falando de George W. Bush? Pode parecer que sim, afinal o antigo chefe estadunidense tornou-se famoso pelo discurso de "combate ao terror" que fazia os Estados Unidos da América, a "nação mais poderosa do planeta" e "atual coração do mundo" (sim, isso mesmo), gastar milhões e milhões em material bélico para operações de guerra em outros países.
Mas se trata da "maravilhosa profecia" de Francisco Cândido Xavier, ele que parecia duvidar que o Primeiro Mundo, conhecido pelos seus conflitos e catástrofes naturais, fosse caminhar para um tempo de paz. Daí a narrativa assustadora que "consolou" (?!) muita gente, já que praticamente se derrubavam os portões do Primeiro Mundo para o Brasil querer mandar no planeta.
Lembrando aqueles relatos dos pais aos filhos, muito comuns em conversas do interior, em que filhos obedientes eram avisados de que poderiam ser sequestrados pelo "homem do saco" que andava pelas ruas à noite ou pelo lobisomem escondido na mata, Chico Xavier interpretou seu sonho dorminhoco como se fosse "um aviso para o mundo".
Aqui já descrevemos a história toda, que muito pescador teria adorado relatar, e a patriotada de Chico Xavier queria que o Brasil fosse a nação mais poderosa do planeta, desejo que ele manifestava desde que lançou Parnaso de Além-Túmulo, em 1932 e tornou mais explícito quando lançou, usando o nome de Humberto de Campos, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Pois, após todo o catastrofismo chiquista, descobre-se, porém, que seu "mentor", Emmanuel, em seguida revela toda a "brincadeira", com o argumento que parece verossímil, descrito em suposta entrevista: "As profecias são reveladas aos homens para não serem cumpridas. São na realidade um grande aviso espiritual para que nos melhoremos e afastemos de nós a hipótese do pior caminho".
Cria-se toda uma narrativa de terror, com a Natureza furiosa só porque o "velho mundo" foi tomado de operações bélicas e ataques terroristas, deixando o Hemisfério Norte inabitável e causando pânico a europeus, norte-americanos e asiáticos que se atropelariam nos aeroportos e portos marítimos, para depois dizer, com "categoria", que tudo não passou de uma pegadinha?
A desculpa do "aviso espiritual" não procede, porque esses relatos são capazes de fazer com que muitas pessoas sofressem um infarto fulminante, só pela ideia de que a qualquer momento um maremoto vai destruir a cidade onde mora.
Isso simplesmente não se faz. E revela o quanto Chico Xavier às vezes adota posturas bastante grosseiras. E tudo isso para "pedir fraternidade" às pessoas. E papéis de jornais e livros e filmagens gastas à toa, só para dar um "tom científico" a supostas profecias que não passam do mesmo lero-lero religioso, apenas para impor a teocracia brasileira "na marra".
Com isso, o projeto do Império Romano redivivo pela nação do "Brasil Coração do Mundo" continua em pé, seja ou não seja destruído o Hemisfério Norte. Como o próprio Chico Xavier disse: Em todas as duas situações (com ou sem destruição do "velho mundo"), o Brasil cumprirá o seu papel no grande processo de espiritualização planetária".
Resta saber quem serão os novos imperadores Constantinos e os novos sacerdotes Tomás de Torquemada que "florescerão" no território brasileiro, se tomarmos como certa a "maravilhosa profecia" de Chico Xavier.
sábado, 28 de março de 2015
A historiografia defasada de Chico Xavier
Embora Francisco Cândido Xavier seja ele mesmo um mestiço, com misto de índio e negro, seus livros descrevem os povos negros e indígenas como "selvagens", como "desgraçados que merecem a misericórdia divina", espécie de eufemismo dócil para sua inferiorização social.
O anti-médium mineiro baseava sua visão nos livros de História que aprendeu na infância e na orientação jesuíta do espírito do padre Manuel da Nóbrega, que, evocado por Xavier, passou a assumir a alcunha de Emmanuel, com base na simplificação do antigo título "Ermano Manuel".
Com base na abordagem historiográfica do Brasil na época, com uma abordagem fantasiosa, mitificadora e socialmente preconceituosa, os índios eram vistos como uma espécie de "malandros" e os negros eram tratados como se fossem animais selvagens, "rebeldes" que precisavam ser "domados".
A visão jesuítica, então, além de corroborar essa triste imagem atribuída a índios e negros, uma clara demonstração de racismo que, hoje, sujeitaria alguém à prisão em regime fechado e sem fiança, tinha também a "solução" do proselitismo religioso da catequese, transformando os "selvagens" em "cristãos".
Chico Xavier apoiava a visão jesuíta e a adaptava à sua interpretação catolicizada da Doutrina Espírita e seu poder supostamente acolhedor das diversas estratificações sociais pelo "Espiritismo Cristão" que estava construindo a "Pátria do Evangelho" do Brasil tido como o "Coração do Mundo".
Como "dono dos mortos", Chico inseriu seu preconceito de que índios e negros eram "selvagens" em obras atribuindo a outros autores, como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, creditado a Humberto de Campos, e o poema Marchemos!, do livro Parnaso de Além-Túmulo, creditado ao poeta Castro Alves. Os dois não pareciam ter tido essa visão racista em vida.
MAIS UMA VEZ CHICO XAVIER ESTAVA ANTIQUADO
Um Chico Xavier atrasado não poderia colocar um personagem fictício, André Luiz, para "antecipar" em seis décadas dados científicos que um grupo de acadêmicos "espíritas" não percebeu que eram fartamente debatidos na época do livro Missionários da Luz, de 1945. É até possível que o suposto espírito estivesse atrasado em dois anos ou mesmo em quinze, se os acadêmicos tivessem pesquisado rigorosamente as próprias fontes dos anos 1940 sobre a glândula pineal.
Pois o atraso de Chico Xavier, que estava indiferente à urgência de repensar a sociedade e escreveu Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (provavelmente em parceria com Wantuil de Freitas, editores da FEB e consultores literários) baseado em abordagens históricas constrangedoras de tão retrógradas, se confirma diante da situação que descreveremos.
Pois o livro atribuído a Humberto de Campos (que, no entanto, nunca teria escrito tamanha aberração literária), que já descreve o desejo de Chico Xavier de ver o país sendo "o mais poderoso do mundo", reforçado depois pelo sonho "profético" da "Data-Limite", foi lançado em 1938, mas bem antes um grupo de historiadores já se empenhava em trazer uma abordagem historiográfica diferente.
Em 1929, os historiadores franceses Marc Bloch - curiosamente conterrâneo de Allan Kardec, já que nasceu em Lyon - e Lucien Febvre, professores da Universidade de Strasbourg, também na França, analisaram a situação histórica do mundo mediante a crise causada pelo colapso na Bolsa de Valores de Nova York, que causou efeitos devastadores na sociedade mundial, incluindo o Brasil.
Eles questionavam a validade da abordagem histórica conhecida como "história dos acontecimentos", em que os personagens mais destacados eram militares, políticos e artistas, e não raro sugeriram narrativas fantasiosas, bajulatórias e mitificadoras. Era a história dos "vencedores", que não obstante deixava de ser fiel à realidade e a veracidade dos fatos.
Bloch e Febvre criaram então a Escola dos Annales, para desenvolver uma abordagem histórica que levasse em conta diversos aspectos, como o social, econômico e cultural, além de estabelecer um diálogo com a Antropologia, a Sociologia e a Geografia Humana, entre outras áreas.
Outra medida da Escola dos Annales é também retratar a história das sociedades através dos personagens anônimos, sobretudo de um "estado de espírito" coletivo, que Bloch e Febvre definiam como "mentalidades", definidas pelo tempo e espaço. Daí o nome História das Mentalidades.
A História das Mentalidades ampliou o leque da abordagem histórica de tal forma que criou uma metodologia interdisciplinar capaz de abordar desde a trajetória de um grupo de operários ou lavadeiras até mesmo estudar o histórico das brincadeiras infantis, aprofundando e diversificando os estudos sobre as atividades humanas e o seu comportamento.
Portanto, nove anos antes do "revelador" Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, três anos antes de Parnaso de Além-Túmulo e quinze anos antes da consagração do "moderno mito" de Chico Xavier (no mesmo 1944 em que Marc Bloch foi assassinado por tropas nazistas que dominaram a França), pensava-se numa reformulação da História que o "avançado" Chico não percebeu.
Um dos maiores beneficiários da História das Mentalidades no Brasil foi, curiosamente, um geógrafo, o baiano Milton Santos, que se serviu da metodologia interdisciplinar lançada pela História das Mentalidades. Sua Geografia Humana dialogava permanentemente com a Sociologia e a Antropologia, áreas das quais o geógrafo baiano "tomava emprestado" para explicar as relações entre o homem e o espaço, trazendo também brilhantes empréstimos da abordagem histórica.
São abordagens amplas, diversificadas e questionadoras, que abriram um "mundo" de possibilidades para o estudo histórico, e que o "revelador" livro de Chico Xavier atribuído a Humberto de Campos (o que incomodou, com razão, os herdeiros do escritor maranhense) simplesmente ignorou, e, como se isso não bastasse, soa bastante defasado.
No caso dos índios e negros, as novas abordagens históricas reconheceram que os dois tipos étnicos, além de expressarem uma diversidade de povos, com várias tribos indígenas e africanas, dotadas de organização social, valores culturais e estruturas sociológicas comprovadas pelos estudos científicos modernos.
Relatos de tribos indígenas e africanas que priorizam a educação de suas crianças, que possuem estrutura social organizada, que desenvolvem habilidades técnicas e possuem um senso de logística no aproveitamento racional dos recursos naturais são hoje conhecidos através das modernas abordagens da História da Humanidade.
Portanto, a abordagem histórica de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, é ultrapassada e falha em muitos aspectos. A obra se inspira em livros didáticos da época e ainda aponta plágios de diversos livros, inclusive os que Humberto escreveu em vida. Até mesmo uma passagem cômica de O Brasil Anedótico é reproduzida (por plágio) como se fosse um relato "sério".
Portanto, esse livro, na verdade um "documento" que expressa a torcida de Chico Xavier por um Brasil "mandando no mundo" só serve para antecipar as fantasias que hoje são conhecidas pelo sonho da "Data-Limite".
Mas a abordagem histórica do "Coração do Mundo" soa antiquada e cheia de falhas para que a ciência pudesse dar ouvidos a qualquer "previsão" de Chico Xavier, que levou um baita "zero" em História.
sexta-feira, 27 de março de 2015
"Espiritismo" brasileiro atrapalha e impede a evolução das pessoas
NÃO SE PODE FAZER NEM LEVAR ADIANTE UMA MISSÃO DE PROGRESSO
O "espiritismo" brasileiro, que trata a vida na Terra como uma penitenciária, atrapalha, impede e dificulta a evolução das pessoas em seus diversos projetos e atividades de vida. A doutrina, que deturpa seriamente os ensinamentos de Allan Kardec, contribui para o travamento da evolução espiritual e social de diversas formas.
Subestimando a vida material e os projetos de progresso social, o "espiritismo" acaba criando condições que fazem com que pessoas dotadas de ideais bastante elevados e arrojados vivessem pouco ou morressem quando suas missões ainda nem tiveram se completado ou criado frutos.
O Brasil é um dos países em que pessoas dotadas de talento diferenciado mais tendem a morrer cedo, ou então em relativa velhice, entre o final da meia-idade e o começo da terceira-idade. Isso porque elas acabam interrompendo suas missões de transformação, deixadas incompletas.
Em toda sua História, o Brasil teve momentos trabalhosos de desenvolvimento social, não raro diluídos em procedimentos conservadores devido à negociação que as novidades lançadas pelos diversos tipos de atividades humanas têm que fazer com as forças conservadoras que sempre "podam" os avanços sociais para um nível tolerado pelas elites retrógradas.
O próprio "espiritismo" brasileiro se construiu "podando" as ideias de Allan Kardec para um religiosismo herdado do Catolicismo medieval, conservado em toda sua essência, apenas deixando de lado o antigo fervor punitivo, que tornou-se moderado conforme os contextos atuais.
A doutrina não ajuda seus seguidores a avançarem nos projetos pessoais. Há casos de famílias que contam com membros inteligentíssimos, de boa índole e insubordináveis aos abusos de poder, mas que são obrigados a aguentar toda sorte de limitações, infortúnios e até humilhações e arbítrios pesados, isso quando não morrem prematuramente quando nascem ou crescem seus ideais de vida.
Pelas energias pesadas que se nota sobretudo em tratamentos espirituais, mas existentes, mesmo de maneira latente, nas doutrinárias dos "centros espíritas", as pessoas que delas se servem acabam sendo impedidas de aproveitarem as oportunidades da vida, por mais que se esforcem para conquistar seus objetivos e ideais.
Tudo fica travado. É aquela pessoa afim para a vida amorosa, que desaparece no caminho enquanto, em seu lugar, surge uma pessoa sem a menor afinidade e que nenhum proveito traz para o companheiro.
É aquele emprego que não só garantia um bom salário, mas dava chance para o trabalhador desenvolver seus dons pessoais, que ele é impedido de exercer, quando as únicas oportunidades são trabalhos medíocres ou árduos cujo único benefício é tão somente o dinheiro no bolso.
Na sociedade, o que se nota é que, enquanto pessoas de perfil diferenciado são impedidas de se expressarem ou, quando se expressam, tendem a morrer cedo e a deixar sua missão incompleta, vemos pessoas dotadas de mediocridade ou mau-caráter que embarcam na causa alheia prometendo aprendê-la e estraga o projeto original com seus erros e deturpações.
Os nossos mestres em potencial acabam morrendo cedo e deixando seus ensinamentos incompletos. Em compensação, surgem oportunistas que se apropriam de seu legado e distorcem suas ideias originais de maneira bastante leviana, e passam a vida toda fazendo isso, usando como desculpas "fazer algo diferente" ou "aprender sempre com essa linda experiência".
Na vida pessoal, as pessoas mais diferenciadas são as que mais sofrem prejuízo pelo contato com o "espiritismo" brasileiro. Elas são impedidas de realizar seus projetos na vida social, na vida profissional, amorosa e artística, tendo dificuldades até, pasmem, de exercer a caridade ou de ajudar financeiramente os próprios pais.
Essas pessoas, castradas em seus projetos de vida, são obrigadas apenas a aceitar o "que vier" de oportunidade para suas vidas: um emprego qualquer, geralmente com um patrão autoritário e mesquinho, um cônjuge sem a menor afinidade, tudo porque o que importa, pasmem, são apenas necessidades materiais de obter salário e gerar filhos.
Sim, porque o "espiritismo" brasileiro não é espiritualista de verdade, mas tomado do mais profundo materialismo. Em outra oportunidade mostraremos o quanto a forma deturpada de Doutrina Espírita fez para transformar conceitos espiritualistas em um materialismo tosco guiado pelo antigo moralismo católico redivivo pelos "espíritas".
Essas barreiras existentes na vida são interpretadas pelo "movimento espírita" como supostas provações que pessoas diferenciadas são obrigadas a enfrentar, mediante julgamento moralista atribuído por critérios reencarnacionais duvidosos, já que o estudo da vida espiritual é simplesmente nulo no "movimento espírita" do Brasil.
Esse julgamento remete a uma reminiscência do Catolicismo medieval presente no "movimento espírita", e que faz sentido se observarmos que os "espíritas" consideram verídico o fictício julgamento de Jesus por Pôncio Pilatos (que naturalmente sentenciava os condenados em rito sumário), invenção mitológica do Catolicismo medieval para inocentar os romanos e culpar os judeus pela morte do ativista.
No "espiritismo" todos são culpados até prova em contrário. Os mais submissos ao seu moralismo ideológico e condescendentes às suas mistificações têm mais sorte, assim como aqueles que fazem vista grossa às fraudes cometidas pela doutrina e que não possuem uma personalidade diferenciada.
Por isso, o "espiritismo" acaba protegendo aqueles que se servem a ideais conservadores ou zelam até mesmo para manter estruturas arcaicas ou, pelo menos, relativamente atrasadas da sociedade brasileira (quando se admite alguma modernização tecnológica e uma visão tecnocrática).
Mesmo aqueles que cometem homicídios, por piores e condenáveis que sejam, visando esse fim acabam sendo protegidos pelas vibrações "espíritas". O julgamento "espírita" dá uma ajudinha, definindo as pessoas que tiram a vida de outrem de "justiceiros da lei de Causa e Efeito", versões adaptadas da antiga "pena de talião" atribuída ao pretexto de "reajustes espirituais".
Isso acaba influenciando uma série de retrocessos sociais que a cada vez mais nivelam por baixo a sociedade brasileira. Pessoas diferenciadas são impedidas de se ascenderem socialmente, sendo obrigadas a forçar a barra de uma obediência e um servilismo dos quais não se interessam em fazer e que estão conscientes de que não trarão qualquer proveito em suas vidas nem à sociedade.
Por isso, não temos mais pessoas diferenciadas com visibilidade plena. Hoje o Brasil sofre o império da mediocrização, da canastrice, da canalhice, em que a banalização da violência e da corrupção são apenas seus aspectos mais extremos.
Mas mesmo a cultura teatral, popular, cinematográfica e televisiva, que sustentam um mercado tomado de canastrões de diversos tipos, também impedem o progresso do Brasil, contrariando em todos os sentidos as supostas "profecias" de Francisco Cândido Xavier.
Diz as "previsões" de Chico Xavier que o Brasil se ascenderá através de suas grandes personalidades, dotadas de grande talento, muita inteligência e ideais arrojados de transformação. Divaldo Franco aposta no rótulo "crianças-índigo", criadas por místicos norte-americanos, para definir essas pessoas.
Mas tudo isso é uma grande farsa, porque nossas melhores personalidades quase sempre morrem no meio do caminho, para não dizer no início dele. Ou, quando vivem muito, é para serem escravizadas pelas circunstâncias e guardar seus projetos de vida na geladeira, enquanto são obrigadas a obedecer e servir a pessoas medíocres e cada vez mais estúpidas.
O "espiritismo" brasileiro, que trata a vida na Terra como uma penitenciária, atrapalha, impede e dificulta a evolução das pessoas em seus diversos projetos e atividades de vida. A doutrina, que deturpa seriamente os ensinamentos de Allan Kardec, contribui para o travamento da evolução espiritual e social de diversas formas.
