LUCIANO HUCK E SUA ESPOSA ANGÉLICA EM 02 DE ABRIL DE 2010, NA ESTREIA DE CHICO XAVIER - O FILME.
O que é bom-mocismo? É a mania de bancar o bom-moço. É a mania de parecer bondoso, forjar ações de bondade que, em si, não são más, mas não trazem diferencial algum. É uma maneira de alguém tentar parecer "mais evoluído" e atrair assim um maior apoio da sociedade.
Sabe-se que o "movimento espírita", diante de tantas denúncias de irregularidades, usa como último recurso a retórica da "bondade". É como se maus espíritas pudessem prevalecer pela desculpa da bondade. Tem até uma piada de que o "espiritismo" brasileiro tende a mudar de nome para "bom-mocismo", com tanta desculpa ligada às ideias de "bondade" e "caridade".
A sociedade conservadora vê a ideia de "bondade" de uma maneira estereotipada, exaltando atos e iniciativas que não transformam profundamente a sociedade, apenas criando paliativos que, na propaganda religiosa, parecem mais atraentes do que o verdadeiro ativismo que luta contra desigualdades sociais.
Sabe-se que Francisco Cândido Xavier, em sua entrevista ao programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, em 1971, despejou comentários agressivos contra camponeses e operários, que o "bondoso médium" acusava de "promover o caos", daí a defesa entusiasmada do "admirável" Chico Xavier à ditadura militar, numa época em que ela tornou-se mais repressiva.
LUCIANO HUCK, NA EDIÇÃO ESPECIAL DO QUADRO LATA VELHA NA TERRA NATAL DE CHICO XAVIER.
A ideia mais conservadora de "bondade" não é lutar por um pedaço de terra ou mais melhorias de vida. É "ajudar" as pessoas mais pobres sem que se possa mexer nos privilégios dos poderosos e ricos. Estes apenas doam uma pequena parcela do que têm, mas sempre mantém sua situação privilegiada em detrimento da maioria de desafortunados.
Daí que é um infeliz senso comum, num país tomado de onda reacionária que é o Brasil, de que a "verdadeira caridade" é aquela que prefere ajudar poucos do que mexer nas fortunas dos privilegiados. Uma "caridade" mais paliativa que eficiente, que mais fascina as pessoas do que transforma vidas.
Daí que é ilustrativo que, por exemplo, Divaldo Franco seja visto como o "maior filantropo do Brasil" ajudando não mais do que 0,08% da população de Salvador, o que, em dimensões nacionais, é o mesmo que quase nada. Um "maior filantropo do Brasil" que ajuda 0% da população brasileira? Por que essa visão tão absurda, não bastasse o fato de se comemorar muito por quase nada?
Simples. Porque a propaganda religiosa fascina mais do que o ativismo social. O professor Paulo Freire, que criou um projeto de alfabetização de adultos que envolvia interação social, visão crítica do meio em que se vive e mobilização da comunidade, é reprovado pela sociedade, acusado levianamente de "fazer lavagem cerebral" nas pessoas.
E logo ele, Paulo Freire, que em seu programa de ensino, recomendava aos seus professores a conhecer primeiro a comunidade antes de desenvolver um ensino nesse lugar. Uma caridade autêntica, ver o outro, ver suas necessidades e estimular a união de todos em busca de qualidade de vida e independência social.
Já Chico Xavier, com suas esmolas e outros paliativos modestos, virou "ativista", assim como o Divaldo que é o "maior filantropo do país" por praticamente 0% de beneficiados. Eles nunca reivindicaram reforma agrária, redução dos privilégios dos ricos ou coisa parecida. Com seus programas sociais inócuos e pouco eficazes, eles no entanto parecem mais "simpáticos" em suas propostas.
