quinta-feira, 23 de junho de 2016
A escravidão de uma editora "espírita"
Já se falou de um conhecido palestrante "espírita", aquele que diz para todos "deixarem de ser bestas", que explorava profissionalmente seus empregados, sem remunerá-los dignamente, em uma editora que produzia uma revista.
Isso é uma escravidão moderna, sobretudo quando se tentava argumentar que as pessoas tinham que trabalhar "por caridade". Pouco importa se os funcionários da editora tinham contas a pagar, precisavam ter sustento próprio, viviam de favor em casas de parentes pela falta de dinheiro para arcar com as despesas, todos tinham que aceitar aquela humilhante situação e fingir que a "luz" já era a "rica remuneração" a seus trabalhos.
Houve funcionária que, mãe solteira, tinha que comprar remédio para a filha, e mal conseguia obter o dinheiro do almoço. Ficava sem comer muito, retendo o dinheiro para ver se juntava para pagar as despesas. Houve outros funcionários que também saíam antes dos patrões para "almoçar" um pequeno pacote de biscoito wafer para manter o resto do dinheiro em sua renda pessoal.
E o pior é que alguns funcionários ficavam com a carteira assinada, embora trabalhassem apenas como "estagiários". e de um teórico salário de R$ 1.000, entre 1999 e 2001, só o dinheiro do almoço, incluído na remuneração (que na prática já incluía os encargos, fazendo com que o salário real fosse bem menor), era regularmente concedido.
Isso é escravidão moderna. E várias empresas, incluindo lojas de roupas de grife e redes internacionais de lanchonetes, também praticam o trabalho escravo. Embora não seja aquele trabalho dos engenhos de cana-de-açúcar que vigoraram até as últimas décadas do século XIX, a degradação remete, sim, à exploração indigna de mão-de-obra.
É chocante, para muitos, ver que um "misericordioso" palestrante "espírita", amigo de Divaldo Franco, José Medrado, Richard Simonetti e admirador de Chico Xavier, todos mistificadores, mas ainda assim associados a um carisma inabalável por conta das conveniências que a religião garante à sociedade, ter explorado dessa forma o mercado de trabalho, a ponto de ter que comparecer ao tribunal várias vezes para tratar de processos trabalhistas.
Isso mostra o quanto a religião "espírita", tão cheia de contradições, mostra seus aspectos sombrios. O mais grave é que a complacência das pessoas faz com que se use a desculpa "quem nunca erra?" para inocentar quem é comprovadamente responsabilizado por erros graves, servindo como um mero pretexto para aceitar a idolatria e o prestígio de pessoas que não merecem tais benefícios.
Essa atitude é comparável com a de Madre Teresa de Calcutá, que sob o pretexto da "caridade", transformava as Casas dos Moribundos em depósitos de gente enferma, com internos expostos uns aos outros ao contágio de doenças gravíssimas, não bastasse eles não serem devidamente assistidos.
Os "filhos crescidos" de Madre Teresa eram mantidos mal alimentados, remediados apenas com paracetamol e aspirina, e recebiam injeção em seringas reutilizadas, algo comparável ao que usuários de drogas fazem entre si e que é responsável pela disseminação de doenças mortais como AIDS.
No entanto, oficialmente, Madre Teresa é considerada "santa até quando era viva", tem garantido seu processo de canonização pelo Vaticano e muitos acreditam que ela tenha sido uma "grande mãe" dos pobres e enfermos.
Os "espíritas" cultuam Madre Teresa como se ela fosse um ícone do "movimento espírita". Também ignoram seu lado sombrio, denunciado por Christopher Hitchens e confirmado por pesquisas acadêmicas. Os "espíritas" adoram comparar Madre Teresa a Chico Xavier, nas qualidades positivas, mas observa-se uma realidade desigual quando se tratam de aspectos negativos.
Com toda a blindagem que cerca Madre Teresa de Calcutá, pelo menos existe também um movimento de contestação expressivo e o meio acadêmico não se rende aos "encantos" da imagem religiosa da freira albanesa. Mesmo com um mito concebido de forma bastante organizada, Madre Teresa pôde ter sua imagem desconstruída por livros, documentários e monografias reconhecidos pela opinião pública.
Já Chico Xavier, mesmo com seu mito construído de maneira confusa - só no final dos anos 1970 o mito de Chico Xavier foi reconstruído nos mesmos moldes que Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa e sob o apoio explícito da Rede Globo - , a blindagem em torno dele é muito mais forte e mesmo os meios acadêmicos e jurídicos não se dispõem a desafiar esse mito.
Daí que, por exemplo, o nome de Humberto de Campos, que comprovou-se ter sido levianamente utilizado por Chico Xavier, já que as obras "psicográficas" realmente não condizem ao estilo original do autor maranhense, circula impunemente nas obras publicadas pelo "médium" mineiro, não só pela falta de punição legal, mas pelo estímulo e apoio dado por setores influentes da sociedade.
E isso permite abusos diversos. Divaldo Franco começou suas obras "psicográficas" plagiando Chico Xavier, que já era um plagiador. "Espíritas" atualmente professam um igrejismo extremado, mas dizem condenar a "vaticanização do Espiritismo". Alguns negam que o "espiritismo" brasileiro seja uma religião, acham que é "filosofia", mas adotam procedimentos e abordagens escancaradamente religiosas.
O "espiritismo" só tem a sorte de ser mais sutil que as seitas neopentecostais, e passar uma imagem mais simpática e supostamente despretensiosa. Além disso, o "espiritismo" se comporta como um Catolicismo à paisana, o que faz com que a adesão de católicos não-praticantes se torne ainda mais entusiasmada. O "espiritismo" deixa as pessoas "à vontade".
Por isso ninguém desconfia dos aspectos sombrios. E ninguém percebe o quanto pessoas que querem trabalhar são maltratadas justamente por uma editora "espírita" que só remunera o almoço mas atrasa salários de maneira indefinida. E o palestrante "espírita" ainda diz que as pessoas deveriam trabalhar por "caridade", se "preocupando menos" com a questão salarial.
Enquanto isso, os preços de tudo, como produtos, contas e serviços aumentam de maneira descontrolada, desafiando as remunerações que não crescem dignamente e até diminuem, e as carteiras de dinheiros ficando cada vez mais vazias. Vai alguém dizer para quem cobra um preço que irá pagar essas coisas com "luz". Será que essa desculpa vai convencer, "espíritas"?
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