Subestimando a vida material e os projetos de progresso social, o "espiritismo" acaba criando condições que fazem com que pessoas dotadas de ideais bastante elevados e arrojados vivessem pouco ou morressem quando suas missões ainda nem tiveram se completado ou criado frutos.
O Brasil é um dos países em que pessoas dotadas de talento diferenciado mais tendem a morrer cedo, ou então em relativa velhice, entre o final da meia-idade e o começo da terceira-idade. Isso porque elas acabam interrompendo suas missões de transformação, deixadas incompletas.
Em toda sua História, o Brasil teve momentos trabalhosos de desenvolvimento social, não raro diluídos em procedimentos conservadores devido à negociação que as novidades lançadas pelos diversos tipos de atividades humanas têm que fazer com as forças conservadoras que sempre "podam" os avanços sociais para um nível tolerado pelas elites retrógradas.
O próprio "espiritismo" brasileiro se construiu "podando" as ideias de Allan Kardec para um religiosismo herdado do Catolicismo medieval, conservado em toda sua essência, apenas deixando de lado o antigo fervor punitivo, que tornou-se moderado conforme os contextos atuais.
A doutrina não ajuda seus seguidores a avançarem nos projetos pessoais. Há casos de famílias que contam com membros inteligentíssimos, de boa índole e insubordináveis aos abusos de poder, mas que são obrigados a aguentar toda sorte de limitações, infortúnios e até humilhações e arbítrios pesados, isso quando não morrem prematuramente quando nascem ou crescem seus ideais de vida.
Pelas energias pesadas que se nota sobretudo em tratamentos espirituais, mas existentes, mesmo de maneira latente, nas doutrinárias dos "centros espíritas", as pessoas que delas se servem acabam sendo impedidas de aproveitarem as oportunidades da vida, por mais que se esforcem para conquistar seus objetivos e ideais.
Tudo fica travado. É aquela pessoa afim para a vida amorosa, que desaparece no caminho enquanto, em seu lugar, surge uma pessoa sem a menor afinidade e que nenhum proveito traz para o companheiro.
É aquele emprego que não só garantia um bom salário, mas dava chance para o trabalhador desenvolver seus dons pessoais, que ele é impedido de exercer, quando as únicas oportunidades são trabalhos medíocres ou árduos cujo único benefício é tão somente o dinheiro no bolso.
Na sociedade, o que se nota é que, enquanto pessoas de perfil diferenciado são impedidas de se expressarem ou, quando se expressam, tendem a morrer cedo e a deixar sua missão incompleta, vemos pessoas dotadas de mediocridade ou mau-caráter que embarcam na causa alheia prometendo aprendê-la e estraga o projeto original com seus erros e deturpações.
Os nossos mestres em potencial acabam morrendo cedo e deixando seus ensinamentos incompletos. Em compensação, surgem oportunistas que se apropriam de seu legado e distorcem suas ideias originais de maneira bastante leviana, e passam a vida toda fazendo isso, usando como desculpas "fazer algo diferente" ou "aprender sempre com essa linda experiência".
Na vida pessoal, as pessoas mais diferenciadas são as que mais sofrem prejuízo pelo contato com o "espiritismo" brasileiro. Elas são impedidas de realizar seus projetos na vida social, na vida profissional, amorosa e artística, tendo dificuldades até, pasmem, de exercer a caridade ou de ajudar financeiramente os próprios pais.
Essas pessoas, castradas em seus projetos de vida, são obrigadas apenas a aceitar o "que vier" de oportunidade para suas vidas: um emprego qualquer, geralmente com um patrão autoritário e mesquinho, um cônjuge sem a menor afinidade, tudo porque o que importa, pasmem, são apenas necessidades materiais de obter salário e gerar filhos.
Sim, porque o "espiritismo" brasileiro não é espiritualista de verdade, mas tomado do mais profundo materialismo. Em outra oportunidade mostraremos o quanto a forma deturpada de Doutrina Espírita fez para transformar conceitos espiritualistas em um materialismo tosco guiado pelo antigo moralismo católico redivivo pelos "espíritas".
Essas barreiras existentes na vida são interpretadas pelo "movimento espírita" como supostas provações que pessoas diferenciadas são obrigadas a enfrentar, mediante julgamento moralista atribuído por critérios reencarnacionais duvidosos, já que o estudo da vida espiritual é simplesmente nulo no "movimento espírita" do Brasil.
Esse julgamento remete a uma reminiscência do Catolicismo medieval presente no "movimento espírita", e que faz sentido se observarmos que os "espíritas" consideram verídico o fictício julgamento de Jesus por Pôncio Pilatos (que naturalmente sentenciava os condenados em rito sumário), invenção mitológica do Catolicismo medieval para inocentar os romanos e culpar os judeus pela morte do ativista.
No "espiritismo" todos são culpados até prova em contrário. Os mais submissos ao seu moralismo ideológico e condescendentes às suas mistificações têm mais sorte, assim como aqueles que fazem vista grossa às fraudes cometidas pela doutrina e que não possuem uma personalidade diferenciada.
Por isso, o "espiritismo" acaba protegendo aqueles que se servem a ideais conservadores ou zelam até mesmo para manter estruturas arcaicas ou, pelo menos, relativamente atrasadas da sociedade brasileira (quando se admite alguma modernização tecnológica e uma visão tecnocrática).
Mesmo aqueles que cometem homicídios, por piores e condenáveis que sejam, visando esse fim acabam sendo protegidos pelas vibrações "espíritas". O julgamento "espírita" dá uma ajudinha, definindo as pessoas que tiram a vida de outrem de "justiceiros da lei de Causa e Efeito", versões adaptadas da antiga "pena de talião" atribuída ao pretexto de "reajustes espirituais".
Isso acaba influenciando uma série de retrocessos sociais que a cada vez mais nivelam por baixo a sociedade brasileira. Pessoas diferenciadas são impedidas de se ascenderem socialmente, sendo obrigadas a forçar a barra de uma obediência e um servilismo dos quais não se interessam em fazer e que estão conscientes de que não trarão qualquer proveito em suas vidas nem à sociedade.
Por isso, não temos mais pessoas diferenciadas com visibilidade plena. Hoje o Brasil sofre o império da mediocrização, da canastrice, da canalhice, em que a banalização da violência e da corrupção são apenas seus aspectos mais extremos.
Mas mesmo a cultura teatral, popular, cinematográfica e televisiva, que sustentam um mercado tomado de canastrões de diversos tipos, também impedem o progresso do Brasil, contrariando em todos os sentidos as supostas "profecias" de Francisco Cândido Xavier.
Diz as "previsões" de Chico Xavier que o Brasil se ascenderá através de suas grandes personalidades, dotadas de grande talento, muita inteligência e ideais arrojados de transformação. Divaldo Franco aposta no rótulo "crianças-índigo", criadas por místicos norte-americanos, para definir essas pessoas.
Mas tudo isso é uma grande farsa, porque nossas melhores personalidades quase sempre morrem no meio do caminho, para não dizer no início dele. Ou, quando vivem muito, é para serem escravizadas pelas circunstâncias e guardar seus projetos de vida na geladeira, enquanto são obrigadas a obedecer e servir a pessoas medíocres e cada vez mais estúpidas.
quarta-feira, 25 de março de 2015
A mais cruel acusação de Chico Xavier
ÚLTIMOS MOMENTOS DO CIRCO GRAN AMERICANO EM NITERÓI - Um grupo de trapezistas se apresenta, na tarde de 17 de dezembro de 1961, pouco antes do trágico incêndio.
O mito de Francisco Cândido Xavier é de que ele nunca acusou pessoa alguma, era um "homem de bem" e dotado do mais infinito dom de perdoar e compreender. Só que não é isso que a realidade mostrava dele.
Chico Xavier, em 1961, deixou que lideranças do "espiritismo" brasileiro "dessem cabo" no sobrinho Amauri Xavier Pena, cuja biografia oficial é uma história muito mal contada, causando sua morte naquele ano, muito prematura para um rapaz que apenas bebia muito e ainda era assistido por um sanatório "espírita" definido como "de bom conceito" e existente até hoje.
Pois o "homem que a ninguém jamais acusou" fez na verdade uma acusação de extrema gravidade contra centenas de vítimas de uma tragédia, e, o que piora cada vez mais as coisas, atribuiu a responsabilidade a uma outra pessoa, falecida cerca de três décadas antes.
A TRAGÉDIA DE NITERÓI
Em dezembro de 1961, era anunciada na imprensa e nos cartazes de rua a realização de um espetáculo do Gran Circo Norte-Americano, programado para o domingo dia 17, a partir do final da tarde, Seria um dos mais populares espetáculos circenses em apresentação em Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, numa área situada no entorno da Praça dos Expedicionários, entre a Av. Feliciano Sodré e a Av. Jansen de Mello.
Uma discussão nos bastidores, porém, teria sido a origem da tragédia. O funcionário Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, que tinha problemas mentais e era acusado de furto, foi demitido por decisão de Danilo Stevanovich, da família dona do circo. O circo estreou sua temporada niteroiense no dia 15, com lotação esgotada e uma equipe de sessenta artistas e 150 animais.
Danilo cancelou a venda dos ingressos para aquele dia 15. Mas garantiu a realização do espetáculo nos dias seguintes. Dequinha rondava o circo durante as apresentações e tentou entrar sem pagar, mas foi impedido pelo funcionário Manuel Felizardo, que Dequinha acusava de ter colaborado para sua demissão.
Felizardo agrediu Dequinha e o expulsou da área. Dequinha jurou vingança e combinou o incêndio com dois comparsas. Pardal e Bigode. Um deles o advertiu das consequências trágicas do crime, mas Dequinha não abriu mão da vingança.
Assim, durante uma apresentação de trapezistas, vinte minutos antes do fim do espetáculo, uma integrante do grupo percebeu o fogo que se espalhou por toda a lona, feita de material inflamável. O pânico generalizado e o incêndio, juntos, causaram cerca de 372 mortes, entre pessoas queimadas ou pisoteadas. Mas um número incontável de feridos morreu em diversos hospitais ou dentro das ambulâncias.
Os três envolvidos foram presos. A tragédia causou comoção e até o presidente João Goulart e o primeiro-ministro Tancredo Neves (era então um governo parlamentarista) foram a Niterói para tratarem da tragédia. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy foi tratar das queimaduras dos sobreviventes.
Destaca-se aqui a atuação do pequeno-empresário José Datrino, que ao assistir as vítimas, ficou tão comovido e triste com a tragédia que resolveu abrir mão de seu dinheiro e se transformar no Profeta Gentileza, permanecendo quatro anos em Niterói assistindo as famílias das vítimas. Tornou-se amigo de muitas delas e passou a pregar a generosidade como princípio humano.
O LIVRO ACUSADOR.
CHICO XAVIER ACUSOU AS VÍTIMAS DE "GAULESES SANGUINÁRIOS"
Em 1966, Francisco Cândido Xavier lançou um livro chamado Cartas e Crônicas, atribuído ao espírito Irmão X. Segundo Chico, esse teria sido o codinome que o espírito de Humberto de Campos teria adotado para evitar "novos dissabores", tese que sabemos não faz o menor sentido.
Sabemos, através deste blogue, que o "espírito Humberto de Campos" dos livros lançados por Chico Xavier contradiz, em estilo, bagagem de informações e linguagem, O Humberto de Campos que esteve entre nós e faleceu em 1934 tinha uma narrativa coloquial, descontraída e de linguagem e referenciais cultos.
O suposto espírito tinha narrativa solene, melancólica e de referenciais meramente sacerdotais ou bíblicos. Portanto, definitivamente, não há a menor semelhança entre o "autor espiritual" de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho com o escritor de Carvalhos e Roseiras, também membro da Academia Brasileira de Letras.
Em Cartas e Crônicas, o suposto Irmão X (codinome que parodia um pseudônimo que Humberto usou em vida, o Conselheiro XX) atribuiu às mais de 500 vítimas do incêndio do circo em Niterói de terem sido, em outra encarnação, patrícios que viviam na Gália.
A Gália era uma região do Império Romano correspondente à atual França, e que sentiam prazer em ver plebeus sendo queimados vivos em uma arena circense. A suposição de Chico Xavier apostou no ano de 177 e, "coincidentemente", na cidade de Lyon, terra de Allan Kardec, o homem que Chico fingia admirar mas o desprezava severamente.
Não foram desenvolvidas técnicas e métodos seguros para o reconhecimento definitivo das reencarnações. Além disso, especialistas alertam que supor uma reencarnação antiga é um processo perigoso para a maioria das pessoas. E, vale frisar, é impossível que rigorosamente todas as vítimas da tragédia de Niterói tenham sido cidadãos da Gália no ano de 177.
Há sérias irregularidades na hipótese de Chico Xavier. Mesmo que a hipótese "reencarnacional" fosse verdadeira (provavelmente não é), Chico contrariou seus próprios princípios de "perdoar pelo esquecimento" e de "não fazer julgamentos". No livro, Chico "julgou" as vítimas da tragédia do circo, e relembrando o passado, atribuiu ao infortúnio de 1961 como uma revanche dos "resgates morais". Chico contrariou a si mesmo, neste episódio.
A mediunidade no Brasil é uma prática corrompida, feita sem que qualquer estudo sério pudesse permitir o contato com as pessoas do mundo espiritual. Chico está associado a práticas fraudulentas, inclusive assinando atestados para tomar como "autênticos" processos de materialização que não passavam de ilusionismos baratos, embora menos interessantes que os espetáculos de mágica feitos em circos.
O que as pessoas não percebem é que Chico Xavier fez uma acusação gravíssima contra os infelizes que morreram ou sofreram sequelas naquela tragédia, e também contra seus familiares. E, pior ainda, a "sábia revelação" de Chico poderia incitar o ódio da sociedade contra essas vítimas e suas famílias, diante do triste hábito do "espiritismo" eventualmente transformar vítimas em "culpadas".
Com esse livro, Chico Xavier fez muitas crueldades. Sem ter segurança dos critérios de avaliação de encarnações passadas, Chico acusou as vítimas da tragédia de Niterói de terem sido "gauleses sanguinparios", generalizando seu julgamento e desrespeitando o sofrimento das vítimas e de seus familiares. Logo o Chico Xavier, que sempre recomendava a "perdoar pelo esquecimento".
Essa acusação era infundada, pelo fato de não haver garantias científicas seguras para verificar encarnações anteriores de alguém. E, mais grave ainda, Chico Xavier mais uma vez ofendeu os herdeiros e a memória de Humberto de Campos, atribuindo a responsabilidade dele pelo "julgamento".
Semelhante atitude rendeu um processo judicial por danos morais contra o "médium" de São José do Rio Preto, Woyne Figner Sacchetin, que no livro O Voo da Esperança, fez a mesma acusação, que Chico Xavier fez às vítimas da tragédia de Niterói, às vítimas do acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 2007.
Woyne usou o nome de Alberto Santos Dumont para dizer que as vítimas do acidente aéreohaviam sido "gauleses sanguinários" Na tragédia de 17 de julho de 2007, o avião do voo TAM 3054, em pista de pouso para decolagem, se chocou com um depósito, causando uma explosão que matou todos os ocupantes do avião e algumas pessoas que estavam na área do depósito.
Se Woyne Figner foi processado por ofensa gravíssima - e isso contra pessoas consideradas financeiramente abastadas - , Chico Xavier fez uma crueldade ainda mais grave, porque sua acusação ofendeu pessoas que não tinham dinheiro para mover qualquer ação judicial.
Infelizmente, é o mesmo Chico Xavier que seus seguidores fazem questão de se manter santificado e renovado em sua imagem supostamente "pura" de "espírito iluminado", estereótipo que comove muitas e muitas pessoas, mas que não correspondem à realidade. No episódio Cartas e Crônicas, Chico Xavier cometeu a mais cruel das crueldades, em diversos aspectos.
O mito de Francisco Cândido Xavier é de que ele nunca acusou pessoa alguma, era um "homem de bem" e dotado do mais infinito dom de perdoar e compreender. Só que não é isso que a realidade mostrava dele.
Chico Xavier, em 1961, deixou que lideranças do "espiritismo" brasileiro "dessem cabo" no sobrinho Amauri Xavier Pena, cuja biografia oficial é uma história muito mal contada, causando sua morte naquele ano, muito prematura para um rapaz que apenas bebia muito e ainda era assistido por um sanatório "espírita" definido como "de bom conceito" e existente até hoje.
Pois o "homem que a ninguém jamais acusou" fez na verdade uma acusação de extrema gravidade contra centenas de vítimas de uma tragédia, e, o que piora cada vez mais as coisas, atribuiu a responsabilidade a uma outra pessoa, falecida cerca de três décadas antes.
A TRAGÉDIA DE NITERÓI
Em dezembro de 1961, era anunciada na imprensa e nos cartazes de rua a realização de um espetáculo do Gran Circo Norte-Americano, programado para o domingo dia 17, a partir do final da tarde, Seria um dos mais populares espetáculos circenses em apresentação em Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, numa área situada no entorno da Praça dos Expedicionários, entre a Av. Feliciano Sodré e a Av. Jansen de Mello.
Uma discussão nos bastidores, porém, teria sido a origem da tragédia. O funcionário Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, que tinha problemas mentais e era acusado de furto, foi demitido por decisão de Danilo Stevanovich, da família dona do circo. O circo estreou sua temporada niteroiense no dia 15, com lotação esgotada e uma equipe de sessenta artistas e 150 animais.
Danilo cancelou a venda dos ingressos para aquele dia 15. Mas garantiu a realização do espetáculo nos dias seguintes. Dequinha rondava o circo durante as apresentações e tentou entrar sem pagar, mas foi impedido pelo funcionário Manuel Felizardo, que Dequinha acusava de ter colaborado para sua demissão.
Felizardo agrediu Dequinha e o expulsou da área. Dequinha jurou vingança e combinou o incêndio com dois comparsas. Pardal e Bigode. Um deles o advertiu das consequências trágicas do crime, mas Dequinha não abriu mão da vingança.
Assim, durante uma apresentação de trapezistas, vinte minutos antes do fim do espetáculo, uma integrante do grupo percebeu o fogo que se espalhou por toda a lona, feita de material inflamável. O pânico generalizado e o incêndio, juntos, causaram cerca de 372 mortes, entre pessoas queimadas ou pisoteadas. Mas um número incontável de feridos morreu em diversos hospitais ou dentro das ambulâncias.