Um divaldista infiltrado numa comunidade virtual de ateus (?!) chegou a dizer que a proposta da Mansão de Caminho, de Divaldo, para apenas ensinar a "escrever, ler e trabalhar" já era "muito", esquecendo ele que isso é apenas o básico e que, no contexto "espírita", esconde a própria lógica moralista e conformista do "espiritismo" brasileiro.
Afinal, em instituições religiosas, a alfabetização sempre ocorre sob o preço caro do proselitismo religioso. Nada se cobra pelo ensino, ele é gratuito, mas em compensação se ensinam visões mistificadoras e igrejistas por trás. Seria ingênuo que esses ensinamentos se limitassem a uma simples "defesa da solidariedade e da fraternidade através das lições cristãs".
ASSISTENCIALISMO
Quer dizer, dois pesos e duas medidas. Ensinar conscientização social, visão crítica do mundo e lutar por melhorias, num projeto educacional laico, é "doutrinação comunista", "agitação social" e "lavagem cerebral". Já criar cidadãos conformados que leem, escrevem, fazem contas e trabalham, mas não veem o mundo de forma crítica e ainda são manipulados por ideias igrejistas, isso é visto pela "boa sociedade" como "ativismo" e "caridade transformadora (sic)".
E aí chegamos ao Luciano Huck, também facilmente promovido a "filantropo" através de quadros "sociais" do programa Caldeirão do Huck. Entusiasta de Chico Xavier, consta-se que ele teria conhecido pessoalmente o "médium", quando não era tão famoso como hoje.
Em 02 de abril de 2010, centenário de nascimento de Chico Xavier, Luciano Huck foi com sua esposa e colega Angélica para ver a estreia do longa-metragem Chico Xavier - O Filme, e, pouco tempo atrás, o apresentador do Caldeirão do Huck (Rede Globo) foi fazer uma edição do quadro "social" Lata-Velha em Pedro Leopoldo, terra natal do anti-médium mineiro.
Esses quadros "sociais" já são cópia da cópia e feitos para mostrar o "assistencialismo", fenômeno de "caridade" tendenciosamente feito para fins publicitários e comerciais, em programas do gênero. Os quadros de Luciano Huck já foram copiados de quadros de Gugu Liberato que, por sua vez, são imitação de programas transmitidos na Flórida, EUA.
E muitos desses resultados são duvidosos. Dizem que, no quadro Lata-Velha, Luciano Huck toma de volta os carros recuperados de seus beneficiados, que recebem uma pequena indenização por isso. Além disso, a "bondade" de Huck, que declarou acreditar em Deus e ser religioso, não é tão autêntica assim.
Ele é também associado a frases socialmente depreciativas estampadas em suas camisetas, como "Vem Ni Mim Que Tô Facim", estampada sob a foto de uma criança, sugerindo pedofilia. Huck também havia abandonado um piloto que salvou ele, Angélica e os filhos de um trágico acidente aéreo, se limitando a dar apenas um panetone no Natal.
Huck nem agradeceu ao piloto pela manobra arriscada que impediu ele e sua família de morrerem. O piloto passa por dificuldades e Huck nem sequer foi assisti-lo. Ele preferiu atribuir a Deus a salvação e deixou o piloto à própria sorte, suspenso do trabalho por causa do acidente e tendo o salário reduzido. E Huck ainda humilhou um cinegrafista, tratando-o como se fosse um cachorro.
Isso nos põe a pensar. Que "bondade" queremos? Aquela que ajuda pouca gente e não mexe nos privilégios dos ricos, mas que é "mais fascinante" porque parte de algum ídolo religioso? Ou aquela "bondade" sincera que parte de quem quer realmente combater injustiças e desigualdades sociais?
E que "bondosos" queremos? Aqueles que parecem sempre "bondosos", mas que cometem humilhações ou descasos aqui e ali? Ou aqueles que, mesmo parecendo "cruéis" ao se voltarem contra privilégios das elites, querem atingir um maior número de beneficiados? Sob a sombra da religião, a "bondade" também mostra seus pontos sombrios.
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