Vídeo fundamental para análise de duas armadilhas que especialistas do mundo inteiro já estudam e que soam ainda inéditas no Brasil.
sábado, 29 de julho de 2017
sábado, 22 de julho de 2017
Até quando a Doutrina Espírita será refém dos deturpadores?
O "espiritismo" brasileiro vive a mais aguda crise de seus 133 anos, mas, a exemplo de 1975, quando o roustanguismo foi posto em xeque e, com a morte do ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, abrindo caminho para a "fase dúbia", que aposta num "roustanguismo sem Roustaing e com Allan Kardec".
Hoje a "fase dúbia" é que causa efeitos danosos, pois o roustanguismo não se podia disfarçar numa pretensa promessa de "recuperar as bases espíritas originais". Há constantes conflitos entre a exposição, aparentemente correta, da teoria original de Allan Kardec, com ideias e práticas trazidas pelos deturpadores da Doutrina Espírita.
Isso acaba resultando numa vergonhosa seletividade da apreciação da obra kardeciana, ou então na hipócrita postura de certos palestrantes em fingir reprovar a "vaticanização" e evocar até mesmo os alertas de Erasto contra os deturpadores do Espiritismo, sem perceberem que são os próprios oradores e escritores "espíritas" os maiores criticados pelo espírito do discípulo de Paulo de Tarso.
A recente bajulação de "espíritas" aos kardecianos autênticos, como Deolindo Amorim (pai do jornalista e "ansioso blogueiro" Paulo Henrique Amorim) e José Herculano Pires (sobrinho do contador caipira Cornélio Pires), sinaliza o auge dessa "postura dúbia", na qual os deturpadores do Espiritismo vão longe demais em suas contradições.
Isso porque o "espiritismo" virou um engodo que mistura valores igrejeiros com alguns postulados espíritas originais que conseguem ser veiculados. O evidente conflito que as ideias kardecianas têm com livros de forte acento católico como os de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco sinalizam esse gravíssimo problema, que hoje atinge níveis insustentáveis.
A crise é tão grande que os palestrantes "espíritas" praticamente estão falando apenas com seus fiéis incondicionais. Oficialmente, o número de pessoas que se dizem "espíritas", segundo o Censo brasileiro de 2010, nunca passou de 2% desde o primeiro recenseamento que incluiu tal informação, o de 1940, mas há quem diga que o número de adeptos do "movimento espírita" está diminuindo e estacionando em torno de 0,8%.
Em Salvador, reduto de Divaldo Franco e José Medrado, o "espiritismo" está decaindo, com a perda drástica de seguidores, forçando o fechamento de "centros espíritas" menores ou a redução de seus horários de funcionamento, para, ao menos, economizar energia elétrica e consumo de água.
Surgiram até mesmo rumores, espalhados por conversas nas ruas, de que o Centro Espírita Paulo e Estêvão - que há sofreu um "racha" na sua cúpula, com dissidentes migrando para um "centro" no bairro do Uruguai - iria reduzir suas instalações no bairro de Amaralina, nas proximidades da comunidade do Nordeste de Amaralina, dominada pela violência.
A decadência do "espiritismo" faz com que seus palestrantes caprichem no exército das "belas palavras", mas em muitos casos eles dão um "tiro no pé" quando, desde que Michel Temer assumiu o poder, eles passaram a fazer textos em apologia ao sofrimento humano, vestindo a camisa da Teologia do Sofrimento, já defendida, em outros tempos, por Chico Xavier.
Isso só agrava a crise no "espiritismo" e faz as pessoas se afastarem das "casas espíritas", constrangidas com tantos apelos para aceitar e se conformar com as dificuldades e desgraças que muitos sofredores acumulam sem solução nem compensação nas suas vidas.
As pessoas chegam a pegar mais de um ônibus e viajar para longe, procurando solução nas "casas espíritas", mas voltam para casa recebendo como respostas "espirituais" coisas como "não há problema algum" ou "você tem que ver a coisa sob outro prisma e ver que sua coleção de desgraças é ótima para sua vida". Como se sofrer demais só fizesse bem, ignorando que sofrimento demais também produz tiranos, criminosos, vigaristas e suicidas.
Só que esse quadro de crise extrema só consegue sinalizar que o "espiritismo" corre atrás do próprio rabo, pensando como "única salvação" o mesmo lero-lero dos deturpadores do Espiritismo prometerem "aprender melhor a Doutrina Espírita". Alguns deturpadores, exaltados no pretensiosismo, chegam a dizer, hipócritas, que "todos não devem só entender Kardec, mas viver Kardec, tirá-lo dos centros espíritas e vivê-lo 24 horas de cada dia da nossa vida".
É aquele velho papo das raposas que prometem reconstruir o galinheiro. E mais uma vez a esperança de que Allan Kardec seja melhor compreendido e adequadamente praticado será em vão. Quem garante, afinal, que a exposição correta da teoria espírita não coexista, mais uma vez, com delírios mistificadores como "crianças-índigo" e "colônias espirituais" (concebidas à maneira dos condomínios de luxo vistos nos classificados), ou na evocação de padres e até milagres católicos?
Mais uma vez o Espiritismo se torna, no Brasil, refém dos deturpadores. A ameaça que já havia sido alertada pelo próprio Allan Kardec e por mensageiros espirituais como Erasto foi muito bem sucedida no Brasil, a ponto dos deturpadores se acharem "mais espíritas do que Kardec".
O mais grave disso é que o poder dos deturpadores brasileiros cresceu tanto - e ainda sob o apoio de uma mídia hegemônica e ultraconservadora, como a TV Tupi, no passado, e, hoje, a Rede Globo - que eles invadiram a França, berço do Espiritismo.
É deplorável que os próprios deturpadores do Espiritismo tomem as rédeas da doutrina no Brasil. Eles viraram os "donos" do Espiritismo. Mancharam até o termo "kardecista" que, ironicamente, soa pejorativo entre os espíritas autênticos, que agora preferem ser chamados de "kardecianos".
E é preocupante ver que, mais uma vez, a promessa de "revalorização" do pensamento original de Allan Kardec seja dada pelos próprios deturpadores que o traem. Os deturpadores do Espiritismo, mesmo os "conceituados" Chico Xavier e Divaldo Franco, deturparam sabendo muito bem o que faziam, com longo histórico de traições ao pensamento kardeciano original e com obras de grande repercussão e produzidas por muitos anos para um grande público.
Daí que, se os deturpadores traíram os postulados espíritas originais, não foi por acidente, boa fé ou falta de tempo, mas porque fizeram com muita consciência de seus atos, em muitos casos agindo por má-fé, mesmo.
Por isso, esperamos o dia em que veremos quando o Espiritismo brasileiro deixará de ser refém dos deturpadores, que cometem traições de extrema gravidade mas cometem o cinismo de se dizerem "rigorosamente fiéis" à obra original kardeciana e ainda falam em "viver Kardec". Com os hipócritas no comando, não há como recuperar, para valer, o bom senso e a coerência original de Allan Kardec.
quinta-feira, 20 de julho de 2017
Um deturpador do Espiritismo não pode ser Patrimônio da Humanidade
Um artigo de um portal "espírita" veio com a seguinte "viagem": define o "médium" Francisco Cândido Xavier como um "patrimônio mundial da humanidade", às custas dos mesmos devaneios igrejistas e idólatras de sempre.
O texto, que chega a ser piegas de tão emocionalmente apelativo, evoca aquele mesmo mito de "filantropia" e "humildade" atribuído a Chico Xavier e que é uma imagem "glorificada", porém bastante confusa e cheia de contradições.
Aliás, o mito de Chico Xavier é movido por esse discurso de contradição, de contraste. O "ignorante" que "virou sábio", o "grandioso" que se manifestava pela "pequenez de sua alma", o "fraco" que "tornou-se forte e resistente a tudo" e tantas visões e ideias delirantes, sentimentaloides, tão piegas que chegam a soar cafonas.
Comparações com outros "iluminados" como Divaldo Franco e Madre Teresa de Calcutá - católica "adotada" pelos "espíritas" - também são tendenciosas e delirantes. Sempre aquela ideia igrejeira e um tanto adulatória de "caridade" e "evolução humana", baseado em clichês da adoração católica que remetem ao baba-ovo dos súditos medievais ao Clero que exercia seu poder ferrenho naqueles tempos.
Para piorar as coisas, sabemos que tanto Chico Xavier, Divaldo Franco e Madre Teresa, na verdade, escondem aspectos bastante sombrios que derrubam por definitivo tais mitos. Chico e Divaldo marcaram suas trajetórias como deturpadores graves do Espiritismo e Madre Teresa foi acusada de uma espécie de "holocausto do bem", alojando doentes e pobres em condições sub-humanas.
Além disso, a frequente acusação de obras fake nas atividades mediúnicas não envolve apenas "médiuns" tidos como "pouco conceituados" - o jogo de interesses no "movimento espírita" jogam a culpa apenas em "peixes pequenos" dos mais obscuros "centros espíritas", tão obscuros que são até inexistentes, porque nenhum "centro" quer assumir a culpa dos erros - , como se só a "Maricota da Alfaiataria" ou o "Zé dos Pneus" fizessem mediunidade fake.
As obras fake envolvem até mesmo os "conceituadíssimos" Chico e Divaldo, nos quais irregularidades de extremo grau de gravidade são observadas. O caso Humberto de Campos foi ilustrativo, com a "obra espiritual" não condizendo com o estilo original do autor maranhense.
Mas como a Justiça brasileira é seletiva, os "ancestrais" de Sérgio Moro inocentaram Chico Xavier, apesar do aberrante contraste entre o Humberto original e o "espiritual", fáceis de serem detectados por uma simples leitura de livros.