Os três envolvidos foram presos. A tragédia causou comoção e até o presidente João Goulart e o primeiro-ministro Tancredo Neves (era então um governo parlamentarista) foram a Niterói para tratarem da tragédia. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy foi tratar das queimaduras dos sobreviventes.
Destaca-se aqui a atuação do pequeno-empresário José Datrino, que ao assistir as vítimas, ficou tão comovido e triste com a tragédia que resolveu abrir mão de seu dinheiro e se transformar no Profeta Gentileza, permanecendo quatro anos em Niterói assistindo as famílias das vítimas. Tornou-se amigo de muitas delas e passou a pregar a generosidade como princípio humano.
O LIVRO ACUSADOR.
CHICO XAVIER ACUSOU AS VÍTIMAS DE "GAULESES SANGUINÁRIOS"
Em 1966, Francisco Cândido Xavier lançou um livro chamado Cartas e Crônicas, atribuído ao espírito Irmão X. Segundo Chico, esse teria sido o codinome que o espírito de Humberto de Campos teria adotado para evitar "novos dissabores", tese que sabemos não faz o menor sentido.
Sabemos, através deste blogue, que o "espírito Humberto de Campos" dos livros lançados por Chico Xavier contradiz, em estilo, bagagem de informações e linguagem, O Humberto de Campos que esteve entre nós e faleceu em 1934 tinha uma narrativa coloquial, descontraída e de linguagem e referenciais cultos.
O suposto espírito tinha narrativa solene, melancólica e de referenciais meramente sacerdotais ou bíblicos. Portanto, definitivamente, não há a menor semelhança entre o "autor espiritual" de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho com o escritor de Carvalhos e Roseiras, também membro da Academia Brasileira de Letras.
Em Cartas e Crônicas, o suposto Irmão X (codinome que parodia um pseudônimo que Humberto usou em vida, o Conselheiro XX) atribuiu às mais de 500 vítimas do incêndio do circo em Niterói de terem sido, em outra encarnação, patrícios que viviam na Gália.
A Gália era uma região do Império Romano correspondente à atual França, e que sentiam prazer em ver plebeus sendo queimados vivos em uma arena circense. A suposição de Chico Xavier apostou no ano de 177 e, "coincidentemente", na cidade de Lyon, terra de Allan Kardec, o homem que Chico fingia admirar mas o desprezava severamente.
Não foram desenvolvidas técnicas e métodos seguros para o reconhecimento definitivo das reencarnações. Além disso, especialistas alertam que supor uma reencarnação antiga é um processo perigoso para a maioria das pessoas. E, vale frisar, é impossível que rigorosamente todas as vítimas da tragédia de Niterói tenham sido cidadãos da Gália no ano de 177.
Há sérias irregularidades na hipótese de Chico Xavier. Mesmo que a hipótese "reencarnacional" fosse verdadeira (provavelmente não é), Chico contrariou seus próprios princípios de "perdoar pelo esquecimento" e de "não fazer julgamentos". No livro, Chico "julgou" as vítimas da tragédia do circo, e relembrando o passado, atribuiu ao infortúnio de 1961 como uma revanche dos "resgates morais". Chico contrariou a si mesmo, neste episódio.
A mediunidade no Brasil é uma prática corrompida, feita sem que qualquer estudo sério pudesse permitir o contato com as pessoas do mundo espiritual. Chico está associado a práticas fraudulentas, inclusive assinando atestados para tomar como "autênticos" processos de materialização que não passavam de ilusionismos baratos, embora menos interessantes que os espetáculos de mágica feitos em circos.
O que as pessoas não percebem é que Chico Xavier fez uma acusação gravíssima contra os infelizes que morreram ou sofreram sequelas naquela tragédia, e também contra seus familiares. E, pior ainda, a "sábia revelação" de Chico poderia incitar o ódio da sociedade contra essas vítimas e suas famílias, diante do triste hábito do "espiritismo" eventualmente transformar vítimas em "culpadas".
Com esse livro, Chico Xavier fez muitas crueldades. Sem ter segurança dos critérios de avaliação de encarnações passadas, Chico acusou as vítimas da tragédia de Niterói de terem sido "gauleses sanguinparios", generalizando seu julgamento e desrespeitando o sofrimento das vítimas e de seus familiares. Logo o Chico Xavier, que sempre recomendava a "perdoar pelo esquecimento".
Essa acusação era infundada, pelo fato de não haver garantias científicas seguras para verificar encarnações anteriores de alguém. E, mais grave ainda, Chico Xavier mais uma vez ofendeu os herdeiros e a memória de Humberto de Campos, atribuindo a responsabilidade dele pelo "julgamento".
Semelhante atitude rendeu um processo judicial por danos morais contra o "médium" de São José do Rio Preto, Woyne Figner Sacchetin, que no livro O Voo da Esperança, fez a mesma acusação, que Chico Xavier fez às vítimas da tragédia de Niterói, às vítimas do acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 2007.
Woyne usou o nome de Alberto Santos Dumont para dizer que as vítimas do acidente aéreohaviam sido "gauleses sanguinários" Na tragédia de 17 de julho de 2007, o avião do voo TAM 3054, em pista de pouso para decolagem, se chocou com um depósito, causando uma explosão que matou todos os ocupantes do avião e algumas pessoas que estavam na área do depósito.
Se Woyne Figner foi processado por ofensa gravíssima - e isso contra pessoas consideradas financeiramente abastadas - , Chico Xavier fez uma crueldade ainda mais grave, porque sua acusação ofendeu pessoas que não tinham dinheiro para mover qualquer ação judicial.
Infelizmente, é o mesmo Chico Xavier que seus seguidores fazem questão de se manter santificado e renovado em sua imagem supostamente "pura" de "espírito iluminado", estereótipo que comove muitas e muitas pessoas, mas que não correspondem à realidade. No episódio Cartas e Crônicas, Chico Xavier cometeu a mais cruel das crueldades, em diversos aspectos.
terça-feira, 24 de março de 2015
Chico Xavier e o maniqueísmo do "bom" Brasil e do "cruel" Hemisfério Norte
ENCHENTE EM HELSINBORG, NO SUL DA SUÉCIA - Tempestades foram superestimadas pela "profecia" chiquista que via nelas a destruição do Hemisfério Norte.
O que o anti-médium Francisco Cândido Xavier queria com seu sonho "profético" era que o caminho do Brasil se ascendesse "atropelando" o "velho mundo", que seria destruído pela "Mãe Natureza", que daria uma ajudinha à nação sul-americana para chegar ao poder geopolítico mundial assim "no mole".
Chico Xavier exagerava na menção de casos isolados e tentava afirmar que eles eram o "prenúncio" de que uma onda de catástrofes tornaria o Hemisfério Norte inabitável. Uma enchente atingindo apenas uma determinada zona costeira, uma decisão política de uns três países, um ataque terrorista em uma capital europeia, e por aí vai.
Dependendo da interpretação, até um simples atentado de fundamentalistas islâmicos em Paris, como o que matou, entre outras vítimas, uma equipe de jornalistas e chargistas do periódico Charlie Hebdo, ou o misterioso assassinato de um opositor do presidente russo Vladimir Putin, já é desculpa para a "profecia" deixada por Chico Xavier clamar a fúria da natureza contra os "irmãos do norte".
A "maravilhosa previsão" teria, assim, um caráter maniqueísta, bem ao nível dos contos de fadas, aqui mesclados com narrativa de ficção científica, cinema catástrofe e dramas de guerras. De um lado, o "malvado" mundo antigo, em boa parte desenvolvido, de outro, o "bondoso" Brasil, ainda novinho, país criança que só agora começa a conhecer seus piores impasses.
No conto-de-fadas de Chico Xavier, que os incautos definem como "profecia séria" de "urgentes" implicações "científicas", o Hemisfério Norte tinha que se comportar direitinho senão seria castigado por explosões vulcânicas, terremotos, maremotos, furacões e enchentes, tudo "de grandes proporções".
Em compensação, o Brasil, o "bom aluno" da teocracia planetária e considerado o "país mais cristão" do mundo, se elevará diante da ruína do "velho mundo", porque tem uma bela paisagem e um mito de nação alegre e hospitaleira, além de uma religiosidade forte e convicta.
ÓDIO À CIÊNCIA E AO RACIOCÍNIO LÓGICO
Com essa interpretação, Chico Xavier demonstra seu ódio à ciência e ao raciocínio lógico, que entre tantas coisas demonstra seu profundo e surdo desprezo por Allan Kardec, reduzido a um nome a lhe receber falsos elogios e bajulações tendenciosas.
O que ele rogou em sua "profecia", na verdade uma interpretação tendenciosa de um sonho - que os "espíritas" de uma forma pedante definem como "desdobramento espiritual" - , era a destruição de um mundo marcado pelo aprimoramento do conhecimento e da técnica e a ascenção de uma nação problemática e confusa, mas em dia com a expressão da fé religiosa.
Chico Xavier era um caipira, adorador de santos, que se sentia seduzido por mortos precoces (ele pensava como seria alguém morrer antes dos 60 anos, idade considerada "marco inicial" da Terceira Idade, pelo menos até uns dez anos atrás), com sua visão entre provinciana e surreal de interiorano mineiro.
Como um sujeito desses pode se julgar acima da ciência, dos debates políticos, acima de qualquer coisa é coisa que nem o fanatismo de seus seguidores é capaz de explicar. Aliás, seus seguidores são os primeiros a terem essa incapacidade de explicar por que Chico Xavier é considerado o único indivíduo na Terra que pôde estar acima de tudo e de todos, talvez até acima de Jesus.
A culpa não é nossa. Há uma torcida, entre os "espíritas", que diz que Chico Xavier é "mais importante" que Jesus. Este era apenas o "ingênuo mestre" (?!) que não sabia onde ficava a futura nação-guia da humanidade, e foi orientado por um tal de Helil da localização do Brasil através da constelação do Cruzeiro do Sul.
É evidente que a ideia do Brasil como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" era uma grande obsessão de Chico Xavier desde 1932, tema de livro de 1938 atribuído a Humberto de Campos, e o sonho não foge a esse desejo de Chico que só foi popularmente aceito porque se encaixa num ufanismo, numa patriotada há muito difundida pelo poder midiático dominante.
As pessoas não conseguem raciocinar que o que está por trás dessa conversa de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" é a construção de uma teocracia nos moldes do antigo Império Romano / Império Bizantino, de uma volta à Idade Média às custas de mais uma destruição de regiões que se esforçavam em promover o progresso social, científico, cultural e tecnológico.
Chico Xavier, com o seu "bondoso" cinismo, ainda teve o descaramento de dizer, para Geraldo Lemos Neto que a partir de 1986 divulgou a conversa realizada em 1969, que o mundo, depois da destruição do Hemisfério Norte, demoraria muitos anos para se "reconstruir".
Claro, para um caipira católico, tanto faz se muitas das realizações feitas trabalhosamente pelo "velho mundo" se reduzam a pó, de maneira ainda mais dura que as lições e produções artísticas, intelectuais e científicas da Grécia e Roma Antigas que se perderam e ficaram inacessíveis aos nossos dias.
Para Chico, o que vale é apenas aquele conformismo "bonzinho", como se o mundo inteiro tivesse que adotar a atitude "bovina" e rural de aceitar os desígnios do "alto" - pouco importando se o "alto" se chama Deus, Ronaldo Caiado, Roberto Marinho, Luciano Huck, Jaime Lerner, Mr. Catra, Galvão Bueno, Carlos Eduardo Miranda ou Eduardo Paes - , mesmo durante o pior dos sofrimentos.
A noção de destruição e reconstrução de Chico Xavier é tão precisa quanto a derrubada e reposição de peças do brinquedo Meu Pequeno Construtor. O que é o raciocínio lógico para um caipira católico e conservador senão um monte de frescuras de homens que "pensam demais"?
Por isso o maniqueísmo da profecia da "Data-Limite". Um Brasil provinciano, confuso, irregular, desigual, subdesenvolvido, caótico e à beira de um ataque de nervos será promovido à nação que vai promover e guiar a evolução humanitária na Terra.
A título de didatismo: imaginem se alguém nomear um adolescente estudante de ensino médio, delinquente temperamental e sub-escolarizado por um sistema educacional deficiente, para ser professor de um curso de pós-doutorado numa das melhores universidades do mundo? É o Brasil fraturado que Chico Xavier sonhou tanto que iria comandar o mundo.
O que o anti-médium Francisco Cândido Xavier queria com seu sonho "profético" era que o caminho do Brasil se ascendesse "atropelando" o "velho mundo", que seria destruído pela "Mãe Natureza", que daria uma ajudinha à nação sul-americana para chegar ao poder geopolítico mundial assim "no mole".
Chico Xavier exagerava na menção de casos isolados e tentava afirmar que eles eram o "prenúncio" de que uma onda de catástrofes tornaria o Hemisfério Norte inabitável. Uma enchente atingindo apenas uma determinada zona costeira, uma decisão política de uns três países, um ataque terrorista em uma capital europeia, e por aí vai.
Dependendo da interpretação, até um simples atentado de fundamentalistas islâmicos em Paris, como o que matou, entre outras vítimas, uma equipe de jornalistas e chargistas do periódico Charlie Hebdo, ou o misterioso assassinato de um opositor do presidente russo Vladimir Putin, já é desculpa para a "profecia" deixada por Chico Xavier clamar a fúria da natureza contra os "irmãos do norte".
A "maravilhosa previsão" teria, assim, um caráter maniqueísta, bem ao nível dos contos de fadas, aqui mesclados com narrativa de ficção científica, cinema catástrofe e dramas de guerras. De um lado, o "malvado" mundo antigo, em boa parte desenvolvido, de outro, o "bondoso" Brasil, ainda novinho, país criança que só agora começa a conhecer seus piores impasses.
No conto-de-fadas de Chico Xavier, que os incautos definem como "profecia séria" de "urgentes" implicações "científicas", o Hemisfério Norte tinha que se comportar direitinho senão seria castigado por explosões vulcânicas, terremotos, maremotos, furacões e enchentes, tudo "de grandes proporções".
Em compensação, o Brasil, o "bom aluno" da teocracia planetária e considerado o "país mais cristão" do mundo, se elevará diante da ruína do "velho mundo", porque tem uma bela paisagem e um mito de nação alegre e hospitaleira, além de uma religiosidade forte e convicta.
ÓDIO À CIÊNCIA E AO RACIOCÍNIO LÓGICO
Com essa interpretação, Chico Xavier demonstra seu ódio à ciência e ao raciocínio lógico, que entre tantas coisas demonstra seu profundo e surdo desprezo por Allan Kardec, reduzido a um nome a lhe receber falsos elogios e bajulações tendenciosas.
O que ele rogou em sua "profecia", na verdade uma interpretação tendenciosa de um sonho - que os "espíritas" de uma forma pedante definem como "desdobramento espiritual" - , era a destruição de um mundo marcado pelo aprimoramento do conhecimento e da técnica e a ascenção de uma nação problemática e confusa, mas em dia com a expressão da fé religiosa.
Chico Xavier era um caipira, adorador de santos, que se sentia seduzido por mortos precoces (ele pensava como seria alguém morrer antes dos 60 anos, idade considerada "marco inicial" da Terceira Idade, pelo menos até uns dez anos atrás), com sua visão entre provinciana e surreal de interiorano mineiro.
Como um sujeito desses pode se julgar acima da ciência, dos debates políticos, acima de qualquer coisa é coisa que nem o fanatismo de seus seguidores é capaz de explicar. Aliás, seus seguidores são os primeiros a terem essa incapacidade de explicar por que Chico Xavier é considerado o único indivíduo na Terra que pôde estar acima de tudo e de todos, talvez até acima de Jesus.
A culpa não é nossa. Há uma torcida, entre os "espíritas", que diz que Chico Xavier é "mais importante" que Jesus. Este era apenas o "ingênuo mestre" (?!) que não sabia onde ficava a futura nação-guia da humanidade, e foi orientado por um tal de Helil da localização do Brasil através da constelação do Cruzeiro do Sul.
É evidente que a ideia do Brasil como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" era uma grande obsessão de Chico Xavier desde 1932, tema de livro de 1938 atribuído a Humberto de Campos, e o sonho não foge a esse desejo de Chico que só foi popularmente aceito porque se encaixa num ufanismo, numa patriotada há muito difundida pelo poder midiático dominante.
As pessoas não conseguem raciocinar que o que está por trás dessa conversa de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" é a construção de uma teocracia nos moldes do antigo Império Romano / Império Bizantino, de uma volta à Idade Média às custas de mais uma destruição de regiões que se esforçavam em promover o progresso social, científico, cultural e tecnológico.
Chico Xavier, com o seu "bondoso" cinismo, ainda teve o descaramento de dizer, para Geraldo Lemos Neto que a partir de 1986 divulgou a conversa realizada em 1969, que o mundo, depois da destruição do Hemisfério Norte, demoraria muitos anos para se "reconstruir".
Claro, para um caipira católico, tanto faz se muitas das realizações feitas trabalhosamente pelo "velho mundo" se reduzam a pó, de maneira ainda mais dura que as lições e produções artísticas, intelectuais e científicas da Grécia e Roma Antigas que se perderam e ficaram inacessíveis aos nossos dias.
Para Chico, o que vale é apenas aquele conformismo "bonzinho", como se o mundo inteiro tivesse que adotar a atitude "bovina" e rural de aceitar os desígnios do "alto" - pouco importando se o "alto" se chama Deus, Ronaldo Caiado, Roberto Marinho, Luciano Huck, Jaime Lerner, Mr. Catra, Galvão Bueno, Carlos Eduardo Miranda ou Eduardo Paes - , mesmo durante o pior dos sofrimentos.
A noção de destruição e reconstrução de Chico Xavier é tão precisa quanto a derrubada e reposição de peças do brinquedo Meu Pequeno Construtor. O que é o raciocínio lógico para um caipira católico e conservador senão um monte de frescuras de homens que "pensam demais"?
Por isso o maniqueísmo da profecia da "Data-Limite". Um Brasil provinciano, confuso, irregular, desigual, subdesenvolvido, caótico e à beira de um ataque de nervos será promovido à nação que vai promover e guiar a evolução humanitária na Terra.
