sexta-feira, 14 de abril de 2017
A diferença entre noção do erro e consciência do erro
Há uma grande diferença entre a noção do erro e a consciência do erro. Muitos dizem assumir que erraram, mas o que fazem é apenas ter noção do erro, mas não consciência dele. Mesmo afirmando que erraram, não querem sofrer os efeitos de seus atos equivocados e de suas decisões desastradas, não raro com consequências funestas aqui e ali.
O "espiritismo" é um exemplo ilustrativo, embora se veja exemplos de mera noção de erro entre aqueles que pertencem a elites abastadas e cometem crimes graves, como corrupção e assassinato. Diz-se, diante da constatação de culpa, que as pessoas "erraram" e "erraram muito", mas isso é insuficiente para livrar as pessoas dos efeitos de seus atos danosos.
Os "espíritas", que desde o começo optaram pelo igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, estão pagando o preço de tantas atitudes equivocadas, confusas, contraditórias e desastradas. O que há de palestrante e escritor "espírita" dizendo "nós somos os que mais erram", citando até a máxima de Jesus, "quem nunca errou que atire a primeira pedra", é de uma frequência surpreendente.
Aliás, o próprio fato de usar um ensinamento de Jesus revela arrogância. Afinal, o bordão "quem nunca errou na vida?" repercutiu mal de tal maneira que virou mais propaganda do erro do que algum esboço de arrependimento. que já tem gente começando a falar frases irônicas dizendo "lá vem o quenunca". E usar Jesus para essa verdadeira combinação de vitimismo e arrogância é dose para os leões das arenas romanas.
Em muitos casos, a pessoa que diz que "sabe que errou" é como um competidor que, denunciado por trapaça, não quer ser desclassificado. "Sei, fiz trapaça. Foi feio. Desculpem", diz o trapaceiro, na esperança de continuar como virtual campeão da prova, ou próximo disso.
Quantas pessoas "assumem seus erros" para não perder privilégios aqui e ali. A noção de erro nem de longe consiste numa demonstração de humildade, porque é apenas um esforço desesperado da pessoa que errou não ser responsabilizada pelos danos causados.
Os "espíritas", que mergulharam fundo na deturpação, não querem se afogar no mar de igrejismo. Apavorados, passam a bajular todo mundo: ateus, ativistas sociais, esquerdistas, religiosos de personalidade mais arrojada, pedagogos etc etc etc.
Metidos em sérias contradições, os "espíritas" estão tão perdidos na "floresta escura" da deturpação que a única solução que têm em mãos é justamente aquela que foi adotada há quatro décadas e que resultou na "fase dúbia" e suas contradições que provocam essa crise. É como se usasse a própria doença para curar os seus sintomas.
Pois foi na "fase dúbia" do "movimento espírita", surgida após a morte do ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que também se falou nos erros da deturpação da Doutrina Espírita, que geraram escândalos graves, e seus membros prometeram se esforçar na recuperação das bases doutrinárias de Allan Kardec.
E ai tudo se resultou nesse cenário que temos. Gente praticando igrejismo e dizendo que é "fiel a Kardec". Gente defendendo ideias que Kardec reprovaria, mas cobrando "coerência aos princípios da Codificação". Gente bajulando Erasto, mas contraditoriamente exaltando Emmanuel.
E aí, quando se critica os "espíritas", eles choramingam, dizem que "falharam", baixam a cabeça em silêncio esperando que alguma mão lhes passasse na cabeça, já que os "espíritas", mesmo deturpadores, têm sua imagem voltada ao "bom mocismo".
A noção de ter cometido um erro difere da consciência do erro porque esta pressupõe humildade e aceitação dos efeitos danosos para si. O sujeito que admite realmente um erro sabe dos prejuízos que causou, deixa de cometer o erro com a exata consciência do mal cometido. Já o sujeito que apenas diz que "reconhece seus erros", sem demonstrar um remorso de verdade, é aquele que não quer sofrer os efeitos do prejuízo causado.
O sujeito que realmente admite seu erro é um perdedor que assumiu sua derrota. O sujeito que apenas diz que "errou", como quem pergunta "quem nunca errou na vida?", é o competidor que não quer perder nem ser desclassificado.
E nós vemos o quanto os "espíritas" não querem perder a posse da palavra final. Roustanguistas nunca assumidos, acham que podem ser mais kardecianos que o próprio Kardec. Cometendo sérias e gravíssimas contradições, não querem sofrer os efeitos de suas posturas dúbias, nas quais dizem uma coisa ou fazem outra, ou dizem uma coisa e dizem outra.
Quão vergonhoso, por exemplo, é evocar o rigor metodológico de O Livro dos Médiuns e depois migrar para as invencionices delirantes de Nos Domínios da Mediunidade. Ou praticar o igrejismo para depois exaltar a ciência. Só um desfile de palavras bonitas e textos enfeitados com "boas mensagens" torna-se inútil, quando tudo isso é feito para acobertar um engodo de ideias sem nexo, contrárias à lógica e feitas ao capricho de fantasias igrejeiras.
O amor não pode servir para unir o bom senso ao contrassenso. Não dá para promover a fraternidade entre a Lógica e a Mistificação. Se fosse assim, então teríamos que obter a conciliação da inteligência com a burrice, e estaríamos vivendo numa completa estupidez, contradizendo tudo aquilo que se diz ou faz antes e ainda estufar o peito e falar em "coerência espírita".
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