Não há como apelar, neste caso, para "mistérios" como a comunicação dos espíritos e a natureza da produção mediúnica, porque neste caso a disparidade de estilos, em que pesem semelhanças pontuais, é suficiente para observarmos a fraude na obra supostamente mediúnica.
Chico Xavier fez coisas muito negativas que eliminam qualquer mérito de adoração à sua pessoa. Produziu obras fake sob a colaboração de terceiros, mas sem excluir sua responsabilidade pessoal nas fraudes. A conclusão, mediante análises profundas nos casos e suas polêmicas, é que Chico Xavier realmente fez os pastiches literários, mas não sozinho, tendo a colaboração de Wantuil de Freitas, presidente da FEB e de uma equipe de redatores e consultores literários a serviço da FEB.
Além de deturpador do Espiritismo e criador de pastiches literários, Chico se apropriava de tragédias familiares, mediante a "caridade" de produzir "cartas mediúnicas". Além de serem obras fake, elas superexpuseram e prolongavam as tragédias familiares das perdas dos entes queridos, mesmo com a suposta manifestação dos mortos em cartas "psicografadas". Isso porque, embora o luto pareça "superado", as mortes dos entes passavam mais tempo virando assunto corrente em conversas.
Isso alimentava o sensacionalismo e comprometia a privacidade das famílias envolvidas. Além disso, há indícios de que Chico Xavier sentia um fetiche pelos mortos prematuros, e há uma maldição em torno de vários devotos ou simpatizantes do "médium" cujos filhos tiveram morte precoce: Augusto César Vannucci, Ana Rosa, Nair Bello e, mais recentemente, o desenhista Maurício de Souza.
Não há como apostar no tal "artigo espírita" que define, na cara dura, Chico Xavier como "Patrimônio Mundial da Humanidade". Isso é mais ou menos como dar um prêmio Nobel da Paz ao presidente Michel Temer. Que o articulista goste de Chico Xavier, é o seu direito, mas ele não pode sair por aí dando um título dessa envergadura de forma tão irresponsável.
Até porque, sendo Chico Xavier um deturpador gravíssimo da Doutrina Espírita - não é um ato acidental por suposta "falta de tempo", até pelo resultado farto de mais de 400 livros de uma carreira de 70 anos, grande demais para definir a deturpação como um "erro sem propósito" - , o artigo deslumbrado do blogueiro "espírita", na verdade, é uma avacalhação ao legado do pedagogo Allan Kardec. Um achincalhe (ou não seria aCHICAlhe?).
É até risível que o próprio blogueiro "espírita" já tenha falado mal da "vaticanização do Espiritismo", uma postura hipócrita, já que percebemos que muitos do que criticam essa "vaticanização" são os seus próprios praticantes, na tentativa de estabelecerem um falso vínculo com o Espiritismo autêntico e tentar impressionar a opinião pública.
Pois se o Espiritismo sucumbiu à "vaticanização", Chico Xavier é o maior culpado disso, ele tendo sido um católico ortodoxo em crenças, adorador de imagens, rezador de terços e devotos de sua corrente mais medieval, a Teologia do Sofrimento, algo nunca assumido no discurso mas claramente exposto em ideias e frases do "médium".
Além disso, Chico fez o Espiritismo sucumbir às armadilhas que haviam sido avisadas, infelizmente em vão, pelo espírito de Erasto, em mensagens publicadas na obra kardeciana. Vieram não só os falsos cristos e falsos profetas, mas o falso Kardec, o falso Erasto e outros a temperar a vaidade dos traidores da Doutrina Espírita, que são os primeiros a alegar "fidelidade absoluta" e "rigoroso respeito" à obra de Allan Kardec que não medem escrúpulos em trair de maneira voraz.
O próprio Chico Xavier se fez de falso cristo e falso profeta. Um falso profeta que se julgava "dono" do futuro da humanidade, a arriscar predições de ordem científica e geopolítica com graves erros de abordagem, como supor que eslavos pudessem viver no calor do Nordeste brasileiro ou o Chile fosse poupado dos mesmos fenômenos sísmicos e vulcânicos que pudessem eliminar do mapa o Japão e o Estado da Califórnia, nos EUA, partes do mesmo Círculo de Fogo do Pacífico do país sulamericano.
Mas também Chico era o falso cristo, sempre caprichando no seu coitadismo de mineiro que "comia quieto". Reagia com o vitimismo dos espertalhões que se faziam de vítimas, deixando a fúria para seus seguidores que, tomados de fanatismo violento, derrubavam a ilusão de que os seguidores do "médium" eram pessoas dotadas de "energias elevadas e positivas".
Há relatos de chiquistas que ameaçaram até de morte os contestadores dos supostos méritos de Chico Xavier. O falecido analista espírita (autêntico), Jorge Murta, havia recebido comentários bastante agressivos dos devotos do "médium". Os repórteres de O Cruzeiro que desmascararam Otília Diogo - parceira de Chico Xavier numa farsa de materialização da suposta Irmã Josefa - também receberam muitas ameaças, carregadas de fúria e de "inimaginável" rancor.
Chico também faltou com a palavra. Ele sempre dizia para ninguém "julgar quem quer que fosse". Ele julgou os humildes (sim, HUMILDES) frequentadores do Gran Circo Norte-Americano, que sofreu um incêndio criminoso de consequências muito trágicas, em sua temporada em Niterói, no final de 1961, de terem sido romanos sanguinários que viveram na Gália, no século II.
Tentando se livrar da culpa, Chico cometeu um agravante: atribuiu a acusação a Humberto de Campos, falecido há mais de 30 anos na ocasião do juízo de valor (dado em 1966), e muito mal disfarçado pelo pseudônimo de Irmão X. Essa leviandade, de alto teor imoral e ofensivo à memória de Humberto, se deu depois de Chico ter seduzido o homônimo filho dele com técnicas de love bombing (tipo mais perigoso de Ad Passiones, "apelo à emoção") e Assistencialismo, em 1957.
Com o mesmo julgamento de valor, mas envolvendo as vítimas do acidente com um avião da TAM, há dez anos, no Aeroporto de Congonhas em São Paulo, rendeu um processo judicial por danos morais. Como Chico Xavier, o "médium" Woyne Figner Sacchetin, de São José do Rio Preto, atribuiu a culpa ao pioneiro da aviação Alberto Santos Dumont.
Não há como relativizar isso e "admitir" que Chico Xavier "errou, mas merece todo o mérito de superioridade". É uma malandragem típica daquele aluno trapaceiro, desordeiro e de péssimo aprendizado que, por ser apenas um bom amigo de seus coleguinhas, recebe um "10" quando seu conceito nem merecia uma nota "2".
Além do mais, Chico Xavier pode ter seus adeptos e seguidores, mas eles não podem sair por aí se dizendo "espíritas autênticos", supor "fidelidade absoluta" a Kardec ou dizer que o "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba é Patrimônio Mundial da Humanidade. Isso é forçar a barra demais colocando Xavier acima do próprio Kardec, este sim um espírita mundialmente reconhecido.
Que os adeptos de Chico Xavier se contentem em vê-lo como apenas uma saudosa (para eles) celebridade de Uberaba, e como um católico informal de ideias medievais. Que os chiquistas parem de forçar tanto a barra, porque é inútil transformar o deturpador num "deus".
É constrangedor que o articulista houvesse escrito comentários contra a "vaticanização do Espiritismo" e até reprovado a ação de alguns chiquistas em transformar Chico Xavier em "deus". Ele deveria ver a trave no seu olho, antes de ver o argueiro de outrem. Em seu "artigo espírita", ao julgar Chico Xavier um "patrimônio mundial da humanidade", o blogueiro "espírita" fez um texto bastante "vaticanizado" que de certa forma "endeusou" o maior deturpador da história do Espiritismo.
terça-feira, 18 de julho de 2017
Analistas da mídia deveriam investigar as associações da Globo com "espiritismo" e "funk"
A Rede Globo é, eventualmente, alvo de muitos questionamentos e investigações. No último fim de semana, o Domingo Espetacular, da concorrente da emissora carioca, a Rede Record (hoje com o nome de fantasia de Record TV), publicou uma reportagem que, entre outras coisas, divulga que a Globo criou uma empresa-fantasma para uma conta bancária nas Ilhas Virgens Britânicas, mesmo reduto de depósitos bancários de políticos do PSDB.
O poderio da Rede Globo é tão descomunal que existe até uma frase irônica dizendo que "o Brasil é uma concessão da Rede Globo". Especialistas apontam que a influência da Globo é tão grande no inconsciente coletivo da população brasileira que ela atinge até mesmo uma parte daqueles que dizem repudiar a emissora.
Afinal, de que adianta cantar "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", se as formas de ver, pensar, falar, vestir, ouvir música, analisar o mundo etc são assimiladas justamente pelos programas da emissora? De que adianta falar mal da Globo se fala as gírias trazidas pela emissora, como "balada", difundida pelo programa Caldeirão do Huck?
Dois fenômenos que poucos imaginam terem um forte vínculo com a Rede Globo deveriam também ser investigados e analisados, o "espiritismo" brasileiro e o "funk". É certo que os dois tiveram uma ação "independente" do poder midiático, mas foi a partir da aliança com a Globo que os dois se fortaleceram e, contraditoriamente, tentam se "sobressair" e se "desapegar" de qualquer associação com o poder midiático que os fez crescer e se ampliar.
De que forma "espiritismo" e "funk" representaram uma excelente parceria com a Globo? Em ambos os casos, é um caminho de mão dupla, indicando uma cumplicidade que não deve ser subestimada. Não se trata de um meio "inocente" de divulgação do "amor espírita" e da "alegria do funk", mas de um processo de manipulação da população no qual a própria Globo realimentaria seu poder de influência e dominação.
