domingo, 3 de abril de 2016
A perigosa imunidade da religião
Um dos maiores perigos que existe na religião é a ilusão de seus líderes de que seus pontos de vista mistificadores prevalecerão, que todo tipo de oposição à sua crença se dissolverá e que os dogmas e ritos religiosos recuperarão seu valor e sua predominância.
No "movimento espírita", vemos seus ídolos e palestrantes aparentemente tranquilos, orando e acreditando que suas mistificações estão à prova da lógica, do bom senso, da coerência, porque estão acima de tudo isso. Sua "fé espírita" está acima da própria realidade e, por isso, resistirá até mesmo às investigações mais entranhadas.
Isso é perigoso. Ver que o "movimento espírita" resiste a tudo e sua fase "dúbia" - que bajula Allan Kardec mas pratica o igrejismo - tenta se posicionar acima de qualquer controvérsia é preocupante, principalmente diante da vaidade travestida de humildade da parte de seus pregadores.
No seu discurso, eles imploram para não haver questionamentos, polêmicas, controvérsias. Vestem a capa de pacifistas e pedem apenas a união em prol de deixar tudo para lá, porque a "verdadeira vida não é aqui" e, por isso, as injustiças e desigualdades são compreensíveis e aceitáveis.
Pede-se o perdão como sinônimo de permissividade. Pede-se a conformação do sofrimento sob a desculpa dos prêmios do além-túmulo. Pede-se a aceitação de tudo isso que está, em nome de um falso equilíbrio, que mais parece ser uma passividade e uma neutralidade mórbidas.
E os palestrantes "espíritas", através de seus veículos diversos, "serenos" acreditando que as contestações à sua doutrina igrejista passarão, que eles voltarão a estar em alta com suas mediunidades fingidas e suas pregações igrejistas, porque se acham os detentores da "verdadeira espiritualidade".
Os deturpadores do Espiritismo acreditam até mesmo na possibilidade de serem acolhidos pelo clube dos autênticos, na ilusão de que as bases doutrinárias originais de Allan Kardec possam ser recuperadas com Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco no pedestal, mesmo que seja só para enfeite.
Vaidades, orgulhos, presunções, e - por que não? - arrogância. Chico Xavier se irritava. Cremos que Divaldo Franco também. Divaldo Franco comemorou demais uma caridade frouxa que não ajudou sequer 1% da população de Salvador. Pior: quer ser o "maior filantropo do país" com esse índice ínfimo, que em dimensões nacionais é ainda mais humilhante.
Afinal, isso mostra o quanto a vaidade e o orgulho podem ser dissimulados pela falsa humildade. A humildade da aparência, que tenta dar a aparência de essência, a aparência que pareça ir além da aparência, a aparência que tenta ser mais realista do que a própria realidade.
No entanto, só o caso da Mansão do Caminho se mostra que essa humildade é falsa. Comemora-se demais por pouca coisa. Antes não houvesse alarde e sim trabalho. Só que a Mansão só ajudou menos de 1% da população de Salvador, e praticamente 0% da população brasileira, e nem o dobro do trabalho fará merecer tamanha vaidade, tamanho festejo.
Afinal, o "espiritismo" não obteve mérito social algum. Não transformou a sociedade. Não preveniu a crise. Seus projetos de caridade são inócuos e fracos, sem que resolvessem os males pela raiz dos privilégios abusivos e injustiças extremas.
Os "centros espíritas" se localizam em lugares perigosos, e nem por isso resolvem seus quadros de violências, misérias e outras desgraças. Os locais "protegidos" pelos "admiráveis" Chico Xavier e Divaldo Franco, a cidade de Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, apresentam índices de violência dos mais assustadores.
O grande perigo da prevalência da mística religiosa, em detrimento da coerência e da lógica, para favorecer dogmas e ídolos religiosos, é que em muitos casos ela se torna matriz dos movimentos totalitários que usam dessas invencionices para impor seus pontos de vista. O Catolicismo medieval e o nazi-fascismo surgiram assim, e o resultado nós sabemos.
Será que temos que atribuir superioridade a ídolos protegidos pela mística e mítica da religião? Será que temos que atribuir perenidade a ideias sem pé e nem cabeça, protegidas pela mística e mítica da fé religiosa e o que esta entende como amor e bondade?
Esse é o problema das religiões em geral, mas em particular o "espiritismo" brasileiro, que se julga a "vanguarda" dos movimentos religiosos ou espiritualistas, mas se prende em preconceitos e práticas medievais. Isso irá perdurar para sempre, de maneira imune, acima de tudo?
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