A título de didatismo: imaginem se alguém nomear um adolescente estudante de ensino médio, delinquente temperamental e sub-escolarizado por um sistema educacional deficiente, para ser professor de um curso de pós-doutorado numa das melhores universidades do mundo? É o Brasil fraturado que Chico Xavier sonhou tanto que iria comandar o mundo.
segunda-feira, 23 de março de 2015
"Profecia" de Chico Xavier revela desejo de novo obscurantismo
JESUS CRISTO PANTOCRATOR - PINTURA DOS TEMPOS DO IMPÉRIO BIZANTINO, NA IDADE MÉDIA, MOSTRA O JESUS CATÓLICO "SENHOR DOS EXÉRCITOS".
Ninguém percebe o perigo de atribuir como "profecias" as interpretações oníricas de Francisco Cândido Xavier, sonhadas em 1969 e reveladas publicamente por Geraldo Lemos Neto, que recebeu o relato do sonho quando era jovem, naquele ano.
Isso porque o que está por trás do catastrofismo de Chico Xavier, que "prenuncia" a destruição do "mundo velho" (o Hemisfério Norte) e a ascensão do Brasil e "seu Espiritismo Cristão" para o comando do mundo, é a mesma história da teocracia que marcou séculos de muito sofrimento através do Império Romano medieval e, por conseguinte, do Império Bizantino.
Como todo discurso traiçoeiro, bons argumentos são utilizados. Isso vem desde a infância e adolescência, quando aquele "amiguinho estranho" tenta nos convencer a consumir alguma droga, alegando que ela trará "mais alegria, mais amigos, mais confiança e melhor desempenho nos esportes e na conquista da mulherada".
Ninguém vai aparecer com o corpo pintado de vermelho para dizer "Eu vou acabar com você, porque sou muito mau, mesmo, e é bom ficar com medo", porque isso é conversa frouxa que pode gerar até reações contrárias e fazer o facínora da ocasião cair na pior das humilhações.
Os espíritos traiçoeiros que comandam o "espiritismo" no Brasil, que há muito romperam com as lições de Allan Kardec embora evoquem o nome dele a todo momento, por pura bajulação, usam das palavras mais dóceis para impor seus dogmas e sua ideologia, conforme havia advertido o espírito de Erasto, em mensagem espiritual divulgada em Paris.
É isso que nos preocupa. Vem a mensagem trazida sob uma dócil retórica, mas também carregada de seu lado peçonhento - Chico Xavier rogando a destruição do "velho mundo" enquanto, com suave cinismo, atribui ao Brasil um poder "acolhedor" aos remanescentes das nações arrasadas - , que esconde os propósitos de uma nova supremacia teocrática.
Os espíritos que cercam os líderes "espíritas" e seus centros, assim como outros ambientes e colaboradores que lhes são solidários, são antigos jesuítas que nunca gostaram de ver o Catolicismo sendo passado para trás pela Reforma protestante e outros manifestos que neutralizaram a antiga supremacia católica da Idade Média.
Eles também se sentiram indignados quando houve a medida do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, que, para salvar Portugal dos prejuízos de dimensões imensuráveis, cortou muitos gastos com a colônia brasileira, entre eles o cancelamento da missão da Companhia de Jesus no país sul-americano, obrigando seus padres a voltarem para a Metrópole lusitana.
Daí que, no mundo espiritual, as almas dos antigos jesuítas, horrorizadas com o fim de seu catequismo em solo brasileiro, arrumaram um jeito para recuperar a supremacia perdida, pegando carona numa mal-digerida assimilação das ideias de Allan Kardec na sociedade brasileira.
Como virtualmente conseguiram o que queriam, criando um "espiritismo" que nada tinha a ver com Kardec, apesar de adotar o nome "kardecismo", e que no fundo era uma forma repaginada do Catolicismo medieval, agora as almas querem recuperar a antiga supremacia mundial do Catolicismo romano-bizantino.
Pode até ser que o "espiritismo" brasileiro não tenha sido uma religião muito forte, e isso se observa quando campanhas sensacionalistas promovidas pela FEB querem transformar Chico Xavier em "profeta", entre outros apelos (usaram até a Turma da Mônica para promover a doutrina!), mas ao menos tirou de escanteio a vanguarda cientificista de Allan Kardec.
E como os antigos jesuítas, hoje no além, conseguiram intuir uma parcela de brasileiros para recuperar o antigo catequismo jesuíta agora travestido de "espiritismo", agora eles querem que esse "espiritismo" se amplie para o mundo, "pisando" em cima do "velho mundo".
O que isso significa? Séculos de progresso obtidos no mundo desenvolvido seriam mais uma vez sacrificados e perdidos, até que um doloroso processo de reconstrução recuperasse o caminho interrompido.
É mais um período de obscurantismo que virá em frente, Mais uma supremacia religiosa, que mantém a essência do Catolicismo medieval e apenas se adapta parcialmente às novidades e mudanças de contexto, mas significando um "período das trevas" à maneira dos tempos atuais.
Não adianta reclamar. Chico Xavier só apreciava a ciência e o raciocínio lógico se eles se subordinassem à "fé espírita" e nunca investissem em qualquer questionamento ou, quando muito, sua investigação fosse somente favorável, ainda que superficial e falha em seus métodos.
Caso a ciência e a lógica resolvessem questionar os dogmas e ritos "espíritas", aí sim a coisa pesaria e os "espíritas" que "nunca acusam jamais" iriam acusar severamente os questionadores de serem "prisioneiros de paixões terrenas" e "escravos de juízos mundanos e materialistas". A razão não pode contrariar Chico Xavier, o "dono da verdade".
Ninguém percebe o perigo de atribuir como "profecias" as interpretações oníricas de Francisco Cândido Xavier, sonhadas em 1969 e reveladas publicamente por Geraldo Lemos Neto, que recebeu o relato do sonho quando era jovem, naquele ano.
Isso porque o que está por trás do catastrofismo de Chico Xavier, que "prenuncia" a destruição do "mundo velho" (o Hemisfério Norte) e a ascensão do Brasil e "seu Espiritismo Cristão" para o comando do mundo, é a mesma história da teocracia que marcou séculos de muito sofrimento através do Império Romano medieval e, por conseguinte, do Império Bizantino.
Como todo discurso traiçoeiro, bons argumentos são utilizados. Isso vem desde a infância e adolescência, quando aquele "amiguinho estranho" tenta nos convencer a consumir alguma droga, alegando que ela trará "mais alegria, mais amigos, mais confiança e melhor desempenho nos esportes e na conquista da mulherada".
Ninguém vai aparecer com o corpo pintado de vermelho para dizer "Eu vou acabar com você, porque sou muito mau, mesmo, e é bom ficar com medo", porque isso é conversa frouxa que pode gerar até reações contrárias e fazer o facínora da ocasião cair na pior das humilhações.
Os espíritos traiçoeiros que comandam o "espiritismo" no Brasil, que há muito romperam com as lições de Allan Kardec embora evoquem o nome dele a todo momento, por pura bajulação, usam das palavras mais dóceis para impor seus dogmas e sua ideologia, conforme havia advertido o espírito de Erasto, em mensagem espiritual divulgada em Paris.
É isso que nos preocupa. Vem a mensagem trazida sob uma dócil retórica, mas também carregada de seu lado peçonhento - Chico Xavier rogando a destruição do "velho mundo" enquanto, com suave cinismo, atribui ao Brasil um poder "acolhedor" aos remanescentes das nações arrasadas - , que esconde os propósitos de uma nova supremacia teocrática.
Os espíritos que cercam os líderes "espíritas" e seus centros, assim como outros ambientes e colaboradores que lhes são solidários, são antigos jesuítas que nunca gostaram de ver o Catolicismo sendo passado para trás pela Reforma protestante e outros manifestos que neutralizaram a antiga supremacia católica da Idade Média.
Eles também se sentiram indignados quando houve a medida do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, que, para salvar Portugal dos prejuízos de dimensões imensuráveis, cortou muitos gastos com a colônia brasileira, entre eles o cancelamento da missão da Companhia de Jesus no país sul-americano, obrigando seus padres a voltarem para a Metrópole lusitana.
Daí que, no mundo espiritual, as almas dos antigos jesuítas, horrorizadas com o fim de seu catequismo em solo brasileiro, arrumaram um jeito para recuperar a supremacia perdida, pegando carona numa mal-digerida assimilação das ideias de Allan Kardec na sociedade brasileira.
Como virtualmente conseguiram o que queriam, criando um "espiritismo" que nada tinha a ver com Kardec, apesar de adotar o nome "kardecismo", e que no fundo era uma forma repaginada do Catolicismo medieval, agora as almas querem recuperar a antiga supremacia mundial do Catolicismo romano-bizantino.
Pode até ser que o "espiritismo" brasileiro não tenha sido uma religião muito forte, e isso se observa quando campanhas sensacionalistas promovidas pela FEB querem transformar Chico Xavier em "profeta", entre outros apelos (usaram até a Turma da Mônica para promover a doutrina!), mas ao menos tirou de escanteio a vanguarda cientificista de Allan Kardec.
E como os antigos jesuítas, hoje no além, conseguiram intuir uma parcela de brasileiros para recuperar o antigo catequismo jesuíta agora travestido de "espiritismo", agora eles querem que esse "espiritismo" se amplie para o mundo, "pisando" em cima do "velho mundo".
O que isso significa? Séculos de progresso obtidos no mundo desenvolvido seriam mais uma vez sacrificados e perdidos, até que um doloroso processo de reconstrução recuperasse o caminho interrompido.
É mais um período de obscurantismo que virá em frente, Mais uma supremacia religiosa, que mantém a essência do Catolicismo medieval e apenas se adapta parcialmente às novidades e mudanças de contexto, mas significando um "período das trevas" à maneira dos tempos atuais.
Não adianta reclamar. Chico Xavier só apreciava a ciência e o raciocínio lógico se eles se subordinassem à "fé espírita" e nunca investissem em qualquer questionamento ou, quando muito, sua investigação fosse somente favorável, ainda que superficial e falha em seus métodos.
Caso a ciência e a lógica resolvessem questionar os dogmas e ritos "espíritas", aí sim a coisa pesaria e os "espíritas" que "nunca acusam jamais" iriam acusar severamente os questionadores de serem "prisioneiros de paixões terrenas" e "escravos de juízos mundanos e materialistas". A razão não pode contrariar Chico Xavier, o "dono da verdade".
sábado, 21 de março de 2015
Por que a "profecia" de Chico Xavier sugere um novo Império Romano ou Bizantino?
ILUSTRAÇÃO SUGERE, NO SENTIDO SUBLIMINAR, UMA NOVA TEOCRACIA MUNDIAL SEDIADA NO BRASIL.
Os chiquistas ficaram horrorizados quando um vídeo contestou as "dóceis profecias" de Francisco Cândido Xavier quanto ao quadro de "destruição" do Hemisfério Norte e a ascensão do Brasil e de "seu Espiritismo Cristão" ao comando máximo da "comunidade das nações" do mundo remanescente.
O catastrofismo de Chico Xavier e as "doces previsões" do anti-médium, na verdade, sugerem, com uma sutileza não muito difícil de ser desvendada, É só percebermos o que realmente quer dizer sua "maravilhosa profecia", analisando o que ele transmitiu para Geraldo Lemos Neto, que a relatou em Não Será em 2012, livro que lançou em parceria com Marlene Nobre.
Chico Xavier é promovido pelo "movimento espírita" como se fosse um "super-homem", como uma pretensa síntese de toda a humanidade, com qualidades atribuídas de maneira surreal à sua pessoa, e neste caso ele tenta ser visto como um misto de "profeta" e "cientista".
Mas o que está em jogo, através de seu relato, é que ele sempre desejou a teocracia brasileira, e o termo "Espiritismo Cristão" é um eufemismo para um tipo de Catolicismo híbrido que setores católicos ortodoxos se recusavam a desenvolver, embora a essência do "espiritismo" brasileiro convergisse com segurança com a essência da Igreja Católica medieval.
Imaginemos a sinopse de Chico Xavier. O Hemisfério Norte seria destruído por uma série de cataclismas e catástrofes que se sucederiam à onda terrorista e bélica de seus países. Milhões de pessoas morreriam vítimas dessas intempéries e apenas uma parcela conseguiria se salvar migrando para o Sul.
O que é o Hemisfério Norte? O mundo considerado desenvolvido ou antigo. Nele se encontram os EUA, a Europa, o Oriente Médio, a Ásia, a Rússia e o Norte da África. Nesses países estão desde nações consideradas de elevado desenvolvimento social até nações que, mesmo altamente problemáticas, são consideradas as mais antigas do mundo.
Para efeito de nossa análise, consideramos toda essa área como "velho mundo" no seu todo, inclusive os Estados Unidos da América, pelos contextos em que se relacionam, nos aspectos geopolíticos e econômicos, além de intelectuais, culturais e científicos.
O que Chico Xavier quis dizer com sua ideia de que "a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência", relativa à fúria da Natureza diante dos abusos cometidos por terroristas, autoridades e aristocratas no "velho mundo"?
No "movimento espírita", é muito comum que seus líderes e seguidores, ao falarem de tragédias cotidianas, responsabilizem as ocorrências aos "reajustes espirituais" do "mundo espiritual" ou às forças da Natureza, para se inocentarem da "sede de sangue" que a "doutrina do amor e luz" herdou do moralismo punitivo do Catolicismo medieval.
Chico Xavier usa a "Natureza", ou a "mãe Terra" - que, em 1969, era uma expressão muito em voga (Mother Earth), lançada pelo movimento hippie - para desafiar os homens de ciência, num claro sentimento de ódio à condição de desenvolvimento científico e intelectual dos países mais antigos.
É notório que Chico Xavier sempre teve ojeriza ao questionamento lógico, que ameaçou sua reputação de astro do "movimento espírita", e acusava aqueles que usavam o raciocínio para questionar e contestar seus dogmas de "prisioneiros das paixões terrenas".
Ele chegava mesmo a falar em "holocausto", o que traz uma comparação incômoda para seus adeptos, ainda mais que os mesmos motivos que foram usados para o extermínio de judeus pelo nazi-fascismo estariam sido rogados para o extermínio do "mundo antigo".
Os abusos cometidos apenas por uma parcela de detentores do poder político, econômico e armamentista no "velho mundo", assim como as acusações de usura dos judeus, viram pretexto para que seus compatriotas ou correligionários, que não compartilham com tais vícios, fossem condenados para um mesmo flagelo.
Outra comparação se deve à eliminação dos progressos da Antiguidade clássica. Lembrando das guerras que dizimaram a Grécia Antiga e do mais famoso cataclisma relacionado ao Império Romano - a erupção do Vesúvio, no Sul da atual Itália, que soterrou as cidades de Pompeia e Herculano, próximas a Nápoles - , para pregar uma "nova era" equivalente ao antigo Império Romano medieval.
O que Chico Xavier sonhava, desde seus primeiros livros "psicográficos", era uma teocracia nos moldes do antigo Império Romano medieval, ou ao menos o Império Bizantino (nome que o Império Romano do Oriente, liderado pelo fundador do Catolicismo, o imperador Constantino, recebeu depois do fim do antigo império), que era uma teocracia política que dominou o mundo.
A "profecia" faz relembrar a decadência da Antiguidade clássica e o esquecimento de suas lições de progresso cultural e intelectual, em que pese a Grécia, Egito e outros países do seu tempo terem sido nações escravistas, machistas e sanguinárias. sepultados pela Idade Média e que tão trabalhosamente tiveram que ser resgatados a partir do século XVII.
Com a "profecia", Chico Xavier acaba rogando mais uma destruição do mundo evoluído, substituído por uma nova era de obscurantismo e tirania religiosa, através de um novo Império Romano / Bizantino representado pelo Brasil e pela supremacia do "espíritismo" de moldes católico-medievais que dominará o mundo.
Chico Xavier teve como "mentor" o medieval padre Manuel da Nóbrega, o Emmanuel, seguidor do Catolicismo medieval. O fictício Publio Lentulus do livro Há 2000 Anos (1939), sem qualquer relação com homônimos que realmente existiram no Império Romano, era inspirado em um documento apócrifo publicado no século XIII, com uma versão adaptada publicada no século XIV.
O anti-médium mineiro era católico fervoroso, adorador de imagens de santos, defensor entusiasmado, mas um tanto envergonhado, de Jean-Baptiste Roustaing. O roustanguismo de Chico Xavier o fazia seguir as "previsões" do livro Os Quatro Evangelhos, que afirmava haver um projeto de uma "religião do mundo" a comandar a humanidade futura.
Chico Xavier fala do "Espiritismo Cristão que atingirá o interesse de outras nações" e do "Brasil que seria chamado para exercer seu papel de Pátria do Evangelho". Embora seu discurso se sirva de palavras dóceis e de aparentes intenções de "promover o amor e a fraternidade", o que está por trás disso é tão somente um projeto de supremacia religiosa.
Falar é fácil. E o que o "espiritismo" mais fala é de "amor e fraternidade". No entanto, supremacia religiosa é um processo sempre cruel, e ninguém imaginou que a "religião de Cristo" sonhada por Constantino fosse também causar tantos genocídios e outras atrocidades.
Este é o perigo que os "espíritas" e mesmo alguns laicos ou religiosos não conseguem entender. Um país de "religião única", construído a partir de um "holocausto" do Hemisfério Norte que a raiva emocional (sim, Chico Xavier tinha raiva e se irritava muitas vezes) botava na conta da Natureza.
O projeto do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" é um projeto de domínio sócio-político que irá escravizar os povos a seguir uma crença, sob pena de sofrer os "reajustes espirituais", eufemismo "espírita" para condenações severas. É no "espiritismo" que estão os verdadeiros homens tomados de "paixões terrenas" e "julgamentos materiais".
Os chiquistas ficaram horrorizados quando um vídeo contestou as "dóceis profecias" de Francisco Cândido Xavier quanto ao quadro de "destruição" do Hemisfério Norte e a ascensão do Brasil e de "seu Espiritismo Cristão" ao comando máximo da "comunidade das nações" do mundo remanescente.
O catastrofismo de Chico Xavier e as "doces previsões" do anti-médium, na verdade, sugerem, com uma sutileza não muito difícil de ser desvendada, É só percebermos o que realmente quer dizer sua "maravilhosa profecia", analisando o que ele transmitiu para Geraldo Lemos Neto, que a relatou em Não Será em 2012, livro que lançou em parceria com Marlene Nobre.
Chico Xavier é promovido pelo "movimento espírita" como se fosse um "super-homem", como uma pretensa síntese de toda a humanidade, com qualidades atribuídas de maneira surreal à sua pessoa, e neste caso ele tenta ser visto como um misto de "profeta" e "cientista".