Em ambos os fenômenos, "espiritismo" e "funk", nota-se um elemento muito comum: a apropriação do povo pobre, feita de maneira paternalista, espetacularizada e domesticadora. Há aspectos aparentemente opostos, como a "moralidade espírita" e a "sensualidade do funk" que, no entanto, se inserem num mesmo contexto conservador de dominação social pelo poder midiático através da exploração caricatural das classes mais pobres.
A Globo construiu uma narrativa atribuindo messianismo tanto no "espiritismo" quanto no "funk". Remoldou um ídolo religioso confusamente concebido, Francisco Cândido Xavier, com base no roteiro do inglês Malcolm Muggeridge, transformando-o no "filantropo Chico Xavier" que tão tolamente fascina muitos de seus seguidores e simpatizantes.
Já no "funk" a Globo também criou uma narrativa de "cultura das periferias" e seu arsenal financeiro é capaz de pagar seus intérpretes e propagandistas a se infiltrarem nos movimentos sociais de esquerda, de forma a desviar o foco e evitar os debates progressistas autênticos com a desnecessária "polêmica" do "funk" e suas baixarias.
As virtudes humanas acabam sendo transformadas em estereótipos. O "ativismo" do "funk" segue, rigorosamente, o mesmo discurso paternalista do projeto Criança Esperança e uma visão de "periferia" que parece ter surgido em alguma reportagem do Jornal Nacional. Mas o "espiritismo" também se apoia numa "filantropia de fachada" como a do mesmo Criança Esperança.
Chico Xavier, por sua vez, encarnou um protótipo de "homem caridoso" que parece ter sido concebido por algum roteiro de novela melodramática de época transmitido às 18 noras, a tal "novela das seis".
A Globo não esconde que trabalha estes dois fenômenos em suas atrações de entretenimento. Luciano Huck foi escolhido pela Furacão 2000 o "embaixador do funk". "Espíritas" exaltam a "importância da Globo" na divulgação da "doutrina espírita". Novelas inserem tanto temáticas "espíritas" como eventos de "funk" em seus enredos.
Mas isso não é coincidência. A Globo não está apropriando de dois fenômenos "independentes". Há fortes indícios de que ela e os dois fenômenos atuam juntos (quer dizer, cada um destes dois com a Globo) num processo de manipulação da opinião pública e do inconsciente coletivo, estabelecendo visões distorcidas relacionadas à caridade humana e à expressão cultural popular.
LIMITAR O PROGRESSO SOCIAL DAS CLASSES POPULARES
O processo das respectivas parcerias da Globo com "funk" e "espiritismo" visam tocar o "corpo" e a "alma" das classes populares, de forma a produzir um progresso social bastante limitado, que garanta a preservação dos privilégios das elites e, obviamente, do poderio da própria corporação midiática.
A figura do "médium espírita", transformada numa grande aberração, que perdeu o caráter intermediário para se tornar uma figura espetacularizada e dotada de culto à personalidade - apesar do verniz de "humildade" tão associado ao "médium" - , virou um dublê de pensador, de ativista e de filantropo para que verdadeiros pensadores, ativistas e filantropos não sejam apreciados pelos brasileiros.
Afinal, os verdadeiros pensadores difundem ideias que vão contra os interesses das classes dominantes, que promovem tantas desigualdades sociais. Os verdadeiros ativistas representam uma ameaça ao poder e os privilégios dominantes. Os verdadeiros filantropos simbolizam o mito de Robin Hood, de "tirar dos ricos" para dar aos pobres, além de, em vez de "dar peixe", ensinarem as classes populares a "pescar".
No "funk", também há uma preocupação com o controle social. A ideia é difundir, mesmo nos mais empenhados círculos de esquerda dos movimentos sociais, que "é melhor um povo pobre reclamando do que se mobilizando por melhorias", criando um processo lúdico no qual se superestima apenas meras questões comportamentais, enquanto se insere no povo pobre a "consciência" do "orgulho de ser pobre", impedindo as classes populares de reivindicar melhorias profundas.
A Globo trabalha, com "espiritismo" e "funk", um discurso tão sutil que quase ninguém percebe o "vírus global" nesses dois fenômenos, que conseguem se penetrar até em meios sociais aparentemente hostis ao poder da corporação da família Marinho. Mas a presença da Globo no "espiritismo" e no "funk" é certeira e decisiva no mecanismo de dominação e manipulação do povo em geral.
Os "médiuns espíritas" acabam tendo muitas utilidades. Sacerdotes sem batina, nomes como Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus, José Medrado e outros são utilizados para concorrer com os pastores eletrônicos de forma bem sutil. Sem a vestimenta católica e com um discurso "ecumênico", eles podem atrair para si pessoas de diversas religiões, fazendo com que o "espiritismo", promovido à "religião da Globo", tenha mais fiéis do que a Igreja Universal do Reino de Deus e similares.
Os "médiuns" também podem desviar a atenção da população para intelectuais autênticos que apontam problemas no poderio das elites, como tantos analistas políticos e midiáticos que o mercado não quer ver bastante populares.
Além disso, combinando mistificação religiosa, moralismo ultraconservador e uma retórica "digestível" à maneira dos "gurus" de auto-ajuda, os "médiuns espíritas" podem dominar multidões com seus "balés de belas palavras" e vender, sob o falso rótulo de "esclarecimento", dogmas religiosos medievais e preceitos moralistas que impedem a população de agir em prol de um progresso social mais aprofundado.
Desta forma, "espiritismo" e "funk" tentam restringir esse progresso a níveis toleráveis pelo poder das elites. Um povo pobre que se limita a rebolar, em vez de pedir, por exemplo, a reforma agrária. Ou um povo pobre que se limita a tomar sopinha, concedida pelos "médiuns filantropos", ou aceitar uma pedagogia nos moldes da Escola Sem Partido que a Mansão do Caminho e instituições "espíritas" similares já oferecem à população, uma educação sem estímulo à compreensão crítica da realidade.
Um povo pobre rebolando e tomando sopinha, em vez de lutar por reforma agrária e criar pequenas propriedades agrícolas que ameacem o poder dos grandes latifúndios é o objetivo da máquina da Globo, quando endeusa o "espiritismo" e seus "médiuns" associados à "filantropia de novela global" e quando exalta o "funk" como aquilo que as elites (mesmo as acadêmicas, que se dizem "de esquerda") esperam que seja a "verdadeira cultura popular".
"Espiritismo" e "funk" também são blindados pelo suposto vínculo com as classes pobres, que trata o povo pobre como troféu para cada um dos dois fenômenos, de forma a evitar críticas e questionamentos, mesmo os mais objetivos e consistentes.
Mesmo assim, é possível combater a complacência e não se iludir com instituições ou pessoas que se promovem às custas da associação com pessoas pobres sorridentes. Isso significa um paternalismo muito estranho e revela táticas muito sutis e traiçoeiras de dominação social e manipulação da opinião pública, através do apelo retórico do Ad Passiones ("apelo à emoção").
Por baixo dos panos, valores conservadores, estratégicos para o poder da Rede Globo e das elites associadas direta ou indiretamente a ela, são difundidos, como o machismo no "funk" e a apologia ao sofrimento humano, princípio da Teologia do Sofrimento, nos textos e palestras "espíritas" difundidos no Brasil.
Portanto, é preciso ter firmeza e objetividade, e é necessário investigar, sem medo, a ligação do "espiritismo" e do "funk" com a máquina do poder da Rede Globo. Evitar tal investigação, sob o pretexto de não mexer na zona do conforto da "bondade espírita" e da "alegria das periferias com o funk", seria deixar que o poder da Globo deixe um legado na população, mantendo assim a influência da família Marinho que poderá se renovar sob o primeiro sinal de decadência de seu "império".
Assim, deve-se investigar se há dinheiro da Globo financiando turnês de "médiuns" pelo Brasil e pelo mundo, ou quem é que patrocina os "bailes funk". E como entidades do "funk" e a Federação "Espírita" Brasileira atuam nesse processo de manipulação do inconsciente coletivo, a ponto de fazer as pessoas, mesmo as ditas "progressistas", adotarem uma visão bastante conservadora do que é "melhoria de vida" das classes populares.
quinta-feira, 13 de julho de 2017
"Caridade" defendida por "espíritas" é conservadora
"ESPÍRITAS" PRATICAM ASSISTENCIALISMO, QUE NÃO CURA A DOENÇA DA POBREZA MAS SÓ "ALIVIA" A DOR DA MISÉRIA EXTREMA.
No Caldeirão do Huck exibido há pouco mais de uma semana, houve o caso do vendedor de balas que sonhava ser juiz. Explorando dramas pessoais para reforçar sua imagem de "bom moço", Luciano Huck deixou passar uma certa ponta de cinismo: "A história é boa". O drama foi relatado com muitos momentos de intensos choros por parte do jovem vendedor, de origem humilde.
Os brasileiros ainda não conseguem entender o oportunismo de muitas pessoas que se promovem com a suposta proteção aos pobres. O Assistencialismo, medida que promove mais o benfeitor e até ajuda os necessitados, mas realiza ajudas pontuais, em baixa quantidade de pessoas e baixa qualidade de benefícios, ainda precisa ser informado para mais pessoas.
O Assistencialismo é uma "caridade" cujo valor está mais na "assinatura" do suposto benfeitor do que nos benefícios trazidos, muito poucos e medíocres. Pouquíssimos são os "emancipados", e, mesmo assim, de maneira mediana. E a maioria dos "benefícios" é provisória, como os mantimentos que terminam em duas semanas.
No caso dos mantimentos, ocorre até uma coisa desrespeitosa. Enquanto os pobres voltam a posição de carência anterior, os "filantropos" continuam comemorando "aquela caridade" que praticaram. Quanto cinismo, travestido de tantas "demonstrações de amor"!!
