DIVALDO FRANCO DEMONSTROU POSTURAS BASTANTE CONSERVADORAS. NÃO SERÃO SEUS FÃS QUE O OBRIGARÃO A ABRIR MÃO DISSO.
Dizem que existem dois tipos de pessoas que os brasileiros adoram idealizar: mulher "boazuda" e "médium espírita". O chamado pensamento desejoso, em inglês wishful thinking, torna-se uma mania de idealizar seu ídolo não da maneira como ele é na realidade, mas da maneira que cada admirador gostaria que fosse.
No "espiritismo", o wishful thinking anda de mãos dadas com a fascinação obsessiva, a memória curta, o deslumbramento religioso e as sensações alucinógenas do "bombardeio de amor". Com isso, "médiuns" que, na verdade, desfiguraram de forma irresponsável o legado de Allan Kardec são convertidos em pretensos semi-deuses, mesmo com a disfarçada capa da "humildade" e da "simplicidade", já que em certos contextos "pessoas simples" também são um tipo de semi-deuses.
O apoio do "médium" baiano Divaldo Franco à Operação Lava Jato, definindo toda a sua equipe como "Missionários da Ordem do Bem", protegidos pelo "Plano Superior Divino", foi claro. Se já víamos "espíritas" tratando os protestos do Movimento Brasil Livre - de "iluminados" como Kim Kataguiri e Fernando Holiday - como "início da regeneração" e os palestrantes "espíritas" dizendo para os infortunados aceitarem o sofrimento, o dado de Divaldo soma-se a essa antologia direitista.
COM VOCÊS, OS "MISSIONÁRIOS DA ORDEM DO BEM", COM DELTAN DALLAGNOL NO MEIO, DE ÓCULOS.
Não há como escapar disso e os esquerdistas ficaram com a pulga atrás da orelha quando viram Divaldo Franco homenageando o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., já reconhecido com um dos políticos mais desastrados que governaram a capital paulista.
Como maridos que não conseguem admitir que estão sendo traídos quando se fala que aqueles "primos" que a esposa visitava eram amantes e não parentes, os esquerdistas se recusam a reconhecer que Divaldo Franco adota posturas de direita. Ele, que personifica um idoso de trejeitos antiquados, orando como se fosse um tribuno da República Velha, pregando como se fosse um professor dos velhos padrões educacionais hierarquizados, os mesmos defendidos pela Escola Sem Partido.
Os esquerdistas vão nas redes sociais e nos fóruns de Internet se dizerem perplexos e não acreditando das atitudes de Divaldo. Há quem também não acredite que Francisco Cândido Xavier apoiou a ditadura militar, que aquilo era recurso para agradar o governo e não ser preso etc. Sempre se arruma uma desculpa para tirar um "médium" da responsabilidade de seus piores atos.
Isso é wishful thinking. É aquela mania de não ver a coisa como realmente é, mas como se deseja que fosse. Muitos desejavam ver o conservador Chico Xavier vestindo a capa de progressista, e sonham em vê-lo voltando à Terra, em espírito, voando como super-homem, no caso do ex-presidente Lula for preso, para quebrar o cadeado da cela, carregar o petista no colo e recolocá-lo no Palácio do Planalto, dizendo: "Vá, irmão, vá governar essa gente querida de Deus Todo-Poderoso!".
Quanta ingenuidade. Confunde-se misericórdia com permissividade e a bagunça em que se situa o nosso país se deve por tantas demonstrações de pensamentos desejosos. No caso do "espiritismo", permitiu-se que a doutrina virasse uma bagunça e, pasmem, um "reservatório" de energias negativas, tamanha a sucessão de desonestidades, ambições, arrivismos e dissimulações.
Que não se deva ter ódio dos "médiuns" e outros deturpadores, tudo bem, isso é fundamental. Mas transformar o "espiritismo" brasileiro num abusivo laissez faire como se perdoar fosse sinal verde para se fazer o que quer, é uma leviandade sem tamanho, que acaba ofendendo seriamente a memória do pedagogo francês Allan Kardec, que com toda a certeza reprovaria 99,9% do que é feito no Brasil em seu nome.
NEOPENTECOSTAIS FORAM ALIADOS E SÃO QUESTIONADOS; "ESPÍRITAS" NUNCA FORAM ALIADOS E SÃO POUPADOS
As esquerdas, tomadas de um misto de wishful thinking e fascinação obsessiva pelos "médiuns espíritas", não conseguem perceber as coisas e ignoram até mesmo as lições que tiveram depois que as seitas neopentecostais romperam com as esquerdas depois de uma breve aliança com Lula.
As seitas neopentecostais podem ser conservadoras, mas durante um breve momento se aliaram com o Partido dos Trabalhadores, por condições e interesses diversos. A Igreja Universal do Reino de Deus, através da Rede Record (atual Record TV), contratou alguns jornalistas que também são blogueiros de esquerda, entre eles Paulo Henrique Amorim, filho do jornalista autenticamente espírita Deolindo Amorim.