Mas o que está em jogo, através de seu relato, é que ele sempre desejou a teocracia brasileira, e o termo "Espiritismo Cristão" é um eufemismo para um tipo de Catolicismo híbrido que setores católicos ortodoxos se recusavam a desenvolver, embora a essência do "espiritismo" brasileiro convergisse com segurança com a essência da Igreja Católica medieval.
Imaginemos a sinopse de Chico Xavier. O Hemisfério Norte seria destruído por uma série de cataclismas e catástrofes que se sucederiam à onda terrorista e bélica de seus países. Milhões de pessoas morreriam vítimas dessas intempéries e apenas uma parcela conseguiria se salvar migrando para o Sul.
O que é o Hemisfério Norte? O mundo considerado desenvolvido ou antigo. Nele se encontram os EUA, a Europa, o Oriente Médio, a Ásia, a Rússia e o Norte da África. Nesses países estão desde nações consideradas de elevado desenvolvimento social até nações que, mesmo altamente problemáticas, são consideradas as mais antigas do mundo.
Para efeito de nossa análise, consideramos toda essa área como "velho mundo" no seu todo, inclusive os Estados Unidos da América, pelos contextos em que se relacionam, nos aspectos geopolíticos e econômicos, além de intelectuais, culturais e científicos.
O que Chico Xavier quis dizer com sua ideia de que "a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência", relativa à fúria da Natureza diante dos abusos cometidos por terroristas, autoridades e aristocratas no "velho mundo"?
No "movimento espírita", é muito comum que seus líderes e seguidores, ao falarem de tragédias cotidianas, responsabilizem as ocorrências aos "reajustes espirituais" do "mundo espiritual" ou às forças da Natureza, para se inocentarem da "sede de sangue" que a "doutrina do amor e luz" herdou do moralismo punitivo do Catolicismo medieval.
Chico Xavier usa a "Natureza", ou a "mãe Terra" - que, em 1969, era uma expressão muito em voga (Mother Earth), lançada pelo movimento hippie - para desafiar os homens de ciência, num claro sentimento de ódio à condição de desenvolvimento científico e intelectual dos países mais antigos.
É notório que Chico Xavier sempre teve ojeriza ao questionamento lógico, que ameaçou sua reputação de astro do "movimento espírita", e acusava aqueles que usavam o raciocínio para questionar e contestar seus dogmas de "prisioneiros das paixões terrenas".
Ele chegava mesmo a falar em "holocausto", o que traz uma comparação incômoda para seus adeptos, ainda mais que os mesmos motivos que foram usados para o extermínio de judeus pelo nazi-fascismo estariam sido rogados para o extermínio do "mundo antigo".
Os abusos cometidos apenas por uma parcela de detentores do poder político, econômico e armamentista no "velho mundo", assim como as acusações de usura dos judeus, viram pretexto para que seus compatriotas ou correligionários, que não compartilham com tais vícios, fossem condenados para um mesmo flagelo.
Outra comparação se deve à eliminação dos progressos da Antiguidade clássica. Lembrando das guerras que dizimaram a Grécia Antiga e do mais famoso cataclisma relacionado ao Império Romano - a erupção do Vesúvio, no Sul da atual Itália, que soterrou as cidades de Pompeia e Herculano, próximas a Nápoles - , para pregar uma "nova era" equivalente ao antigo Império Romano medieval.
O que Chico Xavier sonhava, desde seus primeiros livros "psicográficos", era uma teocracia nos moldes do antigo Império Romano medieval, ou ao menos o Império Bizantino (nome que o Império Romano do Oriente, liderado pelo fundador do Catolicismo, o imperador Constantino, recebeu depois do fim do antigo império), que era uma teocracia política que dominou o mundo.
A "profecia" faz relembrar a decadência da Antiguidade clássica e o esquecimento de suas lições de progresso cultural e intelectual, em que pese a Grécia, Egito e outros países do seu tempo terem sido nações escravistas, machistas e sanguinárias. sepultados pela Idade Média e que tão trabalhosamente tiveram que ser resgatados a partir do século XVII.
Com a "profecia", Chico Xavier acaba rogando mais uma destruição do mundo evoluído, substituído por uma nova era de obscurantismo e tirania religiosa, através de um novo Império Romano / Bizantino representado pelo Brasil e pela supremacia do "espíritismo" de moldes católico-medievais que dominará o mundo.
Chico Xavier teve como "mentor" o medieval padre Manuel da Nóbrega, o Emmanuel, seguidor do Catolicismo medieval. O fictício Publio Lentulus do livro Há 2000 Anos (1939), sem qualquer relação com homônimos que realmente existiram no Império Romano, era inspirado em um documento apócrifo publicado no século XIII, com uma versão adaptada publicada no século XIV.
O anti-médium mineiro era católico fervoroso, adorador de imagens de santos, defensor entusiasmado, mas um tanto envergonhado, de Jean-Baptiste Roustaing. O roustanguismo de Chico Xavier o fazia seguir as "previsões" do livro Os Quatro Evangelhos, que afirmava haver um projeto de uma "religião do mundo" a comandar a humanidade futura.
Chico Xavier fala do "Espiritismo Cristão que atingirá o interesse de outras nações" e do "Brasil que seria chamado para exercer seu papel de Pátria do Evangelho". Embora seu discurso se sirva de palavras dóceis e de aparentes intenções de "promover o amor e a fraternidade", o que está por trás disso é tão somente um projeto de supremacia religiosa.
Falar é fácil. E o que o "espiritismo" mais fala é de "amor e fraternidade". No entanto, supremacia religiosa é um processo sempre cruel, e ninguém imaginou que a "religião de Cristo" sonhada por Constantino fosse também causar tantos genocídios e outras atrocidades.
Este é o perigo que os "espíritas" e mesmo alguns laicos ou religiosos não conseguem entender. Um país de "religião única", construído a partir de um "holocausto" do Hemisfério Norte que a raiva emocional (sim, Chico Xavier tinha raiva e se irritava muitas vezes) botava na conta da Natureza.
O projeto do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" é um projeto de domínio sócio-político que irá escravizar os povos a seguir uma crença, sob pena de sofrer os "reajustes espirituais", eufemismo "espírita" para condenações severas. É no "espiritismo" que estão os verdadeiros homens tomados de "paixões terrenas" e "julgamentos materiais".
sexta-feira, 20 de março de 2015
Chico Xavier e a nova teocracia
CHICO XAVIER E SEGUIDORES MISTURARAM CIÊNCIA E UFOLOGIA PARA DEFENDER MISSÃO RELIGIOSA DO BRASIL.
Francisco Cândido Xavier sonhou com uma teocracia. Ele e seu "benfeitor", o jesuíta Emmanuel, sonhavam em ver o Brasil como "nação mais poderosa do mundo" e centro de um modelo doutrinário de "amor e fraternidade" que, na verdade, correspondem a uma nova teocracia mundial.
Evidentemente, os "espíritas" dizem muitas maravilhas a respeito, "tristinhos" que estão porque o mundo está agora tão sangrento, turbulento e coisa parecida. Claro, as lágrimas de crocodilo do "espiritismo" que glamouriza as mortes prematuras, não deixam os espíritos evoluídos viverem muito, mutilam famílias "permitindo" tragédias que atingem sobretudo jovens, não comovem.
Tudo é culpa desses 131 anos de doutrina que nada contribuíram para a evolução do país e do mundo. Os "espíritas" se limitaram a um religiosismo feito para agradar a Igreja Católica e adaptar todos os seus ritos e dogmas, enquanto nos bastidores rasgam os livros originais de Allan Kardec e põem suas ideias científicas no lixo.
Pois agora trabalham a suposta profecia de Chico Xavier, na verdade o relato de um sonho qualquer, inócuo como tantos outros, que só não seria "profético" se tivesse vindo de um "Mané da Padaria", de um "Joãozinho Engraxate" e de seu "Tião Caminhoneiro" ou de "Dona Eufrosina da Lavanderia". Mas como veio de Chico Xavier, virou "profecia", "relato científico" ou coisa parecida.
Pegamos a própria frase de Chico Xavier para verificarmos o sentido da suposta reunião, em 1969, de representantes do universo ou do Sistema Solar, ao lado de um Jesus Cristo caricato e de um Emmanuel que parece ter saído, meses atrás, da reunião do AI-5 com o general Costa e Silva, seu vice e seus ministros, discutindo a expedição humana à Lua.
Eis o que disse, se referindo as duas situações como as de paz ou guerra, em trecho registrado por Marlene Nobre, entrevistadora que virou co-autora do livro Não Será em 2012, sobre o depoimento dado por Geraldo Lemos Neto, que recebeu os relatos de Chico Xavier em 1969, em reportagem publicada na Folha Espírita de maio de 2011, presentes também no livro:
"Ah! Geraldinho, caso a humanidade encarnada decida seguir o infeliz caminho da III Guerra mundial, uma guerra nuclear de consequências imprevisíveis e desastrosas, aí então a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência. O homem começaria a III Guerra, mas quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos, e seríamos defrontados então com terremotos gigantescos; maremotos e ondas (tsunamis) consequentes; veríamos a explosão de vulcões há muito extintos; enfrentaríamos degelos arrasadores que avassalariam os polos do globo com trágicos resultados para as zonas costeiras, devido à elevação dos mares; e, neste caso, as cinzas vulcânicas associadas às irradiações nucleares nefastas acabariam por tornar totalmente inabitável todo o Hemisfério Norte de nosso globo terrestre".
Outro trecho que reproduziremos se refere ao "papel do Brasil" nessa marmelada toda, com um otimismo ufanista dos mais exaltados e, também, com um claro desejo de supremacia religiosa que mal se consegue disfarçar nas palavras do "católico da gema" Chico Xavier. Eis o que ele disse sobre suas fantasias sobre o país:
"Em todas as duas situações, o Brasil cumprirá o seu papel no grande processo de espiritualização planetária. Na melhor das hipóteses, nossa nação crescerá em importância sociocultural, política e econômica perante a comunidade das nações. Não só seremos o celeiro alimentício e de matérias-primas para o mundo, como também a grande fonte energética com o descobrimento de enormes reservas petrolíferas que farão da Petrobras uma das maiores empresas do mundo.
"O Brasil crescerá a passos largos e ocupará importante papel no cenário global, isso terá como consequência a elevação da cultura brasileira ao cenário internacional e, a reboque, os livros do Espiritismo Cristão, que aqui tiveram solo fértil no seu desenvolvimento, atingirão o interesse das outras nações também. Agora, caso ocorra a pior hipótese, com o Hemisfério Norte do planeta tornando-se inabitável, grandes fluxos migratórios se formariam então para o Hemisfério Sul, onde se situa o Brasil, que então seria chamado mais diretamente a desempenhar o seu papel de Pátria do Evangelho, exemplificando o amor e a renúncia, o perdão e a compreensão espiritual perante os povos migrantes.
A Nova Era da Terra, neste caso, demoraria mais tempo para chegar com todo seu esplendor de conquistas científicas e morais, porque seria necessário mais um longo período de reconstrução de nossas nações e sociedades, forçadas a se reorganizarem em seus fundamentos mais básicos".
Chico Xavier disse que o Brasil se dividirá em "quatro nações": o Norte do país ficaria com norte-americanos, canadenses e mexicanos, o Centro-Oeste com japoneses, chineses e outros povos de origem nipônica e similares, o Nordeste ficaria com os russos e os eslavos e os europeus em geral ficariam com o Sul do país, ao lado da Argentina, Uruguai e Chile (se é que o Chile continuará existindo nessa "torcida" pelo cataclisma mundial; o Chile é uma das maiores áreas vulcânicas e sísmicas da América do Sul).
Ele se baseou nisso provavelmente com pesquisas a lápis pelo mapa-mundi, e deu seu palpite com a serenidade de quem faz aposta para uma corrida de cavalos. Dá até para imaginar: "Vai, aposta no pangaré tal porque eu o vi na corrida anterior e ele costuma disparar nas últimas voltas".
Sem se decidir se esse processo será "pacífico" ou não, se serão as "melhores individualidades do mundo desenvolvido" ou as "forças bélicas" que iriam migrar para o Hemisfério Sul "remanescente", ele teria dito o seguinte para Geraldo Lemos Neto, em 1986:
"Segundo Chico me revelou, o que restasse da ONU acabaria por decidir a invasão das nações do Hemisfério Sul, incluindo-se aí obviamente o Brasil e o restante da América do Sul, a Austrália e o sul da África, a fim de que nossas nações fossem ocupadas militarmente e divididas entre os sobreviventes do holocausto do Hemisfério Norte. Aí é que nós, brasileiros, iríamos ser chamados a exemplificar a verdadeira fraternidade cristã, entendendo que nossos irmãos do Norte, embora invasores a “mano militare”, não deixariam de estar sobrecarregados e aflitos com as consequências nefastas da guerra e das hecatombes telúricas, e, portanto, ainda assim, devendo ser considerados nossos irmãos do caminho, necessitados de apoio e arrimo, compreensão e amor".
O sonho de Chico Xavier, com um argumento que mais parece um misto de ficção científica com filme de guerra, cria um maniqueísmo em que os brasileiros são o "bem" e os "irmãos do Norte" são o "mal", deixando claro também que o "Espiritismo Cristão" seria a nova teocracia.
Cabe analisar o sentido dessa nova teocracia, desse novo Império Romano que Chico Xavier sonhou para o Brasil. A própria ideia de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" já pressupõe um projeto teocrático, que une supremacia política e religiosa, que uma análise mais profunda leva ao sentido provável de uma atualização do antigo Império Romano / Bizantino e seu Catolicismo.
Francisco Cândido Xavier sonhou com uma teocracia. Ele e seu "benfeitor", o jesuíta Emmanuel, sonhavam em ver o Brasil como "nação mais poderosa do mundo" e centro de um modelo doutrinário de "amor e fraternidade" que, na verdade, correspondem a uma nova teocracia mundial.
Evidentemente, os "espíritas" dizem muitas maravilhas a respeito, "tristinhos" que estão porque o mundo está agora tão sangrento, turbulento e coisa parecida. Claro, as lágrimas de crocodilo do "espiritismo" que glamouriza as mortes prematuras, não deixam os espíritos evoluídos viverem muito, mutilam famílias "permitindo" tragédias que atingem sobretudo jovens, não comovem.
Tudo é culpa desses 131 anos de doutrina que nada contribuíram para a evolução do país e do mundo. Os "espíritas" se limitaram a um religiosismo feito para agradar a Igreja Católica e adaptar todos os seus ritos e dogmas, enquanto nos bastidores rasgam os livros originais de Allan Kardec e põem suas ideias científicas no lixo.
Pois agora trabalham a suposta profecia de Chico Xavier, na verdade o relato de um sonho qualquer, inócuo como tantos outros, que só não seria "profético" se tivesse vindo de um "Mané da Padaria", de um "Joãozinho Engraxate" e de seu "Tião Caminhoneiro" ou de "Dona Eufrosina da Lavanderia". Mas como veio de Chico Xavier, virou "profecia", "relato científico" ou coisa parecida.
Pegamos a própria frase de Chico Xavier para verificarmos o sentido da suposta reunião, em 1969, de representantes do universo ou do Sistema Solar, ao lado de um Jesus Cristo caricato e de um Emmanuel que parece ter saído, meses atrás, da reunião do AI-5 com o general Costa e Silva, seu vice e seus ministros, discutindo a expedição humana à Lua.
Eis o que disse, se referindo as duas situações como as de paz ou guerra, em trecho registrado por Marlene Nobre, entrevistadora que virou co-autora do livro Não Será em 2012, sobre o depoimento dado por Geraldo Lemos Neto, que recebeu os relatos de Chico Xavier em 1969, em reportagem publicada na Folha Espírita de maio de 2011, presentes também no livro:
"Ah! Geraldinho, caso a humanidade encarnada decida seguir o infeliz caminho da III Guerra mundial, uma guerra nuclear de consequências imprevisíveis e desastrosas, aí então a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência. O homem começaria a III Guerra, mas quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos, e seríamos defrontados então com terremotos gigantescos; maremotos e ondas (tsunamis) consequentes; veríamos a explosão de vulcões há muito extintos; enfrentaríamos degelos arrasadores que avassalariam os polos do globo com trágicos resultados para as zonas costeiras, devido à elevação dos mares; e, neste caso, as cinzas vulcânicas associadas às irradiações nucleares nefastas acabariam por tornar totalmente inabitável todo o Hemisfério Norte de nosso globo terrestre".
Outro trecho que reproduziremos se refere ao "papel do Brasil" nessa marmelada toda, com um otimismo ufanista dos mais exaltados e, também, com um claro desejo de supremacia religiosa que mal se consegue disfarçar nas palavras do "católico da gema" Chico Xavier. Eis o que ele disse sobre suas fantasias sobre o país:
"Em todas as duas situações, o Brasil cumprirá o seu papel no grande processo de espiritualização planetária. Na melhor das hipóteses, nossa nação crescerá em importância sociocultural, política e econômica perante a comunidade das nações. Não só seremos o celeiro alimentício e de matérias-primas para o mundo, como também a grande fonte energética com o descobrimento de enormes reservas petrolíferas que farão da Petrobras uma das maiores empresas do mundo.
"O Brasil crescerá a passos largos e ocupará importante papel no cenário global, isso terá como consequência a elevação da cultura brasileira ao cenário internacional e, a reboque, os livros do Espiritismo Cristão, que aqui tiveram solo fértil no seu desenvolvimento, atingirão o interesse das outras nações também. Agora, caso ocorra a pior hipótese, com o Hemisfério Norte do planeta tornando-se inabitável, grandes fluxos migratórios se formariam então para o Hemisfério Sul, onde se situa o Brasil, que então seria chamado mais diretamente a desempenhar o seu papel de Pátria do Evangelho, exemplificando o amor e a renúncia, o perdão e a compreensão espiritual perante os povos migrantes.
A Nova Era da Terra, neste caso, demoraria mais tempo para chegar com todo seu esplendor de conquistas científicas e morais, porque seria necessário mais um longo período de reconstrução de nossas nações e sociedades, forçadas a se reorganizarem em seus fundamentos mais básicos".