As pessoas ainda ficam presas às paixões religiosas. Até mesmo a turma do "não é bem assim", que tenta sempre arrumar um discurso "racional" para suas convicções. E, no "espiritismo" brasileiro, a "caridade" virou um escudo para proteger o estrelismo dos "médiuns" e fazer manter o culto à personalidade que eles recebem, sob o rótulo de "humildade".
A deturpação do Espiritismo é, assim, legitimada, e a "caridade" vira uma grande carteirada para que se permitissem as traições preocupantes feitas com o legado de Allan Kardec. Verdadeiras desonestidades doutrinárias são feitas, mas elas se deixam passar incólumes no Brasil porque as pessoas se rendem facilmente à paixão religiosa e sua cegueira emocional.
Alguns tresloucados até surgem, dizendo "Pouco importa a desonestidade ou não, tudo é amor!!", com um certo cinismo e uma cegueira emotiva das mais doentias. Pessoas que vivem a masturbação com os olhos das comoções fáceis, que sem querer acaba revelando o caráter sombrio das "estórias de superação": o fato de pessoas se divertirem às custas do sofrimento dos outros, mesmo daqueles que "conseguem sair" desse sofrimento.
Isso revela outro aspecto bem mais duro: a sociedade brasileira é ultraconservadora. Ela só aceita a "caridade" quando ela se submete ao institucionalismo religioso ou algo parecido. Uma "caridade" que tem mais a cara do "filantropo" do que uma marca de resultados transformadores. É certo que a retórica dessa "caridade" exagera, dizendo que ela é "transformadora" e "revolucionária", mesmo quando os resultados são medíocres e inexpressivos.
Vivemos numa sociedade moralista que, em parte, se traveste de "moderna" e "progressista" mediante diversas conveniências sociais. O Brasil é marcado pelo "jeitinho", pelo jogo de interesses que transforma pessoas antiquadas em "modernas" e faz causas novas sempre serem desfiguradas ao sabor dos interesses conservadores.
O "espiritismo" brasileiro é um exemplo. Da novidade originalmente lançada por Allan Kardec, a doutrina se reduziu a uma reles formalidade, a um jogo de aparências na qual seus palestrantes ignoram escrúpulos em produzir textos que se contradizem entre si, uns bajulando Erasto, outros elogiando Emmanuel, se valendo mais por palavras soltas e tendenciosamente utilizadas, como "solidariedade", "paz", "amor", "fraternidade" e "caridade".
No nível ideológico, o "espiritismo" brasileiro até regrediu em relação ao original francês. Enquanto a doutrina original de Allan Kardec seguia o rumo do Iluminismo e do Século das Luzes na França (um período de profundos avanços tecnológicos, científicos e culturais no país europeu do século XIX), o "espiritismo" brasileiro caminhou para trás, se aproximando mais e mais do velho Catolicismo jesuíta português, de moldes medievais, que vigorou no Brasil durante o período colonial.
A falsa imagem de "moderna" e "progressista" a que oficialmente está associado o "espiritismo" brasileiro é uma fantasia trabalhada pela grande mídia, que, com sorte, pode juntar em seu discurso uma estrutura verossímil de teorias e imagens que fazem com que essa visão seja amplamente aceita e garanta uma pretensa unanimidade e uma aparente estabilidade na opinião pública.
Mas isso não se condiz na prática, porque tudo no "espiritismo" brasileiro é conservador. O moralismo igrejeiro, popularizado pelas ficções "espíritas", e a espetacularização dos "médiuns", transformados em ídolos religiosos à maneira medieval, não raro personificando a condição de pseudo-sábios, comprova o quanto o "espiritismo" brasileiro é conservador, e, digamos, até mesmo ultraconservador.
Ideologicamente, a defesa do golpe militar de 1964, da ditadura militar, dos movimentos "Fora Dilma" e do programa do governo Michel Temer - as reformas trabalhista e previdenciária estão bem ao gosto dos "espíritas" - e as parcerias com veículos de mídia conservadores como TV Tupi e Rede Globo também eliminam a tão celebrada imagem "progressista" do "espiritismo" brasileiro.
A apreciação da Teologia do Sofrimento e seus mitos - "aceitar o sofrimento", "combater o inimigo dentro de você mesmo", "aguentar mais desgraças possíveis em troca de bênçãos futuras" - revela essa inclinação medieval do "espiritismo", nunca oficialmente constatada, pelo horror que os "espíritas" têm em ver a visão oficial e fantasiosa, que mostra um "espiritismo de conto de fadas", até porque a dissimulação e a aversão ao questionamento são caraterísticas comuns entre os "espíritas".
A situação do "espiritismo" é de tal forma tão aberrante que a Igreja Católica abraçou um progressismo que os "espíritas" não conseguiram abraçar. Ver que o papa Francisco adota posturas avançadas, ainda que dentro dos limites dogmáticos do Catolicismo, é algo para envergonhar os "espíritas", afundados na areia movediça do medievalismo.
E isso se tornou o preço caro da catolicização do Espiritismo no Brasil, porque isso contaminou a doutrina de tal forma que agora ser "espírita", no nosso país, está mais próximo do imperador romano Constantino do que de Allan Kardec, muito bajulado e quase nunca devidamente estudado. O "espiritismo" já se tornou até mesmo ultraconservador, e um dia a máscara de "progressista" irá cair.
No Caldeirão do Huck exibido há pouco mais de uma semana, houve o caso do vendedor de balas que sonhava ser juiz. Explorando dramas pessoais para reforçar sua imagem de "bom moço", Luciano Huck deixou passar uma certa ponta de cinismo: "A história é boa". O drama foi relatado com muitos momentos de intensos choros por parte do jovem vendedor, de origem humilde.
Os brasileiros ainda não conseguem entender o oportunismo de muitas pessoas que se promovem com a suposta proteção aos pobres. O Assistencialismo, medida que promove mais o benfeitor e até ajuda os necessitados, mas realiza ajudas pontuais, em baixa quantidade de pessoas e baixa qualidade de benefícios, ainda precisa ser informado para mais pessoas.
O Assistencialismo é uma "caridade" cujo valor está mais na "assinatura" do suposto benfeitor do que nos benefícios trazidos, muito poucos e medíocres. Pouquíssimos são os "emancipados", e, mesmo assim, de maneira mediana. E a maioria dos "benefícios" é provisória, como os mantimentos que terminam em duas semanas.
No caso dos mantimentos, ocorre até uma coisa desrespeitosa. Enquanto os pobres voltam a posição de carência anterior, os "filantropos" continuam comemorando "aquela caridade" que praticaram. Quanto cinismo, travestido de tantas "demonstrações de amor"!!
As pessoas ainda ficam presas às paixões religiosas. Até mesmo a turma do "não é bem assim", que tenta sempre arrumar um discurso "racional" para suas convicções. E, no "espiritismo" brasileiro, a "caridade" virou um escudo para proteger o estrelismo dos "médiuns" e fazer manter o culto à personalidade que eles recebem, sob o rótulo de "humildade".
A deturpação do Espiritismo é, assim, legitimada, e a "caridade" vira uma grande carteirada para que se permitissem as traições preocupantes feitas com o legado de Allan Kardec. Verdadeiras desonestidades doutrinárias são feitas, mas elas se deixam passar incólumes no Brasil porque as pessoas se rendem facilmente à paixão religiosa e sua cegueira emocional.
Alguns tresloucados até surgem, dizendo "Pouco importa a desonestidade ou não, tudo é amor!!", com um certo cinismo e uma cegueira emotiva das mais doentias. Pessoas que vivem a masturbação com os olhos das comoções fáceis, que sem querer acaba revelando o caráter sombrio das "estórias de superação": o fato de pessoas se divertirem às custas do sofrimento dos outros, mesmo daqueles que "conseguem sair" desse sofrimento.
Isso revela outro aspecto bem mais duro: a sociedade brasileira é ultraconservadora. Ela só aceita a "caridade" quando ela se submete ao institucionalismo religioso ou algo parecido. Uma "caridade" que tem mais a cara do "filantropo" do que uma marca de resultados transformadores. É certo que a retórica dessa "caridade" exagera, dizendo que ela é "transformadora" e "revolucionária", mesmo quando os resultados são medíocres e inexpressivos.
Vivemos numa sociedade moralista que, em parte, se traveste de "moderna" e "progressista" mediante diversas conveniências sociais. O Brasil é marcado pelo "jeitinho", pelo jogo de interesses que transforma pessoas antiquadas em "modernas" e faz causas novas sempre serem desfiguradas ao sabor dos interesses conservadores.
O "espiritismo" brasileiro é um exemplo. Da novidade originalmente lançada por Allan Kardec, a doutrina se reduziu a uma reles formalidade, a um jogo de aparências na qual seus palestrantes ignoram escrúpulos em produzir textos que se contradizem entre si, uns bajulando Erasto, outros elogiando Emmanuel, se valendo mais por palavras soltas e tendenciosamente utilizadas, como "solidariedade", "paz", "amor", "fraternidade" e "caridade".
No nível ideológico, o "espiritismo" brasileiro até regrediu em relação ao original francês. Enquanto a doutrina original de Allan Kardec seguia o rumo do Iluminismo e do Século das Luzes na França (um período de profundos avanços tecnológicos, científicos e culturais no país europeu do século XIX), o "espiritismo" brasileiro caminhou para trás, se aproximando mais e mais do velho Catolicismo jesuíta português, de moldes medievais, que vigorou no Brasil durante o período colonial.
A falsa imagem de "moderna" e "progressista" a que oficialmente está associado o "espiritismo" brasileiro é uma fantasia trabalhada pela grande mídia, que, com sorte, pode juntar em seu discurso uma estrutura verossímil de teorias e imagens que fazem com que essa visão seja amplamente aceita e garanta uma pretensa unanimidade e uma aparente estabilidade na opinião pública.
