segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Confusão na convenção do PSDB. Cadê a fraternidade?
Comparado com o "espiritismo" brasileiro quanto à blindagem - se bem que os "espíritas" já obtém larga vantagem - , o PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira (que, apesar do nome, segue um perfil neoliberal e ideologicamente conservador), elegeu seu novo presidente nacional.
Dando fim à gestão de Aécio Neves - figura adorada pelos "espíritas" e que tinha recíproca admiração por Francisco Cândido Xavier (o "médium" sonhava com um líder político com as caraterísticas que ele mesmo, no final da vida, viu em Aécio) - , o católico Geraldo Alckmin, um dos membros da Opus Dei (corrente católica neomedieval, surgida na Espanha do ditador Francisco Franco - curiosa ironia, esse nome), foi eleito presidente do partido.
Os adeptos de Aécio Neves se esqueceram dos "princípios de fraternidade" e iniciaram um protesto, seguido de um bate-boca e ameaça de agressões, em vez de "orar em silêncio" pelo destino futuro de seu ex-comandante. Mas também até os adeptos de Chico Xavier adoram algum desentendimento, seja interno, como no caso de dizer se ele era ou não autor das supostas profecias da "data-limite", ou externo, quando reagem rispidamente a qualquer questionamento ao "médium" mineiro.
A ameaça de declínio político do senador mineiro, que perdeu o comando do PSDB, pode também representar o fim da realização de um sonho de Chico Xavier, que desejava que o futuro do Brasil estivesse nas mãos de um líder com perfil liberal, relativamente jovem e comprometido com ideais conservadores associados à paz e à solidariedade dos povos.
Aécio Neves, que visitou Chico Xavier no final de vida do "médium", se sentiu identificado com ele. Chico teve a mesma retribuição, vendo em Aécio o possível líder que em 1952 havia sido descrito por mensagem atribuída ao suposto espírito André Luiz. A aparente previsão foi divulgada no "centro espírita" Jesus de Nazareno, em Congonhas (MG), em 23 de dezembro de 1952.
Na época do falecimento de Chico Xavier, Aécio Neves - amigo de outro figurão comparado, desta vez em suposta filantropia, ao "médium", o apresentador Luciano Huck, outro fã ardoroso do religioso - havia dado depoimentos entusiasmados sobre o beato de Pedro Leopoldo e Uberaba:
"Chico Xavier é uma referência única de trabalho e solidariedade não só para os mineiros, mas para todos os brasileiros. Mesmo estando em estágio avançado de sua doença, ele continuava recebendo peregrinos que viajavam para encontrá-lo. Ele será sempre um exemplo de vida e humanidade muito importante. Ele era uma figura muito confortadora para todos, independente da religião de cada um".
"Em sua grandiosa simplicidade, ele será sempre uma referência para todos que, de alguma forma, têm responsabilidade pública. Minas, o Brasil, o mundo ficou menor com a morte de Chico Xavier".
O SONHO DE CHICO XAVIER DE VER UM CONTERRÂNEO LIBERAL GOVERNANDO O "CORAÇÃO DO MUNDO" E "PÁTRIA DO EVANGELHO" ESTÁ CADA VEZ MAIS DISTANTE. NA FOTO, AÉCIO NEVES DANDO ENTREVISTA COMO EX-PRESIDENTE NACIONAL DO PSDB.
Aécio Neves é mineiro como Chico Xavier e estabeleceu sua trajetória às custas de muita confusão. Ambos, político e "médium", são protegidos da mídia hegemônica e simbolizam valores sociais conservadores sob uma roupagem pretensamente moderna.
Apesar de seu perfil antiquado, das ideias ultraconservadoras e por ter sido um católico ortodoxo - que só cometia "heresia" na prática de paranormalidade, mais precária do que se imagina (na prática Xavier só se comunicava com os espíritos da mãe e de Emmanuel) - , Chico Xavier é visto como "moderno", "futurista" e até "progressista" por muitos seguidores, movidos pelos apelos emocionais associados a ele através das paixões religiosas.
A exemplo de Aécio, Chico Xavier cometeu muitos atos duvidosos, desde a apropriação de pessoas mortas em supostas psicografias, a exploração ostensiva e sensacionalista das tragédias familiares e o envolvimento em fraudes de materialização, não bastasse a própria deturpação do Espiritismo, com obras que deixariam envergonhado o próprio Allan Kardec, se então vivesse no Brasil.
Apesar desses atos, Chico foi blindado e, com a ajuda marqueteira do poder midiático associado à FEB, virou um "semi-deus" e um ídolo religioso marcado pelo fanatismo e deslumbramento de multidões, símbolo da catarse coletiva que retomou o poder em 2016, clamando por valores conservadores, pelo apego à fé em detrimento da razão e pela volta à submissão hierárquica, que na Economia é representada pelas "reformas" trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer.
Com a decadência política de Aécio Neves - que, se Chico estivesse vivo em 2014, teria, com certeza, apoiado o tucano na campanha presidencial - , a sociedade conservadora, na qual se insere o "movimento espírita", tenta algum esforço para lançar um candidato "jovem" e "liberal" com imagem de "conciliador" e defenda valores que apelem para o "respeito à fé" e o "apoio ao livre-mercado".
Resta agora Luciano Huck, o mais próximo do perfil sonhado por Chico Xavier (neste caso, como arremedo de filantropia que marca a trajetória de ambos), voltar atrás e reconsiderar sua candidatura à Presidência da República. Dizem rumores que sua aparente desistência é uma estratégia e que Luciano esperaria o povo pedir para ele ser presidente para ele se lançar, no próximo ano, oficialmente candidato. A "Pátria do Evangelho", neste caso, seria o "caldeirão".
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