segunda-feira, 13 de março de 2017
Análise textual já é suficiente para identificar possíveis fraudes
Está redondamente errado o acadêmico Alexandre Caroli Rocha, quando defendeu que não dá para analisar os textos supostamente mediúnicos como critério de buscar possíveis fraudes, precisando entender a psicografia pelo foco do fenômeno mediúnico e da vida espiritual.
Parece uma postura correta e prudente, mas não é. É uma postura hesitante e que bloqueia o caminho mais simples de analisar prováveis fraudes. Pior: o "caminho" que Caroli sugere também está bloqueado: o que se entende como mediunidade e vida espiritual no Brasil são aberrações que se chocam frontalmente com os postulados espíritas originais.
O que temos de "mediunidade" são atividades de faz-de-conta. O "médium" não tem concentração suficiente para se comunicar com os mortos. Quando muito, apenas pelo contato mental a poucos "chegados" (ou seja, aqueles que se afinam com o pensamento do "médium", como no célebre caso do jesuíta Emmanuel em relação a Francisco Cândido Xavier).
As mensagens "mediúnicas" são, portanto, quase sempre falsas. "Psicografias" que não passam de mensagens de propaganda religiosa que apresentam problemas nos aspectos pessoais e até nas caligrafias dos mortos alegados. "Psicofonias" que soam falsetes dignos de stand up comedy e que, estranhamente, enfatizam pessoas que não deixaram registro de voz na posteridade. E pinturas que se vê apresentarem diferenças gritantes quanto ao estilo dos pintores mortos alegados.
A vida espiritual, então, pior ainda. O que se entende como vida espiritual é apenas uma especulação, movida por idealizações materialistas. É geralmente um condomínio de luxo, com um imponente complexo hospitalar luxuoso, diante de um bosque límpido e verdejante, com pessoas vestindo roupas brancas que parecem pijamas e onde circulam crianças, cãezinhos, gatinhos e voam belos e graciosos passarinhos.
O "espiritismo" brasileiro criou distorções gravíssimas que ninguém percebe. Há toda uma postura de "deixa pra lá", como se a falácia de que "tudo é bondade" permitisse tudo, como se as ideias de "bondade" e "caridade" podem estar vinculadas à mistificação, à falsidade e à dissimulação. Acreditar que a "bondade" pode agir até contra a lógica, ética e bom senso é estarrecedor.
TEXTOS
Imagine você, que lê as páginas "espíritas" e suponhamos que sua postura diante das análises textuais das supostas psicografias de Chico Xavier é de irritação e revolta. Suponhamos que sua resposta a tais análises seja: "É um exagero apontar fraude na comparação de textos, principalmente se vermos que há muitos mistérios no além-túmulo". Mais ou menos como Caroli pensou, talvez sem o dado da irritação e revolta.
Certo. Então vamos supor uma situação. Uma pessoa qualquer lhe escreve uma carta, dizendo ser seu parente. Digamos uma tia muito querida sua. A linguagem efusiva, bem lugar-comum mas vista como "diferenciada" por causa do "efeito Forer" (espécie de falta de discernimento às avessas, quando vemos diferença onde não existe, em vez da trivial confusão de ver igualdade onde não há), lhe causa muita comoção.
A caligrafia até parece, em quase todo o alfabeto, embora o desenho de algumas letras fosse bem diferente e digamos que você, a princípio, não percebeu isso. De repente, você pega a carta dessa sua tia e compara com a missiva recém-recebida, e nota a diferença até no prolongamento gráfico de uma palavra, pois, apesar da caligrafia semelhante, a da suposta carta apresenta palavras com escrita mais "larga".
Começa a estranheza. Mas você vai deixar isso para lá e acreditar que é preciso que se estude melhor o serviço dos carteiros e os costumes de outras cidades e acreditar que as diferenças grosseiras encontradas na carta de sua tia devam ser analisadas sob esse enfoque?
A análise textual nas supostas psicografias de Chico Xavier permite ver diferenças aberrantes até na forma como os textos são escritos. Eles apresentam um mesmo discurso, ainda que tentem imitar ou evocar referenciais ligados aos alegados autores mortos. É uma linguagem lugar-comum, que mais parece de um beato católico, e lembram muito os depoimentos pessoais do anti-médium mineiro.
Evidentemente, ninguém vai ver irregularidades se não fizer a análise dos textos "espirituais" sem compará-los com textos que os alegados autores deixaram em vida. Mas, havendo essa comparação, se percebe o quanto os supostos Humberto de Campos, Auta de Souza, Casimiro de Abreu e Cruz e Sousa "escrevem e pensam" como Chico Xavier.
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