Mas isso não se condiz na prática, porque tudo no "espiritismo" brasileiro é conservador. O moralismo igrejeiro, popularizado pelas ficções "espíritas", e a espetacularização dos "médiuns", transformados em ídolos religiosos à maneira medieval, não raro personificando a condição de pseudo-sábios, comprova o quanto o "espiritismo" brasileiro é conservador, e, digamos, até mesmo ultraconservador.
Ideologicamente, a defesa do golpe militar de 1964, da ditadura militar, dos movimentos "Fora Dilma" e do programa do governo Michel Temer - as reformas trabalhista e previdenciária estão bem ao gosto dos "espíritas" - e as parcerias com veículos de mídia conservadores como TV Tupi e Rede Globo também eliminam a tão celebrada imagem "progressista" do "espiritismo" brasileiro.
A apreciação da Teologia do Sofrimento e seus mitos - "aceitar o sofrimento", "combater o inimigo dentro de você mesmo", "aguentar mais desgraças possíveis em troca de bênçãos futuras" - revela essa inclinação medieval do "espiritismo", nunca oficialmente constatada, pelo horror que os "espíritas" têm em ver a visão oficial e fantasiosa, que mostra um "espiritismo de conto de fadas", até porque a dissimulação e a aversão ao questionamento são caraterísticas comuns entre os "espíritas".
A situação do "espiritismo" é de tal forma tão aberrante que a Igreja Católica abraçou um progressismo que os "espíritas" não conseguiram abraçar. Ver que o papa Francisco adota posturas avançadas, ainda que dentro dos limites dogmáticos do Catolicismo, é algo para envergonhar os "espíritas", afundados na areia movediça do medievalismo.
E isso se tornou o preço caro da catolicização do Espiritismo no Brasil, porque isso contaminou a doutrina de tal forma que agora ser "espírita", no nosso país, está mais próximo do imperador romano Constantino do que de Allan Kardec, muito bajulado e quase nunca devidamente estudado. O "espiritismo" já se tornou até mesmo ultraconservador, e um dia a máscara de "progressista" irá cair.
terça-feira, 11 de julho de 2017
"Bondade" de Chico Xavier foi mito criado pela Rede Globo para competir com Igreja Universal
A Igreja Universal do Reino de Deus completa 40 anos e isso tem muito a ver com os rumos que o "espiritismo" brasileiro haviam tomado com uma pequena ajudinha da grande mídia. Sem mais a ação marqueteira de Antônio Wantuil de Freitas, o ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira que faleceu em 1974, outra estratégia tinha que ser feita.
Não se podia mais assumir o roustanguismo, apesar da evidente herança das ideias do advogado de Bordéus, pioneiro deturpador do Espiritismo, deixou na doutrina igrejeira brasileira. Tinha que haver uma postura contraditória e confusa, porém bastante agradável, que pudesse trazer às federações regionais uma autonomia e uma reputação iguais ou superiores às da direção nacional.
Morto Wantuil, seus herdeiros tiveram desavenças com os herdeiros do falecido, e houve também escândalos nos quais os espíritas autênticos saíram denunciando aqui e ali. Daí que se construiu a "fase dúbia" do "movimento espírita", na qual, para agradar os espíritas "científicos", uma boa parcela de roustanguistas, se distanciando do "alto clero" da FEB, fingiu se comprometer com a recuperação das bases kardecianas.
Daí o nome "kardecismo", que define a "fase dúbia". A ênfase no rótulo "kardecista" é tendenciosa e falsa, fundamentada no neologismo "kardequizar", uma corruptela da pedagogia católica do verbo "catequizar" (referente ao que os jesuítas fizeram com índios, negros e mestiços no período colonial), tanto que o espírita autêntico prefere ser considerado "kardeciano" e não "kardecista".
A FEB apenas era considerada como instituição, sem que seus dirigentes pudessem ter o poder, a projeção e a reputação comparáveis aos de Wantuil. O destaque era dado mais aos "médiuns", Francisco Cândido Xavier e o então emergente Divaldo Franco, que passariam a ser os "sacerdotes" desse roustanguismo enrustido, dissimulado através da tendenciosa apreciação da teoria espírita original e das bajulações feitas a Allan Kardec.
E aí entra o caso da Igreja Universal do Reino de Deus. O movimento neopentecostal, dissidente da Igreja Nova Vida, estava crescendo com os pastores eletrônicos - que usam a televisão para fazer pregações - R. R. Soares e Edir Macedo. O "missionário" R. R. (Romildo Ribeiro) fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus, mas foi seu cunhado e ex-assistente Edir que arrancou na dianteira.
A IURD já se revelava um projeto ambicioso e isso preocupava a Rede Globo de Televisão, emissora das Organizações Globo que estava em ascensão vertiginosa por causa da ditadura militar e que precisava exercer uma influência totalitária na formação de comportamentos e modos de vida da população brasileira. Se existe mídia hegemônica, a Rede Globo é o poder dessa mídia levado às últimas consequências.
FEB e Globo, pensando em expandir seus poderes, desfizeram a antiga animosidade e passaram a se tornar parceiras, criando um casamento feliz que dura até hoje. E precisavam reagir à ascensão de R. R. e, sobretudo, Edir, que pareciam, na época (idos de 1977-1978), criar um complexo midiático próprio.
O resultado veio mais tarde. No começo da década de 1990, Edir Macedo tornou-se dono de todo o espólio da Record, grupo midiático cujo núcleo central é a TV Record de São Paulo, a mais antiga emissora de televisão em atividade no Brasil.
Mesmo assim, já no final da década de 1970 a Globo precisava criar um ídolo religioso para fazer frente aos pastores eletrônicos, um "católico sem batina" que fosse "digerível" para o maior número de extratos sociais, com penetração até mesmo em ateus e esquerdistas, que em parte são também manipulados pela engenhosa máquina hipnótica da programação "global".
A "AJUDINHA" DO INGLÊS MALCOLM MUGGERIDGE
E foi aí que entrou Chico Xavier, pioneiro deturpador do Espiritismo no Brasil e antigo pupilo de Wantuil de Freitas. O "médium" mineiro já tinha um mito tendencioso, mas ele causava uma grande confusão por causa dos apelos sensacionalistas referentes à apropriação de nomes de escritores mortos ou de supostas práticas como a materialização de espíritos. Tais confusões chegaram a colocar o "médium" no banco dos réus, em 1944.
O mito tinha que ser relançado de maneira mais "limpa", embora o apelo das "cartas" atribuídas a parentes mortos também fosse um perigoso sensacionalismo. Em todo caso, para respaldar essa prática um tanto duvidosa, que expõe de maneira pitoresca as tragédias familiares, tinha que haver um discurso clean, que vendesse a imagem de Chico Xavier como um pretenso filantropo.
Esse discurso buscou inspiração no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), que o jornalista e ativista católico, o inglês Malcolm Muggeridge (1903-1990), fez para construir o mito de Madre Teresa de Calcutá, transformando-a num pretenso símbolo de "caridade plena". Esta imagem de Madre Teresa permanece, apesar de revelações recentes apontarem que ela deixava os miseráveis que aparentemente socorria em condições sub-humanas.
O roteiro de "caridade" envolvia uma narrativa "limpa" que produzia um apoio unânime de uma sociedade conservadora e beata, como é em boa parte o Ocidente e, principalmente, em todo o Brasil. A narrativa do "filantropo" segurando bebê no colo e oferecendo sopas para os pobres virou um paradigma de "caridade" bastante conservador, mas defendido com unhas e dentes pela mesma sociedade que se enfurece com governos de esquerda que propõem a inclusão social.
Isso porque a "caridade" religiosa é uma "ajuda ao próximo" que, em que pese os discursos de "transformação" e "promoção de qualidade de vida", só realiza ajudas pontuais, de resultados sociais ínfimos.
Ajuda-se os pobres sem mexer nas estruturas de desigualdades sociais, ou seja, sem ameaçar os privilégios dos ricos. Conservadora, a sociedade prefere uma caridade "modesta" que não mexe nos tesouros dos ricos do que governos do PT, por exemplo, que ampliam oportunidades para o povo pobre com medidas que atingem privilégios elitistas "sagrados".
Por isso faz muito sentido ver que a Rede Globo passou a gostar, e muito, de Chico Xavier e da figura do "médium" transformada em uma aberração surreal no Brasil, perdendo a função intermediária para ser o "centro das atenções", praticando o "culto à personalidade" e inspirando nos seus seguidores a "fascinação" e a "subjugação" que Kardec considerava tipos perigosos de obsessão espiritual.
Chico Xavier foi então remodelado rigorosamente com as mesmas receitas que promoveram Madre Teresa de Calcutá. É curioso até que os "espíritas" brasileiros, que adotaram Madre Teresa como se fosse um ícone de sua religião, não escondem suas comparações entre ela e o "médium" brasileiro, ambos exaltados em suas paixões religiosas.
Xavier foi ótimo, também, para o poder da Rede Globo de Televisão e um dos maiores êxitos de sua máquina manipuladora, juntamente com a vitória eleitoral de Fernando Collor de Mello, ex-presidente e atual senador, e o "funk carioca". Todos verdadeiros sucessos do discurso manipulador da Globo, capaz de influenciar até mesmo uma parcela daqueles que se dizem odiar a emissora e rejeitar seu poder.
Como o "funk carioca", Chico Xavier também tornou-se uma pretensa unanimidade pela associação "positiva" ao povo pobre. Infelizmente, o Brasil não consegue entender as armadilhas desse discurso, no qual a associação tendenciosa ao povo pobre, através de um paternalismo pretensamente "solidário", transforma qualquer explorador em "santo" ou algo parecido, pouco importando os interesses arrivistas e traiçoeiros que podem estar por trás.