O rompimento se deu durante o segundo governo Dilma Rousseff e num momento de séria crise social. As seitas neopentecostais também não estavam gostando das transformações sociais profundas e desembarcaram da base aliada do PT, se tornando os primeiros a clamar pela saída da presidenta, e, depois dela, defender pautas retrógradas como o fim da ideologia de gênero, o combate generalizado ao aborto e ao obscurantismo religioso da Escola Sem Partido.
As esquerdas perceberam isso rapidamente e passaram a reagir, investigando aspectos sombrios de políticos neopentecostais e acompanhando incidentes desastrosos envolvendo vários deles. Passaram a divulgar até mesmo denúncias vindas de Portugal acusando a IURD de ter praticado tráfico de crianças para aquele país.
No caso dos "espíritas", porém, a situação foi surreal. Os "espíritas" nunca foram aliados dos movimentos de esquerda, nunca defenderam as forças progressistas, apenas exercendo relações diplomáticas com os governantes do PT, sem no entanto ter qualquer tipo de cumplicidade. Mesmo a superestimada relação do "médium" goiano João de Deus com Lula, na verdade, nunca passou de uma correta, porém indiferente, diplomacia.
Os "espíritas" eram claramente blindados pela Rede Globo de Televisão. O filme As Mães de Chico Xavier foram co-produzidos pela Globo Filmes e as esquerdas morderam a isca dos boatos de que a grande mídia (?!?!) estaria boicotando o filme. Teve gente que acreditou que a própria Globo estava boicotando o filme, com elenco e narrativa de novela "global". Imagine a Rede Globo boicotar uma obra cinematográfica da própria empresa! Não faz o menor sentido.
Os "espíritas" foram os primeiros a apoiar a Operação Lava Jato e os protestos dos "coxinhas" e, com o impeachment e o governo Michel Temer, foram apoiar, mesmo de forma mais sutil, a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, medidas que dão fim a muitos direitos dos trabalhadores.
Só que, neste caso, as esquerdas se comportaram como aquele sujeito que pensa que a mulher que o despreza mas ele imagina que ela está apaixonada por ele só porque recorreu a este por alguma formalidade. Os esquerdistas passaram a cortejar os "espíritas", como fazem com o "funk" - outro fenômeno blindado pela Rede Globo - , achando que eles estão apaixonados pela causa esquerdista. Mas não estão.
O pensamento desejoso que se desenvolveu em torno de Chico Xavier e Divaldo Franco criou aberrações como ver, na mídia esquerdista em que se questiona até mesmo o próprio esquerdismo, textos evocando esses dois "médiuns" de direita. O dado constrangedor é que os artigos "espíritas" publicados na mídia esquerdista corroboram muitas das fantasias, ilusões e perspectivas trazidos por uma concepção que já é trazida pela Rede Globo que promoveu esses "médiuns".
Ironicamente, a Globo fortaleceu os mitos de Chico e Divaldo para concorrer com os neopentecostais. Era uma estratégia de criar ídolos religiosos "ecumênicos", que tivessem apelo popular e produzissem a catarse da comoção pública com paradigmas de "caridade" e "bondade humana" fajutos, mas suficientes para seduzir multidões. A "filantropia" de Chico Xavier e Divaldo Franco não é muito diferente do que faz, hoje, Luciano Huck.
É, portanto, surreal que os esquerdistas cortejem ídolos religiosos protegidos da mesma Rede Globo que eles tanto questionam e combatem. Não conseguem explicar seu apreço aos "médiuns espíritas" e também não conseguem entender por que eles são figuras tão convictamente conservadoras.
Divaldo Franco apoiou a Operação Lava Jato, apareceu ao lado de João Dória Jr., apoiou a "farinata", acolheu o guru dos "coxinhas", Sri Prem Baba. Chico Xavier sonhava com um futuro presidente com as caraterísticas de Aécio Neves ou Luciano Huck. João de Deus sonha em ver Sérgio Moro presidindo o Brasil. O "Correio Espírita" manifestou-se homofóbico. Os "espíritas" como um todo reprovam o aborto até em casos de estupro e riscos à saúde da gestante.
Não se pode idealizar os "espíritas", muito menos os "médiuns", querendo que eles tenham a postura progressista do seguidor. Isso é uma atitude que revela o quanto os adeptos dos "médiuns" vivem em tamanha ilusão, caindo em atitudes ridículas, sem saber.
Esse é o preço do wishful thinking: o choque de realidade que ainda recebe a resistência de pessoas que preferem viver na zona de conforto dos seus sonhos. Traídos pelos "espíritas", os esquerdistas, se somando aos espíritas autênticos de vontade débil, que acreditam ingenuamente que os "médiuns", de formação roustanguista, iriam recuperar as bases kardecianas originais, vão ainda mais longe achando que os "médiuns" blindados pela Globo irão recolocar Lula no poder.
Com isso, acabam cometendo uma luta desnecessária entre ilusão e realidade, quando a ilusão se torna o combustível da fé religiosa e o "acreditar" passa a ter mais importância que o "saber". Os esquerdistas acabam, como no caso dos funkeiros que comemoram suas vitórias na Globo e abraçados aos coxinhas, sendo traídos também pelos "médiuns espíritas", que sonham em ver um candidato liberal, mais apropriado para seus paradigmas religiosos, governando o Brasil.
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