segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Aspectos sombrios da prática de caridade
Comprovadamente, o Brasil é um país bastante conservador. No caso da bondade humana, os brasileiros entendem a prática pelo prisma paternalista e paliativo, que não ameace os privilégios exorbitantes das elites e mais pareça um espetáculo do que uma ação social. Infelizmente, muitas pessoas raciocinam a realidade como se fosse enredo de novela de TV.
No caso da "caridade espírita", ela é usada como uma "barricada" para evitar o aprofundamento das críticas aos "médiuns espíritas" que, entre outras acusações, estão a traição doutrinária ao legado de Allan Kardec, as fraudes nas mensagens supostamente mediúnicas e a defesa de ideias moralistas e visões sócio-políticas extremamente conservadoras.
É como se o "movimento espírita" tivesse a sua versão do "Rouba Mas Faz": a "carteirada filantrópica" que faz com que se permita a deturpação do Espiritismo porque seus maiores divulgadores, os "médiuns espíritas", "praticam caridade".
Mas essa "caridade", além de não trazer resultados sociais profundos e definitivos - a alegação de que as instituições "espíritas" obtém poucos recursos financeiros é insuficiente e até questionável para tal desculpa, ante a grandeza ou mesmo a grandiloquência que os "espíritas" se colocam na sociedade, garantindo blindagem e apoio das elites - , pode também apresentar pontos sombrios.
Não estamos dizendo que os pontos sombrios a serem enumerados aconteçam todos nas instituições "espíritas". Mas eles são passíveis de acontecer. Um possível relato de maus tratos se atribui ao falecido sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier Pena, que teria sofrido agressões por funcionários de um sanatório onde foi internado supostamente por alcoolismo. Amauri sofreu campanha de desmoralização depois de denunciar as fraudes psicográficas do tio, em 1958.
O que vamos enumerar aqui não são fatos que necessariamente estejam acontecendo nas instituições "espíritas", mas fatos negativos que podem ocorrer sob o manto da caridade em geral, em qualquer instituição, o que significa que ninguém pode usar a "caridade" para inocentar ou relativizar os erros dos "médiuns espíritas", porque tal prática não é garantia segura de uma atuação transparente, transformadora e correta. Vamos aos aspectos sombrios:
1) CONDUTA AUTORITÁRIA DE FUNCIONÁRIOS - De professores, monitores e outros serviçais, pode-se haver maus tratos aos mais necessitados, principalmente quando os funcionários se irritam com a aparente indolência dos doentes, que, por sua fragilidade física, não podem responder prontamente às solicitações alheias. Em muitos casos, a instituição pode atuar com disciplina militar e adotar um método enérgico de convivência social e impor a submissão humana.
2) TRATAMENTO DESUMANO EM RELAÇÃO A SAÚDE - Madre Teresa de Calcutá, suposto símbolo de "caridade humana", foi acusada de maltratar seus assistidos nas casas mantidas pelas Missionárias da Caridade. Doentes graves eram expostos ao contágio uns aos outros, pobres e enfermos eram mal alimentados, os remédios se limitavam a aspirina e paracetamol e as seringas eram reutilizadas depois de lavadas com água de bica, relativamente suja. Isso é apenas um exemplo extremo do que pode ocorrer, mas mesmo uma dieta alimentar medíocre oferecida numa instituição já é um mau trato sob o ponto de vista nutricional, por exemplo.
3) SUPERFATURAMENTO - Instituições "filantrópicas", dentro desse modelo de caridade paliativa, não é feito só pelos "espíritas", mas também por outros setores, não só religiosos. Mesmo as grandes corporações também têm suas instituições de "caridade". Em muitos casos, a ideia é criar "projetos filantrópicos" visando o abatimento do imposto de renda e o investimento de dinheiro público, não raro superfaturado, ou seja, com valor acima do realmente necessário.