No caso de Chico Xavier, ele virou um "filantropo de novela", e as pessoas que pensam compreenderem o mundo de maneira realista ao adorarem ele e outros "médiuns", como Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus, na verdade estão vendo os conceitos de "bondade" e "caridade" na maneira simplória das antigas novelas transmitidas pela Rede Globo.
Diante disso, a dócil imagem dos "médiuns" transformados em "filantropos" é boa demais para ser verdade. As pessoas adoram, se sentem felizes, mas isso é uma grande ilusão. Tudo isso partiu de um engenhoso discurso, favorecido pela narrativa hegemônica da Rede Globo, para usar os supostos médiuns como "santos sem batina", "sacerdotes" feitos para concorrer com os pastores midiáticos e suas pregações espetaculares.
Nos 40 anos da Igreja Universal do Reino de Deus, pode-se também lembrar os 40 anos do mito de pretenso filantropo de Chico Xavier, um mito fundamentado no Assistencialismo (a "caridade" que ajuda pouco e promove mais o "benfeitor" de ocasião), cuja retórica permitiu consolidar a deturpação do Espiritismo ao associar os deturpadores a uma suposta imagem de "bondade" e "amor ao próximo". E tudo isso com a ajuda manipuladora da Rede Globo.
domingo, 9 de julho de 2017
Áreas de "centros espíritas" tiveram ocorrência de assaltos
Que todo lugar é perigoso, isso é verdade. Mas as áreas de "centros espíritas", até pela natureza desleal da doutrina igrejeira, famosa por suas traições aos ensinamentos originais de Allan Kardec, só pode atrair energias ainda piores.
Nos últimos dias, duas áreas onde se localizam "centros espíritas" tiveram ocorrência de assaltos, em horários noturnos e diante de várias pessoas. Um assalto ocorreu numa mercearia no Jardim Icaraí, em Niterói, no Grande Rio, na noite do último dia 29 de junho, e outro, no último dia 05 de julho, num "centro espírita" de Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife.
Em Jaboatão a ocorrência foi mais trágica. Um grupo de assaltantes invadiu o Grupo Espírita Amor ao Próximo, localizado no bairro Piedade. O lugar ao redor parece ermo, mas a palestra estava lotada, feita pelo psicólogo Liszt Rangel. A palestra se encerrou cerca de 21 horas. Dois suspeitos teriam estado na palestra, fingindo-se espectadores.
Um PM, o cabo Alexandro Alves de Melo, de 29 anos, que assistia à palestra, tentou impedir o assalto, dando início ao tiroteio. Dois suspeitos foram mortos, mas o policial foi baleado e, gravemente ferido, morreu no hospital. Uma frequentadora, de 57 anos, também foi gravemente ferida e faleceu.
O GEAP contava com 150 pessoas assistindo à palestra na ocasião. Um suspeito de ser líder da quadrilha foi detido pela polícia. Outros suspeitos também foram presos. Armas e objetos roubados foram apreendidos. Algumas pessoas saíram feridas, sem gravidade, incluindo outros assaltantes.
Em Niterói, a mercearia Tay foi invadida por um assaltante, por volta da 19h50. Apesar da baixa iluminação, a área, o entorno das ruas Mariz e Barros e João Pessoa, é movimentado e fica numa área de muitos bares e restaurantes. O horário está dentro do período de retorno das pessoas do local de trabalho para casa.
O assaltante rendeu os funcionários, mas um deles conseguiu reagir, brigando com o ladrão. Uma funcionária chamada Mariana, de 19 anos, também tentou ajudar mas foi baleada e depois socorrida para um hospital. O bandido conseguiu fugir, e nada foi roubado. O local fica próximo a um "centro espírita", o Irmã Rosa, localizado numa das ruas próximas à esquina.
Em Niterói, ocorrências em áreas de "casas espíritas" são muito comuns. Em várias ocasiões, mesmo durante a tarde, assaltos já ocorreram na Rua Tavares de Macedo, em Icaraí, onde fica uma "livraria espírita". No Barreto, um membro de um "centro espírita" situado no bairro foi assassinado por um bandido na entrada do lugar, aparentemente sem roubar objetos.
O Instituto Dr. March, situado no Fonseca, também causa estranheza pelo lugar ao redor ser tomado pela decadência. Perto do local existem casas em ruínas, incluindo uma, de arquitetura modernista, que até tentou ser recuperada, mas o local virou um depósito de entulho e lixo.
O local também é cercado por áreas ermas, incluindo matagal e ruas vazias, já perigosas para se caminhar durante a tarde. Perto do Instituto Dr. March, dois assaltos já ocorreram em plena luz do dia, em dois dias seguidos, por volta de sete horas da manhã.
Em outros locais, há também indícios de mau agouro. No Rio de Janeiro, o Centro Espírita Leon Denis, em Bento Ribeiro, se localiza em área de ocorrências violentas, na região de Madureira. Recentemente, houve um assalto no Shopping Madureira, durante à tarde e, também no mesmo turno, um ex-dirigente de escola de samba foi assassinado, num horário de considerável movimento.
Em Salvador, o Centro Espírita Paulo e Estêvão, frequentado pelas elites da capital baiana, se localiza na proximidade do Nordeste de Amaralina, com altos índices de criminalidade. A Mansão do Caminho, fundada pelo "médium" Divaldo Franco, se localiza em Pau da Lima, área também de muita violência. O Centro Espírita Bezerra de Menezes (antigo Núcleo Assistencial Cavaleiros da Luz), no Uruguai, também se localiza em área de intensa violência.
Os "espíritas" alegam que a localização em áreas perigosas é uma forma de "estabelecer boas energias" nos lugares. Mas o efeito, na prática, é o oposto, até pelos conhecidos deslizes que o "movimento espírita" acumula no conjunto da obra, entre desonestidades e dissimulações, e que contribuem para atrair energias ainda mais negativas.
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Técnica duvidosa de análise de textos testou obras de Chico Xavier
O que é a nossa imprensa. Um texto de Yahoo! Finanças falando sobre o teste de um programa eletrônico para analisar o estilo de obras de Francisco Cândido Xavier começou mal com o título mostrando um erro em português, "Máquinas põe Chico Xavier à prova e resultado é surpreendente".
Sem qualquer questionamento, a reportagem, num contexto em que nosso jornalismo é tão decadente que apresenta textos gramaticalmente errados, desinformativos e até mentirosos, com a grande imprensa praticando até fake news, como se nota o noticiário político. O assunto, o uso da "inteligência artificial" para analisar os estilos de três supostos autores espirituais publicados pelo "médium", revela uma técnica bastante duvidosa e sem eficácia verdadeira.
Ela vem de uma máquina chamada Deep Learning, utilizada pela empresa Stilingue, para analisar obras dos três supostos autores, Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos. O processo se dá a partir da leitura digital de uma enorme quantidade de dados.
Nesse processo, o computador passa a "compreender" as relações entre os dados sem precisar saber o que é um substantivo e um verbo. Com isso, o programa tem condições de, por exemplo, "reescrever" a Bíblia, "reconhecendo" que, antes de cada frase, terá que colocar um número antes como indicativo de um versículo.
A técnica foi usada para tentar reconstituir o estilo do dramaturgo inglês William Shakeaspeare, e conseguiu-se imitar seu estilo, mas apresentando certa margem de erros. No teste feito com as obras de Chico Xavier, o aparelho apresentou "êxito", como se os estilos dos supostos autores espirituais fosse "realmente diferente".
Juntando um livro de cada um, tentou-se misturar os supostos autores de forma que um tentasse escrever a obra de outro. A máquina apontou suposta diferença de estilo, quando aparentemente um suposto autor não conseguiu reproduzir o estilo de outro. Como Emmanuel reescrevendo um livro atribuído a Humberto de Campos.
A TÉCNICA NÃO VALEU
A técnica deve ser um dos apelos desesperados para tentar salvar a reputação de Chico Xavier e tentar supor alguma autenticidade de suas obras supostamente mediúnicas. Ultimamente, devido aos escândalos causados por denúncias de fraudes sobre seus livros, a propaganda sobre o "médium" estava concentrada nas ações de "filantropia" (Assistencialismo) e nas "cartas" atribuídas a parentes mortos de famílias não-famosas.
Há vários pontos a analisar sobre essa técnica, que pode ser válida, por exemplo, para identificar doenças e genes, mas é bastante duvidosa quando a questão é analisar estilos literários. Sabe-se que um robô não pode definir se um estilo é diferenciado ou autêntico e, havendo margem de erros, é capaz também de apontar estilos diferentes confrontando dois livros de um mesmo autor em que um foi lançado na juventude e outro na fase mais idosa.
A técnica que avaliou os livros de Chico Xavier não garantiu autenticidade na suposta psicografia. O que podemos avaliar, a respeito da suposta diferença de estilos nos livros atribuídos a Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos se deve a algumas considerações:
1) Informações não-oficiais, porém verídicas, mostram que tais livros, na verdade, são uma autoria coletiva, mas de gente da Terra: Chico Xavier teria feito às obras com parceria, geralmente com o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas e vários colaboradores, entre redatores, revisores e consultores literários. Isso se constata porque Chico era incapaz de reproduzir estilos diferentes sozinho, mas também se atribuir autenticidade às "psicografias", apresentará irregularidades sérias em relação aos estilos originais que os autores alegados deixaram em vida.
2) Entendendo as supostas psicografias, evidentemente que Chico Xavier, considerando suas psicografias fake - classificação desagradável a muitos de seus fiéis, mas bastante realista - , teria que criar "estilos diferentes" para cada suposto autor, como o padre e "pensador espírita" Emmanuel, o médico e "cientista" André Luiz e a paródia igrejeira do falecido Humberto de Campos.
3) O uso de apenas três livros - os nomes das obras não foram citados na reportagem - é insuficiente para que os resultados fossem "surpreendentes". Além disso, os "acertos" são frágeis, em se tratando de um mero programa eletrônico, e não serão os algoritmos que irão afirmar que a suposta psicografia de Chico Xavier é autêntica.
