sexta-feira, 10 de março de 2017
As pessoas se esqueceram da lenda do "homem do saco"
Qual a relação entre a lenda do "homem do saco" e as tábuas Ouija? Muita coisa. Ver que a brincadeira das tábuas Ouija se resultou no "espiritismo" que temos no Brasil, revela o mito de armadilhas que podem se esconder por trás de belas palavras e lindas imagens.
As pessoas têm que compreender. Quando se fala que o "espiritismo" brasileiro sucumbiu à desonestidade doutrinária, não se trata de raiva contra o trabalho do bem, mas uma constatação baseada em práticas e ideias que entram em conflito sério com o legado deixado por Allan Kardec, que teve um trabalho dificílimo e angustiante para desenvolver os conhecimentos da Doutrina Espírita.
O legado kardeciano foi deturpado e o mais grave é que a "fase dúbia", vigente há quatro décadas, só fez piorar as coisas. O suposto equilíbrio entre "místicos" e "científicos" sob o nome de Espiritismo só rendeu contradições ainda piores e muito mais graves e preocupantes do que quando se assumia mais a inclinação abertamente igrejista inspirada na obra de Jean-Baptiste Roustaing.
Só mesmo os vícios do sentimentalismo religioso, com sua moral seletiva, suas complacências, sua teimosia infantil e sua falta de discernimento diante das circunstâncias é que permite que as contradições do "espiritismo" brasileiro sejam mantidas e até renovadas.
A desculpa da "afinidade com os ensinamentos cristãos" - na verdade, influenciada pelo Catolicismo medieval - é desculpa para permitir a deturpação da Doutrina Espírita, popularizada por supostos médiuns que, diferente dos médiuns consultados por Allan Kardec em seu tempo, são tomados do mais escancarado "culto à personalidade".
Um dos ganchos dessa argumentação falaciosa, que faz com que muitos críticos da deturpação espírita sejam tentados a incluírem Chico Xavier e Divaldo Franco no âmbito da recuperação dos postulados kardecianos originais, sem motivo e sem saber como incluir, são as "mensagens de amor".
A falácia do "apelo à emoção", o Argumentum Ad Passiones ou simplesmente Ad Passiones, garante o sucesso da deturpação. Distorce o legado de Allan Kardec com a desculpa da "adequação às tradições da religiosidade brasileira". Consolida-se essa tese pelo pretexto da "afinidade com os princípios cristãos". Para efetivar isso, usa-se um repertório marcado de "estórias lindas" e "palavras bonitas", explorando o frágil e vulnerável sentimentalismo popular brasileiro.
E aí, pronto. cria-se um "espiritismo" que é totalmente deturpado, com bases fundamentadas no igrejismo neo-medieval de Jean Baptiste Roustaing, mas que o "jeitinho brasileiro" fez com que se vinculasse aos "postulados originais de Kardec". Criam-se traduções distorcidas da obra de Kardec e essa manobra permite que se use até mesmo os alertas de Erasto para favorecer a deturpação.
Isso é grave. Deturpa-se o Espiritismo e os deturpadores ainda têm a cara-de-pau de reprovar a deturpação. Isso é o "jeitinho brasileiro" e a veiculação de ideias mistificadoras, que constrangeriam Kardec de imediato, são legitimadas pelo aparato de "belas palavras" e "sentimentos amorosos" que fazem a ação fraudulenta do "movimento espírita" ser blindada e impune.
É como no conto do "homem do saco", ou o Papa-Figo. Diz a lenda que se trata de um velho franzino e de ares sombrios, mas que prometia dar presentes e contar estórias maravilhosas para a criançada. Elas o ouviam e, de repente, desapareciam misteriosamente, na perdição das estórias ouvidas.
No Brasil, pessoas adultas esquecem que mantém traumas e teimosias infantis, além de tantos outros dilemas, dramas e impasses da infância e da juventude que chegam mal-resolvidos e até agravados na meia-idade. Daí a procura doentia de "estórias lindas" que lembram os contos de fadas antigos, mas diante do esquecimento do alerta do "homem do saco", que sempre povoou o imaginário infantil como um dos primeiros perigos da vida humana.
O "espiritismo" deturpado também vem com "palavras de amor" e as pessoas se comovem facilmente com os "médiuns-estrelas" ou anti-médiuns, porque, se eles são o centro das atenções, não podem ser considerados "intermediários" (médiuns). Ninguém desconfia do problema que é o "culto à personalidade" dos "médiuns" brasileiros e há quem defenda a "caridade" deles, que ajuda muito pouca gente, para manter a aura da vaidade pessoal e do estrelismo dessas pessoas.
As pessoas caem na falácia do Ad Passiones "espírita", como crianças que, felizes, vão acompanhar o "homem do saco" com suas "belas estórias". Acham que todo discurso de "palavras de amor" é maravilhoso e não sugere mistificação. E isso faz com que mesmo quem reprova a deturpação espírita caia na lábia de "médiuns" que viram dublês de pensadores e de filantropos.
Isso vai contra o alerta de Erasto, espírito que se comunicou por meio de um dos médiuns autênticos consultados por Kardec. O que ele alertou incluiu não apenas os deturpadores da Doutrina Espírita mais explícitos - como Jean-Baptiste Roustaing - , mas seus alertas, por antecipação, revelaram perigos trazidos pelas figuras de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia.
As pessoas se esqueceram desses alertas. E, em nome da carência emocional, preferem jogar a ética, a lógica e o bom senso no lixo, em nome da aceitação submissa e confortável das "estórias lindas" e das "mensagens de amor", além da exaltação de uma filantropia que a quase ninguém ajuda, só à vaidade dos "benfeitores".
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