Há também eventuais casos de "lavagem de dinheiro" da corrupção em instituições tidas como "filantrópicas", mesmo aquelas que não estão ligadas a esquemas de propinas e outros crimes do gênero. A "grana suja" nem por isso se torna limpa e lícita mediante tais investimentos e o consentimento das instituições com esse "benefício" acaba comprometendo, mesmo de forma indireta, sua reputação.
4) DESVIO DE DINHEIRO - As instituições de "caridade" também podem representar desvio de verbas públicas, motivada pelo superfaturamento. Em casos assim, uma parcela ínfima é investida realmente em cada instituição, enquanto uma grande parcela restante é desviada para os interesses pessoais dos seus responsáveis.
Neste caso, pesa sobre a Mansão do Caminho, em Salvador, a suspeita de tantas excursões pelo mundo que Divaldo Franco fazia, com que dinheiro e que patrocínio. Divaldo se pavoneava pelo resto do mundo em troca de prêmios pomposos obtidos em palestras para ricos e poderosos. E isso não reflete em melhoria profunda na instituição, que mantém uma rotina mediana, enquanto seu idealizador se esbalda na sua promoção pessoal por aí afora.
Um dado grave disso tudo é que os internos da Mansão do Caminho mal podem sair de vez em quando para conhecer os pontos turísticos de Salvador, ficando quase o tempo todo dentro daquele terreno em Pau da Lima. Mas Divaldo Franco, o "pavão dourado" do "movimento espírita", já visitou os maiores pontos turísticos do resto do planeta, esbanjando completo estrelismo.
5) INCITAÇÃO SUTIL À RELIGIÃO OU À IDEOLOGIA DA "CASA" - Em muitos casos, as instituições de "caridade", mantidas por empresas ou por entidades religiosas, estabelecem um preço muito caro para a aparente gratuidade de seus serviços aos mais necessitados. Esse preço não é financeiro, mas simbólico: a "recomendação" de seguir uma ideologia em geral ou crença religiosa do lugar.
Em tese, ninguém é obrigado a seguir, mas a manipulação é bastante sutil, sobretudo pela influência que o culto à personalidade do "dono da casa" - o idealizador, fundador ou administrador - possui no lugar. A incitação é muito habilidosa e quase imperceptível, e se criam argumentos "lógicos" para forçar a pessoa que "não está obrigada" a ter aquela religião ou ideologia a se tornar adepto da mesma.
Nas "casas espíritas", exemplos não faltam. Na Casa da Prece, em Uberaba, a "não-obrigatoriedade" em acreditar em "cidades espirituais" como Nosso Lar, criação de Chico Xavier, e na Mansão do Caminho, no que se refere às "crianças-índigo", são exemplos de como se pode influenciar as pessoas, "não lhes obrigando" a seguir tais crenças, mas induzindo-as a isso através de mecanismos sutis de convencimento e persuasão.
CONCLUSÃO
Temos que questionar a "caridade". Será que o modelo de "caridade" que se defende é bom? Será que a aparente filantropia funciona? Ela não serve para propaganda de certos oportunistas? O dinheiro não é desviado ou superfaturado?
Em vez de ficar blindando os "médiuns espíritas" por causa da "caridade" ou da "verdadeira bondade", deve-se questionar tudo, até porque essa "caridade" não é muito diferente daquela filantropia espetacularizada, mas de resultados inexpressivos, que acontece, por exemplo, no Caldeirão do Huck.
Temos que questionar tudo e não usar a "caridade" como gancho para a idolatria e o fanatismo, e para prevenir que os oportunistas de hoje possam vender a imagem, amanhã, de pretensos santos. Esquecemos que Chico Xavier e Divaldo Franco foram dois oportunistas a serviço da deturpação do Espiritismo. O risco é de, daqui a quatro décadas, só nos lembrarmos de Luciano Huck como o "santo" que só pensou no "amor ao próximo".Convém evitar tais idolatrias, para evitar desilusões.
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