4) O critério de colocar um autor para "reescrever" livro de outro é também duvidoso. Faltou também analisar a obra original de Humberto de Campos confrontada com a obra do suposto espírito. Evidentemente, o resultado apontaria diferenças de estilo se o Humberto de Campos original "reescrevesse" os livros do suposto espírito e vice-versa.
Nada substitui o conhecimento humano e, por isso, a análise de conteúdo, combinada com um profundo saber literário, já afirma que a literatura "mediúnica" de Chico Xavier é bastante irregular, apresentando exatamente as mesmas caraterísticas de erros estilísticos que as obras fake que se observam na Internet.
É bastante doloroso para muitos admitir que Chico Xavier foi o pioneiro dos textos fake, mas isso, infelizmente (para eles), é verdade, porque uma simples leitura é bastante para observar que os supostos autores espirituais não condizem nas "psicografias" porque, em que pese as eventuais semelhanças, elas escapam dos estilos e das personalidades originais dos mortos alegados.
Daí que não dá para apelar para tolices como "o espírito estava tão tomado de amor que se esqueceu do próprio estilo" ou "o espírito doou seu estilo para a caridade". Bobagens como "linguagem universal do amor" também condizem. É necessário abrir mão das paixões religiosas e admitir que obras fake também podem ser produzidas a pretexto de transmitir "mensagens positivas". Também pode-se usar o "amor" para enganar as pessoas.
quarta-feira, 5 de julho de 2017
Os equívocos da retórica do "inimigo de si mesmo"
Olhe só quem fala. Os "espíritas" costumam reprovar os argueiros dos outros, mas quantas traves tapam os seus olhos diante dos próprios erros. O mito do "inimigo de si mesmo", engodo pseudo-filosófico trazido pela Teologia do Sofrimento, a corrente medieval da Igreja Católica, é um claro exemplo de tantos equívocos doutrinários que o "espiritismo" brasileiro, afastado de Allan Kardec (apesar de toda bajulação a ele dirigida), comete em sua prática.
Essa ideia do "combate a si mesmo" é vendida como se fosse "lição de vida" e "mensagem de otimismo", sendo difundida, pasmem, sob o pretexto de "fortalecer a autoestima humana". Aí a gente pergunta: por que essa teoria busca "fortalecer a autoestima" se ela define a própria pessoa como sua pior inimiga?
É inútil os "espíritas" depois explicarem que isso é uma metáfora, porque, no primeiro momento, eles falam de forma tão taxativa e firme que o discurso parece ter feito ao pé da letra. Se eles são firmes na véspera e hesitantes na "hora H", é claro que não se deve esperar coerência alguma deles.
Os "espíritas" falam mal do modismo do "jogo da Baleia Azul", que, com muita razão, é um passatempo macabro e muito perigoso. Até aí, nada demais. O problema é que o próprio "espiritismo", com sua apologia ao sofrimento e seu discurso sobre "provações", também estabelece o seu "jogo da Baleia Azul", na medida em que aconselha os outros a "vencerem a si mesmos".
Há vários equívocos a respeito desse mito do "inimigo de si mesmo", observando o quanto hipócrita é fazer apologia do sofrimento humano e ignorar as necessidades individuais que não podem ser confundidas com as ambições dos arrivistas de plantão. Até porque o "espiritismo" protege muitos arrivistas, vide as boas vibrações que protegem, na Bahia, a Rádio Metrópole FM, de Mário Kertèsz, emissora que ele adquiriu com o dinheiro sujo da corrupção. Vamos lá:
1) A NEGATIVIZAÇÃO DA INDIVIDUALIDADE - Se o apelo fala em "combater a si mesmo", então há uma imagem negativa da individualidade, do "eu". Você não pode ser "eu", porque o "eu" é o "mal", o "eu" é o seu "inimigo", e, portanto, "combater a si mesmo" é enfatizado no discurso religioso, inclusive o "espírita", para que você deixe sua individualidade de lado e seja "mais um do rebanho".
2) AFRONTA À AUTOESTIMA - O discurso do "inimigo de si mesmo" não é um incentivo ao fortalecimento do amor próprio da pessoa, mas um repúdio a esta qualidade. Se a pessoa é "inimiga" de si mesma, ela não pode ter autoestima positiva, não há amor próprio porque a pessoa é sua própria rival. Portanto, esse discurso, que é vendido como se fosse "sabedoria", pode soar uma perigosa incitação ao suicídio, que é justamente a prática mais condenada pelos "espíritas".
3) PARA HAVER UM VENCEDOR, TEM QUE HAVER UM DERROTADO - Alguém gostou do discurso de "vencer a si mesmo"? Muitos moralistas saem exultantes. Mas a lógica desse discurso nada tem de generosa: para haver um vencedor, tem que haver um derrotado. Filosoficamente falando, para que a pessoa "venca a si mesmo", se ela sair vencedora, ela também vai sair derrotada.
4) QUEM PREGA ESSE DISCURSO NUNCA SOFREU NA VIDA - É fácil alguém falar em "inimigo de si mesmo", "vencer a si mesmo" etc. Mas quem prega isso não sabe o que é sofrimento extremo, e fica pedindo aos sofredores aquilo que estes já fizeram, e muito: mudar os pensamentos, abrir mão de muitos desejos, fazer preces, meter a cara nos esforços, ter jogo de cintura, aumentar a fé e o otimismo.
O moralista que prega o mito do "inimigo de si mesmo" nunca experimentou situações de impotência ante as adversidades da vida. Os "espíritas", então, que vivem comercializando palavras bonitinhas, até choram muito quando são duramente contestados, quando a concordância aos seus pontos de vista conservadores, que esperavam ser unânime, se torna, na verdade, próxima da nula.
Só esses quatro itens mostram o quanto esse mito de "inimigo de si mesmo" é um grande erro moralista, e apelar para tal ideia em nada contribui para fortalecer o ser humano. Uma leviandade que o "espiritismo" quis botar até na conta de espíritos que nunca defenderiam essa imoralidade, como o roqueiro Raul Seixas, usado em uma psicografia fake sob o codinome Zílio.
Não se diz a alguém que cai que ele é o próprio inimigo, porque a pessoa se desencoraja a se levantar. Afinal, se a pessoa é sua inimiga, então ela tem que repudiá-la. Até a frase da literatura kardeciana, "amai os vossos inimigos", é muito mal interpretada e facilmente distorcida, de forma que, nesta maluca teoria "espírita" brasileira, não há como "amar o próprio inimigo que está dentro de si", porque aí é um processo leviano de morde-e-assopra.
Os partidários do mito do "inimigo de si mesmo" demonstram, na verdade, que são os verdadeiros inimigos da Filosofia, corrente do conhecimento que tanto dizem defender, sem entender de forma correta e aprofundada.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
Espíritos atrasados dominam o Brasil sem tirar proveito de suas vantagens
O Brasil sofre com o auge da ação de espíritos atrasados, que sempre dominaram o país mas só nas últimas décadas se comprometem a defender profundos retrocessos sociais. O antigo pacto em que o "novo" sempre era acolhido de maneira diluída, sem representar uma ruptura real com o velho, deu lugar a uma forma escancarada de ultraconservadorismo, simbolizado pelo cenário político atual.
A constante ameaça de um desordeiro político como Jair Bolsonaro conquistar o planalto e da impunidade beneficiar os mesmos corruptos da plutocracia política, como Michel Temer e Aécio Neves, sinaliza sobretudo esse poder descomunal de espíritos atrasados que conquistaram o topo da pirâmide social brasileira, sem qualquer proveito nem compromisso social.
Sabe-se que o topo da pirâmide social no Brasil passa por um sinal avançado de perecimento. Pessoas que variam quanto a um atributo ou privilégio terreno, passando do porte de armas ao prestígio religioso, da toga ao diploma acadêmico, da fama e do dinheiro a uma simples popularidade doméstica nas redes sociais ou nos pátios escolares, são dotadas de poder, prestígio e até alguma imunidade social que os faz parecerem eternos e invulneráveis.
Em tese, espíritos atrasados têm a existência vital prolongada e os infortúnios minimizados como meios de fazê-los depurar suas almas e possuir algum aprendizado, mas não é isso que se está vendo. O que se vê é uma prepotência muito grande, que não raro causa conflitos, e uma intransigência diante de seu próprio desgaste social.
A seletividade social que acompanha até o obituário - há um grande medo da sociedade em ver assassinos ricos falecerem, apesar de dois famosos feminicidas e um latifundiário, já idosos, apresentarem indícios de doenças graves - parece proteger esse "mundo atrasado" que insiste em permanecer no Brasil, como se os anos 1970 nunca tivessem terminado em nosso país.
Há um grande movimento para retroceder o Brasil para os padrões coloniais do século XVIII ou, na melhor das hipóteses, na "democracia controlada" da Era Geisel (1974-1979). São retrocessos que se destacam no âmbito político e econômico, no qual as reformas trabalhista e previdenciária sinalizam uma permissividade aos abusos cometidos pelos patrões e a perda de direitos e garantias dos empregados.
A reboque disso tudo, as redes sociais na Internet viram redutos de truculência e os chamados cyberbullies, os brutamontes da Internet, chegam até mesmo a criar blogues ofensivos contra desafetos, agindo de forma impune e até apoiada por amigos. Eles também articulam ataques verbais em série e fazem popularizar pontos de vista reacionários, obscurantistas e até anti-populares.
Não raro, eles também difundem e disseminam preconceitos sociais graves, como machismo, racismo e homofobia. E isso se deu de tal forma que até celebridades, empresários e políticos passaram a expressar abertamente preconceitos sociais e defesas de profundos retrocessos, como apoiar padrões de trabalho que se equiparem à antiga escravidão, de triste lembrança histórica.