Chico Xavier disse que o Brasil se dividirá em "quatro nações": o Norte do país ficaria com norte-americanos, canadenses e mexicanos, o Centro-Oeste com japoneses, chineses e outros povos de origem nipônica e similares, o Nordeste ficaria com os russos e os eslavos e os europeus em geral ficariam com o Sul do país, ao lado da Argentina, Uruguai e Chile (se é que o Chile continuará existindo nessa "torcida" pelo cataclisma mundial; o Chile é uma das maiores áreas vulcânicas e sísmicas da América do Sul).
Ele se baseou nisso provavelmente com pesquisas a lápis pelo mapa-mundi, e deu seu palpite com a serenidade de quem faz aposta para uma corrida de cavalos. Dá até para imaginar: "Vai, aposta no pangaré tal porque eu o vi na corrida anterior e ele costuma disparar nas últimas voltas".
Sem se decidir se esse processo será "pacífico" ou não, se serão as "melhores individualidades do mundo desenvolvido" ou as "forças bélicas" que iriam migrar para o Hemisfério Sul "remanescente", ele teria dito o seguinte para Geraldo Lemos Neto, em 1986:
"Segundo Chico me revelou, o que restasse da ONU acabaria por decidir a invasão das nações do Hemisfério Sul, incluindo-se aí obviamente o Brasil e o restante da América do Sul, a Austrália e o sul da África, a fim de que nossas nações fossem ocupadas militarmente e divididas entre os sobreviventes do holocausto do Hemisfério Norte. Aí é que nós, brasileiros, iríamos ser chamados a exemplificar a verdadeira fraternidade cristã, entendendo que nossos irmãos do Norte, embora invasores a “mano militare”, não deixariam de estar sobrecarregados e aflitos com as consequências nefastas da guerra e das hecatombes telúricas, e, portanto, ainda assim, devendo ser considerados nossos irmãos do caminho, necessitados de apoio e arrimo, compreensão e amor".
O sonho de Chico Xavier, com um argumento que mais parece um misto de ficção científica com filme de guerra, cria um maniqueísmo em que os brasileiros são o "bem" e os "irmãos do Norte" são o "mal", deixando claro também que o "Espiritismo Cristão" seria a nova teocracia.
Cabe analisar o sentido dessa nova teocracia, desse novo Império Romano que Chico Xavier sonhou para o Brasil. A própria ideia de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" já pressupõe um projeto teocrático, que une supremacia política e religiosa, que uma análise mais profunda leva ao sentido provável de uma atualização do antigo Império Romano / Bizantino e seu Catolicismo.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Fernando Collor foi apoiado por Chico Xavier. E teve mais sorte!
Se Juscelino Kubitschek, que foi todo amor e fraternidade, luz e caridade para Francisco Cândido Xavier, só recebeu infortúnio e desgraça, Fernando Collor, por outro lado, parece ter tido mais sorte quando recebeu o apoio do anti-médium mineiro.
Collor nem exerceu uma amizade muito forte com Chico Xavier. Apenas se limitou a visitá-lo três vezes e a comentar, em uma frase: "Chico Xavier não é somente um bom brasileiro. Ele é um Espírito Iluminado. É um homem que joga luzes no momento em que nós estamos em duvida sobre o caminho a seguir. Um homem que nos dá inspiração para prosseguirmos na luta".
O pano de fundo da carreira de Fernando Collor de Mello não é das melhores. Seus pais, o político Arnon de Mello e sua esposa, Leda Collor (filha do ex-ministro de Getúlio Vargas, Lindolfo Collor), militaram no IPES, "instituto" de fachada que se empenhou para desmoralizar o governo João Goulart e convencer os brasileiros de que a ditadura militar era a melhor saída para a crise.
Tendo sua família sido beneficiada pela ditadura militar, Fernando Collor começou sua carreira pela ARENA, o partido "da situação" na ditadura militar, e apoiou Paulo Maluf na eleição indireta para a presidência da República, em 1984, da qual saiu vitorioso Tancredo Neves (que havia sido colega de Juscelino Kubitschek no PSD, antes de abril de 1964).
Collor era um político pouco carismático, até a imprensa paulista criar um discurso que construiu um mito em torno desse político e economista nascido no Rio de Janeiro, mas domiciliado em Alagoas. Assim, o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja criaram uma imagem "heroica" de Collor, que era divulgado como o "caçador de marajás", suposto combatente à corrupção do serviço público.
Esse trabalho foi feito em 1988. Em 1989, a Rede Globo de Televisão passou a adotar o mito construído pelos dois veículos da mídia paulista e, desta forma, fez o possível para que Fernando Collor se tornasse eleito presidente da República.
Fernando Collor fez uma campanha medíocre, faltou ao debate dos candidatos do primeiro turno, tinha um programa de governo mais demagógico que convincente, e suas ideias não pareciam ter pé nem cabeça. No debate decisivo da Rede Globo, Collor foi muito menos seguro que Lula, seu rival no segundo turno, mas a Globo editou o debate e mostrou Collor "mais seguro" no Jornal Nacional.
Eleito, Collor foi fazer a festa com parte da "nata" da canastrice musical que anda envergonhando a música brasileira, com "sertanejos" que, ao lado dos "pagodeiros românticos", agora passam a falsa imagem de "respeitáveis", parasitando a MPB com covers oportunistas que disfarçam o péssimo repertório autoral que esses "artistas" fazem até hoje.
O governo Collor representou o inverso do que foi o governo Juscelino Kubitschek. A direita mais radical, do contrário que tentou fazer com o médico mineiro, fez tudo para que o medíocre Collor fosse eleito, e seu marqueteiro até plantou um factoide contra Lula para jogar as famílias contra o petista.
E o que Collor fez? Confiscou as poupanças dos brasileiros - que revelou-se, depois, eram para pagar as dívidas com o tesoureiro Paulo César Farias, assassinado em 1996 antes de poder dar alguma explicação a respeito disso - , ameaçou privatizar as universidades públicas, extinguiu a Embrafilme, promoveu arrocho salarial, entre tantas outras medidas antipopulares.
No ramo da Economia, Collor fez o contrário de Juscelino. Este substituiu as importações por produtos produzidos em indústrias instaladas no Brasil. Collor, sob a desculpa de criar um mercado "mais competitivo", concentrou-se nos produtos importados, sobretudo um automóvel de péssima qualidade chamado Lada, que consumia muito combustível e era de difícil manutenção.
No decorrer de 1992, denúncias de Pedro Collor, irmão do presidente mas empresário rival de Paulo César nos negócios midiáticos de Alagoas, revelavam o esquema de corrupção existente desde a campanha eleitoral, daí surgindo a informação que as poupanças dos brasileiros foram extraviadas para pagar o "esquema PC", o que revoltou o povo.
E aí, deu no que deu. Collor ainda teve problemas com o Congresso Nacional, e a Rede Globo, talvez por "acidente", por reprisar a minissérie Anos Rebeldes, inspirou o então combalido movimento estudantil - com a UNE longe de seus melhores dias, reduzida a "fábrica de carteirinhas estudantis" e dotada de lideres e membros arrogantes - a fazer uma passeata pelo "Fora Collor", feita mais por modismo do que por idealismo.
O então líder das passeatas, o estudante Lindbergh Farias, depois se tornou político fluminense, e o político consagrado pelo "Fora Collor" acabou, tempos depois, se tornando amigo daquele que desejava ver fora do Planalto em 1992.
Fernando Collor foi impedido de continuar o mandato, devido à sentença do impeachment. Mas, depois de oito anos sem exercer direitos políticos, Collor parece que ganhou a Mega-Sena, de repente tornou-se um cidadão sortudo.
O ex-presidente separou-se de sua então primeira-dama, Rosane Collor, que voltou a ser Rosane Malta, e se casou com uma bela jovem. Fernando Collor teve sua imagem de corrupto relativizada e passou a ser visto como "injustiçado", enquanto os assassinatos de PC Farias e Suzana Marcolino, com todos seus vestígios apagados, deixaram para sempre oculto um grande mistério no seu esquema de corrupção.
Collor passou a ser relembrado como um presidente que "modernizou" o país e tudo que simbolizou seu período, inclusive a canastrice dos "sertanejos" e "pagodeiros" da época, virou genial, e há quem ache que tais canastrões são "grandes nomes da MPB" (!). Até Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniella Perez no dia do impeachment, passou a compartilhar da "sorte grande" de Collor.
Até seus antigos algozes foram "tirados" do caminho. Os irmãos Pedro e Leopoldo, que denunciaram o "esquema PC", morreram doentes. Paulo César Farias foi assassinado ao lado da namorada Suzana Marcolino e os vestígios do misterioso crime acabaram sendo apagados, comprometendo para sempre as investigações sobre possíveis ligações de PC com a Máfia italiana e o narcotráfico internacional.
E de repente Collor foi reabilitado pela revista Isto É, concorrente de Veja, tinha internautas blindando ele nas mídias sociais, era querido pelos estudantes, e até o ex-rival Lula tornou-se seu amigo e aliado. E até os anti-petistas tratam Fernando Collor como se fosse um "corrupto menor".
Mesmo parte da mídia esquerdista até deu um jeito para dividir Fernando Collor em dois: um era o repugnante ex-presidente que confiscou as poupanças dos brasileiros, e outro, o "admirável" senador que fazia discurso contra a grande mídia corporativa.
Hoje Fernando Collor voltou a ser incluído numa lista de corrupção, como suspeito de estar envolvido no esquema de propinas da Petrobras. Podem ser outros tempos. Mas Collor já foi beneficiado o suficiente pela sorte que Juscelino não teve. Pelo jeito, Emmanuel, o "mentor" de Chico Xavier, gostava mais de Fernando Collor do que de Juscelino Kubitschek.
terça-feira, 17 de março de 2015
Juscelino Kubitschek ajudou FEB e Chico Xavier. E o que ele recebeu em troca? Azar!
Quando se fala que o "espiritismo" brasileiro, "governado", no plano espiritual, por tenebrosos espíritos ligados a imperadores e sacerdotes medievais e seus colaboradores mais fiéis, muitas pessoas não acreditam, mas o efeito maligno dessa doutrina que deturpou a obra de Allan Kardec tem efeitos bem mais devastadores do que se imagina.
Um claro exemplo é de como o "espiritismo da FEB" pode dar em troca a um presidente, cujo apoio dado à Federação "Espírita" Brasileira e à figura de Francisco Cândido Xavier só lhe causaram azar e uma série de infortúnios que culminou em uma tragédia, em 1976.
O médico mineiro e político, Juscelino Kubitschek de Oliveira, natural de Diamantina, no interior de Minas Gerais, foi prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais, antes de se tornar eleito à Presidência da República, em 1955.
Sua posse chegou a ser ameaçada por um golpe tramado pelo então presidente da República em exercício, deputado Carlos Luz, em parceria com Carlos Lacerda, mas um contragolpe movido pelo general Henrique Teixeira Lott, depois promovido a marechal, depôs Luz e, com o senador Nereu Ramos governando o país, garantiu a sucessão e a posse de Juscelino.
Político moderado, Juscelino tinha como vice o estancieiro gaúcho João Goulart, de inclinações de centro-esquerda. Governou o país dentro do programa da aliança PSD-PTB, dois partidos surgidos no ocaso do governo Getúlio Vargas, sendo um conservador e outro progressista.
Juntando medidas de fortalecimento do capitalismo nacional e de estímulo às melhorias sociais dos trabalhadores, Juscelino ainda teve a habilidade de malabarista para enfrentar impasses diversos para construir Brasília e inaugurá-la ainda em seu mandato, apesar de muito trabalho ainda a fazer (em 1961, Brasília ainda não havia abrigado todos os ministérios).
O Brasil, evidentemente, não se tornou uma nação próspera sob o governo de Juscelino Kubitschek. Era ainda um país confuso, injusto e desigual. Mas haviam propostas e medidas de progresso social, de evolução urbana e outros avanços, que fizeram da Era JK estar associada à ideia de "Anos Dourados" que mais parecia um sonho do que uma realidade plena.
Mesmo assim, a partir do governo Juscelino, começou-se a pensar num projeto de país autônomo, justo, dinâmico e avançado que lançou projetos e medidas diversos, desde o projeto revolucionário de alfabetização para adultos, o Método Paulo Freire, até os debates culturais através do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes.
Tudo parecia impulsionar para o progresso brasileiro, um caminho que parecia garantido até depois do governo JK e mesmo durante os governos turbulentos de Jânio Quadros e João Goulart. Até o golpe militar de 1964 destruir esse projeto de país que ainda não foi devidamente recuperado, mesmo 30 anos depois do fim da ditadura.
O "MUI AMIGO" CHICO XAVIER
Juscelino Kubitschek era amigo de Chico Xavier e visitava sempre sua casa, primeiro em Pedro Leopoldo, terra-natal do anti-médium, depois em Uberaba. Sempre fazia consultas "mediúnicas" e acatava os conselhos do conterrâneo, já que, apesar de nascidos em cidades diferentes, ambos eram mineiros.
O então presidente sempre era fiel e gentil a essa amizade, ajudava Chico quando era necessário e estabeleceu relações cordiais com a FEB. Tanto que, no ano em que inaugurou Brasília, em 1960, Juscelino decretou que a instituição era considerada "de utilidade pública".
E o que Juscelino Kubitschek, com sua atitude de generosidade e bom coração em relação a Francisco Cândido Xavier e aos dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira, recebeu em troca de tão abnegada caridade e consideração? Azar, muito azar!
Juscelino, até o começo de 1964, tinha como certa a sua vitória eleitoral na campanha presidencial para 1965, na qual, junto a outros candidatos, polarizaria seu favoritismo com o enérgico rival Carlos Lacerda. O mineiro seria provavelmente eleito e iniciaria seu mandato na Brasília que ele inaugurou, a essas alturas com a "mobília" restante trazida do Rio de Janeiro.
Só que, logo em abril, os infortúnios começaram. O golpe militar se consolidou, e Juscelino, que até apoiou a deposição do outrora vice Jango depois que não gostou de ver o então presidente anistiar um grupo de militares rebeldes, foi um dos primeiros politicos a terem mandato cassado, perdendo o cargo de senador que JK exercia sob novo domicílio político, o Estado de Goiás.
Não bastasse isso, o governo "provisório" do general Humberto de Alencar Castelo Branco, feito a princípio apenas para completar o tempo de mandato de Jango, decidiu que a "revolução" (como se autoproclamava a ditadura militar) seria "permanente" e optou por cancelar as eleições presidenciais de 1965.
Frustrados, Carlos Lacerda (político civil que mais apoiou o golpe de 1964 e era governador do então Estado da Guanabara, composto apenas pelo município do Rio de Janeiro) e Juscelino, inimigos acérrimos, optaram pelo perdão mútuo e, tornados amigos, realizaram um movimento de redemocratização chamado Frente Ampla, a partir de um contato em Lisboa, em 1966.
A Frente Ampla chegou a atrair adeptos, embora causasse uma desconfiança muito forte nas esquerdas, em especial Leonel Brizola, que não aceitou participar do movimento. Todavia, dois anos depois, a ditadura militar decretou a ilegalidade da Frente, a poucos meses de decretar o AI-5.
Juscelino Kubitschek, ainda por cima, perdeu a eleição para a Academia Brasileira de Letras, ele, que havia escrito um livro de memórias e era bastante culto, apesar de seus discursos terem sido escritos pelo amigo e escritor Augusto Frederico Schmidt (fundador da extinta rede de supermercados Disco e que, pouco antes de morrer, em 1965, expressou sua oposição à ditadura que ele por boa-fé defendeu).
Mas o pior não foi isso. Poucos dias antes de completar 74 anos, numa manhã ensolarada, numa estrada sem problemas e com um chofer muito experiente e atento, Juscelino morreu num estranho desastre automobilístico na Rodovia Pres. Dutra (ironicamente em homenagem ao colega de partido de Juscelino, PSD, o general e ex-presidente Eurico Gaspar Dutra), que matou também seu motorista.
Na Comissão Nacional da Verdade, uma linha de investigação preferiu defender a tese oficial de que Juscelino teria sido morto num acidente de carro comum, No entanto, pesam sobre a tragédia fortes indícios de que teria sido um atentado cometido por alguma sabotagem militar, por ordem de órgãos da ditadura brasileira integrantes da Operação Condor, junto às ditaduras argentina e chilena.
O infortúnio ainda se estendeu à sua única filha biológica, Márcia Kubitschek (a irmã, Maristela, que continua viva, é adotiva), que faleceu em 2000 aos 56 anos, vítima de câncer. Márcia parecia ainda muito bonita e de boa aparência, relativamente jovem para encerrar sua vida.
Nos últimos anos, o nome de Juscelino Kubitschek foi usado em inúmeras "psicografias" que na verdade eram mensagens apócrifas de panfletarismo religioso que se esforçavam em imitar a retórica de Juscelino nos textos que ele escreveu para a revista Manchete ou mesmo nos discursos políticos escritos pelo poeta e ensaísta Augusto Frederico Schmidt.
O mais esperto deles foi o médico de São José do Rio Preto, no interior paulista, Woyne Figner Sacchetin, no livro Caminhos do Brasil, em que o pseudo-Juscelino consegue, com falhas, imitar o texto do ex-presidente, sob o pretexto de narrar a vida de candangos.
Woyne é conhecido por ter sido processado por usar o nome de Alberto Santos Dumont para fazer acusações infundadas contra vítimas de uma tragédia aérea em 2007, com um avião da TAM no aeroporto de Congonhas (SP).
O que é o "espiritismo", doutrina de "todo amor e bondade", que reagiu à generosidade de Juscelino Kubitschek de maneira ingrata e cruel, rogando tanto sofrimento e azar ao médico que, como presidente, lutava para promover um país realmente mais próspero e solidário. O "espiritismo" da FEB "matou" JK, que lhe deu pão e recebeu serpente em troca.
segunda-feira, 16 de março de 2015
Eram deuses os tecnocratas?
Da esq. para a dir., de cima para baixo: JAIME LERNER, PEDRO ALEXANDRE SANCHES, OTÁVIO FRIAS FILHO, ALEXANDRE SANSÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E ROBERTO CAMPOS.
Quem tem diploma, vai a Roma. A Idade Mídia simboliza o Brasil das elites detentoras de poder decisório, uma nação tecnocrática, neoliberal, academicista e pragmatista, que não defende exatamente a qualidade de vida e o atendimento às necessidades aprofundadas da sociedade, mas tão somente o básico do básico, tão básico que se torna abaixo do realmente básico.
