Não bastassem os incidentes trágicos que atingem a população no Complexo do Alemão, no Complexo da Maré e no entorno da Linha Vermelha, o Rio de Janeiro sofre com a escalada da violência que já eliminou as vidas de muitas gentes.
A conveniência dos interesses turísticos é que fez com que o Rio de Janeiro estivesse ausente no ranking de 30 cidades ou capitais mais violentas, seja do Brasil ou do mundo. Afinal, os noticiários, independente do nível ideológico dos mesmos, sejam de direita ou esquerda, afirmam que o Rio de Janeiro se comporta como se fosse a capital mais perigosa do Brasil e uma das cinquenta do mundo.
O Complexo do Alemão não é apenas um subúrbio qualquer, mas uma grande área que fica no caminho entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim, conhecido como Galeão, e o Centro do Rio, sendo um percurso obrigatório para quem vem de outras partes do Brasil e do mundo para se chegar à outrora conhecida Cidade Maravilhosa.
No entanto, o Alemão e a vizinha Maré, quase colada no outro complexo, não são as únicas áreas que sofrem graves surtos de violência carioca. Na Rocinha, uma gigantesca favela localizada entre Leblon, Gávea e São Conrado, estando no caminho entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca, também a violência já mostrou episódios bastante dramáticos, sendo um dos mais recentes o misterioso desaparecimento de um trabalhador chamado Amarildo.
Na última semana, um jovem ator foi assassinado por um desafeto por golpes de taco, em São Cristóvão. Na Cidade Nova, a sede da Prefeitura do Rio foi assaltada, havendo tiroteio, e os ladrões levaram uma modesta soma de dinheiro. Diante disso, é constrangedor ver que o Rio de Janeiro está em 23º lugar entre as capitais violentas, quase um índice paradisíaco. Nosso estatísticos parecem estar distraídos demais com o mar de Copacabana.
O Rio de Janeiro sofreu retrocessos profundos nos últimos 25 anos. O momento mais crítico foi durante a vigência do grupo político do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Sérgio Cabral Filho, o que fez com que o eleitor carioca médio tivesse voto podre, movido pelas conveniências políticas.
Da pintura padronizada nos ônibus (que derrubou o sistema através dos "ônibus iguaizinhos" com a "pintura de consórcios" que ainda confundem os passageiros e acobertavam a corrupção político-empresarial) aos esquemas de propinas com empreiteiras, o grupo político de Paes provocou uma falência financeira do Estado do Rio de Janeiro e sua capital, mas também mostrou o erro dos cariocas em elegerem um candidato movidos pela emoção.
Foi assim quando o inexpressivo político Eduardo Cunha foi eleito "em nome da moralidade" e a catarse coletiva permitisse vitórias eleitorais a qualquer reacionário da família Bolsonaro, revelando o quanto os cariocas chegam mesmo a arruinar o resto do Brasil diante da combinação da catarse com o pragmatismo (que é a mania de valorizar não coisas melhores, mas aquilo que "atende o básico").
Culturalmente, o Rio de Janeiro sofre a tirania da Rede Globo, a opção "teocrática" da Record Rio, e derrubou a MPB com a supramacia do "funk" (caminhando para ser a axé-music carioca) e o "sertanejo", enquanto o rock, símbolo da cultura arrojada juvenil, sucumbiu ao ridículo sob o comando midiático da Rádio Cidade, que saiu do FM mas ainda é transmitida pela Internet, e reduziu a divulgação do rock à mesmice do hit-parade.
Há um cenário sociológico estranho no Rio de Janeiro, em que a população em sua maioria confunde precaridade com simplicidade, modéstia com mediocridade, e mistura prepotência com pragmatismo, tentando impor sua decadência cultural ao resto do país.
A mania do Rio de Janeiro, mesmo em sua decadência, virar "modelo" para o Brasil teve seu efeito nefasto quando Eduardo Cunha, eleito deputado federal, passou a presidir a Câmara dos Deputados, impondo uma pauta reacionária que se tornou conhecida como "pauta-bomba" e que foi o embrião das reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer.
Aliás, Cunha contribuiu para a derrubada do governo Dilma Rousseff através de um intrincado jogo de intrigas. causando sérios problemas no cenário sócio-político. A influência megalomaníaca da Rede Globo também criou uma catarse coletiva que fez muitos brasileiros pedirem, "se preciso", uma intervenção militar para prender Lula e Dilma, colocando um ditador no poder.
Devido a esse "pragmatismo carioca", setores da sociedade brasileira passaram a defender até a redução dos salários, sob a desculpa de "ensinar o povo pobre a gastar", além do fim dos direitos trabalhistas e das garantias sociais, sob a desculpa da "austeridade" e do "combate à crise". Tudo porque prevaleceu o princípio carioca de que o Brasil tem que se contentar com o "básico", dentro daquela velha "síndrome de vira-lata".
No "espiritismo", o Rio de Janeiro é "protegido" pela famosa "colônia espiritual" de Nosso Lar, que os "espíritas" acreditam se localizar no céu da Região Metropolitana carioca. Há também uma rádio "espírita", a Rádio Rio de Janeiro, e um periódico, o "Correio Espírita", que "zelam" pela "energia espiritual" do Grande Rio.
Como se vê nesta confusa doutrina igrejeira e roustanguista, o Rio de Janeiro não poderia estar além de energias contraditórias e confusas, que fazem com que o Estado e sua capital sucumbissem até mesmo a um provincianismo que nem o isolado Estado do Acre vive mais.
Enquanto isso, moradores são vítimas de uma violência sem fim, sem que as sucessivas mortes coloquem o Rio no ranking de cidades mais violentas, o que seria um alerta para o mundo inteiro. Para o "espiritismo" brasileiro, então, isso não vem ao caso: talvez somente os "romanos" sejam vítimas desta violência, por causa dos tais "resgates morais"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.