Os espíritos atrasados não saem de cena. A ponta da pirâmide social começa a arder em chamas e a exalar um fortíssimo cheiro de mofo tóxico. Mesmo assim, seus personagens não saem de cena, se envolvem em confusões, mas se mantém em postura invulnerável.
Vivemos um contexto em que a renovação da humanidade é comprometida quando os óbitos ocorrem quase sempre atingindo personagens associados a atividades progressistas, humanistas ou de vanguarda. Eles morrem, muitas vezes, de maneira prematura ou quando estão no auge de suas atividades em benefício da humanidade.
Enquanto isso, personalidades retrógradas parecem sobreviver a tudo, sem qualquer serventia, apenas para gozar dos privilégios que suas posições sociais lhes garantem. Suas colaborações só servem para reciclar ou ressuscitar valores decadentes ou obsoletos, causando um prejuízo para maiorias que pertencem às partes média e inferior da pirâmide social.
Não há um desfecho, um fim de ciclo, e espíritos retrógrados permanecem em pé, com uma longevidade que pode inspirar exemplos nas novas gerações, que acabam tendo como referências as causas obscurantistas que agora geram até catarse entre os jovens nas redes sociais da Internet.
O apego da sociedade brasileira em geral a valores associados ao status quo e ao rigor moralista faz com que crimes e delitos sejam tolerados quando cometidos por pessoas de elite. Quando muito, se reclama pelas costas, mas a sociedade oferece todo tipo de condição, mesmo por meio do conformismo, para que o "topo da pirâmide" permaneça imune com seus gravíssimos erros que são equivocadamente subestimados e socialmente aceitos.
Até no "espiritismo" brasileiro, uma das religiões que mais simboliza o "topo da pirâmide", apesar de seu verniz de "humildade", também faz das suas. Cada vez mais voltado à Teologia do Sofrimento, a religião igrejeira se concentra mais em pedir aos sofredores "paciência" e em combater o pensamento questionador e o debate aprofundado.
Pior: a impunidade, no "espiritismo", atinge plenamente os "médiuns" que produzem mensagens fake tidas como de "autoria espiritual", o que pode ser facilmente identificado pelas irregularidades de conteúdo, bastante graves. Existe até "médium" pintando quadro falso atribuído a um pintor morto e muitos acham "ofensivo" classificá-lo de falsário, pelo prestígio religioso que o cerca.
A blindagem que o "topo da pirâmide" recebe é tanta que situações surreais ocorrem. Se um feminicida rico que virou noticiário nacional quando enfrentou um júri popular morre de infarto de repente, a imprensa não noticia. Se um político de direita é envolvido em diversos escândalos de corrupção, ele dificilmente é punido. Se um "médium espírita" produz mensagem fake em escrita, pintura ou fala, ele não só fica impune como ainda é endeusado pela sociedade.
A permanência de espíritos atrasados no status quo do Brasil se dá devido a diversos fatores que envolvem estruturas oligárquicas, conveniências de todo tipo e um sistema moralista e elitista. A esperança vã de que os espíritos retrógrados possam progredir é bem intencionada mas não encontra efeito prático, porque eles continuam ligados aos mesmos interesses mesquinhos de sempre.
A influência deles já começa a afetar o Brasil, que pode andar para trás, num processo inimaginável de retrocesso histórico e social. O mofado cenário político brasileiro, vigente desde maio de 2016, reflete isso, além das ilusões de que o "topo da pirâmide" é um repositório de qualidades e atribuições vistas como "positivas" pela associação a qualidades apreciadas pelos conservadores, como "racionalidade", "pragmatismo", "carisma" e "visibilidade".
Algo deverá ser feito. Afinal, o Brasil está pagando caro pelo preço desse retrocesso político, no qual o mofo se rebela contra o fungicida. Essa volta para trás social, que poderá botar um autoritário no poder, pode trazer prejuízos gravíssimos para a população e nem a sociedade moralista e apegada ao establishment estará a salvo de futuras convulsões e vindouros impasses a ocorrerem no nosso país.
sábado, 1 de julho de 2017
"Espiritismo": a religião da hipocrisia?
Quanta hipocrisia acumulou o "espiritismo" brasileiro. Assumiu sua raiz em J. B. Roustaing mas jura que "sempre foi rigorosamente fiel a Allan Kardec". Pratica um igrejismo extremo, catolicizado, mas alega "cumprir respeito absoluto" aos postulados kardecianos.
A doutrina igrejeira, em 130 anos de existência, acumulou uma série de confusões e contradições que continuam sendo feitas até hoje. Seus palestrantes, autoproclamados "sábios" (mesmo com a modéstia de "não se assumirem" como tais), não medem escrúpulos para escrever em seus textos coisas contraditórias e elogiar personalidades antagônicas entre si. Tudo pela "fraternidade", pela confraternização do Bom Senso com o Contrassenso.
Os "espíritas" perdem uma boa oportunidade de ficarem sossegados com seu Jean-Baptiste Roustaing e sua vaticanização. Preferem, em nome de um pretensiosismo, fingir que "respeitam rigorosamente" os postulados kardecianos originais e seguem seu igrejismo sob a desculpa da "afinidade com os ensinamentos cristãos".
A imagem que o "espiritismo" tem na mídia parece ser de uma doutrina "limpa", "sóbria" e "transparente". É um "espiritismo de contos de fadas", que dá até numa estorinha: a de um pedagogo que, inspirado nos ensinamentos de Jesus e nos fenômenos da espiritualidade, criou uma doutrina que os brasileiros remoldaram para virar uma religiãozinha muito simpática.
Tudo parece simples, se não fosse o conteúdo que está por trás. Mesmo as atividades mais agradáveis das "casas espíritas" revelam o dado cruel da deturpação. O que muitos entendem como "espiritismo" é um "catolicismo paralelo", que não deve ser entendido como uma seita dissidente da Igreja Católica, como foram as seitas protestantes.
Afinal, os hoje conhecidos evangélicos buscavam se distanciar do Catolicismo, aproveitando apenas algumas de suas bases litúrgicas mas criando outras completamente diferentes, que não cabiam nos postulados católicos.
Em outras palavras, os evangélicos buscavam se afastar do Catolicismo. Já o "espiritismo" brasileiro segue um caminho inverso, surgindo, em tese, comprometido com a novidade trazida por Kardec, e só depois se aproximou das práticas católicas, a princípio por questão de sobrevivência (os "espíritas" eram reprimidos pela polícia, no passado), depois por pura convicção.
Os evangélicos queriam ser "menos católicos" ao se iniciarem como protestantes. Os "espíritas", no entanto, acabaram sendo "menos espíritas" do que se pensa e muito "mais católicos" do que podem imaginar. A desculpa da "afinidade com os ensinamentos cristãos" é pura frescura, porque a aproximação está numa concepção de Jesus trazida pelo Catolicismo medieval.
É só verificar os livros "espíritas", sejam romances, biografias, relatos diversos. A catolicização é evidente até entre os que dizem criticar a vaticanização. Criticam-se os "imperadores constantinos" que estão nos outros, mas não se avalia o "imperador constantino" que o palestrante "espírita" mantém dentro dele mesmo, ele que se julga "rigoroso cumpridor do legado kardeciano".
A emotividade, a devoção, a mitificação, o misticismo, tudo isso nas obras "espíritas" brasileiras, e nas de outros países que seguirem similar orientação, reflete uma inclinação cada vez mais intensa ao Catolicismo medieval trazido pelos jesuítas portugueses à então colônia. Tantos são os espíritos de jesuítas evocados para "proteção" das "casas espíritas".
Allan Kardec não queria fundar uma religião nem seus livros expressavam um igrejismo como se vê, de forma escancarada, pelos seus supostos seguidores brasileiros. A gafe com que muitos palestrantes e escritores "espíritas" cometem, num momento alegando "rigoroso respeito com Kardec", no outro praticando igrejismo contrário aos postulados espíritas originais, mostra o quanto o igrejismo cobra um preço caro ao "espiritismo" brasileiro.
Hoje o "espiritismo" vive um impasse e, com a erosão doutrinária, motivada por tantas denúncias, a doutrina brasileira se limita a ser um receituário moral e uma entidade assistencial. Sem resolver suas contradições, o "espiritismo" se perde sendo refém de seus próprios vícios e prisioneiro de suas más escolhas.
Diante disso, permanece a viciosa mania de manter contradições, com seus palestrantes e escritores, para não dizer os "médiuns", fazendo turismo pelo Brasil e até pelo mundo espalhando ideias contraditórias, num momento falando até em Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos e nos alertas de Erasto, e em outro falando até em "milagres", santos, anjos e na "sabedoria" de Emmanuel.
Isso se torna uma grande hipocrisia e faz o "espiritismo" uma religião que se rebela contra seu precursor, mas finge que mantém respeito rigoroso a ele. E é vergonhoso quantos "espíritas" pedem "respeito rigoroso" e "fidelidade absoluta", quando eles mesmos traem o legado kardeciano, quantos reprovam o "espiritismo à moda da casa" que eles mesmos praticam!
Daí que o "espiritismo" virou a religião da hipocrisia, através de mediunidades fake que contradizem aspectos pessoais dos autores mortos alegados, ou da vaticanização dos postulados, num processo agressivo de deturpação.
Não resolve que alguns deturpadores, só para tentar fazer bonito, criticarem a vaticanização dos outros, quando eles é que mais os praticam. Entender corretamente a teoria de Kardec ou apelar para todos "não só conhecerem Kardec, mas vivê-lo", é inútil porque isso se torna letra "desencarnada" porque os que mais pedem "fidelidade a Kardec" estão entre os primeiros a trai-los com a vaticanização que dizem reprovar, mas que aderem com muito ardor e paixão.