quarta-feira, 11 de outubro de 2017
Jornal Nacional encerra edição dando "boa noite com fé". Apelo religioso?
Na edição do último dia 07 de outubro, o Jornal Nacional, apresentado pelos suplentes Rodrigo Bocardi e Sandra Annenberg, encerrou quando ele cumprimentou os espectadores com um apelo religioso: "Boa Noite com fé", disse Rodrigo.
O encerramento chamou a atenção do público e empolgou os católicos, fazendo com que, aparentemente, a Rede Globo de Televisão pretendesse usar a Igreja Católica para enfrentar os pastores eletrônicos das seitas neopentecostais, quase todos arrendadores de horários em emissoras concorrentes, pois o "bispo" da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, é dono de um grande complexo midiático em todo o Brasil, ancorado pela Record TV, de São Paulo.
No entanto, o que podemos inferir é que a Rede Globo deve ter o "espiritismo" como carta em suas mangas, não o Catolicismo, por ser este mais explícito. O "espiritismo" brasileiro já se constitui num "catolicismo à paisana", sem os aparatos e as formalidades caraterísticos da Igreja Católica.
Mesmo os ritos copiados do Catolicismo os "espíritas" usam sob outros nomes e sem um aparato mais pomposo: água fluidificada (a água benta dos católicos), o auxílio fraterno (confessionário), a doutrinária (missa), os "espíritos de luz" (santos) e os livros de Francisco Cândido Xavier (Bíblia), entre outros.
O "espiritismo" é blindado pela Rede Globo a ponto de haver filmes e novelas de temática "espírita". O próprio Chico Xavier virou hoje um ídolo popular por uma ajuda decisiva da Rede Globo, que o promoveu como pretenso filantropo nos moldes que o católico inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá. Ou seja, aquela imagem piegas de "bondade" e "caridade" que mais parece vinculada à mística religiosa mais retrógrada e sob uma narrativa digna de dramalhão novelesco.
A Globo não poderia apostar num padre católico de forma explícita - mesmo eventos como "Santa Missa ao Lar" ou fenômenos como os padres Marcelo Rossi e Fábio de Mello são cautelosamente promovidos pela emissora - porque isso poderia despertar a reação dos neopentecostais, que partiriam para cima da Globo numa disputa explícita de supremacia religiosa através da guerra midiática.
Com o "espiritismo", ele mesmo tomado de verniz "científico" e de falsa despretensão, a Globo pode investir num proselitismo religioso sem despertar desconfianças. Além disso, o suposto ecumenismo dos "espíritas" faz com que isso, aliado ao poder próprio da Globo, possa atrair mais fiéis que as seitas neopentecostais, sem que isso possa ser explicitamente percebido pelo público médio.
"Médiuns espíritas" são promovidos a sacerdotes e usados pela Rede Globo como mitos religiosos a concorrer com Edir Macedo, R. R. Soares, Silas Malafaia e companhia e tratados como se fossem um misto de "ativistas", "filantropos" e até mesmo dublês de filósofos, criando uma aura de "humildade", "heroísmo" e "despretensão religiosa" típicos aos que, fora do âmbito religioso, se trabalha em figuras de pouca confiabilidade como Luciano Huck, assumidamente fã de Chico Xavier.
O "espiritismo" brasileiro é blindado pela Rede Globo tal qual, até pouco tempo atrás, o PSDB era beneficiado. Escândalos e irregularidades de extrema gravidade trazidos pelos "espíritas" a partir da própria deturpação feita sobre o legado deixado por Allan Kardec nunca são devidamente investigados.
Isso se dá ao ponto de até a usurpação do hoje esquecido escritor Humberto de Campos pela obra igrejista de Chico Xavier manter a impunidade de décadas, sendo favorecida pela retirada dos livros originais do autor maranhense, para dificultar o acesso de muitos leitores à obra original de Humberto, cuja comparação com os livros "espirituais" iria desmascarar, de uma forma ou de outra, o conteúdo estes, que não condizem ao estilo original do escritor falecido há mais de 80 anos.
Portanto, o "boa noite" de Rodrigo Bocardi pode abrir caminho não exatamente à parceria da Rede Globo com a Igreja Católica, mas com o "movimento espírita", favorecendo interesses dos dois lados. Da Globo, por se aliar a uma religião sem formalidades, e dos "espíritas", por usar o poder midiático para tentarem se salvar de sua grave decadência.
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