Desde 1974, após a decretação do AI-5 e o começo da crise da ditadura militar, que não conseguiu desenvolver o país com o chamado "milagre brasileiro", se ascendeu uma geração de tecnocratas, dotados de decisões e ideias nem sempre populares, aliás, quase sempre impopulares e contrárias ao interesse público, mas que passaram a ter o poder de decidir sobre tudo na sociedade.
Sem se identificarem com o interesse público, tentam se julgar seus representantes, impondo um ponto de vista ao mesmo tempo socialmente excludente e causador de muitos transtornos, que tais pessoas que desenvolvem a "cidadania de escritório" e o "urbanismo de maquetes" juram serem "males necessários" para "benefícios futuros e permanentes (sic)".
No Brasil marcado pela confusão entre sabedoria e sacerdotismo, em que se divinizam pessoas dotadas de poder econômico, político e técnico, os tecnocratas são considerados "deuses" pela sociedade que os teme e nunca age com firmeza contra seus desígnios.
Quanto muito, alguns descontentes só reclamam dos tecnocratas pelas costas, mas fora isso tudo reina na "paz social" que permite que eles cometam seus abusos e tragam prejuízos à sociedade, sempre sob a desculpa de serem "sacrifícios para algo melhor".
ARROCHO SALARIAL PARA O "DESENVOLVIMENTO" DO PAÍS
Tivemos de tudo, do poder abusivo dos tecnocratas. Desde há 50 anos atrás, quando o ministro do Planejamento, Roberto Campos e seu parceiro da pasta da Fazenda, Otávio Bulhões, sob o comando do presidente-general Castello Branco, um plano econômico que "estrangulou" o poder aquisitivo das classes trabalhadoras, com o arrocho salarial e o aumento dos preços.
Eram desculpas feitas como "males necessários" e "sacrifícios urgentes" para a construção do desenvolvimento nacional. O povo só passaria a comprar o "mínimo" para sua sobrevivência e pagar mais contas, vivendo apenas dentro das condições "básicas".
Só que essa desculpa de defender o "básico" acaba criando uma mania em que sucessivas medidas de manter o "básico" acabam fazendo com que tudo ficasse abaixo do básico. De tanto se preocupar com o básico e o mínimo, as coisas acabam ficando abaixo dos padrões básicos e mínimos. Se levarmos adiante, o sentido do básico e do mínimo acaba sendo o da mais absoluta miséria.
MOBILIDADE URBANA: PREJUÍZOS E TRANSTORNOS EM TROCA DO "DEUS" BRT
A tecnocracia se ampliou para outros setores. Na chamada "mobilidade urbana", temos o caso do urbanista paranaense Jaime Lerner, que vende uma imagem de "progressista" mas foi um político apadrinhado e treinado na ditadura militar e sua ascensão política ocorreu em função do "milagre brasileiro". É uma espécie de Roberto Campos do urbanismo e do transporte.
Político ultraconservador, Lerner lançou os padrões antipopulares de transporte coletivo: ônibus com pintura padronizada que desafiam as atenções dos passageiros e acobertam a corrupção político-empresarial, redução de frotas de ônibus em circulação num contexto que supervaloriza os automóveis nas ruas e as reduções de percursos em linhas de ônibus para forçar o uso de bilhetes eletrônicos (os chamados "bilhetes únicos") e causar transtornos para os passageiros.
A medida, que voltou à moda graças à iniciativa do Rio de Janeiro, com a administração impopular de Eduardo Paes e de seu pupilo dos Transportes, Alexandre Sansão - que passou o bastão para sucessores como Carlos Roberto Osório e Rafael Picciani - , causou uma séria crise no sistema de transportes do país, com a prevalência de um modelo caduco que insiste em dar continuidade.
Passageiros se confundem pegando ônibus sem saber que empresa está servindo uma linha - as empresas são proibidas de exibir suas respectivas identidades visuais, que facilitariam a atenção de pessoas comuns - , têm que pegar linhas "alimentadoras" para saltar nos terminais, pegar mais um ou dois ônibus que, com seus transtornos, causam atrasos na chegada ao trabalho ou aos ambientes de ensino.
A espera pela chegada do ônibus desejado, com a redução das frotas que tinham "ônibus demais", chega a uma hora e, com o excesso de automóveis devido ao status quo e à ilusão de comodidade, aumentam ainda mais os atrasos e a tão prometida "rapidez" de tecnocratas, que constroem vias exclusivas de BRT sem medir escrúpulos em demolir patrimônios históricos ou ambientais, se lhes achar necessário, não passa de conversa para boi dormir.
Aliás, o chamado BRT, ônibus articulado ou biarticulado, tornou-se a "moeda de troca" entre tantas para esse caduco sistema de transporte. Os passageiros passaram a sofrer mais pela promessa de um ônibus BRT, com ar condicionado, com motores de indústrias suecas, ou pelo menos com uma dessas qualidades. De que adianta, se esses ônibus acabam ficando sucateados e rodam superlotados?
O BRT (Bus Rapid Transit), nome dado tanto a esse projeto geral de mobilidade e transporte quanto ao tipo de ônibus articulado adotado, tornou-se uma "divindade" que passou a ser endeusada até por uma facção reacionária e agressiva de busólogos, já tomados de fundamentalismo urbanístico e desejo de ascensão política pessoal. Eles defendiam as ideias mais impopulares, tudo em prol do "deus" BRT, que, na prática, só está causando problemas à população.
TRABALHO SOBRECARREGADO
Aliás, o "admirável" projeto do "insuspeito" Jaime Lerner, reciclado pelo discípulo carioca Alexandre Sansão, também incluiu a dupla função do motorista-cobrador, responsável por muitos acidentes de trânsito aliados à tirania do tempo, em que os ônibus são obrigados a cumprir horário em cidades congestionadas.
Assim, quando o ônibus passa por ruas sem congestionamento, o motorista desconta o tempo parado nos engarrafamentos para disparar em alta velocidade, assustando os passageiros. A sobrecarga profissional ainda os faz ficarem doentes e sofrerem de mal súbito nessas condições. O risco de tragédia é potencialmente altíssimo.
A lógica neoliberal envolve essa ideia de sobrecarga profissional, sob a desculpa de promover eficácia e melhor desempenho. E isso se tornou uma norma cada vez mais constante quando o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, um político influente na mesma época em que Jaime Lerner se ascendeu, tornou-se presidente da República.
Ele simbolizou o apogeu de uma visão neoliberal da década de 1990 em que o chamado capitalismo selvagem se voltava às tecnologias de ponta de então. FHC, como era conhecido, passou a defender uma lógica profissional que fazia com que o trabalhador tivesse que sobrecarregar suas funções e suas aptidões sob a desculpa de ser um profissional "dinâmico", "atualizado" e "eficiente".
Essa visão, que obrigava os trabalhadores a aprenderem mais, aumentarem suas cargas horárias e sobrecarregarem seus desempenhos, ruiu quando, em 2001, a sobrecarga profissional fez com que houvesse um acidente na Plataforma P-36, da Petrobras, na Bacia de Campos dos Goitacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro, gerando onze mortos.
IDIOTIZAÇÃO CULTURAL: POVO SUBMISSO
Como se não bastasse tudo isso, houve também a ascensão de uma intelectualidade cultural, composta de acadêmicos, cineastas e jornalistas, entre outros, que apostavam numa "nova visão" da cultura popular brasileira, baseada no "livre mercado" e fundamentada no poder midiático como transmissor de valores sócio-culturais e no poder do mercado como seu perpetuador.
Através de figuras como o historiador Paulo César Araújo, o antropólogo Hermano Vianna e o jornalista Pedro Alexandre Sanches - este pupilo de Otávio Frias Filho e discípulo (não-assumido) de Fernando Henrique Cardoso e Francis Fukuyama - , difundiu-se uma tese de que a "verdadeira cultura popular" se baseava na domesticação das classes populares e na promoção do consumismo das populações pobres em todo o país.
A visão foi difundida também como "progressista", mas o que ela fazia era promover a idiotização cultural, transformando as classes populares em caricaturas de si mesmas, com as pessoas transformadas em indivíduos ingênuos e patéticos, impulsionados ao consumismo, embora haja aquele papo intelectual de "autossuficiência das periferias", "benefícios da tecnologia para o povo pobre" e outras mentiras.
Durante muito tempo, essa visão tecnocrática da "cultura popular", que se valia pelo status quo dos intelectuais culturais envolvidos - uns porque tinham pós-graduação, outros porque tinham um belo currículo de entrevistas e reportagens e aqueles porque faziam documentários premiados - , foi considerada "unanimidade" e todo questionamento a ela era visto como "preconceito".
PRETENSAS "DIVINDADES"
Esse quadro é um sintoma de um Brasil que ainda atribui uma superioridade social, seja em que critério for, àqueles que são dotados de alguns privilégios econômicos, políticos, acadêmicos ou profissionais. A sociedade lhes atribui superioridade não pelo conteúdo de suas ideias, mas pelo diploma ou pela "experiência" adquirida, ou talvez por alguma ordem "superior".
Em muitos casos, as pessoas aceitam a superioridade dessas pessoas sem refletir como e por que elas atingiram o status que expressam. E atribuem genialidade a eles sem entender o que realmente eles estão querendo dizer e fazer com aquelas medidas e ideias que, numa análise cautelosa, são as mais desumanas e maléficas para a sociedade.
A opinião pública acaba se escravizando aos desígnios desses modernos fariseus, desses "sacerdotes da razão" divinizados pela posição meramente material e simbólica que exercem na sociedade, e que não está á altura de suas ideias excludentes, preconceituosas, antissociais e impopulares.
É perigoso um país em que a sociedade aceita tudo que vem "de cima", como se as "ordens superiores" dos procedimentos e abordagens cotidianos fossem similares a decisões divinas. Mas elas não são e, não obstante, elas são apenas formas sutis de crueldade e desumanidade, que criam prejuízos e impasses que nunca são resolvidos devidamente.
CHICO E DIVALDO SERIAM TECNOCRATAS?
No "movimento espírita", essa ilusão de superioridade envolve as figuras dos anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, o que faz pensar se eles também não estariam inseridos no contexto de tecnocracia de que falamos acima.
Evidentemente, os dois não são associados a funções necessariamente tecnocratas, mas compartilham da ilusão de superioridade e sabedoria que os detentores de habilidades técnicas exercem sobre a sociedade.
Chico Xavier era um homem de origem pobre que tinha uma instrução modesta, longe da imagem exagerada e contrastante do "ignorante que se transformou em sábio pela luz da fé", com regular hábito de leitura de livros mas com incapacidade de ter uma visão de mundo abrangente e coerente e, sobretudo, além dos limites de sua estreita devoção religiosa e sua visão socialmente conservadora.
Divaldo Franco talvez se aproximasse dos critérios tecnocráticos, já que ele, funcionário público aposentado, é famoso pelo tom professoral que influi no seu vestuário e na retórica rebuscada de palavras cultas e oratória habilidosa, além da pretensão ilusória de aparentemente ter resposta para todas as questões da humanidade e do mundo.
Divaldo é um homem que mistura arremedos de pseudo-ciência com esoterismo e erudição discursiva, de uma forma um tanto diferente de Chico Xavier, que tinha um discurso de caipira interiorano e postura de católico devoto e praticante, mas era "indiretamente" empurrado para alegações "científicas", "proféticas" e "filosóficas" relacionadas aos livros que levavam sua autoria.
Portanto, Divaldo é mais direto no simulacro "intelectual" do que Chico Xavier, que só foi "intelectualizado" pela interpretação de terceiros, não raro cheia de fantasias e demais pretensões preciocistas.
Mas, de toda forma, eles também se beneficiam por essa ilusão de superioridade, que na verdade prejudicam a sociedade brasileira, na medida em que tudo que é decidido sob o manto do status quo e de relativos triunfos acadêmicos, profissionais e filantrópicos é tido como "superior" e "necessário", ainda que prejudicial e de eficácia nula ou inócua.
E os brasileiros são tomados por essa ilusão de aceitar tudo o que é decidido "lá do alto", baseado nas ilusões de superioridade que atribuem aos supostos "senhores da razão". E o povo vai pensando assim até que as fezes de pombos caiam sobre suas caras, o que talvez lhes possa ajudar a repensar sobre a validade de tudo que "vem de cima".
Quem tem diploma, vai a Roma. A Idade Mídia simboliza o Brasil das elites detentoras de poder decisório, uma nação tecnocrática, neoliberal, academicista e pragmatista, que não defende exatamente a qualidade de vida e o atendimento às necessidades aprofundadas da sociedade, mas tão somente o básico do básico, tão básico que se torna abaixo do realmente básico.
Desde 1974, após a decretação do AI-5 e o começo da crise da ditadura militar, que não conseguiu desenvolver o país com o chamado "milagre brasileiro", se ascendeu uma geração de tecnocratas, dotados de decisões e ideias nem sempre populares, aliás, quase sempre impopulares e contrárias ao interesse público, mas que passaram a ter o poder de decidir sobre tudo na sociedade.
Sem se identificarem com o interesse público, tentam se julgar seus representantes, impondo um ponto de vista ao mesmo tempo socialmente excludente e causador de muitos transtornos, que tais pessoas que desenvolvem a "cidadania de escritório" e o "urbanismo de maquetes" juram serem "males necessários" para "benefícios futuros e permanentes (sic)".
No Brasil marcado pela confusão entre sabedoria e sacerdotismo, em que se divinizam pessoas dotadas de poder econômico, político e técnico, os tecnocratas são considerados "deuses" pela sociedade que os teme e nunca age com firmeza contra seus desígnios.
Quanto muito, alguns descontentes só reclamam dos tecnocratas pelas costas, mas fora isso tudo reina na "paz social" que permite que eles cometam seus abusos e tragam prejuízos à sociedade, sempre sob a desculpa de serem "sacrifícios para algo melhor".
ARROCHO SALARIAL PARA O "DESENVOLVIMENTO" DO PAÍS
Tivemos de tudo, do poder abusivo dos tecnocratas. Desde há 50 anos atrás, quando o ministro do Planejamento, Roberto Campos e seu parceiro da pasta da Fazenda, Otávio Bulhões, sob o comando do presidente-general Castello Branco, um plano econômico que "estrangulou" o poder aquisitivo das classes trabalhadoras, com o arrocho salarial e o aumento dos preços.
Eram desculpas feitas como "males necessários" e "sacrifícios urgentes" para a construção do desenvolvimento nacional. O povo só passaria a comprar o "mínimo" para sua sobrevivência e pagar mais contas, vivendo apenas dentro das condições "básicas".
Só que essa desculpa de defender o "básico" acaba criando uma mania em que sucessivas medidas de manter o "básico" acabam fazendo com que tudo ficasse abaixo do básico. De tanto se preocupar com o básico e o mínimo, as coisas acabam ficando abaixo dos padrões básicos e mínimos. Se levarmos adiante, o sentido do básico e do mínimo acaba sendo o da mais absoluta miséria.
MOBILIDADE URBANA: PREJUÍZOS E TRANSTORNOS EM TROCA DO "DEUS" BRT
A tecnocracia se ampliou para outros setores. Na chamada "mobilidade urbana", temos o caso do urbanista paranaense Jaime Lerner, que vende uma imagem de "progressista" mas foi um político apadrinhado e treinado na ditadura militar e sua ascensão política ocorreu em função do "milagre brasileiro". É uma espécie de Roberto Campos do urbanismo e do transporte.
Político ultraconservador, Lerner lançou os padrões antipopulares de transporte coletivo: ônibus com pintura padronizada que desafiam as atenções dos passageiros e acobertam a corrupção político-empresarial, redução de frotas de ônibus em circulação num contexto que supervaloriza os automóveis nas ruas e as reduções de percursos em linhas de ônibus para forçar o uso de bilhetes eletrônicos (os chamados "bilhetes únicos") e causar transtornos para os passageiros.
A medida, que voltou à moda graças à iniciativa do Rio de Janeiro, com a administração impopular de Eduardo Paes e de seu pupilo dos Transportes, Alexandre Sansão - que passou o bastão para sucessores como Carlos Roberto Osório e Rafael Picciani - , causou uma séria crise no sistema de transportes do país, com a prevalência de um modelo caduco que insiste em dar continuidade.
Passageiros se confundem pegando ônibus sem saber que empresa está servindo uma linha - as empresas são proibidas de exibir suas respectivas identidades visuais, que facilitariam a atenção de pessoas comuns - , têm que pegar linhas "alimentadoras" para saltar nos terminais, pegar mais um ou dois ônibus que, com seus transtornos, causam atrasos na chegada ao trabalho ou aos ambientes de ensino.
A espera pela chegada do ônibus desejado, com a redução das frotas que tinham "ônibus demais", chega a uma hora e, com o excesso de automóveis devido ao status quo e à ilusão de comodidade, aumentam ainda mais os atrasos e a tão prometida "rapidez" de tecnocratas, que constroem vias exclusivas de BRT sem medir escrúpulos em demolir patrimônios históricos ou ambientais, se lhes achar necessário, não passa de conversa para boi dormir.
Aliás, o chamado BRT, ônibus articulado ou biarticulado, tornou-se a "moeda de troca" entre tantas para esse caduco sistema de transporte. Os passageiros passaram a sofrer mais pela promessa de um ônibus BRT, com ar condicionado, com motores de indústrias suecas, ou pelo menos com uma dessas qualidades. De que adianta, se esses ônibus acabam ficando sucateados e rodam superlotados?
O BRT (Bus Rapid Transit), nome dado tanto a esse projeto geral de mobilidade e transporte quanto ao tipo de ônibus articulado adotado, tornou-se uma "divindade" que passou a ser endeusada até por uma facção reacionária e agressiva de busólogos, já tomados de fundamentalismo urbanístico e desejo de ascensão política pessoal. Eles defendiam as ideias mais impopulares, tudo em prol do "deus" BRT, que, na prática, só está causando problemas à população.
TRABALHO SOBRECARREGADO
Aliás, o "admirável" projeto do "insuspeito" Jaime Lerner, reciclado pelo discípulo carioca Alexandre Sansão, também incluiu a dupla função do motorista-cobrador, responsável por muitos acidentes de trânsito aliados à tirania do tempo, em que os ônibus são obrigados a cumprir horário em cidades congestionadas.
