quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
"Profecia" da "data-limite" NUNCA irá se cumprir. Nem se a Terra melhorar
A chamada "profecia da Data-Limite" de Francisco Cândido Xavier já pode ser considerada um grande fiasco, mesmo há pouco mais de um ano de seu prazo, atribuído a 20 de julho de 2019, ano do cinquentenário da viagem de astronautas estadunidenses à Lula.
Foi a partir de um sonho de Chico Xavier, sobre uma suposta reunião de autoridades do Sistema Solar - algumas fontes atribuem ao universo inteiro - , Jesus Cristo, Emmanuel e o próprio Chico, que se deu o suposto aviso de que haveria uma moratória para evitar a Terceira Guerra Mundial.
Seria dado um prazo de 50 anos para a humanidade desenvolver os "princípios cristãos" pois, caso contrário, o mundo passaria por uma onda de desastres humanos e naturais, que dizimariam o Hemisfério Norte e poupariam o Hemisfério Sul, provocando uma migração em massa para a zona meridional, que teria no Brasil sua maior potência político-religiosa. O sonho só foi revelado em 1986, por Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, com base em conversas com Chico Xavier.
A "profecia" aponta uma série de erros geológicos e sociológicos. Ela anuncia terremotos e erupções vulcânicas que eliminariam o Japão, o México e os Estados do Havaí e da Califórnia, nos EUA, mas poupariam o Chile que, integrando com os demais citados o grupo geológico do Círculo de Fogo do Pacífico, naturalmente desapareceria junto com os países do Norte com áreas vulcânicas e atividade sísmica intensa.
No âmbito sociológico, Chico Xavier teria previsto, num erro grotesco e desnecessário, que os povos eslavos migrariam para o Nordeste brasileiro. Ele se esqueceu que já houve colonização de eslavos no Brasil, e ela se deu no Sul do país, a maior parte no Paraná. Xavier também cometeu a gafe de dizer que os estadunidenses migrariam para a Amazônia para fins de residência, pois é evidente que, sociologicamente, eles migrariam para o Sudeste, sobretudo o eixo Rio-São Paulo.
DIVALDO FRANCO E EURÍPEDES HIGINO - O primeiro apoia a "profecia", o segundo não.
A "profecia" não é unanimemente aceita pelos seguidores de Chico Xavier. Ela é corroborada por uma parcela de "espíritas" como o escritor e produtor Juliano Pozati, que criou um livro e documentário com base no livro de Geraldo e Marlene, Não Será em 2012, e o próprio Divaldo Franco é defensor de crendices como esta, de forte apelo místico, e nela inseriu suas fantasias pessoais em torno do modismo estadunidense das "crianças-índigo".
O "médium" baiano radicado em Brasília, Ariston Teles, chegou a enviar uma mensagem supostamente psicofônica, atribuída ao próprio Chico, negando tal "profecia". Quem contesta esta tese alega que ela é fatalista e Chico seria "incapaz de prever conflitos bélicos". O "filho adotivo" de Chico, Eurípedes Higino, também tem dúvidas sobre essa tese. Se bem que essa "profecia" é plausível porque Chico a divulgou em outras oportunidades.
Uma foi através do livro que teria sido ditado por Emmanuel, A Caminho da Luz, de 1938, que já "previa" a reunião de 1969 para "discutir os rumos futuros da humanidade". Outra foi a própria entrevista no Pinga Fogo, na TV Tupi de São Paulo, em que Chico Xavier também falava de predições semelhantes.
Devemos também nos lembrar que o próprio livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, escrito por Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas - apesar do crédito tendencioso do nome de Humberto de Campos - é uma parte dessa aparente "profecia", aliás a sua meta final. Ela vem de um devaneio típico de caipira mineiro, sonhando em ver o Brasil comandando o mundo, nem que seja com a ajuda de extra-terrestres.
DESACORDO COM A DOUTRINA ESPÍRITA
Tais "profecias" estão em completo desacordo com a Doutrina Espírita. Allan Kardec definiu como "indício de mistificação" a presunção de determinar datas futuras para fatos decisivos. O pedagogo francês reprovava essa prática, por estar contra a lógica e o bom senso.
A suposta profecia de Chico Xavier, além de dividir seus seguidores - algo que contraria a promessa de "unificação" do "movimento espírita", mostrando o quanto a deturpação do Espiritismo nada tem da verdadeira fraternidade que alega defender - , cria um clima de ansiedade, beatitude e fanatismo religioso, muito mal disfarçado de "conhecimento científico-filosófico", por causa de um engodo que mistura Filosofia, Psicologia e Geologia com Religião, Astronomia, Horóscopo e Ocultismo.