Assim, quando o ônibus passa por ruas sem congestionamento, o motorista desconta o tempo parado nos engarrafamentos para disparar em alta velocidade, assustando os passageiros. A sobrecarga profissional ainda os faz ficarem doentes e sofrerem de mal súbito nessas condições. O risco de tragédia é potencialmente altíssimo.
A lógica neoliberal envolve essa ideia de sobrecarga profissional, sob a desculpa de promover eficácia e melhor desempenho. E isso se tornou uma norma cada vez mais constante quando o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, um político influente na mesma época em que Jaime Lerner se ascendeu, tornou-se presidente da República.
Ele simbolizou o apogeu de uma visão neoliberal da década de 1990 em que o chamado capitalismo selvagem se voltava às tecnologias de ponta de então. FHC, como era conhecido, passou a defender uma lógica profissional que fazia com que o trabalhador tivesse que sobrecarregar suas funções e suas aptidões sob a desculpa de ser um profissional "dinâmico", "atualizado" e "eficiente".
Essa visão, que obrigava os trabalhadores a aprenderem mais, aumentarem suas cargas horárias e sobrecarregarem seus desempenhos, ruiu quando, em 2001, a sobrecarga profissional fez com que houvesse um acidente na Plataforma P-36, da Petrobras, na Bacia de Campos dos Goitacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro, gerando onze mortos.
IDIOTIZAÇÃO CULTURAL: POVO SUBMISSO
Como se não bastasse tudo isso, houve também a ascensão de uma intelectualidade cultural, composta de acadêmicos, cineastas e jornalistas, entre outros, que apostavam numa "nova visão" da cultura popular brasileira, baseada no "livre mercado" e fundamentada no poder midiático como transmissor de valores sócio-culturais e no poder do mercado como seu perpetuador.
Através de figuras como o historiador Paulo César Araújo, o antropólogo Hermano Vianna e o jornalista Pedro Alexandre Sanches - este pupilo de Otávio Frias Filho e discípulo (não-assumido) de Fernando Henrique Cardoso e Francis Fukuyama - , difundiu-se uma tese de que a "verdadeira cultura popular" se baseava na domesticação das classes populares e na promoção do consumismo das populações pobres em todo o país.
A visão foi difundida também como "progressista", mas o que ela fazia era promover a idiotização cultural, transformando as classes populares em caricaturas de si mesmas, com as pessoas transformadas em indivíduos ingênuos e patéticos, impulsionados ao consumismo, embora haja aquele papo intelectual de "autossuficiência das periferias", "benefícios da tecnologia para o povo pobre" e outras mentiras.
Durante muito tempo, essa visão tecnocrática da "cultura popular", que se valia pelo status quo dos intelectuais culturais envolvidos - uns porque tinham pós-graduação, outros porque tinham um belo currículo de entrevistas e reportagens e aqueles porque faziam documentários premiados - , foi considerada "unanimidade" e todo questionamento a ela era visto como "preconceito".
PRETENSAS "DIVINDADES"
Esse quadro é um sintoma de um Brasil que ainda atribui uma superioridade social, seja em que critério for, àqueles que são dotados de alguns privilégios econômicos, políticos, acadêmicos ou profissionais. A sociedade lhes atribui superioridade não pelo conteúdo de suas ideias, mas pelo diploma ou pela "experiência" adquirida, ou talvez por alguma ordem "superior".
Em muitos casos, as pessoas aceitam a superioridade dessas pessoas sem refletir como e por que elas atingiram o status que expressam. E atribuem genialidade a eles sem entender o que realmente eles estão querendo dizer e fazer com aquelas medidas e ideias que, numa análise cautelosa, são as mais desumanas e maléficas para a sociedade.
A opinião pública acaba se escravizando aos desígnios desses modernos fariseus, desses "sacerdotes da razão" divinizados pela posição meramente material e simbólica que exercem na sociedade, e que não está á altura de suas ideias excludentes, preconceituosas, antissociais e impopulares.
É perigoso um país em que a sociedade aceita tudo que vem "de cima", como se as "ordens superiores" dos procedimentos e abordagens cotidianos fossem similares a decisões divinas. Mas elas não são e, não obstante, elas são apenas formas sutis de crueldade e desumanidade, que criam prejuízos e impasses que nunca são resolvidos devidamente.
CHICO E DIVALDO SERIAM TECNOCRATAS?
No "movimento espírita", essa ilusão de superioridade envolve as figuras dos anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, o que faz pensar se eles também não estariam inseridos no contexto de tecnocracia de que falamos acima.
Evidentemente, os dois não são associados a funções necessariamente tecnocratas, mas compartilham da ilusão de superioridade e sabedoria que os detentores de habilidades técnicas exercem sobre a sociedade.
Chico Xavier era um homem de origem pobre que tinha uma instrução modesta, longe da imagem exagerada e contrastante do "ignorante que se transformou em sábio pela luz da fé", com regular hábito de leitura de livros mas com incapacidade de ter uma visão de mundo abrangente e coerente e, sobretudo, além dos limites de sua estreita devoção religiosa e sua visão socialmente conservadora.
Divaldo Franco talvez se aproximasse dos critérios tecnocráticos, já que ele, funcionário público aposentado, é famoso pelo tom professoral que influi no seu vestuário e na retórica rebuscada de palavras cultas e oratória habilidosa, além da pretensão ilusória de aparentemente ter resposta para todas as questões da humanidade e do mundo.
Divaldo é um homem que mistura arremedos de pseudo-ciência com esoterismo e erudição discursiva, de uma forma um tanto diferente de Chico Xavier, que tinha um discurso de caipira interiorano e postura de católico devoto e praticante, mas era "indiretamente" empurrado para alegações "científicas", "proféticas" e "filosóficas" relacionadas aos livros que levavam sua autoria.
Portanto, Divaldo é mais direto no simulacro "intelectual" do que Chico Xavier, que só foi "intelectualizado" pela interpretação de terceiros, não raro cheia de fantasias e demais pretensões preciocistas.
Mas, de toda forma, eles também se beneficiam por essa ilusão de superioridade, que na verdade prejudicam a sociedade brasileira, na medida em que tudo que é decidido sob o manto do status quo e de relativos triunfos acadêmicos, profissionais e filantrópicos é tido como "superior" e "necessário", ainda que prejudicial e de eficácia nula ou inócua.
E os brasileiros são tomados por essa ilusão de aceitar tudo o que é decidido "lá do alto", baseado nas ilusões de superioridade que atribuem aos supostos "senhores da razão". E o povo vai pensando assim até que as fezes de pombos caiam sobre suas caras, o que talvez lhes possa ajudar a repensar sobre a validade de tudo que "vem de cima".
domingo, 15 de março de 2015
Indignação nacional dá o tom da crise do Brasil
PASSEATA DE PROTESTO CONTRA A PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, EM SÃO PAULO.
Que "coração do mundo" infartado. Enquanto os "espíritas" sonham com o Brasil sendo o país mais poderoso do mundo, numa clara inclinação geocentrista, herdada do Catolicismo medieval, e claramente materialista, delimitando o Novo Eldorado por algumas extensões territoriais feitas pelos homens da Terra, a realidade mostra-se crua e imprevisível.
Enquanto líderes "espíritas", com suas lágrimas de crocodilos, ficam "tristinhos" porque a tensão existente no país não confere com seus princípios de "solidariedade e fraternidade" e da "construção de uma nação comandada pela paz e pelo amor", a revolta popular, em vários planos ideológicos, eclode nas manifestações diversas dos últimos dias e a de hoje.
Por um lado, pessoas progressistas que começam a lançar ideias e projetos, que no plano da política esquerdista nem sempre são devidamente apreciados. O projeto político-econômico do PT, em que pese alguns avanços, está longe de promover o verdadeiro desenvolvimento nacional. O debate cultural foi empastelado pelos adeptos da "cultura" brega, que queriam um povo idiotizado.
Por outro lado, a onda de "cidadãos zangados" trazida pelos reacionários jornalistas ligados às grandes redes de jornais, rádios e TVs, que levam ao exagero surreal a oposição ao PT, transformada num ódio psicótico que faz alguns pedirem a volta da ditadura militar que arrasou com o país.
Os conflitos ocorrem, as confusões e a raiva estão imensas. A oposição à presidenta Dilma Rousseff, pelo menos no eixo Rio-São Paulo, é muito grande e sepultou de vez a onda pseudo-esquerdista da Era Lula, em que uma parcela da sociedade reacionária, principalmente os adeptos da bregalização cultural, fingia ser "de esquerda".
Depois de muitos anos vencendo em quase todos os âmbitos das atividades humanas, o reacionarismo ideológico, que na Era Lula apenas moderou seu poderio político-ideológico, Daí, por exemplo, que alguns reacionários extremos, que defendiam a idiotização da cultura popular, se passavam por "progressistas" apenas pelo pretexto de "defenderem o popular".
Mas é claro que a máscara deles caiu tempos depois, e eles, que se associavam a páginas favoráveis a Che Guevara e Hugo Chavez no extinto Orkut, que seguiam Emir Sader no Twitter e até 2010 declaravam voto apaixonado para Dilma, hoje chamam Karl Marx de "nazi-fascista" e defendem a intervenção militar por uma nova ditadura.
A crise de princípios, de um país que não consegue conter a inflação e a insegurança, que só tardiamente passou a classificar o assassinato de mulheres por motivos machistas, o chamado feminicídio, como crime hediondo, e já começa a estudar a hipótese de transformar trotes universitários violentos como crime de tortura, ainda é muito grande.
E o Brasil adiou por muito tempo esse clima de tensão, já que as feridas sociais são muito imensas, elas vêm desde o 01 de abril de 1964, quando um projeto progressista de país, sonhado desde o governo de Juscelino Kubitschek, foi por água abaixo, e que, só observando o lado cultural, ainda continua fraturado como se não tivéssemos recuperado a democracia rompida naquele ano.
Essas feridas profundas de mais de 50 anos fazem reviver antigas neuroses, com Dilma Rousseff, em que pese as debilidades de seu governo, vivendo na carne a mesma angústia de João Goulart, do fanatismo oposicionista, que nada tem a ver com a oposição democrática, até pela recusa em admitir que a própria direita permitiu que Dilma fosse reeleita pelo voto popular.
E agora essa tensão tende a explodir de várias maneiras, e os manifestos dos últimos dias, um no último dia 13, em favor de Dilma Rousseff, e a manifestação para hoje, contra a presidenta, só são o começo de um longo e sério período de tensões.
Curiosamente, a polarização lembra o comício de João Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro - que, como o recente ato pró-Dilma, ocorreu numa sexta-feira 13 - e a Marcha da Família Unida Com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no dia 19 de março daquele 1964 que gerou o golpe militar.
Não sabemos como vão ocorrer as coisas, mas o período gravíssimo de crises mais uma vez volta à tona, depois de uma relativa calmaria política entre o fim da ditadura e os tempos atuais, mais confusa e caótica que a calmaria entre o fim do Estado Novo, em 1945, e o golpe militar de 1964.
Isso contraria, e muito, as "profecias" de Chico Xavier em 1969, até porque ele defendeu a queda de João Goulart e em 1971 disparava contra camponeses, operários e estudantes (sim, ele mesmo, Francisco Cândido Xavier, "todo amor, bondade e misericórdia"). Até porque não há tempo para o Brasil virar o "coração do mundo" em 2019, e provavelmente não o será em 2052 ou 2057.
O Brasil não viveu ainda os dilemas que os experientes países desenvolvidos já viveram. Na Europa, países como França, Alemanha e Inglaterra já tiveram áreas destruídas e se tornaram cenários de fome e miséria. Viveram vários períodos de profundo ceticismo político e tamanhas injustiças.
O nosso país, ainda que tivesse vivido suas rebeliões populares, suas tensões políticas e coisa e tal, parece ainda virgem em certos impasses. já que na maioria dos casos temos estruturas de supremacia de poder comparáveis aos da Idade Média ou, pelo menos, da Idade Moderna.
Não estamos dizendo que o Brasil tenha que encarar os infortúnios que países mais experientes sofreram há vários séculos, mas ao menos que possamos aproveitar essas lições e prevenir tamanhos flagelos, o que, no contexto atual, torna-se muitíssimo difícil.
O máximo que podemos esperar é que essa crise se torne intensa a ponto do Brasil se revelar como um país altamente caótico e terrivelmente problemático. Infelizmente, temos que esperar o pior. Porque é assim que surgirão as primeiras lições e darão margem ao diagnóstico mais preciso dos problemas que permitam criar soluções mais definitivas.
É lamentável, mas é por situações assim que um país inexperiente terá que aprender a encarar para poder extrair dela o aprendizado que formulará novas soluções.
Que "coração do mundo" infartado. Enquanto os "espíritas" sonham com o Brasil sendo o país mais poderoso do mundo, numa clara inclinação geocentrista, herdada do Catolicismo medieval, e claramente materialista, delimitando o Novo Eldorado por algumas extensões territoriais feitas pelos homens da Terra, a realidade mostra-se crua e imprevisível.
Enquanto líderes "espíritas", com suas lágrimas de crocodilos, ficam "tristinhos" porque a tensão existente no país não confere com seus princípios de "solidariedade e fraternidade" e da "construção de uma nação comandada pela paz e pelo amor", a revolta popular, em vários planos ideológicos, eclode nas manifestações diversas dos últimos dias e a de hoje.
Por um lado, pessoas progressistas que começam a lançar ideias e projetos, que no plano da política esquerdista nem sempre são devidamente apreciados. O projeto político-econômico do PT, em que pese alguns avanços, está longe de promover o verdadeiro desenvolvimento nacional. O debate cultural foi empastelado pelos adeptos da "cultura" brega, que queriam um povo idiotizado.
Por outro lado, a onda de "cidadãos zangados" trazida pelos reacionários jornalistas ligados às grandes redes de jornais, rádios e TVs, que levam ao exagero surreal a oposição ao PT, transformada num ódio psicótico que faz alguns pedirem a volta da ditadura militar que arrasou com o país.
Os conflitos ocorrem, as confusões e a raiva estão imensas. A oposição à presidenta Dilma Rousseff, pelo menos no eixo Rio-São Paulo, é muito grande e sepultou de vez a onda pseudo-esquerdista da Era Lula, em que uma parcela da sociedade reacionária, principalmente os adeptos da bregalização cultural, fingia ser "de esquerda".
Depois de muitos anos vencendo em quase todos os âmbitos das atividades humanas, o reacionarismo ideológico, que na Era Lula apenas moderou seu poderio político-ideológico, Daí, por exemplo, que alguns reacionários extremos, que defendiam a idiotização da cultura popular, se passavam por "progressistas" apenas pelo pretexto de "defenderem o popular".
Mas é claro que a máscara deles caiu tempos depois, e eles, que se associavam a páginas favoráveis a Che Guevara e Hugo Chavez no extinto Orkut, que seguiam Emir Sader no Twitter e até 2010 declaravam voto apaixonado para Dilma, hoje chamam Karl Marx de "nazi-fascista" e defendem a intervenção militar por uma nova ditadura.
A crise de princípios, de um país que não consegue conter a inflação e a insegurança, que só tardiamente passou a classificar o assassinato de mulheres por motivos machistas, o chamado feminicídio, como crime hediondo, e já começa a estudar a hipótese de transformar trotes universitários violentos como crime de tortura, ainda é muito grande.
E o Brasil adiou por muito tempo esse clima de tensão, já que as feridas sociais são muito imensas, elas vêm desde o 01 de abril de 1964, quando um projeto progressista de país, sonhado desde o governo de Juscelino Kubitschek, foi por água abaixo, e que, só observando o lado cultural, ainda continua fraturado como se não tivéssemos recuperado a democracia rompida naquele ano.
Essas feridas profundas de mais de 50 anos fazem reviver antigas neuroses, com Dilma Rousseff, em que pese as debilidades de seu governo, vivendo na carne a mesma angústia de João Goulart, do fanatismo oposicionista, que nada tem a ver com a oposição democrática, até pela recusa em admitir que a própria direita permitiu que Dilma fosse reeleita pelo voto popular.
E agora essa tensão tende a explodir de várias maneiras, e os manifestos dos últimos dias, um no último dia 13, em favor de Dilma Rousseff, e a manifestação para hoje, contra a presidenta, só são o começo de um longo e sério período de tensões.
Curiosamente, a polarização lembra o comício de João Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro - que, como o recente ato pró-Dilma, ocorreu numa sexta-feira 13 - e a Marcha da Família Unida Com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no dia 19 de março daquele 1964 que gerou o golpe militar.
Não sabemos como vão ocorrer as coisas, mas o período gravíssimo de crises mais uma vez volta à tona, depois de uma relativa calmaria política entre o fim da ditadura e os tempos atuais, mais confusa e caótica que a calmaria entre o fim do Estado Novo, em 1945, e o golpe militar de 1964.
Isso contraria, e muito, as "profecias" de Chico Xavier em 1969, até porque ele defendeu a queda de João Goulart e em 1971 disparava contra camponeses, operários e estudantes (sim, ele mesmo, Francisco Cândido Xavier, "todo amor, bondade e misericórdia"). Até porque não há tempo para o Brasil virar o "coração do mundo" em 2019, e provavelmente não o será em 2052 ou 2057.
O Brasil não viveu ainda os dilemas que os experientes países desenvolvidos já viveram. Na Europa, países como França, Alemanha e Inglaterra já tiveram áreas destruídas e se tornaram cenários de fome e miséria. Viveram vários períodos de profundo ceticismo político e tamanhas injustiças.
O nosso país, ainda que tivesse vivido suas rebeliões populares, suas tensões políticas e coisa e tal, parece ainda virgem em certos impasses. já que na maioria dos casos temos estruturas de supremacia de poder comparáveis aos da Idade Média ou, pelo menos, da Idade Moderna.
Não estamos dizendo que o Brasil tenha que encarar os infortúnios que países mais experientes sofreram há vários séculos, mas ao menos que possamos aproveitar essas lições e prevenir tamanhos flagelos, o que, no contexto atual, torna-se muitíssimo difícil.
O máximo que podemos esperar é que essa crise se torne intensa a ponto do Brasil se revelar como um país altamente caótico e terrivelmente problemático. Infelizmente, temos que esperar o pior. Porque é assim que surgirão as primeiras lições e darão margem ao diagnóstico mais preciso dos problemas que permitam criar soluções mais definitivas.
É lamentável, mas é por situações assim que um país inexperiente terá que aprender a encarar para poder extrair dela o aprendizado que formulará novas soluções.