O "espiritismo" brasileiro tenta defender a união em torno dos deturpadores. Faz um discurso defendendo a "fraternidade", a "conciliação", a "reconciliação" e a "misericórdia", mas sempre em torno dos deturpadores, sempre como uma forma de consentir que uma parcela de supostos espíritas façam o que queiram com a Doutrina Espírita, mesmo que seja para inserir devaneios esotéricos, como se vê nesse profetismo barato da "data-limite".
CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO NUNCA ESTARÃO COM A RAZÃO
O que na verdade acontecerá é algo que sempre aconteceu, grandes conflitos de interesses que podem puxar a humanidade para o progresso ou retrocesso. Nada mais. Não haverá grandes e rápidas transformações, porque a ação dos que sempre "puxarão o tapete" sempre acontecerá, a não ser que a chamada "maioria silenciosa" passe a repudiar tais ações.
Mesmo que a Terra possa realizar algum progresso humanitário significativo, mesmo assim não será desculpa para dar razão a Chico Xavier e, por associação, a Divaldo Franco. Nem em (novos) sonhos. Isso por duas grandes razões.
Primeiro, o progresso da humanidade irá ocorrer de maneira bastante diferente da que os dois "médiuns" tanto sonharam. Sobretudo se percebermos que o crescimento do "espiritismo" brasileiro, na sua forma igrejeira, não se realizará, nesse momento de crise extrema. E o Brasil não será o "coração do mundo" nem "pátria do Evangelho", e isso, por incrível que pareça, é bom.
É verdade que o Brasil anda decaindo como nação, com a retomada ultraconservadora que ocorreu há dois anos e tenta se consolidar eleitoralmente esse ano. Um exemplo é a ampla aceitação do patético Jair Bolsonaro, sobretudo entre os cariocas (transformados em vergonha nacional com os vícios contraídos nos últimos 25 anos: cyberbullying só para humilhar quem discorda de um ponto de vista, voto em políticos reacionários, conformação com medidas paliativas, submissão a tecnocratas, consumismo exagerado e apego à mesmice cultural).
Perde-se as riquezas nacionais, vendidas a preço de banana para os empresários estrangeiros (insensíveis com as necessidades do povo brasileiro). São alteradas leis trabalhistas que degradam o mercado de trabalho e o cotidiano profissional dos brasileiros. O golpismo político de 2016, defendido pelo "movimento espírita", tende a transformar o Brasil num sub-país submisso aos EUA, como hoje é Porto Rico, com o agravante de ser o terceiro maior país do continente americano.
Com isso, embora o Brasil se mantenha numa posição subalterna na comunidade das nações, perdendo a antiga boa projeção mundial, tendo se tornado a vergonha planetária depois do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, pelo menos o risco da supremacia político-religiosa do projeto "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" foi por água abaixo.
Ainda bem. Embora esse projeto seja anunciado como se fosse uma coisa maravilhosa, é o mesmo conto da nação que vai mandar no mundo. Um outro imperialismo, uma outra tirania, que não é por ser o nosso país que iremos defender, sob a desculpa de que somente os imperialismos dos outros é que são cruéis.
O projeto "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", comparado ao império capitalista dos EUA e ao império nazista de Adolf Hitler, remete ao plano, inspirado em Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing (que previa a restauração do Catolicismo medieval sob o nome de "espiritismo" e a escolha de um país predestinado para realizar a tarefa) e na herança jesuíta do "movimento espírita", que restauraria o Império Romano e o Catolicismo da Idade Média em solo brasileiro.
O enunciado não prevê, evidentemente, atrocidades, mas a forma com que, no futuro, o dominante "movimento espírita", nessa hipótese, lidará com o "outro" que não seguir os desígnios "cristãos" da religião hegemônica, será cruel. É o que ocorreu com os hereges da Idade Média, vítimas de vários tipos de assassinatos.
O "movimento espírita" poderá alegar motivações "justiceiras" com base nas teses de "resgates coletivos", "dívidas morais" ou "reajustes espirituais". Quem garante que não haverá novos Torquemadas na "pátria do Evangelho", se observarmos que uma boa parcela dos brasileiros quer ver o truculento Bolsonaro governando o país?
O fiasco desse projeto, portanto, é um grande alívio. Nenhuma patriotada brasileira, supostamente favorável ao nosso país, pode se colocar acima do mundo. Por esses e outros aspectos, a suposta "profecia" da "data-limite segundo Chico Xavier" NUNCA irá se cumprir, nem se a Terra melhorar.
A melhoria da Terra ocorrerá da forma que as circunstâncias se derem, e elas não "obedecerão as ordens" de uma dupla de igrejeiros que se afirmaram como "médiuns espíritas", porque eles não são os possuidores da verdade, e, portanto, não serão eles os senhores do futuro. E, se alguém tentar dar razão a Chico e/ou Divaldo, daqui a pouco vamos dar razão até ao mané do botequim da esquina, e aí vai virar bagunça. O futuro da humanidade não tem donos.
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